Pedroso Corrêa 1996 Sistemas de Programacao Da Pro 12444

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PALAVRAS-CHAVE: programação da produção com capacidade finita, planejamento e controle da produção, competitividade, estratégia de manufatura. KEY-WORDS:finiteschedu/ing, production p/anning and control, competitiveness, manufacturing strategy. Administração da Produção e Sistemas de Informação ,...., SISTEMAS DE PROGRAMAÇAO DA ,...., PRODUÇAO COM CAPACIDADE FINITA: UMA DECISÃO ESTRATÉGICA? Marcelo Caldeira Pedroso Mestre e Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica!USP. Consultor da Gianese Corrêa & Associados Henrique Luiz Corrêa PhD em Operations Management pela Universidade de Warwick, Inglaterra. Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica! USP. Consultor da Gianese Corrrêa &Associados. RESUMO: Esteartigo analisa o impacto, na competitividade das empresas, da crescente utilização em nível nacional e mundial, dos denominados "sistemas de programação da produção com capacidade finita". Para tanto, o artigo conceitua estes sistemas, bem como discute as possíveisimplicações decorrentes da implantação destes sistemas na estratégia de manufatura das empresas. Os autores propõem uma classificação destes sistemas e apresentam brevemente aqueles comercialmente disponíveis no Brasil. ABSTRACT:This paper examines the impad of the increasing/y growing use of the so called "finite capacity schedu/ing systems" on companies competitiveness. With this aim, the artiele defines re/evant concepts regarding finite schedu/ing systems and discusses the imp/ications of adopting/imp/ementing them for the adopter's manufaduring strategy. The authors a/so propose a taxonomy for finite schedu/ing systems and survey the current finite scheduling software applications available in Brazil. 60 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 36, n. 4, p. 60-73 Out./Nov./Dez. 1996

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PALAVRAS-CHAVE:programação da produção com capacidade finita, planejamento e controle daprodução, competitividade, estratégia de manufatura.

KEY-WORDS:finite schedu/ing, production p/anning and control, competitiveness, manufacturing strategy.

Administração da Produção e Sistemas de Informação

,....,

SISTEMAS DE PROGRAMAÇAO DA,....,

PRODUÇAO COM CAPACIDADEFINITA: UMA DECISÃO ESTRATÉGICA?

Marcelo Caldeira PedrosoMestre e Engenheiro de Produção pela Escola

Politécnica!USP. Consultor da Gianese Corrêa &Associados

Henrique Luiz CorrêaPhD em Operations Management pela Universidade

de Warwick, Inglaterra. Professor do Departamentode Engenharia de Produção da Escola Politécnica!USP. Consultor da Gianese Corrrêa &Associados.

RESUMO: Esteartigo analisa o impacto, na competitividade das empresas, da crescente utilização em nívelnacional e mundial, dos denominados "sistemas de programação da produção com capacidade finita". Paratanto, o artigo conceitua estessistemas, bem como discute as possíveisimplicações decorrentes da implantaçãodestes sistemas na estratégia de manufatura das empresas. Os autores propõem uma classificação destessistemas e apresentam brevemente aqueles comercialmente disponíveis no Brasil.

ABSTRACT:This paper examines the impad of the increasing/y growing use of the so called "finite capacityschedu/ing systems" on companies competitiveness. With this aim, the artiele defines re/evant concepts regardingfinite schedu/ing systems and discusses the imp/ications of adopting/imp/ementing them for the adopter'smanufaduring strategy. The authors a/so propose a taxonomy for finite schedu/ing systems and survey thecurrent finite scheduling software applications available in Brazil.

60 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 36, n. 4, p. 60-73 Out./Nov./Dez. 1996

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

A busca da competitividade por partedas empresas, notadamente quando se ob-jetiva reduzir os custos - associados aosestoques e ao nível de utilização e variaçãoda capacidade produtiva - e melhorar onível de serviço percebido pelo cliente -em termos de uma maior velocidade de en-trega, uma melhor pontualidade nos pra-zos acordados e um aumento de flexibili-dade em relação às variações da demandae dos recursos produtivos -coloca o siste-ma de planejamento, programação e controleda produção (PPCP) como uma área dedecisão prioritária para os executivos nosanos 90.

Basicamente, o sistema de PPCP é umaárea de decisão da empresa que objetivaplanejar e controlar os recursos alocados aoprocesso produtivo visando atender a de-manda dos clientes.

Tradicionalmente, a literatura tem abor-dado predominantemente sistemas comoMRPII, JIT e OPT,l que já há alguns anosfazem parte do jargão da área. Recentemen-te, um novo conjunto de sistemas e termoscomo Leitstand, finite capacity schedulingsystems, simuladores, manufacturingexecution systems e manufacturing operationmanagement systems têm sido crescen-temente divulgados na literatura.2 Todosestes sistemas são, basicamente, centradosna utilização de aplicativos informatizadoscomo ferramenta de suporte às decisões emadministração da produção e, particular-mente, em PPCP.

O mercado apresenta hoje centenas dealternativas de aplicativos de software paraapoiar a implantação e as decisões decor-rentes destes sistemas. Entre estesaplicativos estão aqueles que utilizam alógica MRPII3 - que apresentam todos, emlinhas gerais, uma mesma estrutura básicade solução do problema 4 e variam entre sinas funcionalidades que cada particularaplicativo de software apresenta. Além dosaplicativos que se utilizam da lógica MRPII,outras soluções mais específicas e ainda emestágio menos avançado de desenvolvi-mento têm sido recentemente dispo-nibilizados comercialmente: os sistemas deprogramação da produção com capacida-de finita (oufinite capacity scheduling sistems,cujo conceito será apresentado mais adianteneste artigo), que possuem cada um sualógica própria de solução de problema -

normalmente baseada em simulação emcomputador -, sem que ainda se tenha che-gado a um design básico que, como ocorrecom o MRPII, domine a abordagem adota-da pelos diversos fornecedores de sistemas.

