Património para Paz Reconcialicao - Manual.prof

download Património para Paz Reconcialicao - Manual.prof

of 172

Transcript of Património para Paz Reconcialicao - Manual.prof

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    1/172

    MANUAL PARA

    PROFESSORES

    Patrimniopara a Paze a Reconciliao

    Salvaguardar

    o Patrimnio Cultural Subaqutico

    da Primeira Guerra Mundial

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    2/172

    168

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    3/172

    1

    Patrimnio para a Paz e a Reconciliao

    Salvaguardar o Patrimnio Cultural Subaqutico da Primeira Guerra MundialManual para Professores

    Dirk Timmermans

    Ulrike Guerin

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    4/172

    2

    Direitos de Autor e Crditos

    Primeira edio em 2015 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia

    e a Cultura, 7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana.

    UNESCO 2015

    Verso portuguesa

    A verso portuguesa do Manual para Professores Patrimnio para a Paz e Reconciliao

    - Salvaguardar o Patrimnio Cultural Subaqutico da Primeira Guerra Mundial, foi tra-

    duzida da edio inglesa, de 2015. Os dados foram atualizados data de agosto de 2015.

    Foi igualmente includa informao relativa Estratgia da UNESCO para a Rede das

    Escolas Associadas da UNESCO 2014-2021, Rede das Escolas Associadas, aos Estadosratificantes da Conveno 2001 da UNESCO sobre a Proteo do Patrimnio Cultural

    Subaqutico, e lista do Patrimnio Mundial.

    UNESCO/Comisso Nacional da UNESCO Portugal / 2015

    ISBN 978-989-98953-2-4

    Crditos

    Esta publicao est disponvel em Acesso Livre ao abrigo da licena Attribution-Share-

    Alike 3.0 IGO (CCBY- SA 3.0 IGO) (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/

    igo/). Ao utilizarem o contedo da presente publicao, os utilizadores aceitam os termos

    de uso do Repositrio da UNESCO de acesso livre (http://www.unesco.org/open-access/

    terms-use-ccbysa-en).

    A presente licena aplica-se exclusivamente ao contedo da publicao. Para a utilizao

    de qualquer material que no esteja claramente identificado como propriedade da UNES-

    CO, ser necessrio solicitar a autorizao prvia atravs de: publication.copyright@unes-

    co.orgou UNESCO Publishing, 7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP Frana.

    As designaes usadas e a apresentao de material ao longo desta publicao no impli-

    cam a expresso de qualquer opinio por parte da UNESCO relativamente ao estatuto le-

    gal de qualquer pas, territrio, cidade ou zona ou das suas autoridades, ou relativamente

    delimitao das suas fronteiras e limites.

    As ideias e opinies expressas nesta publicao so as dos autores; no expressam necessa-

    riamente as da UNESCO e no comprometem a Organizao.

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    5/172

    3

    Editores: Dirk Timmermans (UNA Flanders), Ulrike Guerin (UNESCO) e Arturo Rey

    da Silva (UNESCO)

    Fotos da capa: Navio naufragado em Lundy Harun Ozdas - Jovem a trabalhar Tommy

    Bay

    Design da capa: Koen Vervliet

    Graphic design: Jan Depover

    Impresso por: EPO printing

    Impresso na Blgica

    Edio Portuguesa

    Comisso Nacional da UNESCO

    Ministrio dos Negcios Estrangeiros

    Largo das Necessidades

    1350-215 Lisboa

    Tel. +351 21 394 66 52

    Fax + 351 21 394 69 60

    E-mail: [email protected]

    Website:www.unescoportugal.mne.pt

    Traduo

    HighLinkEvents

    Paginao e impresso

    Grafilinha, Lda.

    Reviso, atualizao e adaptao

    Ftima Claudino

    Depsito Legal

    399989/15

    1 Edio - Novembro 2015

    United NationsEducational, Scientific and

    Cultural Organization

    Comisso

    Portuguese

    Nacional da

    PortugalUNESCO

    for UNESCO

    NationalCommission

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    6/172

    4

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    7/172

    5

    MANUAL PARA

    PROFESSORES

    Patrimniopara a Paze a ReconciliaoSalvaguardar

    o Patrimnio Cultural Subaqutico

    da Primeira Guerra Mundial

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    8/172

    6

    O patrimnio cultural composto pelos vestgios fsicos da histria. a testemunha si-lenciosa de conflitos, guerras e confrontos entre naes. Conseguir compreender o nosso

    patrimnio comum fomenta o entendimento, a reconciliao e a paz.

    Este Manual do Professor faz parte de um pacote fornecido no mbito do apoio doprojeto educativo da UNESCO, Patrimnio para a Paz e a Reconciliao, que tambminclui filmes e uma brochura. O projeto Patrimnio para a Paz e a Reconciliao irajudar os educadores a introduzirem os conceitos de dilogo, paz e reconciliao no seuprograma atravs da compreenso do patrimnio cultural. Podero utilizar os exemplosfornecidos para a organizao de projetos, excurses ou exposies escolares, ou para enri-

    quecimento das aulas habituais. Uma ocasio em que poder ser importante desenvolveratividades e iniciativas de cooperao ser todos os anos a 21 de setembro, o Dia Interna-cional da Paz proclamado pelas Naes Unidas.

    Atravs da escolha de uma poca especfica e de um determinado tipo de patrimnio, estemanual centra-se no patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial, quesocialmente foi uma das guerras mais devastadoras do sculo passado. Uma das novidadesdesta guerra, que teve um impacto particularmente forte na populao civil, foi o de-senvolvimento da guerra naval, e mais especificamente da guerra submarina. Esta guerradeixou para trs um extenso patrimnio submerso. Apesar destes materiais se centraremno patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial, poder ser adotada amesma abordagem para exemplos de patrimnio cultural subaqutico da Segunda GuerraMundial, ou de outras pocas em que os conflitos incluram inmeras batalhas no mar.

    O projeto foi acordado entre todos os Estados Partes na Conveno da UNESCO sobre aProteo do Patrimnio Cultural Subaqutico, em 2001. Os Estados pretendem utilizar oCentenrio da Primeira Guerra Mundial para fomentar a educao para a paz, mais espe-cificamente atravs da promoo da proteo e compreenso do patrimnio submerso. Odesejo prende-se com a educao para a paz por ocasio do Centenrio da Primeira Guer-ra Mundial, sobretudo atravs da promoo da proteo e compreenso do patrimniosubmerso. Tambm pretendem chamar a ateno para a recente proteo do patrimniocultural subaqutico deste perodo ao abrigo da Conveno de 2001 da UNESCO.

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    9/172

    7

    Contedos

    Introduo ...............................................................................................................................................................................11

    I. O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial e a

    Conveno de 2001 da UNESCO ............................................................................................................................15

    O patrimnio do mundo como alicerce do caminho para a paz........................................15

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial.....................................16

    A Primeira Guerra Mundial teve uma importante componente martima?...........17

    Que patrimnio submerso resta da Primeira Guerra Mundial?.........................................17 Encontra-se este patrimnio submerso ameaado?....................................................................18

    A proteo ao abrigo da Conveno de 2001......................................................................................19

    A mensagem do patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial

    para a educao.....................................................................................................................................................................20

    Ensino do patrimnio cultural subaqutico: a memria e a paz.........................................24

    II. Educao para a paz e o patrimnio: por onde comear?...................................................29 Legitimao ................................................................................................................................................................................30

    O Objetivo de Ensino ........................................................................................................................................................31

    O Projeto de Ensino ............................................................................................................................................................32

    Saber e conhecimento: que conhecimentos devemos transmitir?.................................32

    Competncias: que competncias devemos ensinar?................................................................33

    Comportamento ou atitude: que valores devemos transmitir? ........................................34

    Perspetivas positivas ........................................................................................................................................................34

    Modelo do Plano de Projeto.....................................................................................................................................

    37

    III. Pontos de avaliao para a educao para a paz atravs do patrimnio.........41

    Saber e conhecimento ....................................................................................................................................................42

    Conhecimento sobre o contexto histrico do patrimnio cultural

    subaqutico .......................................................................................................................................................................42

    Processos e mecanismos ........................................................................................................................................47

    Histria versus memria coletiva ..................................................................................................................52

    Empatia e solidariedade ...............................................................................................................................................67

    Antdoto contra a indiferena...........................................................................................................................67

    O bom, o mau e tudo o que existe no meio .........................................................................................70

    Passado e presente ......................................................................................................................................................73

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    10/172

    8

    nfase da liberdade de escolha ........................................................................................................................76

    Tratar as emoes com cuidado ......................................................................................................................77

    Cerimnias de evocao.........................................................................................................................................

    81 Cuidado com a reconstituio..........................................................................................................................85

    Reflexo e ao.......................................................................................................................................................................88

    IV. Educar para um futuro melhor...........................................................................................................................91

    Alicerces para a educao para a paz atravs do patrimnio...............................................92

    Eu, eu mesmo e os outros .....................................................................................................................................92

    Respeito e conexo ......................................................................................................................................................94

    Direitos e obrigaes, liberdades e responsabilidades...............................................................

    96 Falar e escutar.................................................................................................................................................................99

    Conhecimento e pensamento crtico.......................................................................................................100

    Preconceitos, esteretipos e discriminao......................................................................................102

    Lidar com os conflitos de forma no violenta.................................................................................104

    A agressividade e a preveno da violncia......................................................................................105

    A sociedade e o indivduo ...................................................................................................................................108

    As pessoas, a cultura e o ambiente...........................................................................................................111

    V. ANEXO I A UNESCO e a Educao para a Paz.................................................................................115

    Da Liga das Naes s Naes Unidas........................................................................................................115

    A UNESCO e a Construo da Paz .....................................................................................................................117

    VI. ANEXO II Patrimnio Cultural Subaqutico da

    Primeira Guerra Mundial........................................................................................................................................123

    Contexto Histrico do Patrimnio Cultural Subaqutico da Primeira

    Guerra Mundial ...................................................................................................................................................................123

    Patrimnio Cultural Subaqutico da Primeira Guerra Mundial

    - Um Patrimnio Ameaado ...................................................................................................................................125

    Assegurar a Proteo do Patrimnio Submerso da Primeira Guerra Mundial

    - A Conveno de 2001 da UNESCO ................................................................................................................128

    Grandes Batalhas Navais da Primeira Guerra Mundial e o seu Patrimnio

    Cultural Subaqutico ....................................................................................................................................................130

    VII. ANEXO III EXEMPLOS DE PLANOS DE AULA ..................................................................................139

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    11/172

    9

    PREFCIO

    PATRIMNIO PARA A PAZ E A RECONCILIAO - SALVAGUARDAR O PATRIMNIOCULTURAL SUBAQUTICO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

    O Ato Constitutivo da UNESCO, afirma que: Uma vez que as guerras comeam nasmentes dos homens, nas mentes dos homens que devem ser erguidos os baluartes dapaz.

