PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede...

14
Edit ores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz Antônio A. Gonçalves Luís Cancela da Fonseca Maria Antonieta C. Rodrigues Raimundo E.P. Vasconcelos Júnior Sílvia Dias Pereira UERJ Rio de Janeiro 2018

Transcript of PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede...

Page 1: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

Editores:

Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz Antônio A. Gonçalves Luís Cancela da Fonseca Maria Antonieta C. Rodrigues Raimundo E.P. Vasconcelos Júnior Sílvia Dias Pereira

UERJ Rio de Janeiro

2018

Page 2: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

Mares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR

Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz Antônio A. Gonçalves Luís Cancela da Fonseca Maria Antonieta C. Rodrigues Raimundo E.P. Vasconcelos Júnior Sílvia Dias Pereira

Projeto Gráfico: Diagramação: Luís Cancela da Fonseca/Ana Cristina Roque Capa: Luís Cancela da Fonseca

Fotografias da Capa: Luís Cancela da Fonseca (capa e contracapa)

Impressão e Acabamento: UERJ

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/MID

M325 Mares e litorais: perspetivas transdisciplinares / Ana Cristina Roque [et.al.]. - Rio de Janeiro : FGEL-UERJ, 2018. 187 p. : il. - (Rede BRASPOR ; tomo VII). Bibliografia e-ISBN 978-85-87245-02-1

1. Mares. 2. Homem - Influência sobre a natureza.

3. Meio ambiente - Costa (Brasil). 4. Meio Ambiente - Costa (Portugal). 5. Geologia - Quaternário. I. Roque, Ana Cristina. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Geologia. III. Série.

CDU 551.46

Bibliotecária: Luciana Avellar CRB7/4544

Page 3: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

S U M Á R I O

___________________________________________________ REVISORES CIENTÍFICOS -------------------------------------------------------------------------------------- 5

AGRADECIMENTOS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 7

APRESENTAÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 9

PREFÁCIO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 11

PARTE I -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 Meio, suas modificações e vestígios patrimoniais: Chaves para a apreensão do passado

Capítulo I -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 A influência do sistema lagunar do Baixo Guadiana no povoamento de Cacela-a-Velha no período medieval

Capítulo II -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 31 A Cátedra UNESCO sobre o património cultural dos oceanos: Uma breve nota sobre história, ciência e literacia dos oceanos

PARTE II ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 45 Bem conhecer (o passado)... Para melhor gerir (o presente)

Capítulo III ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 Diálogos atlânticos: O Guia dos Banhistas e a invenção da praia na planície costeira do Rio Grande do Sul

Capítulo IV ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 63 Bem conhecer para melhor gerir: A História Ambiental como ferramenta para a gestão costeira - o exemplo do Furadouro (PT)

PARTE III ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 85 A beira-mar: Um espaço de atração e de tensões

Capítulo V -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 87 A Beira Mar de Fortaleza-Ceará: Mobilidades e territórios do comércio ambulante de artesanato

Capítulo VI ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 105 Uso de geotecnologias no gerenciamento de riscos associados à ação de eventos meteorológicos de grande intensidade no extremo sul do Brasil

Capítulo VII ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 115 A gestão costeira na Região Metropolitana de Fortaleza: Uma análise a partir da atuação das Secretarias do Meio Ambiente

3

Page 4: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

PARTE IV ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 129 Degradação... Recuperação... Preservação da identidade e memórias

Capítulo VIII ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 131 Em busca da recuperação e sustentabilidade do ecossistema manguezal: Mangue Pequeno, Icapuí, Estado do Ceará, Brasil

Capítulo IX ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 145 Aleatoriedade e incerteza na comunidade piscatória de Setúbal

Capítulo X ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 159 Pescadores da Modernagem: Memória e Conflito Social na Ilha de Itaparica-Bahia (1960-1990)

Capítulo XI ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 175 O Museu Marítimo de Sesimbra: arte, memória e tradição. Um projecto museológico para o século XXI

