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Povo da Beira 19 de Julho de 2011 6 19 de Julho de 2011 Povo da Beira 7 Castelo Branco Castelo Branco E se lhe dissermos que 73 por cento dos residentes em Castelo Branco utilizam um transporte individual nas deslocações para a es- cola ou trabalho? E que 56 por cento das famílias têm pelo menos dois carros? E, finalmente, que, durante o ano lectivo, 12 mil alunos estão envolvidos na desloca- ção casa-escola em Castelo Branco, perfazendo um total de 16 mil pessoas se a estes somarmos os pais? Foi para promover pa- drões de mobilidade mais sustentáveis que a Câmara Municipal de Castelo Bran- co, na pessoa do seu pre- sidente, Joaquim Morão, tornou-se na segunda cidade portuguesa a assinar a Carta Municipal de Direitos dos Peões (a seguir a Lisboa), e a primeira a assinar a Carta Internacional da Pedona- lidade, denominada Carta Walk 21, que compromete os signatários a reduzir bar- reiras físicas, sociais e insti- tucionais que limitem andar a pé. A cerimónia encerrou o segundo e último dia do seminário “Sustentabilidade nas Deslocações Casa-Esco- la”, que decorreu nos dias 11 e 12 de Julho, na sala de conferências da Biblioteca Municipal de Castelo Bran- co. O autarca albicastren- se referiu que “as actuais condições de mobilidade na cidade não são compa- ráveis com as existentes no final do século passado, quer para os peões, quer para os automóveis”. Acrescentou, contudo, que foram come- tidos erros de planeamento urbano ao longo dos anos, “mas os peões têm direitos e temos de salvaguardar esses direitos”. Ainda assim, para Jo- aquim Morão, “os utentes do espaço público estão hoje muito melhor servidos”. Como exemplos referiu o aumento de espaço físico, a criação de espaços pedo- nais em largos, praças e ar- ruamentos, a construção de cerca de quatro quilómetros de ciclovias na cidade, e as diligências para que os pas- seios nunca tenham largura inferior a 2,5 metros. “É preciso fazer um trabalho sensibilização das pessoas para que deixem o automóvel de lado, princi- palmente os jovens, e criar condições de mobilidade, seja ao nível de transportes públicos ou de infra-estrutu- ras”, concluiu o autarca. Mário Alves, represen- tante português da organi- zação internacional Walk 21, e membro da direcção da Federação Internacional de Peões, realçou que “se a cidade quer incentivar o uso do transporte público, da bicicleta e o andar a pé, tem de diminuir o número de carros e a sua velocidade, porque as pessoas têm medo de andar de bicicleta”. Este responsável defen- deu também que a criação de vantagens na circulação em transporte público e bicicletas face ao transpor- te privado a motor poderá aumentar o número de uti- lizadores desses veículos e serviços. Tiago Carvalho Autarquia compromete-se a defender direitos dos peões Assinatura da Carta Walk 21 encerrou seminário sobre mobilidade Andar a pé na cidade é um hábito difícil de enraizar Joaquim Morão assina Carta Walk 21 Antes, no dia 11, foi apresentado o projecto “Deslocações para a escola na cidade de Castelo Bran- co. Por uma mobilidade mais sustentável”, coorde- nado por Rui Alves, docen- te e investigador da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESTCB). A investigação foi feita em parceria com alunos da Es- cola Secundária Amato Lu- sitano, que desenvolveram trabalhos e estudos sobre mobilidade. O projecto nasceu em 2010 e termina em No- vembro próximo, tendo fi- nanciamento da Fundação Calouste Gulbenkian. “A ESTCB desenvolve a parte técnica e científica, mas a maioria das actividades e iniciativas são desenvolvi- das por outras escolas”, afir- mou Rui Alves. O objectivo é reduzir os impactos am- bientais, económicos e so- ciais nas deslocações entre a casa e a escola, corrigindo padrões de mobilidade pou- co sustentáveis. Entre as activida- des realizadas contam-se workshops, websites, parti- cipações em conferências e congressos no estrangeiro, e formações sobre bicicletas. Rui Alves gostaria, aliás, que dentro de dez anos, vin- te por cento dos residentes em Castelo Branco utilizas- sem a bicicleta como meio de transporte no dia-a-dia. Contudo, Rui Alves reco- nhece dificuldades “em tra- balhar com as escolas, que estão atulhadas de projectos sem grande utilidade”. O responsável pela equipa deste projecto, que