Paul Tillich e a Busca Pelo Jesus Histórico

download Paul Tillich e a Busca Pelo Jesus Histórico

of 26

description

Um resumo da visão de Paul Tillich a cerca do Jesus Histórico, numa abordagem que fortalecerá a sua fé em Cristo.

Transcript of Paul Tillich e a Busca Pelo Jesus Histórico

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histricoJlio Fontana

    ResumoEsse artigo visa mostrar como Paul Tillich, reconhecido telogo sistem-tico, encarou a busca pelo Jesus histrico. Atualmente, esse tema tem sido objeto de inmeros documentrios, matrias em revistas especializadas e de conhecimento geral, debates etc. Na verdade, o Jesus histrico o fomentador de um mercado que rende milhes todos os anos. Mas nem sempre foi assim. A poca de Tillich conhecida como No-Quest [Sem Busca], ou seja, ao Jesus histrico no era dada tanta importncia como para o Cristo da f. Nosso telogo seguiu essa linha com grande convico e, possivelmente, ainda hoje manteria tal atitude ctica quanto pesquisa.Palavras-Chave: Teologia Bblica Jesus Histrico Histria da Pes-quisa Paul Tillich

    AbstRActThis article seeks to demonstrate how Paul Tillich, recognized systematic theologian, dealt with the quest for the historical Jesus. This theme has been the object of innumerous documentaries, texts in specialized and general publications, debates, etc. In truth, the historical Jesus is the fo-menter of a market that generates millions of dollars each year. Still, it has not always been this way. The era of Tillich is known as No-Quest, or, in other words, the historical Jesus was not given as much attention as the Christ of faith. The theologian currently under discussion followed this line of thinking with great conviction, and, possibly, would continue today with the same skeptic attitude regarding this research.Key-words: Biblical theology, historical Jesus, history of research, Paul Tillich.

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 127

    primeira vista o ttulo gera um certo desconforto, pois aque-les que esto acostumados com o pensamento de Paul Tillich jamais atentaram para sua teologia bblica. [1] Mas, essa falta de ateno justificvel. Tillich no um telogo bblico, e sim sistemtico, segundo Battista Mondin, o mais sistemtico do sculo XX. [2]

    Esse artigo visa mostrar um pouco da teologia bblica de Paul Tillich no que se refere a pesquisa acerca do Jesus histrico [3] . To-dos os telogos do sculo XX, de uma forma ou de outra, tiveram que abordar esse assunto, mesmo aqueles, como o caso de Tillich que no estavam muito eufricos com tal pesquisa. [4]

    O Jesus histrico uma questo que sempre permanece atual. Em concreto, nos ltimos anos o assunto ganhou mais atualidade com o aparecimento de numerosos livros que tomaram Jesus como tema. [5] A partir de ento chegou-se a um estgio em que Jesus foi trans-formado em assunto da moda. O que aqui impulsiona a pena j no mais a informao, mas sim, a sensao. Suposies no confirmadas, suspeitas e reportagens jogadas na imprensa so transformadas numa xaropada confusa e divulgadas aos quatro ventos, como se fossem as ltimas novidades sobre Jesus. [6]

    Tillich no nos fala muito sobre o tema, e nos seus trabalhos, quando discute o assunto, sempre o faz de forma breve e passageira. Portanto, ele no elabora argumentos exaustivos a fim de defender sua posio. Senti que o meu trabalho aqui no s expor o pensamento tillichiano quanto a pesquisa acerca do Jesus histrico, mas tambm compilar o que ele disse sobre o assunto, complementar com material as lacunas que ele deixara e apresentar um todo coerente que represente a sua posio.

    1- A importncia da teologia bblicaSegundo Tillich, a principal, mas no nica, fonte da teologia

    sistemtica a Bblia. [7] Destarte, a tarefa da teologia bblica abrir a Bblia como a fonte bsica da teologia sistemtica. [8] A teologia sistemtica necessita de uma teologia bblica que seja histrico-crtica sem quaisquer restries, mas que seja, ao mesmo tempo, interpretativo-existencial, levando em conta o fato de que ela trata de assuntos de preocupao ltima. Uma pergunta suscitada: possvel satisfazer

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana128

    tal exigncia? Tillich diz que sim. Para ele aquilo que nos preocupa de forma ltima no est vinculado a nenhuma concluso especfica da pesquisa histrica e filosfica. Uma teologia que depende de resul-tados predeterminados da investigao histrica est atrelada a algo condicional que reivindica ser incondicional, isto , algo demonaco. E o carter demonaco de qualquer exigncia que impe ao historia-dor resultados definidos torna-se visvel no fato de que destri sua integridade cientfica. Estar ultimamente preocupado com aquilo que realmente ltimo liberta o telogo de toda desonestidade sagrada e o sensibiliza tanto para a crtica histrica conservadora quanto para a revolucionria. Unicamente esse trabalho histrico livre, unido atitude de preocupao ltima, pode fazer da Bblia a fonte fundamental do telogo sistemtico. [9]

    Portanto, o telogo bblico no contempla os textos de forma isenta. Ele, na medida em que telogo (o que inclui um ponto de vista sistemtico), no nos apresenta fatos puros. Ele nos oferece fatos teologicamente interpretados. Sua exegese pneumtica (Espiritual) ou, como a chamaramos hoje, existencial. Fala dos resultados de sua interpretao filosfica, distanciada, como questes de sua preocupao ltima. Ele une filosofia e devoo ao lidar com os textos bblicos. [10] Mesmo sendo uma exegese existencial, para Tillich, a teologia bblica possui critrios cientficos objetivos. [11]

    A teologia bblica, segundo o meu ponto de vista, a seo mais cientfica da teologia. Isso no se deve somente verificabilidade em-prica [12] das suas teorias como ressalta Tillich, e sim, pela sua grande capacidade de autocrtica. Essa capacidade a principal caracterstica que lhe garante cientificidade, conforme definio popperiana. Tilli-ch diz que caracterstico do mtodo utilizado pela teologia bblica submeter-se a uma autocrtica permanente para libertar-se de todo preconceito consciente ou inconsciente. Isto nunca plenamente bem sucedido, mas uma arma poderosa e necessria para a aquisio do conhecimento histrico. [13]

    Interessante citar agora um trecho do primeiro captulo do livro Jesus de Nazar de G. Bornkamm:

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 129

    Sem o processo da crtica e da contracrtica no se consegue, nesse campo, reconhecer a verdade histrica; eis que tal processo nos ensi-na a examinar com mais agudeza, a encontrar melhores provas, a no persistir s na tradio, embora tambm no se deva sucumbir a uma crtica desenfreada. Desde que a pesquisa aprendeu a estudar a histria com liberdade, sem jamais se contentar com os dogmas e a doutrina da Igreja, estas interrogaes tornaram-se sua tarefa habitual. A f autntica no depende dos avanos dela. [14]

