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Pedagogia da Felicidade

05 / 06 – maio / junho - 2007

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DMA Revista das Filhas de Maria Auxiliadora Via Ateneo Salesiano, 81 - 00139 Roma RM tel. 06/87.274.1 fax 06/87.13.23.06 e-mail: [email protected] Diretora responsável Mariagrazia Curti Redação Giuseppina Teruggi Anna Rita Cristaino Colaboradoras: Tonny Aldana – Julia Arciniegas – Mara Borsi - Piera Cavaglià – Maria Antonia Chinello – Emilia Di Massimo – Dora Eylenstein – Laura Gaeta – Bruna Grassini – Maria Pia Giudici – Palma Lionetti - Anna Mariani – Cristina Merli – Marisa Montalbetti – Maria Helena Moreira – Concepción Muñoz – Adriana Nepi – Maria Luisa Nicastro – Louise Passero – Maria Perentaler – Loli Ruiz Perez – Rossella Raspanti – Manuela Robazza – Lucia M. Roces – Maria Rossi. Tradutoras: francês – Anne Marie Baud japonês - inspetoria japonesa inglês - Louise Passero polonês - Janina Stankiewicz português – Maria Aparecida Nunes Ferreira espanhol - Amparo Contreras Alvarez alemão - inspetoria austríaca e alemã Edição extra-comercial: Istituto Internazionale Maria Ausiliatrice - 00139 Roma – Via Ateneo Salesiano, 81 – c.c.p. 47272000 – Reg. Trib. Di Roma n. 13125 del 16-1-1970 – sped. abb. post. – art. 2, comma 20/c, legge 662/96 – Filiale di Roma – n. 5/6 maggio-giugno 2007 – Tip. Istituto Salesiano Pio XI – Via Umbertide, 11 – 00181 Roma.

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Sumário Editorial As cores da Alegria página 4

Dossiê Pedagogia da Felicidade 5

Maria O “Fiat” de Maria, início da Nova Alilança 11

Fio de Ariadne Para além da frustração 13

A Lâmpada Coração de Maria, mãos de 17

É vida Um testamento de fim- de- vida 19

Inserção Central Madagascar 20

Mundo submerso Corpos à venda 21

Objetivo 2015 Escola e igual oportunidade 23

Mundo Jovem A educação é coisa do coração 25

Explora-recursos Um telefone “tudo-faz” 27

Diálogo A porta do céu 28

Periferias A informação monopolizada 30

Filme “Mundo Novo” 33

Camilla A emergência da alegria 36

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Editorial AS CORES DA ALEGRIA

Giuseppina Teruggi

Folheando algumas Revistas, aquelas que comumente encontramos em nossas estantes na sala da comunidade, atraem-me, em particular, hoje, as fotos. Uma delas toca-me mais que as outras: o sorriso radiante de um menino pobre que tem, encostado no ouvido, um pedaço de madeira para simular um telefoninho. Uma criança feliz!

Deixo-me tomar por uma convicção que frequentemente partilhamos e que

nos surpreende pelo seu imediatismo: não são as coisas que nos tornam felizes. Nem o quanto se possui, nem o brinquedo mais sofisticado, nem mesmo as certezas que favorecem sonos tranqüilos.

A alegria tem as cores do coração profundo. “É feliz quem quer aquilo que tem”, dizia Santo Agostinho e é difícil

contradizê-lo! Conhece espaços sempre mais abertos de alegria, quem se aceita assim como é, quem sabe cantarolar sua canção no profundo do ser, quando as circunstâncias são alegres, são tristes ou quando não correspondem às expectativas.

Na obra de Paul Claudel O anúncio a Maria, é dito à protagonista Violaine,

contagiada pela lepra por ter abraçado um leproso: “Violaine, quanto tens sofrido nestes oito anos”. Ela responde: “Mas, não em vão. Muitos sofrimentos se consumam no fogo do coração que arde”. Por isso eles não destroem a felicidade, não tolhem a capacidade de esperar, de amar, nem de sorrir. A alegria é fruto de amar e de ser amados. Mais que de qualquer outra coisa. Alegria e amor são dois termos que sempre se evocam.

Para nós é, sobretudo, a certeza do amor de Deus que nos faz felizes. Uma certeza que acompanha os fiéis de todos os tempos. Na Bíblia há uma extraordinária coleção de cantos – os Salmos – que exprimem de tantos modos a alegria de crer e de proteger a vida como um dom, também nos momentos mais trágicos.

Pollyanna, protagonista do célebre romance de Eleonora Porter, recordando o pai, pastor protestante, sublinha: “Não teria continuado nem mesmo um dia como pastor, se não estivessem na Bíblia os versículos da alegria. Papai, assim os chamava. São todos aqueles que começam com “Sede sempre alegres”, “Cantai cantos de alegria”. Um dia papai estava tão triste e se pôs a contá-los. São 800! Dizia que, se Deus se dera ao trabalho de exortar-nos por 800 vezes a ser alegres, devia ser importante”.

“Ficai sempre alegres...: é esta, de fato a vontade de Deus, em Cristo Jesus”

(1 Ts 5,18). Para quem crê, a alegria é um modo de ser cotidiano, não uma vestidura para circunstâncias extraordinárias. Certamente, ser alegre é um dos testemunhos mais eloqüentes e convincentes para os jovens. Foi o que viveram e nos ensinaram Dom Bosco e Maria Domingas Mazzarello entregando-nos o mandamento da alegria. E confiando o nosso Instituto a Maria, a mulher do Magnificat.

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Dossiê PEDAGOGIA DA FELICIDADE

Graziella Curti e Emilia Di Massimo Segundo especialistas, a felicidade está em experimentar o que há de belo na vida. Não é um puro acaso do destino, mas uma capacidade a ser descoberta e aprendida. É preciso aprender a ser feliz. Parece que Dom Bosco escolheu preferencialmente o caminho da alegria e, portanto, criou o ambiente adequado para percorrê-lo. Em Valdocco, a felicidade era caseira e se aprendia diariamente a ser feliz, uns com os outros. Ali gozava-se, para valer, com jogos, teatros, com a banda, sobretudo num clima de família que favorecia o encontro e a amizade. O próprio percurso de santidade consistia em estar muito alegres. Assim também em Mornese, Maria Domingas e as primeiras Irmãs, não obstante a vida de sacrifício e as dificuldades com o povo, estavam sempre alegres. Desde o início praticavam aquele mandamento da alegria que Main havia deixado como herança às suas filhas. Três metros acima do céu É este o título de um livro e de um filme de amor, que se tornaram o símbolo de um mundo jovem rico de sonhos. Obras nas quais são narradas histórias verossímeis onde é possível reencontrar-se, mas que, muitas vezes, alimentam apenas belas ilusões, quando, a condição primordial de felicidade é a vivência do cotidiano, mesmo que custe sacrifício acreditar nesta verdade. Fazer bem o que se está fazendo confere bem-estar, alegria. A felicidade não está no futuro, é um estado de alegria que se vive apenas no presente. Geralmente, porém, os nossos pensamentos ocupam-se com o futuro ou com o passado, quase nunca com o presente; vagamos por tempos que não nos pertencem. A felicidade, para muitos, é um trem que chega sempre sobre o trilho de quem vive ao seu lado. Aprender a ser feliz no hoje, é, ao invés, descobrir que, depois de ter caminhado muito, a felicidade já nos esperava fazia tempo, à porta de casa. Mas quem de nós pode dizer quando começa a ser feliz? Habitualmente a felicidade alcança-nos no silêncio, nos momentos mais impensados da nossa existência; se não a perturbamos com medos e ansiedades, permanece conosco. Afirma Hawthorne: “A felicidade é como uma borboleta: se a persegues não chegas jamais a apanhá-la, mas se te sentas tranqüilo, pode até posar sobre ti”. O milagre da felicidade acontece dentro de nós quando em nossa vida desperta-se o amor; só então nos damos conta de que o ser humano tem dentro de si o sol, a lua, as estrelas e que é preciso apenas reencontrar “aquele” céu... Mas quando e como isto acontece? Se existissem as “fábricas de felicidade” elas nos lembrariam que o primeiro dever é fazer-se feliz a si mesmo: somente quem é feliz é capaz de fazer felizes

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os que estão ao seu lado. Isto ensinaram os nossos fundadores a gerações de jovens e a todos os adultos que os seguem na vida. Uma carta, um sonho 10 de maio de 1884. É noite em Roma. Dom Bosco, cansado após uma jornada intensa, escreve. “Meus caríssimos filhos em Jesus Cristo, de perto ou de longe, eu penso sempre em vós. Um só é o meu desejo: o de ver-vos felizes no tempo e na eternidade”. O pai dos jovens teve um sonho. A melodia dos pátios invadiu mais uma vez o seu repouso. A música do oratório acariciou-lhe o coração. Como num flash back, viu milhares de jovens. “Era uma cena toda vida – escreve – toda movimento, toda alegria. Quem corria, quem saltava, quem fazia saltar... Num canto do pátio estava reunido um grupo de jovens, que pendia dos lábios de um Padre, que lhes contava uma historinha”. Ali estão todos os componentes daquele ambiente salesiano que nascerá em toda parte do mundo, em culturas diversas, mas sempre com a característica da alegria.

Naquele momento, Dom Bosco exprime sua admiração: “Eu estava encantado com aquele espetáculo”. Mas o sonho tem um destaque. Ao oratório de ontem, substitui-se o atual. O antigo aluno apresenta-lhe uma realidade frustrante. Os pátios estão quase desertos. Os jovens sozinhos, apoiados nas colunas, desanimados. Olhares desconfiados e maliciosos. A esta altura, Dom Bosco pega a caneta. Ele não está habituado a teorizar critérios pedagógicos. Não gosta das idéias empacotadas, prefere as encarnadas. Agora, porém, sente o desejo de comunicar a todos, aos filhos que virão e aos presentes, que a educação é coisa do coração; que é preciso amar os jovens, de modo que saibam que são amados. Já velho e cansado, desgastado pelo trabalho, encontra expressões apaixonadas para convencer educadores e jovens a retomarem a sua parte, a acreditarem na pedagogia da felicidade que colore a sua obra educativa. E termina a carta com um desejo que se faz oração: “Voltem os dias do antigo oratório, os dias do afeto e da confiança, os dias dos corações abertos, os dias da verdadeira alegria para todos”. A casa da alegria Também em Mornese, como em Valdocco, respirava-se a alegria. Através da Crônica tomamos conhecimento de um clima de liberdade e de um bem-estar, que se refere também à corporeidade, à vivacidade expressiva à qual não se punham limites a não ser os morais. E então, quando uma jovenzinha não consegue ficar parada no banco, Madre Mazzarello manda-a dar uma volta na vinha; quando uma outra diz estar com fome, mesmo que a comida seja pouquíssima, oferece-lhe pão com queijo. Quando não se encontra em casa literalmente nada para comer, Maria Domingas organiza um passeio aos bosques onde se recolhem as castanhas que servem para abrandar as reclamações do estômago vazio. O importante é manter o clima de alegria, constituído de muitos fatores, sobretudo daquele fundamental: estar bem consigo mesmo.

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Pelo mesmo motivo, também as relações mais profundas, as comunicações mais difíceis, tal como a de uma obediência pesada, são frequentemente mediadas pela alegria. Enquanto se está, ali, escondida atrás do poço, é mais fácil dizer sim a um desapego, receber uma observação sobre o próprio modo de comportar-se. E constantemente, naquela casa do amor de Deus, ressoa o estribilho de Maria Domingas, a recomendação para estar alegre. Porque a alegria faz barreira ao egoísmo na melancolia, na tristeza inútil, no amor próprio. Assim, também, nas cartas. O tema da alegria percorre os seus escritos ricos de imagens e de vida. Giulia Paola di Nicola, estudiosa de antropologia, comentando o epistolário de Madre Mazzarello, anota: “As cartas comunicam um amor a Deus não distinto do amor e do respeito pela integridade da pessoa, que se expressa na preocupação pelo seu estado de saúde física, espiritual e psíquica, substanciada precisamente naquela constante recomendação de permanecer alegre, termo que denota o estado de graça dos filhos e das filhas de Deus”.