___________________________________________________ ___________________________________________________

4

Page 5: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

R E V I S O R E S C I E N T Í F I C O S

___________________________________________________

Alice Lima (Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, Brasil)

André Fernandes (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal)

Carlos de Araújo Farrapeira Neto (Faculdade Pitágoras e Universidade Aberta do Brasil - UECE, Brasil)

Clara Sarmento (Centro de Estudos Interculturais - CEI, Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Politécnico do Porto, Portugal)

Fábio Ferreira Dias (Universidade Federal Fluminense, Centro de Estudos Gerais, Instituto de Geociências, Niteroi, RJ, Brasil)

Heitor Braga (Centro de Ecologia Funcional - CFE, Departamento de Ciências da vida, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Portugal)

Inês Amorim (CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Portugal

Joana Gaspar de Freitas (Instituto de Estudos de Literatura e Tradição - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa e Centro de História, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal)

João Alveirinho Dias (Centro de Investigação Marinha e Ambiental, Universidade do Algarve, Faro, Portugal)

Lúcio Cunha (Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território – CEGOT. Departamento de Geografia e Turismo, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra,

Portugal) Luiz Antônio Araújo Gonçalves (Centro de

Ciências Humanas – CCH, Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, CE, Brasil

Luís Cancela da Fonseca (Centro de Ciências e Tecnologias da Água, Universidade do Algarve, Faro, Portugal; MARE / Laboratório Marítimo da Guia, Cascais, Portugal.)

Luís Sousa Martins (Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, Universidade Nova de Lisboa, Portugal)

Mailton Nogueira da Rocha (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – IFCE, Crateús, CE - Brasil)

Marco Túlio Mendonça Diniz (Centro Regional de Ensino Superior do Seridó, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Caicó, RN, Brasil

Miguel da Guia Albuquerque (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS, Campus Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil

Olegário Nelson Azevedo Pereira (PPG-MA, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Brasil; Centro de Estudos da População Economia e Sociedade – CEPESE, Porto, Portugal)

Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa (Instituto de Desenvolvimento Rural, Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, Redenção, Ceará, Brasil)

Pedro Pereira Leite (Cátedra UNESCO “Educação Cidadania e Diversidade Cultural”; Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, Portugal)

5

Page 6: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Júnior (Centro de Ciências e Tecnologia, Departamento de Geociências, Universidade Estadual do Ceará – UECE, Fortaleza, CE, Brasil

Rodrigo Guimarães de Carvalho (Faculdade de Ciências Económicas, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Mossoro, RN, Brasil)

Susana Gómez (Campo Arqueológico de Mértola, Portugal; Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Faro, Portugal)

Ulisses Rocha de Oliveira (Instituto de Ciências Humanas e da Informação, Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande, RS, Brasil).

___________________________________________________ ___________________________________________________

6

Page 7: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

A G R A D E C I M E N T O S

___________________________________________________

O VII Encontro da Rede BRASPOR decorreu em Sesimbra (Portugal) de 18 a 21 de Setembro de 2017. Situada na frente de mar ímpar da Costa da Arrábida e encaixada na Serra do mesmo nome, esta Vila recebeu os membros da Rede Base de conhecimentos Relacionais APlicados para o ORdenamento do Litoral (BRASPOR) e todos aqueles que se lhes quiseram juntar, para mais uma reunião anual. Promovido pela Rede BRASPOR, este Encontro foi organizado pelo IELT (Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – FCSH-UNL) e pelo CH-ULisboa (Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - FLUL), com o apoio da CMS (Câmara Municipal de Sesimbra), e a colaboração do CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»), do CIMA e CTA (Centro de Investigação Marinha e Ambiental e Centro de Ciências e Tecnologias da Água – Universidade do Algarve), do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) e do CHAM (Centro de História D´Aquém e D´Além Mar).