    A concepo de cincia de Karl Popper considera a abordagem crtica sua caracterstica mais importante. [15] Para avaliar uma teoria o cientista deve indagar se pode ser criticada se se expe crticas de todos os tipos e, em caso afirmativo, se resiste a essas crticas. Sendo a abordagem crtica a principal caracterstica que institui a cientifici-dade, a teologia bblica est apta para tal. No s isso. Complemen-tarmente, Popper props como critrio demarcador a refutabilidade do sistema terico. De acordo com essa concepo um sistema s deve ser considerado cientfico se faz afirmativas que podem chocar-se com observaes; de fato, as teorias so testadas pelas tentativas de provocar esses choques isto , pelos esforos para refut-las. Portanto, testabi-lidade vem a ser o mesmo que refutabilidade, e pode ser adotada como critrio de demarcao. [16] Sendo assim, o que Tillich observou na teologia bblica como capacidade de verificabilidade de suas teorias, na verdade, a capacidade que possuem suas teorias de serem falseadas. As teorias da teologia bblica so falseveis, ou seja, se submetem ao crivo da crtica. [17]

    Como Tillich observou, o telogo bblico no elabora suas teorias de forma imparcial. Ele sempre est de alguma forma envolvido, seja negativa ou positivamente, com o seu objeto. E isso acontece em todas as cincias, sejam elas naturais ou humanas.

    Gunnar Myrdal disse que uma cincia social desinteressada nun-ca existiu e, por razes lgicas, no pode nunca existir. [18] Nietzsche observou que quase todo o pensamento consciente num filsofo di-rigido secretamente pelos seus instintos e forado a seguir determinado caminho. [19] Rubem Alves chama a ateno para o fato de ser iluso pensarmos que o conhecimento cientfico, por oposio ao conhecimen-

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana130

    to do senso comum, objetivo, enquanto este ltimo distorcido por emoes. Quer o queiramos, quer no, as valoraes esto presentes tanto no pensamento cientfico quanto no senso comum. [20]

    A nica forma pela qual podemos nos esforar pela objetividade na anlise terica, diz nos Myrdal, pelo processo de expor as valoraes luz, tornando-as conscientes e explcitas, permitindo assim que elas determinem a investigao terica. [21]

    Essa objetividade do telogo bblico exemplificada por Tillich no trato que estes concedem quando procedem ao exame dos relatos dos milagres do Novo Testamento. O mtodo histrico examina os relatos de milagres sem o pressuposto de que tenham acontecido por serem atribudos quele que chamado o Cristo, e sem o pressuposto de que eles no tenham acontecido por contradizerem as leis da natureza. Em cada caso particular, o mtodo histrico pergunta at que ponto so fidedignos os relatos, em que medida dependem de fontes mais antigas, como poderiam ter sido influenciados pela credulidade de uma poca, se so confirmados por outras fontes independentes, em que estilo fo-ram escritos e com que propsito foram utilizados no contexto todo. [22] Segundo Tillich, todas essas questes podem ser respondidas de forma objetiva sem serem condicionadas por preconceitos positivos ou negativos. [23]

    Outro ponto que Tillich levanta que coloca a teologia bblica em conformidade com os requisitos exigidos para a cientificidade de uma disciplina o fato de que a teologia bblica jamais afirma ter chegado verdade absoluta. Segundo Tillich, o historiador nunca pode chegar a uma certeza absoluta, mas pode chegar a um alto grau de probabilida-de. [24] Popper diz que nosso objetivo, na busca de conhecimento, o de chegar mais e mais perto da verdade; podemos estar em condies de perceber que realizamos algum progresso, embora nunca saibamos que o alvo tenha sido alcanado. [25]

    Compreendida a importncia que possui a teologia bblica vejamos o que Tillich acha do mtodo histrico-crtico, utilizado pelos estudiosos do Jesus histrico.

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 131

    2- o mtodo histrico-crticoEsse mtodo de interpretao bblica chama-se histrico-crtico

    porque adota as tcnicas da crtica histrica e da literria. Reconhece que, embora seja a Palavra de Deus escrita e inspirada [26] , a Bblia um registro antigo, composto por muitos autores humanos durante um longo perodo de tempo. Como tal, tem de ser lida, estudada e anali-sada como outros registros antigos da histria humana. Como a Bblia narra acontecimentos que afetaram a vida dos judeus antigos e dos cristos primitivos, seus diversos relatos tm de ser lidos, comparados e analisados nas lnguas originais, contra os panos de fundo humano e histrico apropriados e nos contextos contemporneos. Com efeito, esse mtodo aplica Bblia todas as tcnicas crticas da filologia clssica e, ao faz-lo, recusa-se, a priori, a excluir qualquer anlise crtica em sua busca do sentido do texto sagrado e inspirado. Chama-se um mtodo crtico no porque critica a Bblia ou busca evocar o ceticismo sobre o registro histrico do texto antigo, mas porque compara e analisa seus detalhes, no esforo de chegar a um julgamento histrico e literrio sobre ele. [27]

    Joseph A. Fitzmyer relatou que o mtodo histrico-crtico de inter-pretao bblica tem sido o modo predominante nos ltimos sculos, usa-do por intrpretes da Bblia catlicos, judeus e protestantes. [28] nio Mueller da mesma opinio: Atualmente, o mtodo histrico-crtico impera nos estudos bblicos em nvel mais especializado, praticamente em todas as latitudes onde o cristianismo se faz presente. [29]

    As razes do mtodo histrico-crtico esto fincadas na Escola de Alexandria de interpretao nos ltimos tempos helensticos, em especial sob os Ptolomeus, que fundaram a biblioteca de Alexandria e atraram gramticos, retricos e filsofos ao Museion. Fitzmyer comenta que,

    embora hoje parea um tanto primitivo, o mtodo ento usado constituiu um esforo crtico para determinar a forma correta de textos antigos, o significado filolgico das epopias homricas e de outras obras de literatura grega, e o sentido literal dos livros venerveis de gregos e brbaros. [30]

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana132

    Os telogos cristos que se utilizaram do mtodo para interpreta-rem as Escrituras foram Orgenes, Agostinho e Jernimo. [31]

    Mesmo tendo suas razes na Antiguidade, o mtodo histrico-crtico predominou como mtodo interpretativo a partir da Renascena. Nessa poca, houve uma forte nfase em recursus ad fontes, ou seja, volta s fontes, que envolvia o estudo do grego clssico, as lnguas semticas e os escritos dos autores antigos cujas obras tinham sido menosprezadas na Baixa Idade Mdia. Ento, a busca do sentido literal da Escritura foi empreendida de maneira renovada com todas as tcnicas desenvolvidas nessa poca. [32]

    Nos sculos XVII e XVIII, o mtodo histrico-crtico desenvolveu-se mais, pelo esforo do jurista e telogo holands Hugo Grotius, do oratoriano e biblista francs Richard Simon e do filsofo holands Baruch Spinoza portanto pela obra de um protestante, um catlico e um judeu. [33]

    Um impulso maior foi dado a esse mtodo de interpretao bblica por ocasio do Iluminismo e pelo movimento do historicismo alemo no sculo XIX. Tambm contriburam para o desenvolvimento do m-todo as grandes descobertas e fatos da histria antiga que vieram luz de uma forma que era desconhecida nos sculos anteriores, mesmo na poca da Renascena e da Reforma.