E acrescenta: “Esta santa alegria, na qual o amor fraterno alimenta-se da consciência tranqüila de estar continuamente na presença de Deus e sob o olhar dulcíssimo da Virgem, como sublinha Madre Enrichetta Sorbone, havia gravado em todas as jovens a lembrança de Mornese como um “ambiente de Paraíso”. O guarda-chuva amarelo Valdocco, Mornese; às vezes estão presentes em cada uma de nós como saudade e criam dentro de nós um desejo de “ser”, de viver daquele mesmo modo; outras vezes parece-nos sonhar com ilhas de felicidade inatingíveis, às quais nunca vamos chegar. É verdade?... Dom Bosco e Madre Mazzarello viveram momentos de desânimo e de fracasso, períodos de luta interior, mas em todas as circunstâncias sempre se ancoraram naquele que era a motivação profunda de sua felicidade. O Reitor-Mor, metaforicamente, nos diria: “ tinham um guarda-chuva amarelo”... e este emergia entre os múltiplos “guarda-chuvas negros” que, com freqüência, ameaçavam o horizonte... O guarda-chuva amarelo nos é dado pelos nossos Santos e nos empenha a dá-lo a outras pessoas para que carreguem o “belo estável”, onde estejam. Como realizar uma doação tão empenhativa?... Os jovens nos questionam sobre a autenticidade de nossa felicidade, investigam-nos no cotidiano, nos momentos históricos cinzentos de tristeza e nos pedem para emergir com um “guarda-chuva amarelo” que guarda um segredo, não o de possuir, mas o de dar... Na medida em que somos capazes de doar a felicidade aos outros, tornamo-nos felizes. Afirma Arthur Schopenhauer: “Para descobrir a capacidade que uma pessoa tem de ser feliz, basta saber qual é a sua capacidade de fazer os outros felizes”. O dom de si mesmo, porém é, com freqüência, um semear entre lágrimas, é a morte do “grão de trigo” e, ao mesmo tempo, é doçura e alegria. Isto acontece quando conservamos o fervor do espírito, aquela luz que aquece interiormente, e que nos confere um ardor que ninguém jamais poderá extinguir. A grande alegria das nossas vidas empenhadas é o nosso “guarda-chuva amarelo” que os jovens podem receber tanto na hora da angústia quanto na hora da esperança. Hoje mais que nunca, os nossos destinatários (e não só eles) têm necessidade de receber o anúncio da Boa Nova, não de evangelizadores tristes e desanimados, impacientes e desiludidos, mas de pessoas que guardam no coração a experiência e a alegria do encontro com o Ressuscitado.

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Sob um “guarda-chuva negro” o rosto fica triste e amuado. Quantos rostos jovens encontramos assim? Eles apenas querem ser felizes, mas a felicidade que buscam é muitas vezes frágil, ameaçada. Está estatisticamente provado que uma das causas dos suicídios juvenis surge da impossibilidade que têm de ser felizes. Tal realidade nos faz amadurecer a consciência de que o testemunho mais convincente do anúncio é a nossa alegria. A nossa felicidade deveria ser desconcertante porque não se opõe à infelicidade, pois, estaria em contradição com Aquele que abraça também o sofrimento e que, “em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a Cruz, desprezando a vergonha...” (Hebreus 12,2). A felicidade que mora em nós não se fundamenta nem na exclusão da tristeza, nem na sua negação. O nosso guarda- chuva amarelo abre-se e nos abriga da chuva insistente e constante... Comumente acreditamos que a alegria é o oposto da tristeza e vice-versa; na realidade o contrário da felicidade é ter dureza de coração, é um universo interior privado de sentimento e de emoções. A verdadeira infelicidade consiste em não amar e não ser amados. Santo Agostinho ensina-nos que “é feliz quem deseja aquilo que tem”, isto é, quem aceita sua vida tal como é. Deus nos dá o que nos é necessário para vivermos uma vida feliz na insígnia de um “guarda-chuva amarelo”. Cabe a nós utilizar este potencial, estes talentos para a nossa felicidade ou infelicidade. A vida de cada um é a melhor e a mais feliz, se a acolhemos das Mãos de Deus. Alguns conselhos para quem quer ser feliz e ter um guarda-chuva amarelo para abrir e presentear: “Julga o teu jardim pelas flores e não pelas folhas que caem; julga os teus dias pelas horas felizes e não te apegues aos momentos tristes. Julga as noites pelas estrelas, não pelas sombras. Julga a tua vida pelos sorrisos, não pelas lágrimas. E com alegria para toda vida julga a tua idade pelos amigos, não pelos anos”. Deus nos quer felizes

Para a liturgia da festa de Dom Bosco, foi escolhido entre outros, um trecho da carta de Paulo aos Filipenses, todo ele um poema à alegria. Desde o início, o apóstolo abre a porta da felicidade com um convite exultante: “Irmãos, alegrai-vos no Senhor, sempre; eu vos repito ainda, alegrai-vos”.

E mais adiante, confirmando sua abertura a grandes horizontes, àquela antropologia humaníssima, que Dom Bosco adotou plenamente nas suas casas, alarga para 360º o raio dos pensamentos de quem quer seguir Jesus. “Em conclusão, - acrescenta – tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honrado, o que é virtude e merece louvor, tudo isto seja objeto dos vossos pensamentos”. Dom Bosco e Maria Mazzarello tomaram ao pé da letra este apelo. Em Valdocco e em Mornese nada se exclui do que é bom, belo e verdadeiro. O cotidiano é a verdadeira casa do sentido, discurso de vida onde se integram festa,

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estudo, oração, relações. Formam-se bons cristãos e honestos cidadãos, através do Sistema Preventivo, método educativo e espiritualidade. A lógica misteriosa e sagrada da Encarnação, que envolve Pai, Filho e Espírito é luz para aquela espiritualidade do dia-a-dia que torna consistente o agir educativo em favor dos mais pobres. Que faz chamar pelo nome os jovens e as jovens, como numa verdadeira família onde a palavrinha ao ouvido torna-se expressão de afeto, reconhecimento de um mundo personalizado e profundo, que anseia por amor e ternura. Uma pedagogia da felicidade que não exclui, vencendo os preconceitos sociais, o baile de carnaval ao som do acordeão para quem se declara em favor da vida e do amor. Em suma, uma educação integral, que vê na alegria o ingrediente necessário para um saudável caminho de maturação. A cruz florida Tanto Dom Bosco como Madre Mazzarello propuseram uma verdadeira e autêntica pedagogia da felicidade e do amor, testemunhando a alegria de viver uma existência caracterizada pela fé, otimismo e esperança, não obstante o sofrimento. Tal convicção foi expressa nas Linhas orientadoras da missão educativa das FMA, que todas temos em mãos e que buscamos traduzir no tempo e no lugar ao qual somos chamadas a viver. A realidade da cruz, do sofrimento, está sempre presente na vida das pessoas. Não se pode ignorar. A existência do cristão é marcada pelo mistério pascal: o evento salvífico de Jesus morto e ressuscitado. Mas é propriamente deste evento que brota a esperança de uma cruz florida, isto é, em que “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus”. Daqui deriva a possibilidade de uma “leitura orante da realidade”. O realismo da pedagogia salesiana, como nos tempos de Dom Bosco, não ignora os problemas, chama-os pelo nome e se coloca ao lado dos jovens no caminho cotidiano onde se defronta com as pobrezas, que, hoje como ontem, constituem a cruz. Cruzes com diferentes nomes, cruzes que vêm dos novos desafios como a desagregação da família, os atentados terroristas, as epidemias, o desemprego, o tráfico dos seres humanos, o consumismo e outras chagas continuamente presentes no mundo. A crueza deste impacto pode ser mitigada pelo zelo, pelo acompanhamento das novas gerações por adultos que os amam de fato e os fazem sentir-se amados. Propiciam-lhe fazer a experiência da felicidade, porque, como disse Simone Weil “Nada mais que a alegria, quando pura, é adequada para forjar puros e sábios”, finalidade da educação. E ainda “Uma alma é forte na proporção de sua capacidade de se alegrar”. Encontramos a confirmação disso numa página do diário de Roger Schultz, prior de Taizé, verdadeira parábola de comunhão para os jovens de hoje: “A felicidade: está bem perto, à mão. Jamais buscá-la: fugiria. Encontra-se na vigilância e na capacidade de maravilhar-se. Às vezes parece que a felicidade some por muito, muito tempo. E, todavia, está presente no encontro de um olhar. Está presente, pertíssimo, quando o ser humano ama gratuitamente sem preocupar-se com a retribuição. E se, por acréscimo, sentir-se amado por muitos, deverá experimentar uma felicidade indizível...”

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Para aprofundar A NOSSA VIDA E A FELICIDADE O Cardeal Martini, no final de uma reflexão sobre as Bem-aventuranças, propõe-se a si mesmo e a quem o escuta, algumas perguntas, que podem fazer bem também a nós, no final deste dossiê: A alegria é a nota dominante da minha vida? Considero-me feliz, estou contente? Em outras palavras, vivo as Bem-aventuranças, ou o timbre das minhas jornadas é a tristeza, a amargura, a monotonia, a negligência, o fazer por fazer, o tram tram... Somos capazes de apostar no futuro? É claro que as Bem-aventuranças prometem, sem assegurar sempre para o hoje. Quase todos os verbos estão no futuro: os aflitos serão consolados, os mansos herdarão a terra, os famintos serão saciados, os misericordiosos encontrarão misericórdia, os puros de coração verão a Deus. De fato as Bem-aventuranças agem desde agora, há as que têm o verbo no presente... Contudo as Bem-aventuranças (a felicidade) pertencem àqueles que sabem esperar.

O clube do noventa e nove Era uma vez um rei muito triste que tinha um servo muito feliz que andava sempre com um largo sorriso no rosto. “Pajem – pergunta-lhe um dia o rei – qual é o segredo de sua alegria?” “Não há nenhum segredo. Apenas não tenho motivo para ser triste. Estou bem com minha mulher e meus filhos. Tenho um trabalho e nada me falta”. O rei, então, chamou o mais sábio dos seus conselheiros: “Quero o segredo da felicidade do pajem”. “Não podes compreender o segredo de sua felicidade. Mas, se queres podes roubá-la”. “Como?” “Fazendo o teu pajem entrar no giro do noventa e nove”. “O que significa?” “Faze o que te digo”. Seguindo as indicações do conselheiro, o rei preparou uma bolsa que continha 99 moedas de ouro e a deu de presente ao pajem. Ele jamais havia visto tanto dinheiro e começou a contá-lo: dez, vinte, trinta, quarenta... noventa e nove! Desiludido, vasculhou com o olhar a mesa, em busca da moeda que faltava. Procurou em toda parte, mas não encontrou a centésima moeda. “Noventa e nove moedas são tanto dinheiro, mas me falta uma moeda” – pensou. O seu rosto não era mais o mesmo. Em vez do sorriso, tinha um olhar triste e irritado. O pajem acabara de entrar no giro do noventa e nove. Não passou muito tempo e foi despedido pelo rei. Não era agradável ter um pajem sempre de mau humor. (Adaptação de Bruno Ferrero)

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Maria O “FIAT” DE MARIA DE NAZARÉ, INÍCIO DA NOVA ALIANÇA

