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Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo

Simone Perptua Costa do Prado

MODELO DE IMPLANTAO DE SISTEMA DA QUALIDADE BASEADO NO PROCESSO DE CERTIFICAO SIQ-CONSTRUTORA COMO ALAVANCAGEM DA GESTO E MELHORIA CONTNUA NA EMPRESA DE CONSTRUO CIVIL UM ESTUDO DE CASO

Dissertao de Mestrado

Florianpolis 2003

PRADO, Simone Perptua Costa do. Modelo de Implantao de Sistema da Qualidade baseado no processo de certificao SIQ-Construtora como alavancagem da gesto e melhoria contnua na Empresa de Construo Civil: um estudo de caso./ Simone Perptua Costa do Prado Florianpolis, 2003. 130f. Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo. Quality System Implantation Model Based On Quality Certification Process "Siq-Construtora" As Leverage of Management and Continuous Improvement in Civil Engineering Construction. Palavras-chave: 1. Qualidade; 2. Gesto: Melhoria Construo Civil, Certificao SIQ-Construtora-PBQP-H. Contnua; 3.

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SIMONE PERPTUA COSTA DO PRADO

MODELO DE IMPLANTAO DE SISTEMA DA QUALIDADE BASEADO NO PROCESSO DE CERTIFICAO SIQ-CONSTRUTORA COMO ALAVANCAGEM DA GESTO E MELHORIA CONTNUA NA EMPRESA DE CONSTRUO CIVIL UM ESTUDO DE CASODissertao apresentada ao curso de

Engenharia da Produo, da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito bsico obteno do ttulo de mestre. Orientador: Prof. Mrcio de Souza Pires, PhD.

Dissertao de Mestrado

Florianpolis 2003

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Simone Perptua Costa do Prado

MODELO DE IMPLANTAO DE SISTEMA DA QUALIDADE BASEADO NO PROCESSO DE CERTIFICAO SIQ-CONSTRUTORA COMO ALAVANCAGEM DA GESTO E MELHORIA CONTNUA NA EMPRESA DE CONSTRUO CIVIL UM ESTUDO DE CASO

Esta dissertao foi julgada e aprovada para a obteno do grau de Mestre em Engenharia de Produo no Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianpolis, 22 de dezembro de 2003._________________________________

Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. Coordenador do PPGEP

BANCA EXAMINADORA:

__________________________Prof. Mrcio de Souza Pires, PhD Universidade Federal de Santa Catarina Orientador

__________________________ Prof. Renan Billa, PhD Universit de France Comte-Frana Avaliador

____________________________ Prof. Elaine Gomes Assis, PhD. Universidade Federal de Uberlndia Avaliadora

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DEDICATRIA

A Deus, que est sempre comigo; aos meus pais, Sebastio e Miriam (in memorian), pelo muito que me proporcionaram, dando-me a oportunidade de ser quem sou; minha irm, Cntia, pelo apoio e carinho, sem os quais no teria conseguido concretizar esse trabalho; ao meu Tio Francisco e amigos pelo apoio e pacincia.

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AGRADECIMENTOS

Ao prof. Mrcio Souza Pires, pela sublime contribuio, bem como a incondicional orientao que em muito auxiliou na concluso do presente trabalho; Empresa pesquisada, onde tenho tido um grande aprimoramento pessoal e profissional, pelas oportunidades, por acreditarem em meu potencial, pelo reconhecimento de meu trabalho; s amigas guida e Roseli, pela agradvel convivncia, companheirismo e incentivo; Uniminas que em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, concretizaram a realizao do Mestrado distncia em Uberlndia/MG.

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RESUMOPrado, Simone Perptua Costa do. Modelo de implantao de sistema da qualidade baseado no processo de certificao SIQ-Construtora como alavancagem da gesto e melhoria contnua na empresa de construo civil um estudo de caso. Florianpolis, 2003. 130p. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) - Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC.

Nas ltimas dcadas, o interesse relativo gesto da qualidade tem sido crescente. A construo civil, em particular, desde o incio dos anos 90, tem se mostrado comprometida com o movimento pela qualidade. Este trabalho analisa o desenvolvimento de um modelo de implantao de sistema da qualidade baseado no processo de certificao da qualidade SIQ-Construtora como alavancagem da gesto e melhoria contnua na empresa de construo civil. Uma das estratgias utilizadas para a gesto dessas empresas e melhoria de seus processos consiste na implantao de sistemas evolutivos de certificao baseados na srie de normas ISO 9.000, adaptados s empresas de construo. O programa em estudo refere-se ao PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitao, cujo objetivo promover a melhoria da qualidade e o aumento da produtividade no setor da construo civil, buscando o aumento da competitividade dos bens e servios produzidos. Os procedimentos metodolgicos fazem uso de pesquisa bibliogrfica, documental e estudo de caso. Os objetivos especficos para o estudo propem: (a) expor os aspectos gerais da teoria necessria compreenso de algumas bases fundamentais relacionadas com o Sistema de Gesto da Qualidade na Construo Civil; (b) expor as peculiaridades das empresas de construo civil necessidade de organizao e gesto; (c) com base nos suportes tericos fundamentais, estruturar o modelo proposto para implementao do processo de certificao, norma SIQConstrutora como alavancagem para a gesto da empresa e melhoria contnua; (d) aplicar o modelo proposto em uma empresa do setor de construo civil; (e) avaliar os resultados obtidos com a aplicao do modelo proposto.

Palavras-chave: 1. Qualidade; 2. Gesto: Melhoria Contnua; 3. Construo Civil, Certificao SIQ-Construtora-PBQP-H.

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ABSTRACTPrado, Simone Perptua Costa do. Quality System Implantation Model Based On Quality Certification Process "Siq-Construtora" As Leverage Of Management And Continuous Improvement In Civil Engineering Construction. Florianpolis, 2003. 130p. Essay (Masters in Production Engineering) - Postgraduate Program in Production Engineering, UFSC. Florianpolis.

Over the past decades, the concern related to quality management has been growing continuously, and since the early 90s the civil engineering construction field has shown commitment to it. This paper analyses the development of a quality system implantation, based on the SIQ Construtora quality certification process, as a management and improvement tool for the civil engineering construction business. One of the strategies used to manage and improve these companies and their processes is the implantation of evolutive certification systems based on ISO 9000 adapted to civil engineering construction. This study refers to PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitao Brazilian Habitation Quality and Productivity Program) which promotes quality improvement and productivity growth of the civil engineering construction field as a path to greater competition.The methodological procedures used in this paper were case studies, bibliographical and documental research. The specific goals that this paper sets are: (a) to explain the general doctrinaire aspects of the civil engineering construction quality management system; (b) to show the peculiarities of the civil engineering construction business and its organization and management needs; (c) to structure a model, based on the previously explained doctrinaire aspects, that implements the SIQ- Construtora certification process as a mean to continuous management improvement; (d) to employ this model in a (real) civil engineering construction company;(e) to evaluate the results that were obtained by the model application.

Key words: 1. Quality; 2. Management: continuous improvement; 3. Civil Engineering Construction, SIQ-Construtora-PBQP-H.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Figura 02: Figura 03: Figura 04: Figura 05: Figura 06: Figura 07: Figura 08: Figura 09: Figura 10: Figura 11: Figura 12: Figura 13: Figura 14: Figura 15: Figura 16: Figura 17: Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21

Fluxograma para controle da qualidade certificao da conformidade ................................................................................. Montagem do Sistema da Qualidade pela empresa .................... Tomada de deciso sobre necessidade de programa de gesto ... Processo gerao projetos de obras: forma coordenada e simultnea ..................................................................................... Processo de compra de materiais e construo de subempreiteiros .............................................................................. Ciclo PDCA de Controle de Processo ........................................... Conceito de Melhoria Contnua PDCA .......................................... Organograma da Empresa Viso Tradicional (Vertical) .............. Questionrio - Deciso sobre necessidade de um Sistema Gesto Organograma Coordenao da Qualidade .................................. Macro-fluxo de processo real da Empresa ................................... Macro-fluxo do processo ideal da empresa .................................. Estrutura de Documentao do Sistema da Qualidade ............... Matriz de Integrao de Processos Fase 1 ............................... Matriz de Integrao de Processos Fase 2 ............................... Matriz de Integrao de Processos Fase 3 ............................... Matriz de Integrao de Processos Fase 4 ............................... Relao de documentos x aplicabilidade treinamento .............. FIS Ficha de Inspeo de Servio .............................................. Formulrio de Ao Preventiva ...................................................... Formulrio de Tratamento de No-Conformidade ..........................

36 46 47 50 51 63 64 89 91 96 99 100 104 105 105 106 106 111 112 113 114

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Servios Controlados SIQC subsetor de edificaes Tabela 02: Materiais controlados subsetor de edificaes ............ Tabela 03: Resultado Percentuais/Conceitos x Planos de Ao ....... Tabela 04: Tabulao do Questionrio ............................................. Tabela 05: Confronto percentuais atingidos x aes a serem tomadas ........................................................................... Tabela 06: Check list Requisitos SIQ-Construtora ...........................

43 43 80 92 93 101-102

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Nveis de Qualificao ..................................................... Quadro 02: Lista de Servios Controlados ......................................... Quadro 03: Habilidades bsicas e Normas comportamentais ........... Quadro 04: Modelo MISQ-GMC Mtodo Implementao do Sistema da Qualidade e sua relao com a Gesto e melhoria contnua ........................................................................... Quadro 05: Cronograma de aplicao das fases do Modelo .............. Quadro 06: Requisitos SIQ-C x Grupos para anlise ......................... Quadro 07: Relao dos servios controlados procedimentos operacionais ................................................................... Quadro 08: Relao dos materiais controlados ................................. Quadro 09: Relao dos procedimentos do sistema da Qualidade ...

40-41 41-42 61 78-79

90 101 108 109 110

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LISTA DE GRFICOS

Grfico 01: Grfico 02: Grfico 03: Grfico 04:

Evoluo da participao relativa construo civil no PIB brasileiro ......................................................................... Populao ocupada na construo civil e participao relativa do setor na populao ocupada brasileira .......... ndice encadeamento por setor 1995 .............................. Grfico Resultado Anlise Deciso por um Sistema de Gesto ............................................................................