    Um dos praticantes mais renomados do mtodo histrico-crtico Adolf von Harnack (1851-1930). Em seus estudos sobre o cristianismo, parte da convico de que o mtodo histrico-crtico, aprimorado pela cincia no sculo XIX, um instrumento perfeitamente idneo, at indispensvel, para a interpretao da revelao. Harnack considera que no pode haver outra interpretao sria da Sagrada Escritura e da tradio fora da interpretao cientfica.

    Um dos principais elementos causadores do surgimento desse mtodo, como Harnack salientou acima, foi a pretenso de tornar os estudos bblicos cientficos, ou seja, faz-los compatveis com o modelo cientfico acadmico.

    Tillich chama nossa ateno para o fato de que desde que se aplicou literatura bblica o mtodo cientfico de pesquisa histrica, certos problemas teolgicos que jamais haviam sido completamente esquecidos ganharam uma intensidade desconhecida nos perodos

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 133

    anteriores da histria da igreja. O mtodo histrico une elementos analtico-crticos e construtivo-conjecturais. A discusso desses ele-mentos fundamental.

    O elemento analtico-crtico, na verdade, chamou muito mais aten-o do que o elemento construtivo-conjectural. Isso em razo da consci-ncia do cristo comum, moldada pela doutrina ortodoxa da inspirao verbal, ter sentido somente o elemento negativo do termo crtica, e todo este empreendimento foi chamado de crtica histrica ou alta crtica. Submeter suas fontes a uma rigorosa crtica inevitvel para a pesquisa histrica. Ele separa aquilo que mais provvel daquilo que menos ou totalmente improvvel. Ningum duvida da validez desse mtodo, j que continuamente confirmado por seu sucesso; e ningum protesta seriamente se ele destri belas lendas e preconceitos profundamente enraizados. Mas a pesquisa bblica gerou suspeitas desde o comeo. Ela parecia criticar no s as fontes histricas, mas tambm a revelao contida nessas fontes. Pesquisa histrica e rejeio da autoridade bblica foram consideradas idnticas. Supunha-se que a revelao abarcasse no s o contedo revelatrio, mas tambm a forma histrica em que ele apareceu. Isto parecia valer especialmente para os fatos referentes ao Jesus histrico. Como a revelao bblica essen-cialmente histrica, parecia impossvel separar o contedo revelatrio dos relatos histricos tal como so apresentados nos textos bblicos. A crtica histrica parecia minar a prpria f. [34]

    Mas a parte crtica da pesquisa histrica sobre a literatura bblica a parte menos importante. Mais importante a parte construtivo-conjectural, que constitua a fora motriz de todo este empreendimento. Buscaram-se os fatos subjacentes aos registros bblicos, especialmente os fatos que faziam referncia a Jesus. Havia um desejo urgente de descobrir a realidade desse ser humano, Jesus de Nazar, por trs das tradies que coloriam e, ao mesmo tempo, encobriam essa realidade, e que so to antigas quanto ela prpria. Assim se iniciou a pesquisa sobre o chamado Jesus histrico.

    3- A histria da pesquisa sobre o Jesus histricoOcorreu uma coisa curiosa com a pesquisa da vida de Jesus. Ela

    partiu em busca do Jesus histrico, imaginando que depois poderia

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana134

    traz-lo para a nossa poca como mestre e salvador. Desvencilhou-se dos laos que desde sculos mantinham-na acorrentada ao rochedo da doutrina eclesistica e exultou quando voltou a perceber vida e movi-mento em sua figura, quando viu o homem histrico Jesus caminhando ao seu encontro. Mas ele no se deteve, passou largo da nossa poca e retornou para sua. Isto constituiu motivo de estranheza e de espanto para a teologia das ltimas dcadas: que apesar de todas as tentativas de interpretao forada, ela no conseguiu prend-lo em nosso tempo, e teve que deix-lo partir. Ele retornou ao seu tempo com a mesma necessidade com que o pndulo retorna sua posio original depois de libertado. [35]

    Com estas palavras que se tornaram clssicas, Schweitzer descre-veu em 1913 o esforo das assim chamadas pesquisas sobre a vida de Jesus, que haviam empolgado o sculo XIX. Esta descrio tambm a declarao de seu fracasso. As pesquisas sobre Jesus haviam partido de pressupostos falsos.

    Tillich diz que os motivos dessa pesquisa eram concomitantemente religiosos e cientficos. Em muitos aspectos essa tentativa era corajosa, nobre e extremamente significativa. Suas conseqncias teolgicas foram inmeras e bastante importantes. Mas, se pensarmos em sua inteno bsica, a tentativa da crtica histrica de encontrar a verdade emprica sobre Jesus de Nazar foi um fracasso. O Jesus histrico, isto , o Jesus que est por trs dos smbolos de sua recepo como o Cristo, no s no apareceu, mas tambm se distanciou cada vez mais medida que a avanava a crtica histrica. [36]

    A pesquisa sobre o Jesus histrico se iniciou com os trabalhos de H. S. Reimarus (1694-1768). Reimarus era professor de lnguas orien-tais de Hamburgo e foi durante a vida um pioneiro literrio da religio da razo proposta pelo desmo ingls. No entanto, ele tornou acess-vel apenas a amigos prximos o fundamento histrico-crtico de suas idias, Apologia ou escrito de defesa para os adoradores racionais de Deus. Foi o poeta, filsofo e telogo G. E. Lessing que publicou a obra de Reimarus aps a morte deste. [37] Segundo as palavras de Tillich, Lessing suscitou uma das maiores tempestades na histria da teologia protestante, quando na qualidade de bibliotecrio de uma pequena cidade alem, editou uma obra escrita pelo historiador Reimarus. [38]

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 135

    Conforme vimos, Reimarus iniciou a moderna pesquisa a respeito do Jesus histrico. Apesar das reaes da ortodoxia, aps Reimarus nenhum telogo poderia, da para frente, examinar os documentos da histria de Jesus ignorando as questes levantadas por Reimarus sobre a confiabilidade dos evangelhos sinticos.