A decisão sobre a adoção de um sistemade PPCP deve considerar a multiplicidadede soluções hoje possíveis, assim como aadequação destas ao ambiente particularde cada empresa. Na realidade, entretan-to, as decisões envolvendo a escolha e im-plantação de sistemas de PPCP têm ocor-rido nas empresas, em muitos casos, segun-do uma lógica que pode ser caracterizadacomo induzidas por promessas de pana-céias, em detrimento da escolha de um sis-tema que melhor suporte a estratégia com-petitiva da empresa. Podem-se verificarcasos em que foram investidos alguns mi-lhões de dólares no processo de desenvol-vimento (que pode envolver a escolha dealternativas de pacotes de software) e im-plantação de sistemas de PPCP, sendo queos resultados esperados jamais tenham sido

5alcançados. Este fato decorre, dentre ou-tros possíveis fatores, da falta de umametodologia adequada que suporte o pro-jeto, escolha e implantação de um sistemade PPCP que seja adequado às necessida-des estratégicas da empresa, e que consi-dere sistemicamente suas competências e

• _ 6restrições,

Este artigo objetiva analisar o impacto,na estratégia de manufatura das empresas,da adoção de determinado sistema dePPCP. Em particular, serão enfatizados osdenominados sistemas de programação daprodução com capacidade finita, já que odesenvolvimento rápido da área não temsido acompanhado por discussões da lite-ratura, particularmente, sobre a gestão e aadequação destes sistemas às necessidadesestratégicas específicas de cada empresa,um aspecto essencial a ser considerado nadecisão de implantá-los.

o IMPACTO ESTRATÉGICO DAS DECISÕESRESULTANTES DE UM SISTEMA DE PPCP

Os sistemas de PPCP objetivam apoiaras decisões de o que, quanto, quando eonde produzir e o que, quanto e quandocomprar. Estas decisões definem quatrodeterminantes fundamentais do desempe-nho destes sistemas:

© 1996, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.

1. Veja, por exemplo, NEWMAN,W. e SRIDHARAN, V. Manu-facturing planning and control: isthere one definitive answer?Production and inventorymanagement journal, FirstQuarter, p. 50-54, 1992 eCDRRÊA, H.L. e GIANESI, I.G.N.Just inTime, MRPII e DPT: umenfoque estratégico. São Paulo:Atlas, 1993.

2_ Para maiores detalhes vejaADELSBERGER, H. H. e KANEl,J. J. The Leitstand: A New Tool forComputer-IntegratedManufacturing. Production andInventory Management Joumal, v.32, n. 1, p. 43-48, 1991;HAKANSON, W. P. ManagingManufacturing Operations in1990's. Industrial Engineering, p.31-34, julho, 1994; HARRISON,M. Finite Capacity Moves to theHeart of MRPII. ManufacturingSystems, p.12-16, May 1994;HLUPIC, V. e PAUL, R. J. A CriticaiEvaluation of Four ManufacturingSimulators. International Journalof Productíon Research, v. 33, n.10, p. 2757-2766, 1995;PORTER,J. K., JARVIS, P., UTILE,D., LAARKMANN, J., HANEN, C.e SCHOTTEN, M. ProductionPlanning and Control SystemDevelopments in Germany.International Journal ofDperations & ProductionManagement, v. 16, n. 1, p. 27-39,1996.

3. Baseado no cálculo denecessidades de recursos (de quetipos, em que quantidades e emque datas) para o atendimento anecessidades de produção deprodutos finais de forma a permitircumprimento de prazos e mínimatorrnação de estoques. VejaCORREA, H.L. e GIANESI, I.G.N.Op. cit para uma descrição maisdetalhada de sistemas MRPII.

4. Esses sistemas já convergirampara um design dominante,segundo conceito proposto porUTIERBACH, D. Mastering theDinamics of Innovation. Boston:Harward Business School Press,1994.

5. Segundo BERRY,W. L. e HILL,T. Linking Systems to Strategy.International Journal of Dpe-rations & Production Manage-ment, v. 12, n.l0, p. 3-15, 1992.

6. Veja PEDROSO,M. C.MISPEM:Modelo de Integração do Sistemade PPCP à Estratégia deManufatura. Dissertação deMestrado, Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo, SãoPaulo, 1996, para um tratamentodetalhado sobre o tema.

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IA decisão sobre a

adoção de um sistema dePPCP deve considerar a

multiplicidade desoluções hoje possíveis,assim como a adequação

destas ao ambienteparticular de cada

empresa.

7. Segundo SLACK, N. VantagemCompetitiva em Manufatura. SãoPaulo: Atlas, 1993.

8. Para maiores detalhes sobre oconceito de flexibilidade vejaCORREA, H.L. Flexibilidade nosSistemas de Produção. RAE-Revista de Administração deEmpresas, v. 33, n. 3, p. 22-35,maio/jun. 1993.

9. Para maiores detalhes sobre ainter-relação entre os objetivos dedesempenho do sistema de PPCPe os objetivos de desempenho damanufatura veja PEDROSO, M. C.Op. cito

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I

• os níveis, em volume e mix, de estoquesde matérias-primas, produtos em proces-so e produtos acabados;

• os níveis de utilização e de variação dacapacidade produtiva (e, conseqüen-temente, os custos financeiros e orga-nizacionais decorrentes de ociosidade,hora extra, demissão, contratação, sub-contratação e outros);

• o nível de atendimento à demanda dosclientes, considerando a disponibilidadedos produtos em termos de quantidadese prazos de entrega;

• a competência quanto à reprogramaçãoda produção, abordando a forma comoa empresa reage às mudanças não pre-vistas nos seus recursos de produção ena demanda dos clientes.

Estes determinantes podem ser desdo-brados em objetivos de desempenho espe-cíficos para o Sistema de PPCP . Estes ob-jetivos - apresentados a seguir - podem termaior ou menor importância relativa con-forme a situação competitiva específica tra-tada, bem como apresentar relações de de-sempenho negativas ou positivas - ou seja,gestões para a melhoria no desempenho dedeterminado desempenho repercutem ne-gativamente ou positivamente no desem-penho do outro:

• manter o nível mínimo desejável de es-toque de matérias-primas;

• manter o nível mínimo desejável de es-toque de produtos em processo;

• manter o nível mínimo desejável de es-toque de produtos acabados;

• atingir o nível adequado de utilização dacapacidade produtiva;

• manter um nível adequado de variaçãoda capacidade produtiva;

• atingir o nível adequado de atendimen-to à demanda; e

• reprogramar a produção na ocorrênciade mudanças não previstas nos recursosprodutivos ou na demanda, consideran-do o timing adequado e a consistênciaem relação aos demais objetivos de de-sempenho do sistema.

o desempenho do sistema de PPCP, poroutro lado, impacta diretamente o desem-penho da manufatura, caracterizado ,Pelosseguintes objetivos de desempenho:

• custo, que diz respeito à capacidade dea empresa fabricar produtos com alta efi-ciência na utilização dos recursos produti-vos;

• qualidade, que se refere a fazer produtosde acordo com as especificações (quali-dade no processo) e que atendam às ne-cessidades e expectativas dos clientes(qualidade no projeto);

• velocidade, que está relacionado à habi-lidade da empresa em entregar produ-tos mais rapidamente do que a concor-rência;