integra também Sérgio Bis- po e Maria Inês Calcinha, estranha a falta de aceitação e relevância social das ini- ciativas numa cidade “com três quilómetros, mas onde se utiliza frequentemente o carro sem necessidade”. Rui Alves salientou ain- da que “em países como os Estados Unidos, Inglater- ra e Alemanha já há uma ideia muito clara sobre esta questão, e cabe até às pró- prias escolas analisar os padrões de mobilidade dos seus alunos, com recurso a financiamento estatal ou de programas específicos. Mas em Portugal ainda estamos a iniciar a discussão”. O programa do semi- nário contou com cinco ses- sões temáticas, onde estive- ram presentes especialistas e instituições públicas com interesse na temática da mobilidade para as escolas e nas deslocações das crian- ças e dos adolescentes em meio urbano. “Em Castelo Branco utiliza-se o carro sem necessidade” Iniciativa da Associação Amato Lusitano é financiada pelo Programa Escolhas Projecto “A Vida a Cores” já ajudou 250 jovens a escolher a inclusão 250 crianças e jovens do concelho de Castelo Bran- co, a maioria proveniente de contextos socioeconó- micos desfavoráveis, já be- neficiaram do projecto para a inclusão social, cultural e profissional “A Vida a Co- res”, promovido pela Ama- to Lusitano – Associação de Desenvolvimento, sediada em Castelo Branco. Com uma média de idades entre os 12 e os 14 anos, estes jovens aderiram ao projecto a partir de 2010, após candidatura desta asso- ciação albicastrense à quarta geração do Programa Esco- lhas, tutelado pela Presidên- cia do Conselho de Minis- tros. Maria João Ferreira, coordenadora da Amato Lusitano, explica ao Povo da Beira que o envolvimen- to da associação aconteceu quando o Programa Esco- lhas, que começou por actu- ar ao nível da prevenção da criminalidade nos grandes centros urbanos, estendeu a sua actuação ao resto do país e à promoção da inclu- são social. “O público-alvo e abran- gência do programa muda- ram, até porque a prevenção da criminalidade também tem a ver com a inclusão. Portanto, é importante que esteja aberto a toda a comu- nidade, sobretudo a crianças e jovens em risco, imigrantes e minorias étnicas”, refere esta responsável. E como é de escolhas que se trata, Maria João Ferreira salienta que a fina- lidade do projecto “’A Vida a Cores’ é dar oportunida- des a estas crianças e jovens, em termos de competências e informação, para que pos- sam fazer as suas escolhas”. As várias actividades desenvolvidas apoiam-se numa vasta rede de parcerias com entidades do concelho de Castelo Branco, 32 no to- tal. Crianças e jovens podem frequentar oficinas de artes, actividades desportivas, ac- ções de inclusão escolar e digital, cursos de formação profissional, e, os mais cres- cidos, beneficiar de serviços de apoio à empregabilidade e empreendedorismo. Contudo, lembra a co- ordenadora da Amato Lu- sitano, “para trabalhar as crianças e jovens, também temos de trabalhar os pais”. Nesse sentido, a Escola Pa- rental, no seu segundo ano, continua a receber pais que procuram aumentar as suas competências nessa função; já a Escola Mul- ticultural, ajuda imigran- tes adultos na adaptação a Portugal. Associação participa em Roteiro da Inclusão O projecto “A Vida a Cores” tem pouco mais do que um ano, contudo, a Amato Lusitano não quis deixar de se associar às co- memorações do décimo aniversário do Programa Es- colhas, que estão a decorrer durante este mês. Assim, no passado sá- bado, dia 16 de Julho, parti- cipou numa iniciativa deno- minada Roteiro da Inclusão, em conjunto com os outros três projectos do distrito de Castelo Branco (são 131 a nível nacional): o Projecto Escol(h)a Viva, do Fundão, o Projecto Quero Saber, do Tortosendo, e o Projecto Arca de Talentos, da Covi- lhã. Durante todo o dia, 48 crianças fizeram um périplo de autocarro pelas quatro localidades participantes na iniciativa, com paragens es- tratégicas em jardins e pra- ças. “Pretendemos chamar a atenção para a exclusão social através de interven- ções artísticas e animação de rua, por isso escolhe- mos actuar em espaços pú- blicos”, disse Maria João Ferreira. Em Castelo Branco, o Parque da Cidade foi o lo- cal escolhido, e serviu de palco a actividades de músi- ca, dança e instalações para promover a inclusão. Tudo feito pelos jovens. Tiago Carvalho PUB