    Segundo Raymond Brown, Reimarus foi o primeiro a desenvolver uma imagem de Jesus distinta da do Cristo descrita nos evangelhos. No caso do primeiro, trata-se de um judeu revolucionrio que tentou malogradamente estabelecer um reino messinico sobre a Terra, en-quanto no caso do segundo, tratava-se de uma projeo fictcia posterior daqueles que roubaram seu corpo e reivindicavam que ele ressuscitara dos mortos. [39]

    Aps Reimarus vieram outros nomes no menos importantes, como os de F. C. Baur (1792-1869), David Friedrich Strauss (1808-1874), , Ernest Renan (1823-1892), H. H. Holtzmann (1832-1910) e Johannes von Weiss (1863-1914). Tillich fala muito pouco sobre eles, entretanto, examinaremos mais profundamente a contribuio deles para o desen-volvimento da pesquisa acerca do Jesus histrico. [40]

    Baur era discpulo de Hegel e desenvolveu as idias deste. Foi ele tambm quem fundou a escola de Tbingen, destinada especialmente pesquisa

    sobre o Novo Testamento. Procurou aplicar os conceitos hegelianos de tese, anttese e sntese ao desenvolvimento do cristianismo primitivo. A tese representava as primeiras comunidades judeu-crists; a anttese, a linha de pensamento pago, cristo e paulino (acentuava bastante a luta entre Pedro e Paulo sobre a circunciso, com o triunfo de Paulo e a conseqente conquista do mundo pago pelo cristianismo); e a sntese,

    diante dos tipos paulino e petrino de cristianismo, era o pensamento paulino. [41] Nesse ponto Baur colocava-se bem na tradio da filosofia

    clssica alem.

    Comenta Tillich que a interpretao que Baur fez do cristianismo era muito importante e influente, no importando o grau de correo que sua teoria possa ter alcanado do ponto de vista histrico. Em face do ponto de vista ortodoxo que aceitava a inspirao verbal da Bblia, Baur demonstrou como esses escritos bblicos haviam sido criados de

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana136

    maneira histrica. A idia de um desenvolvimento processado na igreja, responsvel pela produo das Escrituras, mudava a relao dos cristos com a Bblia. [42]

    Strauss foi aluno de F. C. Baur. Publicou em 1835 sua Vida de Jesus que provocou uma avalanche de tentativas de refutao e rendeu a seu autor proscrio social por toda a vida. Segundo Tillich, Strauss demonstrou que os autores dos evangelhos no eram os tradicionalmen-te conhecidos como tais. Alm disso, tentou mostrar que as histrias do nascimento e da ressurreio de Jesus eram smbolos destinados a expressar a identidade eterna dos elementos essenciais em Jesus e Deus. Suas descobertas produziram tremendo choque. Por muitas d-cadas, os estudiosos tentaram refutar a Vida de Jesus e, naturalmente, conseguiram encontrar idias invlidas luz de novas pesquisas. Mas o problema levantado por Strauss permaneceu perante a vida da igreja at hoje. [43]

    O autor de maior sucesso de um romance sobre Jesus, se bem que no o mais inteligente, talvez tenha sido Ernest Renan. Como aluno de D. F. Strauss, e como um antigo catlico que voltou as costas sua igreja, com seu livro, que chegou oitava edio dentro de trs meses, ele introduziu no mundo latino e catlico o novo ponto de vista sobre Jesus. Sobre a massa dos leitores pode ter tido influncia sua linguagem sentimental, que no poupa descries vistosas e coloridas da paisagem martima, das aldeias e das cidades. Merece uma meno especial sua tentativa de dividir em pocas a atividade de Jesus, embora esta se estendesse por apenas 18 meses, para desta maneira esboar um desenvolvimento interior. Para Renan, no comeo se encontra o Jesu manso e meigo, que se empenha na Galilia para pr em prtica o Reino de Deus na terra. Motivado no em ltimo lugar por sua permanncia em Jerusalm, este Jesus teria evoludo para um revolucionrio, que passa a interpretar o reino de Deus apocalipticamente, e que agora est pronto a dar a vida por suas idias. Embora os crticos tenham acusado Renan de haver vendido arte crist barata da pior espcie, e de haver furtado seus personagens das vitrines das lojas de arte crist da Praa de So Sulpcio, seu livro nos impele questo do Reino de Deus na vida de Jesus e tentativa de com auxlio da idia do reino de Deus encontrarmos uma ruptura em sua atuao. [44]

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 137

    Quanto a H. J. Holtzmann ajudou a teoria das duas fontes. Do evangelho de Marcos, Holtzmann retirou o esboo da vida de Jesus, lendo nele uma evoluo biogrfica com o ponto crucial em Mc 8: na Galilia formou-se a conscincia messinica de Jesus, em Cesaria de Filipe ele se revelou aos discpulos como Messias. No quadro biogrfi-co derivado de Marcos foram inseridas as palavras autnticas de Jesus reconstrudas da Fonte do Ditos. [45]

    Johannes von Weiss concentrou-se no significado da expresso reino de Deus no ensinamento de Jesus, dando um passo importan-te ao valorizar o apocalipticismo judaico da poca e sua expectativa sobre o final dos tempos. Quando falamos em reino de Deus, estamos mencionando um conceito central da atividade de Jesus. Aqui nos encontramos diante do tema em que, provavelmente, as discusses foram mais excitantes. Elas nos levaram ao resultado positivo de que o reino de Deus em Jesus teria que ser visto como algo apocalptico e escatolgico. Por mais evidente que esta viso nos parea hoje, foi necessrio tempo para que ela ganhasse terreno.

    Importante falarmos tambm de Albert Schweitzer o qual se tornou um marco na histria da pesquisa do Jesus histrico com seu livro A Busca do Jesus Histrico o qual j citamos aqui. Sobre ele Tillich diz:

    A histria de todas as tentativas de escrever uma vida de Jesus, elabo-rada por Albert Schweitzer em sua obra do seu perodo inicial, The Quest of the Historical Jesus, ainda vlida. Sua prpria tentativa construtiva, contudo, foi corrigida. Eruditos, tanto conservadores quanto radicais, mostram-se agora mais cautelosos, mas a situao metodolgica no mudou. [46]

    Schweitzer desenvolveu a teoria da escatologia coerente. A compre-enso do carter escatolgico do reino de Deus parece ter-se constitudo num trao familiar da vida de Jesus. Para ele a escatologia passa a ser no apenas a base do esboo biogrfico da atuao de Jesus, mas com sua ajuda ele consegue tambm distinguir dois perodos. A ruptura constituda pelo envio dos discpulos. Jesus, que se considera o Mes-sias e que esperava ser estabelecido como o Filho do Homem, estaria

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana138

    imbudo de uma intensa expectativa da proximidade do reino de Deus. O segredo do reino de Deus, de que fala Mc 4.11, estaria relacionado com esta expectativa. A rejeio em Nazar o teria motivado a enviar os discpulos. A seqncia das percopes em Mc 6.1-13 aqui, como tambm em outras passagens, considerada por Schweitzer como sendo rigorosamente histrica. Quando Jesus enviou seus discpulos misso em Israel, estava convencido de que eles no retornariam mais para ele aqui na Terra. Desta maneira adquire importncia central a passagem de Mt 10.23:

    Quando forem perseguidos num lugar, fujam para outro. Eu lhes garanto que vocs no tero percorrido todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.