18 19 20 92

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SUMRIO

Resumo ...................................................................................................................... Abstract ...................................................................................................................... Lista de Figuras ........................................................................................................... Lista de Tabelas .......................................................................................................... Lista de Quadros .......................................................................................................... Lista de Grficos .......................................................................................................... Lista de Abreviaturas e Siglas ...................................................................................... Sumrio ........................................................................................................................

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INTRODUO ...................................................................................................................................... 14 1.1 APRESENTAO E RELEVNCIA DO TEMA ........................................................................................ 14 1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................ 15 1.3 O PAPEL DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL NO CONTEXTO NACIONAL ........................................... 18 1.4 OBJETIVOS .................................................................................................................................... 21 1.4.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 21 1.4.2 Objetivos Especficos............................................................................................................ 21 1.5 METODOLOGIA ............................................................................................................................... 21 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................................. 23 1.7 LIMITAES DO TRABALHO ............................................................................................................. 24 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................................................................ 25 2.1 GESTO DA QUALIDADE .................................................................................................................. 25 2.2 ELEMENTOS E DIMENSES DO SISTEMA DE GESTO DA QUALIDADE ................................................... 27 2.3 SISTEMA ISO 9000 DE GESTO DA QUALIDADE E SUA APLICAO NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ........................................................................................................................................................... 30 2.4 SISTEMAS DE CERTIFICAO DA QUALIDADE NA CONSTRUO CIVIL ................................................ 37 2.5 REFERENCIAIS DE IMPLEMENTAO DE PROGRAMAS DE QUALIDADE NA CONSTRUO CIVIL ............. 45 2.6 MUDANA ORGANIZACIONAL ........................................................................................................... 54 2.7 MELHORIA CONTNUA DE PROCESSOS............................................................................................. 57 2.8 CICLO PDCA CONTROLE E MELHORIA DE PROCESSOS ................................................................. 61 2.9 FERRAMENTAS DA QUALIDADE ........................................................................................................ 64 2.10 CONCLUSES DO CAPTULO ......................................................................................................... 66 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................................................... 68 3.1 A PESQUISA ................................................................................................................................... 68

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3.2 CLASSIFICAO DA PESQUISA ......................................................................................................... 68 3.3 CAMPO DE ESTUDO E INTERESSE DOS ENVOLVIDOS .......................................................................... 70 3.4 POPULAO PESQUISADA, COLETA DOS DADOS ............................................................................... 70 3.4.1 Populao pesquisada.......................................................................................................... 70 3.4.2 Fontes de evidncia .............................................................................................................. 72 3.4.3 Coleta de dados princpios ................................................................................................ 75 3.5 O MODELO PROPOSTO ................................................................................................................... 77 3.5.1 Modelo MISQ-GMC Modelo de Implementao do Sistema da Qualidade Gesto e Melhoria Contnua.......................................................................................................................... 77 3.6 O DESENVOLVIMENTO DAS FASES DO MODELO ............................................................................... 79 3.6.1 FASE 1 Deciso por um modelo de Gesto...................................................................... 79 3.6.2 FASE 2 Responsveis pelo desenvolvimento do Sistema de Gesto da Qualidade........ 80 3.6.3 FASE 3 Poltica e objetivos da qualidade .......................................................................... 81 3.6.4 FASE 4 Lanamento da poltica da qualidade e do sistema de gesto da qualidade ...... 82 3.6.5 FASE 5 Treinamento qualidade......................................................................................... 82 3.6.6 FASE 6 Anlise das interfaces entre as reas mapeamento dos processos................. 82 3.6.7 FASE 7 Anlise de requisitos da norma SIQ-C ................................................................. 83 3.6.8 FASE 8 Documentao do sistema da qualidade ............................................................. 84 3.6.9 FASE 9 Padronizar e procedimentar o sistema de gesto da qualidade .......................... 84 3.6.10 FASE 10 Implementao do sistema de gesto da qualidade........................................ 85 3.6.11 FASE 11 Auditoria do sistema de gesto da qualidade .................................................. 86 3.6.12 FASE 12 Anlise crtica do sistema da qualidade ........................................................... 86 4 MODELO PROPOSTO ...................................................................................................................... 88 4.1 CARACTERIZAO DA ORGANIZAO .............................................................................................. 88 4.2 APLICAO DO MODELO MISQ-GMC MODELO DE IMPLEMENTAO DO SISTEMA DA QUALIDADE GESTO E MELHORIA CONTNUA ........................................................................................................... 89 4.2.1 FASE 1 Deciso por um modelo de Gesto...................................................................... 90 4.2.2 FASE 2 Responsveis pelo desenvolvimento do Sistema de Gesto da Qualidade........ 95 4.2.3 FASE 3 Poltica e Objetivos da Qualidade ........................................................................ 96 4.2.4 FASE 4 Lanamento da Poltica da Qualidade e do Sistema de Gesto da Qualidade ... 97 4.2.5 FASE 5 Treinamento qualidade......................................................................................... 97 4.2.6 FASE 6 Anlise das interfaces entre as reas mapeamento do Processo .................... 98 4.2.7 FASE 7 Anlise dos requisitos da Norma SIQ-C............................................................. 100 4.2.8 FASE 8 Documentao do sistema da qualidade ........................................................... 103 4.2.9 FASE 9 Padronizar e procedimentar o Sistema de Gesto da Qualidade...................... 104 4.2.10 FASE 10 Implantao do sistema de gesto da qualidade ........................................... 107 4.2.11 FASE 11 Auditoria do sistema de gesto da qualidade ................................................ 115 4.2.12 FASE 12 Anlise crtica da administrao..................................................................... 115

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5 CONCLUSES E RECOMENDAES.......................................................................................... 119 5.1 RESULTADOS ............................................................................................................................... 119 5.1.1. Melhorias identificadas na Empresa .................................................................................. 119 5.1.2 Dificuldades para implementao do modelo proposto...................................................... 120 5.2 SOBRE OS OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................. 122 5.2.1 Objetivo geral ...................................................................................................................... 122 5.2.2 Objetivos especficos .......................................................................................................... 122 5.3 RECOMENDAES ........................................................................................................................ 124 5.4 LIMITAES DO MODELO PROPOSTO ............................................................................................ 124 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................................................... 126

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INTRODUO

1.1 Apresentao e Relevncia do Tema procura de novas formas para aperfeioar a gesto organizacional e melhorar o desempenho deve estar em consonncia com a estratgia e metas da Organizao. O desempenho organizacional resultado de todos os esforos e atividades realizadas dentro da empresa. Esses esforos implicam em inmeras aes que interagem entre si, tanto no mbito interno quanto externo da Organizao. Segundo Costa (2002), os principais problemas do modelo organizacional costumam estar nas prticas operacionais em vigor, no em informaes inditas sobre o mercado. A implantao do Sistema da Qualidade em uma empresa de construo civil tem como objetivo assegurar que seus processos e produtos satisfaam s necessidades e s expectativas dos clientes externos e internos. Uma das estratgias utilizadas para a gesto dessas empresas e melhoria de seus processos consiste na implantao de sistemas evolutivos de certificao, baseados na srie de normas ISO 9000, adaptados s empresas de construo. O programa em estudo refere-se ao PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Habitao), cujo objetivo promover a melhoria da qualidade e o aumento da produtividade no setor da construo civil, buscando o aumento da competitividade dos bens e servios produzidos. O PBQP-H garante s empresas um atestado do seu grau de qualificao em cada etapa do processo produtivo, conforme seu nvel de evoluo, em 4 estgios: D, C, B e A, denotando grau crescente de qualificao atravs do SIQ (Sistema Integrado de Qualificao). O SIQ tem como referncia a norma ISO 9000, com o estabelecimento de servios e materiais especficos controlados. O PBQP-H um

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projeto da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano Secretaria de Poltica Urbana e foi aprovado pela Comisso Nacional em 23/03/2001. Os prazos para vigncia do SIQ-Construtora vm sendo negociados, por Estado, junto s empresas e associaes/entidades do setor da construo civil, e formalizados por meio da assinatura de Acordos Setoriais da Qualidade. A partir dos prazos estabelecidos nos Acordos, ser exigido o atestado de qualificao do PBQP-H das empresas construtoras que se habilitarem a obter crditos para construo junto Caixa Econmica Federal. Esta realidade no setor de construo civil vem ao encontro do crescente grau de exigncia do cliente. Representa uma oportunidade da implementao de um sistema de gesto de qualidade diminuir desperdcios, capacitar a mo de obra e incentivar os fornecedores no desenvolvimento de produtos normatizados, a fim de diminuir os custos, e no final, obter uma obra de qualidade.

1.2 JustificativaSegundo Thomaz (1993), a indstria da Construo Civil apresenta

caractersticas muito particulares que a diferencia das indstrias com sede fixa, equipamentos e fora de trabalho bem definida. De acordo com Meseguer (1991), as principais caractersticas da construo civil so: a construo uma indstria de carter nmade; cria produtos nicos de baixa repetitividade; no possvel aplicar a produo em linha (produtos passando por operrios fixos), mas sim, a produo concentrada (operrios mveis em torno de um produto fixo); a construo uma indstria tradicional com grande resistncia a alteraes; utiliza processos artesanais com pouco investimento em tecnologia; utiliza-se mo-de-obra intensiva e pouco qualificada, o emprego desses trabalhadores geralmente tem carter eventual e suas possibilidades de promoo so pequenas, o que gera baixa motivao no trabalho; a construo, de maneira geral, realiza grande parte dos seus trabalhos sob intempries, ao ar livre;