    Desde a sua criao em 1945, a UNESCO tem contribudo para a consolidao da cul-tura da paz, de erradicao da pobreza, de desenvolvimento sustentvel e de dilogo decivilizaes. A educao um dos principais instrumentos para a prossecuo desses ob-

    jetivos.

    Enquanto agncia das Naes Unidas com mandato especfico em todos os aspetos daeducao, o trabalho da UNESCO abrange o desenvolvimento da educao pr-escolar

    at ao superior, incluindo o ensino tcnico e profissional e de formao, a educao no-formal e a alfabetizao. Para a UNESCO a promoo da equidade e do acesso ao ensino,das oportunidades para todos na aprendizagem ao longo da vida, a melhoria da qualidadeda educao e do desenvolvimento de conhecimentos e competncias so essenciais, naperspetiva de valores de uma cidadania global.

    Deseja-se que a educao vise o desenvolvimento pleno da personalidade humana e oreforo do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Deseja-se quepromova a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as naes, e todos os gruposraciais ou religiosos, no quadro das atividades globais das Naes Unidas para a paz.

    A Comisso Nacional da UNESCO associou-se em 2014, ao projeto educativo lanadopela UNESCO, Patrimnio para a Paz e a Reconciliao, no mbito do patrimniocultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial. Este Manual para Professores, que foilanado pela UNESCO no incio de 2015, constitui-se como uma ferramenta educativafundamental para fomentar a educao para a paz, especificamente atravs da promooda proteo e compreenso do patrimnio submerso. Ao tomarmos a iniciativa de tradu-zir este Manual para Portugus, quisemos torna-lo acessvel a todas as escolas e institui-es educativas, em Portugal, e nos pases de lngua oficial portuguesa, fornecendo infor-maes sobre abordagens pedaggicas da educao para a paz e a memria, especialmente,

    no mbito do patrimnio cultural subaqutico.

    Ana Martinho Embaixadora Presidente da Comisso Nacional da UNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    12/172

    10

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    13/172

    11

    Introduo

    De 2014 a 2018, a UNESCO vai evocar o Centenrio da Primeira Guerra Mundial. Estaser uma altura para relembrar todas as geraes da importncia da paz, e para educar

    sobre o impacto da guerra, sobretudo atravs da educao baseada na compreenso do

    patrimnio cultural da Primeira Guerra Mundial.

    A guerra no mar - incluindo as batalhas navais e as atividades dos U-boats - foi uma

    componente importante que fez parte da Primeira Guerra Mundial. O patrimnio cultu-

    ral subaqutico desta guerra permite humanidade compreender quo devastadoras so

    as consequncias humanas da guerra, e encorajar todas as pessoas a envidarem esforospara preservar uma paz duradoura. O patrimnio recorda-nos que existe a necessidade de

    reconciliao e entendimento, e de todas as naes conviverem pacificamente.

    Durante o Centenrio da Primeira Guerra Mundial, as escolas e as instituies educativas

    sero encorajadas a realarem diferentes aspetos da Primeira Guerra Mundial. Isto poder

    ser conseguido de vrias formas: uma visita de estudo a um museu martimo, uma expo-

    sio temporria sobre um determinado aspeto da Grande Guerra, uma visita a um local

    de evocao, a leitura de poesia sobre a Grande Guerra no mbito de cursos de lnguas,uma visita virtual na Internet a um navio naufragado da Primeira Guerra Mundial, etc.,

    a lista no limitada. Todas estas atividades ajudam a aumentar o interesse dos alunos e a

    melhorar a sua compreenso atravs da criao de oportunidades para conhecer os diver-

    sos rostos da guerra, da paz e da reconciliao.

    No entanto, poder surgir o momento que todos os professores enfrentam frequente-

    mente. Participar numa atividade entusiasmante ou comovente bastante diferente de

    transformar estas experincias de aprendizagem num projeto pedaggico exequvel, men-survel e sustentvel, que tambm se adeque aos resultados finais ou transdisciplinares.

    Este Manual do Professor apresenta ao profissional educativo as ferramentas necessrias

    para moldar este processo.

    Os principais objetivos desta publicao so:

    fornecer contedos sobre o patrimnio cultural subaqutico relacionado com a Pri-

    meira Guerra Mundial, e incorporar este tema no plano de aulas sobre direitose responsabilidades humanas, o uso e abuso de poder, a resoluo de conflitos, a

    compreenso intercultural, e a sensibilizao para o patrimnio cultural, etc.;

    fornecer informao adicional sobre a abordagem pedaggica da educao para a

    paz e memria;

    INTRODUO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    14/172

    12

    desenvolver a confiana dos professores na abordagem de temas sobre o patrimnio

    cultural subaqutico, e a sua importncia para a paz, a memria e a reconciliao;

    ajudar os professores na integrao eficaz de iniciativas locais do Centenrio da Pri-meira Guerra Mundial e patrimnio cultural subaqutico no programa curricular;

    fornecer aos professores atividades de aprendizagem, exemplos de boas prticas,

    sugestes e exemplos de ensino que estimulem a evocao da Primeira Guerra

    Mundial atravs do exemplo do patrimnio cultural subaqutico, e que estimulem

    tambm reflexes inovadoras sobre a paz, a reconciliao, os direitos humanos e a

    tolerncia nos dias de hoje.

    O manual constitudo por quatro captulos e trs anexos. Cada parte tem uma corespecfica.

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial e a Conveno

    de 2001 da UNESCO

    O primeiro captulo fornece informao contextual sobre o patrimnio cultural subaqu-

    tico da Primeira Guerra Mundial e a Conveno da UNESCO sobre a Proteo do Patri-

    mnio Cultural Subaqutico. Tambm explicada a componente martima da PrimeiraGuerra Mundial e as vrias ameaas que o mundo atual acarreta para o patrimnio. Expe

    os pilares temticos da Conveno da UNESCO, como a proteo do patrimnio e a

    cooperao entre Estados. Finalmente, estabelece a relao entre o objeto da Conveno,

    o patrimnio submerso, e a educao para a reconciliao e a paz. Os materiais de apoio

    a este captulo esto includos no Anexo II.

    Educao para a paz e o patrimnio: por onde comear?

    O segundo captulo oferece um enquadramento para os professores que pretendam or-

    ganizar um projeto. Este captulo pode ser aplicado ao patrimnio cultural subaqutico,

    mas tambm a outros domnios da educao para o patrimnio e a paz. Os itens abor-

    dados neste captulo incluem: as motivaes de um projeto, os objetivos pedaggicos, o

    processo de ensino e as perspetivas educativas.

    Pontos de avaliao para a educao para a paz atravs do patrimnio

    O terceiro captulo fornece conselhos para assegurar que os projetos tm elevada qualida-

    de. Os pontos de avaliao so: (1) Saber e conhecimento, (2) Empatia e solidariedade, e

    (3) Reflexo e ao. So apresentadas pistas de ensino, opes e exemplos de boas prticas,

    e so indicadas as limitaes de ensino.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    15/172

    13

    Educar para um futuro melhor

    Este quarto captulo oferece s escolas dez alicerces para desenvolverem a educao para opatrimnio, a paz e a reconciliao. O contedo ilustrado atravs de pistas e exemplos

    baseados no patrimnio cultural subaqutico.

    ANEXO I A UNESCO e a educao para a paz

    O Anexo I diz respeito gnese e ao funcionamento das Naes Unidas e da sua agncia

    especializada, a UNESCO, na perspetiva do crescente interesse na educao para a paz e

    o patrimnio.

    ANEXO II O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial

    Este anexo contm dados e informao contextual relativa ao patrimnio cultural suba-

    qutico da Primeira Guerra Mundial. Apresenta tambm uma viso geral dos encontros

    navais mais importantes, de alguns navios naufragados relevantes encontrados in situ, e

    uma lista de museus que possuem uma seleo de vestgios de patrimnio cultural suba-

    qutico da Primeira Guerra Mundial.

    ANEXO III Exemplos de planos de aula

    No final deste manual, so apresentados diversos planos de aula que podero servir de

    inspirao para desenvolver atividades educativas adicionais. Os planos de aula mostram

    como determinadas escolas tm moldado os seus processos pedaggicos.

    INTRODUO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    16/172

    14

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    17/172

    15

    I. O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra

    Mundial e a Conveno de 2001 da UNESCO

    Uma vez que as guerras comeam nas mentes dos homens, nas mentes dos homens que

    devem ser erguidos os baluartes da paz, afirma a constituio da UNESCO. A proteo e

    a partilha do nosso patrimnio so essenciais para fomentar a compreenso mtua e um

    conhecimento mais perfeito das vidas uns dos outros. A nossa histria e o nosso patrim-

    nio fazem parte de quem somos. So componentes preponderantes das nossas identida-

    des, e fornecem formas de nos definirmos a ns prprios como grupos sociais na interao

    com outros grupos e com o ambiente. Ao recordarmos e compreendermos o nosso passa-do, adquirimos orientao para o nosso futuro. A histria e o patrimnio criado por essa

    histria influenciam a forma como evolumos e como transmitimos o conhecimento s

    geraes futuras. Fornecem a base da tradio, dos valores e do respeito mtuo.

    O Centenrio da Primeira Guerra Mundial proporciona uma oportunidade nica para

    utilizar o patrimnio no mbito da educao para a paz e a reconciliao, sobretudo o

    patrimnio cultural subaqutico nico daquela poca.