Este encontro científico só foi possível graças aos apoios generosos de algumas instituições. Os nossos sinceros agradecimentos à Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo financiamento desta iniciativa (através do PEst-OE/ELT/UI0657/2015 do IELT e do UID/HIS/04311/2018 do CH-ULisboa), e à Câmara Municipal de Sesimbra pelo apoio logístico, a cedência dos espaços e a assistência durante o encontro. Porque as instituições são feitas

de pessoas e o seu trabalho deve ser reconhecido, agradecemos penhoradamente à Presidente da CM de Sesimbra, Dr.ª Felícia Costa, à Assembleia Municipal, na pessoa da sua Presidente, Dr.ª Odete Graça, e aos técnicos da Divisão de Cultura e Bibliotecas, Serviços do Museu e do Cineteatro, da Unidade Funcional de Comunicação e Informação, e do Posto de Turismo. Destacamos ainda a colaboração excecional da Técnica Superior, Dr.ª Anabela Santos Gato, e de todos os que de uma forma ou de outra foram imprescindíveis para os bons resultados desta iniciativa. Esta contou ainda com o apoio e a chancela da Cátedra UNESCO “O Património Cultural dos Oceanos” (FCSH-UNL). Parceria que permitiu que pudéssemos apresentar a Exposição Itinerante “Arqueologia Subaquática de Cascais: um exemplo de boas práticas UNESCO”, organizada por Jorge Freire et al., CHAM – FCSH-UNL. Os nossos agradecimentos para a Câmara Municipal de Cascais e para Jorge Freire que nos proporcionou uma visita guiada à exibição. Não podemos também deixar de reconhecer e saudar o apoio do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelo continuada ajuda à investigação e/ou deslocação de alguns membros da Rede BRASPOR.

Finalmente, um agradecimento muito especial aos autores e aos revisores científicos deste volume, que com o seu saber tornaram possível o lançamento de mais uma obra da Rede BRASPOR.

___________________________________________________ ___________________________________________________

7

Page 8: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz
Page 9: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

AP RES EN TA Ç ÃO

___________________________________________________

VII ENCONTRO DA REDE BRASPOR – SESIMBRA 2017 Foi uma grande honra para o concelho de

Sesimbra ter recebido, em setembro de 2017, o VII Encontro da Rede BRASPOR, que reuniu dezenas de especialistas no estudo dos sistemas costeiros, na sua maioria, de Portugal e do Brasil.

Durante vários dias, vários investigadores trocaram experiências e apresentaram testemunhos que, não só deram a conhecer a realidade de várias comunidades costeiras dos dois lados do Atlântico, como também alertaram para os impactes das alterações climáticas em todo o mundo.

A abertura do evento teve lugar na Fortaleza de Santiago, um dos símbolos de Sesimbra, que foi recuperado recentemente. Melhor local para iniciar um encontro desta natureza não teria sido certamente, possível, tanto pela ligação desta fortificação ao mar e à comunidade sesimbrense, como por albergar o Museu Marítimo de Sesimbra, que reúne inúmeros testemunhos da ligação ancestral de Sesimbra ao mar.

A presença deste conjunto de especialistas no nosso concelho foi uma forma de alargarmos os nossos conhecimentos, com base na experiência e boas práticas que estão a ser implementadas noutras regiões, e uma forma de transmitirmos as nossas próprias vivências e experiências numa zona costeira integrada no Parque Marinho da Arrábida, entre dois estuários – do Tejo e do Sado – onde existe uma flora e fauna muito ricas que têm sido objeto de estudo de investigadores.

Da nossa parte, estaremos sempre de portas abertas para este tipo de eventos, que nos permitam partilhar conhecimento sobre aquele que é o nosso mais valioso recurso: o mar.

Agradeço a todos aqueles que fizeram possível este encontro em Sesimbra.

