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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PATRÍCIA DE MORAIS FIGUERÊDO HUMANIZAÇÃO DE REPORTAGENS: UMA ANÁLISE DA REVISTA DO CORREIO BRASÍLIA 2013

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PATRÍCIA DE MORAIS FIGUERÊDO

HUMANIZAÇÃO DE REPORTAGENS:

UMA ANÁLISE DA REVISTA DO CORREIO

BRASÍLIA

2013

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PATRÍCIA DE MORAIS FIGUERÊDO

HUMANIZAÇÃO DE REPORTAGENS:

UMA ANÁLISE DA REVISTA DO CORREIO

Trabalho de Conclusão de Curso -TCC apresentado como trabalho finaldo curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Centro Universitário de Brasília.

Orientador: Vivaldo Reinalto de Sousa

BRASÍLIA

2013

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PATRÍCIA DE MORAIS FIGUERÊDO

HUMANIZAÇÃO DE REPORTAGENS:

UMA ANÁLISE DA REVISTA DO CORREIO

Trabalho de Conclusão de Curso- TCC apresentado como trabalho final do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Centro Universitário de Brasília.

BRASÍLIA, 11 DE JUNHO DE 2013

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Prof.Orientador: Vivaldo Reinalto de Sousa

_________________________________

Prof.Examinador: Luiz Cláudio Ferreira

_________________________________

Prof.Examinador: Renata Bittencourt de Carvalho

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Aos meus pais, João Augusto e Nívia Gláucia, à

minhairmã Priscila e à sobrinha Marina, pela força

e amor.

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AGRADECIMENTO

Gostaria de agradecer primeiramente à Deus, que me deu forças todos os dias. Aos

meus pais e minha irmã, por estarem sempre presentes quando precisei de apoio e

ajuda. Vocês me ensinaram a sonhar e lutar por aquilo em que acredito.

Ao meu professor e orientador, Vivaldo de Sousa, que foi fundamental nessa etapa

da graduação. Sem a sua ajuda eu não teria conseguido. Obrigada pela paciência e

dedicação.

Aos meus amigos, em especial, Jéssica Nascimento e Felipe Rodrigues, por

compartilharem as idas à biblioteca, os livros e a tensão pré-orientação. Sem vocês,

esses dias teriam sido muito mais cansativos. À amiga Wanessa Martins, que esteve

sempre disponível para me ajudar. Muito obrigada!

Aos professores, em especial Luiz Cláudio, por estar sempre aberto a nos ouvir, nos

guiar e, quando necessário, criticar construtivamente. Aos demais, pelos

ensinamentos que vou levar por toda a vida profissional.

Obrigada a todos que de alguma forma se empenharam e me apoiaram nessa

caminhada.

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RESUMO

A presente monografia abordaa humanização de reportagens. A pesquisa passa

pelo Jornalismo Literário, Novo Jornalismo, pelo conceito de reportagem até se

chegar ao objetivo, que é analisar e mostrar como a humanização pode ser

identificada em cinco matérias de capa da Revista do Correio do mês de março de

2013. Entende-se humanização como o destaque dado ao ser humano dentro e fora

de uma reportagem. Nesse tipo de reportagem é possível e necessário dar destaque

aos personagens, descrever os ambientes e aproximar o texto da ótica do leitor. O

trabalho apenas abre um caminho para que a humanização seja mais estudada.

Palavraschave: Humanização.Jornalismo Literário.Novo Jornalismo

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ABSTRACT

This research addresses the humanization of reports. The research goes through

literary journalism, New Journalism, the concept of story to get to the goal, which is to

analyze and show how the humanization can be identified in five cover stories the

Revista do Correio of March, 2013. Understand humanization as highlighting the

human outside and in a report. In this kind of reporting is possible and necessary to

highlight the characters describe the environments and bring the text of the optical

reader.

Keywords: Humanization. Literary Journalism. New Journalism

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 JORNALISMO LITERÁRIO .................................................................................... 9

2.1 O NOVO JORNALISMO ..................................................................................... 10

3 HUMANIZAÇÃO DO JORNALISMO .................................................................... 12

3.1 FACTUAL X HUMANIZADO ............................................................................... 15

4 REPORTAGEM ..................................................................................................... 18

5 REVISTA ............................................................................................................... 19

5.1 REVISTA DO CORREIO .................................................................................... 20

5.2 ANÁLISE ............................................................................................................ 21

6 CONCLUSÕES PRELIMINARES .......................................................................... 30

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 31

ANEXO A ................................................................................................................. 32

ANEXO B ................................................................................................................. 42

ANEXO C ................................................................................................................. 50

ANEXO D ................................................................................................................. 58

ANEXO E ................................................................................................................. 68

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1 INTRODUÇÃO

Desde o movimento do Novo Jornalismo, que teve início na década de 1960 nos

Estados Unidos, o jornalismo tradicional é colocado em discussão. Já naquela época

havia a clara divisão entre os jornalistas produtores de matérias factuais – aquelas

que exigiam apurações rápidas e objetivas -, e do outro, aqueles profissionais

responsáveis por materiais detalhados, onde podiam utilizar linguagens jornalísticas

e literárias - onde era possível humanizar a matéria.

Dines (1986, p.90) aponta que com a chegada da televisão, os jornais tiveram

que deixar o “meramente factual para o rádio e a TV, reservando para o jornal o

desdobramento do fato por inteiro, com todas as suas circunstâncias e já não mais

apenas as primárias”. Segundo o autor, a edição dominical foi escolhida para contar

com essas matérias redondas, ou seja, as que contam com todo o desenvolvimento

de um fato. Nesse tipo de reportagem, é possível dar destaque aos personagens,

descrever os ambientes, o que humaniza o texto.

Pensando na humanização de reportagens, o presente trabalho tem como

problema identificar de que forma a humanização é apresentada em cinco matérias

de capa do mês de março de 2013 da Revista do Correio, publicada aos domingos

pelo diário Correio Braziliense, do grupo Diários Associados. Diante desse problema,

o objetivo geral é analisar e mostrar de que forma a humanização é tratada nas

reportagens da publicação.

No decorrer do trabalho, serão mostradas as características do Novo Jornalismo,

Jornalismo Literário e haverá a distinção entre matérias factuais e humanizadas. O

conceito de reportagem também é tratado para melhor embasamento do tema.

A análise de conteúdo foi utilizada como estratégia metodológica e de verficação

porque, segundo Berelson (1952, apud Kientz, 1973, p.10), consiste em “uma

técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa, do

conteúdo manifesto das comunicações, tendo por finalidade interpretá-las”. E é

exatamente o que foi feito no trabalho. Foram destacados trechos da Revista do

Correio para mostrar características de textos humanizados e interpretá-los.

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2 JORNALISMO LITERÁRIO

Para explicar o que é o Jornalismo Literário, deve-se iniciar esclarecendo um

equívoco apontado por Martinez (2009). Segundo a autora, o gênero não nasceu

junto com o Novo Jornalismo dos anos 60. Martinez (2009, p.72) diz que “a saga do

Jornalismo Literário começa muito tempo antes”. Para a autora, o referido gênero

jornalístico tem semelhanças com os primeiros contadores de histórias. Segundo

Martinez, essa semelhança é percebida na forma de escrever as narrativas, pois em

ambos os casos, são utilizados recursos, seja de imagem ou escrita, que sejam de

fácil compreensão para todos.