    Esta profecia, que Schweitzer entende no sentido de um prazo determinado, no se realizou. Os discpulos retornaram a Jesus, e o aparecimento do Filho do Homem no se cumprira. Mas o segundo perodo, que se iniciava com uma decepo, no viu Jesus desistindo de sua obra, mas sim com mais disposio e com maior prontido para marchar rumo a Jerusalm a fim de l morrer. [47] Ele teria chegado concluso de que sua morte era necessria para a vinda definitiva do reino de Deus. Desta maneira, o problema da chamada protelao da parusia, para Schweitzer, teria sido responsvel por tudo quanto veio a ocorrer em seguida.

    Antes de falarmos da nova fase da busca pelo Jesus histrico, acho importante refletirmos um pouco sobre a importncia de Adolf von Harnack para essa pesquisa. Apesar de no escrever uma Vida de Jesus, Harnack importante para o exame que estamos empreendendo.

    Segundo Tillich, Harnack (1851-1930) o pensador mais im-portante da escola ritschliana. [48] O telogo em suas aulas dizia aos alunos que Harnack

    era uma figura impressionante; basicamente, um historiador da igreja.

    Sua obra, Histria do dogma, tornou-se clssica. Qualquer estudante de histria do pensamento cristo a reconhece. Todos os que vm de tradies conservadoras sentem, sem admiti-lo, que os dogmas caram,

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 139

    de certa forma, do cu. Se vocs lerem a Histria do Dogma de Harnack vero como os grandes credos o apostlico, o niceno e o de Calcednia foram feitos. Para que eles fossem aprovados desenrolou-se tremendo drama histrico, vieram tona intensas paixes humanas e sentiu-se a orientao divina providencial por detrs de tudo. Vocs sabem que os conclios de Nicia e Calcednia empregaram grande nmero de termos tirados da filosofia grega para formular os dogmas cristolgico e trinitrio.

    Harnack via nesse procedimento uma segunda onda de helenizao. A primeira fora o gnosticismo. A segunda, a formulao do dogma antigo. A primeira fora rejeitada pela igreja. A segunda aceita e utilizada. [49]

    Tillich avalia o pensamento de Harnack e diz que a pesquisa histrica de Harnack levantou uma srie de problemas que ainda esto sendo discutidos hoje em dia na teologia. Ainda se fala na relao entre o cristianismo e o gnosticismo. [50]

    Tillich afirma que o cristianismo rejeitou o gnosticismo por uma razo. Os gnsticos no aceitavam o Antigo Testamento. No lhes agra-dava a idia de criao nem tampouco de bondade do mundo criado. No acreditavam numa libertao do pecado etc. Para o cristianismo a liberao era da finidade e do pecado, e no da matria com a qual vivemos. Em outras palavras, o cristianismo rejeitava o dualismo do gnosticismo: um dualismo entre um Deus superior e um anti-Deus.

    Falemos agora sobre a segunda onda de helenizao. Tillich reconhece que a igreja usava conceitos do mundo helnico. [52] A mensagem crist tinha que ser proclamada por meio de categorias com-preensveis aos ouvintes. A igreja crist se empenhou destemidamente nesta tarefa. Harnack criticou essa atitude, alegando que, dessa forma, o cristianismo se intelectualizava. Mas se enganou. Tillich critica a posio de Harnack:

    Minha crtica a Harnack fere precisamente esse aspecto. Quanto mais co-nhecemos a respeito do gnosticismo e da cultura helnica, nestes ltimos cinqenta anos, mais percebemos o engano de Harnack. Ele achava que

    helenismo e intelectualizao eram a mesma coisa. Mas no eram. Nem mesmo se poderia fazer uma afirmao dessas sobre Plato, Aristteles ou

    aos esticos. As grandes filosofias se baseiam em exigncias existenciais,

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana140

    oriundas de questionamentos para os quais representam respostas salva-doras. [...] Harnack estava certo ao identificar o processo de helenizao,

    mas errado ao defini-lo como intectualizao. [53]

    Qual a importncia de Harnack para a pesquisa do Jesus histrico? A cristologia. Segundo Harnack, o uso de termos como ousia e hypos-tasis na construo dos dogmas oficiais trouxe elementos estranhos para o cristianismo. Segundo Tillich, esse processo no se originou nos conclios dos sculos quarto e quinto, pois j se manifestara entre os pais apostlicos, na gerao contempornea dos ltimos escritos bbli-cos. Sua importncia aumentou com a elaborao, pelos apologistas, do conceito do logos. [54]

    O mais importante, contudo, que Harnack julgou poder alcan-ar uma descrio razoavelmente acurada do homem emprico, Jesus de Nazar, por meio dos mtodos da cincia histrica. Para ele, seria possvel chegar a uma definio do cristianismo original deixando-se de lado todos os acrscimos das congregaes primitivas, de Paulo e de Joo.

    Como reao a esse otimismo da crtica histrica surgiu o ceticismo histrico de R. Bultmann. Ceticismo no significa, aqui, dvida de Deus, do mundo e do homem, mas dvida sobre a possibilidade de alcanar o Jesus histrico por meio de mtodos histricos. [55] Assim passamos a examinar a segunda fase da pesquisa sobre o Jesus histrico.

    Martin Khler (1835-1912) no pertence propriamente segunda fase da busca [56] , mas exerceu forte influncia em dois dos telogos mais importantes do sculo XX: Karl Barth e Rudolf Bultmann.

    A frase mais conhecida proferida por Khler, O Jesus histrico retratado pelos estudiosos modernos oculta de ns o Cristo vivo [...] o Cristo real aquele que pregado, mostra que h uma tendncia cada vez maior em se acentuar a separao do Jesus histrico do Jesus querigmtico. [57]

    Que relao existe entre o Jesus histrico e o Cristo da f? Pode-mos separ-los? Deveremos aceitar a idia de que o Cristo s pode ser alcanado pela f? Podemos reagir de alguma forma em face das dvi-das produzidas pela pesquisa histrica aplicada aos escritos bblicos? Khler achava que os dois no podiam se separar: o Jesus histrico

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 141

    o mesmo Cristo da f. A certeza a respeito do Cristo da f independe dos resultados histricos oriundos dos estudos crticos do Novo Testa-mento. A f garante o que a pesquisa histrica jamais vai nos dar. De que modo a f pode ter tanta certeza? Que, realmente, pode garantir? Esse o problema.

    Quem vai dar muita nfase soluo desse problema Bultmann (1884-1976). R. Bultmann, M. Dibelius e Karl Ludwig Schmidt foram os proponentes da Crtica da Forma. Esta nova viso est ligada descoberta das leis, das formas e dos gneros de narrativa que foram adotados no processo da gnese, formao e fixao dos evangelhos e das tradies neles includas.