Felícia Costa

Vice-Presidente Câmara Municipal de Sesimbra

___________________________________________________ ___________________________________________________

9

Page 10: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz
Page 11: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

P R E F Á C I O

___________________________________________________

“Diálogos atlânticos” é uma expressão que define bem o que fazemos na Rede BRASPOR. Tomámos de empréstimo o título de um dos trabalhos aqui publicados, porque nos parece que, de modo claro e conciso, resume esta iniciativa, que tem procurado estabelecer pontes ou pontos de contacto, entre países e investigadores nas margens do Atlântico, que partilham a língua portuguesa. Isto sem excluir outros oceanos, outras margens, outros países, outras línguas.

A nossa abordagem às interações homem/meio, privilegiando uma perspetiva interdisciplinar e a cooperação entre as Ciências Sociais e Humanas e as Ciências Exatas e Naturais, é ainda uma experiência recente e de alguma forma inovadora. O que suscita alguns problemas a nível do seu enquadramento nas habituais designações académicas e no tratamento das questões epistemológicas e metodológicas que se colocam durante a investigação. Contudo, estes últimos anos de labor conjunto têm mostrado que é possível e incentivam-nos a prosseguir, propondo e dando exemplos de novos modelos conceptuais e metodologias de análise para uma interpretação holística das zonas costeiras e das bacias hidrográficas.

Os membros da Rede BRASPOR provêm de diferentes áreas e disciplinas. Como historiadora tenho procurado contribuir com o meu saber específico através de estudos que se inserem do ponto de vista teórico e metodológico numa corrente historiográfica há muito firmada nos Estados Unidos da América e mais recentemente na Europa e que se designa por História Ambiental (e.g. WORSTER, 1988; BRIMBLECOMBE & PFISTER, 1990; DRUMMOND, 1991; CRONON, 1993; MCNEILL, 2000). As relações entre os seres humanos e a natureza fazem parte intrínseca da historiografia ocidental – basta lembrar os trabalhos percursores da Escola Francesa dos Annales e a obra de Fernand

BRAUDEL (1995 [1966]), O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico no tempo de Filipe II –, contudo, o aparecimento da história ambiental tal como a concebemos hoje tem menos de trinta anos. O despertar de uma maior sensibilidade dos historiadores para as questões ambientais está relacionado com o incremento das preocupações ecológicas no seio da sociedade e da comunidade científica, nas últimas décadas do século XX. Nos Estados Unidos da América o seu reconhecimento como campo específico de investigação deu-se nos anos de 1970, com a criação da American Society for Environmental History, em 1976. Na década de 1980, a história ambiental teve alguma difusão na Europa, aparecendo, em 1988, a European Association for Environmental History, que se consolidou com a criação da European Society for Environmental History, em 1999.

A História Ambiental é, segundo NcNEILL (2003, p. 6), a «história da interação entre a humanidade e a natureza». A história humana esteve desde sempre ligada a um contexto físico e biológico, que evoluiu durante milhares de anos de forma independente, segundo regras próprias. No entanto, é impossível ignorar que, no último milénio, sobretudo, a partir do século XVIII, a evolução desse contexto natural é indestrinçável da história da própria humanidade. O historiador brasileiro José Augusto PÁDUA (2010, pp. 91, 94, 97), falando sobre As bases teóricas da História Ambiental, entende o seu aparecimento como uma resposta (necessária) à ausência da dimensão biofísica em boa parte da historiografia contemporânea. Com isto, não pretende defender a redução da análise histórica ao biofísico, como se esse aspeto fosse capaz de explicar todos os outros, mas de incorporá-lo, em conjunto com outras dimensões (económicas, culturais, sociais e políticas), na construção de uma abordagem cada

11

Page 12: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

vez mais ampla e inclusiva da investigação histórica. PÁDUA (2010) salienta que a história ambiental, como ciência social, se interessa sobretudo pelas sociedades humanas. Mas reconhece também a historicidade dos sistemas naturais, sendo o seu desafio construir uma leitura aberta, dinâmica e interativa das relações entre as sociedades e o meio.