Martinez (2009) aponta que, no século XIX, a transição do movimento literário

romântico para o realista, fez com que os protagonistas das histórias deixassem de

serheróis e pessoas idealizadas, dando lugar assim, às pessoas, problemas e

histórias reais.

Nesse tipo de jornalismo é necessário dar atenção na relação entre fonte e

jornalista. Kramer (1995, apud MARTINEZ, 2009) diz que é sempre necessário

lembrar que o texto do Jornalismo Literário lida com a realidade e pessoas reais.É

válido ressaltar:

Ainda que o profissional reconstrua o que se desenrola de acordo com sua bagagem sociocultural, o leitor espera que o jornalista seja honesto o suficiente para relatar o que vê. Caso contrário, estaria

lendo ficção ou um livro baseado em fatos reais. (KRAMER, 1995 apud MARTINEZ, 2009, p.81).

Assim, o jornalista deve ser fiel à fonte e ao leitor. O profissional tem que narrar o

que ele viu e ouviu da forma mais transparente possível, sem tirar ou colocar

informações. “Em Jornalismo Literário, quem conta um conto, não aumenta um

ponto”. (KRAMER, 1995 apud MARTINEZ, 2009, p.81).

A linguagem utilizada nesse gênero jornalístico deve receber atenção, pois

apesar de ser uma narrativa que abre a possibilidade de descrever os ambientes e

personagens com mais liberdade, “boa parte dos jornalistas que deseja fazer

Jornalismo Literário lamentavelmente usa e abusa de uma linguagem artificial e

rebuscada” (KRAMER, 1995 apud MARTINEZ, 2009, p. 82). Ou seja, utilizam tantas

palavras diferentes para aprimorar o texto, que acabam transformando a matéria em

uma narrativa forçada e artificial.

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Segundo Pena (2006), tudo o que é utilizado no jornalismo diário e tradicional,

não deve ser descartado quando se faz Jornalismo Literário. No literário é também

necessário utilizar a apuração aprofundada, observação e não esquecer a ética da

profissão. A diferença é que no literário, se pode ultrapassar os limites do

acontecimento cotidiano, para ampliar a visão sobre determinado fato ou história.

Martinez (2009, p. 79) cita os quatro principais recursos literários empregados

pelos jornalistas literários, segundo Tom Wolfe. “1- Construção cena a cena, 2-

diálogos, 3- pontos de vista de terceira pessoa e 4- detalhes simbólicos do status de

vida do indivíduo”. Essa técnica pode humanizar ainda mais uma reportagem, além

de “convidar” o leitor a fazer parte daquela história.

Sousa (2008, p.201) também aponta recursos utilizados por jornalistas. Apesar

de o autor não se referir aos jornalistas literários, mas sim aos novos jornalistas, a

ideia complementa a de Tom Wolfe. “As frases curtas, a introdução de

onomatopeias, a narração minuciosa, a caracterização dos personagens das

historias e a descrição dos ambientes”.

2.1 O Novo Jornalismo

O Novo Jornalismo é a renovação do Jornalismo Literário. Sousa (2008, p.199)

diz que “as raízes do Novo Jornalismo encontram-se não só na literatura de viagens,

mas também na obra impressiva, mas realista de escritores”. Essa forma de fazer

jornalismo, ainda segundo Sousa, surgiu em “meados da década de 60 como um

movimento de renovação estilística, ideológica e funcional nos Estados

Unidos.”Pena (2006, p.53), justifica o nascimento do movimento jornalístico.

O que vai proporcionar o advento do Novo Jornalismo contemporâneo [...] é a insatisfação de muitos profissionais da imprensa com as regras de objetividade do texto jornalístico, expressas na figura do lead, uma prisão narrativa que recomenda começar a matéria respondendo às perguntas básicas do leitor.

Traquina (2001, p.56) diz que o movimento “questionou as formas sagradas das

notícias e sacudiu os dogmas tradicionais como o da objetividade, que ajudavam a

orientar a atividade jornalística”. Ou seja, chega como uma escola jornalística que

sugere que o jornalismo tradicional passe por uma transformação.

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Pena (2006) traduz as palavras de Tom Wolfe sobre o Novo Jornalismo, que diz

que os repórteres desse movimento devem deixar a objetividade de lado e seguir

para o caminho da subjetividade. “Não precisam ter a personalidade apagada e

assumir a encarnação de um chato de pensamento prosaico e escravo do manual

de redação.” (PENA, 2006, p.54).

Dines (1988, p. 89) alega que esse movimento “não é uma nova concepção para

o jornal, nem nova linha de trabalho ou atitude profissional. É um gênero ao qual

podem aderir apenas alguns grandes nomes”. Norman Mailer, Truman Capote, Tom

Wolfe e Gay Talese, todos norte-americanos, são exemplos de autores que se

destacaram no período.

Segundo Sousa (2008), o Novo Jornalismo é um movimento onde os jornalistas

imergem no ambiente sobre o qual querem falar. Movimento onde os profissionais

podem colocar-se no lugar das fontes para tentar compreender de perto aquilo que

buscam abordar. Para Sousa (2008, p.199), o movimento teve “duas forças motrizes

principais: a assumpção da subjectividade nos relatos sobre o mundo; e a retoma do

jornalismo de investigação em profundidade.”

Um dos autores americanos mais famosos na época faz sua definição de Novo

Jornalismo e ressalta que o movimento não é uma ficção.

Embora muitas vezes seja lido como ficção, o novo jornalismo não é ficção. Ele é, ou deveria ser, tão fidedigno quanto a mais fidedigna reportagem, embora busque uma verdade mais ampla que a obtida pela mera compilação de fatos passíveis de verificação, pelo uso de aspas e observância dos rígidos princípiosorganizacionais à moda antiga. O novo jornalismo permite, na verdade exige uma abordagem mais imaginativa da reportagem, possibilitando ao autor inserir-se na narrativa se assim o desejar, como fazem os escritores, ou assumir o papel de um observador neutro, como outros preferem, inclusive eu

próprio. (TALESE, 2004, p.9).

Lage (2001) aponta que o Novo Jornalismo tem alguns pontos problemáticos,

pois ao mesmo tempo em que pode ser útil para traçar um perfil – que retrata em

profundidade um personagem -, pode não servir para grande parte dos textos

destinados à informação pública. Nesse sentido, Lage (2001, p. 141):

A notícia é o relato do que se sabe, não do que se ignora; é isso que a faz existir. A consistência extrema que se espera da literatura implica dispor de dados subjetivos, por definição não alcançáveis pela observação direta, e de todo o conjunto de dados objetivos que habilitem o narrador a aparentar onisciência e onipresença – a saber de tudo e estar em toda parte. As soluções apontam para dois

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caminhos: ou se acrescentam dados fictícios, possíveis, mas não comprovados, ou se misturam dados de diferentes episódios para compor um só. Em ambos os casos, deixa-se de praticar jornalismo e passa-se a praticar literatura.

Por esse motivo, é necessário que seja feita a diferenciação entre Jornalismo

Literário, Novo Jornalismo e Literatura. Cotta (2005, p. 3) aponta que “é visível que o

jornalismo se apropria principalmente da narrativa e da descrição, bem

características da literatura”, porém o autor ressalta que ainda assim, os

profissionais produzem notícias. Cotta (2005) se baseia na obra de Alceu Amoroso

Lima – que foi um escritor e famoso crítico literário que acreditava que os textos

jornalísticos eram parte da Literatura, porém não eram gênero literário.

