PB 1 - ebp.org.br · onde funcionam nossos órgãos de garantia, como no jogo de xadrez. Como...

34
1

Transcript of PB 1 - ebp.org.br · onde funcionam nossos órgãos de garantia, como no jogo de xadrez. Como...

PB 1

2 3

XII Congresso de Membros da EBP

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Desejo

e Autorizac

ao

Doug A

itken, "Sonic Pavilion", Inhotim C

entro de Arte C

ontemporânea, B

rumadinho, B

rasil

CARTAZ

2 3

Caros colegas,Propomos realizar nosso XII Congresso de Membros

da EBP nos dias 27 a 30 de abril de 2017 em Inhotim, uma floresta dos trópicos. Um jardim de vida animal e vegetal, parceiros permanentes, e um Éden perdido/Inferno de vida artificial, fabricada pela mão do artífice, habituado às parcerias sintomáticas.

Situado no Vale do Paraopeba, a sessenta quilômetros de Belo Horizonte, este ‘lugar estranho’, como dissera Éric Laurent1 por ocasião de sua visita, guarda uma das coleções de arte mais suculentas que se pode experimentar no Brasil: esculturas, instalações, pinturas, desenhos, fotografias, filmes e vídeos. Não há dicotomia entre natureza e cultura, diz Laurent, a cultura é selvagem, a natureza se torna arte. Lembremos que Lacan falava das pulgas da cultura; Éric Laurent fala da opacidade da experiência do corpo e de extrações. Inhotim, zoológico da arte, acolherá nesses dias mencionados e de mãos abertas, mais uma espécie rara, os membros da EBP.

O mito de origem do Inhotim que o nomeia é múltiplo, mas em todas as fábulas registradas, a constante é o jogo de lalangue pervertendo o nome do proprietário da terra. O amo de nome perturbado, o senhor Timothy, “Nhô Tim”, de todos os modos realiza seu desejo de geólogo: pode se escutar o som da terra graças ao “Sonic Pavilion”, de Doug Aitken, com microfones de alta sensibilidade, e por essa intuição o escolhemos para figurar nosso encontro. Escute a terra falar:

https://www.youtube.com/watch?v=sUvWMJ9Samg

1 LAURENT, Eric, “La extracción del objeto a” (Tercer encuentro americano del Campo freudiano, Belo Horizonte, 4 de agosto de 2007) publicada em Colofón n.28, “Declinaciones del objeto a en la cultura”, Boletin de la Federación Internacional de Bibliotecas del Campo freudiano, maio, Valencia/Buenos Aires, 2008, p. 7. Também publicada com ilustrações como “The art of Extraction: Inhotim” em Lacanian Ink, n.36, Fall, New York, 2010, pp. 162-170.

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Desejo

e Autorizac

ao

Doug A

itken, "Sonic Pavilion", Inhotim C

entro de Arte C

ontemporânea, B

rumadinho, B

rasil

CARTAZ

4 5

O som da terra habitada que nos interessa escutar é aquele produzido pela ressonância de uma Proposição de Lacan, que faz cinquenta anos de existência. A proposição então consiste em passar uns dias em Inhotim para extrair a atualidade da Proposição de Lacan sobre o psicanalista da Escola, de 9 de outubro de 1967, assim como nos dedicar ao estudo do Seminário 6. Em suma, articular o vetor do desejo com o psicanalista da Escola, hoje. Jacques-Alain Miller, citado por Éric Laurent em suas palavras sobre Inhotim, escreve a propósito da angústia lacaniana:

Bem, isso indica alguma coisa concernente à direção da cura: e que, talvez, seria a desenvolver, isto é, que o analista só opera na condição, se posso dizer, de ele mesmo responder à estrutura do estranho. E é a esse respeito que vou concluir, sobre o analista estranho; é que é preciso que ele responda ao que tentei indicar dessa matriz, é preciso que, no mínimo por alguns traços, ele passe o sentimento de estranheza, sem o qual tudo demonstraria - se houvesse podido desenvolvê-lo - tudo demonstraria que na falta de se fazer dele mesmo um estranho ele não poderia perturbar a defesa2.

Para começar a tarefa de estranhar a Proposição, passo a palavra às coordenadoras do XII Congresso da EBP, Fernanda Otoni-Brisset e Lucíola Freitas de Macêdo.

