Pedagogia Do Oprimido - Paulo Freire

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Pedagogia do Oprimido Resenha escrita por Marcelo Centenaro Não é uma leitura fácil. Embora o livro não seja extenso, com pouco mais de 100 páginas, levei dois meses para terminar. Achei a linguagem confusa, com termos inventados ou palavras às quais o autor atribui um sentido peculiar, sem contudo definir claramente esse sentido. Muitas vezes, não há um encadeamento lógico entre um parágrafo e o seguinte, entre uma frase e a próxima, entre uma idéia e outra. Nesse aspecto, lembra muito o estilo do Alcorão. Paulo Freire tem um cacoete de separar os prefixos dos radicais das palavras (co-laboração, ad-mirar, re-criar), como se isso significasse alguma coisa. Há muitas passagens com sentido obscuro (vejam algumas abaixo), muitas repetições, citações de supostas autoridades em educação (como Mao, Lênin, Che, Fidel e Frantz Fanon) e menções freqüentes a que se vai voltar ao assunto depois ou a que já se tratou dele antes. Logo na introdução, somos brindados com esta afirmação: “Se a sectarização, como afirmamos, é o próprio do reacionário, a radicalização é o próprio do revolucionário. Dai que a pedagogia do oprimido, que implica numa tarefa radical cujas linhas introdutórias pretendemos apresentar neste ensaio e a própria leitura deste texto não possam ser realizadas por sectários.” Minha leitura deste trecho é: “Só quem já concorda comigo pode ler o que escrevo.” Vou apresentar a seguir o que entendi do livro, procurando ao máximo omitir minhas opiniões, que guardarei para o final da resenha. Paulo Freire descreve dois tipos de educação, uma característica de uma sociedade opressora, outra característica de uma sociedade livre, ou que luta para se libertar. A educação da sociedade opressora é chamada de “bancária”, sempre entre aspas, porque ela deposita conhecimentos nos alunos. Ou seja, ela reduz o aluno a um objeto passivo do processo educacional, no qual são jogadas informações sobre Português, Matemática, História, Geografia, Inglês, Física, Química, Biologia, Filosofia. Já a educação libertadora é chamada de dialógica, porque se baseia no diálogo entre professores e alunos (educadores e educandos, na linguagem do livro). É um processo do qual todos são sujeitos ativos e cuja finalidade é ampliar a consciência social de todos, especialmente dos alunos, para que se viabilize a revolução que acabará com a opressão. O livro não detalha o que a educação libertadora fará depois dessa libertação. Imaginamos que mantenha os educandos conscientes e imunes a movimentos reacionários e contra-revolucionários.

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  • Pedagogia do Oprimido Resenha escrita por Marcelo Centenaro

    No uma leitura fcil. Embora o livro no seja extenso, com pouco mais de

    100 pginas, levei dois meses para terminar. Achei a linguagem confusa, com

    termos inventados ou palavras s quais o autor atribui um sentido peculiar, sem

    contudo definir claramente esse sentido. Muitas vezes, no h um

    encadeamento lgico entre um pargrafo e o seguinte, entre uma frase e a

    prxima, entre uma idia e outra. Nesse aspecto, lembra muito o estilo do

    Alcoro. Paulo Freire tem um cacoete de separar os prefixos dos radicais das

    palavras (co-laborao, ad-mirar, re-criar), como se isso significasse alguma

    coisa. H muitas passagens com sentido obscuro (vejam algumas abaixo),

    muitas repeties, citaes de supostas autoridades em educao (como Mao,

    Lnin, Che, Fidel e Frantz Fanon) e menes freqentes a que se vai voltar ao

    assunto depois ou a que j se tratou dele antes.

    Logo na introduo, somos brindados com esta afirmao: Se a sectarizao,

    como afirmamos, o prprio do reacionrio, a radicalizao o prprio do

    revolucionrio. Dai que a pedagogia do oprimido, que implica numa tarefa

    radical cujas linhas introdutrias pretendemos apresentar neste ensaio e a

    prpria leitura deste texto no possam ser realizadas por sectrios. Minha

    leitura deste trecho : S quem j concorda comigo pode ler o que escrevo.