Tanto na Literatura como no Jornalismo Literário e Novo Jornalismo, a

subjetividade é utilizada. Em alguns textos das vertentes jornalísticas, é possível

perceber características da Literatura como o uso da primeira pessoa, inserção de

diálogos e descrição de ambientes, pessoas e sentimentos. A diferença básica entre

a Literatura e as correntes jornalísticas é que a primeiro se apropria da ficção,

enquanto as outras têm o compromisso com a realidade.

4 HUMANIZAÇÃO NO JORNALISMO

Para escrever uma boa matéria jornalística não basta só seguir o modelo

tradicional que conta com o lide –“quem, como, quando, onde e por que”-, uma

pequena descrição do ocorrido objetivamente, a opinião de uma fonte oficial, ás

vezes um personagem e fim; matéria pronta. Kotscho (1995, p.7) acredita que o

“fazer jornalístico é a arte de informar para transformar”. Ou seja, além de

simplesmente noticiar um fato, é necessário colocar um algo a mais que atraia de

alguma forma o leitor ou até mesmo faça com que ele se identifique com o texto.

O leitor de hoje não quer apenas saber o que acontece à sua volta, mas procura assegurar-se da sua situação dentro dos acontecimentos.Isto só se consegue com o engrandecimento da informação a tal ponto que ela contenha os seguintes elementos: a dimensão comparada, a remissão ao passado, a interligação com outros fatos, a incorporação do fato a uma tendência e a sua projeção para o futuro. (DINES, 1986, p.90).

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Baseado no que Dines explica, é possível concluir que o jornalista deve dar a

informação completa ao leitor, passando pelo passado, presente e futuro. O

profissional deve contextualizar o textono intuito de aproximar o leitor damatéria.

Com a humanização torna-se possível chamar mais a atenção do leitor, pois essa

característica do Novo Jornalismo e do Jornalismo Literário busca inserir e dar

destaque ao ser humano nas narrativas jornalísticas.

Para Ferrari e Sodré (1986), a humanização está ligada à emotividade. “A

humanização se acentuará na medida em que o relato for feito por alguém que não

só testemunha a ação, mas também participa dos fatos” (FERRARI; SODRÉ, 1986,

p. 15). Os autores ainda ressaltam que mesmo não sendo em 1ª pessoa, a narrativa

deve trazer certa aproximação do leitor e o fato narrado.

Noblat (2003, p.16) aponta que “o modelo dos jornais está em xeque, porque o

medo de mudar é maior do que o medo de conservar algo que se desmancha no ar.”

Para o autor, os donos de jornais e os próprios jornalistas estão saturados e sabem

de que maneira devem trabalhar para satisfazer aos leitores e não deixar que o

jornal acabe.

[...] Surpreender mais e mais os leitores com informações que eles desconheçam; humanizar o noticiário e abordar os temas pela óptica dos leitores; apostar em reportagens porque são elas que diferenciam um jornal do outro; publicar textos que emocionem, comovam e inquietem; fazer jornalismo com independência e que tome partido da sociedade [...]. (NOBLAT, 2003, p.16,17).

Assim, é sugerido que uma mudança seja feita no conteúdo e no formato dos

jornais, pois o maior objetivo de um jornal é alcançar os leitores e se eles não estão

satisfeitos, por que continuar da mesma forma? Noblat (2003) quer alertar que o

jornal não deve continuar com um formato e conteúdo que desagrade ao público,

pois se não em breve será declarada a morte dos jornais. Segundo Noblat, os

leitores se queixam dos erros de ortografia dos jornais, do número excessivo de

páginas, além daquelas páginas que se soltam quando manipuladas.

Os leitores acham que o cardápio de assuntos dos jornais está mais de acordo com o gosto dos jornalistas do que com o gosto deles. E que a visão que os jornalistas têm da vida é muito distante da visão que eles têm. Nada disso, porém, parece abalar jornalistas e donos de jornal. Eles se comportam como se soubessem, mais do que os leitores, o que estes querem, têm obrigação de querer ou devem deixar de querer. (NOBLAT, 2003, p.15).

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O público quer se sentir mais inserido nas matérias. Nem sempre o que os

jornalistas acham interessante ou importante é de interesse dos leitores. Noblat

(2003, p.21):

Jornalismo não é obra exclusiva de jornalistas. Tanto quanto nós, os leitores são também responsáveis pelo bom ou mau jornalismo que fazemos. Porque eles têm o poder, e todo o poder. Podem comprar um jornal se quiserem. E se quiserem, podem deixar de comprá-lo.

E é por isso que o conteúdo, os temas e as pautas devem ser determinadas

pensando nos leitores, pois são eles que dão a audiência necessária, ou não. Para

Noblat (2003, p. 30), “o fato que provoca barulho não é necessariamente um fato

importante. Importa o fato destinado a produzir mudanças na vida das pessoas”.

Nessa busca por mudanças é onde pode-seatentar para colocar o ser humano como

principal componente do texto jornalístico.

Segundo Dines (1986), na época em que a televisão foi criada e passou a dar as

informações iniciais – que antes era a função dos jornais – os jornais tiveram que se

aproximar de um dos veículos mais próximos: a revista. Foi nesse momento que o

lide precisou passar por mudanças.

O lead clássico contendo as seis questões primárias avançou para buscar circunstâncias mais profundas, como a dimensão, a remissão e a explicação dos fatos, já que a TV satisfazia as iniciais. Começava a era do jornalismo interpretativo, analítico e avaliador. (DINES, 1986, p. 70).

Apesar de o jornalista ter, primeiramente, a função de informar, o profissional

não deve se limitar a apenas produzir a notícia, mas deve pensar em humanizar a

matéria. A humanização não é apenas uma forma de fazer jornalismo. Segundo

Ijuim (2012, p. 133), humanizar é:

Tratar a pessoa mais que uma fonte, como personagem de uma história, sim, é uma das possibilidades de humanizar o relato jornalístico. Mas podemos superar essa visão reducionista. Humanizar começa na “leitura da pauta”, por um olhar que vai além da fórmula. O jornalismo humanizado produz narrativas em que o ser humano é o ponto de partida e de chegada, o que supõe que este fazer começa antes da pauta, na consciência do ser jornalista.

Desta feita, cabe ao próprio jornalista “ser mais humano”. Pode até parecer

redundante, mas é o que o autor quis dizer, que assim que o jornalista recebe a

pauta, ele já deve imaginar um contexto com a presença de pessoas que podem

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fazer parte da história. Os profissionais podem manter o factual, porémutilizando

relatos de histórias, experiências,conflitos e sentimentos. Seria uma oportunidade

dos protagonistas da história deixarem de ser meros figurantes diante das

afirmativas dos especialistas ou fontes oficiais. É o que diz Ijuim (2012, p. 131):

Não é difícil encontrar equipes de reportagem que, ou se apegam à primeira impressão diante do que “observam”, e fazem pré-julgamentos, censuram, julgam e condenam; ou se apegam cegamente a dados e informações de fontes oficiais, de “autoridades” científicas, e também julgam e condenam. Assim, a cultura, a história, o não dito, o não revelado no imediato, são desprezados.