    O patrimnio do mundo como alicerce do caminho para a paz

    O mundo atual enfrenta o desafio de unir povos na partilha de uma coexistncia pacfica

    numa escala sem precedentes. O patrimnio cultural do mundo constitudo pelos ves-

    tgios dos eventos mais bonitos, mas tambm mais trgicos da histria da humanidade, e

    a compreenso e a partilha deste patrimnio podem ser uma poderosa fora unificadora.

    A ideia de estabelecer um movimento internacional para a proteo do patrimnio co-mum da humanidade foi mencionada pela primeira vez depois da Primeira Guerra Mun-

    dial, sob os auspcios da Liga das Naes. Foi mais tarde inscrita no mandato da Organi-

    zao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO).

    Na dcada de 1960, a UNESCO organizou uma campanha internacional para ajudar o

    Egito e o Sudo a salvarem os templos nbios da cheia iminente que seria provocada pela

    construo da barragem de Assuo no rio Nilo. A campanha mobilizou a comunidade

    internacional para o patrimnio cultural e a responsabilidade comum na sua preservao.

    Um passo importante no sentido da preservao do patrimnio foi a Conveno para a

    Proteo do Patrimnio Mundial, Cultural e Natural, adotada pela Conferncia Geral

    da UNESCO em 1972, mais conhecida como a Conveno do Patrimnio Mundial. A

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    18/172

    16

    sua Lista de Patrimnio inclui, desde julho de 2015, 1.031 stios de patrimnio cultural

    e natural de valor universal excecional, localizados em terra ou no mar. Alm disso, a

    UNESCO comeou a designar obras-primas de Patrimnio Oral e Imaterial da Huma-nidade, e criou uma Lista de Patrimnio Imaterial. Esta iniciativa ir ajudar a preservar a

    cultura tradicional e popular.

    O patrimnio cultural subaqutico do mundo protegido especificamente ao abrigo da

    Conveno da UNESCO sobre a Proteo de Patrimnio Cultural Subaqutico, adotada

    em 2001 pela Conferncia Geral da UNESCO.1

    A proteo de todas as formas de patrimnio ajuda-nos a compreender os vrios aspetosda histria, levando assim paz e ao entendimento. Alguns stios de patrimnio desem-

    penharam um papel na guerra e no consequente apelo paz, como o campo de concen-

    trao de Auschwitz-Birkenau, o Memorial da Paz de Hiroshima, a ponte em Mostar na

    Bsnia e Herzegvina, ou a frota afundada no Atol de Bikini. Existem outros elementos

    de patrimnio que fazem parte das mais belas criaes da natureza e da humanidade. O

    patrimnio o ingrediente indispensvel da identidade e do desenvolvimento de cada

    indivduo, de cada sociedade e do mundo no seu conjunto.

    Uma grande parte do nosso patrimnio comum, os vestgios das aes, dos habitats e dos

    encontros humanos, encontra-se, atualmente, em locais submersos por mares, rios ou

    lagos. Os conflitos navais provocaram o naufrgio de navios e frotas, deixando intocados

    nas profundezas testemunhos importantes e extensos do nosso passado.

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial

    O Centenrio da Primeira Guerra Mundial d um nosso impulso compreenso e pro-teo do patrimnio cultural subaqutico desta guerra. Tambm reala a posio nica

    e a importncia da Conveno da UNSECO sobre a Proteo do Patrimnio Cultural

    Subaqutico. A Conveno afirma que todos os vestgios da existncia humana que te-

    nham um carter cultural, histrico ou arqueolgico, e que tenham ficado parcial ou

    totalmente submersos, de forma peridica ou contnua, durante pelo menos 100 anos so

    considerados patrimnio cultural subaqutico. Assim, durante a evocao do Centenrio

    da Primeira Guerra Mundial, 2014-2018, todos os navios naufragados como consequn-

    cia de eventos que ocorreram durante a Primeira Guerra Mundial ficaro protegidos aoabrigo da Conveno.

    1 A Conveno entrou em vigor a 2 de janeiro de 2009 e celebrou o seu 10 aniversrio no final de 2011

    com uma conferncia cientfica em Bruxelas. Atualmente, em agosto de 2015, 51 Estados ratificaram a

    Conveno e um crescente nmero de outros Estados esto a considerar aderir.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    19/172

    17

    A Primeira Guerra Mundial teve uma importante componente

    martima?

    Apesar da maioria das batalhas da Primeira Guerra Mundial ter sido travada em terra, a

    guerra no mar foi significativa, sobretudo devido ao impacto social da guerra submarina.

    Durante o perodo da corrida para o mar (course la mer) no incio da Guerra, ambos

    os lados aumentaram a dimenso das suas frotas, e a tentativa britnica de bloquear os

    portos submarinos de Zeebrugge e Oostende provocou a inundao de Westhoek. Houve

    uma grande quantidade de importantes aes navais em todo o mundo, como as Batalhas

    de Coronel e das Ilhas Falkland no final de 1914, a Campanha de Galpoli em 1915, quetinha como objetivo manter a ligao ao Mar Negro ou conquistar Istambul, e a Batalha

    da Jutlndia em 1916.

    No entanto, os efeitos da guerra submarina entre os Imprios Britnico e Alemo no canal

    ao longo da Costa Australiana, foram os mais marcantes devido escassez de matrias-

    primas e bens de primeira necessidade, fome e doena que vitimou a populao civil.

    Finalmente, o cansao da guerra impulsionado por estas circunstncias, leva ao motim da

    Armada Imperial em Kiel, um dos elementos que provocaram a queda do Reich Alemo.

    Que patrimnio submerso resta da Primeira Guerra Mundial?

    Este manual inclui um Anexo com uma viso geral do patrimnio submerso da Primeira

    Guerra Mundial. No entanto, no uma lista exaustiva, uma vez que muitos dos stios

    ainda no foram registados ou investigados.

    A Campanha de Galpoli (anakkale Sava) desenrolou-se

    na pennsula de Galpoli, que fazia parte do Imprio Otoma-

    no (agora chamada Gelibolu, na atual Turquia), entre 25 de

    abril de 1915 e 9 de janeiro de 1916. Foi montada uma ope-

    rao conjunta do Reino Unido e da Frana para conquistar

    a capital otomana de Constantinopla (atual Istambul) e asse-

    gurar uma rota martima para a Rssia. A tentativa de fazer

    desembarcar as tropas dos navios de transporte falhou, pro-

    vocando um grande nmero de baixas em ambos os lados.

    A campanha foi considerada uma das maiores vitrias dosturcos e vista como um dos maiores fracassos dos Aliados.

    Recentemente, um projeto turco-australiano, Beneath

    Gallipoli, fez um levantamento da baa de Suvla, palco de

    Balsa II, Canakkale

    Seddulbahir

    Harun zdas

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    20/172

    18

    uma das maiores batalhas, e revelou que o mar preservou o que poder ser o melhor stioarqueolgico relacionado com esta campanha. Debaixo das ondas, encontraram relquias,

    incluindo diversos couraados, assim como os restos evocadores das barcaas de ao uti-lizadas para abastecer as tropas, e para transportar e retirar os mortos e feridos das praias.

    Encontra-se este patrimnio submerso ameaado?

    Apesar da grande participao naval durante a Primeira Guerra Mundial, a componentemartima do seu patrimnio arqueolgico corre o risco de ser esquecida, e os seus vestgiosesto ameaados, uma vez que esto desprotegidos. este o resultado da pouca sensibili-

    zao do pblico relativamente a este patrimnio, devido sua localizao no fundo dooceano. Alm disso, como consequncia da ignorncia, e por vezes da procura do lucro,este patrimnio tratado de forma negligente. Os navios naufragados so desmanteladose destrudos sem registo, investigao ou consulta do Estado de bandeira em questo. Osmetais de baixa irradiao e as cargas supostamente valiosas atraem caadores de tesourosque, no decurso da obteno do material, destroem no s os contextos arqueolgicos,mas tambm os tmulos de guerra.

    Alm disso, muitos mergulhadores visitam os navios afundados no mbito do que, eufe-misticamente, podemos apelidar de caa recordao. Em grandes camadas da popula-o, ainda existe uma grande falta de compreenso do significado histrico destes stios eda necessidade de os respeitar. O impacto da caa recordao tambm se deve ao factode os navios naufragados da Primeira Guerra Mundial serem mais fceis de encontrar doque navios mais antigos, que geralmente esto enterrados debaixo de vrias camadas desedimentos, ou deteriorados e irreconhecveis.

    Desta forma, a memria coletiva, no s da Primeira Guerra Mundial, mas de ambas asGuerras Mundiais (uma vez que os stios da Segunda Guerra Mundial e de outros confli-tos do sculo XX partilham o mesmo destino) est a desaparecer aos poucos. Agora que asltimas testemunhas oculares da Primeira Guerra Mundial desapareceram, a importnciado patrimnio enquanto ponto de referncia fsico aumentou, uma vez que a ltimatestemunha direta desta fase crucial da histria mundial.

    Felizmente, cada vez mais os pases que estiveram envolvidos na Primeira e Segunda Guer-ras Mundiais aderem Conveno da UNESCO sobre a Proteo do Patrimnio Cultural

    Subaqutico, e assim promovem de forma proativa a proteo do patrimnio submerso.No entanto, tambm essencial mostrar o valor histrico e educativo destes stios, e sensi-bilizar o pblico para o seu significado, sobretudo junto dos jovens. A mensagem que estesstios transmitem importante no s para os cientistas, mas para toda a humanidade.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    21/172

    19

    Para obter mais informao, consulte o Anexo deste Manual.

    A proteo ao abrigo da Conveno de 2001

    O principal objetivo da Conveno da UNESCO sobre a Proteo do Patrimnio Cul-

    tural Subaqutico proteger este patrimnio para o bem da humanidade. A Conveno

    contm princpios ticos, regulamentos sobre a cooperao entre Estados, e regras para a

    proteo jurdica. O seu Anexo contm diretrizes cientficas para a arqueologia. A Con-

    veno encoraja vivamente a educao e o acesso aos stios.