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o produto com vida longa tem as avaliaes dos clientes ao longo dos anos; utiliza insumos muito variados, estimam-se cerca de 13.000 a 15.000 itens; os trabalhos so realizados com boa dose de perigo, escavaes, trabalhos em locais altos; so empregadas especificaes complexas, muitas vezes conflitantes e confusas; as responsabilidades so dispersas e pouco definidas; o grau de preciso com que se trabalha na construo , em geral, muito menor do que em outras indstrias, qualquer que seja o parmetro que se contemple: medidas, oramento, prazo, resistncia mecnica etc. A qualidade na construo civil influenciada por vrios agentes. necessrio estabelecer uma relao de interao entre eles de forma que se consiga estabelecer uma viso integrada de todo o processo para evitar no-conformidades. O setor da construo civil formado por uma cadeia produtiva bastante complexa e heterognea. Ela conta com diversidade de agentes intervenientes e de produtos parciais criados ao longo do processo de produo, produtos que incorporam diferentes padres de qualidade e que iro afetar a qualidade do produto final. Thomaz (2001) apresenta os diversos agentes intervenientes no processo ao longo de suas vrias etapas: os usurios (que variam de acordo com o poder aquisitivo), as regies do Pas e a especificidade das obras (habitaes, escolas, hospitais, edifcios comerciais, industrias e de lazer etc); os agentes responsveis pelo planejamento do empreendimento, que podem ser agentes financeiros e promotores, rgos pblicos, clientes privados e incorporadores, alm dos rgos legais e normativos envolvidos, dependendo do tipo de obra a ser executada; os agentes responsveis pela etapa de projeto: empresas responsveis por estudos preliminares (sondagem, topografia etc), projetistas de arquitetura, calculistas estruturais, projetistas de instalaes, alm de rgos pblicos ou privados responsveis pela aprovao e coordenao do projeto;

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os fabricantes de materiais de construo, constitudos pelos segmentos industriais, produtores de insumos, envolvendo a extrao e o beneficiamento de minerais, a indstria de produtos minerais nometlicos (cermica, cimento, cal etc), de ao para construo, de metais no-ferrosos, de madeira, de produtos qumicos e de plsticos para a construo; os agentes envolvidos na etapa de execuo das obras: empresas, construtoras, subempreiteiros, profissionais autnomos, autoconstrutores, laboratrios, empresas gerenciadoras e rgos pblicos ou privados responsveis pelo controle e fiscalizao das obras; os agentes responsveis pela manuteno e operao das edificaes ao longo da sua fase de uso: proprietrios, usurios e empresas especializadas em operao e manuteno. Melhorar o padro de qualidade na construo civil representa envolver os agentes intervenientes do processo e gerar o comprometimento de todos com a qualidade dos seus produtos e servios vinculados qualidade final da edificao, visando a satisfao do cliente. Outro aspecto a destacar na construo civil o alto ndice de desperdcios. De acordo com Souza & Paliari (1998) as causas principais dos altos ndices de desperdcios esto relacionados com materiais, projetos e especificaes, superviso tcnica, gerenciamento da obra entre outros. Pode-se destacar tambm o tempo produtivo de oficiais e serventes. Segundo Vargas (1997), esse tempo fica abaixo dos 40%. Diante desse contexto e destacando as caractersticas a seguir, que foi decidido o problema da pesquisa: grande nmero de agentes intervenientes no processo; nmero elevado de materiais e insumos; desperdcios altos; grande diversidade de servios e equipes; nmero relativamente alto de subempreiteiros. De maneira geral, os fatores acima citados motivaram a realizao desse trabalho envolvendo as seguintes variveis: a necessidade de organizao, gesto e melhoria de processos atravs do uso da norma SIQ-Construtora como guia

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gerencial das prticas organizacionais, do planejamento e das tcnicas de controle da qualidade de produtos e servios.

1.3 O papel da indstria da construo civil no contexto nacionalA Construo Civil representa um importante setor na economia nacional, ela responde diretamente por uma parcela significativa e crescente da produo na economia, o PIB Produto Interno Bruto. Em 2002, o PIB cresceu 1,52% em volume, conforme divulgao do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). A variao do PIB resultado do crescimento de 1,84% no valor adicionado aos preos bsicos e da queda de 0,98% nos impostos sobre produtos. Crescido 1,42%. No ano passado, foi registrado crescimento da agropecuria (5,79%), dos servios (1,49%) e da indstria (1,52%). No ltimo trimestre de 2002, o PIB brasileiro cresceu 0,72% em relao ao perodo imediatamente anterior, liderado pela indstria (1,92%), agropecuria (0,%) e servios (0, 20%). Na comparao com o ltimo trimestre de 2001, o PIB registrou crescimento de 3,44%, com destaque para a indstria (6,92%), agropecuria (3,43%) e servios (1,68%). Na indstria, um dos melhores desempenhos foi o da construo civil, com expanso de 6, 24% em relao ao quarto trimestre de 2001. O Grfico 01 apresenta a participao da Construo Civil no PIB.

Grfico 01: Evoluo da participao relativa da construo civil no PIB brasileiro.Fonte: 1970-1979: Anurio Estatstico do Brasil (IBGE, 1990); 1980 1990: Anurio Estatstico do Brasil (IBGE, 1991); 19911998: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Departamento de Contas Nacionais (IBGE, 2000).

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Refletindo sua participao no PIB, a construo civil tem um importante papel na gerao de empregos e de renda, sendo responsvel por pouco mais de seis por cento da populao ocupada no pas em 1998 (GRFICO 02). O setor se destaca pela demanda intensa de atividades de mo-de-obra para empregos de baixa qualificao, atendendo as camadas mais carentes da sociedade.

Grfico 02: Populao ocupada na construo civil e participao relativa do setor na populao ocupada brasileira.Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Departamento de Contas Nacionais (IBGE, 2000).

A construo civil gera riquezas em uma ampla e complexa cadeia de fornecedores devido demanda de inmeros insumos. Oriundas da indstria da construo, outras riquezas so geradas nos servios de comercializao, manuteno e explorao das construes, especialmente no setor imobilirio. Segundo trabalho realizado pela Trevisan Consultores (1998), a construo civil pode ser considerada um setor tipo locomotiva, uma vez que demanda, para trs na cadeia produtiva, inmeros insumos e servios. Utilizando dados de 1995, a Trevisan Consultores (1998) aponta a construo como o quarto setor da economia nacional em termos de encadeamento de negcios, ou seja, de gerao de riquezas a montante e a jusante da atividade do setor (GRFICO 03). Nesse mesmo ano, o setor gerou negcios para seus fornecedores (encadeamento para trs) da ordem de quarenta e oito bilhes de reais; e, para frente, o setor gerou pouco mais de cinco bilhes em negcios.

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Grfico 03: ndice de encadeamento por setor em 1995.Fonte: TREVISAN CONSULTORES. Simulaes Setoriais para a Economia Brasileira. 1998-2002: Data Analisys, 1998.

Outra caracterstica importante do setor da construo que a grande maioria das matrias-primas e dos insumos demandados so disponveis e produzidos no pas, e este fator faz com que a atividade econmica gerada no setor tenha pouco impacto nas importaes brasileiras. Ao mesmo tempo em que promove o crescimento da atividade produtiva da construo, contribuindo, significativamente, para o crescimento nacional, com a gerao de infra-estrutura e de novas habitaes e locais de trabalho, alm da criao de novos postos de trabalho. Desse modo, partindo do contexto onde est inserida a Indstria da Construo Civil no Brasil, a elaborao do presente trabalho decorre do seguinte questionamento: Os princpios relacionados com a organizao, gesto e melhoria de processos em empresas de construo civil podem ser assegurados e implementados de forma eficiente atravs de um processo de certificao da qualidade?

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1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo Geral O objetivo deste estudo a aplicao de um modelo de implementao do processo de certificao do sistema da qualidade em uma empresa de construo civil e a verificao dos resultados alcanados em relao a alavancagem da gesto da empresa e melhoria contnua. 1.4.2 Objetivos Especficos Expor os aspectos gerais da teoria necessria compreenso de algumas bases fundamentais relacionadas com o Sistema de Gesto da Qualidade na Construo Civil; expor as peculiaridades das empresas de construo civil a necessidade de organizao e gesto; com base nos suportes tericos fundamentais, estruturar o modelo proposto para implementao do processo de certificao norma SIQ-Construtora como alavancagem para a gesto da empresa melhoria contnua; aplicar o modelo proposto em uma empresa do setor de construo civil; avaliar os resultados obtidos com a aplicao do modelo proposto.

1.5 MetodologiaO presente trabalho tem como metodologia cientfica para coleta de dados o Estudo de Caso. O estudo de caso, segundo Carvalho (1994), constitui um meio para coletar dados, preservando o carter unitrio do objeto a ser estudado. Segundo Yin (1988), a definio do mtodo a ser usado vai de encontro anlise das questes que so colocadas para investigao. Dessa forma, este mtodo adequado para responder s questes como e por que, que so questes explicativas e tratam de relaes operacionais que ocorrem ao longo do tempo mais do que freqncias ou incidncias. A preferncia pelo mtodo de estudo de caso neste trabalho ocorreu pela capacidade de poder lidar com uma completa variedade de evidncias como documentos, artefatos, entrevistas e observaes e por tratar de

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situaes onde os comportamentos relevantes no podem ser manipulados, mas possvel se fazer observaes diretas e entrevistas sistemticas (YIN, 1988). A coleta de dados neste trabalho tem como objetivo, no a quantificao, ou enumerao, mas a compreenso, que apresentada, segundo Bonoma (1981), pela descrio, classificao (desenvolvimento e tipologia), desenvolvimento terico e teste limitado da teoria. A unidade de anlise foi uma empresa do setor de construo civil situada em Uberlndia/MG. Ela atua na realizao, na modalidade de construo por incorporao. pequena, com cerca de 30 a 60 profissionais entre engenheiros, mestres de obra, pedreiros, serventes, empreiteiros e profissionais das reas administrativas. A empresa detentora de capital prprio e responsvel por todas as fases do empreendimento desde a concepo ou viabilidade at execuo e venda do produto final. Os motivos para escolha destas empresas foram: facilidade de acesso aos dados e conhecimento do processo pela pesquisadora; empresa participante do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat SIQ Construtora; apresentao de caractersticas especficas de contratao e desenvolvimento de empreendimentos. Os dados foram obtidos atravs de observaes diretas da pesquisadora no perodo de 2001 a 2003, de entrevistas com mestres de obras, engenheiros, diretores, encarregados, pedreiros, serventes e, tambm, atravs de consultas aos registros contratuais, de processos, em arquivo eletrnico e em documentos. A seqncia de atividades estabelecida para a metodologia adotada faz parte do Projeto de Pesquisa para utilizao do estudo de caso e composta pelos seguintes estgios de acordo com Bonoma (1985): 1. Estgio Inicial: corresponde a aprendizagem dos conceitos relativos ao caso, estudo da literatura relacionada ao caso e busca de uma primeira noo sobre a operao do fenmeno estudado e dos componentes da prtica observada. constitudo um projeto preliminar. 2. Estgio do Projeto: representa o acesso e o refinamento das reas importantes sugeridas pelo projeto preliminar. A habilidade crtica do investigador possibilita que os dados colhidos, posteriormente, possam

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ser analisados frente ao estgio preliminar se os conceitos iniciais no atendam a nova situao ou haja necessidade de melhores conceitualizaes. 3. Estgio da Predio: ocorre do meio para o final do projeto de pesquisa do estudo de caso. J existe o modelo sugerido das generalizaes para teste e compreenso dos fatores observados em campo. Os fatores so agrupados e avaliados frente s predies/proposies iniciais. 4. Estgio da Desconfirmao: consiste na testagem adicional dos limites de generalizaes no rejeitadas no estgio inicial. 5. Validade: de acordo com Sykes (1990), a validade refere-se ao tipo e preciso da informao obtida das amostras e a avaliao da validade deve ser feita luz do propsito do trabalho de investigao. O tipo de validade utilizada para o trabalho a externa, a qual, segundo Yin (1988), estabelece domnio para o qual as descobertas do estudo podem ser generalizadas, e pode ser obtida pela replicao da pesquisa. No estgio inicial da pesquisa foi realizado o levantamento dos conceitos literrios aplicados pesquisa. Foram estudados os termos e peculiaridades da indstria da construo civil. Foram definidas as fases para desenvolvimento e implementao do modelo proposto. O modelo proposto foi testado atravs do estudo de caso e os resultados foram validados.