Ijuim e Urquiza (2009) apontam que desde a leitura da pauta, o jornalista já deve

estar aberto à realidade que vai encontrar, sem fazer pré-julgamentos. Segundo os

autores, o profissional deve lembrar que o “o ser humano jornalista reporta o ser

humano fonte”. (IJUIM; URQUIZA, 2009, p.86). Ou seja, ambos têm suas

respectivas histórias e pensamentos, porém, deve-se chegar a um consenso onde

as duas partes possam entrar em acordo.

3.1 Factual x Humanizado

Segundo Dines (1986, p. 90), com a chegada da televisão, os jornais tiveram que

deixar “o meramente factual para o rádio e a TV, reservando para o jornal o

desdobramento do fato por inteiro, com todas as suas circunstâncias e já não mais

apenas as primárias.” Segundo o autor, o Jornal do Brasil – onde ele trabalhou -

iniciou a produção de matérias redondas, ou seja, aquelas que contam com todo o

desenvolvimento de um fato, em 1963.

Mesmo antes da chegada da televisão, a questão da apresentação da notícia no

jornal já era discutida. Amaral (1997) diz que grupos se dividiam para discutir qual

seria a melhor abordagem nos textos jornalísticos.

Para uns, a notícia deve ser apresentada da maneira mais seca possível, sem comentários de espécie alguma, sem nada que lhe sirva de explicação ou interpretação; para outros, pouco vale a sua apresentação crua e simples, desde que, dessa forma, não pode ser aproveitada pelo leitor. O primeiro grupo defende a delimitação de áreas, a separação da notícia e da opinião; o segundo é pela interpenetração do trabalho de informar. (AMARAL, 1997, p. 44).

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Para Ijuim e Urquiza (2009, p.87), o jornalista tem a tarefa de ser um mediador

social e “construir um texto que leve os leitores a ampliar seu conhecimento da

realidade, uma vez provocados, questionados e instigados pelo conteúdo

jornalístico”. Segundo os autores, é necessária “uma narrativa que seja capaz de

fazer a diferença, causar movimento, desestruturar, desconstruir, mexer com a vida

das pessoas.”.

O profissional, consciente de sua responsabilidade social, é capaz de criar, ousar, transformar sua pauta em projeto, lançar mão das mais diversas ferramentas para produzir a reportagem, ocupando todos os espaços e possibilidades que o veiculo lhe proporciona. (IJUIM; URQUIZA, 2009, p.87).

Kotscho (1995) diz que o fazer jornalístico é um processo onde é exigida

observação, percepção e expressão do mundo. Para o autor, seria necessário ir

além do factual para compreender os fenômenos sociais em sua totalidade. É como

Dines (1986, p. 94) exemplifica:

Um filme sobre os horrores da guerra será uma sucessão de cenas fortes sobre os horrores da guerra. Mas o depoimento de um jornalista que viveu esses horrores aciona a imaginação do leitor, que compõe com as suas próprias imagens (fornecidas pelas palavras do repórter) uma descrição forte e indelével do acontecimento.

Ir além do factual significa ir além do fato, ou seja, trazer algo a mais para o

texto. A humanização, a descrição do ambiente e dos personagens são algumas

formas de “temperar” a matéria. Nesse sentido, Amaral (1997, p. 42) esclarece que:

Um acontecimento só nos retém quando, de uma forma ou de outra, temos a impressão de participação ou identificação [...] Para ser compreendido pelo público o repórter deve partir daquilo que ele conhece bem – ele próprio – e falar a linguagem do coração. Isto significa que ele precisa descobrir na notícia um ponto de interesse, de contato, uma brecha que sirva para atrair o espírito do leitor.

Essa diferença básica entre o factual e o humanizado, pode ser claramente

percebida na comparação entre jornalismo tradicional e Novo Jornalismo:

No jornalismo tradicional, para além de o trabalho de investigaçãoraramente se alongar por mais de algumas horas ou dias, encontram-se quase só caracterizações superficiais das personagens, raramente se fazem descrições dos ambientes, a narração é construída essencialmente em função da importância que os dados assumem para o jornalista e não há atenção aos detalhes.

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A linguagem é usada unicamente de uma forma utilitária. Inversamente, o Novo Jornalismo incentivou mudanças ao nível da verificação dos dados (mais aprofundada e contrastada) e do trabalho de documentação e de investigação (que, por vezes, se prolonga por meses e anos). (SOUSA, 2008, p.200).

No Jornalismo Literário, também é possível perceber a diferença entre o factual e

o humanizado.

Como toda boa narrativa, o Jornalismo Literário presta muito mais atenção do que o jornalismo tradicional ao uso da oralidade, ou seja, à forma com que as pessoas expressam seus pensamentos, sentimentos e suas ações, enfim, sua forma de ver e de se relacionar com o mundo. (MARTINEZ, 2009, p.72).

O Jornalismo Literário tem uma característica que, segundo Kramer (1995 apud

MARTINEZ, 2009, p.81), “vai na contramão do jornalismo tradicional

contemporâneo, obcecado com manchetes sensacionalistas e celebridades, de

preferência internacionalmente conhecidas”. Kramer aponta que os jornalistas

literários devem focar em acontecimentos que ocorrem no cotidiano, porém, devem

aprofundar pontos que passam despercebidos em relatos objetivos.

Com a necessidade de uma nova abordagem, Dines (1986) afirma que a edição

dominical foi escolhida para conter esse tipo de jornalismo com melhor acabamento.

Nas edições dominicais, é possível perceber textos mais completos, humanizados e

que se assemelham, ou até mesmo são, reportagens. Mas o que seria uma

reportagem?

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4 REPORTAGEM

Para destacar o que seria uma reportagem, Sodré e Ferrari (1986) definem

primeiramente o que é uma narrativa. Para os autores, é “todo e qualquer discurso

capaz de evocar um mundo concebido como real, material e espiritual, situado em

um espaço determinado”. (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.11). Apesar de a narrativa

ser mais utilizada em obras literárias de ficção, o uso em um jornal também é bem

vindo e é essa utilização que caracteriza uma reportagem.

O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende responder [...] constituirá de pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário como na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados, tornam-se reportagem. (SODRÉ; FERRARI, 1986, p. 11).

Baseado nisso, Sodré e Ferrari (1986, p.15) definem as principais características

da reportagem: “Predominância da forma narrativa, humanização do relato, texto de

natureza impressionista, objetividade dos fatos narrados”. Para os autores, um ponto

principal que deve sempre estar presente em uma reportagem é a narrativa, pois se

não o texto deixa de ser uma reportagem.

Amaral (1997, p.133) apresenta a reportagem como “a representação de um fato

ou acontecimento enriquecida pela capacidade intelectual, observação atenta,

sensibilidade, criatividade e narração fluente do autor”. Para o autor, a especialidade

está bem próxima da literatura por trazer para os textos a subjetividade. Segundo

Amaral (1997, p.136), as reportagens deixam que o jornalista fantasie determinado

fato, porém o profissional não deve esquecer que “como todo e qualquer material

jornalístico, seu compromisso é com a verdade”.