    Vou apresentar a seguir o que entendi do livro, procurando ao mximo omitir

    minhas opinies, que guardarei para o final da resenha.

    Paulo Freire descreve dois tipos de educao, uma caracterstica de uma

    sociedade opressora, outra caracterstica de uma sociedade livre, ou que luta

    para se libertar. A educao da sociedade opressora chamada de bancria,

    sempre entre aspas, porque ela deposita conhecimentos nos alunos. Ou seja,

    ela reduz o aluno a um objeto passivo do processo educacional, no qual so

    jogadas informaes sobre Portugus, Matemtica, Histria, Geografia, Ingls,

    Fsica, Qumica, Biologia, Filosofia. J a educao libertadora chamada de

    dialgica, porque se baseia no dilogo entre professores e alunos (educadores

    e educandos, na linguagem do livro). um processo do qual todos so sujeitos

    ativos e cuja finalidade ampliar a conscincia social de todos, especialmente

    dos alunos, para que se viabilize a revoluo que acabar com a opresso. O

    livro no detalha o que a educao libertadora far depois dessa libertao.

    Imaginamos que mantenha os educandos conscientes e imunes a movimentos

    reacionrios e contra-revolucionrios.

  • A educao dialgica se baseia no dilogo e o dilogo comea com a busca do

    contedo programtico. Na parte do livro em que h mais orientaes prticas,

    Paulo Freire recomenda que seja formado um grupo de educadores

    pesquisadores que observar os educandos e conversar com eles, em

    situaes diversas, para conhecer sua realidade e identificar o que ele chama

    de temas geradores, que possibilitaro a tomada de conscincia dos

    indivduos. Haver reunies com a comunidade, identificao de voluntrios,

    conversas e visitas para compreender a realidade, observaes e anotaes.

    Os investigadores faro um diagnstico da situao. Ento discutiro esse

    diagnstico com membros da comunidade para avaliar o grau de conscincia

    deles. Constatando que esse nvel baixo, vo apresentar as situaes

    identificadas aos alunos, para discusso e reflexo, com o objetivo de

    despertar sua conscincia para sua situao de opresso. Se o pensamento do

    povo mgico (religioso) ou ingnuo (acredita nos valores de direita), isso ser

    superado pelo processo, conforme o povo pensar sobre a maneira que pensa,

    e conforme agir para mudar sua situao de opresso.

    Paulo Freire enfatiza que o revolucionrio no pode manipular os educandos.

    Todo o processo tem de ser construdo baseado no dilogo e no respeito entre

    os lderes e o povo. Porm, os lderes devem ter a prudncia de no confiar no

    povo, porque as pessoas oprimidas tm a opresso inculcada no seu ser.

    Como exemplo de um lder que jamais permitiu que seu povo fosse

    manipulado, Paulo Freire apresenta Fidel Castro.

    A palavra o resultado da soma de ao e reflexo. Se nos baseamos apenas

    na reflexo, temos um verbalismo estril. Se nos baseamos apenas na ao,

    temos um ativismo inepto. Os lderes revolucionrios e os educadores devem

    compreender que a ao e a reflexo caminham juntas de maneira

    indissocivel, ou no se atingem os objetivos da educao e da revoluo.

    As caractersticas da opresso so a conquista dos mais fracos, a criao de

    divises artificiais entre os oprimidos para enfraquec-los, a manipulao das

    massas e a invaso cultural. Os opressores se impem em primeiro lugar pela

    fora. Depois, jogam os oprimidos uns contra os outros, para mant-los

    subjugados. As pessoas so manipuladas para acreditarem em falsos valores

    que lhes so prejudiciais, embora elas no percebam isso. Sua cultura de raiz

    esquecida e trocada por smbolos vazios importados de fora, num processo

    que esmaga a identidade do povo.