Aristide Serra O tema da “Aliança” percorre toda a Sagrada Escritura, desde o jardim do Éden até a Jerusalém celeste. Na origem, ela exprime o ardente desejo de Deus que quer estar “conosco”, com o mundo inteiro, numa relação de amor livre e gratuito. Esta comunhão íntima do Senhor conosco “salva” a nossa vida, “educa-a”, torna-a harmoniosa, bela, feliz. Na aurora da criação o Senhor Deus sela uma aliança com a humanidade desde o começo, compendiada em Adão e Eva (Gn 2-3). Ao pecado na pré-história do mundo, Deus responde com uma promessa dirigida a Noé (Gn 9, 8-17), depois a Abraão (Gn 15, 1-25; 17, 1-26). Segue, em ordem cronológica, a Aliança do Sinai com todo o povo de Israel (Ex 19-24). Além disso, há a promessa incondicional do Eterno ao rei Davi e à sua casa (2 Sam 7, 11-16;23,5; Sl 89, 4-5.21-38). Diante das persistentes apostasias de Israel, Deus confirma a sua fidelidade com a perspectiva de uma “Nova Aliança” (Jr 31,31-34), que terá o seu cumprimento perfeito no “Sangue” de Cristo (Mc 14,24; Mt 26-28; Lc 22,20; 1 Cor 11,25), no seu mistério de encarnação-morte-ressurreição (cf Jô 14,20; 20, 28). E quando a História Sagrada se consumar com o advento dos novos céus e da nova terra (Ap 21, 1), a nova Jerusalém – que é o “paraíso de Deus”, o novo Éden (Ap 2, 7) – resplandecerá como a “morada de Deus com os homens. Ele habitará com eles e eles serão o seu povo e Ele será o `Deus-conosco´ ” (Ap 21, 2-3). Pois bem: na opinião de não poucos biblistas, a Aliança parece ser a categoria que melhor engloba a cena da Anunciação na sua totalidade (Lc 1, 26-38). A vocação de Maria refere-se profundamente à Nova Aliança que Deus quer estabelecer com o seu povo; ela é a mulher chamada a servir a este desígnio, tornando-se mãe do Filho de Deus. Com a Encarnação, Deus não só está “conosco”, mas faz-se “um de nós” (cf Fl 2, 6-8). O Filho do Altíssimo (Lc 1, 32) humilha-se até tornar-se o filho de Maria (Mc 6, 3), o filho do carpinteiro de Nazaré (Mt 13, 55), “o homem que se chama Jesus” (Jo 9, 11). Aqui a Aliança toca o seu vértice. Aqui está a “novidade” desconcertante. Quem poderia imaginar semelhante loucura de amor? Um fato surpreendente. O anúncio do anjo a Maria (Lc 1, 26-38) considerado como momento nascente da Nova Aliança, tem consonância notável com a confirmação da Antiga (ou Primeira) Aliança, acontecida nas encostas do Monte Sinai (Ex 19, 3-8). Vejamos as duas vertentes da tese aqui enunciada. Israel no Sinai A Aliança concluída no Sinai teve três atores: Deus, Moisés, o povo. Mais claramente: Deus, mediante Moisés, seu porta-voz, manifesta a Israel sua vontade de estreitar uma relação especialíssima com ele (Ex 19, 3-6); e o povo, instruído por Moisés (Ex 19, 7), dá a sua resposta a Deus, exclamando unanimemente: “O que o Senhor disse, nós o faremos” (Ex 19, 8a). E Moisés voltou ao Senhor, para transmitir

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as palavras do povo (Ex 19, 8b). Palavras memoráveis ao longo de toda a espiritualidade de Israel! À medida que a história da salvação se desenrolava ao longo das várias etapas do Antigo Testamento, a Aliança como tal - ou alguns dos compromissos maiores que dela derivavam – era renovada. O ritual destas celebrações repetia o esquema do acontecimento do Monte Sinai. Se no Sinai estava Moisés que falava em nome de Deus, agora entra novamente em cena um mediador, que se dirige à assembléia em nome do Senhor. Este mediador pode ser um rei: Josias (2 Re 23, 1-3), Asa (2 Cr 15, 9-15); um chefe do povo: Josué (Js 1, 1-18; 24, 1-28), Neemias (Ne 5 1-13), Simão Macabeu (1 Mac 13, 1-9); ou um sacerdote: Esdras (Esd 10, 10-12; Ne 9-10). À semelhança do que fez Moisés no Sinai, a função do mediador permanece a de lembrar e explicar a vontade de Deus fundada sobre a Aliança. Ocorria despertar em cada momento uma consciência mais vívida dos compromissos assumidos como povo de Deus. Por isso estes formulários se enriquecem vez por vez com os debates animados entre o mediador e a assembléia, ou vice-versa. É o que vemos no caso de Josué (Js 24, 1-28), Esdras (Esd 10, 10-17), Neemias (Ne 5, 8-13)... No Sinai o povo manifestou o seu consenso, dizendo: “O que o Senhor disse, nós o faremos” (Ex 19, 8; 24, 3.7) Nas cenas de renovação da Aliança, o povo persiste na sua fidelidade ao Senhor com fórmulas idênticas, na essência: “Nós serviremos o nosso Deus e obedeceremos à sua voz” (Js 24, 21.24). Ou: “Faremos como tu dizes [Faremos segundo a tua palavra]” (Esd 10, 12; Ne 5, 12; 1Mac 13, 9). Nos tempos já próximos ao Novo Testamento, “o dia da assembléia” do Sinai (Dt 4, 10) havia se tornado o paradigma ideal para a comunidade de Israel; o Messias esperado, como o novo Moisés, deveria apresentá-la ao Senhor, profundamente renovada. O “faça-se” primitivo do Sinai – atestam os profetas – ressoava na mente e no coração de cada israelita verdadeiro, como um retorno nostálgico aos “dias da tua juventude” (Os 2, 17; Ez 16,8). Filão de Alexandria, célebre escritor hebreu contemporâneo de Jesus, na sua obra A confusão das línguas 58-59, dedica uma página memorável, penetrada de intensa comoção. Nos ambientes da comunidade monástica de Qumràn (florescente também no tempo de Jesus) desejava-se que, por ocasião da vinda do Messias, o povo renovasse a mesma obediência expressa pelo antigo Israel no Sinai, diante de Moisés (manuscritos da quarta gruta, “Testemunho”). O targum (isto é, a versão aramaica do AT hebraico) especifica que Israel emite o seu ato de fé “com coração sincero-íntegro-perfeito”, “com um só coração” (ou seja, indiviso, voltado exclusivamente para o Senhor), “com um coração bom”, “com amor”. E é impressionante o fato de que a literatura rabínica esteja constelada de referências em todos os tons àquele abandono de fé, que constituía o mérito irreversível de Israel. Do Sinai a Nazaré Em continuidade a tudo quanto acontece no Sinai, também em Nazaré estão em cena três atores: Deus, o anjo Gabriel e Maria. Deus, mediante o anjo, seu porta-voz (novo Moisés), revela a Maria o projeto da Nova Aliança, que consiste exatamente na Encarnação de seu Filho (Lc 1, 26-37). Assim Ele demonstra recordar-se de “sua santa aliança” (Lc 1, 72), do juramento feito a Abraão e à sua descendência, aos pais do povo eleito (Lc 1, 73.55).

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No dinamismo do diálogo entre Maria e o anjo renasce o estilo de fé típico do povo de Israel, no quadro da Aliança. De fato, vemos que o anjo fala por três vezes: “Alegra-te, cheia de graça...” (Lc 1, 28)... “Não temas, Maria...” (vv. 30-33)... “O Espírito Santo descerá sobre ti...” (vv. 35-37). E a cada uma das três intervenções do anjo corresponde o comportamento de Maria, escandido em três momentos progressivos. Na primeira, ela “... ficou perturbada e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação” (v. 29). Depois faz uma objeção: “ Como poderá acontecer isto? Não conheço homem” (v. 34). Esta pergunta equivale a um pedido de ulterior iluminação para melhor compreender de que modo poderá colaborar com o desígnio divino. Enquanto ela, de fato, cultiva uma aspiração à virgindade, o anjo anuncia-lhe um projeto de maternidade. Enfim, depois da revelação decisiva do anjo a respeito da intervenção do Espírito Santo, que torna possível o impossível (vv. 35-37), Maria dá o seu consentimento: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se (“fiat”) em mim segundo a tua palavra” (v. 38). O “fiat” da Virgem, pode-se notar, é modelado sobre aquele “fiat” tantas vezes pronunciado por Israel, seu povo, no âmbito da Aliança (“Serviremos o nosso Deus... Faremos segundo a tua palavra”). Maria é a “Filha de Sião”, é a personificação de todo Israel. A fé dinâmica de Israel torna-se a fé experiencial de Maria, propiciada pelo Espírito Santo. Na homilia para a oração dominical do “Ângelus”, em 3 de julho de 1983, João Paulo II delineava as ligações entre o “sim” de Israel no Sinai e o “sim” de Maria, em Nazaré. E concluía exortando: “Peçamos à Virgem que torne sempre mais iluminado e generoso o “fiat” do nosso Batismo e o renove nos empenhos cotidianos do nosso testemunho de fé. Viveremos assim dignamente a nossa Aliança com o Senhor na sua Igreja, coração do mundo”.

*Docente de exegese bíblica na Pontifícia faculdade Teológica “Marianum” - Roma

Fio de Ariadne PARA ALÉM DA FRUSTRAÇÃO

Giuseppina Teruggi Tempo de promessas e de mal-estar

Desde o último Relatório IARD – entidade que se dedica à análise da condição juvenil – emerge uma fotografia com traços problemáticos referentes aos jovens de hoje. Fala-se de uma geração de jovens frustrados, sem um projeto de vida, desacreditados nas instituições, sobretudo na escola, na polícia, entre os políticos, nos bancos. Preferem a sociabilidade restrita mais que o compromisso social, são avessos a fazer escolhas duradouras e olham para o futuro com descrença.

Refere-se sobretudo aos jovens italianos, mas o panorama inclui muitos outros contextos do mundo globalizado.

Nós acreditamos nos jovens e nas suas grandes potencialidades e nos sentimos provocadas por este panorama que envolve os adultos e as instituições, também a Igreja.

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A fase de desânimo não atinge somente os jovens. Muitos adultos sofrem deste mal. A época em que vivemos, com suas múltiplas oportunidades, foi definido por alguns, como estranha. “Um tempo no qual se afirmam grandes capacidades e entusiasmos como aqueles patenteados pela confiança na potencialidade da busca e das aplicações tecnológicas. Temos capacidade de ver mais e melhor, mas a nossa sensibilidade, `hipersensível´ em todos os sentidos, vê-se ainda muito vulnerável... Atrás da fachada de muita força e segurança, quantos dramas de inferioridade, dependência e solidão, mesquinhez e egoísmo, esterilidade!” (A. Sabatini). Quanta gente hoje se sente frustrada e tem a sensação de não poder alcançar tudo quanto sonhava e desejava!

Como pessoas e como comunidades vivemos imersos na realidade e na história de hoje. Vivemos um tempo favorável, como sublinha a carta de convocação do CG XXII, mas constatamos também as contradições ligadas aos padrões culturais ambíguos de nossa sociedade e às injustas condições de vida de tanta gente. Medimos os desníveis entre os ideais pelos quais gastamos nossas energias e a escassez dos resultados que tardam a chegar ou, aparentemente, jamais chegam. Fazemos a experiência disso em todas as idades. As irmãs jovens o advertem com particular preocupação. Quem está mais adiantada nos anos às vezes experimenta a sensação de impotência ou de exclusão das atividades. Serpeia também em alguns dos nossos ambientes um halo de frustrações sutis. Nem sempre expresso. Em alguns casos, camuflado pelo confronto com outros tempos, outras possibilidades, ou por apreciações críticas dos dias de hoje.