• pontualidade, que representa a capaci-dade de a empresa cumprir os prazos deentrega prometidos ao cliente; e

• flexibilidade, que se conceitua como ahabilidade de a manufatura adapatar-secom eficácia e eficiência às mudanças nãoplanejadas nos seus ambientes interno e

8externo.

o desempenho interno da manufatura,por sua vez, condiciona o desempenho ex-terno da empresa - aquele percebido pelocliente.9

o CONCEITO DE SISTEMA DE PROGRAMAÇÃODA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

As decisões do sistema de PPCP ocor-rem em diferentes horizontes de tempo eperíodos de replanejamento, bem comoconsideram diferentes níveis de agregação

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

da informação. Estas decisões podem serclassificadas em três níveis: planejamentode longo, médio e curto prazo e controle.Este conceito está relacionado ao denomi-nado planejamento hierárquico da produ-ção, uma metodologia que propõe decom-por o problema do planejamento da pro-dução de larga escala em sub-problemasmenores, resolvendo-os seqüencialmente- do maior horizonte de tempo para ome-nor - e iterativamente - as decisões nashierarquias superiores são restrições aosProblemas seguintes, bem como são

10realimentadas por estes.Desta forma, as decisões relacionadas

aos três níveis e à função controle estão in-trinsecamente interrelacionadas, o que im-plica que um sistema de PPCP deve serprojetado considerando este conjunto dedecisões, bem como a importância relativade cada nível de decisão dentro do contex-to particular da cada empresa.

A programação da produção aborda oplanejamento de curto prazo. Basicamen-te, a programação da produção consiste emdecidir quais atividades produtivas (ouordens de trabalho) devem ser realizadas,quando (momento de início ou prioridadena fila) e com quais recursos (matérias-pri-mas, máquinas, operadores, ferramentas,entre outros) para atender à demanda, in-formada ou através das decisões do planomestre de produção ou diretamente da car-teira de pedidos dos clientes (Figura 1).Esteconjunto de decisões é dos mais comple-xos dentro da área de administração daprodução.

Isto se deve principalmente ao volumede diferentes variáveis envolvidas e suacapacidade de influenciar os diferentes econflitantes objetivos de desempenho doSistema de PPCP.Assim, as decisões decor-rentes da programação da produção se tor-nam um problema combinatório de tal or-dem que soluções intuitivas são inadequa-das pelas limitações humanas de adminis-trar informações.

Para exemplificar,pode-se citar algumasdas diversas possibilidades e restrições:

Em termos de ordens:• as ordens, geralmente, apresentam da-tas de entrega diferentes;

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FIGURA 1. ESQUEMA SIMPLIFICADO DAS VARIÁ VEIS DE

DECISÃO EM PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO

• cada ordem, geralmente, está em um es-tado diferente de completude;

11• as ordens podem apresentar set up comtempos e atividades variáveis, em fun-ção da ordem anterior;

• cada ordem pode ter roteiros alternati-vos, dependendo das característicastecnológicas dos equipamentos;

• cada ordem pode eventualmente ser fei-ta em máquinas alternativas com efi-ciências diferentes;

• cada ordem pode ser de clientes comimportância relativa diferente;

• cada ordem pode necessitar de re-programações frequentes, tanto em fun-ção dos clientes (alterações nas quanti-dades e nos prazos de entrega) quantode ocorrências não previstas quanto aosrecursos ou às operações.

Em termos de recursos:

• as máquinas geralmente quebram, bemcomo demandam manutenção;

• as matérias-primas podem não estar dis-poníveis;

• as ferramentas podem não estar dispo-níveis;

• os funcionários podem faltar.

Em termos de operações:

• os problemas relacionados à qualidadegeralmente ocorrem, requerendo retra-balhos;

• as operações podem ter tempos deperecibilidade;

10. Para maiores detalhes sobresistemas de PPCP vejaVOLLMANN, T. O., BERRY,W. L. eWHYBARK, D. C. ManufacturingPlanning and Control Systems.lllinois: Richard D.lrwin, Inc., 1992.

11. Preparação para início daprodução.

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• as operações podem demandar tempo depós-produção (cura, secagem etc.);

• as operações podem ter restrições para adefinição de tamanhos de lote;

• as operações podem ser feitas em recur-sos gargalo, demandando máxima utili-zação.

Neste contexto, visando apoiar as deci-sões no âmbito da programação da produ-ção (e,em alguns casos, na geração do pla-no mestre de produção), foram desenvol-vidos os sistemas de programação da pro-dução com capacidade finita. Estes siste-mas têm a característica principal de con-siderar a capacidade produtiva e as carac-terísticas tecnológicas do sistema produti-vo como uma restrição a priori para a to-mada de decisão, buscando garantir que oprograma de produção resultante seja viá-vel. Nestes sistemas, o usuário:

• modela o sistema produtivo -por exem-plo: máquinas, mão-de-obra, ferramen-tas, calendário, turnos de trabalho, e in-forma os roteiros de fabricação, as velo-

cidades de operação, as restriçõestecnológicas, os tempos de setup e a res-pectiva matriz de dependência;

• informa a demanda - determinada peloplano mestre de produção, pela carteirade pedidos ou por previsão de vendas,bem como as alterações ocorridas - porexemplo, mudanças nas quantidades ounos prazos de entrega;

• informa as condições reais do sistemaprodutivo - por exemplo, matéria-primadisponível, quebra de máquinas, manu-tenções; e

• modela alguns parâmetros para a toma-da de decisões - por exemplo, define al-gumas regras de liberação (dispatchingruIes) ou pondera determinados objeti-vos a serem atingidos;

de modo que o programa de produção re-sultante atenda as condições particulares dosistemaprodutivo modelado, ou seja,dopiso-de-fábrica ebusque maximizar osmúltiplos econflitantesobjetivosde desempenho do Sis-tema de PPCP.A figura 2 representa o am-biente em que este sistema opera.

FIGURA 2. REPRESENTAÇÃO DA OPERAÇÃO DE UM SISTEMA DE PROGRAMAÇÃO DA

PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA.

Demanda(prevista ou carteira

de pedidos)

Sistema -~;:;J~de programação da produçãocom capacidade finita

~ .....Lã,;

Programa de ...produção viável e consistentecom objetivos da empresa

Modelagem dosistemaprodutivo •

FeedbaCkdO~rpiso de fábrica' Fn;-!