    As caractersticas da libertao so a colaborao (que Paulo Freire grafa co-

    laborao), a unio, a organizao e a sntese cultural. A colaborao est

    contida em tudo o que foi dito sobre educao dialgica, que feita em

    conjunto pelos educadores e educandos. A unio entre os oprimidos

    fundamental para que tenham fora para resistir contra o opressor. No trecho

    em que explica a organizao, citado o mdico Dr. Orlando Aguirre, diretor da

  • Faculdade de Medicina de uma universidade cubana, que afirmou que a

    revoluo implica em trs P: palavra, povo e plvora. Disse o Dr. Aguirre: A

    exploso da plvora aclara a visualizao que tem o povo de sua situao

    concreta, em busca, na ao, de sua libertao. E Paulo Freire complementa:

    O fato de no ter a liderana o direito de impor arbitrariamente sua palavra no

    significa dever assumir uma posio liberalista, que levaria as massas

    licenciosidade. Ele afirma que no existe liberdade sem autoridade. Sobre a

    sntese cultural, diz que a viso de mundo do povo precisa ser valorizada.

    Agora, o que penso sobre o texto. O prprio Paulo Freire deixa claro em vrios

    momentos, que seu livro no sobre educao. Ensinar, transmitir

    conhecimentos, uma preocupao da educao bancria opressora. No

    essa a funo de um educador libertador. No, sua funo criar os meios

    para uma revoluo libertadora, como foram libertadoras as revolues

    promovidas pelos educadores citados: Mao, Lnin, Fidel. Ou seja, a nica

    preocupao do livro com os meios para viabilizar uma revoluo marxista.

    Se voc, meu leitor, professor e acha que essa a sua funo, talvez

    encontre conhecimentos teis no livro. Caso contrrio, no h mais nada nele.

    Fiz uma coletnea de palavras utilizadas por Paulo Freire que poderiam ter

    sado de um discurso de Odorico Paraguau: involucra, em lugar de envolve,

    implicitados, em lugar de implcitos, gregarizadas, deve ser um derivado de

    gregrio, unidade epocal, em lugar de unidade de tempo, fatalistamente, por

    fatalisticamente, insertado, por inserido. Dois erros divertidos: chamar Rgis

    Debray de Rgis Debret e achar que o nome do padre Marie-Dominique Chenu

    OP (onde OP significa Ordo Praedicatorum, Ordem dos Pregadores, sigla que

    designa a Ordem dos Dominicanos) O. P. Chenu. sintomtico que algum

    com tantas dificuldades com a Lngua Portuguesa seja o Patrono da Educao

    Brasileira, considerado nossa maior autoridade em alfabetizao.

    Os brasileiros comeam a ficar cansados da doutrinao marxista disfarada

    de educao

    Desafio os bravos leitores a encontrar o sentido dos trechos a seguir. A melhor

    interpretao ganhar um po com mortadela. Os grifos so de Paulo Freire.

    1) Na verdade, no h eu que se constitua sem um no-eu. Por sua vez, o

    no-eu constituinte do eu se constitui na constituio do eu constitudo. Desta

    forma, o mundo constituinte da conscincia se torna mundo da conscincia, um

    percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. Da, a afirmao de Sartre,

    anteriormente citada: conscincia e mundo se do ao mesmo tempo.

    2) O ponto de partida deste movimento est nos homens mesmos. Mas, como

    no h homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relaes

    homens-mundo. Dai que este ponto de partida esteja sempre nos homens no

  • seu aqui e no seu agora que constituem a situao em que se encontram ora

    imersos, ora emersos, ora insertados.

    3) Sem ele [o dilogo], no h comunicao e sem esta no h verdadeira

    educao. A que, operando a superao da contradio educador-educandos,

    se instaura como situao gnosiolgica, em que os sujeitos incidem seu ato

    cognoscente sobre o objeto cognoscvel que os mediatiza.

    4) Esta a razo pela qual o animal no animaliza seu contorno para

    animalizar-se, nem tampouco se desanimaliza.

    5) Somente na medida em que os produtos que resultam da atividade do ser

    no pertenam a seus corpos fsicos, ainda que recebam o seu selo, daro

    surgimento dimenso significativa do contexto que, assim, se faz mundo.

    6) Porque, ao contrrio do animal, os homens podem tridimensionalizar o

    tempo (passado-presente-futuro) que, contudo, no so departamentos

    estanques. Algum pode me dizer como possvel tridimensionalizar o

    tempo?

    7) Uma unidade epocal se caracteriza pelo conjunto de idias, de

    concepes, esperanas, dvidas, valores, desafios, em interao dialtica

    com seus contrrios, buscando plenitude. A representao concreta de muitas

    destas idias, destes valores, destas concepes e esperanas, como tambm

    os obstculos ao ser mais dos homens, constituem os temas da poca.

