Peer Instruction

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  UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA O ensino de Física com a metodologia Peer Instruction: implementação, eficácia e materiais didáticos José Roberto de Toledo  Álvaro José Magalhães N eves (Orientador) Monografia apresentada ao Departamento de Física da Universidade Federal de Viçosa como parte das exigências para a conclusão da disciplina Monografia e Seminário (FIS 497). VIÇOSA  MINAS GERAIS  BRASIL DEZEMBRO DE 2014

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Monografia sobre o tema

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

    CENTRO DE CINCIAS EXATAS E TECNOLGICAS

    DEPARTAMENTO DE FSICA

    O ensino de Fsica com a metodologia Peer Instruction: implementao, eficcia e

    materiais didticos

    Jos Roberto de Toledo

    lvaro Jos Magalhes Neves (Orientador)

    Monografia apresentada ao Departamento

    de Fsica da Universidade Federal de Viosa

    como parte das exigncias para a concluso

    da disciplina Monografia e Seminrio (FIS

    497).

    VIOSA MINAS GERAIS BRASIL

    DEZEMBRO DE 2014

  • Sumrio

    Resumo ....................................................................................................................... 1

    Abstract ....................................................................................................................... 3

    I. Metodologias ativas de ensino .............................................................................. 4

    1.1 Introduo ...................................................................................................... 4

    1.2 Peer Instruction (PI) ....................................................................................... 8

    1.3 Clickers e cartes de resposta ..................................................................... 12

    II. Implementao do PI na Universidade Federal de Viosa ................................. 14

    III. Resultados e Discusso .................................................................................. 17

    3.1 Anlise dos perodos de 2011/2 a 2014/1 .................................................... 17

    3.2 Anlise conjunta dos perodos ..................................................................... 29

    IV. Anlise dos questionrios pr-aula .................................................................. 35

    V. Concluses ...................................................................................................... 40

    Apndice ................................................................................................................... 41

    A1. Testes Estatsticos de Hiptese ...................................................................... 41

    A2. Testes Conceituais .......................................................................................... 42

    Referncias Bibliogrficas ......................................................................................... 44

  • 1

    Resumo

    O presente trabalho trata da anlise e aplicao de uma metodologia ativa de

    ensino conhecida por Peer Instruction (PI). Este um mtodo instrucional centrado

    nos aspectos conceituais e se caracteriza por estimular a interao entre os alunos,

    fornecendo oportunidades para que aprendam um do outro e para que solidifiquem

    seu aprendizado, expressando verbalmente suas ideias. Alm disso, ele estimula que

    os alunos estudem os tpicos das aulas com antecedncia. Em classe, o aluno

    participa ativamente de seu aprendizado.

    Analisamos os efeitos desta metodologia aplicando-a no curso de FIS 202

    Fsica II da Universidade Federal de Viosa, mantendo como padro de comparao

    turmas da mesma disciplina, porm que fazem uso do ensino tradicional. Para

    comparar a eficcia destas metodologias, foram utilizadas as nota das provas de FIS

    202. importante ressaltar que todas as provas foram elaboradas e corrigidas em

    conjunto por todos os professores da disciplina.

    Outro fator analisado a influncia do uso de questionrios pr-aula no

    desempenho dos alunos PI. Estes questionrios abordaram o contedo que seria

    discutido na aula seguinte. O principal objetivo destes questionrios foi incentivar os

    alunos a manterem o seu estudo em dia. Os questionrios tambm auxiliaram o

    professor a identificar pontos importantes para serem discutidos em sala de aula.

    Alm de comparar o desempenho global de cada metodologia, estudamos a

    sua eficcia em grupo de alunos com diferentes nveis de preparo acadmico. Para

    essa compararao, separamos os alunos em trs grupos de acordo com a nota

    obtida no curso de FIS 201 Fsica I da mesma universidade. Esta disciplina pr-

    requisito para a FIS 202. Os grupos utilizados so os avanado (nota em FIS 201

    superior a 75% em FIS 201), intermedirio (nota entre 66% a 75%) e bsico (nota

    entre 60% e 65%).

    Nossas anlises indicaram que o PI, mesmo sem os questionrios pr-aula,

    eficaz para os alunos com alto preparo acadmico (nota de FIS 201 acima de 75%).