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Povo da Beira 19 de Julho de 20116 19 de Julho de 2011 Povo da Beira 7Castelo Branco Castelo Branco

E se lhe dissermos que 73 por cento dos residentes em Castelo Branco utilizam um transporte individual nas deslocações para a es-cola ou trabalho? E que 56 por cento das famílias têm pelo menos dois carros? E, finalmente, que, durante o ano lectivo, 12 mil alunos estão envolvidos na desloca-ção casa-escola em Castelo Branco, perfazendo um total

de 16 mil pessoas se a estes somarmos os pais?

Foi para promover pa-drões de mobilidade mais sustentáveis que a Câmara Municipal de Castelo Bran-co, na pessoa do seu pre-sidente, Joaquim Morão, tornou-se na segunda cidade portuguesa a assinar a Carta Municipal de Direitos dos Peões (a seguir a Lisboa), e a primeira a assinar a Carta

Internacional da Pedona-lidade, denominada Carta Walk 21, que compromete os signatários a reduzir bar-reiras físicas, sociais e insti-tucionais que limitem andar a pé.

A cerimónia encerrou o segundo e último dia do seminário “Sustentabilidade nas Deslocações Casa-Esco-la”, que decorreu nos dias 11 e 12 de Julho, na sala de conferências da Biblioteca Municipal de Castelo Bran-co.

O autarca albicastren-se referiu que “as actuais condições de mobilidade na cidade não são compa-ráveis com as existentes no final do século passado, quer para os peões, quer para os automóveis”. Acrescentou, contudo, que foram come-tidos erros de planeamento urbano ao longo dos anos, “mas os peões têm direitos e temos de salvaguardar esses direitos”.

Ainda assim, para Jo-

aquim Morão, “os utentes do espaço público estão hoje muito melhor servidos”. Como exemplos referiu o aumento de espaço físico, a criação de espaços pedo-nais em largos, praças e ar-ruamentos, a construção de cerca de quatro quilómetros de ciclovias na cidade, e as diligências para que os pas-seios nunca tenham largura inferior a 2,5 metros.

“É preciso fazer um trabalho sensibilização das pessoas para que deixem o automóvel de lado, princi-palmente os jovens, e criar condições de mobilidade, seja ao nível de transportes públicos ou de infra-estrutu-ras”, concluiu o autarca.

Mário Alves, represen-tante português da organi-zação internacional Walk 21, e membro da direcção da Federação Internacional de Peões, realçou que “se a cidade quer incentivar o uso do transporte público, da bicicleta e o andar a pé,

tem de diminuir o número de carros e a sua velocidade, porque as pessoas têm medo de andar de bicicleta”.

Este responsável defen-deu também que a criação de vantagens na circulação

em transporte público e bicicletas face ao transpor-te privado a motor poderá aumentar o número de uti-lizadores desses veículos e serviços.

Tiago Carvalho

Autarquia compromete-se a defender direitos dos peõesAssinatura da Carta Walk 21 encerrou seminário sobre mobilidade

Andar a pé na cidade é um hábito difícil de enraizar

Joaquim Morão assina Carta Walk 21

Antes, no dia 11, foi apresentado o projecto “Deslocações para a escola na cidade de Castelo Bran-co. Por uma mobilidade mais sustentável”, coorde-nado por Rui Alves, docen-te e investigador da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESTCB). A investigação foi feita em parceria com alunos da Es-cola Secundária Amato Lu-sitano, que desenvolveram trabalhos e estudos sobre mobilidade.

O projecto nasceu em 2010 e termina em No-vembro próximo, tendo fi-nanciamento da Fundação Calouste Gulbenkian. “A ESTCB desenvolve a parte técnica e científica, mas a maioria das actividades e iniciativas são desenvolvi-das por outras escolas”, afir-mou Rui Alves. O objectivo é reduzir os impactos am-bientais, económicos e so-ciais nas deslocações entre a casa e a escola, corrigindo padrões de mobilidade pou-co sustentáveis.

Entre as activida-des realizadas contam-se workshops, websites, parti-cipações em conferências e congressos no estrangeiro, e formações sobre bicicletas. Rui Alves gostaria, aliás, que dentro de dez anos, vin-

te por cento dos residentes em Castelo Branco utilizas-sem a bicicleta como meio de transporte no dia-a-dia. Contudo, Rui Alves reco-nhece dificuldades “em tra-balhar com as escolas, que estão atulhadas de projectos sem grande utilidade”.