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

Alguns dos principais fatores que po-dem ser apontados como impulsionadoresdo desenvolvimento destes sistemas são:

• a busca de competitividade pelas empre-sas, aliada ao melhor entendimento dasimplicações das decisões resultantes dosistema de PPCP e, particularmente, daprogramação da produção, na estratégiade manufatura das empresas;

• as limitações dos Sistemas MRP-I1 emgerar programas de produção viáveis-pelo fato de utilizar o conceito de capa-cidade infinita, ou seja, não consideraras características tecnológicas de sistemaprodutivo e a capacidade produtivacomo limitações para a programação daprodução, apenas apontando as incon-sistências em termos de utilização dacapacidade a posteriori - e do Kanban,quando aplicado em ambientes altamentedinâmicos e com demanda variável;

• o desenvolvimento das técnicas de simu-lação e de algoritmos baseados em inte-ligência artificial (tais como beam search,simulated annealing, genetic algorithm etabu search), disponibilizados como fer-ramentas práticas aplicadas ao Eroblemada programação da produção; 2

• o crescente desenvolvimento dos equi-pamentos (hardware), que passaram apermitir a resolução do problema daprogramação da produção a partir dastécnicas acima citadas em tempos viáveisna prática, fato impossível no passadodevido ao grande volume de informa-ções que necessitam ser processadas.

o IMPACTO RESULTANTE DA IMPLANTAÇÃODE UM SISTEMA DE PROGRAMAÇÃO DAPRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

o resultado da implantação de um sis-tema de programação da produção comcapacidade finita está intrinsicamente re-lacionado a três fatores fundamentais:

a) adequação atual e futura deste siste-ma em relação ao ambiente da empresa,que envolve, entre outros:

• a efetiva necessidade da empresa emgerenciar sua capacidade de forma de-talhada. Há casos em que a capacidade

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produtiva pode não ser um fatorrestritivo para a gestão da empresa nocurto prazo; pode-se citar como exem-plo as empresas que atuam com excessode capacidade para atender os clientesassim que estes solicitarem - bastando,para tanto, a utilização sistemática da

13regra FIFO;• o alinhamento à política de planejamen-

to da produção da empresa. Basicamen-te, estes sistemas são importantes paraapoiar a geração de programas de pro-dução às empresas que utilizam a políti-ca de produção sob encomenda e progra-mas de montagem naquelas que reali-zam a montagem final sob encomenda,principalmente naquelas empresas ondea demanda é pouco previsível. Por ou-tro lado, estes sistemas também podemapoiar a definição do plano mestre deprodução, que é de fundamental impor-tância na definição dos níveis de estoquede produtos acabados (em empresas quefabricam para estoque) e dos níveis desemi-acabados (nos casos de empresasque utilizam a política de montagem sobencomenda), particularmente em am-bientes onde a demanda é variável;

• a complexidade das decisões no âmbitoda programação da produção. Deve-seconsiderar que algumas empresas"criam" a necessidade de decisões com-plexas para a programação da produção,seja, por exemplo, por falta de foco ou

As decisõesdecorrentes daprogramação daprodução se tornam umproblema combinatóriode tal ordem quesoluções intuitivas sãoinadequadas pelaslimitações humanas deadministrarinformações.

I

12. Para maiores detalhes sobre ametodologia de resolução dosproblemas da programação daprodução veja MORTON, T. E. ePENTICO, O. W. HeuristicScheduling Systems. New York:John Wiley & Sons, Inc.,. 1993.

13. First in, first out, ou "o primeiroa chegar é o primeiro a sair".I

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I

Os sistemas deprogramação da produção

com capaciadade finita,conforme explicitado

anteriormente, nãoapresentam um design

básico predominante, umavez que existem conceitosdiferentes na concepção eno escopo das decisões

apoiadas por estes.I

por apresentar um processo produtivonão-estável; assim, cabe avaliar se o sis-tema deve ser realmente implantadopara gerenciar esta complexidade ou sea operação pode ser simplificada.

b) escolha de um sistema que atenda asnecessidades e particularidades da em-presa, que compreeende:

• a definição conceitual do sistema, consi-derando a adequação à empresa e deter-minando as decisões a serem apoiadaspelo sistema - por exemplo: geração doplano mestre de produção, dos progra-mas de produção e de montagem, ges-tão das matérias-primas e do ferramental- e a integração destas decisões ao sis-tema de PPCP da empresa;

• a escolha dentre os diversos sistema dis-poníveis no mercado (ou, eventualmen-te, do desenvolvimento de um específi-copara a empresa), abrangendo o alinha-mento deste em relação ao sistema defi-nido conceitualmente, a verificação daforma como o sistema aborda as parti-cularidades relevantes da empresa - porexemplo: roteiros alternativos emmáqui-nas com velocidades e seqüências deoperação diferentes, tempos de set updependentes da operação anterior, mão-de-obra com diferentes graus de qualifi-cação e experiência -, a avaliação do graude capacitação e confiabilidade do for-necedor deste, bem como a consideração

de eventuais restrições internas (porexemplo: nível de investimento disponí-vel, as especificações de hardware e desoftware previamente adotadas pela em-presa).

c) metodologia de implantação, que deveconsiderar principalmente:

• o envolvimento dos recursos humanos,considerando o comprometimento daalta administração e a participação daspessoas corretas nas etapas necessáriasde todas as fases de implantação do pro-jeto;

• o treinamento, que envolve a definiçãodas necessidades de treinamento - tantoconceitual quanto prático - e a efetivaçãoadequada deste;

• a gestão do projeto, abrangendo odimensionamento dos recursos, ocronograma, o controle e, eventualmen-te, a reprogramação das fases de implan-tação.

Assim, a correta definição conceitual, aescolha dentre os sistemas disponíveis eefetiva implantação de um sistema deprogramação da produção com capaci-dade finita, integrada às demais decisõesdo sistema de PPCP, pode capacitar aempresa a melhorar o desempenho em:

• custos: relacionados à utilização e varia-ção da capacidade produtiva - o quepode resultar em um aumento da capa-cidade produtiva disponível -, e à ma-nutenção dos níveis de estoques de ma-térias-primas, em processo e de produ-tos acabados, adequados à política deplanejamento da produção da empresa;

• velocidade de entrega: que diz respeitoà redução dos tempos de atravessamentoe consequentemente, à diminuição dostempos de entrega percebidos pelos cli-entes;

• pontualidade nos prazos de entregaacordados: referentes à melhoria da de-finição dos prazos junto aos clientes (aomenos, considerando a negociação soba ótica da programação da produção) ecumprimento destes;

• flexibilidade de volume e de entrega:que está relacionada ao aumento da ha-bilidade da empresa em se adaptar às

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

mudanças não-previstas na demanda enos recursos produtivos, bem comoa nãocontribuir na deterioração do desempe-nho em qualidade do produto em pro-cessos não-estáveis.