    Verificou-se que esse grupo teve um desempenho nas avaliaes consideravelmente

    mais elevado que o dos alunos com o mesmo preparo acadmico, mas que passaram

    pelo ensino tradicional. Por outro lado, observou-se que sem o uso de questionrios

    pr-aula, a maioria dos alunos (nota de FIS 201 abaixo de 75%) tem desempenho

  • 2

    estatisticamente igual, independente da metodologia utilizada. Entretanto, utilizando

    os questionrios pr-aula, o PI tornou-se mais eficaz que o ensino tradicional, para

    todos os grupos de alunos. Esse resultado destaca a importncia dos questionrios

    como instrumento para promover o estudo antes das aulas. Em suma, essa

    ferramenta foi crucial para que o mtodo PI fornecesse resultados superiores ao

    tradicional para a maioria dos nossos alunos.

  • 3

    Abstract

    The present work discusses the application of an active teaching method,

    known as Peer Instruction (PI). This instructional methodology is centered in the

    conceptual aspects and is characterized by encouraging the interaction among

    students, offering them an opportunity to learn from each other and to solidify their

    learning by expressing verbally their ideas. This methodology stimulates the students

    to the study for classes in advance. Furthermore in class they participate actively of

    the learning process.

    Here, we analyze the effects of this methodology applying it in the FIS 202

    Physics II course, of the Federal University of Viosa, keeping as standard of

    comparison, classes of the same subject that used the traditional method. To compare

    the effectiveness of these methodologies, we used the exam grades obtained in FIS

    202. It is important to point out that all exams were elaborated collectively and uniformly

    graded by all the instructors.

    Another factor analyzed was the influence of the pre-classes questionnaires in

    the development of the PI students. These questionnaires covered the material which

    would be discussed in the following class. The main purpose of these questionnaires

    was to make students keep their study on time. The questions also helped the

    instructor identify important point to discuss in class.

    Besides comparing the global effect of each teaching method, we studied their

    efficiency on students with different levels of academic skill. For this comparison, we

    divided the students in three groups according to their grade in the course FIS 201

    Fsica I, at the same university. This course is a prerequisite to FIS 202. The groups

    are advanced (grade in FIS 201 above 75%), intermediate (grade between 66%

    and 75%) and basic (grade between 60% and 65%).

    Our analysis revealed that PI without the pre-class questionnaires is effective

    for students with high academic preparation (FIS 201 grade above 75%). We observed

    that these students obtained grades considerably higher than those with equivalent

    skill, but that underwent traditional teaching. On the other hand, when we used the pre-

    class questionnaires, PI was more effective than traditional teaching for all skill groups.

    This result highlights the importance of the questionnaires, as a tool for enhancing

    preparation for class. In summary, the pre class questionnaires were vital to obtain with

    PI learning results better than those obtained with traditional teaching.

  • 4

    I. Metodologias ativas de ensino

    1.1 Introduo

    Chamamos de mtodo tradicional de ensino aquele onde as aulas so

    caracterizadas por exposies faladas, dirigidas pelo professor, em que a participao

    dos alunos essencialmente a de um ouvinte passivo que, supostamente, utiliza o

    tempo fora da sala de aula para aprofundar e praticar os contedos discutidos.

    Esta metodologia de ensino tem gerado problemas no aprendizado dos alunos,

    como por exemplo, a incapacidade destes de associarem os contedos estudados em

    sala de aula com os fenmenos fsicos que ocorrem em seu dia a dia [1].

    A utilizao deste mtodo data da Idade Mdia, onde os professores se viam

    obrigados a exporem os contedos de suas aulas por meio de monlogos, uma vez

    que os livros eram de difcil acesso s grandes massas, fazendo do professor a nica

    fonte de informao para o aluno [2].

    Mesmo com a moderna acessibilidade materiais didticos, o ensino sofreu

    pouqussimas mudanas. A maioria dos professores continua lecionando

    predominantemente por meio de monlogos e as consequncias para o aprendizado

    do aluno permaneceram praticamente inalteradas. De fato, mesmo na rea de Fsica,

    menos da metade dos professores americanos utiliza em sala de aula qualquer

    mtodo de ensino baseado em pesquisa cientfica [3].

    Em linha com o que descrito na literatura [4], nossa prpria vivncia em

    instituies de ensino, indica-nos alguns efeitos desta forma de ensino:

    O aluno tende a concentrar-se na memorizao de contedos;

    Cultivar no aluno a preocupao apenas com notas, ao invs de

    aprendizado;

    Separar um contedo em pacotes isolados, ignorando que a relao entre

    estes que, de fato, configura o entendimento e aproveitamento de um

    contedo.

