PE. JOSÉ MIGUEL PEREIRA - Paulus | Portal

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18 | SÍNTESE | maio-junho 2015 «Ser Igreja e ser na Igreja» é o novo título da PAULUS Editora. É o resultado da tese para obtenção do segundo grau canónico do Pe. José Miguel, reitor do Seminário dos Olivais, em Lisboa, e pretende ser um ponto de reflexão sobre a forma como os fiéis vivem a fé e têm noção da sua pertença à Igreja. PE. JOSÉ MIGUEL PEREIRA Entrevista e fotos |Ricardo Perna o novo título tado da o

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18 | SÍNTESE | maio-junho 2015

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«Ser Igreja e ser na Igreja» é o novo título da PAULUS Editora. É o resultado da tese para obtenção do segundo grau canónico do Pe. José Miguel, reitor do Seminário dos Olivais, em Lisboa, e pretende ser um ponto de reflexão sobre a forma como os fiéis vivem a fé e têm noção da sua pertença à Igreja.

PE. JOSÉ MIGUEL PEREIRA

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2015 maio-junho | SÍNTESE | 19

O que o levou a lançar uma obra com esta

temática?

Esta obra é fruto da minha história de 19 anos

de vida sacerdotal sempre envolvido mais

diretamente no cuidado pela vocações e na

formação sacerdotal. Desse cuidado fui cons-

tatando o enorme distanciamento das pessoas,

das famílias e das comunidades em relação à

consciência de que a fé só pode ser autentica-

mente vivida quando se torna resposta quo-

tidiana à vontade de Deus. E que esta vontade

não só se manifesta de forma clara e evidente

quando procurada com os meios e instrumen-

tos que Deus põe à disposição, como necessita

de um ambiente favorável que ensine a escutar

e a responder, a compreender e a perseverar,

a libertar-se e a entregar-se confiantemente a

Deus.

A História tem mudado a forma como se

define a pertença à Igreja?

Sim, tem. E nós estamos num tempo de acen-

tuada mudança e procura de novas formas

de favorecer o encontro com Cristo, nessa

pertença. Há hoje uma busca maior de formas

mais próximas e menos anónimas de pertença,

num horizonte em que o ambiente social já não

favorece o encontro com Cristo e a resposta de

fé. Ao mesmo tempo que a aceleração do tempo

e a globalização do espaço também traz formas

mais efémeras de pertença, logo substituídas

por outras que lhe sucedam.

Ser Igreja é diferente de ser na Igreja?

Ambas as realidades se convocam mutua-

mente. Trata-se de descobrir que ninguém

pertence a si próprio, mas que pertencemos a

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a libertar-se e a entregar-se confi

Deus.

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Do ser comunhão ao agir vocacional240 páginas

p.v.p.: www.paulus.pt

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Deus e isso faz-nos pertencer uns aos outros

como os membros de um corpo. Essa pertença

não nos escraviza, antes nos eleva e completa

porque nos resgata da solidão existencial e

nos integra nas relações de que se tece a vida.

Isso é o Amor, isso é a Vida verdadeira em que

somos introduzidos. E assim, porque se é Igreja,

descobre-se também a identidade específica do

que se é na Igreja.

Antigamente, a relação de pertença dos

leigos e religiosos à Igreja implicava um

serviço de uns a outros, sendo os leigos

mais objeto de evangelização. Hoje

fala-se mais nos leigos como sujeitos de

evangelização também. Evolução dos

tempos?

Diria antes amadurecimento da fé. É um facto

que a progressiva universalização do acesso à

instrução e à informação favorece uma partici-

pação mais consciente e ativa das populações

na vida social e isso influi também nos ritmos

da vida em Igreja. Mas essa não é a principal

razão de uma consciencialização dos fiéis

acerca da missão evangelizadora dos leigos. O

que é verdadeiramente decisivo é o aprofunda-

mento das consequências do batismo e da fé:

o fiel batizado torna-se sacramento de Cristo,

Filho de Deus, e d’Ele recebe a vida, a filiação

divina e a missão evangelizadora. Quanto mais

profunda for a fé, mais o apostolado dos leigos

se tornará efetivo, não como uma concessão de

princípio (abrir espaço à sua participação) ou de

necessidade (os padres e os religiosos são pou-

cos), mas como fruto de uma fé mais assumida.

Há diferentes níveis de importância nas

formas de pertença à Igreja?

Não poria a questão desse modo. No plano

mais pessoal, para cada batizado, a sua forma

de pertença assumida no concreto dos carismas

e vocações, se é aquela a que Deus o chama

e é construída em aliança e vivência eclesial,

essa é a mais importante. Agora, no plano mais

alargado, há duas fundamentais formas de

pertença à Igreja: a batismal, que incorpora no

Corpo eclesial de Cristo e O torna presente em

todas as realidades da vida e do mundo; e a do

ministério ordenado, que visibiliza a presença

de Cristo como Cabeça do Corpo e fonte da

salvação para toda a Igreja.

Fala na família como uma das expressões

maiores de ser Igreja. Mas são muitas as

famílias que não vivem a fé dentro delas,

pois apenas alguns membros professam.

Como mudar isto?

Não tenho receitas, mas creio que há alguns

eixos orientadores que a Igreja já afirmou mas

ainda precisam de uma efetiva e decidida im-

plementação nas nossas comunidades cristãs:

a transformação da pastoral de uma configu-

ração centrada na abstração para uma atenção

concreta às famílias enquanto pessoas em rela-

ção; um sério itinerário de iniciação cristã dos

fiéis, que conduza a uma fé sólida; a atenção à

antropologia cristã e ao evangelho da família

que ajude a viver os dados da revelação bíblica

e da doutrina católica sobre a pessoa e a família;

o acompanhamento próximo das famílias e a

oferta efetiva dos meios da Graça e das graças

do estado matrimonial, desde os primeiros tem-

pos de vida a dois; uma oferta real do namoro

como etapa de discernimento vocacional que

leve a perspetivar a vida familiar como resposta

de fé a Deus e não simples concretização do

apelo natural a casar. Nesta minha obra sugiro

que se possa refletir e porventura valorizar

o compromisso matrimonial, e a identidade

e missão que daí advêm, como verdadeiro

ministério confiado pela Igreja aos esposos e

reconfirmado no batismo dos filhos.