Por outro lado, a implantação destes sis-temas exige investimentos em:

• software: que diz respeito ao aplicativopropriamente dito, às eventuais necessi-dades de adaptação deste e à suaintegração aos demais sistemas infor-matizados da empresa;

• hardware: que abrange os equipamen-tos necessários à gestão do sistema (in-cluindo, por exemplo, a necessidade deequipamentos dedicados e de outrospara acesso e informação, além do siste-ma de coleta de dados) e a interligaçãofísicaentre eles, e entre estes e os demaisequipamentos da empresa;

• treinamento: que está relacionado àcapacitação dos recursos humanos paraa gestão da nova tecnologia, incluindo acapacitação para operar o sistema - oconhecimento das funcionalidades dosoftware - e, talvezmais importante, o trei-namento conceitual, ou seja, a capa-citação na gestão à qual o sistema su-

14porta;

• implantação: que diz respeito ao proces-so de start up do sistema, abrangendo amodelagem deste - a representação dosistema produtivo (por exemplo, os ro-teiros de fabricação dos produtos, as ca-racterísticas das máquinas, da mão-de-obra e das ferramentas) e do processo detomada de decisão (como, por exemplo,a definação das regras de liberação ou aponderação de objetivos a serem atingi-dos) - e a disponibilização das demaisinformaçõesnecessárias (por exemplo, asmatérias-primas disponíveis, os statusdas ordens abertas e informações sobrea demanda);

• manutenção do sistema: que consideraos valores associados à gestão do siste-ma e à manutenção e atualização dosoftware e do hardware;

• mudanças organizacionais: que abordaas mudanças na organização necessáriasà efetiva gestão do sistema (como, porexemplo, alterações na estrutura orga-nizacional, implantação de novos proce-dimentos e métodos ou contratação derecursos humanos com a qualificaçãoadequada); que, somados, chegam a ní-veis relativamente elevados.15 Afigura 3ilustra os critérios de avaliação destadecisão.

FIGURA 3. CRITÉRIOS DE DECISÃO PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM

SISTEMA DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

NíVEIS DE INVESTIMENTO

E ESFORÇOS

ORGANIZACIONAIS

EXIGIDOS

MELHO~IA··

DE DESEMPENHO

DA MANUFATURA

redução em custos decor-rentes da melhor gestão dosestoques e da capacidadeprodutiva

• aumento da velocidade deentrega

• melhoria na pontualidade deentrega

• aumento da flexibilidade devolume e de entrega

- software• hardware• treinamento• implantação• manutenção do sistema• mudanças organizacionais

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ANÁLISE DA

APEQUAÇÃO ATUAL E

FUTURA DO SISTEMA

14. Segundo COSTA, R.S.Pontualidade Total. Tese deDoutorado, Universidade Federaldo Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,1996.

15. O principal fator financeiro, namaioria dos casos, estárelacionado ao custo dosottware.Dentro de um universo de 14sistemas pesquisados edisponíveis no Brasil no final de1995 - citados adiante -, osvalores variaram dentro de umafaixa de 7 mil a 1,5 milhão dedólares.

• necessidade de gestãoda capacidade

• alinhamento à política deplanejamento da produ-ção

• complexidade das deci-sões

• funcionalidades e escopodas decisões dos siste-mas disponíveis

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ção das ordens. Estes sistemas são osmais difundidos atualmente dada a re-lativa simplicidade de modelagem e ra-pidez de processamento; por outro lado,exigem critérios na escolha das regras- geralmente determinadas a partir desimulação e comparação dos resultadossegundo parâmetros mensuráveis, bemcomo pode, dependendo da escolha daregra e do ambiente em que este sistemaé implantado, q~rar resultados relativa-mente 'pobres'.

16. Baseado em MORTON, T. E. ePENTICO, D. W. Op. cito

17. Panwalker, S. S. e Iskander,W. A Survey of Scheduling Rules.Operations Research, V. 25, n. 1,p. 45-61, Jan.-Febr. 1977.

18. PARUNAK, H. V. D.Caracterizing the ManufacturingScheduling Problem. Journa/ 01ManulacturingSystems, V. 10, n..3, p.241-258, 1991.

19. Para maiores detalhes veja,por exemplo, GOLDRATT, E. M.Computerized Shop FloorScheduling./nternationa/ Jouma/01Production Research, v. 26, n.3,p.443-455, 1988; .TheHaystack Syndrome. New York:North River Press, 1990;CORRÊA, H.L. e GIANESI, I.G.N.Op. cito

20. Como exemplos de aplicaçãoveja OW, P. S. e MORTON, T. E.Filtered Beam Search inScheduling. /nternationa/ Journa/01 Production Research, V. 26,n.1, p.35-62, 1988; STORER, H.S., WU, S. D. e VACCARI, R. NewSearch Spaces for SequencingProblems with Applications to JobShop Scheduling. ManagementScience, V. 38, n.. 10, p. 1495-1509, October 1992; ITOH, K.,HUANG, D. e ENKAWA, T.TwofoldLook-Ahead Search for Multi-Criterion Job Shop Scheduling./nternationa/ Journa/ 01Production Research, V. 31, n. 9,p. 2215-2234, 1993; BARNES, J.W. e CHAMBERS, J. B. SolvingtheJob Shop Scheduling Problemwith Tabu Search. I/ETransactions, n. 25, p. 257-263,1995.

68

Em resumo, a decisão de implantar umsistema de programação da produção comcapacidade finita envolve a análise:

• do impacto estratégico resultante, consi-derando a melhoria do desempenho damanufatura nos objetivos desempenhorelevantes para a competitividade daempresa;

• dos níveis de investimento e esforçosorganizacionais exigidos;

• dos sistemas disponíveis que, por apre-sentarem sensíveis diferenças tanto naconcepção quanto no escopo da decisão,merecem uma avaliação mais criteriosaquanto à adequação às necessidadesatuais e futuras da empresa.

UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DOSSISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃOCOM CAPACIDADE FINITA

Os sistemas de programação da produ-ção com capaciadade finita, conformeexplicitado anteriormente, não apresentamum design básico predominante, uma vezque existem conceitos diferentes na concep-ção e no escopo das decisões apoiadas porestes. Pode-se, entretanto propor a seguin-te classificação, baseada em três critériosbásicos:

a) método de solução do problema, ouseja, de acordo com a abordagem utilizada

d d - 16para gerar o programa e pro uçao:

• sistemas baseados em regras de libera-ção: estes sistemas utilizam regras quedecidem qual ordem, dentre uma fila deordens disputando um recurso, será pro-cessada primeiro. A literatura apresenta

17cerca de uma centena destas regras -algumas das mais conhecidas são: SPT(shortest operation process time onde ga-nham prioridade as ordens de menortempo de operação) e EDD (earliest jobdue date, onde ganham prioridade as ope-rações dos trabalhos que estão prometi-dos para as datas mais próximas). Os sis-temas baseados em regras de liberaçãoadotam o conceito de programação finitapara frente, onde a capacidade do recur-so vai sendo preenchida seqüencial-mente em função da decisão de libera-

• sistemas matemáticos otimizantes: a ca-racterística principal destes sistemas re-side na utilização de algoritmos matemá-ticos otimizantes, ou seja, o resultado dadecisão é o melhor possível uma vez de-finido o objetivo que se deseja atingir. Assoluções típicas destes sistemas sãoaquelas que utilizam algoritmos da pes-quisa operacional. Na prática, os siste-mas matemáticos otimizantes estão limi-tados a problemas restritos - basicamen-te aplicados à resolução de modelos depequeno porte e simplificados, não sufi-cientes para modelar situações reais.

• sistemas matemáticos heurísticos: estessistemas são caracterizados por apresen-tarem algoritmos matemáticos heurís-ticos, que garantem soluções viáveis e re-lativamente 'boas', porém não necessa-riamente ótimas. Geralmente, estes sis-temas utilizam algoritmos de busca - de-senvolvidos segundo o conceito da inte-ligência artificial - e métodos baseadosem gargalos (predominantemente deri-vados do conceito da teoria das restri-

- 19) Oçoes . s avanços nos recursos com-putacionais e o desenvolvimento das téc-nicas tem permitido que estes sistemassejam disponibilizados comercialmente- muitas vezes na forma de soluções pro-prietárias fechadas, em que os algoritmossão mantidos em segredo pelos fornece-dores, por serem eles os possíveis dife-renciais competitivos do produto. O sis-temas matemáticos heurísticos podem,em teoria, gerar soluções melhores doque os sistemas baseados em regras deliberação, porém eles são relativamentemais complexos - dado o grau de sofis-ticação matemática da solução - e emgeral exigem um tempo computacional

. lm . 20proporCIOna ente maior,

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21. Para maiores detalhes vejaKUSIAK, A. IntelligentManufacturing Systems.Singapure: Prentice-Hall Inc.,1990 e KERR, R. Knowledge-Based ManufacturingManagement. Singapure:Addison-Wesley PublishingCompany Inc., 1991. Comoexemplos de aplicação, vejaBENSANA, E., Bel, G. e DUBOIS,D. OPAL: A Multi-Knowledge-Based System for Industrial Job-Shop Scheduling. InternationalJournal of Production Research,v. 26, n. 5, p. 795-819, 1988;KATHAWALA, Y. e ALLEN, W. R.Expert Systems and Job ShopScheduling. International Journalof Operations & ProductionManagement, v. 13, n. 2, p. 23-35,1993.

SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

Na realidade, esta classificação definedois extremos. Na prática, existem tambémsoluções intermediárias, em que os siste-mas fechados mantém a responsabilidadepela decisão, porém permitem uminteração maior com o usuário na defini-ção das regras de decisão (podendo serclassificados como 'sistemas semi-fecha-dos'); e os 'sistemas semi-abertos', onde ousuário é responsável pela decisão, porémo sistema limita a escolha da metodologiade decisão.

c) abrangência das decisões no âmbitodo planejamento da produção:

• sistemas de apoio ao plano mestre deprodução: determinam o plano referen-te às quantidades e itens de produtos fi-nais a serem produzidos, período a pe-ríodo.

• sistemas de apoio à programação da pro-dução: definem as sequências de ordensa serem executadas nos recursos produ-tivos em um determinado horizonte detempo.

• sistemas que executam a gestão dos ma-teriais integrada à capacidade produti-va: gerenciam os estoques de matérias-primas sincronizadamente à capacidadeprodutiva, determinando as necessida-des de aquisição de materiais - em ter-mos de quantidades e do respectivotiming.

A decisão sobre aimplantação de umsistema de programaçãoda produção comcapacidade finita,considerando asimplicaçõesdecorrentes, adificuldade de reverter eo nível de investimentodemandado, é umadecisão, por natureza,estratégica.

• sistemas especialistas puros: estes siste-mas - baseados em conceitos de inteli-gência artificial - consistem em, atravésda coleta do conhecimento de especia-listas em determinado assunto, trans-formá-lo em uma série de regras de de-cisão que, através do denominado "mo-tor de inferência", chegam a uma solu-ção. Os sistemas especialistas puros são,geralmente, soluções ad hoc, com limita-da disponibilização em pacotes comer-ciais; a sua aplicação maior ocorre nodesenvolvimento de aplicativos desoftware específicos - utilizando, paratanto, lingua~~ns tais como PROLOG eCommon USP.

• sistemas apoiados em redes neurais: es-tes sistemas são um desenvolvimento dainteligência artificial que tentam simu-lar o processo de aprendizado da mentehumana. Eles consistem de uma redeformada por diversos níveis e nós queprocessam a informação e 'acumulam'conhecimento, e são basicamente aplica-das a problemas que denotam uma so-lução adaptativa e reativa. As pesquisasquanto à aplicação no âmbito da progra-mação da produção são recentes e aindalimitam-se ao campo acadêmico.22

b) grau de interação com o usuário:

• sistemas abertos: a principal característi-ca destes sistemas reside na necessidadede interação com o usuário. A meto-dologia de resolução do problema daprogramação da produção é de conheci-mento do usuário e este pode definir asregras inerentes ao processo de tomadade decisão, bem como alterar as decisõesgeradas pelo sistema. Desta forma, a res-ponsabilidade pela decisão é do usuário,e o sistema funciona como uma ferra-menta de suporte, simulando o efeito dasdecisões tomadas pelo programador queaborda o problema tentando e errandoaté encontrar uma solução.

• sistemas fechados: nestes, a responsabi-lidade pela decisão é do próprio siste-ma. A interação com o usuário se resu-me à definição de alguns critérios, comopor exemplo, a localização dos gargalosou a ponderação de objetivos de desem-penho que o sistema deve buscar.

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22. Como exemplos de aplicaçãoveja PHILlPOOM, P.R., REES,L. P.e WIEGMANN, L. Using NeuralNetwor1<sto Determine Internally-Set Due-Date Assignments forShop Scheduling. DecisionScienses, v. 25, n.. 5/6, p. 825-851,1994; SIM, S. K., VEO, K. Ie LEE, W. H. An Expert NeuralNetwor1<System for Dynamic JobShop Scheduling. International

'----------------.,....-J I Journalof Production Research,~32,n.8, p. 1759-1773, 1994.

