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1 ANDAR COMO JESUS ANDOU... SERMÃO EXPOSITIVO O Julgamento de Jesus (Marcos 14:53 72) Joe Schubert Acontecimentos que ocorreram cerca de dois mil anos atrás num país longínquo parecem estranhos e muito remotos para muitas pessoas do nosso mundo. Todavia, os acontecimentos em torno da morte de Cristo são os mais signifi- cativos de toda a história da humanidade. Cada pessoa que já viveu no mundo foi afetada, em alguma escala, por esses grandes acontecimentos. Se cremos nas Escrituras, o evento da cruz é o ponto central de toda a história. Convém, então, fazermos um estudo muito cuidadoso dos acon- tecimentos que a Bíblia registra como rela- cionados à morte do nosso Senhor. O QUE O SINÉDRIO FEZ (14:53–59) Depois de Jesus ser preso do jardim do Getsêmani, Ele foi conduzido pelos soldados ao sumo sacerdote Caifás. Marcos começa a narra- tiva disso no versículo 53: E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacer- dote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo (vv. 53, 54). Observemos como Marcos apresenta a cena. O lugar da reunião era a residência do próprio sumo sacerdote. Jesus estava dentro da casa com os principais sacerdotes e os membros do Sinédrio, o supremo tribunal dos judeus. O Sinédrio era formado por setenta membros. Consistia do sumo sacerdote, Caifás, os principais sacerdotes, os professores da Lei e os anciãos. Esses membros estavam reunidos na casa de Caifás, o sumo sacerdote. Jesus estava no meio deles, enquanto bem ali, do lado de fora no pátio externo, onde podia observar tudo o que se passava, estava Pedro sentado com os guardas, aquecendo-se junto à fogueira naquela fria noite de primavera em Jerusalém. O julgamento perante o sumo sacerdote envolveu dois estágios. O primeiro estágio foi o depoimento das testemunhas presentes. Os ver- sículos 55 a 59 dizem: E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não achavam. Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não eram coe- rentes. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo: Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas. Nem assim o testemunho deles era coerente. Esse julgamento era evidentemente uma farsa, cujo resultado havia sido decidido muito antes do julgamento ser iniciado. Marcos diz sem rodeios que a razão do julgamento era que os principais sacerdotes queriam provas contra Jesus para condená-lO à morte. O julgamento era ilegal desde o princípio. Em primeiro lugar, ele foi realizado à noite, e a lei judaica prescrevia que todos os julgamentos perante o Sinédrio fossem realizados durante o dia. Em segundo lugar, ele foi realizado num local ilegal. A lei judaica prescrevia que o Sinédrio se reunisse num local específico em uma das salas do próprio templo. Essa reunião não foi nas dependências do templo e, sim, na casa do sumo sacerdote. Em terceiro lugar, a lei judaica proibia que o Sinédrio chegasse a um veredito no mesmo dia do julgamento; e, apesar disso, nesse caso, o veredito foi pronun- ciado imediatamente ao fim do julgamento. Apesar de toda conivência, incluindo teste- munhas falsas, o julgamento não estava indo bem para os sacerdotes. Marcos diz que, em- bora tenha se levantado falsos testemunhos contra Jesus, os testemunhos não eram coerentes. Os conflitos se evidenciaram à medida que uma testemunha contava uma história e esta contra- dizia a história de outra testemunha. Aquelas eram as melhores testemunhas que o dinheiro

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ANDAR COMO JESUS ANDOU... SERMÃO EXPOSITIVO

O Julgamento de Jesus(Marcos 14:53–72)

Joe Schubert

Acontecimentos que ocorreram cerca de doismil anos atrás num país longínquo parecemestranhos e muito remotos para muitas pessoasdo nosso mundo. Todavia, os acontecimentosem torno da morte de Cristo são os mais signifi-cativos de toda a história da humanidade. Cadapessoa que já viveu no mundo foi afetada, emalguma escala, por esses grandes acontecimentos.Se cremos nas Escrituras, o evento da cruz é oponto central de toda a história. Convém, então,fazermos um estudo muito cuidadoso dos acon-tecimentos que a Bíblia registra como rela-cionados à morte do nosso Senhor.