Uma realidade com múltiplos rostos Frustração é a falta de gratificação de um desejo, o impedimento da satisfação de uma necessidade. A pessoa vive um estado psicológico doloroso diante de tudo o que obsta ou bloqueia a realização das metas à qual tende com fortes motivações. O conflito existencial que daí se segue toca a pessoa inteira, desde as primeiras fases da vida. São muitos os fatores que levam à frustração. Desde os físicos, ligados às necessidades primárias de conservação de um estado de bem-estar, nem sempre atingível; aos fatores sociais, ligados à convivência com outras pessoas e às regras que daí derivam, necessárias ao bom funcionamento do grupo social, ou ligadas a decisões arbitrárias de pessoas em posto de autoridade ou de regimes políticos; aos fatores pessoais que se colocam em muitos níveis: biológico, psicológico, social. As diferenças individuais tornam mais ou menos grave e sofrido, o sentido de frustração: constatamos que uma mesma experiência de falta de gratificação de uma necessidade qualquer pode ser percebida por uma pessoa como desagradável ou humilhante, enquanto que, para uma outra, pode ser estimulante ou até causar riso. Em nossas experiências cotidianas observamos que o que faz a diferença é a reação pessoal à frustração. Podemos opor-nos ativamente ao obstáculo e, quanto mais forte for a motivação, tanto mais se persiste na busca do objetivo pré-fixado que se tem como impedido. Ou, submeter-nos passivamente e recorrer a formas compensatórias provocando danos à auto-estima, ou simplesmente resignando-nos diante da situação. Em alguns casos podemos reagir com agressividade chegando, inclusive, a expressões incontroladas, desproporcionadas, em situações nas quais uma série de frustrações acumuladas desencadeia reações que um único acontecimento não teria desencadeado. A reação agressiva pode ser dirigida

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externamente, a pessoas ou coisas; ou a nós mesmos chegando a passar dos limites com manifestações auto-punitivas, também graves. Muitas vezes a frustração estimula a inteligência, ativa o comportamento, orienta para escolhas criativas e realizadoras, intensifica a cooperação com quem vive a mesma situação. Há também reações inadequadas que danificam a força do Eu e provocam formas defensivas que lesam a serenidade interior. Desencadeiam-se, então, os assim chamados “mecanismos de defesa”, que podem degenerar em patologias neuróticas. Alguns estudiosos arrolam uma grande quantidade, de 10 a 35 formas, com várias expressões: racionalização, evasão, compensação, formação reativa, fuga, projeção, isolamento, regressão, fixação e outros. A sublimação é uma defesa “madura”, na qual a energia motivacional, na impossibilidade de atingir o escopo, empenha-se em outros objetivos de valor social, científico, criativo, espiritual. A sublimação é uma reação complexa que não se aplica a uma ocasião isolada, mas torna-se uma construção importante na vida de uma pessoa, a ponto de determinar-lhe as escolhas. Também o humorismo, ao qual se recorre para exprimir sentimentos e pensamentos sem aborrecimento pessoal ou efeitos desagradáveis aos outros, pode ser um modo adequado de reagir às frustrações. Apegar-se à confiança Se tu soubesses que morrerias hoje e visses o rosto de Deus e o Amor, mudarias de vida? Se tu soubesses que o amor pode abrir brecha no teu coração ainda que tenhas tocado o fundo, mudarias de vida? Estes simples versos da cantadora Tracy Chapman podem delinear a situação de quem experimenta o vazio da frustração e, despencando como num abismo, não tem mais nem força nem vontade de elevar-se. Em tal circunstância uma coisa pode ser decisiva: procurar agarrar-se à mão que se estende. Abrir-se à esperança e à fé confiante. Também se às vezes acontece de não existir a mão pronta a estender-se para quem está caído por terra. Sucede-nos passar por perto velozmente, sem dar- nos conta de quem tem necessidade de um gesto, de uma palavra, de um sorriso, de um pouco do nosso tempo. E muitas vezes também, quem está caído não tem mais vontade de agarrar-se a uma mão para levantar-se. Na tradição dos Chassidim há um grifo interessante que se refere ao livro do Êxodo onde se diz: “Óleo de olivas esmagadas, para produzir luz” (27,20). É preciso ser abatidas e esmagadas, não para jazer na terra, mas para produzir luz! Uma norma litúrgica do livro sagrado fixava a qualidade do óleo da lâmpada que ardia diante da arca da aliança no santuário. Para que o óleo fosse puro, era necessário que as olivas fossem trituradas e espremidas no lagar. Assim acontece com o crente submetido a duras provas na vida, muitas vezes isolado e marginalizado, esmagado sob o peso do sofrimento, preço de sua fidelidade. Poderíamos dizer que por muitos motivos está frustrado. Mas é propriamente através desta “trituração” interior que brilha a pureza, a fortaleza, a intensidade do seu testemunho de luz. Quando se está

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esmagado e abatido, pode-se correr o risco de tocar o fundo do desânimo e até do desespero. Mas o fiel agarra-se à fé e sabe que sua dor – como ensinou o Senhor Jesus – pode ser fecunda e iluminadora. Para além da frustração... Cada pessoa tem suas reservas interiores e suas estratégias para vencer as frustrações e os obstáculos da vida. Há algumas muito simples e práticas que podem acender alegria e luz nos momentos de escuridão. Aponto-as, sem uma ordem: estrelas minúsculas que podem iluminar o firmamento do cotidiano. Ser feliz é uma postura mental que não depende do êxito dos acontecimentos.

* Enfrente com coragem o “hoje” e não permita que as dificuldades perturbem sua serenidade profunda: o dia de “amanhã” pode ser melhor que o de “hoje”.

* Não ambicione coisas grandes demais: as grandes palavras, os grandes sentimentos, os mitos, os entusiasmos do momento. Esteja próxima das coisas que lhe fazem companhia no dia-a-dia e que podem abrir-lhe vastos horizontes.

* Lembre-se de que o seu valor vai além do que você faz: Deus a ama pelo que você é. Ele a vê como uma obra-prima, única. Esta verdade não a faz exultar de alegria?

* Não dependa dos outros, do seu parecer, das suas avaliações. Ouvidos abertos a todos, porém, cultive o seu credo: convicções radicais que não são negociáveis.

* Se você encontra dificuldades, obstáculos, pode dar-lhes um sentido; se não os encontra, pode achar nisso um sentido: tudo então pode ter um sentido!

* Discipline a sua vida emotiva: aprenda a substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos: você é o artífice de si mesma, não os outros.

* Você tem muitos motivos para dizer-se a cada momento: cante e caminhe!

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A lâmpada CORAÇÃO DE MARIA, MÃOS DE MARTA

Graziela Curti

Quando o cardeal Gabriel Maria Garrone, amigo do nosso Instituto, leu pela primeira vez as cartas de Maria Domingas Mazzarello, escreveu algumas reflexões, que ficaram como premissa nas várias edições do epistolário. “Jamais, como neste caso, afirma, a palavra `espiritualidade´ ficará inadequada para expressar aquela vida palpitante que não sabe o que fazer com as fórmulas, mas que toca o coração com suas palavras”. E acrescenta: “ Poder-se-ia ser levado a crer que tudo isto não constitui uma espiritualidade original...” mas, ao invés, “estas cartas nos fazem claramente entender qual é a têmpera de uma maternidade espiritual, quando Deus a inspira. Ela não faz discurso, não argumenta, vive e comunica a vida”. É precisamente através do cotidiano que se exprime a espiritualidade salesiana. O cotidiano com seus espaços de oração e de ação, mas sem rupturas, colhidos juntos a partir de um olhar místico que não faz distinção entre o coração de Maria e as mãos de Marta. Uma Filha de Maria Auxiliadora - escolhemos uma entre tantas - que soube conjugar as mais elevadas manifestações interiores com um empenho multíplice e trabalhoso, foi Madre Ersília Crugnola. Colhemos no seu diário, o percurso de uma contemplativa na ação. Ver Deus Ersília Crugnola, missionária em terras de revolução e de sacrifício, não obstante uma vida de prodigiosa atividade e de grandes responsabilidades conseguiu viver em contínua comunhão com Deus. Ir. Lina Dalcerri, escrevendo sua biografia, intitula-a com propriedade: “Uma contemplativa na ação”. Em resposta ao seu pedido missionário, recebeu como primeira destinação o México, onde chega em 1922.

Daí a quatro anos apenas, devido à perseguição religiosa, parte para Cuba onde consegue conjugar tempos de intensa oração, até mesmo mal interpretados, com o serviço árduo num subúrbio mal afamado da cidade de Camaguey. É nomeada diretora da comunidade e depois de seis anos, transferida para Havana. Neste período, rico de consolações, mas também de sofrimentos, escreve: “O cálice está cheio de amargura. Como é dolorosa a incompreensão humana! – Porém, acrescenta: “Sinto-me alegre na dor, mas sofro inexplicavelmente diante das faltas que destroem o espírito religioso”. Em 1941, um outro êxodo: é nomeada inspetora do México. A tormenta da perseguição naquele País transtornou tudo. Urge um trabalho de reconstrução das casas mas, sobretudo, dos espíritos. Deve viajar, confrontar-se com decisões não fáceis: “A difícil cruz que carrego – anota, é sustentada pelo bom Deus. Às vezes surgem montanhas de dificuldades e, sem que eu perceba, de repente desaparecem”. Mesmo levando uma vida tão intensa e sobrecarregada de trabalho não reduz o seu colóquio pacificador com o Senhor:

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“Graças a Deus continuo tranqüila, numa serenidade tão profunda que, me parece, não é alcançada por nada da terra. A vida espiritual vai-se simplificando de tal maneira que, com um único olhar, abrange-se tudo: não há nem enganos, nem recuos. É tão simples ir ao encontro de Deus, viver só para Ele, pôr a nossa felicidade somente nele!” (México, 22 de outubro de outubro de 1952). No caminho de Abraão Em 1959, depois de dezoito anos de trabalho intenso na dileta inspetoria mexicana, é destinada a Cuba onde a espera um outro período de tormenta. Em maio de 1961 são fechadas as casas religiosas e Madre Ersília, sob o peso da responsabilidade, organiza a acolhida das Irmãs de várias regiões, forçadas a abandonar a Ilha. Uma verdadeira diáspora. Depois de uma série de acontecimentos dolorosos estabelece a sede inspetorial, em Santo Domingo, nas Antilhas. Após nove anos atormentados pela guerra civil e por múltiplas preocupações, encaminha-se por uma nova senda. Um último desapego leva-a de novo ao México, à casa de repouso de Puebla. Ali continua a viver a experiência do Deus Trino, consciente daquela inabitação misteriosa que não abandona jamais na solidão: “A alma divinizada – escreve – jamais se afasta de Deus. Se seus deveres de estado exigem, entrega-se a uma atividade incrível, mas no profundo do ser, no centro da alma, sente permanente a divina companhia da SS. Trindade que não a abandona, um instante sequer. Marta e Maria combinam-se nela de maneira tão inefável que a prodigiosa atividade de Marta “não compromete absolutamente” a contemplação e a paz de Maria. De tal modo que a alma permanece dia e noite em silenciosa e adoradora contemplação, aos pés do divino Mestre” (10 de janeiro de 1967).

Buscaremos, portanto, trabalhar com aquele espírito de caridade apostólica que leva ao dom total de si e faz da própria ação um autêntico encontro com o Senhor. (Const. nº 48).

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É vida UM TESTAMENTO DE FIM- DE-VIDA

Anna Rita Cristaino

Em muitas nações já está em vigor e em outras, em discussão, se a prática do Testamento Biológico é defesa do doente e dos seus direitos ou é uma forma de eutanásia mascarada. O comitê italiano de bioética já o definiu: “Documento através do qual uma pessoa, dotada de plena capacidade, exprime sua vontade a respeito dos tratamentos de saúde aos quais desejaria ou não desejaria ser submetida no caso em que, no decurso de uma doença ou devido a traumas improvisos, não estivesse mais em condições de expressar o próprio consenso ou dissenso informado”. Tudo parece muito normal. Quando se tem capacidade física e mental escreve-se o que se quereria receber, em termos de cuidados médicos, no caso em que acontecesse alguma coisa no futuro que impedisse a pessoa de se expressar. Deste modo, dizem os sustentadores, tutelam-se os direitos do doente comportando-se segundo a sua vontade. E isto evitaria inúteis agitações terapêuticas. Para nós, porém, surgem as dúvidas. Em pleno vigor da vida, quando ainda se sente invulnerável, declara-se que se vier a acontecer algum incidente grave que

A FMA é uma religiosa na qual devem caminhar juntas, no mesmo passo, a vida ativa e a contemplativa (Constituições 1885).