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TABELA 1.

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• segundo o suporte àsfunções do planeja-mento da produção

·segundo o grau deinteração com o usuá-rio

• segundo o método desolução do problema

• sistemas que executam o controle da pro-dução: permitem monitorar a realizaçãodo plano ou das ordens planejadas.

A classificação dos sistemas de progra-mação da produção com capacidade finita,proposta pelos autores, é apresentada re-sumidamente na tabela 1.

Algumas observações podem ser feitasa respeito desta classificação:

• os sistemas classificados como abertospermitem que o usuário tenha um do-mínio maior sobre a solução do proble-ma, o que envolve, por outro lado, anecesidade de um maior conhecimentosobre as regras de resolução do proble-ma da programação da produção. Assim,pode ser necessário um salto de patamarqualitativo em termos do profissionalque executa tal tarefa. Os sistemas fecha-dos, além de serem geralmente bastantemais caros, implicam que haja confiançatotal- ou fé - no algoritmo desenvolvidopelo fabricante, já que nem sempre in-formações suficientes são disponi-bilizadas pelos fornecedores;

• os sistemas mais difundidos atualmentesão os baseados em regras de liberação e

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- baseados em regras de liberação- matemáticos otimizantes- matemáticos heurísticos- sistemas especialistas puros- apoiados em redes neurais

- sistemas abertos- sistemas semi-abertos- sistemas fechados- sistemas semi-fechados

- plano mestre de produção- programação da produção- gestão dos materiais integrada à

capacidade- controle de produção

os matemáticos heurísticos. Estes, dadaa tecnologia embutida, são geralmentefechados e com soluções proprietárias;por outro lado, os sistemas baseados emregras de liberação, em função da relativasimplicidade de modelagem e da difusãodestas regras, são, em geral, abertos.

OS SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODU-çÃO COM CAPACIDADE FINITA DISPONíVEISNO BRASIL

Um recente trabalho de pesquisa reali-zado pelos autores identificou os principaissistemas de programação da produção comcapacidade finita comercialmente disponí-veis no Brasil, até a presente data. As in-formações foram coletadas a partir de en-trevistas com os fornecedores locais destesaplicativos. O resultados são apresentadosna tabela 2, bem como as característicasprincipais destes, basedas na classificaçãoproposta no item anterior.

As principais observações resultantesdeste trabalho foram:

• as informações apresentadas ilustramuma situação correspondente à data dapesquisa (final de 1995). Na realidade,em função da rapidez de desenvolvi-

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

mento com que esta área vem passando- na forma de lançamentos de novas ver-sões, novos produtos e até novos concei-tos -, estas informações merecem ser re-vistas com certa freqüência;

• o grau de maturidade e de sofisticaçãodestes sistemas variam consideravel-mente, bem como os respectivos preços(dentre os sistemas disponíveis comer-cialmente no Brasil, foram identificadosvalores que variaram de sete mil a ummilhão e meio de dólares). Em geral, ossistemas com soluções proprietárias fe-chadas são sensivelmente mais caros;

• uma grande parte destes sistemas encon-tra-se integrada à banco de dados -notadamente Informix, Oracle, Ingress eProgresso Em relação ao sistemaoperacional, geralmente os sistemas maissofisticados "rodam" em UNIX e os maissimples em DOS - o ambiente Windowsestá em fase de desenvolvimento e o sis-tema OS/2 é menos difundido. Por ou-tro lado, as interfaces entre os sistemasde programação com capacidade finitae os sistemas MRPII disponíveis no mer-cado encontram-se, ainda, em um está-gio inicial;

• nem todos os representantes brasileirosde sistemas fabricados no exterior domi-nam a tecnologia envolvida no sistemae, notadamente nos casos de sistemasfechados, sabem o que o sistema apre-senta por dentro. Neste caso, uma even-tual necessidade de customização pode-ria custar ao usuário tempo e recursosfinanceiros relativamente altos;

• nem todos os fornecedores e represen-tantes nacionais estão capacitados a darsuporte tanto na análise de adequaçãoda solução a potenciais clientes quantona própria implantação e apoio técnicoao uso dos aplicativos. Alguns deles dãoa impressão de terem pouco conhecimen-to a respeito daquilo que estão venden-do - em termos de implicações quantoàs necessidades estratégicas da empresae até mesmo a respeito das funcionali-dades dos respectivos sistemas -; outros,por outro lado, prometem melhorias quebeiram a 'panacéia', promessas que difi-cilmente poderão ser cumpridas.Atualmente, existe cerca de uma cente-

na destes sistemas disponíveis comercial-

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mente em nível mundial. Além dos apre-sentados na tabela 2, pode-se citar: OPT(Scheduling Technology Group - Inglater-ra), Resonance (Thru-Put Technologies),AFL 1300Leitstand (Krupp-Atlas EletronicGmbH), FLS-AIX Leitstand (IBM-Alema-nha), VPPS Leitstand (Infor GmbH), CMS(Manufacturing Management SystemsInc.), PSA (Stone & Webster ASDS Inc.),PROVISA (AT&T Istel), FACTEnSync (FactInc.), SHIVA(ShivaSoft Inc.), Job Time Plus(Job Time Systems Inc.), MS/X On Time eTS/X On Time (Tyecin Systems Inc.), TESS(Taylor Manufacturing Systems), AMAPS(D&B Software Advanced ManufacturingInternational), WATPASS (WaterlooEngineering Software), MPSwin(Bridgeware Inc.), DSP (Gensym), PST(Johnson Intelligent Systems), OPS (RedPepper Software Company), PROSPEX(Sira Industrial Systems) e MIT (StrategicBusiness Solutions Inc.).

Deve-se ainda considerar que existemtrabalhos que resultaram em sistemas pro-tótipos, acadêmicos ou em desenvolvimen-to, entre eles: OPAL (Toulouse), ISIS,OPIS,SONIA, CALLISTO (Digital EquipmentCompany), PATRIARCH, MERLE, LIProject (Dortmund), ProductionReservation System, Quick ResponsePlanner (Clemson) e LLISS (CornellUniversity). Com isso pode-se ter umaidéia da ebulição em que se encontra a áreade desenvolvimento de sistemas de progra-mação da produção com capacidade finita.

CONCLUSÕESA decisão sobre a implantação de um

sistema de programação da produção comcapacidade finita, considerando as impli-cações decorrentes, a dificuldade de rever-ter e o nível de investimento demandado,é uma decisão, por natureza, estratégica.Desta forma, é fundamental a adequaçãodo sistema às necessidades estratégicas -atuais e futuras - da empresa, a conside-ração dos níveis de investimento e esfor-ços organizacionais exigidos, bem comouma análise criteriosa dos sistemas dispo-níveis.