    Tillich diz que Bultmann combinava a pesquisa histrica radical com certa tentativa de sistematizao. [58] Chamava-a de desmitolo-gizao. [59] Achava que deveramos libertar a mensagem bblica da linguagem mitolgica em que se expressava para que o homem moderno que no aceita a viso de mundo da Bblia possa, honestamente, aceitar a mensagem bblica. [60]

    Tillich faz uma avaliao do programa desmitologizante de Bult-mann que importante citarmos na ntegra:

    Considerando que vocs todos conhecem o que Bultmann est tentando fazer, permitam-me mostrar-lhes minha crtica bastante amena a essa obra. Sinto que na maioria dos casos, estou ao lado de Bultmann. Mas ele no conhece o significado do mito. Tampouco sabe que a linguagem religiosa

    e sempre dever ser mitolgica. At mesmo quando afirma a ao de

    Deus em Jesus, confrontando-nos com a possibilidade de decidirmos a favor ou contra a existncia autntica, ainda assim emprega linguagem simblica e mitolgica. Ele no quer admitir uma coisa dessas. Mas , de fato, o que faz. J lhe sugeri que seria melhor falar de desliteralizao do que de desmitologizao, para dizer que os smbolos no podem ser tomados como expresses literais de eventos no tempo e no espao. Essa tarefa precisa realmente ser feita porque dela depende a possibilidade da comunicao da mensagem crist aos pagos de nosso tempo, incluindo ns mesmos em virtude de pelo menos metade de nossa educao. Vi-vemos todos na fronteira entre o cristianismo e o humanismo. Nem mais somos capazes de falar de ns mesmos honestamente em termos bblicos a no ser que os desliteralizemos. [61]

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana142

    A crtica que Tillich faz perfeita. O nosso telogo tambm aborda um outro problema: a relao da teologia sistemtica e a pesquisa do Jesus histrico. Em uma de suas aulas disse aos seus alunos:

    Se vocs lerem a sua [Bultmann] History of the Synoptic Tradition, percebero o radicalismo de seu ceticismo e porque no pode chegar a resultados conservadores. Mas a teologia sistemtica no quer saber se os resultados so conservadores ou radicais. Os historiadores que se opem Bultmann porque so mais conservadores empregam o mesmo mtodo dele. Esses dois plos, conservadorismo e radicalismo, na crtica de um lado como do outro no podero ir alm de meras probabilidades em questes histricas. E se as probabilidades forem mais positivas ou mais negativas em nada interferiro no problema fundamental da teologia sistemtica. [62]

    Devido a isso, Tillich se mostra indiferente sobre a Nova Busca que estava sendo empreendida pelos discpulos de Bultmann: E. Kse-mann e G. Bornkamm. Comenta o telogo:

    So, obviamente, mais otimistas a respeito das probabilidades, mas os resultados de suas pesquisas no afetam a teologia sistemtica. [63]

    A nica coisa que Tillich fala da Nova Busca a deficincia dos seus critrios de historicidade. Ernst Ksemann achava que no era seguro afirmar a autenticidade de uma passagem que concordasse com o judasmo daquela poca ou com a comunidade ps-pascal. Esse era chamado de critrio da dissimilaridade. Tillich critca esse critrio:

    O fato de a maioria destas palavras de Jesus possuir um paralelo na literatura judaica contempornea no constitui um argumento contra sua validez. Nem sequer um argumento contra a sua singularidade e poder, quando aparecem em colees como o Sermo da Montanha, as parbolas e as discusses com seus inimigos e seus seguidores. [64]

    Tillich est correto, pois esse critrio bastante equivocado. No se pode conceber a separao de Jesus tanto do antigo judasmo quanto

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 143

    do cristianismo primitivo. Esse critrio ignora a interao entre o Jesus histrico e as antigas tradies sobre sua figura, alm de ser um critrio que d ampla margem subjetividade do investigador. [65]

    4- A crtica de tillich pesquisa acerca do Jesus histricoPara Tillich a pesquisa acerca do Jesus histrico problemtica

    em face no das deficincias passageiras da pesquisa histrica que um dia talvez sejam superadas, mas em razo da natureza das prprias fontes, ou seja, a natureza dos evangelhos.

    Segundo o telogo, os que nos falam sobre Jesus de Nazar so os mesmos que nos falam sobre Jesus como o Cristo, ou seja, as pes-soas que o receberam como o Cristo. Portanto, se tentarmos encontrar o Jesus real que est por trs da imagem de Jesus como o Cristo, necessrio separar criticamente os elementos que pertencem ao lado factual do evento e os elementos que pertencem recepo. Ao fazer isso, esboa-se apenas uma Vida de Jesus e fizeram-se muitos desses esboos. Em muitos deles colaboraram a honestidade cientfica, a devoo amorosa e o interesse teolgico. Em outros so visveis o distanciamento crtico e inclusive a rejeio malvola. Mas nenhum deles pode reivindicar ser uma imagem provvel em que tenha desem-bocado o tremendo esforo cientfico dedicado a esta tarefa durante 200 anos. No mximo, eles so resultados mais ou menos provveis, incapazes de fornecer uma base para a aceitao ou para a rejeio da f crist. [66]

    Diante de tudo isso que Tiilich falou devo esclarecer alguns pon-tos. Primeiro devemos examinar qual a natureza dos evangelhos. Os evangelhos no so biografias de Jesus de Nazar. Gnther Bornkamm, nos concede um parecer muito satisfatrio:

    No existe uma segurana matemtica na exposio de uma simples histria de Jesus sem qualquer espcie de retoque da crena, embora seja tarefa da pesquisa fazer a diferenciao crtica dos estratos mais antigos e mais recentes da tradio. No possumos uma nica sentena de Jesus nem uma nica histria de Jesus que no inclua, ao mesmo tempo por mais intangvel e autntica que seja , a profisso de f da

    comunidade crente ou que, pelo menos, nela no esteja baseada. Isso

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana144

    torna difcil a busca de simples fatos histricos e no lhe d grande perspectivas. [67]

    Os evangelhos so reflexes ps-pascais sobre Jesus, portanto, o material histrico contido nele est engolfado de tal forma no qurigma que torna impossvel, agora, tal desmembramento. Portanto, correto est Bornkamm quando disse:

    Ningum mais est em condies de escrever uma vida de Jesus. [68] Diante dessa situao, diz Tillich, tentou-se reduzir a descrio do Jesus histrico a seus traos essenciais; tentou-se elaborar uma Gestalt, uma forma estrutural, deixando seus traos particulares sujeitos dvi-da. [69] Entretanto, Tillich tambm no acredita ser possvel a Gestalt. Para ele, a pesquisa histrica no pode traar uma imagem essencial depois eliminar todos os traos particulares, por serem questionveis. Ela permanece dependente dos traos particulares. Conseqentemente,

    as descries do Jesus histrico em que se evita prudentemente a forma de uma Vida de Jesus diferem tanto entre si quanto aquelas em que no se aplica tal auto-restrio. [70]

    Mais frente Tillich mostra porque se mantm ctico quanto procura do Jesus histrico:

    A busca do Jesus histrico foi uma tentativa de descobrir um mnimo de fatos confiveis sobre o ser humano Jesus de Nazar, para que pudessem

    proporcionar um fundamento seguro f crist. Essa tentativa fracassou. A pesquisa histrica apenas forneceu probabilidades maiores ou menores sobre Jesus. base dessas probabilidades, esboaram-se algumas Vidas de Jesus. Mas eram mais romances do que biografias e certamente no

    podiam conferir um fundamento slido f crist. O cristianismo no se baseia na ceitao de um romance histrico, mas no testemunho sobre o carter messinco de Jesus dado por pessoas que no tinham o menor interesse em uma biografia. [71]