O QUE O SINÉDRIO FEZ (14:53–59)Depois de Jesus ser preso do jardim do

Getsêmani, Ele foi conduzido pelos soldados aosumo sacerdote Caifás. Marcos começa a narra-tiva disso no versículo 53:

E levaram Jesus ao sumo sacerdote, ereuniram-se todos os principais sacerdotes,os anciãos e os escribas. Pedro seguira-o delonge até ao interior do pátio do sumo sacer-dote e estava assentado entre os serventuários,aquentando-se ao fogo (vv. 53, 54).

Observemos como Marcos apresenta a cena.O lugar da reunião era a residência do própriosumo sacerdote. Jesus estava dentro da casacom os principais sacerdotes e os membros doSinédrio, o supremo tribunal dos judeus. OSinédrio era formado por setenta membros.Consistia do sumo sacerdote, Caifás, os principaissacerdotes, os professores da Lei e os anciãos.Esses membros estavam reunidos na casa deCaifás, o sumo sacerdote. Jesus estava no meiodeles, enquanto bem ali, do lado de fora no pátioexterno, onde podia observar tudo o que sepassava, estava Pedro sentado com os guardas,aquecendo-se junto à fogueira naquela fria noitede primavera em Jerusalém.

O julgamento perante o sumo sacerdote

envolveu dois estágios. O primeiro estágio foi odepoimento das testemunhas presentes. Os ver-sículos 55 a 59 dizem:

E os principais sacerdotes e todo o Sinédrioprocuravam algum testemunho contra Jesuspara o condenar à morte e não achavam. Poismuitos testemunhavam falsamente contraJesus, mas os depoimentos não eram coe-rentes. E, levantando-se alguns, testificavamfalsamente, dizendo: Nós o ouvimos declarar:Eu destruirei este santuário edificado pormãos humanas e, em três dias, construireioutro, não por mãos humanas. Nem assim otestemunho deles era coerente.

Esse julgamento era evidentemente umafarsa, cujo resultado havia sido decidido muitoantes do julgamento ser iniciado. Marcos dizsem rodeios que a razão do julgamento era queos principais sacerdotes queriam provas contraJesus para condená-lO à morte. O julgamento erailegal desde o princípio. Em primeiro lugar, elefoi realizado à noite, e a lei judaica prescrevia quetodos os julgamentos perante o Sinédrio fossemrealizados durante o dia. Em segundo lugar, elefoi realizado num local ilegal. A lei judaicaprescrevia que o Sinédrio se reunisse num localespecífico em uma das salas do próprio templo.Essa reunião não foi nas dependências do temploe, sim, na casa do sumo sacerdote. Em terceirolugar, a lei judaica proibia que o Sinédrio chegassea um veredito no mesmo dia do julgamento; e,apesar disso, nesse caso, o veredito foi pronun-ciado imediatamente ao fim do julgamento.

Apesar de toda conivência, incluindo teste-munhas falsas, o julgamento não estava indobem para os sacerdotes. Marcos diz que, em-bora tenha se levantado falsos testemunhoscontra Jesus, os testemunhos não eram coerentes.Os conflitos se evidenciaram à medida que umatestemunha contava uma história e esta contra-dizia a história de outra testemunha. Aquelaseram as melhores testemunhas que o dinheiro

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poderia comprar e, ainda assim, o julgamentoestava indo por água abaixo. Os sacerdotesestavam ficando inquietos e impacientes.

Finalmente, Marcos diz que alguns homensse levantaram, os quais concordavam entre si.Mateus diz que havia dois homens. No versículo58 Marcos diz que eles disseram: “Nós o ouvimosdeclarar: Eu destruirei este santuário edificadopor mãos humanas e, em três dias, construireioutro, não por mãos humanas”. Esse foi o pontomais perto em que as testemunhas chegaram aconcordar entre si; e foi a acusação mais estranhaque poderiam levantar contra Jesus porque haviaum elemento verdadeiro nela. No início doministério de Jesus, quando Ele havia purificadoo templo pela primeira vez, João registrou queJesus havia dito aos judeus em João 2:19: “Destruíeste santuário, e em três dias o reconstruirei”.Em dois versículos mais adiante João salientaque o templo ao qual Jesus Se referia não era otemplo de pedras e tijolos que estavam vendo,mas o templo do Seu próprio corpo. Essa era umareferência antecipada à ressurreição. Além disso,nessa ocasião, Jesus não dissera: “Destruirei estetemplo”, como acusaram as testemunhas. O queele disse foi: “Destruam este templo, e em trêsdias o reconstruirei”. Os testemunhos estavamincorretos, mas havia uma semente de verdadeno que disseram.