A autêntica contemplação que brota da chama de amor infuso,

leva necessariamente à ação. Ação e contemplação unem-se e se tornam uma só coisa (Estudioso de espiritualidade).

Quanto mais a alma está avançada nesta oração (a de perfeita

união) e inundada de maiores delícias em Deus, mais se consagra às necessidades do próximo, especialmente às necessidades das almas” (Santa Teresa).

Empenhemo-nos para reconhecer a preciosidade de cada dia

(Dalai Lama). A vida acontece neste momento e é neste momento que cada

um deve saber gozá-la (Tiziano Terzani). Trata-se precisamente de viver tudo (Rilke). Não negligenciar as pequenas boas ações. As gotas de água,

caindo uma a uma, enchem com o tempo, um vaso gigantesco (P. Rinpoche).

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comprometa a própria vida não se desejam cuidados excessivos, mas quer-se apenas ser acompanhados para uma morte digna, com uma terapia que alivie a dor. Mas, se desde o momento em que foi escrito até o do presumido incidente devessem passar muitos anos e se durante este período a relação com a própria existência tivesse sido mudada, aquela declaração de vontade poderia ainda ser considerada válida? Perguntemo-nos: pode-se fazer um testamento sobre a vida? A vida, então, é um bem do qual cada indivíduo pode dispor a seu bel prazer ou, ao invés, é um dom do qual o único Senhor é Deus? A vida tem valor somente quando é completamente saudável? E quem nasce já com problemas de saúde deveria, então, ser ajudado a morrer logo? São perguntas inquietantes que parecem aludir a escolhas eugenéticas. A qualidade de vida, os padrões de existência sem sofrimento, sem nenhum sacrifício, sem nenhum defeito, estão se tornando ídolos utópicos. O maior desafio está em ajudar a compreender o valor da vida. O que preocupa é o pensamento sutil que vai se infiltrando na consciência de uma larga faixa da opinião pública de todo o mundo, segundo o qual entre as liberdades do homem, que devem ser garantidas por lei, está a de decidir sozinho quando deixará de viver. Fala-se, às vezes, de uma “cultura de morte” que invade o nosso tempo. A separação do princípio de liberdade, do bem, traz em si uma lógica que se poderia definir como letal. Em concreto, insinua-se a idéia de que todos os campos de ação da experiência humana sejam antes de tudo e essencialmente exercícios de livre escolha e por isso estejam inteiramente “à disposição”.

Portanto, não é só uma questão técnica ou jurídica, mas alguma coisa que questiona a nossa concepção de humanidade, de liberdade, de criaturalidade.

[email protected]

Inserção central MADAGASCAR (MDG)

Também chamada a Ilha vermelha por causa de sua terra rica em óxido de ferro, é a quarta maior ilha do mundo. Tem uma população de 15 milhões de habitantes pertencentes a 18 etnias diferentes. Cerca de 82% vivem nas áreas rurais. Cerca de 75% da população é composta de jovens, com menos de 25 anos. Madagascar foi descoberta pelos Portugueses no século XVI. Em seguida recebeu a influência de povos emigrantes como os Indonésios, os Africanos, os Árabes.

Em 1960 foi declarada independente da França. Mesmo com tantos rostos diferentes, culturas diferentes, dialetos diferentes,

os Malgaxes formam um único povo unido pela mesma língua: a língua malgaxe.

As Filhas de Maria Auxiliadora

A Visitadoria “Maria fonte de vida” de Madagascar foi erigida em 15 de agosto de 1997. O início desta presença remonta a 13 de maio de 1986 com a fundação da primeira casa em Mahajanga, que dependia da Inspetoria Veneta “Maria Rainha”. Foi Monsenhor Armand Gaêtan Razafindratandra, naquele tempo bispo de Mahajanga, que pediu a presença das FMA para a educação da juventude, na sua diocese. As

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primeiras 5 FMA, 3 italianas, 1 eslovena e 1 croata, Ir. Caterina Gionco, Ir. Antônia Casimiri, Ir. Germana Boschetti, Ir. Marica Jelic e Ir. Marjeta Zanjkovic, chegam em 16 de outubro de 1985, iniciando o seu trabalho missionário com a escola elementar, o oratório, a promoção da mulher, o dispensário. Mas em 1886, Dom Bosco através de uma carta à rainha Ranavalona III, já havia precedido suas filhas, em Madagascar. Hoje, na Ilha vermelha há 38 Irmãs: 16 missionárias provenientes de 10 nações, 22 Malgaxes, 7 Perpétuas e 15 com votos temporâneos, 4 Noviças, 2 Aspirantes. Em Madagascar há muitos jovens. A instrução e a formação profissional deles constituem um desafio para as FMA, um modo de pôr em prática hoje, o mote: formar “bons cristãos e honestos cidadãos”: dar a tantos jovens a possibilidade de entrar com competência no mercado de trabalho e assim poder contribuir para o desenvolvimento do próprio país e para o sustento da própria família. Característica do povo malgaxe é a alegria e o saber viver e conviver juntos. Isto faz com que o carisma salesiano encontre neste país um terreno fértil.

Mundo Submerso CORPOS À VENDA

Mara Borsi

Quando se fala de tráfico de seres humanos a coisa mais difícil de se fazer entender a quem não conhece o fenômeno é a complexidade e a multiplicidade dos aspectos que o compõem e das causas que o determinam. O tráfico não diz respeito apenas às mulheres traficadas: envolve os países de origem e os de destinação; diz respeito às persistentes e sempre mais problemáticas formas de discriminação de gênero que podem instigar as mulheres a partir, a qualquer preço. O tráfico de mulheres, do qual a falta de informação não nos permite assumir justo conhecimento e consciência, não é um fenômeno novo. É bom lembrar que na história, os corpos das mulheres sempre foram colocados à venda como mercadoria preciosa. O tráfico na história As sing song girl na Califórnia da metade do “Oitocentos”, para atrair clientes, repetiam, num inglês incompreensível: “Entre aqui e faça tudo o que você quiser

“O estudo é a melhor herança” (provérbio malgaxe)

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com uma menina chinesa muito graciosa”. A descoberta das jazidas de metais preciosos atraiu àquela região homens de todo o mundo e, onde só há homens, imediatamente prolifera, também, a oferta sexual. As sing song girl eram meninas raptadas nas ruas da China ou vendidas pelos próprios pais. Não eram escolhidas entre as mais bonitas, mas entre as que tinham uma estrutura física mais forte, as que custavam menos e sobretudo entre as mais jovens, pela sua docilidade. Eram transportadas nos porões dos navios, escondidas em grandes caixas, lotadas. As que sobreviviam à viagem passeavam pelo porto de São Francisco, sem nenhuma dificuldade. Chegando aos Estados Unidos as meninas eram leiloadas e adestradas pelas mais velhas: deviam aprender a atrair os clientes e a satisfazê-los, por mais humilhantes e dolorosas fossem suas exigências. Quando adoeciam, eram abandonadas à morte, sem nenhum cuidado. O tráfico das mulheres asiáticas na segunda metade do “Oitocentos” atingiu um elevado nível de organização. Não obstante a ampla difusão na história moderna, é famoso e documentado apenas o fenômeno do “tráfico das brancas” que deslocava jovens européias conduzidas aos bordéis das colônias e das grandes metrópoles da época. O fenômeno alcançou uma expansão notável entre o fim do “Oitocentos” e as primeiras décadas do “Novecentos”, quando a segunda revolução industrial pôs em crise a realidade sócio-econômica tradicional, forçando a emigração e a busca da fortuna. O fenômeno atinge um desenvolvimento de tal modo evidente a ponto de induzir à especificação de mecanismos de oposição. Em 1904 é siglado o Acordo internacional para a repressão do tráfico das brancas e em 1910 realiza-se a primeira Convenção sobre repressões do tráfico dos seres humanos e o abuso sexual, que focalizava apenas o objetivo da exploração sexual, no tráfico.

O fenômeno hoje Hoje o fenômeno, com as oportunidades da globalização, assume dimensões inéditas. A indústria do sexo amplia-se e se diversifica em toda parte e as modalidades de exploração do mercado sexual são as mais variadas. Desde a prostituição de rua, a visível, até a prostituição nos apartamentos, nos hotéis, nos locais noturnos. As áreas mais interessadas são o Sudeste Asiático, o ex-bloco soviético e a área latino-caribenha. Mas o fenômeno está presente também na África e na região do Oriente Médio. As barreiras sempre mais rígidas colocadas à entrada na União européia, têm o efeito de transformar regiões tradicionalmente de trânsito em áreas de destinação. É o caso da Turquia. O fenômeno finca raízes na relação de poder entre homem e mulher, em virtude da qual a gigantesca maioria das pessoas que negociam serviços sexuais no mundo é constituída por homens, na falta do poderio social e econômico das mulheres, as quais, para perseguir uma oportunidade de mudança, chegam a usar o único recurso que lhes resta: o próprio corpo. Redes contra o tráfico Na mobilização para contestar o fenômeno, não estão apenas os Estados ou as organizações governamentais internacionais, mas sobretudo a sociedade civil, as igrejas, nas quais as religiosas têm papel preponderante.

Eis algumas das mais importantes redes internacionais que trabalham para dar esperança a quem não tem a oportunidade de uma vida digna.

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COANET (Christian Organisation against Trafficking in Women) É uma rede internacional de organizações contra o tráfico das mulheres. Martina Liebsch, alemã responsável pela organização, assim explica a sua finalidade: “Somos uma rede de organizações católicas, protestantes e ortodoxas, que trabalha para contestar este problema. Um dos objetivos é encorajar a cooperação entre os países de origem, trânsito e destinação. Uma outra função é sensibilizar as estruturas ligadas à Igreja acerca do problema. Queremos trabalhar pela prevenção e assegurar a proteção às vítimas. SOLWODI (Solidarietà com le donne in difficoltà) Fundada em Mombasa (Kenya) em 1985 por Ir. Legga Ackermann, oferece serviços que se situam na área do acompanhamento e apoio moral, da tomada de consciência e educação sobre o problema do tráfico de mulheres pela prostituição, de projetos de reintegração das vítimas. COSUDOW (Comitato d´aiuto alla dignità della donna) Organismo criado em Benin City, em 2001 pela Conferência das religiosas da Nigéria. Entre os seus objetivos: fazer circular informações nas paróquias, nas escolas e nos povoados para dificultar o êxodo da juventude para a “terra prometida”; sustentar as famílias e protegê-las das possíveis extorsões dos traficantes; acolher e acompanhar as vítimas quando voltam para suas aldeias. Objetivo 2015 ESCOLA E DIREITOS IGUAIS

Julia Arcinjegas

A igualdade de gênero e o bem-estar das crianças caminham de mãos dadas, afirma o Relatório UNICEF 2007, dedicado ao tema “Mulheres e meninas: a dupla vantagem da igualdade de gênero”. Quando as mulheres vivem plena e ativamente sua vida, as crianças crescem bem. Contudo, a experiência demonstra também o contrário: quando numa sociedade é negada às mulheres a igualdade de oportunidades, as crianças sofrem. Os dados confirmam esta equação e nos permitem agora, propor a reflexão conjunta sobre o 2º e o 3º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (OSM). Uma diferença a ser superada Devido à discriminação de gênero, as meninas têm menor probabilidade de freqüentar a escola; nos países em via de desenvolvimento, quase uma menina para 5 matriculadas na escola não completa seus estudos. Mais de 115 milhões de meninos não freqüentam a escola primária: para cada 100 meninos sem escola, as meninas são 115. Dois terços dos habitantes analfabetos do planeta, são mulheres.