Tendo em conta as características do seu objeto de estudo a História Ambiental é profundamente interdisciplinar, transfronteiriça e atual, com amplas implicações noutros campos. Como salienta G. MASSARD-GUILBAUD (2007), antiga presidente da Sociedade Europeia de História Ambiental, a investigação em torno das questões ambientais toca fundo nas principais interrogações da humanidade, questionando o estatuto do homem na terra, o tipo de desenvolvimento económico e social a que se aspira, as responsabilidades intergeracionais, as formas de regulação sustentável, os problemas éticos resultando do desenvolvimento tecnológico, o lugar da ciência, da técnica e da tradição. As Humanidades (incluindo a História) estão cada vez mais envolvidas no atual debate sobre o ambiente (e.g. NYE et al., 2003), o que se explica pelo facto de o comportamento humano ser hoje uma variável tão importante na compreensão do funcionamento dos sistemas naturais como outros fatores (o clima, os oceanos, a atmosfera, os processos bioquímicos), sobre os quais as Ciências Naturais e Exatas habitualmente se debruçam. Contudo, apesar deste interesse comum pelos mesmos problemas, o que se verifica na prática é uma quase ausência de diálogo entre as diferentes áreas. A constituição de equipas multidisciplinares ainda é a exceção e não a regra.

Há a nível europeu uma longa tradição historiográfica no domínio das atividades marítimas. São abundantes os estudos sobre a pesca, a produção de sal, a recolha de algas, os portos, a cabotagem, a navegação de longo curso, a construção naval, o comércio, as sociedades litorais, as alfândegas, a defesa militar e os poderes locais. Contudo, as abordagens são quase sempre do ponto de vista económico, social, cultural, político, sendo que muito raramente se procura relacionar estes fatores com as condicionantes impostas pela especificidade do território, ou analisar os impactos destas atividades no meio envolvente. No âmbito da História Ambiental, os oceanos não são temas

abordados com frequência, McNEILL (2003, p. 42) também já o tinha notado. Há muito mais trabalhos sobre o mundo rural – agricultura e florestas – ou sobre as questões hidrológicas – aquíferos, rios, secas e inundações. As zonas costeiras, pela sua situação ambígua entre o mar e a terra, têm sido também negligenciadas. As próprias características dos litorais assim o determinam, porque sendo sistemas naturais muito dinâmicos, que sofrem ajustamentos morfodinâmicos contínuos, a escalas temporais e espaciais distintas, em resposta a fatores geodinâmicos, oceanográficos e antrópicos, o seu estudo exige conhecimentos multidisciplinares, sobretudo na área das Ciências Naturais. A interdisciplinaridade comporta riscos, porque as metodologias nem sempre são claras e as incertezas multiplicam-se. Contudo, como diz McNEILL (2005, p. 17), com o «risco vem a oportunidade». Talvez seja isto que mais me fascina no trabalho que faço. E, atrevo-me a dizer, aquilo que atrai aqueles que fazem parte da Rede BRASPOR.

As ideias que aqui deixo explanadas – numa visão muito pessoal - sobre a História Ambiental, o papel das Ciências Sociais nos debates sobre as questões ambientais e o contributo da História para o conhecimento das zonas costeiras e a manutenção das relações futuras entre as comunidades e este território, determinaram as minhas escolhas temáticas, orientaram a minha investigação e estão profundamente imbrincadas naquilo que faço.

Na Rede BRASPOR – ampla, aberta, livre – cada um que chega e se junta a este grupo informal traz consigo os seus conhecimentos específicos, a sua experiência profissional, a sua vontade de colaborar e partilhar. Este livro que agora se publica reflete isso mesmo, sendo ele o contributo do trabalho conjunto de vários elementos da Rede, quer autores, quer editores e revisores. Onze estudos são publicados este ano, as temáticas são variadas, mas estão todas interligadas entre si. Com efeito, completam-se, mostrando inequivocamente que estes assuntos não são estanques e que, de uma forma líquida, se espraiam por diferentes ambientes (naturais e humanos), sem fazer caso das divisões e etiquetas que gostamos (tentamos!) de impor. Assim, vejamos:

Com base nos resultados das escavações arqueológicas realizadas em Cacela-a-Velha, no

12

Page 13: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

Algarve (Portugal), Cristina Garcia conta-nos a história daquela povoação, implantada num ponto estratégico da costa, em estreita ligação com o mar e o rio Guadiana. Este trabalho mostra como o meio e as suas modificações determinaram – em conjunto com outros fatores – a evolução deste aglomerado urbano e as estratégias de vida da população desde o período romano (séc. VI-VII). Cristina Brito et al. fazem a apresentação dos objetivos e das iniciativas da Cátedra UNESCO “O Património Cultural dos Oceanos”, atribuída à Universidade NOVA de Lisboa, em 2016. Esta Cátedra visa promover a gestão e preservação do património cultural e natural, material e imaterial, dos oceanos. Tendo por base um grupo transatlântico de investigadores e com tantos interesses comuns, esta Cátedra tornou-se uma parceira ideal para a Rede BRASPOR, existindo, desde 2017, grande colaboração entre elas.

Perceber a relação das populações com as zonas costeiras, ao longo do tempo, é essencial para determinar como umas e outras se influenciaram. Bem conhecer (o passado) para melhor gerir (o presente): o conhecimento histórico como um primeiro passo para a ação, guiando comportamentos, orientando políticas públicas. Sob este mote, surgem-nos dois trabalhos. No primeiro, Filipe Ferreira e José de Freitas falam-nos da invenção da praia no Rio Grande do Sul (Brasil), da construção de modelos de sociabilidade – importados da Europa - que modificaram a relação das gentes da cidade do Rio Grande com o litoral e imprimiram transformações na paisagem inerentes aos novos usos. Este estudo insere-se no âmbito de um doutoramento em Educação Ambiental e pretende criar ferramentas, com base na análise da evolução de sensibilidades e práticas, para moldar novas relações (mais sustentáveis) com as praias do presente e do futuro. No segundo, Olegário Pereira e Maria Rosário Bastos dão exemplo, expondo o caso paradigmático do Furadouro (Portugal), de como a História Ambiental pode fornecer dados holísticos para uma melhor compreensão de uma realidade complexa – originada por fatores naturais e antrópicos – e servir de apoio a uma gestão costeira integrada deste trecho litoral.

Que a beira-mar é simultaneamente um espaço de grande atração e de muitas tensões, tendo sido

palco de grandes alterações nas últimas décadas, é o que nos diz Luiz Araújo Gonçalves que, no seu estudo, analisa a venda ambulante no calçadão da cidade litorânea de Fortaleza. Êxodo rural, litoralização, turismo, crescimento urbano, precariedade são fenómenos globais que refletem mudanças decisivas nas sociedades atuais, que se deslocam para cada vez mais perto do mar, criando grandes aglomerados, com complicados problemas económicos, políticos e sociais, impondo uma enorme pressão em litorais já afectados pelo efeito cascata de outras alterações nos sistemas ambientais a nível mundial. Os riscos que impendem sobre as comunidades costeiras – especialmente os eventos meteorológicos extremos – são referidos no estudo de Miguel Albuquerque et al. que explicam como as geotecnologias, que permitem a coleta, o processamento, a análise e a interpretação de diferentes dados, oferecem informações essenciais para criar soluções capazes de minimizar os impactos destes eventos, constituindo instrumentos decisivos para a gestão costeira. A questão da governança das zonas costeiras é fundamental perante os problemas que se avizinham, o que implica não só delinear instrumentos de gestão, mas também verificar a sua aplicação e eficácia. O estudo de Davis Paula et al. aborda isto mesmo, debruçando-se sobre as políticas públicas desenvolvidas, nos últimos anos, pelas instituições municipais do estado do Ceará (Brasil), sobretudo no que diz respeito ao controle da erosão costeira que afeta o litoral daquele estado.