    Acreditamos que um ponto central nos problemas observados no mtodo

    tradicional seja a nfase, por parte do aluno, na memorizao de contedos. Isso

    concretamente ilustrado em [4]. Nesse estudo foi feito o levantamento do desempenho

  • 5

    dos alunos em duas questes escritas abordando o mesmo conceito fsico. Uma delas

    bastante incomum, inclusive na sua natureza conceitual. A segunda problema

    quantitativo tpico dos livros-texto. As questes discutidas em [4], so apresentadas a

    seguir:

    1) Um circuito em srie consiste de trs lmpadas idnticas conectadas em

    uma bateria como mostrado na figura. Quando a chave S fechada,

    responda se cada grandeza apresentada nas situaes a seguir aumenta,

    diminuiu ou permanece constante.

    Figura 1.1: Esquema de um circuito em srie constitudo de trs lmpadas. Extrada de [4].

    a) A intensidade nas lmpadas A e B

    b) A intensidade na lmpada C

    c) A corrente fornecida pela bateria

    d) A voltagem em cada lmpada

    e) A potncia dissipada no circuito

    2) Para o circuito abaixo, calcule (a) a corrente no resistor de 2 e (b) a

    diferena de potencial entre os pontos P e Q.

    Figura 1.2: Esquema do circuito cobrado na questo 2. Extrada de [4].

  • 6

    A questo 1 puramente conceitual e exige conhecimentos bsicos de circuitos

    simples. A segunda questo envolve os mesmos conceitos da primeira, alm do uso

    das leis de Kirchhoff para o clculo das grandezas pedidas.

    Esperava-se que os alunos tivessem mais facilidade na resoluo da primeira

    questo por se tratar apenas da aplicao de conceitos simples, entretanto os

    resultados obtidos (figura 1.3) mostraram o contrrio: os alunos conseguem resolver

    questes quantitativas por meio da memorizao de algoritmos sem compreender os

    fenmenos fsicos por trs de seus clculos.

    Figura 1.3: Pontuao nas questes apresentadas acima. Para o problema conceitual cada parte da questo foi

    avaliada em dois pontos. Extrada de [4].

    Estudou-se se havia alguma correlao entre a nota nas questes conceitual e

    convencional respondidas pelos estudantes. Os resultados obtidos (figura 1.3)

    indicaram que no h correlao das notas.

    Figura 1.4: Correlao entre as questes conceitual e convencional aplicadas em 1991. O raio de cada crculo

    indica o nmero de alunos representados por este ponto. Extrada de [4].

  • 7

    Caso as notas das questes fossem correlacionadas, estas seriam

    aproximadamente iguais e estariam na regio cinza na figura 1.4, entretanto verificou-

    se que 48% dos alunos estavam fora dessa regio [4]. A regio na figura 1.4

    compreende metade da rea total do grfico, se houvesse um nmero elevado de

    alunos dentro dessa regio poderamos afirmar que h correlao entre as notas das

    questes.

    Este resultado indica um problema grave que ocorre no ensino de Fsica: a

    incapacidade dos alunos de associarem fenmenos fsicos com as suas respectivas

    descries matemticas.

    Estas mesmas questes foram aplicadas no ano 1995 com uma diferena: a

    metodologia de ensino empregada foi diferente da tradicional, conhecida por Peer

    Instruction (PI), sendo esta a principal representante das metodologias ativas de

    ensino [3]. O estudo da correlao das notas exibido a seguir:

    Figura 1.5: Correlao entre as questes conceitual e convencional aplicadas em 1995, desta vez utilizando o PI

    como metodologia de ensino. O raio de cada crculo indica o nmero de alunos representados por este ponto.

    Extrada de [4].

    Observa-se uma melhora no desempenho dos alunos na questo conceitual,

    sugerindo que eles passaram a compreender melhor os conceitos fsicos envolvidos

    nas questes, no ficando presos na memorizao de algoritmos para resoluo de

    problemas.

