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pdf_igreja_e_residencia_reis_magos.pmd 3/9/2014, 10:531

PEDRO J. NUNES

IGREJA E RESIDÊNCIA

REIS MAGOSOBRA JESUÍTICA EM NOVA ALMEIDA


© 2012 Pedro J. Nunes

1ª edição: 2012

Tiragem: 1.000 exemplares

Projeto gráfico, impressão e acabamento

Gráfica e Editora Formar

Editores

Luiz Guilherme Santos Neves e Pedro J. Nunes

A coleção Memória Capixaba se dedica

ao estudo de assuntos específicos da memória

e da história do Espírito Santo.

É dedicada a Renato Pacheco.

Nunes, Pedro J.Igreja e Residência Reis Magos - Obra jesuítica emNova Almeida. Vitória: Cultural & Edições Tertú-lia, 2012. 64 p.; 21 cm. - (Coleção MemóriaCapixaba; nº 04).

ISBN 978-85-99380-20-8

1. Jesuítas. 2. Indígenas. 3. História. 4. EspíritoSanto. I. Título. II. Série: Coleção MemóriaC a p i x a b a .

Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer partedesta obra, por qualquer meio, sem autorização do autor ou doseditores, constitui violação da Lei de Direitos Autorais - Lei 9.610/9 8 .

Cultural & Edições TertúliaVitória, ES

[email protected]


Índice

Em tempos remotos....................................... 06

Como os fatos se constroem........................... 08

As capitanias hereditárias........................ 11

Um firme propósito.................................. 11

Rumo à Serra........................................... 13

A relação do colonizador com o índio....... 15

Um jesuíta de passagem ........................... 18

Um cenário caótico................................... 20

Ao trabalho imediatamente....................... 21

Índios e colonizadores, afinal..................... 23

Aldeamentos............................................... 26

Aldeia dos Reis Magos................................. 29

Igreja e Residência Reis Magos.................. 31

Um cotidiano de orações e trabalho........... 34

1760............................................................. 38

Retratos....................................................... 41

Atravessando o tempo................................. 49

Hoje............................................................. 51


Ao entrar na Igreja e Residência Reis Magos, loca-lizada em um ponto elevado perto do mar e da foz dorio Reis Magos, em Nova Almeida, Serra, Espírito San-to, o visitante sensível pode ouvir um suave sussurrodo passado.

Com quase quatrocentos anos de fundação, a cons-trução que compõe o complexo de igreja e residênciaao redor do qual se formou Nova Almeida não existepor acaso. É obra com propósito muito claro. Não po-demos imaginar em quantas eras sua existência se for-jou, mas todos os fatos conspiraram para que num dadomomento, naquele exato lugar, ela se tornasse possí-vel.

Este livro conta o que se sabe a respeito dessa notá-vel construção que deu origem a Nova Almeida, hojedistrito do município de Serra. Não pretende ser novi-dade, já que tantos e tão vários e em tantas épocas dei-

Pia existente no interior da igreja. Na página ao lado, fotografia da porta principal do templo

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xaram seus registros a respeito dessa importante obrajesuítica que é a Igreja e Residência Reis Magos. Mastambém não é apenas mais um. Porque, embora escri-to sob o signo de profunda admiração, quase encanta-mento, buscou sua fundamentação na história, base-ando-se em relatos e registros confiáveis com o objeti-vo de compartilhar com o leitor, dentro dos propósitosda coleção Memória Capixaba, um pouco do que se sabeda obra jesuítica no Espírito Santo, da qual a Igreja eResidência Reis Magos, em Nova Almeida, é uma dasmais impressionantes expressões.

Em tempos remotos

A igreja católica, principal representante do cristia-nismo desde o século III, ganhou força nos primeirosséculos do segundo milênio com grandes conversões dospovos da Europa à fé cristã, conquistando grande po-der espiritual. Além disso, as autoridades religiosas ad-quiriram grande poder decorrente da posse de bensmateriais. O clero enriquecia com doações dos fiéis esupõe-se que a igreja católica chegou a controlar umterço das terras cultiváveis da Europa, acumulando umtesouro de valor inestimável.

O cristianismo se tornou um sistema que não per-mitia oposição. Qualquer atitude ou pensamento con-trário ao da igreja católica eram radicalmente comba-tidos. Para isso surgiu na idade média a inquisição, ca-racterizada por perseguições aos que tivessem crençasdiferentes da católica. Se o indivíduo daquela época não

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IGREJA E RESIDÊNCIA REIS MAGOS


7Queima de herege viva condenada pela igrejaDetalhes de gravura de Jan Luyken


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fosse cristão, ou seja, não professasse a doutrinaestabelecida pelo catolicismo, seria duramente repre-endido, podendo mesmo ser morto. Isso indicava cla-ramente aos que viveram naquela época o caminho aseguir: melhor ser cristão que ser torturado ou mortoda forma mais cruel.