Marcela Antelo[Presidente da EBP]

2 MILLER, Jacques-Alain, [2004] “Introdução à leitura do Seminário 10 da Angústia de Jacques Lacan”, em Opção lacaniana, n.43, maio 2005, pp.80-81. Original em Orientation lacanienne III, 6 - Cours n°20 16/06/2004.

4 5

Desejo e AutorizaCAo 50 anos da ProposiCAo de 09 de outubro de 1967Esse é o tema do XII Congresso de Membros da EBP, que

acontecerá nos dias 27 a 30 de abril. Para início de conversa, por iniciativa da Diretora Ana Lucia Lutterbach Holck, leremos e conversaremos sobre o Seminário 6. Sim, o desejo! Esperamos que esse bonde nos leve mais longe, atualizando a leitura da Proposição, 50 anos depois.

Serão quatro dias de encontro, conversa e mais ainda. Para tanto, estamos organizando a instalação e imersão dessa comunidade estranha, a EBP, no Instituto Inhotim, localizado no município de Brumadinho – MG. Não por acaso, escolheu-se para essa ocasião, um jardim de arte contemporânea, que guarda seus buracos. Onde está o ensino na EBP? Nenhum ensino fala do que é a psicanálise, então, como ensiná-lo3?

Estamos advertidos, quanto à experiência analítica, que não basta cavar furos nos enunciados. É preciso um mergulho no furo aberto no e pelo inconsciente, que Lacan compara ao furo do assoprador de vidros, pois é via incompletude que o salto no buraco poderá produzir-se 4. É preciso que a hiância que a causa analítica engendra não seja recoberta, pois tal recobrimento lança inexoravelmente sua sombra sobre a prática da psicanálise.

É o que enfatiza Lacan em 1967, pois o que constitui a psicanálise como experiência original é que longe de se pensar em encobri-la, é preciso se valer da constatação da falha, 3 LACAN, J. A psicanálise e seu ensino. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 439.4 LAURENT, É. O passe e os restos de identificação. In: Curinga. Belo Horizonte, Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas, n.33,dezembro de 2011, p. 142-143.

6 7

da hiância que se realiza na linguagem, como antinômica à referência.

“O símbolo é a morte da coisa”, dizia Lacan desde 1953, fórmula dramática, e bastante hegeliana, que conserva todo o seu poder para indicar, em desprezo à dialética, a raiz da obturação anglo-saxã em relação à Freud. Não obturar essa hiância, mas assumi-la e elaborá-la: aí está todo o ensino de Lacan5.

Por que retornarmos à Proposição?6. Porque ainda hoje, o analista só se autoriza de si mesmo. Porém, diz o texto, isso não impede que a Escola garanta que um analista depende de sua formação; o analista pode querer essa garantia, para assim ir mais além: tornar-se responsável pelo progresso da Escola, tornar-se psicanalista da própria experiência. A experiência do passe, cinco décadas após sua Proposição, esclarece que a via do sinthoma subverte o recobrimento dos orifícios pulsionais do corpo e dos furos do inconsciente, colocando em jogo a singularidade do modo de gozo, que se liga ao corpo sem, no entanto, reduzir-se a ele7.

O começo e o fim da análise são os pontos de junção onde funcionam nossos órgãos de garantia, como no jogo de xadrez. Como situá-la em 2017? Lacan escreveu: ‘No começo da psicanálise está a transferência; no fim da partida, na passagem do psicanalisante ao psicanalista, tem uma porta cuja dobradiça é o resto que constitui a divisão entre eles. O que aí se percebe é que a apreensão do desejo não é outra senão a de um des-ser. Nesse des-ser revela-se o inessencial do sujeito 5 MILLER, J-A. Todos lacanianos! In: Escisión, excomunión, disolución. Tres momentos en la vida de Jacques Lacan. Buenos Aires, Manantial, p. 249. 6 LACAN, J. Proposição de 09 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 20037 LAURENT, É. O passe e os restos de identificação. In: Curinga. Belo Horizonte, Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas, n.33,dezembro de 2011, p. 144.

6 7

suposto saber. Sicut palea, como diz Tomás sobre sua obra no fim da vida – como estrume’.

Em Brumadinho, na Linda do Rosário, restos de um desabamento tornam-se matéria de construção de uma obra que traz em seu percurso a carne seca, exposta. E ao atravessar um corredor vazio alcançam-se os Passarinhos – de Inhotim a Demimi.