    Este resultado superior obtido com o PI est em acordo com o estudo mais

    abrangente de Hake [5]. De fato, neste trabalho, Hake discute os resultados obtidos

    com os seus estudos sobre a evoluo do desempenho de seis mil alunos de diversos

    nveis e metodologias de ensino e de mais de 60 cursos, atravs da comparao das

    notas que obtiveram em um conjunto de questes sobre mecnica Newtoniana,

  • 8

    aplicadas no incio e no trmino de seus cursos. Verificou-se que os alunos das

    metodologias ativas de ensino obtiveram maior ganho em termos de aprendizado

    (ganho de Hake) se comparados com os alunos do ensino tradicional.

    1.2 Peer Instruction (PI)

    Esta metodologia foi criada pelo fsico Eric Mazur no incio da dcada de 90 e

    sua primeira aplicao se deu em uma turma de fsica bsica da Universidade de

    Harvard e na Faculdade John Abbott (uma universidade de menor porte) [6].

    Mazur relata em [2] que enxergou a necessidade de modificar sua forma de

    ensinar Fsica, pois a metodologia que ele utilizava anteriormente (ensino tradicional)

    era ineficaz para os alunos. Ele relata que as avaliaes de final de semestre que os

    alunos faziam da disciplina por ele ministrada sempre vinham com reclamaes do

    tipo: palestras lineares baseadas em notas de aula. Entretanto ele ignorou essas

    dicas da ineficincia da sua forma de ensino por alguns anos.

    O evento responsvel por fazer Mazur buscar novas formas de ensino foi

    durante um teste que envolvia uma questo conceitual, um aluno ter questionado se

    ele deveria responder a questo baseado no que foi ensinado em sala de aula ou no

    que ele pensa usualmente sobre o assunto. Isto deixou claro para Mazur que sua

    forma de ensino no trazia os contedos da sala de aula para o dia a dia do aluno.

    A soluo encontrada por Mazur foi desenvolver uma metodologia de ensino

    na qual o aluno aprimora seus conhecimentos na sala de aula, ao invs de apenas

    ser apresentado a novos contedos e que traga tona diferentes vises de um

    assunto por parte dos alunos por meio de discusses entre os mesmos. Tal

    metodologia recebeu o nome de Peer Instruction (PI), que em traduo livre pode ser

    interpretada como Instruo pelos Colegas.

    O PI consiste basicamente na discusso em grupo por parte dos alunos,

    referente testes conceituais que o professor aplica durante a aula. Um destaque da

    metodologia que o estudo comea antes da aula, ou seja, os alunos devem ir

    previamente estudados para aula, de forma a tirar o maior proveito possvel desta.

    Como dito acima, as discusses em grupo so fomentadas por testes

    conceituais aplicados ao longo da aula, que consistem de questes de mltipla

    escolha envolvendo os tpicos mais importantes do material previamente estudado

  • 9

    pelos estudantes. A dinmica do PI pode ser resumida de acordo com o fluxograma

    apresentado na Figura 1.6 que obedece aos seguintes passos:

    1. Breve exposio: o professor explica um tpico ou parte deste em 8 ou 10

    minutos;

    2. Aplicao do teste conceitual: aps a exposio do tpico, o professor

    apresenta aos alunos um teste composto de uma questo conceitual de

    mltipla escolha e estes tm de 2 a 3 minutos para resolv-la individualmente;

    3. Avaliao da porcentagem de acertos: a porcentagem de acertos do teste

    que define o andamento da aula. Temos trs situaes a serem consideradas:

    a. Mais de 70% de acerto: o professor apresenta e discute a resposta

    correta do teste conceitual e em seguida inicia uma nova exposio;

    b. Acertos entre 30% e 70%: nesta etapa que o nome do mtodo

    justificado, o teste aplicado novamente, porm agora os alunos se

    juntam em pequenos grupos e discutem a questo proposta. Aps os

    alunos responderem, o professor apresenta e discute a alternativa

    correta e em seguida inicia a exposio de um novo tpico;

    c. Acertos inferiores a 30%: o professor explica novamente o tpico e

    aplica o mesmo teste, os alunos o respondem individualmente e avalia-

    se novamente a taxa de acerto.

    Figura 1.6: Etapas na aplicao do Peer Instruction. Adaptada de [6].

  • 10

    A primeira vista, somos levados a crer que o professor se isenta da

    responsabilidade de explicar os tpicos marcados para a aula, tornando-se um mero

    aplicador de testes deixando que os alunos aprendam por si mesmos, mas a sua

    principal mudana realocar professor e alunos: o professor sai do centro do palco e

    o estudante assume um papel ativo, organizando e assimilando ideias, realimentando

    os colegas e o professor, ao longo do processo de aprendizagem.