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Os filhos de mães não instruídas têm probabilidade dupla de não ir à escola; além disso, o nível de instrução feminina, revela o relatório, resulta correlacionado com as melhores perspectivas de sobrevivência e de desenvolvimento para as crianças. 83% das meninas que vão à escola vivem na África sub-sahariana, na Ásia meridional e na Ásia oriental. Na África sub-sahariana o número de meninas que não freqüentam a escola subiu para mais de 24 milhões. A negar-lhes este direito estão as conseqüências da pobreza, os preconceitos e as práticas discriminatórias, como também os matrimônios precoces. Todavia, ficou demonstrado que uma menina com escolaridade, casar-se-á mais tarde, terá menos filhos e os criará mais saudáveis e instruídos; saberá proteger-se melhor das relações sexuais indesejadas e, consequentemente, do contágio da AIDS. Assumirá um papel mais decisivo na economia, na política e na vida social. Assegurar a instrução elementar universal é o segundo OSM: objetivo a ser alcançado de modo que, até 2015, os meninos e as meninas, os jovens e as jovens, de cada lugar do mundo, tenham a possibilidade de completar um ciclo de instrução primária. Para atingir esta meta, como já acenamos, é preciso promover a igualdade de gênero e o poderio das mulheres. O objetivo deste terceiro OSM, bastante ambicioso, inclui também a eliminação da desigualdade de gênero na instrução primária e secundária, em todos os níveis da escolaridade, até 2015. A chave do desenvolvimento Estas metas respondem a aspectos fundamentais do desenvolvimento integral. De fato, a falta de instrução impede a pessoa de desenvolver suas potencialidades. Além disso, priva a sociedade dos alicerces para o desenvolvimento sustentável, já que a educação tem um papel determinante na melhoria da saúde, da alimentação e da produtividade. O objetivo educacional é, portanto, a chave para se atingir os outros objetivos. Na realidade, o futuro de tantos/as jovens começa nos bancos da escola, onde são assentadas as bases para uma cidadania responsável, atenta aos problemas do mundo. O relatório Unicef 2007 afirma que a igualdade de gênero na escola primária e secundária é um dos pontos principais da Agenda do Milênio e as coalizões, em todos os níveis, são cada vez mais reconhecidas como o canal para se conseguir este objetivo. As ações-chave devem poder abolir as taxas escolares, convocar pais e comunidades a investir na educação feminina e criar escolas amigas para meninas, que ofereçam segurança e sejam destituídas de preconceitos. Já e não ainda... Apesar da arraigada desigualdade de gênero, a condição das mulheres melhorou nos últimos 30 anos. Uma maior consciência das práticas discriminatórias e de suas conseqüências tem incentivado as mudanças. Promovendo as reformas jurídicas e sociais, os sustentadores da igualdade de gênero começaram a modificar

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o panorama político e social. Embora o gênero continue a influenciar as escolhas e os desafios da gente em muitas partes do mundo, uma menina que nasce em 2007 terá, provavelmente um futuro mais promissor que uma menina nascida há três décadas. Todavia, a desigualdade de gênero persiste, não só na escola primária e secundária, mas também na universitária, onde apenas 5 a 10% dos estudantes, nos países de baixa renda, são mulheres. Diz-nos respeito? Uma pergunta deduzida, que nos coloca defronte à atualidade do nosso carisma educativo. Sentimo-nos chamadas a tornar factível o seu dinamismo profético, ocupando-nos com a paixão pelas meninas e pelos jovens, para acompanhá-los no seu processo de crescimento. Hoje, mais que nunca, diante destes desafios ressoam no nosso coração as palavras dirigidas a Main, em Borgo Alto: “A ti as confio”.

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Mundo Jovem Uma frase que é vida para os jovens das Ilhas Salomão A EDUCAÇÃO É COISA DO CORAÇÃO

Cristina Merli

Tantas, tantíssimas respostas dos jovens do Instituto Técnico “Dom Bosco” das Ilhas Salomão. A escola foi aberta pelos salesianos em 1999 e prevê dois níveis de estudo: a escola superior, de seis anos e os institutos profissionais, de dois anos (mecânica, carpintaria e eletrecista para os jovens; economia doméstica para as jovens). Aos cursos profissionais acorrem apenas os push out, isto é os jovens que não passaram no exame para o terceiro grau e que, portanto, não têm mais possibilidade de acesso a nenhum outro tipo de instrução. São cerca de 250 rapazes e 50 moças. O desejo de estudar é tão grande que, para freqüentar a escola, levantam-se às 4h30 da manhã e renunciam ao almoço para pagar a mensalidade. Desde janeiro nós, FMA, também estamos com eles. Ir. Sonia Murari colheu, numa entrevista, seu grande anseio pela educação. É importante para você a educação? Por quê? - A educação é o meu futuro. Para mim é como a terra: sem a terra você não pode viver porque não tem onde plantar sua horta e construir sua casa. (Mathew, 20 anos) - É maravilhoso conhecer e aprender coisas novas. A educação faz parte da vida. A educação é a chave da vida. (Sam, 20 anos)

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- Sem educação não pode haver desenvolvimento para o nosso País. Através da educação podemos aprender coisas úteis para a nossa comunidade e para os nossos conterrâneos. (Joycelyn, 20 anos) Quais são as coisas mais importantes que você aprendeu, nestes anos, na escola? - Aprendi tantas coisas, mas as mais importantes são: a pontualidade, a honestidade, a paciência, a partilha com os outros e ser bom cristão. (Jornax, 20 anos) - Aprendi a ser bom cristão e honesto cidadão na minha comunidade, não fazendo coisas especiais, mas vivendo as coisas ordinárias de modo extraordinário. Além disso, aprendi a estar seguro de mim mesmo e a confiar nas minhas potencialidades. (Simon, 22)

- As coisas mais importantes que aprendi no “Dom Bosco” são o amor e a compaixão. (Margaret, 16 anos)

- No “Dom Bosco” aprende-se como se tornar santos! (Melissa Mary, 20 anos) - Aprendi tantas coisas, mas, sobretudo, a rezar pela manhã e à tarde, no final

das aulas. Estou realmente feliz por freqüentar esta escola! (Hamilyn, 15 anos)

Você tem possibilidade de enviar uma mensagem a todos os estudantes do mundo. O que gostaria de dizer a eles? - Como “bosconiano” eu diria: Caros amigos, a educação é a chave da vida, coloque Deus em primeiro lugar e faça bom uso da oportunidade que têm de estudar porque lhes é dada uma só vez e é uma bênção de Deus. (John, 17 anos) - A educação é como uma lâmpada acesa na noite: indica-lhe o caminho. Não negligencie a sua formação e valorize a oportunidade que lhe é dada. (Sam, 20 anos) - Colabore com o povo do seu vilarejo, mostre comportamentos positivos e evite os vícios. Respeite a dignidade de cada um, valorizando a sua vida e a dos outros. Empenhe-se por um futuro melhor. (Joycelyn, 20 anos) - Nós estamos orgulhosos de ser “bosconianos” e queremos ter o espírito de Dom Bosco no nosso trabalho. Não estamos sozinhos, mas somos parte de uma grande família na qual cada um tem orgulho de si mesmo e busca dar o melhor de si para os outros. Nascemos para coisas muito grandes! (Simon, 22 anos) Não só mensagens para outros jovens, mas também para nós educadores. O que você espera dos seus professores? - Espero deles bons exemplos como honestidade, gentileza, amor, cooperação com os estudantes para melhorar a sua habilidade e o seu conhecimento. (Frank, 23 anos) - Espero que sejam cordiais, que ajudem e estejam disponíveis a todos os estudantes, não só aos melhores. Espero também que mostrem atitudes e comportamentos positivos que os estudantes possam imitar. Professor é aquele que indica o caminho e guia os outros. (Simon, 22 anos)

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- Espero que amem o seu trabalho, que o desempenhem com honestidade, competência, paixão e amor. Espero, também, que sejam bons cristãos e honestos cidadãos. (Margaret, 16 anos) Os jovens são também os nossos mestres, dizia Dom Bosco. A sua expectativa sobre nós pode avaliar o nosso profissionalismo, a nossa humanidade, a nossa santidade.

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Explora-recursos

UM TELEFONE “TUDO - FAZ”

Ana Mariani

Os smartphone são os celulares denominados telefones “inteligentes” pelas suas aplicações informáticas avançadas. Instrumentos tecnológicos caros e acessórios potentes, dotados não só de uma foto-câmera ou de uma tela a cores, os smartphone são capazes de fazer circular aplicações informáticas de vários tipos, que vão desde programas de correspondência eletrônica aos mapas interativos, do editor de imagens aos organizadores avançados, dos videogames aos browser internet, encontrando como único limite (junto à memória) a fantasia dos criadores de software, obviamente dotados de todas as funções que tanto agradam ao público: gravação e reprodução de filmes e imagens, leitura de file-audio em diversos formatos, MMS videogames e sons polifônicos. Do telefone aos “telefones inteligentes”: mudanças sócio-psicológicas da comunicação telefônica O telefone portátil de nova geração é um mundo inteiro... mas também uma “doença social” definida “telefoninho-dependência”. Instrumento amplamente difundido e avançado tecnologicamente, alimenta a necessidade comum de estar perto, vencendo as distâncias do espaço e do tempo, transformando as possibilidades das relações cotidianas, favorecendo a possibilidade de aumentar as ocasiões de intimidade e, às vezes também, a violação da liberdade e dos espaços

Para além das estatísticas...

“Claro que gostaria de freqüentar a escola – diz Yeni Bazan, 10 anos, El Alto, Bolívia – quero aprender a ler e a escrever... Mas como faço? Minha mãe precisa que eu vá buscar a água” (UNDP 2006, Sintesi, p. 23). “Nunca freqüentei a escola porque meu pai acreditava que as meninas não precisavam estudar. Minha mãe pensava do mesmo modo porque também ela jamais freqüentara a escola. Os meus irmãos foram enviados à escola porque um dia tornar-se-iam “operários”, mas meu pai me disse que eu não tinha necessidade de instrução porque simplesmente iria casar-me”. É este o testemunho de Rinku, uma jovem de 15 anos de um país asiático ( Antena Missionária, janeiro de 2005).

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pessoais. Com a multiplicação das funções técnicas de um telefoninho transformaram-se também suas funções sociais e psicológicas, relativas tanto à esfera individual como à relacional: o celular hoje é um instrumento que acompanha cada momento da jornada e que ajuda a organizar e a gerir cada momento da vida, do trabalho (com as agendas, os despertadores, os lembretes, o relógio) nos momentos de divertimento (com os jogos, as foto-câmeras, as vídeo-câmeras). ● Regula a distância na comunicação e nas relações: faz aproximar-se ou afastar-se dos outros, protege dos riscos do impacto emocional reduzindo o medo da rejeição. Os adolescentes utilizam o telefoninho como instrumento de defesa para enfrentar as inseguranças na comunicação. Os pais, ao invés, encontram no telefoninho uma resposta à própria necessidade de estar constantemente presentes na vida dos seus filhos, valendo-se do celular como uma “trela temática”. ● Ajuda a gerir a solidão e o isolamento: assume o papel de “anti-depressivo”. Simboliza a “presença do outro”, que é uma entidade que está sempre à mão. ● Confere a ilusão de viver e de dominar a realidade, com suas inúmeras possibilidades técnicas, a ponto de dar a idéia de poder estar presente e de ser capaz de “parar o tempo”. A dependência do telefoninho: um fenômeno complexo que precisa ser prevenido Ficar na dependência do celular é um fenômeno social que atinge principalmente os jovens. Fala-se de “celularmania” quando o tráfego telefônico cotidiano, constituído pela chamada e sms, seja na entrada ou na saída, acumula em torno de 300 contatos, ou quando o uso excessivo está ligado ao abuso de outras funções presentes no celular: a maior parte do próprio tempo é dedicado a atividades conexas ao uso do telefoninho (ligações, sms, jogos, consultações, uso de foto-vídeo-câmera, etc.) às vezes de modo exclusivo ou em concomitância com outras atividades.