O responsável pela equipa deste projecto, que integra também Sérgio Bis-po e Maria Inês Calcinha, estranha a falta de aceitação e relevância social das ini-ciativas numa cidade “com três quilómetros, mas onde se utiliza frequentemente o carro sem necessidade”.

Rui Alves salientou ain-da que “em países como os Estados Unidos, Inglater-ra e Alemanha já há uma ideia muito clara sobre esta questão, e cabe até às pró-prias escolas analisar os padrões de mobilidade dos seus alunos, com recurso a financiamento estatal ou de programas específicos. Mas em Portugal ainda estamos a iniciar a discussão”.

O programa do semi-nário contou com cinco ses-sões temáticas, onde estive-ram presentes especialistas e instituições públicas com interesse na temática da mobilidade para as escolas e nas deslocações das crian-ças e dos adolescentes em meio urbano.

“Em Castelo Branco utiliza-se o carro sem necessidade”

Iniciativa da Associação Amato Lusitano é fi nanciada pelo Programa Escolhas

Projecto “A Vida a Cores” já ajudou 250 jovens a escolher a inclusão

250 crianças e jovens do concelho de Castelo Bran-co, a maioria proveniente de contextos socioeconó-micos desfavoráveis, já be-neficiaram do projecto para a inclusão social, cultural e profissional “A Vida a Co-res”, promovido pela Ama-to Lusitano – Associação de Desenvolvimento, sediada em Castelo Branco.

Com uma média de idades entre os 12 e os 14 anos, estes jovens aderiram ao projecto a partir de 2010, após candidatura desta asso-ciação albicastrense à quarta geração do Programa Esco-lhas, tutelado pela Presidên-cia do Conselho de Minis-tros.

Maria João Ferreira, coordenadora da Amato Lusitano, explica ao Povo da Beira que o envolvimen-to da associação aconteceu quando o Programa Esco-lhas, que começou por actu-ar ao nível da prevenção da

criminalidade nos grandes centros urbanos, estendeu a sua actuação ao resto do país e à promoção da inclu-são social.

“O público-alvo e abran-gência do programa muda-ram, até porque a prevenção da criminalidade também tem a ver com a inclusão. Portanto, é importante que esteja aberto a toda a comu-nidade, sobretudo a crianças e jovens em risco, imigrantes e minorias étnicas”, refere esta responsável.

E como é de escolhas que se trata, Maria João Ferreira salienta que a fina-lidade do projecto “’A Vida a Cores’ é dar oportunida-des a estas crianças e jovens, em termos de competências e informação, para que pos-sam fazer as suas escolhas”.

As várias actividades desenvolvidas apoiam-se numa vasta rede de parcerias com entidades do concelho de Castelo Branco, 32 no to-

tal. Crianças e jovens podem frequentar oficinas de artes, actividades desportivas, ac-ções de inclusão escolar e digital, cursos de formação profissional, e, os mais cres-cidos, beneficiar de serviços de apoio à empregabilidade e empreendedorismo.

Contudo, lembra a co-ordenadora da Amato Lu-sitano, “para trabalhar as crianças e jovens, também temos de trabalhar os pais”. Nesse sentido, a Escola Pa-rental, no seu segundo ano, continua a receber pais que procuram aumentar as suas competências nessa função; já a Escola Mul-ticultural, ajuda imigran-tes adultos na adaptação a Portugal.

Associação participa em Roteiro da Inclusão

O projecto “A Vida a Cores” tem pouco mais do que um ano, contudo, a

Amato Lusitano não quis deixar de se associar às co-memorações do décimo aniversário do Programa Es-colhas, que estão a decorrer durante este mês.

Assim, no passado sá-bado, dia 16 de Julho, parti-cipou numa iniciativa deno-minada Roteiro da Inclusão, em conjunto com os outros três projectos do distrito de Castelo Branco (são 131 a nível nacional): o Projecto

Escol(h)a Viva, do Fundão, o Projecto Quero Saber, do Tortosendo, e o Projecto Arca de Talentos, da Covi-lhã.

Durante todo o dia, 48 crianças fizeram um périplo de autocarro pelas quatro localidades participantes na iniciativa, com paragens es-tratégicas em jardins e pra-ças. “Pretendemos chamar a atenção para a exclusão social através de interven-

ções artísticas e animação de rua, por isso escolhe-mos actuar em espaços pú-blicos”, disse Maria João Ferreira.

Em Castelo Branco, o Parque da Cidade foi o lo-cal escolhido, e serviu de palco a actividades de músi-ca, dança e instalações para promover a inclusão. Tudo feito pelos jovens.

Tiago Carvalho

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