    Algumas caractersticas positivas do PI so de fcil visualizao; em primeiro

    lugar, pelo fato do aluno ter que estudar o contedo previamente, este desenvolve sua

    independncia intelectual. Alm disso, o aluno passa a trabalhar mais em equipe, uma

    vez que diversas discusses em grupo surgiro ao longo da aula. Em segundo lugar,

    o professor possui um retorno instantneo do nvel de compreenso dos alunos, pois

    quando a maioria destes erra o teste conceitual, o professor tem a chance de explicar

    novamente o tpico, porm de forma mais clara. O aluno adquire a oportunidade de

    avaliar a eficcia do seu estudo, uma vez que os testes conceituais so discutidos em

    sala de aula.

    Os resultados obtidos por Mazur confirmam a maior eficcia do PI se

    comparado com o ensino tradicional, tanto em outras reas e nveis de ensino [6,7].

    Nas duas instituies em que o PI foi aplicado originalmente, as turmas que o

    utilizavam obtiveram melhores ndices de evoluo ao longo do curso e menores

    ndices de abandono do que as turmas de ensino tradicional [6].

    Para sua experincia realizada na Universidade de Harvard e na Faculdade

    John Abbott [6], Mazur inicialmente aplicou um teste para as duas turmas (PI e

    tradicional) das duas instituies, de forma a medir o nvel de conhecimento que os

    alunos possuam referente ao contedo da disciplina que cursavam antes de iniciaram

    as aulas. Ao final da disciplina o mesmo teste foi aplicado, para agora medir o tanto

    que os alunos evoluram em relao a primeira vez que fizeram o teste. Tal evoluo

    mensurada pelo Ganho Normalizado de Hake [5], dado pela expresso:

    Equao 1.1

    = 100

    Na qual Sps a nota do teste aps o trmino do curso e Spr a nota do teste antes

    do incio do curso. Os resultados obtidos por Mazur so exibidos na tabela a seguir:

  • 11

    N G

    Faculdade John Abbott

    PI 69 42,6 68,6 0,50

    Tradicional 22 46,0 63,3 0,33

    Diferena -3,4 5,3 0,17

    Universidade de Harvard

    PI 187 70,9 85,0 0,49

    Tradicional 124 (70,4) 77,4 0,23

    Diferena - 7,5 0,26

    Tabela 1.1: Resultados obtidos por Mazur em sua aplicao pioneira do PI, N representa o nmero de alunos

    das turmas. Adaptada de [6].

    Em ambas as instituies, notamos a vitria do PI sobre o ensino tradicional.

    Na Faculdade John Abbott, observamos que os alunos do ensino tradicional se saram

    melhores no primeiro teste, mas os alunos do PI evoluram muito mais ao longo do

    curso, fato este indicado pelo maior valor de g. Na Universidade de Harvard os dois

    grupos de alunos iniciaram empatados, mas novamente a turma PI se sobressaiu no

    final do curso, apresentando maior evoluo.

    O PI tambm foi mais eficiente para manter a permanncia dos alunos no curso,

    o que vai de acordo com o resultado anterior, primeiro porque a aula se torna mais til

    para os alunos, pois estes vo para ela para aperfeioar aquilo que aprenderam com

    seus estudos prvios e no para assistir um monlogo que muitas das vezes no

    til e segundo, como os alunos obtiveram uma maior evoluo ao longo do curso,

    suas chances de aprovao se tornaram altas o que os motivou a continuar

    participando do mtodo. As porcentagens de abandono nas duas instituies so

    exibidas na figura a seguir:

  • 12

    Figura 1.7: ndice de abandono nas duas instituies em que o PI foi aplicado primeiramente. Extrada de [6].

    1.3 Clickers e cartes de resposta

    Uma forma de coletar as respostas dos testes conceituais fazendo o uso de

    um clicker (Figura 1.8 (a)), que um aparelho eletrnico no qual os alunos marcam

    suas respostas e estas so enviadas para uma central que se encontra no

    computador do professor. A central processa essas respostas e logo em seguida

    disponibiliza a taxa de acerto e erro de cada questo.

    Entretanto, existem diversas alternativas ao uso dos clicker, uma delas fazer

    o uso de cartes de resposta (Figura 1.8 (b)). No momento em que os alunos forem

    responder ao teste conceitual, eles exibem um carto contendo a alternativa que

    julgam certa e o professor faz a contagem manual do nmero de acertos e erros.