1.6 Estrutura do TrabalhoO trabalho foi estruturado em cinco captulos com o objetivo de maximizar a compreenso do tema abordado. O primeiro captulo apresenta de forma sucinta uma explanao sobre o tema, as justificativas, a problemtica que levam ao estudo em questo, a metodologia utilizada, a estrutura do trabalho e as limitaes do trabalho. O segundo captulo apresenta o referencial terico como base conceitual do trabalho. Na seqncia da estruturao da apresentao so abordados conceitos bsicos e gerenciais do sistema de gesto, elementos e dimenses do sistema de gesto da qualidade, sistema ISO 9000 de Gesto da Qualidade e sua aplicao na Indstria da Construo Civil, sistemas de certificao da qualidade na Construo

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civil, os referenciais de implementao de programas de qualidade na Construo Civil, mudana organizacional, melhoria Contnua de Processos e ciclo PDCA, uso de ferramentas da qualidade. No terceiro captulo apresentada uma proposta da metodologia para implementao de processos de certificao em empresas de Construo Civil voltados para a alavancagem da gesto da empresa e melhoria contnua. No quarto captulo apresentada a aplicao do modelo atravs de sua implantao em uma Empresa de Construo Civil. No quinto captulo so apresentados as consideraes finais e os resultados obtidos, bem como recomendaes para futuras pesquisas.

1.7 Limitaes do TrabalhoEste trabalho limita-se a uma avaliao da aplicao da metodologia de estudo de caso a uma empresa de construo civil observando as caractersticas de sua gesto. Quanto avaliao dos resultados esta foi apenas parcial, uma vez que no passou muito tempo entre a aplicao e avaliao do modelo.

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2 REFERENCIAL TERICO

2.1 Gesto da qualidadeOs primeiros movimentos pela qualidade no setor da construo civil brasileira surgiram de forma mais organizada no incio dos anos 90, a partir das grandes empresas do mercado imobilirio e da construo pesada. Souza (1996) explica que a construo possui caractersticas prprias que dificultam a utilizao das teorias relativas qualidade. Entre as caractersticas peculiares da construo civil cita: o carter nmade da indstria da construo; a execuo de produtos nicos; a impossibilidade do emprego de produo em cadeia (produtos passando por operrios fixos), mais empregos de produo centralizada (operrios mveis em torno de produto fixo); a inrcia s alteraes da indstria da construo; a utilizao de mo-de-obra intensiva e pouco qualificada; e, o grande grau de impreciso caracterstico dessa indstria. A crescente competio no mercado de construo e a valorizao do papel dos clientes na economia nacional motivaram vrias empresas de construo para mudanas como a implantao de inovaes tcnicas e organizacionais em seus processos. Destacam-se a implantao de programas de gesto e de certificao da qualidade. So caractersticas desses programas: a padronizao, o controle e a melhoria dos processos produtivos. Segundo Richard (2002), a maioria dos que atuam na rea da construo tm percebido que a conquista de novas obras est cada vez mais difcil e o lucro das obras tem sido baixo frente ao grande esforo despendido. Pode-se observar, tambm, que os contratos esto cada vez mais claros e completos, quando se vence uma concorrncia j est estipulado o valor mximo que vai se receber pela execuo da obra e dificilmente se conseguir qualquer tipo de acordo durante a sua execuo para melhorar o resultado final. O autor relata que para se planejar bem uma obra e or-la, adequadamente, preciso ter tempo, critrios e prioridades.

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Conhecer bem os mtodos e processos construtivos outro fator importante, isso favorece a agilidade e flexibilidade na elaborao do planejamento executivo e financeiro da obra. Os resultados de obras no oradas corretamente so: dificuldade na contratao de bons parceiros no prazo necessrio; grande desgaste com os clientes; desconhecimento dos custos que esto por vir (uma vez que no foram totalmente previstos); atrasos na execuo; desmotivao da equipe da obra e desentendimento entre reas da organizao. Novos materiais, tecnologias e formas de se executar atividades tm surgido no mercado e requerido conhecimento do assunto. Alm do conhecimento tcnico, fundamental o conhecimento de formas de gesto das pessoas, visto que a execuo de obras est basicamente focada nos relacionamentos entre pessoas. As grandes construtoras esto terceirizando a execuo de suas obras e passando a atuar como gerenciadoras. A qualidade, ainda, segundo Richard (2002), o caminho para se ter melhores resultados na construo. preciso estar voltado para resultados; avaliar o que a execuo de obras ir trazer para a organizao; treinar os gerentes que atuaro na obra em tcnicas de gesto. A gesto da qualidade pode ser vista na abordagem organizacional focada na produo de produtos e nos servios de alta qualidade. Juran (1997, p.14-15) d tratamento ao tema considerando o desempenho da gerncia para a qualidade. Para ele A gerncia para a qualidade feita utilizando-se (...) trs processos gerenciais de planejamento, controle e melhoramento. Esses processos so apresentados com o ttulo de Trilogia Juran Para Gerenciamento da Qualidade. Notam-se na trilogia a seqncia processual e a dependncia de cada passo em relao ao anterior. Quando trata da responsabilidade pela gerncia de qualidade, Juran (1997) coloca em dvida quem deve assumi-la. Ao que lhe parece no h uma resposta bvia para esta questo. Paladini (2000, p.31) aborda o assunto em questo pelo ttulo de Gesto da Qualidade. Em seu texto surge mais uma palavra associada as duas j existentes: total, Paladini trata da Gesto da Qualidade e da Gesto da Qualidade Total, expondo que torna-se difcil diferenci-las. Para que isso ocorra, necessrio que

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haja distino quanto ao que seja qualidade e qualidade total; rigorosamente, em sua opinio, no h nada que a noo desta ltima acrescente da primeira. Em sua concluso, isso mostra que, corretamente definida, a qualidade uma questo abrangente, muito ampla, o que lhe permite um questionamento: existe qualidade que no seja total?. Segundo Paladini (2000, p.12-13), a Gesto da Qualidade vivel, produz benefcios, gera mudanas positivas, cria novas prioridades, gera condies de competitividade. Por outro lado, a experincia dessas realizaes alertam para o ambiente extremamente dinmico em que estamos inseridos, o qual requer aes sempre mais adequadas a nveis crescentes de eficincia (recursos, processos, servios, mtodos...) e de eficcia (produtos, mercados, sociedade, meio-ambiente). Para Gil (1997, p.25), A gesto empresarial deve gerir com qualidade a qualidade dos processos e resultados das linhas de negcios/produtos/servios organizacionais.. Quando usada adequadamente dentro da empresa a gesto da qualidade constitui parte integrante da mesma e no considerada um programa isolado.

2.2 Elementos e dimenses do sistema de gesto da qualidadeGarvin (1987) considera quatro elementos principais que integram todos os programas de Gesto da Qualidade bem sucedidos: liderana, envolvimento dos funcionrios, excelncia de produtos/servios e clientes. De acordo com o autor o significado desses elementos na gesto da qualidade so: Liderana: constitui o principal alicerce para o desenvolvimento e implementao do programa de gesto da qualidade. Quando bem conduzido o programa envolve toda a empresa transcendendo as reas tradicionais. Portanto, so necessrios a viso, o planejamento e a comunicao, cuja responsabilidade da alta administrao. Uma das formas da alta administrao demonstrar o seu comprometimento com o programa pode ser a incorporao da gesto da qualidade na estratgia global da empresa, demonstrando atravs de ao e palavras que qualidade a prioridade nmero um da empresa.

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Envolvimento dos funcionrios: atravs do envolvimento dos funcionrios nos processos de tomada de deciso a administrao pode-se receber contribuies importantes para soluo de problemas, j que os funcionrios tm a vantagem de conhecimento e experincia. O elemento-chave para o envolvimento conhecido do funcionrio qualidade e que cada a trabalhador grupos de assuma a responsabilidade de inspecionar a qualidade de seu prprio trabalho, isto como estende-se trabalhos, departamentos, fornecedores e os servios da organizao.

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Excelncia de produto/ processo: inclui a qualidade do projeto do produto e a anlise do modo de falhas e tambm o Controle Estatstico de Processo (CEP) e outras ferramentas analticas. O controle do processo est relacionado ao monitoramento da qualidade quando o produto est sendo produzido ou servio est sendo prestado. Outro aspecto para excelncia do produto/processo refere-se a melhoria contnua cujo significado geral um esforo continuado para melhorar todas as partes da organizao e todas as sadas.

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Foco no cliente: importante considerar os nveis de qualidade aceitveis, isto , um produto no confivel a menos que o cliente diga que ele o , e um servio no rpido a menos que o cliente diga que ele o . Isto requer que o marketing diga exatamente o que o cliente quer e que os projetistas desenvolvam um produto ou servio que possa ser produzido de forma a alcanar conformidade com o nvel de qualidade desejado. Para que isto ocorra so necessrios: definio operacional de qualidade, entendimento de suas dimenses e processo para incluir a voz do cliente naquelas especificaes. A qualidade de um produto ou servio pode ser definida pela qualidade de seu projeto e pela qualidade de sua conformidade com o projeto. Tal qualidade refere-se s caractersticas do produto que determinam seu valor no mercado e a qualidade de conformidade define se o produto atende s especificaes do projeto. Tanto a qualidade do projeto quanto a conformidade devem fornecer produtos que atendam aos objetivos do cliente para o produto.