Um autor chamado Tennyson certa vez escre-veu: “Uma mentira que é totalmente mentirapode ser rebatida por completo, mas uma mentiraque é parcialmente verdade é uma questão maisdifícil de se rebater”. Aquelas testemunhasapresentaram uma verdade suficiente para serdifícil rebatê-la.

O QUE CAIFÁS FEZ (14:60–65)O caso contra Jesus estava realmente se des-

moronando. Os sacerdotes estavam se sentindofrustrados porque, a essa altura do julgamento,estava começando a parecer que eles não conse-guiriam chegar a uma base legal para emitir asentença de morte contra Jesus. A audiênciapreliminar havia se prolongado por toda a noite,sem chegar a lugar algum. Finalmente, numa ati-tude de desespero, Caifás, que estava começandoa se incomodar com a bancada de juízes, renun-ciou à sua função de juiz e assumiu a função dopróprio promotor público. Ele colocou Jesus sobjuramento e exigiu uma resposta. Marcos diz:“Levantando-se o sumo sacerdote, no meio,perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes

depõem contra ti? Ele, porém, guardou silêncioe nada respondeu” (vv. 60, 61a).

Centenas de anos antes disso, Isaías ha-via profetizado exatamente esse momento emIsaías 53:7, quando disse: “…como ovelha mudaperante os seus tosquiadores, ele não abriu aboca”. Jesus não tentou defender-Se das mentirasdessas testemunhas. Ele permaneceu comple-tamente calado, e nesse silêncio Ele estavaevidenciando a todos os presentes que o tipo deacusação que estavam levantando contra Eleera falso, infundado, distorcido e indigno deresposta.

O sumo sacerdote ficou atordoado com osilêncio de Jesus. Então, ele fez outra coisaque era completamente contrária à lei. Ele forçouJesus a testemunhar contra Si mesmo. No ver-sículo 61, Marcos diz: “És tu o Cristo, o Filho doDeus Bendito?” Essa era precisamente a perguntaque os fariseus estiveram tentando fazer Jesusresponder há meses. Embora Jesus tivesse sidointerrogado muitas vezes de uma forma ou deoutra, Ele sempre Se recusou a responder. Atéaquele momento responder tal pergunta seriaprematuro. Agora, Ele responderia e ao fazê-loEle sabia que estava dando ao tribunal a provade que precisavam para condená-lO à morte.Nessa ocasião, ninguém estava acusando Jesusde violar o sábado como fizeram antes. Faziatempo que eles tinham descartado esse ar-gumento. Ninguém, tampouco, levantou aliaquela velha crítica de que Ele estava expelindodemônios pelo poder de Satanás. Jesus já rebateraessa acusação anteriormente. Nessa ocasiãodurante o julgamento, eles até ignoraram aacusação da destruição do templo. Só poderiamusar uma única acusação, e Jesus prontamenteentregou-a a eles. Quando Caifás interrogou Jesusdiretamente: “És tu o Cristo?”, Jesus respondeusimplesmente: “Sou”.

Jesus acrescentou algumas palavras quepareciam se dirigir pessoalmente ao sumo sa-cerdote. Marcos diz: “E Jesus respondeu: Eusou, e vereis o Filho do Homem assentado àdireita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvensdo céu” (v. 62). Jesus estava Se referindo ao juízofinal, quando todos os seres humanos aparecerãoperante o trono de Deus para receber a sentençapela maneira como conduziram suas vidas.Jesus estava transferindo a idéia daquele jul-gamento corrupto e preconceituoso, presenciadopor todos ali, para o grande tribunal de Deusnos céus. Essencialmente, Ele estava dizendo a

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Caifás: “Agora, você é o juiz e eu sou o réu.Um dia, não muito depois de agora, você seráo réu e eu serei o juiz”.