    Apesar da praticidade dos clickers e da agilidade com que eles fornecem as

    taxas de acerto e erro durante a aula, eles no influenciam na aprendizagem dos

    alunos [8]. O uso dos cartes de resposta possui baixo custo e fcil reposio (basta

    confeccionar um novo), sendo adequados para pequenas instituies de ensino, como

    as escolas pblicas brasileiras.

  • 13

    Figura 1.8: (a) Clicker em uso, observa-se 5 botes correspondentes s alternativas do teste conceitual. (b) Uso

    dos cartes de resposta, os alunos exibem o carto com a alternativa que escolheram. Imagens extradas do

    domnio pblico.

  • 14

    II. Implementao do PI na Universidade Federal de

    Viosa

    A primeira aplicao do PI na Universidade Federal de Viosa ocorreu no ano de

    2011 durante o segundo semestre, na disciplina FIS 202 Fsica II que aborda os

    assuntos referentes mecnica dos fluidos, ondas mecnicas, ptica e

    termodinmica, utilizando como livro texto duas obras: Fundamentos de Fsica,

    volumes 2 e 4, 9a e 4a edio respectivamente, dos autores Halliday, Resnick e

    Walker.

    A disciplina FIS 202 oferecida para a maior parte dos cursos de cincias exatas

    (engenharias, fsica, qumica e matemtica) da Universidade Federal de Viosa e foi

    lecionada utilizando duas metodologias de ensino: PI e ensino tradicional. O PI foi

    utilizado em todas as aulas do curso nas turmas em que foi adotado, alm dos alunos

    terem a sua disposio clickers para que respondessem os testes conceituais.

    Encontra-se no apndice A2 deste trabalho, alguns exemplos de testes conceituais

    usados nas turmas PI de FIS 202.

    O sistema de avaliao das duas metodologias praticamente o mesmo,

    diferenciando-se apenas em uma parcela da nota final. Grande parte da nota

    distribuda em trs provas, no valor de 28 pontos cada, que so aplicadas para todos

    os alunos do curso. Estas provas so elaboradas e corrigidas por todos os professores

    da disciplina, fazendo com que todos os alunos sejam submetidos ao mesmo critrio

    de correo. As trs provas totalizam 84% da nota total do curso, os 16% restantes

    que se diferenciam em como so distribudos nas turmas PI e tradicional.

    Nas turmas de ensino tradicional, esses 16% restantes so distribudos em 3

    testes ou mini provas no valor de 5, 5 e 6 pontos. Estes testes so constitudos

    basicamente de uma questo que deve ser resolvida rapidamente (em torno de 30

    minutos), sempre sendo aplicados antes das provas principais. Cada professor

    elabora e corrige os testes de sua turma.

    Nas turmas PI os 16% restantes da nota final so distribudos entre os testes

    conceituais, quizzes e questionrios pr-aula (esses dois ltimos discutidos abaixo).

    Cada uma destas atividades so valoradas em um tero dos 16 pontos. Conforme

    ser discutido a seguir, em alguns perodos os questionrios pr-aula no foram

    utilizados. Nesta situao, 16% da nota so distribudos apenas entre os quizzes e os

    testes conceituais, cada um compreendendo 8 pontos.

  • 15

    Os quizzes so constitudos de duas questes que sempre so aplicadas no incio

    de cada aula PI com o objetivo de verificar se os alunos esto estudando previamente,

    ou seja, so questes cujo tema j foi estudado e so aplicados antes que o professor

    inicie sua aula.

    A partir do perodo de 2012/1, foi implementado o uso de questionrios pr-aula

    apenas nas turmas PI, com o intuito de manter o estudo prvio dos alunos em dia [9].

    Estes questionrios possuem trs questes: duas referentes ao contedo

    estudado e uma cujo objetivo saber qual assunto o aluno teve mais dificuldade de

    entender e qual foi a sua dificuldade, esta ltima sempre se repetindo.

    A utilidade dos questionrios no apenas para manter o estudo dos alunos em

    dia, mas tambm so utilizados para ajudar na preparao da aula referente a eles.

    Como os alunos devem entregar o questionrio antes da aula, com base nas suas

    respostas possvel extrair pontos de maior dvida, conceitos entendidos

    erroneamente, linhas de raciocnio e as dvidas gerais dos alunos.