    A Conveno considera que a principal ameaa aos stios arqueolgicos submersos so os

    saqueadores e as empresas especializadas na localizao e recuperao de tesouros arqueo-

    lgicos para vender com fins lucrativos. Ao procederem desta forma, estes grupos ignoram

    de forma consciente que este patrimnio pertence memria coletiva da humanidade e

    que deve ser experienciado por todos. Atualmente, estima-se que 98% do leito marinho

    se encontra acessvel a atividades que vo desde a caa recordao, s atividades de

    recuperao em grande escala que se concentram em stios que podero ter at 750.000

    artefactos. Estas atividades fazem com que a adeso universal dos Estados Conveno

    seja de uma urgncia premente. A Conveno probe a venda, a disseminao ilegal e a

    explorao comercial do patrimnio cultural subaqutico, e estipula sanes e medidaspara a apreenso.

    Alm disso, a Conveno inclui disposies sobre as atividades que, apesar de no estarem

    direcionadas para o patrimnio cultural, tm um impacto indireto no mesmo. Segundo a

    Conveno, os Estados Partes envidaro esforos, conforme os seus meios, para proteger o

    patrimnio deste tipo de atividades e para mitigar qualquer impacto. Apesar de no serem

    enumeradas, as medidas protetoras podero incluir a proibio ou limitao de atividades

    de dragagem, de recuperao de minerais, as atividades de construo, ou o uso de redes

    de arrasto nas imediaes de stios de patrimnio. Por exemplo, devido ao impacto das

    redes de arrasto que tm passado pelo casco, o naufragado Lusitania no se encontra to

    bem preservado como o Titanic.

    As medidas protetoras referidas pela Conveno aplicam-se ao patrimnio cultural pre-

    sente em zonas sob a alada da jurisdio do Estado Parte em questo. No entanto, tam-

    bm se estendem a todas as guas do mundo atravs da jurisdio de cada Estado Parte

    relativamente aos seus cidados e aos navios que arvorem o seu pavilho, e so aplicadas

    atravs da cooperao com outros Estados.

    Para alm da proteo, a cooperao entre Estados a ideia central da Conveno da

    UNESCO. A ratificao permite aos Estados aderirem a um clube de Estados empe-

    nhados na proteo do patrimnio cultural subaqutico, e interessados no apoio mtuo

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    22/172

    20

    para atingirem desse objetivo. Esta cooperao pode assumir diversas formas, incluindoa cooperao entre Estados para proteger stios em guas internacionais. Para um Estado

    celebrar formalmente uma cooperao com outro Estado em guas internacionais com aajuda do Diretor-Geral da UNESCO, dever ser demonstrada uma ligao verificvel aopatrimnio cultural em questo. Habitualmente, os Estados so encorajados a celebraremacordos bilaterais.

    O ltimo, mas no menos importante, pilar da Conveno a orientao da investigaocientfica.

    Conforme a Conveno reala, a primeira opo na proteo do patrimnio cultural

    subaqutico preservar o patrimnio no seu local original. Se tal proteo in situ forimpossvel ou indesejvel, o patrimnio cultural subaqutico poder ser recuperado nointeresse da cincia ou do pblico, mas nunca no interesse da caa ao tesouro ou do co-mrcio. Qualquer interveno direcionada para o patrimnio cultural subaqutico, querseja para simples documentao ou para recuperao, dever cumprir as Regras acrescen-tadas Conveno sob a forma de Anexo. Estas Regras no diferem substancialmente dasnormas de investigao arqueolgica terrestre, mas, pelo contrrio, fornecem um texto dereferncia. So, portanto, muito estimadas pelos arquelogos.

    A Conveno no regula a propriedade ou alterao de jurisdio no mar, mas totalmen-te aplicvel a navios naufragados que arvorem o pavilho de um Estado, incluindo muitosnavios naufragados da Primeira Guerra Mundial.

    Os Estados Partes da Conveno renem-se pelo menos duas vezes por ano, e a Con-veno tem um rgo Consultivo Cientfico e Tcnico com doze membros que ajuda osEstados-Membros a implementarem a Conveno.

    Para obter mais informao sobre a Conveno de 2001, pode consultar o site daUNESCO: www.unesco.org/en/underwater-cultural-heritage.

    A mensagem do patrimnio cultural subaqutico da PrimeiraGuerra Mundial para a educao

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial tem, at data, sidopouco visvel, pouco investigado e pouco compreendido. A histria naval escrita sobre a

    Primeira Guerra Mundial conta-nos as batalhas, as estratgias, as tecnologias e o poder,mas os stios dos navios naufragados, que tambm encerram os restos mortais de milharesde soldados que pereceram durante a guerra, contam-nos uma histria tragicamente di-ferente. Muitos dos navios naufragados so tmulos. Ao contarem a tragdia humana daguerra atravs de cada histria, estes relatos e os stios de patrimnio so um apelo paz e

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    23/172

    21

    reconciliao. A forma como a histria ensinada nas escolas foi estabelecida ao longo

    de muitos anos em cada um dos pases que esteve envolvido na Primeira Guerra Mundial.

    A narrativa histrica do patrimnio cultural subaqutico da guerra , no entanto, relati-vamente recente.

    Proporciona a oportunidade de desenvolver uma nova abordagem e a possibilidade de

    aprofundar o entendimento cultural, promovendo as oportunidades de educao e di-

    logo para a paz.

    A histria humana do nosso patrimnio cultural subaqutico permite s naes distan-

    ciarem-se das vitrias e das derrotas do passado. Compreender a guerra e o seu efeito nos

    povos e no patrimnio pode ajudar a fomentar a paz e a reconciliao. Ao partilharem o

    seu patrimnio cultural subaqutico, estas naes podem aceitar a parte comum das suas

    identidades. A tolerncia, o respeito e a compaixo para com diferentes culturas, incluin-

    do antigos inimigos, uma forma de fomentar a paz.

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial cria a oportunidade de

    uma perspetiva mais inclusiva na educao em todo o mundo, reconhecendo outras cul-

    turas e experincias.2

    2 As Diretrizes sobre a Educao Intercultural da UNESCO realam que a educao intercultural um con-

    ceito dinmico que se centra nas relaes em constante evoluo entre diferentes grupos culturais, assim como

    a possibilidade de gerar expresses culturais comuns atravs do dilogo e do respeito mtuo. Diretrizes sobre

    a Educao Intercultural da UNESCO, (http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001478/147878e.pdf).

    Balsa em Galpoli Mark Spencer

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    24/172

    22

    Eu gosto do patrimnio cultural subaqutico porqueprotege as memrias para todos, e ningum pode rei-

    vindicar propriedade de um navio naufragado, porque de todos.Jonathan, 12

    Prtica de ensino

    fOs alunos conhecem a histria martima e o essencial sobre a arqueologia subaqutica,

    e demonstram a capacidade de integrar, sintetizar e aplicar esta informao para chegar

    a concluses fundamentadas.

    O Misterioso Navio Naufragado Um projeto escolar martimo alm-fronteiras

    O mar liga povos e naes, e a interpretao dos eventos navais permite-nos aprender com

    o nosso passado coletivo para construirmos um futuro mais slido. A iniciativa interna-

    cional Atlas of the 2 Seas criou uma base de dados on-line dos navios naufragados que

    Capa do relatrio final do

    Atlas of the 2 seas project

    que contm uma descrio

    detalhada do

    O Misterioso Navio Naufra-

    gado Um projeto escolar

    martimo alm fronteiras.

    http://www.maritimearcha-eologytrust. org/uploads/

    publications/ FINAL%20RE-

    PORT%20

    A2S%20Project_EN_LD.pdf

    pe

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    25/172

    23

    tem investigado. Pode ser usada para criar novas relaes entre escolas em toda a Unio

    Europeia.

    Entre 2009 e 2012, arquelogos de Frana, do Reino Unido, da Blgica e dos Pases Bai-

    xos estudaram mais de 150 stios arqueolgicos subaquticos e recolheram informao de

    fontes primrias e dos arquivos nacionais.

    Trs dos pases que participaram tiverem uma escola que cooperou com o projeto: a Toyn-

    bee School em Hampshire, Inglaterra; a Collge Diwan em Guissny, Frana; e a Sint-

    Bernarduscollege em Nieuwpoort, Blgica. Os sessenta e dois alunos e nove professores

    envolvidos no projeto tiveram uma formao introdutria sobre histria e arqueologiamartima, e descobriram como o patrimnio cultural subaqutico se enquadra nos cursos

    e nos programas escolares nacionais tradicionais.

    Atravs da geminao eletrnica, as trs escolas trabalharam em conjunto no projeto in-

    terativo, O Misterioso Navio Naufragado. O projeto comeou com um cenrio em que

    tinha sido descoberta uma anomalia no leito marinho durante uma investigao geofsica.

    De seguida, foram chamados mergulhadores para investigarem a anomalia. A partir desse

    momento, os alunos assumiram o papel de arquelogos martimos, comeando por ummergulho virtual. Atravs de sesses guiadas, e com a ajuda de materiais educativos, os

    alunos conseguiram participar naquilo que seria uma busca arqueolgica e histrica ina-

    creditavelmente interessante. O projeto foi includo no programa escolar em cada um dos

    trs pases participantes. No Reino Unido e na Blgica, as sesses do projeto decorreram

    aps o horrio escolar ou nos intervalos de almoo. Em Frana, o projeto foi integrado

    nas aulas de lngua bret.

    Os alunos acabaram por identificar o misterioso navio naufragado como um navio a

    vapor belga, construdo e lanado em Inglaterra em 1911. A 12 de maro de 1918, o na-

    vio foi fretado pelo governo francs e saiu de Calais em direo a Bristol. O navio estava

    armado com um canho e tinha 25 pessoas a bordo, incluindo pelo menos 12 belgas, 3

    russos, 2 neerlandeses, 2 bretes, um sueco, e um noruegus. A 13 de maro de 1918,

    por volta das 2h da manh, o navio foi atingido por um torpedo de um U-boat alemo.

    A tripulao abandonou o navio, mas apenas sobreviveram 13 pessoas: morreram 11

    marinheiros no decurso de uma exploso, afogados ou de hipotermia. Enquanto os so-

    breviventes estavam nos botes salva-vidas, conseguiram vislumbrar o submarino alemo,

    que voltou a submergir por volta das 2h30 da manh. A histria do navio naufragado -

    cujo nome no ser aqui revelado devido possibilidade de outros projetos - demonstra

    claramente que existe uma herana comum da guerra, que resulta da histria martima

    partilhada pelos pases participantes.