O registro bíblico nos versículos 63 a 65 diz:

Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestese disse: Que mais necessidade temos de teste-munhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos pare-ce? E todos o julgaram réu de morte. Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, adar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E osguardas o tomaram a bofetadas.

O sumo sacerdote, num gesto hipócrita, rasgouas vestes quando ouviu Jesus alegar ser o Mes-sias. Ele rasgou as vestes num ato de supostaira diante daquela afirmação que acabara deouvir Jesus proferir. Mas tudo aquilo era umadissimulação completa e total porque aquelaafirmação era exatamente o que Caifás estavaquerendo ouvir. Ele sabia que quando Jesus fi-zesse esse tipo de afirmação, Sua sentença estariaselada. O sacerdote, através desse ato dissimula-do, demonstrou uma falsa indignação e exigiu overedito. Imediatamente, o Sinédrio pronuncioua sentença e condenou Jesus à morte.

Uma coisa estranha aconteceu nessa hora.Marcos diz que ao pronunciarem o veredito demorte todas as forças reprimidas que estavamcontidas nesses sacerdotes, anciãos e professoresda Lei parecem ter sido liberadas. Eles come-teram outro ato totalmente ilegal. Começarama extravasar o ódio por Jesus, derramando-osobre Ele numa forma de abuso cruel. CuspiramnEle, o que era o pior dos insultos. AçoitaramJesus, vendaram Seus olhos e deram-Lhe murros,dizendo: “Profetize, Jesus. Diga-nos quem bateuem você”. Assim, zombaram dEle, escarneceramdEle e O insultaram. Esse escárnio era indignoaté num tribunal pagão; e um tratamento maldosocomo aquele seria uma mancha vergonhosa noregistro de uma cultura pagã. Que vergonhosofoi tudo isso constar no registro de Israel.

Setecentos e cinqüenta anos antes desseacontecimento, Isaías falou as palavras que Jesustinha em mente nessa noite. Em Isaías 50:6, oprofeta disse: “Ofereci as costas aos que me feriame as faces, aos que me arrancavam os cabelos;não escondi o rosto aos que me afrontavam e mecuspiam”.

O QUE PEDRO FEZ (14:66–72)Marcos conclui o capítulo 14 levando-nos até

Pedro, quando este estava sentado no pátioexterno. Ele começa no versículo 66:

Estando Pedro embaixo no pátio, veiouma das criadas do sumo sacerdote e, vendoa Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tutambém estavas com Jesus, o Nazareno. Masele o negou, dizendo: Não o conheço, nemcompreendo o que dizes. E saiu para oalpendre. [E o galo cantou.] E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Esteé um deles. Mas ele outra vez o negou. E,pouco depois, os que ali estavam disserama Pedro: Verdadeiramente, és um deles,porque também tu és galileu. Ele, porém,começou a praguejar e a jurar: Não conheçoesse homem de quem falais! E logo cantou ogalo pela segunda vez. Então, Pedro selembrou da palavra que Jesus lhe dissera:Antes que duas vezes cante o galo, tu menegarás três vezes. E, caindo em si, desatoua chorar (vv. 66–72).

Às vezes, apresentamos esta história sobrePedro de uma forma que o desabona totalmente.Na maioria das vezes nos esquecemos de incluirna história todas as atividades de Pedro naquelanoite. A prisão no jardim à noite e o julgamentoperante o sumo sacerdote demandaram atosde grande coragem. Pensemos novamente naprisão de Jesus no jardim do Getsêmani. Quandoa turba foi prender Jesus, Pedro foi o únicoque tirou da espada e agiu como se fosse darcabo de todos por causa de sua lealdade aoMestre. Ele acabou ferindo o servo do sumosacerdote. O senso comum diria a Pedro: “Émelhor você se curvar diante disso, porque elesvão caçá-lo”. O último lugar que esperaríamosencontrar Pedro seria na residência do própriosumo sacerdote. Mas foi exatamente para láque ele foi. Ele seguiu Jesus e aguardou nopátio de fora, na tentativa de observar o queestava se passando dentro da casa, manifestandonovamente um tipo de coragem. Ele queria serfiel a Jesus. Pode ser muito provável que osoutros apóstolos tenham debandado nessa hora.Pelo menos, Pedro é o único mencionado nosregistros evangélicos.