Desde a Proposição, sabemos que é no próprio horizonte da psicanálise em extensão que se ata o círculo interior que traçamos como hiância da psicanálise em intensão. Qual é o horizonte da psicanálise cinquenta anos mais tarde? Como se configuram seus pontos de fuga, hoje? Os pontos de fuga em perspectiva, notáveis por pertencerem, cada um deles, a um dos registros, permitem caracterizar tanto o que define a época, quanto o mundo que determina a organização da própria psicanálise. Os pontos de fuga são os fatos. Não se trata de teoria, nem de ideologia, mas de coisas advindas da experiência8.

O “Sonic Pavilion”, instalação conhecida como “O som da Terra”, assopra-nos um convite. Pensar o ensino de Lacan a partir da Proposição e da experiência do passe na Escola é o nosso desejo e o horizonte do XII Congresso de Membros da EBP.

Em Inhotim, não haverá como fugir!

Fernanda Otoni-Brisset e Lucíola Freitas de Macêdo[Coordenadoras do XII Congresso/ Conselheiras da EBP]

8 BROUSSE, M.-E. O inconsciente é a política – Seminário Internacional. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2003, p. 39.

8 9

O BAILE ENTRE A FANTASIA E A PULSAO

A cena da fantasia, o desejo e o gozo no SeminArio 6 de J. Lacan

Seminário de Leitura do XII Congresso de membros da Escola Brasileira de Psicanálise

“O balé que esboço entre fantasia e pulsão tem um grande futuro no ensino de Lacan, a ponto de os dois termos se confundirem no uso que ele fará do termo sinthoma”.

( Miller, J. A. “Apresentação do Seminário 6”; OL Online, n. 14 http://www.opcaolacaniana.com.br/nranterior/numero14/texto1.html )

Examinaremos algumas passagens de O Seminário, Livro 6, O desejo e sua interpretação, para desenvolver a tese de J. A. Miller segundo a qual o modo de Lacan delimitar a fantasia como ferramenta conceitual encerra a possibilidade de ganharmos maior “precisão” e “realces” na clínica que se depreende de seu último ensino.

8 9

PROGRAMA TEMÁTICOAbertura: Sinthoma, fantasia e pulsão

PRIMEIRA CONVERSAÇÃO: A cena da fantasia1. Sobre o caso da “tossezinha” O caso de Ella Sharpe é a porta de entrada das

lições sobre Hamlet. Em ambos o gozo se localiza, não como falta, mas como objeto, presente, o do gozo da analista no caso de E. Sharpe e o da mãe em Hamlet, por um lado, e Ofélia, por outro, prenunciando o que Lacan desenvolverá como objeto a.

“O caráter enigmático do que está escondido dele está bastante sublinhado pelo fato de, no momento de entrar no consultório da sua analista, ele ter a famosa tossezinha. Por que ele deseja se anunciar assim? O que pode haver atrás da porta? O que será que ele imagina? O que está velado é o lado direito da fórmula da fantasia, o objeto x, que aqui é, não digo sua analista, mas o que está na sala. Agora vamos ao sonho. Nele, o que está posto totalmente em primeiro plano é um objeto (...). Sabemos que o que está à direita da relação na fórmula da fantasia tem uma função complexa, sendo não apenas uma imagem, como também um elemento significante. Contudo, isso permanece velado, enigmático, e não conseguimos articulá-lo como tal. Do outro lado da relação, à esquerda, há o sujeito” (p. 194 -195).

10 11

2. Interpretação, desejo e sinthomaOs “afetos posicionais do ser”; O desejo e

sua opacidade: a fantasia como interpretação do desejo e o sinthoma como gozo opaco ao sentido; Interpretação: enigma, citação, alusão, ressonância.