    Novamente mostramos o ceticismo histrico de Tillich. Esse ce-ticismo est fudamentado sob a natureza dos prprios evangelhos que,

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 145

    segundo Tillich, no so crnicas histricas. Meier, renomado pesqui-sador do Novo Testamento, concorda:

    Os Evangelhos no so essencialmente obras de histria, no sentido moderno da palavra. Seu objetivo, antes de tudo, proclamar e reforar a f em Jesus como Filho de Deus, Senhor e Messias. Sua representao, do incio ao fim, baseia-se na f em que o Jesus crucificado ressuscitou dos mortos e retornar em glria para julgar o mundo. Ademais, os Evangelhos no pretendem nem afirmam proporcionar algo como uma narrativa completa ou mesmo um sumrio da vida de Jesus. [72]

    5- conclusoA exposio que acabamos de fazer mostra suficientemente aquilo

    que Paul Tillich pensa sobre a busca do Jesus histrico. Ele se mostra, com razo, ctico. Tambm, para um telogo sistemtico, a variabilidade das concluses chegadas por essa pesquisa, o impedem de utiliz-las na elaborao do seu sistema. Por isso, tanto para Tillich como para outros sistemticos, a pesquisa era algo inerte.

    Aps o falecimento de Tillich (1965) deu-se inicio Third Quest [Terceira Busca]. Essa nova busca do Jesus histrico procurou isolar o desafio cientfico de suas possveis implicaes teolgicas e incorporou um novo conhecimento que as tradues das duas grandes descobertas de colees de manuscritos, a de Nag Hammadi e de Qumran, vieram aportar aos estudiosos. Especialmente determinante para essa nova fase foi a publicao dos manuscritos do Mar Morto que deram uma nova viso do judasmo sectrio do primeiro sculo. Importantes estudos, que agora se voltam pesquisa do Jesus histrico, acabaram por delinear um quadro detalhado da sociedade palestinense da poca, possibilitando um melhor entendimento de seu ministrio, alm de retornar ao judas-mo do Nazareno para confront-lo com o que sabemos sobre o mesmo perodo no perodo intertestamentrio. Alguns dos estudiosos mais renomados dessa Terceira Busca so: Robert W. Funk, John Dominic Crossan e Burton Mack. Fazem parte da mesma busca, mas seguindo um caminho diferente dos j citados, Raymond E. Brown, Geza Ver-mes, John Paul Meier, E. P. Sandres e James H. Charlesworth. O que caracteriza essa Terceira Busca sua multiplicidade de hipteses de trabalho, o que levou alguns estudiosos a no endossar sua existncia

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana146

    como tal, em contraste com a aceitao unnime do mtodo histrico que incorpora filologia, arqueologia e sociologia em uma amlgama acadmica interdisciplinar.

    Creio que, mesmo que Tillich estivesse vivo hoje, ainda assim, seria um ctico em relao busca pelo Jesus histrico. Isso pode ser inferido da nota de rodap constante na sua Teologia Sistemtica, que diz:

    Isto se refere tambm descoberta dos manuscritos do Mar Morto, que apesar do grande sensacionalismo e da publicidade que lhe foi concedida abriu os olhos de muita gente para o problema da pesquisa bblica, mas no alterou em absoluto a situao teolgica. [73]

    Jlio Fontana - Autor de artigos e resenhas publicadas nas revistas Inclusividade do Centro de Estudos Anglicanos, Ciberteologia e Religio e Cultura de Paulinas Editora e Correlatio da Associao Paul Tillich do Brasil da qual membro.

    NotAs[1] Pode-se atentar para esse fato observando os temas dos artigos publicados pela revista eletrnica Correlatio. Nenhum versa sobre sua teologia bblica. Tambm as publicaes especializadas no discutem esse tpico. [2] Paul Tillich um pensador sistemtico (alis, em minha opinio, o mais sistemtico deste sculo em teologia). Procurou nos dizer ordena-damente, e por completo, tudo aquilo que queria nos dizer. (MONDIN, B. Os Grandes Telogos do Sculo XX, So Paulo: Teolgica, 2003, p. 114) [3] Jesus histrico aquele que podemos resgatar, retomar ou re-construir, utilizando os instrumentos cientficos da moderna pesquisa histrica. Considerando-se o estado fragmentrio de nossas fontes e a natureza muitas vezes indireta dos argumentos que devemos usar, este Jesus histrico ser sempre um constructo cientfico, uma abstrao terica que no coincide, nem pode coincidir, com a realidade plena do Jesus de Nazar que de fato viveu e trabalhou na Palestina no primeiro sculo da nossa era. (MEIER, J. P. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus histrico, Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 11)

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 147

    [4] Tillich mesmo concedendo maior importncia ao Cristo da f, como o fizeram R. Bultmann e M. Dibelius, no elaborou um livro sobre Jesus como estes. [5] Para ver uma exposio da busca atual pelo Jesus histrico, ver CHARLESWORTH, J. Jesus dentro do Judasmo, Rio de Janeiro: Imago, 1992, pp. 201-218. [6] GNILKA, J. Jesus de Nazar: mensagem e histria, Petrpolis: Vozes, 2000, p. 09. [7] A Bblia, contudo, a fonte bsica da teologia sistemtica, porque o documento original sobre os eventos em que a igreja crist se fun-damenta. (TILLICH, P. Teologia Sistemtica, So Leopoldo: Sinodal, 2005, pp. 50-51) [8] Meier disse no seu trabalho sobre o Jesus histrico: Muito me agra-daria se os telogos sistemticos retomassem o assunto do ponto onde este livro termina, aprofundando-se mais nessa linha de pensamento. (MEIER, Op. cit., p. 16) [9] TILLICH, Teologia Sistemtica, pp. 51-52. [10] Idem, p. 51. [11] Idem, p. 394. [12] Tendo em vista a imensa quantidade de material histrico que foi descoberta, e freqentemente verificada de forma emprica, por um mtodo de pesquisa universalmente utilizado, podemos considerar a teologia bblica uma cincia. [13] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 394. [14] BORNKAMM, Op. cit., p. 38. [15] Popper acredita que o conhecimento s pode progredir graas crtica. (MAGEE, Bryan. As idias de Karl Popper, So Paulo: Cultrix, 1989, p. 16) [16] POPPER, Karl. Conjecturas e Refutaes, Braslia: UNB, 2 edi-o, 1982, p. 284. [17] A constante crtica a qual so submetidas as teorias da teologia bblica ensejaram Meier a comentar: Nenhuma outra linha de pesquisa parece to apta a transformar eruditos em cticos. (MEIER, Op. cit., p. 13) [18] MYRDAL, Objectivity in Social Research, apud. ALVES, Rubem. Religio e Represso, So Paulo: Teolgica/Loyola, 2005, p. 20