Outro movimento da igreja católica contra quempensava diferente foram as cruzadas, que consistia emmover longas guerras contra os povos muçulmanos.Essas guerras tiveram inúmeras consequências, dentreas quais fortalecer ainda mais o poder da igreja católica.

Como os fatos se constroem

Durante as grandes navegações marítimas que le-varam ao descobrimento do Brasil, no século XVI, e oconsequente contato com os índios que habitavam anova terra, o poder da igreja católica foi abalado pelareforma protestante, que logo fez com que inúmeraspessoas optassem pela nova ordem religiosa — supõe-se que em cinquenta anos quase metade dos europeusocidentais aderiram ao protestantismo. Isso fez com quea igreja católica reagisse, promovendo a contra-refor-ma. E é justamente aqui que a futura existência da Igre-ja e Residência Reis Magos e de Nova Almeida começaa ficar mais firmemente delineada.

Uma das principais iniciativas que caracterizarama contra-reforma foi a fundação da Companhia de Je-sus, também chamada de Sociedade de Jesus ou Or-



OBRA JESUÍTICA EM NOVA ALMEIDA

dem dos Jesuítas, pelo religioso e militar espanholInácio de Loyola. O sentimento dos integrantes da Com-panhia, os jesuítas, era de soldados da igreja, com mis-são inicial de combater o protestantismo. Para isso fun-daram escolas religiosas e empenharam-se na conver-são dos não-cristãos – também chamados de infiéis ougentios. Os habitantes das novas terras descobertas, quenunca tinham ouvido falar nas doutrinas católicas oucristãs, tornaram-se objeto do maior interesse dos sol-dados da Companhia de Jesus, cujos estatutos geraisforam aprovados 40 anos após o descobrimento do Bra-sil.

Em Portugal a religião oficial era o catolicismo, tan-to que qualquer português que pensasse o contrário es-taria sujeito a sérias perseguições. Em virtude dessa re-lação oficial entre a igreja e o rei, religiosos católicosparticiparam no processo de colonização do Brasil, poisPortugal tinha por acordo firmado com o papa a ga-rantia da expansão do catolicismo nas terras descober-tas pelos portugueses. Nesse contexto, os jesuítas, fir-mes defensores da fé, encontrariam aqui terra fértil parareceber sua semente.

Inácio de Loyola nasceu na Espanha, em1491. Em 1534 fundou, com algunscompanheiros, a Companhia de Jesus,cujos integrantes são conhecidos comojesuítas. Morreu em Roma em 1556. ACompanhia de Jesus é atualmente umadas maiores ordens religiosas católicasdo mundo.


Representação da missão religiosa nasnovas terras descobertas (detalhe de

pintura de Dióscoro Teófilo Puebla Tolín)


As capitanias hereditárias

As capitanias hereditárias foram criadas pelo gover-no português para que a nova terra do Brasil fosse co-lonizada sem que houvesse necessidade de grandes in-vestimentos por parte da Coroa Portuguesa. As terrasdo Brasil foram divididas em grandes faixas de terra, eo rei D. João III entregou sua exploração a quinze pes-soas que se habilitaram à tarefa. Essas pessoas, cha-madas capitães ou donatários, exerciam a autoridademáxima dentro da capitania. Com sua morte, a res-pectiva capitania passaria a seus herdeiros.

A Capitania do Espírito Santo foi doada a VascoFernandes Coutinho.

Um firme propósito

Em 23 de maio de 1535, o donatário VascoFernandes Coutinho e sua gente chegaram à Capitaniado Espírito Santo. Não se sabe exatamente quantas pes-soas compunham a comitiva da caravela Grorya (Gló-ria), que aportou numa enseada próxima ao morro doMoreno, em Vila Velha, mas supõe-se que tenha sidoem torno de sessenta.

Essa gente teve grande dificuldade para chegar aterra por causa da presença do índio. As dificuldades,no entanto, foram contornadas e os portugueses final-mente desembarcaram.