“Interpretar o desejo é restituir aquilo a que o sujeito não pode ter acesso por si só, a saber, o afeto que designa seu ser e que se situa no nível do desejo que lhe é próprio. Estou falando aqui do desejo preciso que intervém neste ou naquele incidente da vida do sujeito, do desejo masoquista, o desejo suicida, do desejo oblativo conforme a ocasião. Trata-se de que isso, que se produz sob uma forma fechada para o sujeito, recupere seu sentido em relação ao discurso mascarado implicado nesse desejo, recupere seu sentido em relação ao ser, confronte o sujeito com o ser. Esse sentido verdadeiro é, por exemplo, aquele definido pelo que eu chamaria de afetos posicionais em relação ao ser. Eles consistem no que designamos por esses termos essenciais, amor, ódio, ignorância – mas há muitos outros mais, que teremos de percorrer e catalogar” (p. 159).“O sonho é uma metáfora. Nessa metáfora surge algo novo que é um sentido, um significado. Este é, sem dúvida nenhuma, enigmático, mas realmente não é algo que

10 11

não tenhamos de considerar. É, eu diria, uma das formas mais essenciais da vivência humana, pois é essa imagem mesma que, durante séculos, lançou os seres, em alguma das voltas enlutadas da existência deles, pelos caminhos mais ou menos secretos que os conduziam até o necromante. O que o necromante fazia surgir no círculo mágico era essa coisa chamada “sombra”, diante da qual não se passava outra coisa do que o que se passa nesse sonho. A sombra é esse ser que ali está sendo, sem que se saiba como ele existe, e diante do qual, literalmente, não se pode dizer nada. Esse ser, é claro, fala, mas pouco importa, pois, até certo ponto, o que ele diz é também o que ele não diz, e o sonho nem mesmo no-lo diz. Sua fala só tem valor pelo fato de que aquele que chamou o ser amado do reino das sombras não pode, por sua vez, lhe dizer literalmente nada sobre a verdade de seu coração. Essa confrontação, essa cena estruturada, essa trama solicita que nos interroguemos: o que é isso? Qual o seu alcance? Tem o valor fundamental, estruturado e estruturante do que tento precisar para vocês este ano sob o nome de fantasia? É uma fantasia? Há um certo número de características exigidas para reconhecermos em tal trama as características da fantasia?” (p. 69).

12 13

SEGUNDA CONVERSAÇÃO: Destinos do excesso: a cena da fantasia e o campo do sinthoma

O objeto “a” tanto é incluído na fantasia quanto o gozo que condensa está em excesso com relação à ela. O mesmo paradoxo com relação ao gozo se observa com relação ao sinthoma? Quando lidamos com o gozo do sinthoma, ou nos referimos a Joyce podemos falar em cena, no mesmo sentido que a de Hamlet tal como trabalhada por Lacan neste seminário?

1. Da cena ao campo, o objeto “Hamlet vê Laertes pular dentro da cova para

abraçar a irmã, ele pula em seguida para também abraçá-la. Digamos que é curiosa a ideia que fazemos do que deve se passar lá dentro, e eu o sugeri da última vez com meu quadrinho imaginário. Em outras palavras, é pela via do luto que Hamlet passa, mas de um luto assumido na relação narcísica existente entre m, o eu, e a imagem do outro, i(a). Há, no fundo do quadro, essa cena que de repente representa para ele, num outro, a relação passional de um sujeito com um objeto. É essa cena que o engancha e lhe oferece o suporte que faz com que, subitamente, se restabeleça sua própria relação de sujeito, , com Ofélia, o objeto pequeno a que fora rejeitado devido à confusão, à imisção dos objetos. E é esse nível subitamente restabelecido que, por um curto instante, fará dele um homem, ou seja, fará dele alguém capaz – por um curto instante, sem dúvida nenhuma, mas um instante que basta para que a peça termine – capaz de lutar e capaz de matar” (p. 311).

12 13

2. A cena de Hamlet à odisséia de Joyce“Se Hamlet é realmente o que estou dizendo,

a saber, uma composição, uma estrutura tal que, nela, o desejo pode encontrar seu lugar, situado de maneira suficientemente correta, rigorosa, para que ali possam se projetar todos os desejos ou, mais exatamente, todos os problemas suscitados pela relação do sujeito com o desejo, bastaria, em certo sentido, lê-lo. Referia-me, portanto, aos que poderiam me perguntar sobre a função do ator. Onde está a função do teatro, da representação?” (p. 298).

TERCEIRA CONVERSAÇÃO: Instalação e Invenção

O percurso do Seminário 6 leva Lacan e decidir-se interrogar a sublimação no ano seguinte, que, finalmente, será dedicado à Ética da psicanálise. Sem discutir a especificidade da sublimação, as indicações de Lacan sobre o tema nos permitem retomar o que excede justamente o tema da fantasia e do objeto em cena. Uma discussão sobre a arte como campo em que o objeto e a cena deixam de ser a referência, especialmente na arte contemporânea dará o tom dessa conversação. Em lugar da cena e seu objeto, a instalação e sua invenção? Neste momento conclusivo, três obras ou três artistas presentes em Inhotim foram selecionadas para que possamos discutir os pontos de contato e separação entre o “fazer com” do psicanalista com o gozo do sinthoma e o do artista.