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    26/172

    24

    Nas palavras de apenas alguns professores:

    O projeto ilustrou a histria comum da Inglaterra, Frana e Blgica; um tema que queremosdesenvolver mais na nossa escola professor francs

    Penso que esta uma tima oportunidade para envolver os alunos e tirar partido das ligaes

    transdisciplinares na escola professor ingls

    Uma experincia muito positiva, na qual sem dvida valeu a pena participar professor belga

    Para obter mais informao, consulte:

    www.atlas2seas.eu/

    http://schools.maritimearchaeologytrust.org/a2smysterywreckworkshop

    http://schools.maritimearchaeologytrust.org/maritimebus

    Ensino do patrimnio cultural subaqutico: a memria e a paz

    Certo dia o diretor depara-se com uma pergunta pecu-liar: A escola estaria interessada em ter uma placa comos nomes dos oito antigos alunos que morreram no mardurante a Primeira Guerra Mundial?

    A placa tinha sido salva do lixo por um membro dasociedade histrica local.Foi no incio de um projeto em que diversos alunosrealizaram uma pesquisa de documentao sobre asvidas das pessoas que faleceram. Esta pesquisa deu-lhesa conhecer eventos dramticos dessa poca.

    A apresentao do seu projeto foi utilizada para lanaruma reflexo anual sobre a construo da paz.

    Os navios naufragados, as instalaes costeiras, os memoriais e os abrigos so alguns dos

    muitos vestgios materiais da Primeira Guerra Mundial. Em conjunto com os museus, as

    tradies e os testemunhos pessoais escritos, formam a ltima ponte entre o passado e o

    presente, uma vez que j no existem testemunhas diretas. Evocam momentos dramticos

    do passado para geraes futuras.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    27/172

    25

    No entanto, o patrimnio mais do que simplesmente as relquias materiais do passado. algo que faz parte da nossa identidade. Faz parte da nossa particularidade e molda a

    nossa relao com o mundo atual. Assim, a comunidade nacional e internacional tem vin-do a considerar que o patrimnio intrinsecamente significativo. Existem diversos atoresque atribuem valor aos stios de patrimnio, incluindo comunidades locais, associaes,

    jovens, profissionais do patrimnio, artistas, jornalistas, e polticos.

    A educao desempenha um papel importante na nossa perceo e valorizao do patri-mnio, mas tambm na nossa resposta ao mesmo. A educao afeta todos os futuros ci-dados. Na escola, as crianas aprendem mais do que simplesmente lnguas e matemtica.

    Tambm aprendem o que so a paz, o respeito e a tolerncia. Aprendem a trabalhar emconjunto. Ficam a conhecer o seu passado, quem so e como isso se relaciona com o mun-do em que vivem. Para alm de dar um futuro a cada criana, a educao contribui para aconstruo do futuro do pas e da comunidade internacional. A histria, o patrimnio e opassado desempenham um papel importante na garantia de um futuro seguro e pacfico.

    Uma caraterstica especfica da educao para a memria atravs do pa-

    trimnio o seu ponto de partida - a memria do passado. No entanto,

    o objetivo que verdadeiramente importante. No estudamos o passado

    apenas para o conhecer ou compreender. O estudo do passado refere-se

    principalmente ao que com ele podemos aprender, a fim de melhorar o

    futuro.

    O patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial oferece um testemunhonico do passado. Uma vez que tem permanecido largamente invisvel, e raramente es-tudado, este patrimnio proporciona a oportunidade de combinar descobertas cientficase curiosidade educativa com mensagens educativas sobre paz. Muitos dos navios naufraga-dos so tmulos que encerram os corpos de inmeros soldados que foram arrancados aosseus entes queridos, congelados no tempo nas profundezas glidas. So a ltima moradade jovens soldados que em tempos acalentaram sonhos de um futuro cheio de esperana.Consequentemente, este patrimnio cultural subaqutico um testemunho histrico quedevemos respeitar. Os restos que o mar oculta no so apenas stios arqueolgicos, quepreservam os vestgios da vida quotidiana a bordo e dos vislumbres da sociedade do pas-sado, tambm transmitem mensagens de vida e lies de histria que se aplicam nossapoca. Ao interpretar o seu significado num contexto histrico, os alunos so encorajadosa refletirem de forma crtica sobre o significado do stio arqueolgico, e tambm sobre aguerra e a paz no geral. O estudo da guerra sensibiliza as mentes das pessoas e ajuda-as acompreenderem o valor da paz.

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    28/172

    26

    Alunas a trabalharem num projeto de paz sobre o patrimnio cultural subaqutico.

    Istvan Leel-ssy, cortesia do Departamento de Educao do Municpio da Anturpia

    Podemos ensinar a importncia da memria atravs do patrimnio a partir de trs pers-

    petivas:

    (1) Saber e conhecimento

    (2) Empatia e solidariedade

    (3) Reflexo e ao

    Estas trs perspetivas podem ser vistas como objetivos e plataformas educativas.

    O saber e o conhecimento so essenciais para um bom comeo. Quando exploramos os

    aspetos da Primeira Guerra Mundial e do patrimnio cultural subaqutico com os alunos,

    fazemo-lo com uma atitude neutra para com a informao histrica e cientfica. Sem sa-

    ber e conhecimento, a empatia e a solidariedade, e a reflexo e a ao no tm qualquer

    significado, e existe o risco de nos rendermos a uma abordagem mtica ou nacionalista

    do passado.

    No entanto, o saber e o conhecimento s por si tambm no chegam. Se s analisarmos

    os factos, o passado ser apenas algo que aconteceu fora do contexto das vidas dos alu-

    nos, numa era muito distante. A empatia e a solidariedade permitem-nos questionar o

    passado segundo o potencial humano ou o impossvel. Esta questo de natureza antro-

    polgica e sempre relevante.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    29/172

    27

    Sem oportunidades para aplicar o que aprendemos atravs da reflexo e ao, o saber e

    o conhecimento e a empatia e a solidariedade sero sempre superficiais. Ou seja, pre-

    cisamos de concentrar o processo educativo no mundo em que vivemos e na sociedadecontempornea, quer a nvel nacional como a nvel global. Devemos perspetivar sempre

    um futuro melhor. Olhando para o passado, quais so os alicerces de que precisamos para

    a paz? Esta publicao tem uma seo parte dedicada a esta questo.

    ncoras oferecidas ao museu Strandingsmuseum por pescadores locais. Coleo do museu

    Strandingsmuseum St George, na Dinamarca Dirk Timmermans, cortesia da Associao

    das Naes Unidas da Flandres.

    Imagine que no existiam navios naufragados, como

    divulgaramos a mensagem de paz sem exemplos?Catarina, 12

    OPATRIMNIOCULTURALSUBAQUTICODAPRIMEIRAGUERRAMUNDIALEACONVENODE2001 DAUNESCO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    30/172

    28

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    31/172

    29

    II. Educao para a paz e o patrimnio: por onde comear?

    Sabem a ltima novidade, diz a Brbara, enquanto acena com um panfleto, o centro cul-tural vai abrir uma nova exposio temporria sobre a Primeira Guerra Mundial. Sabiamque foram afundados dois navios por um U-boat alemo aqui ao largo da nossa costa?

    A Brbara tem sempre coisas interessantes para nos contar, diz o Joo na brincadeira.Vira-se para o resto da sala dos professores e diz, por isso que j no temos de ler o

    jornal, temos a Brbara.

    A Brbara no fica desencorajada com o comentrio. Bem, no uma exposio qual-quer. Por exemplo, tm fragmentos de dirios de alguns dos marinheiros. Falam do seudia-a-dia, do sofrimento, da perda e da ansiedade. verdadeiramente comovente. E huma grande componente interativa, at podemos fazer um mergulho virtual aos naviosnaufragados.

    O Hugo intervm, E qual objetivo disso?

    Suponho que seja a crtica histrica, diz o Joo. A descrio de um navio naufragadopoder nem sempre ser um reflexo puro e inalterado de uma poca da histria. Existemdiversos fatores externos antes, durante e depois do naufrgio que podem sujeitar o navioe a sua histria a vrias alteraes.

    Est bem, colega, diz a Laura, atrada pela conversa. Mas o colega professor de histria.Eu sou professora de educao fsica, e falo com os meus alunos sobre o que devem fazerem campo. Eles no esto interessados em falar do que aconteceu h centenas de anos.

    Esto interessados em saber como interagem uns com os outros hoje em dia. Por exem-plo, o bullying algo que os preocupa. Podem ter reaes muito emotivas relativamentea incidentes recentes na nossa escola.

    Sim, e tem precisamente a ver com isso, responde a Brbara. uma oportunidade paraaprender com a histria, sobre como que uma comunidade lida com os conflitos. Atpodemos debater com os alunos as diferenas entre o bullying e outras formas de conflitosocial.

    Est bem, diz o Hugo, Estou a ver qual o objetivo. Mas isso aplica-se a mim? Querdizer... matemtica.

    Sim, Hugo, respondem todos em conjunto, sem a me de todas as cincias no somosnada!

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    32/172

    30

    Esta uma conversa normal numa sala de professores que poder ser o incio de um pro-

    jeto incrvel para a escola. Imaginemos que a Brbara contacta o departamento educativo

    do museu local, e convence os colegas que seria bom para os alunos, e para a escola nogeral, participarem num projeto interdisciplinar sobre a educao para a paz atravs do

    exemplo do patrimnio cultural subaqutico.

    Tal como o Hugo, o professor de matemtica, contou mais tarde a um jornalista do jornal

    local: No incio estava ctico, mas de repente apercebi-me que a matemtica fornece fer-

    ramentas que podem ser utilizadas para resolver problemas no nosso mundo. A resoluo

    de problemas uma parte importante da pedagogia da matemtica.

    Durante a evocao do centenrio, a comunidade docente ser desafiada

    a prestar ateno a estes diferentes aspetos da Primeira Guerra Mundial.