A tribulação de Pedro naquela noite de-sencadeou-se com uma jovem, serva do sumosacerdote. Talvez ela o tenha visto e reconhecidona porta, dizendo: “Você é um dos seguidores doNazareno, não é?” Pedro, tentando livrar-se dequalquer associação com Jesus, disse: “Eu nãosei do que você está falando”. Ele tentou livrar-se dela.

Somos solidários com Pedro. Realmentenão era da conta dela se Pedro era ou nãodiscípulo de Jesus. O propósito de Pedro eraevidentemente observar os procedimentos desco-

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nhecidos, quando topou com essa empregadacuriosa, a qual estava tagarelando a todos queum dos seguidores de Jesus estava ali. Tudoo que ele queria era calar aquela moça, masera justamente isso o que ela não estava dis-posta a fazer. Sendo assim, ele saiu de perto dafogueira e foi para o portão, aparentementepensando que seria menos visível ali do queno lado de dentro do pátio aquecendo-se juntoao fogo. Contudo, mesmo assim, a aborrecidagarota aproximou-se dele e continuou persis-tindo no assunto, aumentando seu constran-gimento e desconforto. A empregada, então,virou-se para as pessoas ao redor e disse: “Estehomem é um deles”. Tenho certeza de que Pedroteria fechado a boca da moça se pudesse pôras mãos nela. Quando Pedro protestou: “Eunão sou um deles”, algo mais aconteceu. Elesouviram seu sotaque. Notaram que ele falavacomo um galileu. Os galileus tinham um sotaquepeculiar que era inconfundível. Naquela noite,Pedro estava em tanta evidência naquele grupoquanto um nordestino estaria no meio de umgrupo de gaúchos. Quando Pedro abriu a bocae lançou o seu protesto, eles ouviram o seudialeto. As pessoas disseram: “Ela está certa.Você deve ser um deles por causa do seu jeitode falar.” Pedro negou isso veementemente.Marcos diz que pela terceira vez ele praguejoue jurou.

O último versículo desse capítulo anuncia:“E logo cantou o galo pela segunda vez. Então,Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhedissera: Antes que duas vezes cante o galo,tu me negarás três vezes. E, caindo desatou achorar”. A palavra equivalente a “desatou” nogrego é muito forte. Ela retrata Pedro saindo eatirando-se ao chão em agonia e lágrimas deremorso, ao se lembrar no coração e reconhecerna alma o que fizera a Jesus. Para mim, o detalhemais esperançoso está nessas lágrimas de Pedro.Os principais sacerdores não derramaram nenhu-ma lágrima. Não há indícios de que Judas tenhachorado, embora o registro indique que ele defato entrou em desespero e remorso ao pensar noque fizera. Pedro, porém, quando negou o Senhor,lançou-se ao chão e chorou.

Uma lição se destaca neste acontecimentosobre o fracasso de Pedro. Essa lição é que ofracasso nunca precisa ser o fim da história.Certamente foi assim com Pedro. As lágrimas dePedro são o prenúncio de um dia que aindaestava para chegar, quando o Senhor o forta-

leceria e restauraria depois que ele aprendesse aamarga e séria lição que ele precisou aprendernaquela noite. Recordemos a manhã da res-surreição, a manhã em que o anjo encontrou asmulheres junto ao sepulcro. Nessa ocasião, eledisse o seguinte àquelas mulheres quando elasperceberam que Jesus havia ressuscitado dotúmulo: “Mas ide, dizei a seus discípulos e aPedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia;lá o vereis, como ele vos disse” (Marcos 16:7).Ainda havia esperança para Pedro.

Depois que negou a Jesus, Pedro é tiradode cena. Nada sabemos sobre o que aconteceucom ele até aquela manhã em que as mulhereschegaram com as boas novas da ressurreição. Aúnica diferença entre a negação de Pedro e o ódiodos sacerdotes foram as lágrimas que Pedroderramou. Essas lágrimas significaram que haviauma vida capaz de ser restaurada, um fracassoque poderia ser esquecido e perdoado. O homembom não é o que nunca peca; mas o que ra-pidamente se arrepende de seu pecado e buscaum recomeço.