A implementação de práticas de recuperação de áreas degradadas tem sido aplicada em várias áreas costeiras, na tentativa de inverter processos de destruição e testar soluções. Leonardo Lima et al. trazem-nos o caso do Mangue Pequeno, no Icapuí, Ceará, apresentando os resultados do processo de monitorização da recuperação ambiental deste mangal e apontando as dificuldades existentes na sua preservação por causa de interesses – políticos, económicos e ambientais – divergentes. A deterioração progressiva dos ambientes marinhos e costeiros tem implicações profundas, sendo uma delas a destruição das espécies que garantem o sustento das comunidades piscatórias. Aleatoriedade e a imprevisibilidade

13

Page 14: PDFpenPro - Tomo VII BRASPORMares e Litorais: Perspetivas Transdisciplinares / Tomo VII da Rede BRASPOR Editores: Ana Cristina Roque Davis Pereira de Paula João Alveirinho Dias Luiz

estão desde sempre associadas às atividades destes grupos, mas as alterações que se fazem sentir no litoral e o desaparecimento dos recursos naturais, bem como as medidas tomadas para conservá-los, têm contribuído para a redução da pesca, o abatimento de embarcações e a diminuição do número de pescadores. Tendo em conta este contexto, Vanessa Amorim analisa as estratégias dos pescadores de Setúbal (Portugal) para sobreviver enquanto comunidade e lidar com a incerteza do seu futuro. Enquanto, no outro lado do Atlântico, Wellington Castellucci Júnior recolhe as histórias de vida dos pescadores da ilha de Itaparica que, a partir dos anos de 1960, se viram marginalizados na sua própria terra, quando aquele litoral se tornou alvo da especulação imobiliária e de intensa urbanização com fins turísticos. Porque as mudanças são tantas e

tão radicais, torna-se necessário proteger, promover e difundir o património cultural marítimo – a arte, a memória e a tradição – das gentes da beira-mar. Assim, a Câmara Municipal Sesimbra criou um museu para albergar uma extensa e interessante coleção, feita de objetos, filmes, fotografias, espécimes naturais e testemunhos, muitos oferecidos pela própria população. Andreia Conceição e João Pedro Ventura, técnicos do Museu Marítimo de Sesimbra, falam-nos sobre este projeto que é, em última instância, uma homenagem aos homens e mulheres que há séculos vivem daquele mar, que defronte daquela vila se estende até à outra margem, num outro continente, unindo Brasil e Portugal.

Joana Gaspar de Freitas Coordenadora Portuguesa da Rede Braspor

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRAUDEL, F. 1995 [1966]. O Mediterrâneo e o mundo

mediterrânico na época de Filipe II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

BRIMBLECOMBE, P. & PFISTER, C. 1990. The Silent Countdown: Essays in European Environmental History. Berlin: Springer-Verlag.

CRONON, W. 1993. The uses of Environmental History. Environmental History Review, 17(3): 1-22.

DRUMMOND, J.A. 1991. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos Históricos, 4(8): 171-197.

MASSARD-GUILBAUD, G. 2007. Quelle histoire pour l´environnement?, Responsabilité & Environnement, 48: 30-36.

MCNEILL, J.R. 2000. Something new under the Sun: an Environmental History of the Twentieth-Century World. New York: W.W. Norton.

MCNEILL, J.R. 2003. Observations on the Nature and

Culture of Environmental History. History and Theory, 42(4): 5-43.

MCNEILL, J.R. 2005. Drunks, Lampposts, and Environmental History. What's Next for Environmental History? Environmental History, 10(1): 30-109.

NYE, D.E.; RUGG, L.; FLEMING, J. & EMMETT, R. 2003. The Emergence of the Environmental Humanities, produzido para a Swedish Foundation for Strategic and Environmental Research.

PÁDUA, J.A. 2010. As bases teóricas da História Ambiental. Estudos Avançados, 24(68): 81-101.

WORSTER, D. (Ed.) 1988. The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History. Cambridge: Cambridge University Press.

___________________________________________________ ___________________________________________________

14