No prefácio do livro O olho da rua, de Eliane Brum, o jornalista Caco Barcellos

aponta que, para a autora, a reportagem é “um ato de entrega, de envolvimento

intenso entre quem fala e quem escuta, por meio de uma relação preciosa de

confiança mútua entre repórter e personagem”. E é basicamente isso a essência de

uma reportagem. O jornalista deve se livrar de quaisquer preconceitos para

mergulhar no mundo o qual quer contar. O profissional tem que ganhar a confiança

do personagem – que traz vida à narrativa contada.

As revistas costumam trazer grandes reportagens, mas quais são as

características desse tipo de publicação? Para que servem?

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5 REVISTA

Para Scalzo (2003, p.11), a principal função de uma revista é reunir pessoas com

um mesmo interesse e as ajudar a se sentir parte de um determinado grupo.

“Revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um

objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento”. As

revistas são geralmente semanais, quinzenais ou mensais.

Segundo Scalzo (2003, p. 77):

Jornalismo, não é literatura, mas técnicas literárias podem ajudar, e muito, um jornalista a escrever melhor. Cores, cheiros e descrições cabem no texto de revista. Apresentar os personagens, humanizar as histórias, dar o máximo de detalhes sobre elas, também. Aprender técnicas de construção de personagem e técnicas narrativas e descritivas é fundamental para quem quer escrever grandes reportagens.

Além de informarem, elas entretêm e trazem reflexões. Scalzo faz uma

comparação entre jornal e revista:

Enquanto os jornais nascem com a marca explícita da política, do engajamento claramente definido, as revistas vieram para ajudar na complementação da educação, no aprofundamento de assuntos, na segmentação, no serviço utilitário, que podem oferecer a seus leitores. Revista une e funde entretenimento, educação, serviço e interpretação dos acontecimentos. Possui menos informação no sentido clássico (as “notícias quentes”) e mais informação pessoal (aquela que vai ajudar o leitor em seu cotidiano, em sua vida prática). (SCALZO, 2003, p. 14).

Mesmo que os jornais tenham que ficar com a parte mais quente e mais objetiva,

não quer dizer que revistas também não possam. A questão é que elas tratam dos

assuntos com mais leveza. Scalzo (2003, p.12) diz que “quem define o que é uma

revista [...] é o seu leitor”. Uma diferença básica apontada por ela é no que se refere

ao público. No jornal, não é possível definir quem exatamente lê cada coisa. Já na

revista, a autora diz que como o público ao qual ela é direcionada é menor, dá para

se ter uma ideia de quem está lendo. “Na revista segmentada [...] que de fato se

conhece cada leitor, sabe-se exatamente com quem se está falando”. (SCALZO,

2003, p. 15).

Revista segmentada é uma publicação destinada a um determinado público,

como por exemplo, uma revista sobre carros, é destinada a quem gosta de assuntos

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relacionados a carros. A revista tem a função de “destinar-se a públicos específicos

e aprofundar os assuntos – mais do que os jornais e menos do que os livros.”

(SCALZO, 2003, p. 19). É uma forma de fazer jornalismo mais leve, mais

aprofundada, onde o jornalista deve se preocupar mais em “prestar um serviço do

que em apresentar um furo de reportagem”. (SCALZO, 2003, p.55).

5.1 Revista do Correio

A Revista do Correio é uma publicação do grupo Diários Associados que vem

junto com o jornal Correio Braziliense aos domingos. A publicação tem uma tiragem

de 100 mil exemplares e chegou ao seu 9º ano em maio de 2013.

Segundo a editora da revista , Cristine Gentil1, a publicação é destinada ao

público feminino, com idade entre 24 e 45 anos, classes A e B. Porém, ela ressalta

que apesar de ser feita para esses segmentos, variados tipos de pessoas são

alcançadas.

Cristine Gentil explicou que a linha editorial da revista é de variedades. De

acordo com a editora, a revista busca se diferenciar do primeiro caderno do Correio

Braziliense que trata dos assuntos mais quentes. “Não que não possamos abordar

um tema quente, mas sentimos a necessidade de trazer assuntos mais leves e

pautas mais frias e trabalhadas”, disse.

Segundo a editora, a revista humaniza a notícia. Com variados personagens,

principalmente nas matérias de capa, é possível aproximar o leitor da narrativa, para

que ele se identifique com alguma das histórias ali contadas. “O personagem é

importante em nossas matérias. O público gosta de ver histórias reais”, disse

Cristine.

Em 2013 - ano de produção deste trabalho -, a equipe da revista era dividida em:

Editora: Cristine Gentil; Subeditores: Sibele Negromonte e Gustavo T. Falleiros;

Editor de fotografia: Luís Tajes; Diagramação: Guilherme Dias; Diretor de Redação:

Josemar Gimenez; Editora-chefe: Ana Dubeux; Editor executivo: Carlos Alexandre

A Revista do Correio conta com 38 páginas, sendo que seis páginas são

destinadas para as matérias de capa. “Quando se tem matérias mais especiais, esse

número pode mudar, mas a maioria das matérias de capa conta com seis páginas”,

ressaltou a editora Cristine Gentil.

1 Entrevista cedida pela editora da Revista do Correio à pesquisadora no dia 19 de abril de 2013

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A revista conta com 4 colunas, que são caracterizadas por serem assinadas. São

elas: Photo e Grafia, por Zuleika de Souza; O berço da palavra, por Márcio Cotrim;

Crônica da Revista, por Maria Paula; Encontro com o chef, por Rafael Campos. A

publicação possui 6 sessões fixas: Beleza, Fitness e Nutrição, Moda, Saúde, Casa e

Bichos. As demais páginas são preenchidas com assuntos diversos.

Para a editora, o principal objetivo da Revista do Correio é prestar um serviço de

qualidade, mais aprofundado e com temas mais leves. A publicação objetiva

informar sem deixar de lado o entretenimento, que é como Scalzo (2003, p.11) diz:

“Revista é uma mistura de jornalismo e entretenimento”.

5.2 Análise

Para a análise, foram utilizadas cinco matérias de capa da Revista do Correio do

mês de março de 2013, selecionadas aleatoriamente. A critério do autor, somente as

reportagens de capa foram analisadas por ocuparem maior espaço na publicação.

Como estratégia metodológica e de verificação, foi utilizada a análise de conteúdo.

Uma entrevista com a editora da Revista do Correio, Cristine Gentil também foi

realizada com o objetivo de identificar como as pautas das matérias analisadas

foram definidas.

Os pontos analisados e destacados nas reportagens foram: número de

personagens, redação do texto, a maneira como a pauta foi definida, quais são as

características humanizadas encontradas nas reportagens, os títulos e a quantidade

de subtítulos, procurando destacar trechos para ilustrar o que se analisa.

- Edição de 3 de março de 2013, ano 8, número 407

Nesta edição, a matéria de capa tratou sobre as finanças na rotina dos casais. O

texto foi escrito pela jornalista Flávia Duarte e mostrou cinco casos relacionados ao

tema, totalizando 10 personagens. Segundo a editora Cristine Gentil, essa pauta foi

definida a partir de sugestão da repórter.

O primeiro caso relatado mostra a vida de um casal que trata do dinheiro de

maneiras distintas. Enquanto a mulher poupa, ele gasta mais do que deveria. Há

também a história de um casal que tem conta conjunta e de outro que tem contas

separadas, mas as despesas divididas. Traz o caso em que as pessoas já

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conversam sobre as finanças enquanto namoram e, por último, uma história sobre

casais que se casam mais de uma vez e ambos já tem filhos: como administrar as

finanças?