Um poeta desconhecido escreveu um poemaque li pela primeira vez anos atrás. É um poemamuito simples, mas a mensagem dele é boa. Otítulo é “A Terra do Recomeço”.

Eu queria que existisse um lugar maravilhosoChamado “Terra do Recomeço”Onde todos os nossos erros, todas as nossas

angústiasE toda a nossa miserável agonia egoístaPudessem ser como um casaco velho e des-

gastado junto à porta,Que já caiu em desuso. Eu queria que pegás-

semosTodas as peças que não usamos mais,Como um caçador que encontra uma trilha

perdida,E que aquela contra a qual a nossa cegueira

cometeuA maior injustiça de todasFocasse no portão como um velho amigo à esperado colega a quem ele tem o maior prazer de

acenar.

Foi assim o desenrolar da situação entre Pedro eJesus. Jesus deu a Pedro a oportunidade derecomeçar, e Pedro não O decepcionou. Ele estavapresente do dia de Pentecostes, o grande dia donascimento da igreja, quando o evangelho foipregado pela primeira vez em sua plenitude. Elepregou a mensagem que convenceu três milpessoas nesse dia a se tornarem membros doreino de Deus, sendo batizadas em Cristo Jesus.O nome de Pedro pontua necessariamente cada

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página do livro de Atos ao ser relatada a expansãoexplosiva da igreja primitiva, durante os pri-meiros anos de sua existência. Pedro também foio autor de dois livros do Novo Testamento. Pedrotirou uma importante lição do seu fracassonaquela noite e essa lição que ele aprendeupreparou-o para ser um dos maiores servos deDeus para o resto de sua vida.

CONCLUSÃOO que se aplica a Pedro pode se aplicar a você

e a mim. Cometemos muitas falhas e erros.Decepcionamos o Senhor e agimos mal peranteEle mais vezes e em mais ocasiões do que somoscapazes de nos lembrar, mas se reconhecer-mos esses pecados pelo que eles são, se nosarrependermos deles e buscarmos um recomeçocom o Senhor, poderemos ser perdoados. �

Gratidão na AdversidadeMathew Henry, o famoso erudito, certa

vez foi abordado por alguns ladrões que lheroubaram a carteira. Em seu diário, ele escreveuo seguinte a respeito do ocorrido: “Que euseja grato; em primeiro lugar, por nunca tersido roubado antes; em segundo lugar, porque,embora tenham me levado tudo, não era muito;e em terceiro lugar, porque foi eu que fui roubadoe não eu que roubei”.

“O que você está fazendo?”O aluno de Chafetz Chayim, saindo do

Yeshivá, foi para uma cidade distante, ondeprosperou no mundo dos negócios. Alguns anosmais tarde, o famoso guru passou por essa cidadee, naturalmente, o comerciante foi visitar seu ex-professor.

“O que você está fazendo?”, perguntoucurioso o rabino.

“Eu estou bem, obrigado”, respondeu o aluno.“Estou indo muito bem. Meu negócio cresceu,tenho muitos empregados, meu nível financeiroé excelente.”

A conversa migrou para outros assuntos. Empoucos minutos, o rabino perguntou novamente:“O que você está fazendo?”

Parecia estranho o rabino repetir aquelapergunta; talvez ele tivesse se esquecido daresposta.

“Eu estou bem, obrigado”, respondeu o alunopela segunda vez. “Tenho uma bela família, umaesposa adorável e bons filhos.”

Novamente a conversa tomou rumos di-ferentes e o rabino tornou a perguntar: “O quevocê está fazendo?”

Desta vez, o aluno não se conteve. “Rabi”,protestou ele, “o senhor já me fez essa mesmapergunta três vezes!”

“É, eu sei”, disse o rabino em tom agradável.“Perguntei três vezes, mas você não respondeu apergunta nenhuma vez. Eu perguntei o que vocêestá fazendo e você me falou da sua prosperidade,da sua família. Isso não é o que você está fazendo.Isso é o que Deus está fazendo. Eu perguntei oque você está fazendo. O que você tem realizadopela sua gente? Agora, me diga, meu filho: o quevocê está fazendo nesse sentido?”

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