Muitas empresas hoje reconhecem o valor da utilizao da qualidade como uma arma estratgica ofensiva. Com essa abordagem as empresas so capazes de identificar novos nichos de mercado como tambm aumentar sua participao nos

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mercados conquistados. Segundo Garvin (1987) preciso entender que h mais de uma dimenso na qual possvel focar, pois algumas delas podem at ser conflitantes. As dimenses demonstram que a qualidade pode ser definida de muitas formas e que as empresas podem utilizar-se da qualidade como uma vantagem competitiva. O autor identificou oito dimenses da qualidade diferentes nas quais uma empresa pode competir: desempenho, caractersticas, confiabilidade, conformidade, durabilidade, servio, esttica e qualidade percebida. A seguir apresenta-se uma breve explicao sobre cada uma delas: desempenho: a medida das principais caractersticas de operao de um produto; caractersticas: as caractersticas so os sinos e apitos oferecidos por um produto, embora no sejam os aspectos de operao principais de um produto, elas podem ser importantes para o cliente; confiabilidade: refere-se a probabilidade de um produto falhar em um tempo especificado, ela freqentemente medida como o tempo mdio entre falhas (MTBF) ou a taxa de falha por unidade de tempo ou outra medida de uso; durabilidade: refere-se vida operacional esperada de um produto; conformidade: a conformidade de um produto com suas especificaes planejadas orientada, principalmente pelo processo. Cujo processo, reflete o modo como o produto e seus componentes individuais atendem aos padres estabelecidos; servio: relaciona-se com a velocidade que um produto pode ser reparado e com a competncia e a cortesia associada ao reparo; esttica: aparncia do produto; qualidade percebida: est diretamente relacionada reputao da empresa que fabrica o produto; os clientes confiam fortemente no desempenho e na reputao da empresa que produz o produto. A qualidade em servios tambm apresenta dimenses especficas, as quais contribuem para o nvel de qualidade do servio que uma empresa oferece aos seus clientes. Os autores Parasuraman (et. al., 1986) identificaram dez dimenses, conforme a seguir: tangibilidade: evidncias fsicas do servio; confiabilidade: consistncia do desempenho do servio;

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receptividade: disposio e/ou prontido dos funcionrios para prestar um servio; competncia: relacionada s habilidades e ao conhecimento dos trabalhadores para realizar o servio apropriadamente; cortesia: polidez, respeito, considerao e ao comportamento amigvel do pessoal que est em contato com o cliente; credibilidade: caractersticas de confiana, possibilidade de acreditar e honestidade do trabalhador que presta o servio; segurana: iseno de qualquer perigo, risco, ou problema; acesso: acessibilidade e facilidade do contato; comunicao: constitui em apresentar a informao que o cliente precisa; compreenso a respeito do cliente: esforo feito pelo trabalhador que realiza o servio para entender as necessidades especficas de cada cliente.

As dimenses especficas da qualidade dos servios nas empresas so determinadas pela misso e objetivos pretendidos.

2.3 Sistema ISO 9000 de Gesto da Qualidade e sua Aplicao na Indstria da Construo CivilOs padres da qualidade srie ISO 9000 referem-se ao conjunto de padres internacionais para a documentao dos processos que uma organizao utiliza para produzir seus produtos e servios. O objetivo dos padres ISO 9000 satisfazer os requisitos de garantia da qualidade do cliente da organizao e aumentar o nvel de confiana do cliente na organizao de seus fornecedores. Quando as organizaes dispem de um modo objetivo para avaliarem a qualidade dos processos de seus fornecedores, o risco de fazer negcios com os mesmos reduzido de forma significativa. Quando as normas de qualidade esto realmente padronizadas, as empresas compradoras podem ter mais confiana de que as empresas fornecedoras produziro produtos e servios que satisfaro suas necessidades. O Brasil possua at 1996 cerca de 4400 certificados emitidos dos quais aproximadamente 1% se referia ao setor da construo civil. De acordo com Souza (1996), nos ltimos anos o movimento pela certificao ISO 9000 vem ganhando

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corpo no setor, liderado por empresas construtoras tanto da rea imobiliria quanto na rea industrial e de obras pblicas. Segundo este mesmo autor, para a construo civil, o fundamental de um sistema da qualidade no seguir rigidamente os tpicos das Normas ISO, e sim, demonstrar o atendimento aos mesmos, desenvolvendo sistemas da qualidade adequados ao setor de construo civil o mais eficazes quanto possveis. As normas ISO Srie 9000 procuram analisar o conceito qualidade de forma sistmica considerando as interfaces presentes nas empresas desde a definio da idia at a concretizao do produto, considerando ainda os fatores materiais (insumos bsicos, equipamentos, processos); humanos (treinamento, remunerao, motivao) e gerenciais (responsabilidades, custos, comunicao etc.) que nelas interferem (THOMAZ, 2001). Representam um guia para implantao da qualidade em qualquer setor produtivo alm de poder orientar as relaes comerciais entre produtores e consumidores (THOMAZ, 2001). O mundo da construo est evoluindo de forma muito rpida: o nmero de materiais e tcnicas cresce continuamente. Algumas caractersticas da indstria da construo civil, segundo Picchi (1993) so: grande nmero de intervenientes; diversidade de servios e equipes; variedades de materiais e insumos; desperdcios altos; indstria mvel sujeita a uma srie de tribulaes; incidncia relativamente alta de problemas patolgicos; nmero relativamente alto de subempreiteiros com excessiva delegao de responsabilidade para o bom funcionamento do processo de construir. Essas caractersticas requerem esforos de organizao e gerenciamento, e as normas ISO sobre gesto da qualidade se encaixam bem. Quanto maior a complexidade da organizao maior a necessidade de adoo de um sistema de gesto nos moldes da ISO 9000. Sob o aspecto da organizao da empresa, seja de projetos, de construo ou de servios, a norma ISO perpassa praticamente todos os setores da organizao abrangendo tpicos sobre marketing, planejamento,

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compras, produo e outros. Assim sendo, a norma pode servir como guia para elaborao do sistema da qualidade da empresa (THOMAZ, 2001). Quanto ao aspecto ligado s relaes com o mercado, onde se tem de um lado fornecedores de materiais ou servios e do outro lado clientes, as normas ISO 9000 podem orientar a preparao dos contratos enfocando a correta definio dos requisitos de produto/servio encomendados, das condies gerais de fornecimento e da prpria forma da garantia da qualidade (THOMAZ, 2001). Outros aspectos ligados ao sistema de gesto interna da indstria de construo civil ressaltam: importncia do planejamento: conforme Bonilha (1980), enquanto os japoneses despendem 1 ano para planejar e seis meses para construrem uma obra, o Brasil planeja em 1 ms e constri em 1 ano e conserta por tempo indeterminado; importncia da Engenharia de produtos e concepo dos projetos: as falhas de concepo repercutem conseqncias mais graves que as noconformidades localizadas, de materiais ou de servios. Segundo boletim da CEB, 1982 Comit Euro International du Beton (apud THOMAZ, 2001) todo o processo de construo interdependente, no se pode assegurar a qualidade de uma obra se uma das atividades for desconsiderada.; importncia do registro, circulao e guarda de informaes: as empresas de construo geralmente no constroem uma memria tcnica, as sadas de funcionrios como engenheiro ou mestres de obra podem significar perda de informaes valiosas para a empresa (THOMAZ, 1993); nfase nas anlises crticas, realimentaes e prevenes de falhas; melhor prevenir que buscar solues para problemas posteriores (THOMAZ, 2001). Os principais conceitos e filosofias registrados na norma ISO 9000 so apresentados por Thomaz (2001, p.54):Qualidade - uma organizao deve: atingir e manter a qualidade dos produtos necessidades dos clientes (Implcitas ou Explicitas); atendendo as

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prover confiana sua prpria administrao no sistema da qualidade; prover confiana aos consumidores no Sistema da Qualidade.

a) Examinar quanto definio do modelo do sistema da Qualidade Custos do sistema, benefcios e confiana para as partes: capacidade tcnica e organizacional dos fornecedores para gerir sua poltica da qualidade. as formas de garantia de qualidade para produtos e fornecedores devem ser estabelecidas com clareza no contrato de fornecimento.

b) Contratos: -

c) Proceder anlise de riscos considerando implicaes de parcial utilizao de produtos no conformes considerando: definio do sistema de inspeo; critrios de aceitao e rejeio em funo do potencial do defeito; utilizao de ferramentas estatsticas que auxiliam a anlise de riscos.

d) Documentao de todos os elementos do Sistema da Qualidade e demonstrao externa da qualidade auditadas por equipes independentes. e) O contrato final entre clientes e fornecedores deve ser bem entendido e aceito por ambas as partes, incluindo-se eventualmente requisitos suplementares.

O conjunto das normas ISO 9000 representado pela Garantia da Qualidade, segundo Ary (1985), o sistema de garantia da qualidade visa assegurar que todas as atividades que possam influenciar o desempenho final de uma obra sejam: baseados em requisitos claramente definidos (condies tcnicas, operacionais, legislao, meio ambiente, local da obra); desenvolvida atravs de planos de pessoal competentes; executadas de acordo com especificaes e instrues por escrito; verificadas e documentadas de forma objetiva. Ainda, de acordo com Ary (1985), para assegurar a qualidade, as etapas devem ser controladas; importante identificar os itens que podem causar a grande maioria de problemas, que geralmente so poucos, assim como, concentrar neles os esforos e tcnicas, principalmente as ligadas preveno de falhas. As normas srie ISO 9000 so guias gerenciais que destacam as prticas organizacionais, do planejamento e das tcnicas de controle da qualidade de produto ou servio. A denominao certificao de sistemas da ISO 9000 nas empresas compreende (THOMAZ, 2001, p.77):

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verificao do sistema da qualidade; verificao da documentao; processos de compras, controles de custos etc; verificao da estabilidade dos processos de produo atravs de auditorias; verificao da eficincia (eliminao de desperdcios, retrabalho etc).