    A correo destes questionrios segue um padro diferente, o aluno no precisa

    respond-lo corretamente para conseguir os pontos, basta que ele mostre que

    estudou o contedo [9]. Questes respondidas de forma equivocada, mas que exibam

    uma linha de raciocnio que possua embasamento fsico, mostram que o aluno

    estudou o contedo e, portanto recebe nota integral nas questes.

    Neste trabalho analisamos o desempenho nas provas dos alunos de FIS 202 nos

    perodos de 2011/2 a 2014/1 em cada metodologia de ensino. Na tabela a seguir

    apresentamos, por perodo, o nmero de alunos em cada metodologia e se houve uso

    dos questionrios pr-aula.

  • 16

    Perodo Nmero alunos

    do PI

    Nmero de alunos do ensino

    tradicional

    Uso de questionrios

    pr-aula

    2011/2 111 268 No

    2012/1 201 89 Sim

    2012/2 190 121 Sim

    2013/1 154 127 Sim

    2013/2 178 248 No

    2014/1 228 129 Sim

    Tabela 2.1: Informaes referentes ao nmero de alunos e ao uso dos questionrios pr-aula dos perodos de

    2011/2 a 2014/1.

  • 17

    III. Resultados e Discusso

    Este captulo trata da anlise e discusso dos resultados obtidos com a

    implementao do PI na Universidade Federal de Viosa. Como a instituio faz uso

    de perodos letivos (dois por ano), apresentamos os resultados obtidos em cada

    perodo para no final analisarmos todos os resultados coletados sob uma nica ptica.

    3.1 Anlise dos perodos de 2011/2 a 2014/1

    Devido ao grande nmero de turmas de FIS 202, em torno de 6 a 8 turmas, como

    forma de anlise do desempenho dos alunos nesta disciplina, estes foram divididos

    em dois grupos de acordo com a metodologia de ensino a qual foram submetidos: PI

    e ensino tradicional.

    Dentro dos grupos dedicados cada metodologia, efetuamos uma subdiviso

    destes de acordo com o desempenho dos alunos na disciplina FIS 201 Fsica I, que

    pr-requisito de FIS 202 e aborda os assuntos referentes mecnica clssica. As

    subdivises foram feitas por meio de trs grupos:

    Grupo 1: desempenho em FIS 201 entre 60% e 65%;

    Grupo 2: desempenho em FIS 201 entre 66% e 75%;

    Grupo 3: desempenho em FIS 201 entre 76% e 100%.

    Com os grupos definidos, calculamos a nota mdia em FIS 202 de todos os alunos

    em cada grupo e a comparamos dentro de cada metodologia.

    Vale ressaltar que a nota considerada em FIS 202 foi apenas as das provas e a

    nota de FIS 201 foi a total, uma vez que na FIS 202 uma porcentagem da nota total

    nas turmas PI distribuda de forma diferente em comparao com as turmas de

    ensino tradicional, enquanto que as provas so elaboradas e corrigidas em conjunto

    por todos os professores da disciplina.

    Para ilustrar essa forma de anlise dos dados, a seguir apresentamos os

    resultados obtidos referentes ao perodo de 2011/2.

  • 18

    Figura 3.1: Resultados obtidos durante o perodo de 2011/2. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Observando a figura 3.1 notamos que para o grupo 1 o uso do PI no se mostrou

    mais eficiente que o ensino tradicional, uma vez que a nota mdia de FIS 202 foi

    basicamente a mesma em cada metodologia. Para o grupo 2 o PI se mostrou menos

    eficiente que o ensino tradicional, pois os alunos desta metodologia apresentaram um

    desempenho ligeiramente inferior aos alunos do ensino tradicional.

    Relativo ao grupo 3, notamos uma vantagem do PI sobre o ensino tradicional. Isto

    indica que a adoo do PI para alunos mais preparados no os prejudica, pelo

    contrrio, o PI foi benfico para eles.

    Podemos especular que o bom preparo desses alunos um indicativo de que estes

    sempre mantem o seu estudo em dia, no dependendo exclusivamente do professor

    para aprender um dado assunto. Com isso eles aproveitam o ambiente em sala de

    aula fornecido pelo PI para aprimorar o seu estudo, resultando em uma melhora do

    seu desempenho se comparado aos alunos do ensino tradicional do mesmo grupo.