    Outra caracterstica curiosa so as citaes em idiomas diversos. H citaes

    de Hegel e Karl Jaspers em ingls, de Marx e Erich Fromm em espanhol e de

    Lukcs em francs. Todos esses autores escreveram em alemo. Frantz

    Fanon, que escreveu em francs, citado em espanhol. Albert Memmi, que

    tambm escreveu em francs, citado em ingls, e se menciona que h uma

    edio brasileira de seu livro. Mao citado em francs. Porque todas essas

    citaes no foram simplesmente traduzidas para o portugus? E por que

    Paulo Freire gosta tanto de ditadores, torturadores e assassinos?

    Ele afirma que vender seu trabalho sempre o mesmo que escravizar-se.

    Porm, desejar no ser mais empregado e tornar-se patro escravizar a um

    outro, tornar-se opressor. Qualquer tipo de contratao de um indivduo por

    outro maligna, opresso, escravido. S teremos liberdade quando a

    nenhum indivduo for permitido contratar ou ser contratado por outro indivduo.

    Faz sentido para vocs?

    Paulo Freire afirma que os oprimidos devem ser reconhecidos como Pedro,

    Antnio, Josefa, mas os chama o tempo todo de massas. Diz que valoriza a

    viso de mundo do povo, enquanto no perde uma oportunidade de desdenhar

    das crenas religiosas desse mesmo povo, chamando-as de mgicas,

    sincrticas ou mistificaes. E ele se dizia catlico.

  • Como a opresso uma violncia, qualquer violncia cometida pelos oprimidos

    contra os opressores sempre uma reao justificada. um raciocnio

    assustador. Nas palavras dele: Quem inaugura a tirania no so os

    tiranizados, mas os tiranos. Quem inaugura o dio no so os odiados, mas os

    que primeiro odiaram. Quem inaugura a negao dos homens no so os que

    tiveram a sua humanidade negada, mas as que a negaram, negando tambm a

    sua. Paulo Freire considera justificados a tirania como resposta a uma tirania

    anterior e o dio como resposta a um dio anterior. E nega a humanidade de

    quem ele resolver chamar de opressores.

    Mais um trecho escabroso: Mas, o que ocorre, ainda quando a superao da

    contradio se faa em termos autnticos, com a instalao de uma nova

    situao concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se

    libertam, que os opressores de ontem no se reconheam em libertao.

    Pelo contrrio, vo sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos.

    que, para eles, formados na experincia de opressores, tudo o que no seja o

    seu direito antigo de oprimir, significa opresso a eles. Vo sentir-se, agora, na

    nova situao, como oprimidos porque, se antes podiam comer, vestir, calar,

    educar-se, passear, ouvir Beethoven, enquanto milhes no comiam, no

    calavam, no vestiam, no estudavam nem tampouco passeavam, quanto

    mais podiam ouvir Beethoven, qualquer restrio a tudo isto, em nome do

    direito de todos, lhes parece uma profunda violncia a seu direito de pessoa.

    Direito de pessoa que, na situao anterior, no respeitavam nos milhes de

    pessoas que sofriam e morriam de fome, de dor, de tristeza, de

    desesperana.

    O fato que ningum pode proibir ningum de comer, vestir, calar, educar-se,

    passear ou ouvir Beethoven. E ningum pode exigir comer, vestir, calar,

    educar-se, passear ou ouvir Beethoven s custas dos outros.

    Uma ltima citao abjeta: Mesmo que haja e explicavelmente por parte

    dos oprimidos, que sempre estiveram submetidos a um regime de expoliao,

    na luta revolucionria, uma dimenso revanchista, isto no significa que a

    revoluo deva esgotar-se nela. A revoluo no deve se esgotar no

    revanchismo, mas o revanchismo parte natural dela. Como algum que

    escreveu essas monstruosidades nunca foi processado por incitao

    violncia e apologia do crime? Como algum com um pensamento to anti-

    social pode ser sequer ouvido, quanto mais cultuado como Patrono da

    Educao Brasileira?

    Chega de doutrinao marxista! Fora Paulo Freire!