Uma das formas que contribuem para a garantia da qualidade de um processo o uso de procedimentos de auditoria. Sobre a mesma, Crosby (1999, p.89) assim se expressa: Poucas funes so mais comentadas e menos compreendidas. Para ele um instrumento valioso quando corretamente realizada. Define-a como um exame planejado de uma funo, executado pela determinao da conformidade com os procedimentos em curso, ou pela anlise crtica do produto ou servio resultante do processo.. Sobre o tema auditoria, Juran (1997, p.297) assim se expressa: A experincia tem mostrado que os sistemas de controle esto sujeitos a escorreges de todas as espcies. Visto que, a auditoria tem sido a ferramenta principal para se proteger um sistema de controle contra a deteriorao. Juran (1997, p.320) afirma que uma auditoria de qualidade uma reviso independente do desempenho de qualidade e tem sido tradicionalmente usada visando saber: a) se os produtos esto em conformidade com as especificaes; b) se as operaes [esto] em conformidade com os procedimentos. Aos nveis gerenciais superiores, de acordo com as afirmaes de Juran, as auditorias tm como objeto conseguir respostas para saber se: a) a qualidade da empresa prov a satisfao com o produto aos clientes; b) se a qualidade da empresa competitiva com o alvo mvel do mercado; c) se a empresa est cumprindo com as responsabilidades para com a sociedade; d) se a empresa est fazendo progressos na reduo do custo da m qualidade; e) se as polticas e metas de qualidade da empresa so adequadas sua misso; f) se a colaborao entre os departamentos funcionais adequada para assegurar a otimizao do desempenho da empresa. Ishikawa (1993, p.192-193) cita duas formas de auditoria relacionando-as qualidade: a) auditoria de controle de qualidade; e b) auditoria de qualidade. Embora semelhantes, possuem algumas diferenas. Havendo possibilidade, ambas devem ser conduzidas lado a lado. Prosseguindo na diferenciao das duas auditorias, Ishikawa afirma que a auditoria da qualidade compartilha algumas semelhanas

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com a inspeo, enquanto que a auditoria de CQ parece-se muito com o controle de processo. Para este mesmo autor, as auditorias podem ser realizadas por profissionais da prpria empresa (auditoria interna) ou por pessoal externo (terceiros). As entidades certificadoras devem ser previamente credenciadas pelo INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Indstria, sendo esses processos conduzidos com base nas diretrizes ISO (ABNT ISO/IEC, 1997). Segundo Thomaz (2001), no Brasil a indstria da construo civil no possui tradio no campo da organizao e gerenciamento de obras, as normas ISO podem representar excelente alavancagem para o desenvolvimento da construo. Alm disso a indstria da construo brasileira prescinde ainda de boas tcnicas de projeto e execuo de obras. Observa-se que qualquer programa de produtividade e qualidade na construo civil brasileira deve atacar de frente trs problemas vitais: relao capital/trabalho, profissionalizao da mo de obra e segurana no trabalho. Isso confirmado a seguir: o indicador de desperdcio na construo civil aponta cerca de 30% (PICCHI, 1993); somente 40% do tempo na construo empregado em atividades produtivas (VARGAS, 1997); enquanto o consumidor brasileiro no tinha noo dos seus direitos e a especulao financeira sobrepujava a indstria da construo, os custos da improdutividade eram transferidos aos consumidores (THOMAZ, 2001). Na dcada de noventa, de acordo com pesquisa realizada em nove regies metropolitanas do Pas, a construo civil foi campe de acidentes de trabalho revelando (THOMAZ, 2001): em 1990 registraram-se 148.000 ocorrncias de acidentes de trabalho, cerca de 21% do total de acidentes de todos os setores do Brasil. Com a assinatura da Norma NR18 Norma Regulamentadora do Ministrio do Trabalho em julho de 1995, houve uma melhora quanto segurana nos canteiros de obra (FUNDACENTRO, 1998). Segundo Farah (1993), quatro estratgias adotadas pelas empresas de construo na dcada de oitenta, incidem diretamente sobre o processo de trabalho:

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adoo de novos elementos construtivos; aumento da subcontratao; transferncia de uma frao do processo produtivo para o setor de materiais; aumento da produtividade atravs da reduo de erros e minimizao de perdas e tempos ociosos. Segundo Thomaz (2001), o fluxograma demonstra o processo para controle da qualidade e certificao da conformidade da construo civil (Figura 01):Controles internos Controle Externo recebimento do produto pelo proprietrio, usurio ou prepostos.

Controle de recursos humanos sade treinamento informao motivao

Controle de insumos projetos materiais equipamentos procedimentos

Auditoria Interna reportando-se presidncia ou a diretoria

Controle da ProduoAuto-controle executados diretamente pelos trabalhadores Controle por superviso executados por mestres e encarregados Controle interno independente Equipe de CQ, desvinculada da Produo Certificao da Conformidade executada por equipes externas e independentes

Fluxograma para controle da qualidade e certificao da conformidade

Figura 01: Fluxograma para controle da qualidade e certificao da conformidadeFonte: FARAH, M.F.S. Estratgias empresariais e mudanas no processo de trabalho na construo habitacional do Brasil. In: Avanos em tecnologia e gesto da produo de edificaes ENTAC 93. Anais, p.581-590. Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo. So Paulo, 1993.

Todos esses recursos tcnicos e viso sistmica oferecidos pelo Sistema da Qualidade, baseados na norma ISO 9000, contribuem para a organizao e gerenciamento das empresas de construo civil. Atualmente programas nacionais como QUALIHAB E PBQP-H fundamentam-se em princpios de qualidade do Sistema ISO 9000.

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2.4 Sistemas de Certificao da Qualidade na Construo CivilNo Brasil (PRADO, 2002), a disseminao da certificao ocorreu frente a um movimento em favor da qualidade. Esse movimento originou alguns programas, destacando-se os seguintes: PBQP - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade; PBQP-H - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat QUALIHAB Programa de Qualidade na Habitao da Cia. Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo; PQF - Programa de Qualificao de Fornecedores (ICQ BRASIL, 2002). Especificamente no setor da Construo Civil destaca-se o QUALIHAB e o PBQP-H. Em 25 de novembro de 1996, foi assinado, pelo Governo de So Paulo, o Decreto n 41.7 que instituiu o Programa QUALIHAB (Programa da Qualidade da Construo Habitacional do Estado de So Paulo) e os acordos setoriais. Desta forma, foi implantado o primeiro modelo de qualidade para melhorar o setor. Este acordo envolvia 22 entidades de classe, diversos construtores e fabricantes de materiais coordenados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo (CDHU), responsvel pela compra das unidades habitacionais, cujas operaes englobavam recursos por volta de um bilho de reais por ano (PRADO, 2002). O governo federal percebendo a necessidade do setor da construo civil em minimizar problemas como: a baixa produtividade; a m qualidade de produtos intermedirios e finais da cadeia produtiva, os quais geram elevados custos de correes e manuteno ps-entrega; a falta de conhecimento do mercado consumidor e as altas incidncias de impostos desestimulando o uso mais intensivo de componentes industrializados, decide por implementar um programa nacional que abrange todos estes aspectos, propondo a unificao do Pas, institui o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PRADO, 2002). Em 18 de dezembro 1998, atravs da Portaria n 134, do ento Ministrio do Planejamento e Oramento, o PBQP-H foi criado. Foi realizada no ano 2000 uma ampliao do escopo do Programa, o qual passou a integrar o Plano Plurianual "Avana Brasil" (PPA) englobando, tambm, as reas de Saneamento, Infra-

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estrutura e Transportes Urbanos. Assim, o "H" do Programa passou de "Habitao" para "Habitat", este conceito reflete melhor a nova rea de atuao. Hoje, o PBQP-H est formalmente inserido como um dos programas do Plano Plurianual 2000-2003 (PPA) "Avana Brasil", e tambm um dos instrumentos do Governo Federal para cumprimento dos compromissos firmados pelo Brasil quando da assinatura da Carta de Istambul (Conferncia do Habitat II 1996). A longo prazo o PBQP-H tem como objetivo propiciar a melhoria da qualidade no habitat e a modernizao produtiva, bem como, por meio de uma isonomia competitiva buscar solues de melhor qualidade mais baratas para o dficit habitacional do Brasil (PBQP-H, 2003). O PBQP-H um programa que possui as seguintes caractersticas:adeso voluntria respeitando as caractersticas dos setores industriais envolvidos e as desigualdades regionais; tem o objetivo futuro de ser integralmente assumido pelo setor privado; procura estimular o uso mais eficiente dos recursos existentes, das distintas fontes (FGTS, poupana etc.) e aplicados por diversas entidades (CAIXA, BNDES, FINEP, SEBRAE, SENAI etc.) no utilizando novas linhas de financiamento; criao e estruturao de um novo ambiente tecnolgico e de gesto para o setor (gesto e organizao de recursos humanos, qualidade, suprimentos, das informaes e dos fluxos de produo e gesto de projetos).