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Local aproximado do desembarque dacomitiva de Vasco Fernandes Coutinho

na Vila do Espírito Santo (Vila Velha)Fotografia da década de 1930 (Fonte: IPHAN)


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Não havia na comitiva de Coutinho um represen-tante do serviço religioso. No entanto, logo após levan-tarem uma grande cerca isolando a praia da mata, ondeconstruíram suas casas, os pioneiros se dedicaram àconstrução de uma capela, consagrada a Nossa Senho-ra do Rosário. Isso demonstra que as orientações espi-rituais seguidas pelos portugueses estavam sendo rigo-rosamente mantidas, mesmo em terra estranha.

Outro fato que marca o apego dos portugueses àsua fé foi o nome que deram à baía de Vitória – devidoà semalhança com um rio – e à primeira vila que fun-daram na capitania: rio e vila do Espírito Santo. É quea chegada de Vasco Fernandes Coutinho se deu no diaconsagrado pela igreja à terceira pessoa da SantíssimaTrindade, o Espírito Santo, nome que posteriormentese estendeu a toda a capitania.

Rumo a Serra

O historiador Braz da Costa Rubim deixa-nos asseguintes informações sobre os primeiros tempos dosnovos moradores da capitania: Por esse tempo se fo-ram também construindo casas de madeira cobertasde folhas de palmeira; e para poupar os mantimentosque trouxeram, aproveitavam-se da pesca e da caça,que com tão variada abundância encontravam, ao re-dor de si, nos rios e nas matas. É desnecessário dizerquais seriam os incômodos, sustos e fadigas nestes pri-meiros tempos da colônia: os moradores se entrega-



vam com dificuldade aos trabalhos rurais, a que nãoeram afeitos, e viam-se obrigados a estar acauteladosde dia e noite, e sempre com as armas na mão, paraevitar as surpresas dos índios. Nesta vida laboriosa cor-riam os dias sem notável prosperidade, antes se dimi-nuíam as forças da nascente povoação com as molésti-as adquiridas neste novo modo de viver, sob um climaquente e úmido, a que não estavam habituados.

Havia, além disso, insatisfação com a faixa de terraque ocupavam, conforme o mesmo historiador: O lo-cal escolhido para assento da colônia, se por um ladotinha a vantagem de ser à beira-mar, e porconsequência fácil para as comunicações exteriores, poroutro lado era o seu solo menos próprio para culturas,arenoso e infestado de formigas. A colônia, compostade um pequeno número de indivíduos, não podia des-tacar uma parte que fosse devassar o interior do país.

Basilio Carvalho Daemon, em Província do Espíri-to Santo, relata que, apesar das dificuldades, os homensse puseram a explorar o quanto podiam. Assim, depoisde alcançar o lugar hoje conhecido como Ilha dasCaieiras, tomaram o rumo do lugar que viria a ser o


Mestre Álvaro


município da Serra: Em fins deste ano (1535) e princí-pio do ano seguinte os novos povoadores saem em no-vas explorações, mas em muito maior número e bemarmados e municiados, passam-se para o lado norte, esubindo talvez o rio da Passagem desembarcam e en-tranham-se pelo sertão adentro, e fazendo picadas che-gam até os arredores da hoje cidade de Serra, tendotomado como rumo a serra do Mestre Álvaro. Nestaexcursão não consta que fossem incomodados ou pres-sentidos pelos índios.

O Mestre Álvaro, com mais de 800 metros de altitude, é o ponto culmi-nante do litoral do Espírito Santo, podendo ser avistado a grande distân-cia no mar. Pode ser visto de inúmeros pontos da cidade de Vitória e mu-nicípios vizinhos. Essa presença constante na paisagem, marcante aindahoje, certamente chamou muito a atenção dos primeiros colonizadores.

A relação do colonizadorcom o índio

Tão logo chegaram ao Espírito Santo, os coloniza-dores se fixaram numa pequena faixa de terra próximaà praia. Segundo alguns historiadores, antes disso, paraque pudessem desembarcar, tiveram de disparar algunstiros contra os indígenas que os esperavam armadosem terra. Por esse fato, já podemos imaginar que a re-lação dos primeiros colonizadores com os indígenas nãoera fácil.

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Se hoje pudéssemos imaginar que pessoas diferen-tes de nós na cor, nos modos, na fala, e com recursostecnológicos muito além dos que conhecemos e domi-namos, chegassem ao nosso lugar vindos do mar, dofundo da terra ou do espaço, seria possível compreen-der o sentimento de absoluta estranheza dos nativosem relação aos portugueses.

Detalhe da pintura Quadro Descobrimento do Brasil,de Oscar Pereira da Silva



FIM DA AMOSTRA DO LIVRO.


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