Quanto à consideração das necessidadesestratégicas, é importante ressaltar que: emprimeiro lugar, nem todos os sistemas pro-

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Grau de FunçõesInteração

AHP Alemanha regras dé liberação aberto - programação da produção- controle da produção

leítstand lOSProt. Alemanha regras de liberação aberto - programação da produçãoScheer - controle da prod

Siemens Alemanha regras de liberação aberto - programação da prÇ>duçáo

Leitstand - controle da produção

CIMula Inglaterra regras de liberação semi-aberto- programação da produção

tlonCentre

Canadá mdtéMátfcoheurístico fechado - programação do produção- gestão dos materiaisintegrada- controle de produção

Schedulex Numetrix Canadá matemático heurístico semi- - plano mestre de produçãofechado - programação da produção

Taylor Canadá regras de liberação aberto - programação da produçãoIndl. - controle da produção

regras de liberação aberto - programação da produção

Scheduler Monugislics EUA matem6tico semi- - plano mestre de produçãofechado

i2 Tech- EUA matemático heurístico semi- - plano mestre de produçãonologies fechado - programação da produção

- gestãodos materiaisintegradaThe Geal Goar EUA matemático heurístico fechado - programação da produção

Systems - gestãodós materiaisintegrada

Pristker EUA regras de liberação aberto - programação da produção- controle da produção

liberação aberto da produçãoregras de liberação semi- - programação da produção

1000 Eletrônica aberto

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SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

É importante reforçarque um sistema deprogramação daprodução comcapacidade finita nãodeve ser gerenciado demaneira isolada, ouseja, não integrado àsdemais dimensõestemporais doplanejamento, bemcomo às demaisfunções da empresa.

dutivos demandam urna solução desta na-tureza para a gestão da sua capacidade; emsegundo lugar, o escopo das decisões apoi-adas por estes sistemas varia - desta for-ma, cabe verificar se estas estão alinhadasàs decisões fundamentais à gestão do sis-tema de PPCP da empresa no que se refereà geração do plano mestre de produção, àprogramação da produção, à gestão dosmateriais integrada à capacidade e ao con-trole da produção; e, finalizando, é primor-dial verificar se o sistema escolhido com-porta as características particularesda empresa que são relevantes à decisãoapoiada.

Um importante fator de êxito, urna vezescolhido o sistema correto, é a meto-dologia de implantação. Esta deve consi-derar o envolvimento dos recursos huma-nos e o treinamento destes na etapas corre-tas das fases de implantação; estas etapas,por outro lado, devem ser gerenciadas den-tro do conceito de gestão de projetos.

Por outro lado, é também importanteavaliar o grau de capacitação e a posturaprofissional do fornecedor ou representan-te comercial. Cabe lembrar que, urna vezimplantado o sistema, pode-se criar urnadependência de seu fornecedor, tanto emrelação à assistência técnica quanto àtecnologia adquirida. Esta última é parti-cularmente importante nos sistemas queapresentam soluções proprietárias fecha-das, urna vez que o sistema assume urnaparcela de responsabilidade pela decisãodentro do sistema de PPCP.

É importante reforçar que um sistemade programação da produção com capaci-dade finita não deve ser gerenciado demaneira isolada, ou seja, não integrado àsdemais dimensões temporais do planeja-mento, bem corno às demais funções daempresa. Neste contexto, estes sistemaspodem assumir urna função de comple-mentação em relação aos sistemas do tipoMRPII, substituindo o módulo de controlede fabricação quando a complexidade dosistema produtivo demandar gestão de ca-pacidade finita.

Os sistemas de programação da produ-ção com capacidade finita estão apoiadosem informações - tanto quanto a modela-gem do sistema produtivo, quanto dosparâmetros para a tornada de decisões e da

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situação presente da fábrica. Isto significaque a qualidade da decisão resultante éparticularmente dependente da confia-bilidade, integridade e aderência destasinformações à realidade modelada.

Um fator importante diz respeito à com-plexidade do sistema produtivo. Pode-seutilizar o sistema de PPCP para buscar atin-gir um melhor desempenho de um siste-ma desnecessariamente complexo - porexemplo, em fábricas não focalizadas e emprocessos não-estáveis. Neste casopode seraconselhável diminuir a complexidadedeste antes da implantação de um sistemade programação da produção com capaci-dade finita.23 Tambémpode ser conveniente

24utilizar sistemas de PPCP híbridos - ouseja, sistemas com características particu-lares por linhas de produtos ou por 'mini-fábricas', por exemplo. Este caso implicaque um sistema de programação da pro-dução com capacidade finita não necessitaser necessariamente implantado na fábri-ca toda. Isto pode ser o caso de empresascom produção altamente repetitiva (paraa qual se decida utilizar MRPII ou príncí-pios JIT) com, por exemplo, ferramentariascomplexas (por ex.: fabricantes de eletro-domésticos). Neste caso, possivelmenteapenas a ferramentaria necessitaria de urnasolução de programação da produção comcapacidade finita. O

23. No caso de processos nãoestáveis, essa afirmação éreforçada por meio de um estudorealizado por MATSUURA, H.,TSUBONE, H. e KATAOKA, K.Comparison between Sim pieInfinite Loading and LoadingConsidering a Workload Statusunder Uncertainty in JobOperation Times. /nternationalJoumal ot.Produclion Economics,v. 40, p.45-55, 1995 que,comparando as técnicas deprogramação da produção comcapacidade infinita e finita,demonstrou claramente asuperioridade desta última; poréma vantagem da programação comcapacidade finita foi reduzidaquando aplicada em condiçõesem que os tempos de operaçãoreais apresentavam grandesvariações em relação aosprevistos. Ainda, MELNYK, S. A.,DENZLER,D. R. e FREDENDALL,L. Variance Control Vs.Dispatching Efficiency. Produc-tion and Inventory ManagementJournal, Third Quarter, 1992,comprovam que os objetivos dedesempenho do sistema de PPCPobtidos por simulação dediferentes regras de liberação sãofortemente afetados pelasvariabilidades do sistema pro-dutivo.

24. Para maiores detalhes sobresistemas de PPCP hfbridos vejaBHATTACHARYA, A. K. eCOLEMAN, J. L. LinkingManufacturing Strategy to theDesign of a Customized HybridProduction Control System.Computer /ntegrated Manu-facturing Systems, v. 7, n. 2, p.134-141,1994.

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