A utilização dos personagens foi fundamental para dar vida à história. Já no

primeiro parágrafo da reportagem que tem como título: No amor e nas finanças, é

possível perceber a liberdade da repórter ao escrever acerca do tema.

O discurso que sela milhares de uniões mundo afora prega o amor “na pobreza e na riqueza”. O “para sempre” pode até ser romântico e aparentemente despido de qualquer interesse material, mas não é nem um pouco inteligente. Não dá para falar em casamento sem tocar em assuntos como despesas, orçamentos e planos financeiros. A temática parece fria e desagradável, mas é essencial, inclusive, para a sobrevivência do amor. Afinal, não há romance que resista a dívidas, crises monetárias e privações materiais. O consultor financeiro Álvaro Modernell estima que cerca de 2/3 dos divórcios têm problemas com dinheiro envolvidos. Boa parte deles por falta de conversa e planejamento. “Poucos falam de dinheiro no começo da relação. Falta clareza de como serão administradas as finanças ao longo da vida a dois. Na verdade, 80% das decisões financeiras do casal devem ser feitas em conjunto”. (DUARTE, 2013, p.22).

No trecho transcrito acima verifica-se que mesmo que haja maior liberdade nas

expressões e palavras utilizadas, a matéria não deixa de lado a opinião dos

especialistas e os dados estatísticos, porque afinal, a função de uma reportagem é

informar.

No início do parágrafo, a repórter cita os discursos do casamento: “Na pobreza e

na riqueza” e “para sempre”. Essa utilização de expressões do cotidiano de grande

parte das famílias aproxima a história dos leitores, sejam eles casados ou não,

fazendo com que eles queiram continuar a leitura, já que é como se o texto

conversasse com eles.

Em todas as histórias, a repórter procura dar destaque aos personagens, mas

sem deixar de lado as dicas dos especialistas sobre cada caso. A reportagem fica

muito mais leve para poder continuar a leitura, já que as histórias são divididas em

subtítulos. O leitor não precisa necessariamente ler a matéria inteira, pelos subtítulos

ele pode escolher com que história ele se identifica mais para continuar a leitura.

A matéria contou com cinco subtítulos: Tudo junto; Contas separadas; Uma nova

vida a dois e Os meus, os seus, os nossos.

- Edição de 10 de março de 2013, ano 8, número 408

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A editora Cristine Gentil informou que após uma onda de crimes domésticos

registrados na mídia, veio a ideia de fazer uma matéria diferenciada sobre a

violência contra a mulher. Para isso, ela contou que a repórter Olívia Meireles

passou dias na Delegacia da Mulher em busca de fazer uma matéria em forma de

relato. A reportagem tem como título: Drama da vida privada.

Nesta edição, é possível perceber características do Novo Jornalismo, já que

segundo Sousa (2008), o movimento permite aos profissionais se colocarem no

lugar das fontes para tentar compreender aquilo que vão abordar. No decorrer da

reportagem, perceba que a repórter se inseriu no ambiente sobre o qual ela gostaria

de falar e escreveu a matéria como uma narrativa – característica da reportagem.

Tranca-se no armário. Ele fica batendo na porta. Até que cansa e a deixa em paz. Ela resolve passar a noite lá até ele se acalmar, quando acorda, fica preocupada se os vizinhos escutaram alguma coisa. Como vai esconder as feridas e os roxos? O que vai dizer para a família? Agora, está tudo silencioso. Resolve sair do esconderijo. Deita na cama ao lado do marido. Quando ele acorda, vê o estado dela. A culpa bate. “Desculpa! Desculpa! Desculpa! Eu nunca mais vou fazer isso de novo. Você é linda. Eu te amo, por favor, me perdoa.” Ele repete sem parar, enquanto a beija e a abraça. É o fim da agonia, uma sensação de alívio toma o seu corpo. Ela acredita. “Ele vai mudar! Dessa vez será diferente. Ele só estava nervoso. Eu também provoquei. Devia ter deixado ele me beijar. Não vou mais sair nem ligar pra ninguém. Assim ele fica feliz. Ele é tão carinhoso quando não está nervoso.” (MEIRELES, 2013, p. 25).

Nota-se no trecho transcrito acima o quão diferenciado foi a forma de redigir o

texto. A descrição dos ambientes, os típicos discursos de homens que batem em

mulheres, faz com que o leitor se sinta parte da história. A imaginação é aflorada.

Quem lê tem a sensação de estar naquele local e situação relatada. Observe esse

outro trecho:

Um homem não resolve matar a mulher de uma hora para outra. Esse é um processo que começa no dia em que o casal se conhece. Vai evoluindo. A violência vai se tornando mais intensa, mais perigosa, e a saída, mais dramática. A história é sempre a mesma. Não importa a posição social e, muito menos, a idade. Uma mulher conhece um rapaz. Ele é calado e tímido, o que cria um ar misterioso que acaba a atraindo. Ao mesmo tempo que é discreto, ele sabe ser carinhoso e atencioso. É muito simpático e cortês com a família dela. Rapidamente, acaba envolvendo todo mundo no relacionamento. Em pouco tempo de namoro, propõe morar juntos, casar e firmar compromisso o mais rápido possível. Ela se sente protegida, querida e com alguém que lhe diga paraonde tem que ir. (MEIRELES, 2013, p. 24).

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A repórter foi contando como pode ser identificado um agressor. Ela utilizou

recursos literários, tais como a construção cena a cena, frases curtas, descrição do

ambiente e caracterização dos personagens.

Um ponto interessante dessa reportagem é que ela não tem personagens

propriamente ditos. O texto narra desde onde a violência doméstica inicia e até onde

ela pode terminar, com diálogos comuns no ambiente dos crimes, sem expor uma

pessoa específica. A reportagem é dividida em três atos.

No primeiro ato, que tem como título: Quem bate e quem apanha, é apontado

que não há um perfil exato do agressor ou de quem apanha, mas mostra a análise

de uma psiquiatra da Polícia Civil que aponta que a formação cultural do casal tem

influência nos casos.

No segundo ato, que tem como título: A violência no dia a dia, são mostradas as

etapas que os casais passam até chegar à agressão, ao pedido de desculpas, à

reconciliação e a nova agressão. Nessa parte, há uma dica do perfil do agressor

retirada de um livro de um especialista em segurança para alertar aos leitores.

Já no terceiro ato, com o título: Liberdade, ainda que tardia, a reportagem aponta

o canais de denúncia e as formas de se livrar da violência doméstica. Perceba que

ao divulgar os canais de denúncia, um serviço está sendo prestado.

- Edição de 17 de março de 2013, ano 8, número 409

Nesta edição, a matéria de capa abordou sobre a obesidade infantil. Segundo a

editora Cristine Gentil, essa pauta foi definida a partir de estudos sobre a obesidade.

O título da reportagem é: Não dá para ficar parado.