    Sentir-se-o mais dispostos a centrar-se na educao para a paz. No en-

    tanto, a educao para a paz requer conhecimentos especficos - conhe-

    cimentos para implementar projetos que sejam bem-sucedidos e slidos.

    Neste captulo, vamos apresentar um enquadramento que poder ajudar.

    Apesar de no ser a nica possibilidade, o objetivo fornecer uma orien-

    tao inicial.

    Enquadramento para um projeto sobre educao para a paz atravs da compreenso

    do patrimnio:

    1. Legitimao: qual a motivao do projeto?

    2. Objetivo de ensino: o que que pretendemos alcanar?

    3. Projeto de ensino: como que podemos atingir o(s) nosso(s) objetivo(s)?

    a) Conhecimento: que conhecimentos devemos transmitir?

    b) Atitude: que valores devemos transmitir?

    c) Competncias: que competncias devemos ensinar?

    4. Perspetivas: que perspetivas positivas podemos oferecer?

    Legitimao

    Antes de comear um projeto, os professores devero identificar porque que o projeto

    necessrio, e de que forma ser vantajoso fazer uso do patrimnio. A resposta a esta

    questo ser diferente para cada escola. Uma das escolas, por exemplo, decidiu legitimar

    o projeto em resposta a diversos incidentes relacionados com o bullying. Uma exposio

    temporria sobre um incidente local da Primeira Guerra Mundial foi a razo subjacente

    para utilizar a histria para aprender como uma comunidade lida com os conflitos.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    33/172

    31

    Os temas que so apresentados e a forma como so tratados depende da situao e variam

    consoante a escola, o bairro, e a comunidade. Uma escola com crianas desfavorecidas

    numa zona metropolitana tem interesses diferentes de uma escola situada num bairro re-sidencial rico. Alm disso, surgem muitas diferenas numa s escola, incluindo diferenas

    na populao e nos seus contextos. Claro que tambm importante ter em conta se a

    regio tem alguma ligao ao mar ou alguma tradio martima.

    Assim, para dar incio ao projeto dever colocar as seguintes perguntas: Qual a com-

    posio da turma? O que que os alunos e os pais consideram mais importante? Que

    tipo de valores que os nossos jovens consideram importantes, e de que forma que

    esto relacionados com os nossos valores? Como que decidimos que projeto queremosdesenvolver? Qual a ligao que a regio tem ao patrimnio cultural subaqutico ou

    Primeira Guerra Mundial?

    A escultura Non-Violence (Knotted Gun) do artista sueco Carl Fredrik Reuterswrd em

    exibio na sede da ONU em Nova Iorque. Rick Bajornas/Foto da ONU

    O Objetivo de Ensino

    O objetivo de ensino responde pergunta: O que que pretendemos alcanar? Depois

    de definirmos o ponto de partida (i.e. a legitimao ou motivao), centramo-nos no

    destino. Ao organizarmos um projeto sobre o patrimnio cultural subaqutico e a Primei-

    ra Guerra Mundial, queremos ensinar no s o respeito pelo patrimnio, mas tambm

    EDUCAOPARAAPAZEOPATRIMNIO: PORONDECOMEAR?

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    34/172

    32

    refletir sobre como podemos criar uma sociedade melhor, baseada na compreenso e par-

    tilha desse patrimnio. Como resultado final do projeto, o professor espera melhorar a

    sociedade e a atitude que os jovens tm para com o seu futuro.

    As escolas no tm de responder sozinhas a estas perguntas. Ao longo deste manual para

    professores, existem diversos exemplos e referncias.

    Ao reconhecer o patrimnio das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a

    comunidade docente espera encorajar as pessoas a respeitarem-se mutu-

    amente e a trabalharem pela reconciliao, independentemente da nacio-

    nalidade ou do contexto social. A explorao e a reflexo sobre os naviosnaufragados da Primeira Guerra Mundial ir abranger diversas disciplinas

    da educao, como a histria, a geografia, a cincia, a tica, e muitas

    mais. Logo, pode ser includo no programa curricular como uma atividade

    interdisciplinar.

    O Projeto de Ensino

    Assim que o objetivo for identificado, a questo que surge como avanar. O verbo

    aprender tem muitos significados: saber, reconhecer, experienciar, descobrir e responder.

    A teoria de ensino estabelece trs nveis de aprendizagem:

    O saber e o conhecimentoesto relacionados com o verbo SABER

    A competnciaest relacionada com o verbo CONSEGUIR

    A atitude, ou maneira, est relacionada com o verbo QUERER

    Saber e conhecimento: que conhecimentos devemos transmitir?

    Existem diversas questes que so importantes para a educao para a paz. Para o projeto

    em questo, importante transmitir informao neutra sobre o passado, o seu patrimnio

    e a sua importncia. No entanto, tambm crucial transmitir os resultados dessa histria,

    como os tratados internacionais, o desenvolvimento das Naes Unidas, e o poder que a

    partilha do patrimnio tem na promoo da reconciliao. Consequentemente, os alunos

    tambm podem debater a preveno de conflitos, o patrimnio, a cultura e a diversidade,

    o direito internacional, as Naes Unidas, assim como a paz e a reconciliao.

    Explore o que as crianas sabem atravs de uma conversa normal.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    35/172

    33

    Compreender o que aconteceu

    Uma equipa de mergulhadores britnicos ficou radiante depois de descobrir um sub-marino britnico da Primeira Guerra Mundial, o J6, que tinha permanecido escondido

    no leito marinho ao largo da costa norte do Reino Unido durante 93 anos. No entanto,

    a descoberta foi marcada pela tristeza, quando desvendaram os segredos trgicos que o

    navio encerrava. O J6 foi afundado por outro navio britnico num incidente de fogo

    amigo a 15 de outubro de 1918, apenas um ms antes do fim da guerra. O submarino

    tinha acabado de sair de Blyth quando foi detetado por um Q-boat armado, o Cymric,

    pensando que o J6era um navio alemo e abriu fogo, afundado o submarino e matando

    15 marinheiros. Uma vez que o evento esteve classificado como secreto durante 75 anos,a histria s foi desvendada recentemente.

    O mergulhador Steven Slater disse: Ficmos bastante chocados com uma descoberta to

    importante que a histria tinha esquecido. Primeiro ficmos eufricos e depois apercebe-

    mo-nos do que tinha acontecido. No caso dos submarinos pior, porque estamos a nadar

    por perto e a pensar que ainda h marinheiros no seu interior.

    Os mergulhadores trataram o submarino com o mximo de respeito, no entraram nem

    retiraram nada.

    Competncias: que competncias devemos ensinar?

    Cada vez mais escolas se apercebem que as competncias desempenham um papel impor-

    tante na educao. A educao para a paz envolve diversas competncias:

    A comunicao, incluindo a capacidade de ouvir e refletir;

    A colaborao;

    A imaginao, a empatia e o perdo;

    O pensamento crtico e a capacidade de resolver problemas;

    A mediao, a negociao e a resoluo de conflitos;

    A pacincia e o autocontrolo;

    A responsabilidade no geral e a responsabilidade cvica;

    A liderana e a viso.

    Assegure-se que integra competncias suficientes no processo de apren-

    dizagem.

    EDUCAOPARAAPAZEOPATRIMNIO: PORONDECOMEAR?

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    36/172

    34

    Comportamento ou atitude: que valores devemos transmitir?

    Quer seja de propsito ou por acaso, os professores devem ensinar normas e valores aosseus alunos; por exemplo, relativamente forma como as pessoas interagem, a forma

    como as regras escolares so aplicadas, e relativamente ao mtodo de aprendizagem apli-

    cado. Os seguintes valores e atitudes so importantes para a educao para a paz:

    Autorespeito e tolerncia;

    Respeito pela dignidade e diversidade humanas;

    Capacidade de sentir empatia;

    Atitude no violenta e abertura reconciliao; Responsabilidade e solidariedade sociais, e abertura ao mundo;

    Respeito pela cultura e pelo patrimnio.

    Que valores quer transmitir e como que pode transmitir esses valores

    na escola?

    Perspetivas positivas

    No contexto da preveno da deteriorao de problemas existentes atravs da educao

    para a paz, corremos o risco de formular de forma negativa os objetivos educativos. Esta

    uma limitao que est particularmente presente quando abordamos a guerra e a paz.

    Quando procuramos evitar ou melhorar uma situao, damos destaque aos aspetos desu-

    manos e problemticos da nossa sociedade global.

    A questo mais visvel, por exemplo, relativamente a conceitos como a educao anti-

    discriminao ou a educao antiracista. De certa forma, o carter anti faz sentido deum ponto de vista de legitimao social, mas implica o ensino de limitaes devido aos

    aspetos morais subjacentes e ao ponto de partida negativo que d origem ao projeto. Con-

    sequentemente, devemos perguntar-nos se as pessoas conseguem aprender a contribuir

    para uma sociedade mais humana se s estudarem os eventos desumanos da nossa histria

    e do nosso presente.

    O processo de ensino pretende desafiar os alunos a questionarem-se sobre eventos hist-

    ricos e atuais. No pretende suscitar medos ou apreenses. Assim, extraordinariamente

    importante realar as iniciativas e resultados positivos que ocorreram na sequncia de

    eventos histricos negativos, como a Primeira Guerra Mundial, e apresentar perspetivas

    sobre como melhorar a atual situao mundial. Todos os problemas, grandes ou peque-

    nos, tm uma soluo positiva. Pensar nestas perspetivas uma parte integrante do pro-

    cesso de ensino.

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    37/172

    35

    Por exemplo, o patrimnio cultural e natural inerentemente positivo. Abrange stios e

    locais de que as pessoas gostam e aos quais tm uma ligao emocional. Por isso, a abor-

    dagem mais adequada para dar incio a um projeto educativo ser a anlise de um stiode patrimnio.

    Defina os seus objetivos a partir de uma perspetiva positiva. Assegure-se

    que se mantm fiel a estes objetivos positivos durante todo o processo, e

    ajuste o que for necessrio.

    O Conselho de Segurana das Naes Unidas reala a importncia da reconciliao durante o

    debate sobre A Guerra e a Busca de uma Paz Duradoura.