14 15

IV. Instalação e InvençãoO percurso do Seminário 6 leva Lacan e decidir-

se interrogar a sublimação no ano seguinte, que, finalmente, será dedicado à Ética da psicanálise.

Sem discutir a especificidade da sublimação, as indicações de Lacan sobre o tema nos permitem retomar o que excede justamente o tema da fantasia: o objeto e a cena. Uma discussão sobre a arte como campo em que o objeto e a cena deixam de ser a referência, especialmente na arte contemporânea. Em lugar da cena e seu objeto, a instalação e sua invenção?

As considerações na conclusão do seminário 6 sobre a sublimação nos colocam na pista das questões que a teorização da fantasia nos leva sobre o que escapa a ela. O que ocorre com o desejo quando ele não definido como a articulação entre sujeito e objeto que promove a fantasia?

Neste momento conclusivo, três obras ou três artistas presentes em Inhotim foram selecionadas para que possamos discutir os pontos de contato e separação entre o “fazer com” do psicanalista com o gozo do sinthoma e o do artista.

1. Adriana Varejão2. Tunga 3. Olafur ElassonElsa serão apresentadas a partir desse par:

instalação e invenção.

14 15

Algumas citações do Seminário podem orientar a discussão:

A sublimação: “é aquilo que possibilita que o desejo e a letra se equivalham”; Ela é a “forma como o desejo se cunha”; ela é um “corte criador” (Cap. XXII, p. 424-427, Cap. XXVII, p. 517-520).“Digo, limitando-me à obra de arte escrita, que a obra de arte, longe de transfigurar a realidade da maneira que for, por mais ampla que ela seja, introduz na sua própria estrutura o advento do corte, na medida em que aí se manifesta o real do sujeito, já que, para além do que ele diz, ele é o sujeito inconsciente”“Ter acesso à sua relação com o advento do corte é certamente interditado para o sujeito, pois esse é seu inconsciente. Em contrapartida, esse acesso não lhe é interditado quando ele vive a experiência da fantasia, ou seja, quando é estimulado pela chamada relação do desejo. Ora, a experiência da fantasia está intimamente entrelaçada à obra. A partir daí, torna-se possível que esta exprima essa dimensão, o real do sujeito, que é o advento do ser para além de toda realização subjetiva possível, como indicamos agora há pouco”“A forma da obra de arte, tanto da bem-sucedida quanto da que fracassa, tem a

16 17

virtude de implicar essa dimensão. Se, para isso, eu puder me servir da topologia de meu esquema para que me entendam, essa dimensão não é paralela ao campo da realidade criada no real pela simbolização humana, ela lhe é transversal, na medida em que a relação mais íntima do homem com o corte ultrapassa todos os cortes naturais. Pois existe esse corte essencial de sua existência, a saber, que ele é aí e tem de se situar no fato mesmo do advento do corte.É disso que se trata na obra de arte e, em especial, naquela que abordamos mais recentemente, uma vez que, nesse aspecto, ela é a obra mais problemática, Hamlet.”“Seja como for, essa aproximação tem realmente certo interesse. Mas a questão que se coloca é saber se, na obra de arte, só o erro de datilografia vai ser significativo para nós. E por que não, afinal? É claro que, na análise da obra de arte, o erro de datilografia – vocês entendem o que quero dizer com isso: o que nos é apresentado como uma descontinuidade – pode servir de indício para reencontrar, no seu alcance inconsciente, este ou aquele incidente da vida passada do autor capaz de trazer importantes esclarecimentos, e é efetivamente isso que ocorre nesse artigo.”“Em todo caso, não é da natureza da coisa esclarecer para nós a dimensão da obra de arte? Por este simples motivo – mas também, como veremos, muito além desse motivo –, já não podemos considerar a obra de arte como uma transposição, ou sublimação, chamem como quiserem, da realidade. Já não se pode dizer que