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Diálogo A PORTA DO CÉU

Bruna Grassini

No caminho que vai de Esmirna ao sudeste da Turquia, um cartaz aponta: EPHES. É a cidade que viu surgir uma das primeiras Comunidades cristãs, nascidas da pregação dos apóstolos Paulo e João. Aqui, há mil e quinhentos anos, celebrou-se o primeiro Concílio que proclamou solenemente a Divina Maternidade de Maria.

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Não longe deste lugar, sobre a colina “do rouxinol”, encontra-se uma pequena Capela de pedra, conhecida como Meryem Ana Evi. Segundo a tradição, é a Casa onde viveu e morreu Maria. Testemunha-o o fato de que, durante as perseguições, no final do II século, no dia da Assunção, subia uma multidão de peregrinos para rezar juntos, na “Casa de Maria”. (Avvenire) Um único povo

Os Atos dos Apóstolos falam da Igreja de Éfeso, onde os fiéis, pela primeira vez, foram chamados “cristãos”. Nesta terra santa, vívida de fé e de “memória”, Bento XVI inicia a sua peregrinação apostólica com um anúncio surpreendente ao povo da Igreja do Oriente: “Trago a todos o amor e a aproximação de toda a Igreja e confio todos, ortodoxos e mulçumanos, hebreus e cristãos, à Virgem `Mãe da unidade´ do gênero humano, Meryem Ana”. Com as palavras do Apóstolo Paulo aos Efésios, o Papa invoca sobre todos os “irmãos”: “Graças e paz de Deus, Pai nosso e do Senhor Jesus Cristo”. E proclama solenemente: “Cristo fez, dos dois, um só povo”. Imploramos “paz e reconciliação entre cristãos e muçulmanos, ortodoxos e hebreus. Paz para toda a humanidade”. O abraço fraterno entre o Patriarca ortodoxo Bartolomeu I e o Papa, abre um novo horizonte de esperança que traduz visivelmente a grande saudade da unidade: “Que todos sejam um na paz”. A Conferência Episcopal Turca proclamou a Casa de Maria: “Santuário Ecumênico Mariano”. A “porta sublime”

Na Turquia usava-se a expressão “porta sublime” para indicar o portão de entrada às salas do Sultão: ali ele apresentava o “bem-vindo” aos embaixadores estrangeiros. Recentemente, quatro Papas, de João XXIII a Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, passaram por ele para visitar o Patriarca Ecumênico. Não foi por acaso que Bento XVI escolheu para a primeira visita do seu pontificado a região entre o Oriente e o Ocidente, a mais muçulmana. Aqui, como escreve Andréa Riccardi, fundador da Comunidade de S. Egídio, “o cristianismo tem um rosto pequeno, humilde, semelhante ao de Dom Andréa Santoro, assassinado em Trebisonda, há um ano”. Esta terra é uma porta aberta entre um passado esplendente e um futuro ainda incerto. Porta privilegiada de “encontro das diferenças”, para superar preconceitos e incompreensões, num diálogo animado pelo respeito, como diz o Cardeal Martini: “Ocorre escutar muito e julgar pouco”. O diálogo dos gestos

No “Diário da Alma” de João XXIII, na época Núncio apostólico em Constantinopla, encontramos, uma “lição” de incomparável simplicidade. Com a data de 1936. Escreve: “Quero dedicar-me com o maior empenho e constância ao estudo da língua turca. Sinto querer bem a este povo para junto do qual o Senhor me

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enviou: é o meu dever. Sei que a direção que tomei nas relações com todos está certa, sobretudo é católica e apostólica”. Além disso, às pequenas comunidades religiosas, que normalmente rezam em francês, pede para rezar em língua turca. “A paz, dizia, não caminha muito se fica desligada da realidade da vida. Sem efeitos sobre a vida das pessoas não chega a despojar-se daquela arrogância de querer ser melhor que os outros”. Não podemos esquecer o abraço histórico do Papa Paulo VI ao Patriarca ortodoxo Atenágoras I, depois de 900 anos de incompreensões. O Capuchinho Padre Tarcy assim explica a grande peregrinação, no dia da Assunção, ao Santuário di Meryem Ana: “O que os atrai não é simplesmente a curiosidade, mas a devoção. Talvez seja este o único lugar do mundo no qual o Islam e a Cristandade se olham nos olhos, rezando juntos”. A estátua de Maria, sobre o altar, não tem mãos... “talvez seja assim, conclui Pe. Tarcy, porque é como se Maria dissesse: Sejam vocês as minhas mão no mundo”. A porta ao lado

Na conclusão de uma longa viagem à Turquia, João Paulo II decide um dos encontros mais difíceis do seu pontificado. Escolhendo a linha da humildade, pede perdão pelas culpas dos católicos e renova o apelo à unidade. E no discurso, no Areópago acrescenta: “A divisão entre cristãos é um obstáculo à difusão do Evangelho e torna menos confiável a nossa profissão de fé”. O símbolo da “Porta” é vivo em muitas religiões desde a antiguidade. Símbolo sagrado que traça um limite entre dois opostos e aponta uma passagem. Papa Bento XVI, no caminho dos seus predecessores, hoje nos indica a “porta aberta” ao diálogo, à confiança, à coragem, à acolhida do pobre, do órfão e do imigrante que habita na “porta ao lado” e nos convida a cantar “o Magnificat pela unidade dos povos de todas as culturas e religiões que acreditam num Deus único, criador e Senhor do universo”.

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Periferias A INFORMAÇÃO MONOPOLIZADA

Maria Antonia Chinello e Lucy Roces

Investigar entre as páginas dos noticiários cotidianos para descobrir quem “escreve” as notícias, poderia revelar-se um exercício interessante. Mais ainda, se se confrontam diversos cabeçalhos, nacionais e internacionais. Então, poder-se-ia perceber que 80% da informação que preenche os cotidianos, provêm de três ou quatro agências de imprensa internacional. Como assim? E isto, que prejuízos traz para o conteúdo e as formas das notícias que escutamos no rádio, vemos na televisão, lemos na imprensa e na internet? Onde mora a informação

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Giulio Albanese, missionário comboniano jornalista, afirma: “A informação do Sul do mundo é monopolizada por poucas e grandes organizações como Associated Press (AP), Reuters, e Agence France Presse (AFP). São as grandes agências que, como primeiras fornecedoras de notícias, ditam as regras do jogo em nível mundial”. O jornalista ocupa-se sempre mais das redações centrais dos títulos de jornal e das emissões televisivas e radiofônicas. Mandar jornalistas – como enviados especiais ou correspondentes ao exterior – para que colham as informações nas diversas partes do mundo, custa caro, economicamente. Além disso, nos dias de hoje eles podem correr o risco de ser seqüestrados, sofrer atentados ou incorrer em ações violentas e terroristas. Por isso os títulos são entregues às agências de informação, que espalham os newsdesks nas grandes áreas metropolitanas dos países industrializados onde os perigos para os seus jornalistas são menores e onde há, sobretudo, a possibilidade de uma tecnologia que suporta o envio das notícias em giro e o retorno sempre mais rápido, para vencer a concorrência, rebater o furo jornalístico na primeira página e, em conseqüência, vender o maior número de cópias. Porque a informação é mercado, em última análise. Sendo assim, o conteúdo da informação não está apenas condicionado aos interesses políticos e econômicos, mas existe também uma discriminação na fonte das notícias que faz com que 90% da informação sobre o Sul do mundo que lemos e escutamos seja produzida pelo Norte do mundo. Se é verdade que os jornais não devem estar cheios somente de dramas e de tragédias, quais notícias interessam ao leitor? A informação não serve talvez para fazer-me compreender o que acontece no meu quarteirão, na minha cidade, no meu Pais, ou no meu planeta?

A informação que interessa

Jucca Pietilainen, um pesquisador do Departamento de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade de Tampere (Finlândia) estudou as relações entre o fluxo das notícias internacionais e o comércio, em 33 países. `Notícias estrangeiras e comércio estrangeiro – que espécie de relacionamento?´ – o livro que coleta os resultados desta pesquisa, prova que as conexões entre os mercados comerciais e as informações são significativas na maior parte dos países estudados. A correlação entre notícias e comércio é maior nas pequenas cidades industriais que dependem dos mercados estrangeiros. Fala-se menos dos países mais pobres, que têm menor contato com os mercados internacionais. O fluxo global das notícias reflete a configuração internacional do poder. No seu projeto, International News Agencies and the War Debate of 2003, Beverly Horvit afirma que são cinco as grandes agências de imprensa que, como num grande jogo entre times, ditam as regras da informação mundial: a Associated Press (AP, Stati Uniti), Agense France Presse (AFP, França), Reuters (Gran Bretanha), Xinhua (China), ITAT-TASS (Rússia). Ao lado delas, os colossos CNN e BBC, dos quais provém boa parte das imagens difundidas pelas televisões de todo o mundo ocidental. Modificar a informação

O que fazer para que não se tenha um mundo invertido pela informação? As agências que regulam os fluxos das notícias internacionais, determinam também os

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conteúdos das informações. Dos países pobres fala-se apenas quando estão em conflitos, com epidemias, carestia e fome. Como é possível? A informação do Sul do mundo com freqüência é inferida das imagens e das interpretações. Então, vê-se no TJ, o solitário jornalista branco, tendo ao fundo cenas de distribuição de alimentos a pobres africanos famintos, que em poucos segundos nos fala da miséria do povo, provavelmente numa entrevista com um operador humanitário branco, talvez de nacionalidade do País onde o serviço será colocado no ar. Esquecendo as causas que geraram aquelas situações. “Assim todos somos reforçados – escreve Renato Kizito Sesana, missionário comboniano, no livro `As periferias da informação´– em nossa complacente visão de uma África dilacerada, incapaz de prover a si mesma, dependente, ainda que só para fazer conhecer os seus problemas, pela voz dos brancos e dos heróicos operadores humanitários (ou missionários). Uma África destinada a ficar para sempre às margens do mundo que é importante”.

É necessário, portanto, tomar iniciativa e buscar as notícias na fonte. A Internet pode ajudar nisto. Seria interessante, mesmo como comunidade, como escola, pesquisar, com a ajuda dos instrumentos de busca, os sites de informação do sul do mundo. Para não reforçar os preconceitos e as explicações deduzidas.