De todas as reportagens analisadas, talvez essa seja a que mais se encaixe no

modelo de matéria jornalística tradicional pela quantidade de informações com base

em dados e fontes oficiais, porém ainda assim, o repórter utilizou expressões mais

livres e contou com variados personagens para dar vida à narrativa. Perceba no

primeiro parágrafo:

Quando se pensa em um grupo de crianças, a primeira imagem que vem à cabeça é uma correria desordenada, acompanhada de sorrisos, pulos, diversão e um contato social que só a tenra idade proporciona. Quando se pensa nessa turma, ela é imaginada em uma grande área aberta num dia de sol, com ar livre aos montes, sem muitos riscos além do de ficar cansado o suficiente para dormir a noite inteira. Essa cena, contudo, vem se tornando cada vez mais

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rara. Em vez de espaços abertos, aparelhos de tevê ligados por horas a fio. A correria e os pulos estão ficando restritos aos personagens movidos por joysticks e telas sensíveis ao toque.(CAMPOS, 2013, p.23).

No trecho transcrito acima, a descrição do ambiente humaniza a reportagem,

pois quem lê, consegue imaginar o fato descrito e até, em algumas vezes, coloca-se

no lugar. O trecho dá maior nitidez à realidade descrita, abrindo a possibilidade dos

leitores imaginarem e compreenderem essa realidade.

No decorrer da reportagem, a estrutura do texto é mais baseada em dados

estatísticos, estudos, pesquisas e opiniões de especialistas, porém, ainda assim, a

narrativa é mais leve do que uma matéria de um jornal diário, pois há a inserção de

personagens em meio aos estudos e dados, o que aproxima o leitor do fato contado.

Publicado no site Teach.com, o estudo Tarqueting Children With Treats, de 2012, mostrou que o gasto anual do governo americano em propagandas de incentivo à prática de exercícios e alimentação saudável é de US$ 51 milhões. Em contrapartida. A indústria de alimentos investe US$ 1,6 bilhão todos os anos divulgando para as crianças alimentos pouco nutritivos e altamente calóricos. Fica difícil dizer não. Marcos Alexandre Freire, 8 anos, enche a boca para dizer que, se pudesse, praticaria atividade física 10 vezes por semana. Mas ao mesmo tempo não nega: adora salgadinhos. “Se eu pudesse escolher meu lanche, traria três chocolates, um salgadinho e um Toddynho. Só que eu pratico esportes e acho errado quem passa o dia no computador”, confessa. A colega Giovanna de Castro, da mesma idade, se diz viciada em manga. “Mas também traria um salgadinho para lanchar”, admite. (CAMPOS, 2013, p. 25).

Perceba que no trecho: “enche a boca para dizer que...”, o repórter utilizou uma

expressão para mostrar a forma com que o personagem afirmou que gostava de

praticar exercícios, um toque que humaniza o texto, fazendo com que o leitor

imagine o jeito que a criança estava ao proferir a frase.

A reportagem também relata histórias de mães que tentam buscar uma boa

alimentação para os filhos, além de influenciá-los a praticar atividades fora do mundo

virtual. Para finalizar, há uma pequena entrevista pingue-pongue com especialistas

mostrando que a tecnologia serve para ajudar as crianças com deficiência, já que

existem games que influenciam as crianças a se movimentarem.

A matéria conta com 14 personagens e possui quatro subtítulos: O fator

alimentação; As famílias se articulam, o Estado corre atrás; Mudança começa em

casa e Games que curam.

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- Edição de 24 de março de 2013, ano 8, número 410

A matéria de capa desta edição é a terceira de uma série chamada “Nosso

Tempo”, que uma vez por mês vai aprofundar acerca de um tema relacionado com

as produções da primeira década do século 21. A reportagem escrita pela repórter

Maria Júlia Lledó abordou sobre a arte contemporânea. Como a chamada de capa

diz, a matéria buscou mostrar: “Quem são os artistas e as obras que despertaram

admiração, critica, polêmica e desejos nos primeiros anos deste século”.

A estrutura dessa reportagem foi bem diferenciada. De texto corrido, a matéria

só teve o início, no decorrer foram apresentados criadores e obras da arte

contemporânea, num modelo de perfis, ou seja, contando a história de vida do autor

e sua obra.

O que a estátua de um homem nu colocada no coração de uma metrópole e a reprodução da Mona Lisa, de Da Vinci, com calda de chocolate têm em comum? Ao seu modo, cada uma dessas obras tira o espectador da zona de conforto. Elas provocam os cinco sentidos, instigam novos pensamentos e constroem significados inusitados. Concebidos por Antony Gormley e Vik Muniz, respectivamente, essas obras são um exemplo de como a arte contemporânea questiona e se questiona a todo momento por meio de diferentes suportes – fotografia, pintura, desenho, instalação, performance, vídeo, escultura. (LLEDÓ, 2013, p. 23).

O trecho transcrito acima é o primeiro parágrafo. Perceba que em mais uma

reportagem, o texto “mexeu” com a imaginação. A partir da descrição e

caracterização do que é narrado, o leitor se aproxima da narrativa.

No decorrer da matéria, foram apresentados 12 artistas e suas respectivas

obras. A repórter teve a liberdade de contar sobre o trabalho do determinado artista

de forma livre, por meio de perfis.Em cada um deles, uma foto de uma das obras

veio para ilustrar. Nessa reportagem, as imagens foram fundamentais. Elas

completaram o texto e vice-versa.

Segundo Scalzo (2003, p. 58), “o texto, por mais perfeito que seja, será melhor

compreendido e atraente quando acompanhado de uma boa fotografia ou de um

infográfico bem feito”. E foi exatamente esse recurso bastante utilizado na

montagem do especial dessa edição.

Quem pensaria em fazer uma obra de arte com pasta de amendoim, chocolate ou geleia de morango? A reposta? O paulista Vik Muniz, 52 anos. Inquieto, ele começou a experimentar essa diferente “paleta de

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cores” cinco anos depois de ter se mudado para Nova York. (LLEDÓ, 2013, p. 23).

Perceba no trecho acima que faz parte de um dos perfis. Na primeira frase, a

repórter utiliza o tipo de arte inusitada para fazer uma pergunta que acaba

chamando a atenção dos leitores para continuarem a leitura e descobrirem a

reposta. Mais a frente, é descrita uma das características do artista: inquieto.

No decorrer da reportagem, dentro de um dos mini perfis, há também a

divulgação de uma exposição, o que traz o texto ainda mais para a realidade de

quem lê, já que sabendo que tal exposição está em cartaz, ele pode assistir caso o

interesse. A repórter também utilizou um “você sabia” com curiosidades e dicas de

leitura sobre a arte contemporânea.

Nessa reportagem, é possível perceber claramente, que além de informar, foi

prestado um serviço à população.

- Edição de 31 de março de 2013, ano 8, número 411

Nesta edição, a reportagem de capa foi uma reflexão da religião Católica no

domingo de Páscoa. Segundo a editora Cristine Gentil, também teve influência na

definição da pauta a eleição no Novo Papa. A primeira parte da reportagem foi

escrita pela repórter Gláucia Chaves e as demais pelo repórter Gustavo Torres.

A reportagem foi dividida em quatro partes. A primeira tem o título: Religião a flor

da pele e conta com seis personagens, que dão vida ao assunto: meditação cristã.

O jardim da casa em que Maria da Glória Moura vive ainda conserva as árvores do cerrado, da época em que não havia quase nenhuma construção no Lago Sul. A professora de 76 anos fez questão de manter as plantas, além de acrescentar algumas mudas de jabuticaba. Para ela, estar em contato com a natureza é o melhor modo de se conectar espiritualmente a Deus. “Os pássaros cantando, o mar, as montanhas, tudo tem beleza. Não sei como alguém pode ver isso e não acreditar em Deus.” É no imenso espaço verde que ela pratica a chamada meditação cristã. (CHAVES, 2013, p.22).