16 17

ela opera na imitação, que é da ordem da mimesis, ao passo que ela sempre constitui um profundo remanejamento da tal realidade. Mas creio que, para nós, esse ponto já foi superado e não é para ele que pretendo chamar a atenção de vocês” (p. 428).“No próprio título do artigo sobre Gide, pus em primeiro lugar a relação, particularmente flagrante no caso dele, que o esquema da fantasia articula entre o desejo e a letra. O que isso quer dizer senão que devemos situar o processo da sublimação – se quisermos dar a esse termo um sentido conveniente –, na reconversão do desejo nessa produção que se expressa no símbolo? Símbolo que não é a supra-realidade que se imagina; muito pelo contrário, ele é essencialmente feito da fratura da realidade, de sua decomposição em partes significantes. A sublimação, como eu dizia, está na reconversão do impasse do desejo na materialidade significante” (p. 495)”.“A sublimação, como escrevi em algum lugar, é aquilo que possibilita que desejo e letra se equivalham” (p. 517).“A análise não é uma simples reconstituição do passado, tampouco é uma redução a normas pré-formadas, a análise não é um epos, não é um ethos. Se tivesse de compará-la com algo, seria com um relato que fosse, ele mesmo, o lugar do (re)encontro em questão no relato” (p. 518).“Numa revista publicada em Bruxelas por volta de 1953-54 com o título de Phantômas, um poeta, Désiré Viardot, propôs este pequeno enigma fechado, e

18 19

vamos ver se um grito do público vai nos mostrar logo a chave: La femme a dans sa peau un grain de fantaisie [A mulher tem na sua pele um grão/marca de fantasia]. Esse grain de fantaisie é seguramente aquilo de que se trata, no fim das contas, no que modula e modela as relações do sujeito com aquele, seja quem for, a quem ele demanda. E, sem dúvida, não é por acaso que foi sob a forma da Mãe universal que encontramos no horizonte o sujeito que contém tudo. É o que fez com que pudéssemos, eventualmente, nos equivocar sobre a relação do sujeito com o Todo, acreditando que ela nos seria oferecida pelos arquétipos analíticos, quando se trata de algo bem diferente, a saber, da hiância que abre para esse algo radicalmente novo que todo corte da fala introduz. Aqui, não é só da mulher que devemos esperar esse grão de fantasia – ou esse grão de poesia –é da própria análise” (p. 520).

Marcus André Vieira,Ram Mandil,

Rômulo Ferreira da Silva[Coordenação Seminário Leitura]

Ana Lucia Lutterbach Holck[Diretora da EBP]

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

18 19

Quarta 26 abrilFórum de debates: O que é o autismo, hoje?

Observatório do Autismo da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP)Belo Horizonte | SAIBA MAIS

P l a n n e r

20 21

13:00 – Almoço

14:00 – Abertura do XII Congresso de Membros Desejo e Autorização – 50 anos da Proposição de 09 de outubro de 1967 Marcela Antelo (Presidente da EBP) Ana Lucia Lutterbach (Diretora da EBP)

14:30 - 15:30 – Abertura do Seminário de Leitura Fantasia, desejo e gozo no Seminário 6 de J. Lacan Oscar Ventura Ana Lucia Lutterbach

15:30 - 17:30 – Primeira Conversação : A fantasia em análise Coordenação: Andrea Reis Santos

I. Sobre o caso da “tossezinha” Veridiana Marucio

II. Interpretação, fantasia e sinthoma Helenice de Castro (com Cristina Drummond, Henri Kaufmanner, Louise Lhullier e Tatiane Grova)

17:30 – Documentário da EBP

18:00 – Lançamento de livros

Quinta 27 abril

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

20 21

10:00 - 12:00 – Segunda Conversação: A cena da fantasia e o campo do sinthoma | Coordenação: Ângela Bernardes

I. O objeto, a cena e o campo Marcelo Veras (com Carla Fernandes, Daniela Affonso, Heloisa Caldas, Maria do Carmo Dias Batista e Sônia Vicente)

II. A cena de Hamlet a odisséia de Joyce Ram Mandil

12:00 -13:00 – Reuniões institucionais da EBP

13:00 – Almoço

14:00 - 16:30 – Terceira Conversação: Instalação e Invenção Coordenação: Marcus André Vieira | Curadoria: Jorge Forbes

I. Adriana Varejão Márcia Rosa Vieira (com Cleide Pereira Monteiro, Laura Rubião e Renata Gomes Martinez)

II. Tunga Lúcia Grossi dos Santos (com Ângela Bernardes , Cassandra Farias, Guilherme Ribeiro, Louise Lhullier e Tânia Abreu)

III. Olafur Elasson Nohemí Brown (com Christiano Lima, Cristina Duba, Fátima Pinheiro, Lucila Darrigo e Marcia Stival Onyszkiewicz).