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Sugerimos visitar estes sites e confrontá-los: Quais são os conteúdos? Que áreas do mundo privilegiam? Onde estão colocadas as sedes dos correspondentes para a coleta das notícias? Agências de imprensa internacionais: Agence France Presse (França) http://www.afp.com Associated Press (Estados Unidos) http://www.ap.org Reuters (Granbretanha) http://www.reuters.com Xinhua News Agency (China) http://www.xinhuanet.com ITAR-TASS (Russia) http://www.itar-tass.com Ansa (Itália) http://www.ansa.it Efe (Espanha) http://www.efe.com Pti (Índia) http://www.ptinews.com Agências do Sul do mundo: Inter Press Service News Agency: http://www.ipsnews.net Peacelink: http://www.peacelink.it Oneword: http://www.oneword.net Missionary International Service News Agency: http://www.misna.org Peace Reporter: http://www.rsf.org

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FilmeFilmeFilmeFilme

““““MUNDO NOVOMUNDO NOVOMUNDO NOVOMUNDO NOVO””””

De Emanuele Crialese ITALIA/FRANÇA – 2006

2007 é o Ano europeu das oportunidades iguais para todos e é também o cinqüentenário da assinatura do Tratado de Roma. A ocasião – já lançada pela Jornada Mundial contra a discriminação racial, em 21 de março – sugeriu também uma rica e possível valorização do “Mundo Novo” o belo filme do diretor romano de origem siciliana Emanuele Crialese. Uma esplêndida saga sobre a imigração italiana do início do século XX – já Leão de prata, revelação na Mostra de Veneza – e candidato à estatueta como melhor filme estrangeiro. Crialese não podia escolher tempo melhor que este para percorrer a história da migração italiana, “indagando sobre a gênese do preconceito que sempre acompanhou o fenômeno migratório e as dinâmicas de inserção na sociedade de acolhida”. Justamente hoje em que a Itália é o “Mundo Novo”, meta ambicionada pela imigração. Enquanto, de fato, em seu tempo os sicilianos fugiam de sua ilha para buscar seu espaço na América, hoje há quem veja a Sicília como uma nova América. É exatamente esta a chave para compreender o valor atualíssimo do filme. Grande obra que não se deve perder. “Mundo Novo” então?

“Emigrantes às raízes de um sonho” – “Viagem no sonho americano” – “Emigantes testados em Nova York” – “Aquele povo partido em dois” – “Realismo visionário de Crialese” etc. São apenas alguns dos interessantes títulos que os críticos formularam para indicar os múltiplos ângulos sobre os quais o olhar/leitura do filme poderia se deter. O horizonte é o da grande emigração que nos primeiros anos do século XX levou milhões de italianos para a América. Um tema sobre o qual, graças ao cinema, aos livros e às canções acreditávamos saber tudo, mas o filme nos fará descobrir que quase nada sabíamos. Extraordinário e corajoso, subverte toda certeza recriando sob os nossos olhos a “substância profunda daquela experiência” com uma precisão documentativa e uma riqueza inventiva que, juntas, são obras de antropologia e de poesia.

Nem um gesto, nem uma palavra de “Mundo Novo” parecem fora de lugar. Tudo é histórico, autêntico. Desde o dialeto dos protagonistas às ingênuas montagens de fotos do início do século que, por causa das “hortaliças gigantes”, descreviam a América como a terra do Bengodi (Terra Prometida). Somente a minuciosa reconstrução da época desaparece diante do respiro mítico daquilo que, como justamente diz o seu autor, “não é um filme político, não é um filme histórico, não é um filme social”. Mesmo se se documentou por anos e relembra páginas pouco conhecidas – por exemplo, as esposas compradas na Ilha Ellis como gado ou os testes comportamentais aplicados em massa aos imigrantes “para proteger os americanos do contágio de inteligências inferiores”, primeiras experiências de eugenética em larga escala – Crialese não faz polêmica histórica porque jamais perde de vista a verdadeira finalidade do filme: a pessoa e sua experiência de vida.

A bravura de Crialese está em conseguir gerir tanto a micro-história (a de Salvador e de sua família) quanto a reconstrução histórica. Divide em três partes a

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sucessão de eventos e começa com a escalada de uma ladeira pedregosa nos Madônios, a pés descalços, com uma pedra na boca, para propor a Deus, chegando ao cume, a pergunta fatal: partir ou ficar? Portanto os preparativos, as decisões enfrentadas, a venda de todas as coisas: tudo ficou esculpido na áspera e solitária terra siciliana, nos seus riquíssimos aspectos físicos.

Depois, a viagem. Uma longa viagem ocupando o ambiente das máquinas, bíblica travessia. Amontoados e transtornados, os homens de um lado e as mulheres do outro; o encontro de Lucy/Luz, uma inglesa que parte novamente e que já conhece a língua do novo mundo; depois, as tormentas e o furor das ondas batendo contra o bojo do navio. Enfim a chegada, na ignorância (“A América, onde está?”), à Ilha Ellis, a ilha considerada “das lágrimas” – “porta para o novo mundo”, onde tantos dos americanos de hoje viveram em quarentena a humilhação das visitas, dos “testes” de exame, com o terror de serem mandados de volta.

“Um filme em homenagem, portanto, à enorme coragem de deixar tudo para trás, exigida de quem, como eu – conclui Crialese – é um emigrado de retorno e pode dizer com orgulhosa dignidade: o realizamos. Para fazer um filme na Itália – este – precisei ir à América e depois passar pela França, pensem que giro, mas o conseguimos!”

Para fazer pensar ● Sobre a idéia do filme Partir das pedras da terra nativa - para chegar aos vitrais – através dos quais “não” se vê Nova York e contar uma história que “lança uma ponte” entre o velho e o novo mundo. Uma história de ontem, mas que fala muito do nosso presente. Não uma lembrança histórica “neo-realista” mas “a caminhada fatal do homem medieval para a modernidade” – como escreve Kezich. A experiência migratória italiana, interna (do Sul para o Norte) ou transoceânica, realiza-se em “Mundo Novo” narrando uma viagem para “além-mar” em busca da terra prometida. Viagem fechada nos porões de um navio, com pouco espaço e confinada entre duas seqüências poderosas, a ponto de tirar o vigor: a partida da embarcação do porto siciliano e o desembarque branco na América. O navio desloca-se da terra arcaica arrancando a composição do seu enquadramento como também os corações de quem abandona o velho mundo e suas origens. No meio, a travessia física e interior de personagens explicados unicamente pelas imagens, até o banho “cândido”, fixado no manifesto do filme, do qual protagonistas emergem ao novo mundo e de novo “ao mundo”. Para iluminar, desde o nome, a travessia da vida está uma mulher: Lucy–Luz, ela a antecipadora e a mediadora, entre valores e racionalidade, tradições e novidade. ● Sobre o sonho do filme

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“Amar requer tempo, num matrimônio que se respeita” diz Salvador no filme. Assim também nós – insiste Crialese – poderemos aprender com o tempo a respeitar e a acolher quem hoje bate à nossa porta como há um século os americanos. Com benevolência e interesse, em vista de um novo-mundo solidário. “Respiro”, o meu filme precedente – explica numa entrevista o autor –terminava com o abraço entre os membros numerosos de uma comunidade inteira, aqui, ao invés, o final é um banho no leite. É o retrato de uma família siciliana, mas que poderia ser também a nossa... Existe um pouco de inconsciente coletivo neste filme. É uma viagem que narrei através da história de um personagem porque quis dar identidade ao que chamamos “fenômeno” da emigração Um fenômeno que se refere às pessoas, aos seus sonhos, suas desilusões, de viagens não completadas, bloqueadas ou terminadas tragicamente, mas também, decididas e fecundas, abertas a novas oportunidades. Quis dar um pouco de identidade a este “fenômeno” e acreditar que `Mundo Novo´ não seja um filme sobre emigração mas um filme que fala do sonho, o sonho de todos aqueles que partem deixando tudo para apostar na conquista de um amanhã melhor”.

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Camilla ☺☺☺☺

EMERGÊNCIA DA ALEGRIA “Em nosso trabalho apostólico o Sistema Preventivo […] torna-se uma experiência de comunicação vivida entre nós e as jovens em clima de espontaneidade, de amizade e de alegria” (Const. 66). Relendo este artigo, a expressão que me salta aos olhos é TRABALHO APOSTÓLICO… sabeis por quê? Há anos (considerando os meus… são tantos!) a minha impressão é de que o nosso trabalho apostólico está se tornando um pouco demais “trabalho”! É verdade que somos filhas de dois grandes trabalhadores (Dom Bosco e Madre Mazzarello), mas é também verdade que não é preciso exagerar. Seguramente, os números fazem a diferença com os meus anos…

Mas… falando com as irmãs diretamente envolvidas na missão eu me dei conta de que são muito solicitadas, todos pedem respostas a serem dadas “dentro e não fora” e estas pobrezinhas ficam estressadas por todos os lados… Comecei então a me perguntar como se pode, hoje, assumir o estresse de cada dia com a famosa “pedagogia da felicidade”! Encontro algumas respostas! Naturalmente, não são respostas científicas e talvez para alguém, poderão até parecer um tanto caseiras… Penso que, para além do trabalho que se desenvolve, um bom teste para se conhecer a taxa de felicidade seja olhar para o rosto das pessoas em geral. Não sei se tendes observado os nossos rostos; frequentemente nos assemelhamos a sobreviventes de, talvez, alguma catástrofe… certo, com a fúria de ver telejornais, tornamo-nos mais anunciadoras de desgraças, emergências e telenovelas e, um pouco menos, anunciadoras da “boa nova”! Dom Bosco também dizia que seus tempos eram difíceis, no entanto foi o santo que viveu com profundidade esta bendita pedagogia da felicidade, perante os que pensam que não existe uma educação para a felicidade. Hoje, infelizmente, desperdiçam-se as “emergências”: emergência hídrica, emergência de cá, emergência de lá… e a emergência da alegria? Comem-se pão e estresse! Enfim, em nossos ambientes, nos quais se deveria respirar um outro ar, há um pouco de contaminação (não se trata do buraco de ozônio!). Graças à minha idade posso dizer que a felicidade não depende nem do trabalho que se realiza, nem da exuberância do caráter e muito menos da juventude, porque se assim fosse, as nossas jornadas seriam, todas elas, foto em branco e preto, talvez de alto valor artístico, mas privadas da cor e do calor.

E que frio faz perto das pessoas infelizes!

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Pensamentos sobre a vida

A vida é beleza, admire-a A vida é felicidade, saboreie-a A vida é um sonho, faça-o realidade

(Madre Teresa de Calcutá)

DIREITOS

DENTRE 121 MILHÕES DE CRIANÇAS, APROXIMADAMENTE, QUE NÃO TÊM TIDO MAIS A POSSIBILIDADE DE FREQUENTAR A ESCOLA, 65 MILHÕES (CERCA DE 54%) SÃO MENINAS. NÃO HÁ MAIS DESCULPAS PARA IGNORAR QUE A EXCLUSÃO DAS MENINAS E DAS JOVENS DO SISTEMA EDUCATIVO NÃO É SOMENTE A NEGAÇÃO DE UM DIREITO HUMANO, REPRESENTA UMA GRAVE HIPOTECA SOBRE O FUTURO DE UMA SOCIEDADE.

A INSTRUÇÃO FEMININA TRAZ, DE FATO, INÚMEROS BENEFÍCIOS PARA O SUJEITO INTERESSADO E PARA A SOCIEDADE NO SEU TODO.

AS MULHERES QUE TÊM RECEBIDO UMA INSTRUÇÃO TENDEM A EVITAR GRAVIDEZ PRECOCE E COMPORTAMENTOS DE RISCO DE CONTÁGIO DO HIV. TAMBÉM PORQUE UMA SALA DE AULA É MUITAS VEZES O ÚNICO LUGAR SEGURO PARA UMA ADOLESCENTE.

UMA JOVEM ANALFABETA ESTÁ, SEM DÚVIDA, MENOS PROTEGIDA DA VIOLÊNCIA, DAS DOENÇAS E DA EXPLORAÇÃO, DO QUE UMA COETÂNEA QUE QUE TEM ALGUM ACERVO CULTURAL.

A INSTRUÇÃO É O MELHOR MEIO PARA PROMOVER A IGUALDADE ENTRE OS SEXOS. GARANTIR OPORTUNIDADES IGUAIS DESDE O INÍCIO DA ESCOLARIDADE É O PRIMEIRO PASSO A SER DADO PARA QUE ESTE AMBICIOSO OBJETIVO SEJA ATINGIDO.

Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância Aos cuidados de Mara Borsi

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PRÓXIMO NÚMERO DOSSIÊ: Jardineiro ou navegante? O que significa ser educador hoje EM BUSCA: Objetivo 2015 Mais saúde menos mortalidade COMUNICAR: Periferias Sob a notícia nada Diálogo Passos concretos do diálogo

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