Perceba no trecho transcrito acima que a repórter descreveu o ambiente no qual

a personagem realiza sua meditação. Observa-se que tal leitura, possibilita ao leitor

a “viagem” até o local narrado, sentindo as sensações descritas, bem como suas

energias e vivências.

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Na segunda parte há uma entrevista pingue-pongueexclusiva com a principal

autoridade da meditação cristã, Dom Laurence Freeman – que foi treinado por John

Main (falecido), o precursor da meditação - o que atribui credibilidade à revista e

chama a atenção para o assunto. O título da entrevista é: “Meditação é o fim da

solidão”.

Há dois boxes nas duas páginas onde a entrevista foi diagramada. O primeiro,

presta um serviço aos leitores, já que divulga um calendário dos eventos nos quais a

autoridade vai participar no Brasil. O outro box trata das origens da meditação e

ensina como meditar. Essas duas características são bem interessantes, pois além

de prestar um serviço ao leitor, é um convite para que as pessoas conheçam o tema

e até pratiquem, já que há o ensinamento.

Logo após a entrevista, vem uma reportagem com o título: Um outro olhar, que

trata sobre a Teologia da Libertação e as experiências de missionários. Ela contou

com dois personagens que foram fundamentais para ilustrar o tema tratado.

Igor Fernando Suriano e Isabela Lobo, 26 e 22 anos, respectivamente, podem até não ser adeptos da Teologia da Libertação, mas entendem muito bem o conceito de levar a religião para além das paredes da Igreja. Os dois são missionários e viajam de temos em tempos para diferentes países, com o objetivo de ajudar comunidades locais e ensinar o Evangelho. Igor foi ao Haiti, em 2012, trabalhar em orfanatos e voltou recentemente de uma missão que passou por Burkina Faso, na África, e pela Holanda. O advogado faz parte ainda de uma ONG chamada Mocidade para Cristo, que realiza ações em escolas com palestras por meio do projeto Escola da Vida. Com o projeto Superação, ele visita internos (e familiares de internos) do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (antigo Caje) e do Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago). (TORRES, 2013, p.27).

Perceba no trecho transcrito acima que embora tenha sido de forma mais

objetiva, o que se assemelha ao jornalismo tradicional, o texto ainda assim

conseguiu ir um pouco além do que só contar que o personagem viajou em uma

missão. Nota-se que o trecho mostra como funciona o projeto, quem é visitado por

ele, porém de forma mais enxuta, ou seja, menos descritiva do que em outros textos.

Mais a frente, é relatada a experiência de Isabela.

Já Isabela passou um ano em Viña Del Mar e em Santiago, no Chile, para realizar projetos com garotas adolescentes. Lá, a estudante de publicidade, que faz parte de uma rede de voluntariado internacional, conta que ajudava em projetos de ação social em comunidades carentes que tinham como objetivo incentivar o desenvolvimento de aptidões intelectuais e humanas, “para o jovem, no futuro, querer o

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bem do próximo”. No começo, o principal desafio foi se adequar ao propósito da viagem. Afinal de contas, Isabela não foi como turista, não estava a trabalho, nem mesmo era, necessariamente, uma intercambista. “Você não se sente nenhuma dessas coisas. Foi o momento de me alinhar aos objetivos e me adequar ao tipo de vida que passaria a ter, o de voluntária”, resume. (TORRES, 2013, p.27).

Assim como no relato de Igor, o repórter foi descrevendo a experiência de vida

da garota na missão.“Em busca das origens” foi outra matéria sobre a meditação e

contou a história de Maria Idalina de Santana.

A vida moderna, corrida e atribulada, muitas vezes, não deixa sobrar um tempinho para encontrar a espiritualidade fora de casa. O jeito, então, é tentar trazer a fé para mais perto de si. Maria Idalina de Santana, ou apenas Lia, como gosta de ser chamada, usa uma tradição aprendida com a mãe para não deixar de estar em contato com o que acredita. Desde pequena, a administradora, de 49 anos, via na mãe um exemplo de religiosidade. Lia conta que a mãe participava de um grupo de vizinhos que revezavam a imagem de Nossa Senhora da Aparecida. A cada dia, a imagem ficava na casa de uma pessoa. No fim da tarde, a santa é repassada a outro vizinho. (TORRES, 2013, p.28).

O trecho acima corresponde ao lide da reportagem. Veja que não há aquele

padrão objetivo de responder às seis questões principais. Trata-se de uma narrativa

jornalística que conta os costumes de uma mulher, além de ser uma pauta fria que

não contém nada de factual.

Essa reportagem foi escrita como uma narrativada vida religiosa de uma pessoa,

trazendo o assunto meditação para mais próximo do leitor, pois com a leitura, é

possível se familiarizar com a história.

Para finalizar, a reportagem contou com uma entrevista pingue-pongue com um

Frei para explicar a prática, além de contar com a opinião do entrevistado sobre a

escolha do Papa Francisco, o que é importante para o interesse público,

principalmente dos católicos.

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6 CONCLUSÕES PRELIMINARES

Diante dos pontos tratados no decorrer dessa pesquisa, foi possível concluir que

a Revista do Correio humaniza os textos no sentido de se importar com o ser

humano dentro e fora das reportagens, o que traz vida à narrativa. Um ponto

interessante que pode ser percebido é que, embora haja mais liberdade na redação

das matérias, o texto continua sendo tão jornalístico quanto um de um jornal diário.

A diferença básica está na redação dos textos, principalmente no lide – abertura

-, onde pode-se fugir da regra do “o que, como, por que, para que e onde” e que em

textos humanizados é possível ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos,

ou seja, ir além do factual.Tanto no jornalismo tradicional quanto no humanizado, a

apuração aprofundada é utilizada.

A Revista do Correio não tem, necessariamente, o foco em temas quentes,

porém até com um tema do momento, como no caso da reportagem sobre a

violência doméstica, foi possível perceber como é importante pensar em abordagens

diferenciadas. O texto, apesar de ocupar seis páginas, foi redigido de uma maneira

tão descritiva, que acaba prendendo o leitor do início ao fim.

O público quer se sentir parte das histórias e como foi analisado, a Revista do

Correio conseguiu fazer isso nas cinco matérias estudadas, embora em umas mais

que as outras. As reportagens têm em comum o fato de descreverem os ambientes

e personagens, inserir histórias reais na narrativa, mexerem com a imaginação do

leitor, além de utilizarem expressões e termos da vida cotidiana das pessoas.

Essa é a essência da humanização: fazer com que o ser humano tenha seu

espaço dentro e fora da reportagem. Conclusões mais definitivas sobre a Revista do

Correio deveriam englobar um maior número de reportagens analisadas.

Essa pesquisa mostra apenas um dos caminhos que o jornalismo pode seguir.

Ainda há muito o que se refletir sobre a humanização de reportagens jornalísticas.

Este trabalho contribui para que seja pensado sobre inserir esse tipo de reportagem

nos jornais diários ou até mesmo aperfeiçoar o uso nas revistas ou publicações que

já são humanizadas. Essa abordagem pode ser uma alternativa para que não seja

declarada a morte dos jornais impressos.

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Anexo A

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Anexo B

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Anexo C

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Anexo D

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Anexo E

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