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Uma das aes do PBQP-H corresponde a implementao do Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras (SIQ-Construtoras) no Pas. O SIQConstrutoras tem como objetivo estabelecer o referencial tcnico bsico do sistema de qualificao evolutiva, adequado s caractersticas especficas das empresas construtoras atuantes no subsetor de edifcios. Conforme o PBQPH (2003) atravs de um agente certificador credenciado s empresas recebem um atestado do seu grau de qualificao em cada etapa do processo produtivo, conforme seu nvel de evoluo, em 4 estgios: D, C, B e A, denotando grau crescente de qualificao. Este atestado obtido pela realizao de auditorias, nos requisitos exigidos nas normas do SIQ-Construtoras, que so baseadas no modelo ISO-9000. O Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras (SIQ) foi institudo pela Portaria n. 67, de 21 de novembro de 2000 e parte integrante do PBQP-H. De acordo com os Requisitos SIQ Construtoras 190401.doc 12/04/2004, o SiQConstrutoras possui carter evolutivo, estabelecendo nveis de qualificao

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progressivos, segundo os quais os sistemas de gesto da qualidade das empresas construtoras so avaliados e classificados. O SiQ-Construtoras se baseia nos seguintes princpios:a) Referencial da srie de normas ISO 9.000, em sua verso de 1994; b) Carter evolutivo: o referencial estabelece nveis de qualificao progressivos, segundo os quais os sistemas de gesto da qualidade das empresas so avaliados e classificados; c) Carter pr-ativo, no sentido que estas obtenham o nvel de qualificao almejado; d) Carter Nacional: o Sistema nico e se aplica a todos os tipos de contratantes (pblicos municipais, estaduais, federais ou privados) e a todas as obras de edifcios, em todo o Brasil; e) Flexibilidade: o Sistema se baseia em requisitos que possibilitam a adequao ao Sistema de empresas de diferentes regies de acordo com as diferentes tecnologias desde que atuem na construo de edificaes; f) Sigilo: as informaes das empresas so tratadas em carter confidencial; g) Transparncia: quanto aos critrios e decises tomadas; h) Independncia: dos envolvidos nas decises; i) Carter pblico: o Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras disponibiliza a relao de empresas qualificadas, divulgando a todos os interessados e sem fim lucrativo; j) Harmonia com o SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial: toda qualificao atribuda pelo Sistema ser executada por organismo credenciado pelo INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial atribuindo certificados de sistemas da qualidade por ele reconhecido (com base na srie de normas ISSO 9.000, em sua verso de 1994). Os Atestados de Qualificao para os diversos nveis s tm validade se emitidos por Organismos de Certificao Credenciados (OCCs), autorizados pela Comisso Nacional (CN) do SIQ.

O quadro 01 Nveis de Qualificao, a seguir, demonstra os requisitos do sistema de gesto da qualidade baseados na NBR ISO 9000:1994, bem como o carter evolutivo do SIQ-C (PBQP-H, 2003). De acordo com o SIQ-C a empresa construtora deve manter uma lista de servios controlados que execute e que considera crtico para a qualidade do produto final, abrangendo no mnimo os servios abaixo (SIQ-C PBQP-H).

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Quadro 01: Nveis de QualificaoSIQ-Construtora ITEM REQUISITO 1.1. Poltica da Qualidade 1.2. Representante da administrao 1. Responsabilidade da direo 1.3. Responsabilidade, autoridade e recursos 1.4. Anlise crtica da direo 2.1. Sistema evolutivo 2.2. Planejamento de desenvolvimento e implantao do Sistema 2.3. Manual da qualidade e procedimentos 2.4. Plano da Qualidade de Obras 3. Anlise crtica de contrato 4. Controle de Projeto 5. Controle de documentos e dados 6.1. Materiais controlados 6.2. Dados para aquisio 6. Aquisio 6.3. Qualificao e avaliao de fornecedores 6.4. Verificao do produto adquirido 7. Controle de produtos fornecidos pelo cliente 8. Identificao e rastreabilidade 9. Controle de processo 8.1. Identificao 8.2. Rastreabilidade 9.1. Condies controladas 9.2. Servios de execuo controlados 10.1. Inspeo e ensaios no recebimento 10. Inspeo e ensaios 10.2. Inspeo e ensaios durante o processo 10.3. Inspeo e ensaios finais 11. Controle de equipamentos de inspeo, medio e ensaios 12. Situao de inspeo e ensaios 13. Controle de produto no conforme 14. Ao corretiva e ao Preventiva 14.1. Ao corretiva 14.2. Ao preventiva I I I I I I I I I II II II I (Item no aplicvel) I I I I II II I I I II III I I I I I I II III III III I I I I I I I I I I I I D I I I Nveis de qualificao C II I I B III I I I I I I I I A IIII I I II I I I II I

2. Sistemas da Qualidade

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Continuao...

Quadro 01: Nveis de Qualificao15.1. Controle do manuseio e armazenamento de materiais 15. Manuseio, armazenamento, 15.2. Proteo dos servios executados embalagem, preservao e entrega 15.3. Entrega da obra e Manual do Proprietrio 16. Registros da qualidade 17. Auditorias internas da qualidade 18. Treinamento 19. Servios associados 20. Tcnicas estatsticas I I I I I I I I I I I I I

Nota: as indicaes "II", III ou "IIII" significam que o item ou requisito exige o desenvolvimento de novos procedimentos entre diferentes nveis de qualificao. No texto dos requisitos, encontra-se indicado o que deve ser estabelecido em cada nvel, entendendo-se como evolutivo (o nvel mais avanado inclui as exigncias de todos os nveis anteriores).Fonte: PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat. Anexo III itens e requisitos do sistema de qualificao de empresas de servios e obras SIQ-C, segundo a NBR ISO 9000:1994. Braslia: 2002c. Disponvel em: . Acesso em: 17 abr. 2003.

Esta lista deve ser representativa dos sistemas construtivos por ela empregados nos tipos de obras cobertos pelo Sistema da Qualidade (SIQ-C PBQP-H). A partir dessa lista de servios controlados, a empresa construtora deve preparar uma segunda lista, de materiais, que podem afetar a qualidade tanto dos servios como do produto final. Desta lista de materiais controlados devem fazer parte, no mnimo, trinta materiais. So os seguintes os servios obrigatoriamente controlados, segundo a etapa da obra (Quadro 02): Quadro 02: Lista de Servios Controlados Servios preliminares:1. compactao de aterro; 2. locao de obra. Fundaes: 3. execuo de fundao; Estrutura de concreto armado: 4. execuo de frma; 5. montagem de armadura; 6. concretagem de pea estrutural.

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Continuao

Quadro 02: Lista de Servios ControladosVedaes verticais: 7. execuo de alvenaria no estrutural e de divisria leve; 8. execuo de alvenaria estrutural; 9. execuo de revestimento interno de rea seca; 10. execuo de revestimento interno de rea mida; 11. execuo de revestimento externo. Vedaes horizontais: 12. execuo de contrapiso; 13. execuo de revestimento de piso interno de rea seca; 14. execuo de revestimento de piso interno de rea mida; 15. execuo de revestimento de piso externo; 16. execuo de forro; 17. execuo de impermeabilizao; 18. execuo de cobertura em telhado. Esquadrias: 19. colocao de batente e porta; 20. colocao de janela. Pintura: 21. execuo de pintura interna; 22. execuo de pintura externa. Sistemas prediais: 23. execuo de instalao eltrica; 24. execuo de instalao hidro-sanitria; 25. colocao de bancada, loua e metal sanitrio.

Notar que, em qualquer nvel, a empresa deve garantir, conforme identificado durante a realizao de anlise crtica de contrato (item 3), que sejam tambm controlados todos os servios que tenham a inspeo exigida pelo cliente.Fonte: PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat. (ANEXO III) itens e requisitos do sistema de qualificao de empresas de servios e obras SIQ-C, segundo a NBR ISO 9000:1994. Braslia: 2002c. Disponvel em: . Acesso em: 17/04/2003.

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Segundo SIQ-C a quantidade de servios e materiais crticos controlados tm carter evolutivo. A seguir so apresentadas a tabela Servios Controlados e a tabela Materiais Controlados que demonstram esse carter (TABELA 01 e 02). Tabela 01: Servios Controlados SIQC subsetor de edificaesNmeros controlados Percentuais Servios controlados Procedimentos elaborados Procedimentos treinados e aplicados RegistrosFonte:

mnimos

de

servios

Nvel D 0% 0 0 0 0

Nvel C 15% 4 4 2 2

Nvel B 40% 10 10 5 5

Nvel A 100% 25 25 13 13

Manuteno Para todos os nveis Idem Idem Idem Idem

PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat. (ANEXO IV) requisitos complementares do sistema de qualificao de empresas de servios e obras SIQ-C, para o subsetor de edificaes. Braslia: 2002d. Disponvel em: . Acesso em: 17/04/2003.

Os percentuais de implementao dos servios controlados atendem o carter evolutivo estabelecido no SIQ-Construtora. Tabela 02: Materiais controlados subsetor de edificaesNmeros mnimos controlados Percentuais Materiais controlados Procedimentos elaborados Procedimentos treinados e aplicados RegistrosFonte:

de

materiais

Nvel D 0% 0 0 0 0

Nvel C 20% 4 4 2 2

Nvel B 50% 10 10 5 5

Nvel A 100% 20 20 10 10

Manuteno Para todos os nveis Idem Idem Idem Idem

PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat. (ANEXO IV) requisitos complementares do sistema de qualificao de empresas de servios e obras SIQ-C, para o subsetor de edificaes. Braslia: 2002d. Disponvel em: . Acesso em: 17/04/2003.

Os percentuais de utilizao, do nmero mnimo de materiais controlados, atendem o carter evolutivo estabelecido no SIQ-Construtora. Os prazos para vigncia do SIQ-C so negociados, por Estado, junto s empresas e associaes/entidades do setor da construo civil estaduais,

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normalmente o sindicato patronal, e formalizados por meio da assinatura de Acordos Setoriais da Qualidade. A partir dos prazos estabelecidos nos Acordos, exigido o atestado de qualificao do PBQP-H das empresas que se habilitarem a obter crditos para construo habitacional junto Caixa Econmica Federal CEF. A CEF considera que a adaptao das empresas ao Programa desencadeia custos com capacitao de mo-de-obra, treinamento, acesso a programas de qualidade, projetos e materiais podendo demandar mquinas e equipamentos para se capacitarem a operar com maior produtividade, com reduo de custos ou com substancial melhoria de qualidade. Para isto, a CEF disponibiliza, como forma de incentivo a adeso ao programa, outras opes especficas de financiamento para o setor. O SIQ-Construtora no se aplica a empresas incorporadoras e pessoas fsicas. Porm, para os financiamentos individuais (carta de crdito individual) destinados aquisio de imveis novos ser admitida, em nvel nacional, uma prorrogao de seis meses para fins de incio da vigncia dos prazos estipulados nos Acordos Setoriais, especficos de cada estado (CEF, 2002; PBQP-H, 2003). Segundo Richard (2002, p.83-85),Uma das virtudes do PBQP-H est sendo a criao e a estruturao de um novo ambiente tecnolgico e de gesto, onde so pautadas aes especficas visando modernizao, no s em medidas ligadas tecnologia no sentido estrito (desenvolvimento ou compra de tecnologia, desenvolvimento de processos de produo ou de execuo, desenvolvimento de procedimentos de controle e desenvolvimento e uso de componentes industrializados), mas tambm em tecnologias de organizao, de mtodos e de ferramentas de gesto (gesto e organizao de recursos humanos, gesto da qualidade, gesto de suprimentos, gesto das informaes e dos fluxos de produo e gesto de projetos). Somente dessa forma o setor poder vencer dois dos maiores problemas relacionados com ele: a produtividade e os desperdcios.