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana148

    [19] NIETZSCHE, Friedrich, Para Alm do Bem e do Mal: preldio a uma filosofia do futuro, So Paulo: Martin Claret, 2004, p. 35. [20] ALVES, Rubem. Filosofia da Cincia: Introduo ao jogo e a suas regras, So Paulo, 9 edio, 2005, p. 50. [21] MYRDAL, Op. cit., apud. ALVES, Religio e Represso, p. 21. [22] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 394. [23] Idem, ibid. [24] Idem, ibid. [25] MAGEE, Op. cit., p. 30. [26] Esse reconhecimento j no existe naqueles especialistas que esto descompromissados com a Igreja. [27] FITZMYER, Joseph A. Escritura, a alma da teologia, So Paulo: Loyola, p. 27. [28] Idem, p. 17. [29] MUELLER, nio Ronald. In: FEE, Gordon D. & STUART, Dou-glas. Entendes o que ls? Um guia para entender a Bblia com auxlio da exegese e da hermenutica. So Paulo, Edies Vida Nova, 1999. p. 248. [30] FITZMYER, Op. cit., p. 18. [31] A utilizao do mtodo histrico-crtico por esses importantes telogos no os impediu de utilizarem-se de outros mtodos interpre-tativos, como, por exemplo, o alegrico. [32] A esse perodo remonta o estudo da Bblia em suas lnguas ori-ginais aramaico, grego e hebreu em vez da Vulgata latina, que foi, praticamente, a nica Bblia usada nos perodos intervenientes na Igreja ocidental desde Jernimo. [33] FITZMYER, Op. cit. p. 20. [34] SCHWEITZER, A. A Busca do Jesus Histrico: de Reimarus Wrede, So Paulo: Editora Crist Novo Sculo, 2003, p. 472. Como a traduo desse trecho do livro estava truncada fiz algumas modificaes que melhoram consideravelmente a coerncia do texto. [35] Idem, ibid. [36] Lessing tambm no revelou que Reimarus era o autor dos Frag-mentos (especialmente o 6 e o 7 que so de valor para a questo do Jesus histrico).

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 149

    [37] TILLICH, P. Perspectivas da Teologia Protestante nos sculos XIX e XX, So Paulo: ASTE, 3 edio, 2004, p. 96. [38] BROWN, R. Introduo ao Novo Testamento, So Paulo: Paulinas, 2004, p. 1058. [39] Quem queira saber mais sobre a famosa busca pelo Jesus histrico dos sculos XVIII e XIX ver o livro de Albert Schweitzer, A Busca pelo Jesus Histrico: de Reimarus Wrede, So Paulo: Editora Crist Novo Sculo, 2003. Outros livro sobre Jesus trazem a histria da busca de forma resumida. [40] TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante, p. 154. [41] Idem, ibid. [42] Idem, p. 153. [43] GNILKA, Op. cit., p. 17. A Vida de Jesus de Ernest Renan possui traduo para nossa lngua elaborada pela Editora Martin Claret. uma leitura interessante e prazeirosa. Vale a pena tambm dar uma olhada no seu livro Paulo, o 13 apstolo tambm publicado pela Martin Claret. [44] THEISSEN, G. O Jesus Histrico: um manual, So Paulo: Loyola, 2 edio, 2002, p. 23. [45] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 393. Quando Tillich escreveu esse segundo volume de sua Sistemtica a Nova Busca estava dando anda seus primeiros passos, ainda bastante tmidos. [46] Qualquer movimento messinico tinha como fito alcanar Jeru-salm. Cf. JEREMIAS, J. Jerusalm nos Tempos de Jesus: pesquisas de histria econmico-social no perodo neotestamentrio, So Paulo: Paulus, , 4 edio, 2005, p. 105. [47] TILLICH, Perspectiva da Teologia Protestante, p. 225. [48] Idem, ibid. [49] Idem, ibid. [50] Idem, pp. 225-226. Para conhecer minha posio quanto a esse assunto, ver FONTANA, J. O Grande Paradigma da Inculturao do Evangelho nos primrdios da Igreja, Ciberteologia Revista de Teologia & Cultura Ano II, n. 7, ISSN: 1809-2888. [51] O helenismo resulta da mistura de elementos gregos, persas, egpcios, judaicos, indianos e muitos outros grupos msticos. Trata-se de uma religiosidade expressa por meio de conceitos gregos, mas em sentido religioso transformado.

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Jlio Fontana150

    [52] TILLICH, Perspectiva da Teologia Protestante, p. 226. Recente-mente fui convidado pela Editora Vida para elaborar um endosso do livro Tesmo Aberto, no qual em seu primeiro captulo discute justa-mente o processo de helenizao do cristianismo. Fiquei supreso que tanto a teoria dos proponentes do tesmo aberto, como a refutao dos conservadores estavam erradas. [53] Idem, ibid. Uma abordagem moderna que mostra as conseqn-cias da influncia helnica sobre os dogmas cristolgicos conciliares apresentada por HICK, J. A Metfora do Deus Encarnado, Petrpolis: Vozes, 2000. [54] Tillich se enquadra nessa linha de pensamento: Eu venho dessa escola de ceticismo histrico. (TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante, p. 231) [55] Essa fase conhecida como No-Quest, ou seja, da no-busca. [56] Tillich diz: Khler enfrentava o problema do tratamento histrico da Bblia fazendo clara distino entre o Jesus histrico e o Cristo da f. (TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante, p. 220) [57] Idem, p. 231. [58] Na verdade, Bultmann talvez no o soubesse, mas o seu objetivo no era des-mitologizar, e sim, re-mitologizar o Novo Testamento se-gundo a cosmoviso moderna. [59] demitologizar no significa rechaar em sua totalidade a Es-critura ou a mensagem crist, mas sim a cosmoviso bblica, que a cosmoviso de uma poca passada, com demasiada freqncia mantida ainda na dogmtica crist e na pregao da Igreja. Demitologizar signi-fica negar que a mensagem da Escritura e da Igreja esteja vinculada a uma cosmoviso antiga e obsoleta. (BULTMANN, Demitologizao: coletnea de ensaios, So Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 63) [60] TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante, p. 232 [61] Idem, p. 231. [62] Idem, ibid. [63] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 396. [64] Para uma boa exposio de alguns critrios de historicidade, ver MEIER, Op. cit., pp. 169-196. [65] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 393.

  • Revista Eletrnica Correlatio n. 10 - Novembro de 2006

    Paul Tillich e a busca pelo Jesus histrico 151

    [66] BORNKAMM, G. Jesus de Nazar, So Paulo: Teolgica, 2005, p. 37. [67] Idem, p. 35. [68] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 393. [69] Idem, ibid. [70] Idem, p. 395. [71] MEIER, Op. cit., p. 50. [72] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 396. [73] TILLICH, Teologia Sistemtica, p. 396.