    Centro Noticioso da ONU, 29 de janeiro de 2014 A cessao dos combates no pe

    necessariamente fim a um conflito, foi o que disse hoje um alto representante poltico

    ao Conselho de Segurana, falando em pormenor das formas como a Organizao tem

    desenvolvido uma abordagem mais sistemtica da reconciliao, em particular aps os

    conflitos dentro de Estados. Como j testemunhmos diversas vezes, os combates que

    cessam sem reconciliao - sobretudo dentro dos Estados - so combates, que podem,

    e frequentemente o que se verifica, ser facilmente retomados, disse o Secretrio-Geral

    Adjunto das Naes Unidas para os Assuntos Polticos, Jeffrey Feltman.

    Jeffrey Feltman disse ao Conselho de Segurana que apesar da ONU ter frmulas h mui-

    to testadas para separar exrcitos, ajudar as pessoas carenciadas, promulgar roteiros pol-

    ticos, e reconstruir estradas e ministrios, temo-nos centrado menos na nossa capacidade

    de recuperar a confiana nas sociedades e fomentar uma reconciliao genuna. Assim, o

    corpo mundial e as suas principais instituies devero refletir sobre: Como que pode-

    mos reparar o tecido social de forma a que as pessoas voltem a olhar os seus adversrios

    nos olhos e vejam um ser humano e no um inimigo?

    Jeffrey Feltman,

    Secretrio-

    Geral Adjunto

    das Naes

    Unidas para os

    Assuntos Pol-

    ticos, perante

    o Conselho deSegurana.

    Mark Garten/

    Foto da ONU.

    EDUCAOPARAAPAZEOPATRIMNIO: PORONDECOMEAR?

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    38/172

    36

    O Sr. Feltman est entre os mais de 50 oradores agendados para participarem no debate do

    Conselho de Segurana sobre A guerra, as suas lies, e a busca de uma paz permanente.

    Jeffrey Feltman realou que a reconciliao, que pode ser encorajada e tornada possvel

    pela comunidade internacional, tem de vir de processos internos, e mencionou a impor-

    tncia de estabelecer um repositrio da ONU de conhecimentos e experincias compara-

    tivas sobre a reconciliao. Acrescentou ainda que so os atores nacionais os responsveis

    pela reconciliao, com a ajuda da comunidade internacional.

    Os lderes devem dar o exemplo, no s pondo fim retrica dos tempos de guerra e

    promoo internacional de ressentimentos, mas tambm atravs da cooperao genuna e

    da anlise honesta dos seus papis nos conflitos, disse o Sr. Feltman.

    Falando do papel dos jovens, que por crescerem num ambiente ps-guerra muitas vezes

    se transformam em adultos mais radicais do que os seus pais, Jeffrey Feltman realou a

    importncia de trabalhar com pais e professores para desenvolver um programa de histria

    que abranja diferentes interpretaes dos conflitos.

    Isto poder ser o incio do desenvolvimento de uma narrativa comum e da criao de pon-

    tos de convergncia nas experincias e no pensamento das pessoas, referiu o Sr. Feltman.

    Tambm realou os conflitos na Repblica Centro-Africana, no Sudo do Sul e na Sria,

    em que o to necessrio fim fsico da guerra no ir produzir uma paz e segurana dura-

    douras. O Sr. Feltman louvou alguns exemplos positivos, como a recente concluso do

    Dilogo Nacional no Imen, que fez parte do acordo de transio poltica do pas. Alm

    disso, realou que a reconciliao no pode substituir a justia, mas que o contrrio tam-

    bm verdade, como mostram os exemplos da antiga Jugoslvia e do Ruanda em que os

    julgamentos internacionais no conseguem substituir a reconciliao nacional.

    Sugesto de exerccio para os alunos

    Organize um debate sobre a reconciliao usando os exemplos do naufrgio do Lusitania

    e do Gustloff, ou da destruio de Coventry, Dresden ou Hiroshima.

    Quo importante a reconciliao para a construo da paz e para a preservao da paz? A

    reconciliao possvel? O que a reconciliao, e como que a sociedade e os indivduos

    reagem questo da reconciliao?

    Neste contexto, qual o significado do Centenrio da Primeira Guerra Mundial? Porque

    que evocamos a guerra passados 100 anos? A evocao muda a forma como compreende-

    mos o presente ou o futuro, ou at mesmo o valor que atribumos ao passado?

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    39/172

    37

    Modelo do Plano de Projeto

    No esquema abaixo, encontrar um modelo (Diagrama 1) atravs do qual poder visua-lizar o plano do seu projeto.

    Diagrama 1

    Para desenvolver um projeto, a equipa da escola dever comear por proceder a umaAnliseminuciosa ou uma avaliao realista da escola e da Legitimao. Em que tiposde aprendizagem que a escola se ir centrar nos prximos anos? Que questes que aescola dever abordar e como que as ir abordar em um ou vrios projetos? Quais so asmotivaes para os alunos?

    Ao explorarem um stio arqueolgico subaqutico da Primeira Guerra Mundial em dif-erentes disciplinas, e refletirem sobre este aspeto pouco conhecido do passado, os alunosso estimulados a pensarem nas possibilidades que temos, atualmente, de criar um mundopacfico. No entanto, o professor dever ter presente que todos os projetos tm as suaslimitaes. um desafio motivar os alunos a debaterem temas como a histria e a paz.No entanto, atravs do dilogo e de uma atmosfera de participao ativa, conseguimosrapidamente encontrar assuntos com os que os jovens se identifiquem. Os temas que osalunos consideram interessantes nem sempre correspondem aos temas que o professor

    tem em mente. Um simples levantamento sobre os temas em que os alunos pensam epelos quais se interessam pode fornecer muita informao sobre a opinio dos jovensrelativamente a um futuro pacfico.

    Depois da legitimao do projeto ter sido identificada, aAbordagem Pedaggicair de-

    Obje

    tivos

    deati

    tudes

    Ob

    je

    tiv

    os

    d

    eaquisi

    odeco

    nhec

    iment

    oe

    competncias

    Ab

    orda

    gem

    peda

    ggic

    a

    Anli

    se

    Ato

    Cuidar

    uns

    domund

    o

    Legitima

    oEducao

    Termoschave

    Valores

    Persp

    etiva

    dosou

    tros

    e

    EDUCAOPARAAPAZEOPATRIMNIO: PORONDECOMEAR?

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    40/172

    38

    terminar o planeamento e os mtodos do projeto de ensino. Nesta fase, a equipa da escola

    ser confrontada com muitas questes. Estas questes obrigam-nos a pensar nos Termos

    Chave e nos Valores subjacentes ao projeto de ensino.

    Em que disciplinas que queremos integrar o projeto? Ser que o projeto pode ser inte-

    grado num projeto escolar global? Que ONGs lidam com estes temas especficos e ser

    que as suas abordagens vo de encontro s polticas pedaggicas da nossa escola? Que

    objetivos que queremos alcanar? Que conceitos chave que queremos desenvolver?

    Existem outros projetos na nossa escola que abordem os mesmos conceitos chave? O tema

    de preservao do patrimnio suscita debates sobre valores. Como que lidamos com

    estes valores na escola ou na sala de aula, tanto implcita como explicitamente? Existemdiferenas interculturais relativamente perceo destes valores?

    Acima de tudo, importante apresentar uma Perspetivapositiva que respeite os difer-

    entes valores que podero ser atribudos preservao de stios de patrimnio.

    Conforme mencionado, a educao para a paz comea com perguntas: perguntas para os

    alunos, para os professores e para a escola. Apesar dos pontos centrais (a legitimao) dos

    diversos tipos de educao para a paz poderem variar, quanto mais nos aproximamos daessncia do processo pedaggico, mais facilmente vemos as ligaes a outros temas. As

    fronteiras entre os diferentes tipos de educao para a paz e o patrimnio vo-se desvane-

    cendo, e surgem cada vez mais pontos comuns. Alguns dos objetivos de conhecimentos e

    de competncias identificados tambm so abordados em outras reas da educao.

    Diagrama 2

    B

    ullyin

    g

    Lida

    rcomc

    onflit

    os

    Poder

    eautocon

    scincia

    Tole

    rncia

    Uma

    escola

    segura

    ,habit

    vele

    participativa Co

    nflit

    oin

    te

    rnacional

    (exemplo

    UCH

    )

    Lid

    arco

    mconflitos

    anvelmacro

    Podere

    auto

    consci

    ncia

    ,

    com

    preender

    e

    partilh

    ar

    op

    atrim

    nio

    Tolerncia

    Comp

    reensomtu

    a

    Cuidar

    uns

    domund

    o

    dosou

    tros

    e

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    41/172

    39

    Recomendamos que no se esquea da legitimao escolhida, mas que tambm tenha emateno as congruncias e a forma como os conceitos chave se refletem no programa esco-

    lar. No que diz respeito a este aspeto, tambm podemos ter em considerao o programaescondido da escola, um termo que faz aluso aos valores, aos hbitos, s opinies e sideologias presentes na escola, e que tm um impacto nos alunos.

    Desta forma, os professores conseguiro estabelecer, de forma bem-sucedida, polticassobre a educao para a paz e o patrimnio no seio da escola. Assim, a educao para apaz e o patrimnio transforma-se num enquadramento transversal ou pandisciplinar pre-sente nas diferentes disciplinas e organizaes interdisciplinares. Este programa comum

    para a paz possibilita a transformao de crianas em adultos capazes de participarem emdebates democrticos e conscientes dos desafios sociais. Isto serve no s para desenvolveros seus conhecimentos sobre histria, mas tambm para muni-los de boas capacidadespara interpretarem os problemas contemporneos e as zonas de conflito - perto de casa,ou at mesmo na escola, ou noutro local - e atribuir-lhes um contexto humano, social ehistrico.

    Paz significa amor, amizade, carinho e proteo. raroas pessoas darem-se ao trabalho de serem pacficas.

    Catarina, Portugal, 12

    Alunas do Holstebro

    Gymnasium a explo-

    rarem uma maquetede um submarino

    durante uma sesso

    educativa. A maquete

    foi construda em

    1920 por Erich Sch-

    mudde e sobreviveu

    ao bombardeamento

    de Stettin (Polnia)

    durante a Segunda

    Guerra Mundial.