16:30 - 18:00 – Conferência de Agnaldo Farias Coordenação: Jorge Forbes

18:00 - 18:30 – Pontuações para concluir Ana Lydia Santiago

20:00 – Noite de Caldos : Empório da Fazendinha

Sexta 28 abril

22 23

Manhã Livre / Reuniões institucionais da EBP

13:00 – Almoço

14:00 – Questões de Escola Apresenta: Angelina Harari Coordena: Fernando Coutinho de Barros

15:00 - 16:30 – Conversação I : A Garantia na EBP e na América Apresentam: Elisa Alvarenga, Rômulo F. da Silva e Sérgio Laia Coordenação: Sandra Grostein

16:30 - 17:00 – Intervalo

17:00 - 18:00 – O ensino do passe na EBP Relatório do cartel do passe e informe do Colégio do passe Apresenta: Jésus Santiago Coordena: Ram Mandil

18:00 - 19:00 – O ensino dos AEs Apresenta: Luiz Fernando Carrijo da Cunha Comenta: Flory Kruger

19:00 - Jantar por Adesão Restaurante Tamboril - Instituto Inhotim

Sabado 29 abril

Foto

: Ped

ro M

otta

22 23

Domingo 30 abril09:30 - 10:30 – Conversação II : Situação da transferência em 2017 Apresenta: Heloísa Caldas, Elisa Alvarenga, Stella Gimenez, Nora Gonçalves, Cecília Ferretti, Vera Santana e Ruth Cohen Coordenação: Fernanda Otoni-Brisset

10:30 - 11:30 – Conversação III : O horizonte da psicanálise e seus pontos de fuga no século XXI Apresenta: Bernardino Horne, Carlos Augusto Nicéas, Sérgio de Campos, Romildo do Rego Barros, Renato Carlos Vieira, Cristiana Pittella e Margarida Assad Coordenação: Lucíola Freitas de Macêdo

11:30 - 12:30 – O ensino dos AEs Apresenta: Oscar Ventura Comenta: Marcus André Vieira

12:30 – Almoço

13:00 - 17:30 – Assembléia Geral da Escola Brasileira de Psicanálise

Foto

: Dan

iela

Pao

liello

24 25

PACOTE INHOTIMACOLHIMENTO E INFRAESTRUTURAA Comissão de Infraestrutura do XII Congresso de

Membros da EBP, dos muitos e variados apreços existentes em Minas, colheu na pequena cidade de Brumadinho o espaço para acolher nosso Congresso. Ali se localiza o Instituto Inhotim, que nos surpreende ao espalhar a céu aberto incríveis instalações de arte contemporânea e circuitos ambientais. A estrutura e a organização do espaço garantem um lugar singular, rompendo com a arquitetura e o modo de exposição convencionais.

Diz a lenda, fiel à mineiridade, que no século XIX um minerador chamado Timothy morou na região onde hoje fica o Inhotim. A comunidade dirigia-se a ele com Senhor Tim, mas como na boca dos mineiros as palavras acabam abreviadas, o senhor virou nhô – Nhô Tim. Embora a pitoresca anedota, sem comprovação histórica, revele a origem do nome do Instituto, o fato é que “o ar das gerais” está lá em toda parte. É dentro dessa atmosfera que estamos nos preparando para recebê-los.

A cada noite, propomos experiências diferentes: da roda de viola ao pé do fogão de lenha ao jantar por adesão no sofisticado Restaurante Tamboril, integrado aos jardins e ao acervo de arte da instituição. Tudo isso convida a um compartilhamento de experiências onde se misturam sofisticação e simplicidade. Assim, se de “Minas a gente não sabe”, aqui, onde “de Minas tudo é possível”, que cada colega viva as contradições do lugar, nessa “Minas sem mar”.