Os sistemas de certificao da qualidade na construo civil contribuem para a organizao da empresa, padronizando processos, atividades, materiais e outros. J a organizao contribui para melhorias no sistema de gesto.

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2.5 Referenciais de Implementao de Programas de Qualidade na Construo CivilO modelo proposto por Thomaz (2001) apresenta os requisitos essenciais para a organizao de um sistema da qualidade, para o desenvolvimento de programas ou planos da qualidade na empresa construtora. Em funo das diferentes fases da obra, das formas de subcontratao e dos nveis de qualidade aplicveis a cada caso, prope a implantao de programas da qualidade em empresas considerando a necessria hierarquizao dos controles e dos planos de inspeo. Os sistemas da qualidade so ferramentas gerenciais, a empresa deve possuir em sua rotina procedimentos na rea administrativa e de controle sistematizado da qualidade (FLOYD, 1991). Segundo Floyd (1991, p.596), para implementar o sistema da qualidade na construo necessrio considerar a seguinte organizao do sistema:Funes: Alta direo, gerentes, Coordenao do Sistema da Qualidade, Coordenadores de Obras, Engenheiros, Mestres, Encarregados e Funcionrios; Gerenciamento: atribuies especficas, fluxogramas, procedimentos por escritos, normas operacionais, planos de controle; Interfaces: relaes interdepartamentais, coordenao de projetos, relao com fornecedores, relaes com empreiteiros, responsabilidades; Documentao: Manual da Qualidade, Procedimentos do Sistema da Qualidade, Planilhas de Controle, auditorias internas, arquivo e distribuio de documentos.

Segundo Thomaz (2001), uma das premissas para o desenvolvimento e implementao de sistemas da qualidade na empresa construtora a necessidade de adaptao realidade da empresa com um mnimo de organizao, planejamento, mtodo e burocracia. Na figura 02 apresentado o modelo de montagem do Sistema da Qualidade, proposto pelo autor:

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Figura 02: Montagem do Sistema da Qualidade pela EmpresaFonte: THOMAZ, E. Tecnologia, gerenciamento e qualidade na construo. So Paulo: PINI, 2001.

O sistema da qualidade da empresa deve ser definido pela mesma. A norma ISO deve, to somente, servir como referncia ou apoio para a estruturao do sistema (SIOHOLT, 1991). Para iniciar o processo de melhoria da produtividade e qualidade na empresa a alta direo deve decidir pela necessidade desse processo. E, para isso, Thomaz (2001, p.4) sugere a aplicao de um questionrio para ponderao da situao geral da empresa. A figura 03 um formulrio de sugesto para verificar a situao empresarial.

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ATRIBUTOS 1. Nossa empresa conhece muito bem o mercado em que atua, o perfil dos consumidores, a fora das empresas concorrentes. 2. Nossa organizao define com preciso as responsabilidades, as funes, os fluxos e as interfaces entre departamentos e setores. 3. Nossos empreendimentos so baseados em estudos de mercado, anlise de riscos, avaliao de tecnologias e de processos. 4. S assumimos riscos calculados, sem prejuzos significativos qualidade, segurana, prazos e sade financeira dos projetos. 5. Nossos sistemas de gerenciamento so modernos, informatizados, com planejamento e acompanhamento dos custos e da produo 6. Nossa poltica de RH muito boa: nossos trabalhadores so bem remunerados, bem treinados, com grau elevado de motivao. 7. Nossos engenheiros e tcnicos esto atualizados com modernas tecnologias e materiais, conhecem perfeitamente o processo. 8. Nossos processos produtivos so racionalizados, com apoio de equipamentos modernos e bom grau de automao. 9. Nossos projetos de produo so adequados: quantificao e oramentao de insumos, cronogramas, planos de controle. 10. As condies das obras so excelentes: layouts dos canteiros, alojamentos, boas condies de higiene e segurana no trabalho. 11. Nossos projetistas e projetos so excelentes: bem coordenados, bem detalhados, com memoriais e especificaes corretas. 12. Controlamos adequadamente a atualizao dos projetos executivos nos canteiros; concluda a obra, o as builtest pronto. 13. Nossos processos de compra so bem conduzidos: cotaes, especificaes claras, critrios para recebimento de materiais. 14. Temos excelente sistema de seleo de fornecedores: fazemos um histrico de preos, prazos de entrega, qualidade, prontido. 15. Nossa documentao muito boa: procedimentos executivos, normas para compra e subcontrataes, listas de verificao etc 16. Nosso sistema de informao bom: canais formais, protocolos, mensagens claras, certeza de que foram recebidas e entendidas. 17. O sistema de arquivo bom: no mximo em 5 minutos conseguimos recuperar qualquer documento ou arquivo informatizado. 18. Ao final de cada obra efetuamos exaustiva anlise crtica: projetos, construbilidade, processos, equipes, fornecedores. 19. As patologias que ocorrem em nossas obras so desprezveis; ademais, sua catalogao serve para evitar a repetio de falhas. 20. A produtividade boa, o preo competitivo. Nossa margem de lucro est otimizada, no h mais nada que possa ser feito.(5) Plenamente correto; (4) Correto; (3) Talvez; (2) Errado; (11) Totalmente errado.

CONCEITOS

Figura 03: Tomada de deciso sobre necessidade de programa de gesto.Fonte: THOMAZ, E. Tecnologia, Gerenciamento, Qualidade na Construo. So Paulo: Pini, 2001.

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Segundo o autor, a pontuao crtica e os atributos avaliados devem ser definidos de acordo com a realidade de cada empresa, mas enfatiza que pontuaes entre 1 e 2 significam necessidade de aes imediatas, independentes da implementao do Sistema de Gesto da Qualidade. Concluindo-se sobre a deciso de um processo de gesto deve-se priorizar objetivos e aes diagnosticando os problemas e suas conseqncias, considerando aspectos como qualidade, segurana, custos, programao/ produtividade e prazos. Os passos para implementao do Sistema da Qualidade visando inclusive a certificao da empresa sugeridos por Mattei (1998, p.25) so:1. Diagnstico inicial focado nos processos e pessoas e tem como resultado a definio das informaes e dos responsveis pelo desenvolvimento do Sistema da Qualidade; 2. Treinamento as pessoas responsveis pelo desenvolvimento do sistema devem ser treinadas para entendimento dos requisitos da norma a ser aplicada. Devem buscar conhecimento quanto a fluxogramas, elaborao de procedimentos, ferramentas estatsticas e outros; 3. Desenvolvimento do sistema: definir polticas da qualidade/objetivos, entender os processos atuais e question-los frentes aos requisitos da norma em questo e a poltica da qualidade estabelecida, definir a estrutura da documentao do sistema e descrever e aprovar procedimentos com participao direta dos funcionrios envolvidos nos processos em questo; 4. Implementao do sistema treinamento conforme hierarquia da empresa exemplo: diretores treinam engenheiros e gerentes, gerentes e engenheiros treinam mestres e encarregados e estes treinam funcionrios. Aps implementao realizar auditoria interna para checar a adequao dos procedimentos s prticas da empresa. 5. Seleo e contratao da entidade certificadora.

O sucesso, segundo Thomaz (2001), depende do apoio total da alta administrao da empresa que deve atentar para os seguintes aspectos: na gesto da qualidade deve-se buscar solues gerenciais, as quais so realizadas por pessoas e ter o cuidado para no buscar solues puramente tcnicas por parte dos engenheiros; o programa da qualidade pertence e responsabilidade de todos e no somente do Representante da Administrao; todas as aes definidas devem ter prazos de cumprimento; focar nos processos e no nas reas;

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no iniciar o programa redigindo-se procedimentos departamentais de como deveria ser a empresa e sim planejando o Sistema da Qualidade e definindo estratgias de assimilao;

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lembrar que o programa Processo de Melhoria no termina com a certificao, mas sim, inicia-se nesse momento; aplicar adequadamente os recursos, especialmente treinamento e motivao; no criar falsas expectativas; adotar mtodos eficazes para buscar novas formas de raciocnio dos colaboradores.

Quanto aos requisitos exigidos pela Norma ISO 9000 e considerando as caractersticas tpicas da maioria das construtoras brasileiras, Thomaz (2001) sugere algumas recomendaes para implementao desses requisitos conforme a seguir: a) Aspectos Gerais: - estabelecer organograma da empresa indicando todos os departamentos incluindo o da Qualidade, que deve responder diretamente alta direo da empresa para legitimar a Poltica da Qualidade; - a declarao da Poltica da Qualidade deve apresentar um compromisso concreto com os acionistas, os funcionrios, os clientes e a sociedade; - prever, no incio do processo para desenvolvimento e implementao do Sistema da Qualidade, a atuao das inmeras interfaces entre departamentos. b) Administrao: - definir as funes e responsabilidades da administrao, e formalizar as suas rotinas que em geral no so registradas; - quanto s comunicaes, Desmadril (apud THOMAZ, 2001, p.348) estabelecer um sistema formal recorrendo-se a impressos prprios para todos os assuntos importantes, segundo, um dos aspectos que mais prejudica a qualidade das obras diz respeito comunicao; - estabelecer sistemas de arquivos de documentos; - a gesto de contratos deve ser procedimentada (fornecedores, subempreiteiros e clientes).

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c) Planejamento: - estabelecer Planos da Qualidade para cada obra, considerando todas as suas fases; - realizar estudos de viabilidade tcnica e financeira para o empreendimento; - selecionar a melhor tecnologia, obter o mximo de racionalizao de cada processo, ordenar os processos e as equipes e equacionar as interfaces (MESEGUER, 1991). d) Projetos:Picchi (apud THOMAZ, 2001) considera que na construo de edifcios os projetos so desenvolvidos em paralelo por vrios projetistas e so reunidos e analisados como um todo somente na hora da execuo da obra o que gera grande nmero de incompatibilidades comprometendo a qualidade do produto e gerando perdas de materiais e produtividade.

Thomaz (2001) afirma que desde a fase dos anteprojetos importante a interao dos profissionais (Figura 04).Programa de necessidades INSTALAES Estudo e justificativa da concepo

Condicionantes de meio fsico

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