    Tommy Bay/ Stran-

    dingsmuseum St

    George.

    EDUCAOPARAAPAZEOPATRIMNIO: PORONDECOMEAR?

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    42/172

    40

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    43/172

    41

    III. Pontos de avaliao para a educao para a paz atravs

    do patrimnio

    Este captulo fornece informao mais detalhada sobre como organizar um encontro com

    o patrimnio cultural subaqutico da Primeira Guerra Mundial. Esta abordagem tambm

    poder ser aplicada aos diversos navios e avies naufragados da Segunda Guerra Mundial,

    ou de outros conflitos.

    Para cada ponto, explicado o que se pretende transmitir com (1) saber e conhecimento,

    (2) empatia e compromisso e (3) reflexo e ao. As limitaes de ensino so reconhecidas,e so fornecidas diversas opes de ensino assim como pistas para cada ponto. Por uma

    questo de clareza, as trs partes so apresentadas separadamente. No entanto, na prtica

    nunca so rigidamente separadas.

    A educao para a memria significa desenvolver uma atitude de respeito ativo na sociedade

    atual atravs da memria coletiva do sofrimento humano que foi provocado por comporta-

    mentos humanos como a guerra, a intolerncia ou a explorao, e que no pode ser esquecido.

    A educao para a memria, conforme descrita pelo Comit Especial da Educao para a

    Memria, encomendado pelo Departamento de Educao Flamengo.

    O Comit Especial da Educao para a Memria desenvolveu Pedras de Toque para a

    Educao para a Memria, uma diretriz sobre atividades de ensino relacionadas com

    as ambas as Guerras Mundiais e com outros conflitos mais recentes. Este documentoinspirou o governo da Flandres Ocidental a no s concretizar as pedras de toque, mas

    tambm a unir todas as iniciativas relacionadas com a Primeira Guerra Mundial com uma

    rede da provncia chamada Guerra e Paz nos Campos da Flandres. A Flandres Ociden-

    tal a provncia mais a oeste da Regio Flamenga, localizada no centro da antiga frente

    Cemitrio Tyne Cot Westtoer

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    44/172

    42

    ocidental na Flandres, na Blgica.Esta rede apoiada por parceiros

    na regio dos Campos da Flan-dres, com museus, associaes,comits locais e outros. No pe-rodo que antecede o Centenrioda Primeira Guerra Mundial,a rede est a centrar-se no temaAprender com a Guerra. im-portante ajustar a histria da

    Guerra a uma memria justifica-da e a uma mensagem de paz. Ospontos de avaliao apresentados

    neste manual so, entre outros aspetos, inspirados nas iniciativas mencionadas.

    Para obter mais informao, consulte: http://www.herinneringseducatie.be/toetssteen/

    War Balloon, navio a vapor (de carga) Nicolas Job

    Saber e conhecimento

    Conhecimento sobre o contexto histrico do patrimnio cultural

    subaqutico

    Abordagem pedaggica

    O conhecimento indispensvel para a educao para a paz atravs do patrimnio. Defacto, a educao para a paz pretende ajudar os alunos a adquirirem conhecimentos sobreum contexto histrico especfico; ou seja, um contexto com determinantes econmicas,polticas, sociais e culturais, e em que possvel identificar diversos processos, mecanis-mos e estratgias. Tambm pretende fornecer informao sobre o patrimnio resultantede uma poca especfica e a sua importncia.

    ap

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    45/172

    43

    Limitaes de ensino

    A informao sobre o passado nem sempre est historicamente correta ou disponvel natotalidade.1Alis, as histrias contadas pelas pessoas, ou pelos livros, so frequentementetendenciosas. Consequentemente, importante ter em ateno a fiabilidade das fontes.Saber qual a fonte, onde e porque que a informao foi registada.

    A lngua tambm pode ser enganadora: tenha o cuidado de utilizar a expresso certa nostio certo! A Alemanha e Inglaterra no participaram nas batalhas da Primeira GuerraMundial. As partes envolvidas foram o Imprio Alemo e o Imprio Britnico (incluindo

    as ex-colnias da frica e da sia).

    Existem vrios problemas associados ao processo de atualizao da histria. No entanto,isto no quer dizer que os projetos de histria devem evitar a questo da relevncia atual.Provavelmente a mensagem mais importante de qualquer projeto de histria que ahistria no fornece respostas inequvocas e prontas. Neste aspeto, sem dvida que no

    nos podemos esquecer do papel da propaganda e da informao tendenciosa. Muitas dasvezes, a histria escrita pelos vencedores. Neste contexto, o contributo da arqueologia

    subaqutica pode ser decisivo, e pode ilustrar esta distoro das fontes de factos.

    Pista de ensino

    OLusitania

    O naufrgio do RMS Lusitaniafoi um dos piores desastres no mar, e provavelmente odesastre com maior influncia histrica da Primeira Guerra Mundial, e frequentemente

    citado como o segundo navio naufragado mais conhecido, a seguir aoTitanic

    . OLusita-

    niaera um navio transatlntico britnico que, por breves momentos, foi o maior naviodo mundo. Com o rebentar da guerra em 1914, foi utilizado como navio armado, masrevelou-se inadequado e foi autorizado a retomar a funo de transporte de passageiros

    desde que transportasse tambm carga para o governo.

    O Imprio Alemo tinha declarado os mares volta do Reino Unido, que na altura aindainclua a Irlanda, uma zona de guerra sem restries, e os passageiros nos EUA foram avi-sados para no viajarem no Lusitania. A embaixada alem em Washington at distribuiu

    um aviso alertando os passageiros para o facto de o navio atravessar uma zona de guerra.

    1 Para obter um exemplo mais detalhado, consulte o Anexo II (Patrimnio Cultural Subaqutico da PrimeiraGuerra Mundial) O patrimnio ameaado da Jutlndia um projeto sobre submarinos de Innes McCartney.

    le

    de

    PONTOSDEAVALIAOPARAAEDUCAOPARAAPAZATRAVSDOPATRIMNIO

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    46/172

    44

    Na tarde de 7 maio de 1914, o Lusitania foi atingido por torpedos disparados por um

    U-boat alemo a 11 milhas da costa sul da Irlanda, e afundou-se levando consigo 1.198

    vidas. A perda de 128 cidados dos EUA que iam a bordo, foi uma das principais razesque precipitou a declarao de guerra por parte dos EUA ao Imprio Alemo, em 1917.

    Sugesto de exerccio para os alunos

    O naufrgio do Lusitaniaprovocou a morte de civis, incluindo famlias e crianas que

    nada tinham a ver com a guerra ou as suas estratgias.

    Descreva a ltima viagem do Lusitania, a situao da poca e o aviso recebido.Foi correto transportar munies num navio de passageiros e permitir que o navio

    prosseguisse viagem apesar do aviso expresso?

    Qual era a situao dos passageiros?

    Compare esta situao com os dois incidentes posteriores do Baralong.

    Compare esta situao com as situaes de conflitos atuais e as nossas respostas aos

    mesmos.

    Pista de ensino

    O patrimnio cultural subaqutico proporciona a oportunidade de envolver os alunos

    num exerccio de crtica histrica.

    A descrio de um navio naufragado e do tipo de vida da sua tripulao, nem sempre ser

    o reflexo puro e inalterado de uma poca histrica, mas sim de um ambiente e circuns-

    tncias especficas. Existem diversos fatores externos antes, durante, e depois do naufrgio

    que podem sujeitar a compreenso do navio e da sua histria a vrias alteraes. Conse-

    quentemente, as concluses sobre eventos histricos tiradas com base em stios arqueo-

    lgicos subaquticos, ou nas nossas interpretaes do passado, resultantes da anlise de

    navios naufragados devero, tal como qualquer testemunho de um evento, ser abordadas

    com cuidado.2

    Por exemplo, possvel que alguns dos bens tenham sido atirados borda fora para tentar

    reduzir o peso e melhorar a estabilidade do navio dada a hiptese de um naufrgio ca-

    tastrfico. Estes objetos podero nem sequer estar nas imediaes do navio naufragado.

    Noutros casos, como o do Lusitania, os navios foram deliberadamente alterados aps o

    naufrgio.

    2 Martin Gibbs, 2006, Cultural Site Formation Progress in Maritime Archaeology: Disaster Response,

    Salvage and Muckelroy 30 Years On, Te International Journal of Nautical Archaeology.

    de

    PATRIMNIOPARAAPAZEARECONCILIAO | MANUALPARAPROFESSORES

  • 7/25/2019 Patrimnio para Paz Reconcialicao - Manual.prof

    47/172

    45

    O naufrgio em si frequentemente uma experincia invulgarmente angustiante, em

    que as pessoas no procedem de forma racional. Os estudos mostram que so poucos os

    marinheiros que so capazes de reagir de forma rpida e eficiente a este tipo de desastres.As decises que so tomadas nestas alturas nem sempre so racionais e podem influenciar

    a situao e o ambiente em que o navio naufragado acaba por ser encontrado. Aps o

    acidente, tambm podero ocorrer fenmenos naturais como mars e tempestades que

    possivelmente tero um impacto negativo na preservao do navio naufragado.

    Alm disso, os testemunhos dos sobreviventes so frequente e extraordinariamente in-

    fluenciados pelo carter traumatizante da experincia que tiveram. O contar da histria da

    catstrofe pode adquirirmuitas formas. Por vezes,

    tem apenas um objetivo

    teraputico, outras vezes

    pode servir para expli-

    car as decises tomadas,

    ou ser at uma chamada

    de ateno. Desta for-

    ma, a narrativa poder

    at adquirir propores

    mticas. Por exemplo, a

    maioria dos mitos sobre

    o Titanicparece persistir

    na memria das pessoas

    de forma particularmen-

    te insistente.

    Refletir sobre a recriao

    dos factos de um evento

    um exerccio interes-

    sante para a sala de aula,

    que mostra como a nos-

    sa perspetiva do passado

    pode ser perturbada por

    diversos incidentes e

    coincidncias. Pode ser

    adquirida muita infor-

    mao atravs das agn-

    cias locais ou nacionais

    de patrimnio.

    RMS Titanic, fotografado em junho de 200