24 25

POUSADAS, TRANSFER E QUITANDASConstruímos junto com a “Ímpar Produtora de Eventos”,

nossa parceira, dois pacotes que apresentamos abaixo. Encontramos algumas pousadas aconchegantes e com estrutura adequada, no entanto não há disponibilidade de muitos quartos. Solicitamos aos colegas que priorizem a estadia em apartamentos duplos. A Ímpar Produtora de Eventos estará presente, junto com a secretária da EBP, e quem adquirir o seu pacote durante o XXI Encontro receberá um

desconto especial. Não perca esse trem!

Maria Rachel Botrel[Coordenadora da Comissão Infraestrutura]

26 27

Caro colega,

Gostaríamos de convidá-lo para o jantar por adesão que ocorrerá no dia 29 / 04, durante o XII Congresso de Membros da EBP. O Restaurante Tamboril, onde acontecerá o jantar, está localizado em meio à natureza exuberante e ao parque de esculturas, no Instituto Inhotim. O parque e o restaurante estarão abertos exclusivamente para aos que aderirem o jantar. Quem se dispuser a conhecer e desfrutar da culinária primorosa oferecida pelo Restaurante Tamboril, certamente encontrará um cardápio cuidadosamente elaborado e harmonizado com uma excelente carta de vinhos e cervejas. Aqueles que quiserem participar desse aprazível encontro com amigos à mesa, deverão realizar sua reserva até dia 15 de abril pelo E-mail: [email protected]

O valor: R$ 200,00

Atenciosamente, Equipe de acolhimento do XII Congresso de Membros da EBP

26 27

CARDÁPIO

Pães: Servidos no buffet: pães (pães de damasco, pão de nozes, grissini de alecrim) com geleia de pimenta, damasco e manteiga caseira aromatizada com ervas de Provence.

Saladas: Salada de folhas orgânicas com frutas da época e nozes, duas opções de quiches (alho poro, frango, lorraine), torta de figo, tomate assado no azeito balsâmico, salada caprese, cebola grelhada, tabule, quinoa, moranga assada, pera argentina cozida na polpa de maracujá, maça assado no mel de laranjeiras recheado com gorgonzola, vinagrete de frutas do mar, pastas de tomate seco, húmus, frutas da época, sete cerais, azeitonas em conserva, cestinha de queijo brie com geleia de pimenta, molhos de mostarda com mel e limão com azeite.

Pratos: Pernil de cordeiro no molho pesto, Chateau Briand ao molho poive, Pernil suíno, Galeto assado no molho de mexerica, Bobo de camarão, Bacalhau com queijo mozzarella, tomate cereja e alho poro, Penne mediterrâneo, Capelette de quatro queijos ao molho de tomate fresco, Risoto de rúcula e tomate seco, Panachê de legumes, batata portuguesa, arroz branco, feijão, queijo parmesão, batata palha.

Mesa de Sobremesa: Torta de banana com suspiro, tiramisu, torta de chocolate de origem, Trio Mineiro (Doce de leite, goiabada cascão e queijo minas), doce de figo, doce de abobora, tabua de queijos com geleias, frutas laminadas.

Serviço de vinhos: vinhos harmonizados com entrada e prato principal, acompanhada por serviço das melhores águas minerais brasileiras.

Serviço de bebidas: Cervejas Stella e Budweiser, refrigerantes em lata, à vontade.

Café: Café expresso de café mineiro, três intensidades.

28 29

INSCRIÇÃO XII CONGRESSO de MEMBROS da EBP

O nosso XII Congresso de Membros da EBP, que acontecerá nos dias 27 a 30 de abril de 2017, no Instituto Inhotim (Brumadinho- MG).

Não haverá inscrição no local.As inscrições deveram ser feitas mediante

depósito bancário identificado na conta da EBP:

BANCO BRADESCOVALOR: R$ 420,00AGÊNCIA: 0136CONTA: 0153953-1CNPJ: 03.688.674/0001-19.

Pedimos por gentileza enviar o comprovante para o e-mail: [email protected]

Aguardamos sua inscrição!!Equipe de acolhimento do XII Congresso de

Membros da EBP.

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

28 29

XIICongresso

de Membrosda EBP

Instituto InhotimBrumadinho – MG, Brasil

27 a 30 de abril 2017

Dese

jo e Auto

riza

cao

Dou

g A

itke

n, "

Soni

c Pa

vili

on",

Inh

otim

Cen

tro

de A

rte

Con

tem

porâ

nea,

Bru

mad

inho

, B

rasi

l

CARTAZ

30 31

30 31

32 33

32 33

34 PB