    Uma segunda forma anlise foi empregada para compararmos os efeitos de cada

    metodologia no aprendizado dos alunos, esta voltada para os resultados globais

    alcanados por cada metodologia. Novamente comparamos o desempenho dos

  • 19

    alunos em FIS 202 com base em seu desempenho em FIS 201, porm desta vez sem

    a separao em subgrupos conforme discutido anteriormente.

    Para verificar a eficincia de cada metodologia nesta segunda anlise, realizamos

    uma regresso linear nos dados levantados de cada metodologia e voltamos nossa

    ateno para o comportamento da reta obtida em cada regresso: a reta que estiver

    acima da outra indica que a metodologia que ela representa foi a mais eficiente,

    enquanto que a sua inclinao mostra se essa melhor eficincia ocorre para todos os

    alunos (inclinao positiva) ou se a metodologia perde eficincia medida que

    avanamos no intervalo das notas de FIS 201 (inclinao negativa).

    Na figura a seguir ilustrada essa forma de anlise para os dados referentes ao

    perodo de 2011/2.

    Figura 3.2: Resultados referentes ao perodo de 2011/2. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202 e

    N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos dados

    PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    Por meio desta forma de anlise vemos que o uso do PI ou do ensino tradicional

    foi irrelevante no perodo de 2011/2, uma vez que as retas do ajuste linear de cada

    metodologia esto praticamente sobrepostas. A primeira vista pode-se pensar que

    este resultado contradiz a anlise por grupos, pois esta indicou que o PI foi eficiente

    em um dos grupos, mas deve-se levar em conta que o nmero de alunos que

    constituem o grupo 3 extremamente reduzido se comparado ao nmero de alunos

  • 20

    que constituem os grupos 1 e 2. Para a anlise global um pequeno grupo de alunos

    que esteja disperso (notas de FIS 202 variadas) dentro de uma regio de notas de

    FIS 201 no possui fora o suficiente para modificar drasticamente o resultado final

    da anlise.

    Para o perodo seguinte (2012/1), os dados obtidos so apresentados a seguir.

    Figura 3.3: Resultados obtidos durante o perodo de 2012/1. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Ao contrrio do perodo anterior, nota-se que o PI se sobressai ao ensino

    tradicional em todos os grupos de preparo acadmico. O ponto de destaque desse

    perodo foi a utilizao dos questionrios pr-aula, que se mostraram como boas

    ferramentas para o uso conjunto com o PI, uma vez que os grupos PI obtiveram uma

    boa vantagem em comparao aos grupos de ensino tradicional.

    O grande mrito do uso do PI com os questionrios pr-aula foi trazer uma

    melhora no desempenho mdio em FIS 202 dos grupos 1 e 2 pois, em primeiro lugar,

    estes so os grupos mais populosos, a grande maioria dos alunos de FIS 202

    pertencem a estes grupos e em segundo lugar so os grupos de alunos com menor

    preparo acadmico.

  • 21

    Os dados referentes anlise global do perodo de 2012/1 so apresentados a

    seguir.

    Figura 3.4: Resultados referentes ao perodo de 2012/1. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202 e

    N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos dados

    PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    Nota-se uma clara distino das retas oriundas dos ajustes lineares feitos em

    cada grupo de dados (PI e tradicional), estando a que representa o PI acima da que

    representa o ensino tradicional, ou seja, o PI supera o ensino tradicional em todos os

    intervalos de nota de FIS 201. Alm disso, ambas as retas possuem inclinao

    positiva, mostrando que as duas metodologias, em particular o PI devido a elevada

    inclinao de sua reta, se tornaram mais eficientes medida que pegamos alunos

    com melhor preparo acadmico.

    Para o perodo de 2012/2, obtemos os seguintes resultados:

  • 22

    Figura 3.5: Resultados obtidos durante o perodo de 2012/2. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Neste perodo os questionrios pr-aula foram utilizados e verificamos uma

    vantagem do PI nos grupos 1 e 2. Entretanto no grupo 3 o ensino tradicional se

    mostrou mais eficaz, contraindo o padro observado nos perodos anteriores.

    Deve-se ressaltar que o grupo 3 constitudo por poucos alunos, fazendo com

    que um nmero pequeno de notas de prova excepcionais em FIS 202 tenha

    capacidade de alterar significativamente a mdia final do grupo. Ainda assim, em

    linhas gerais, podemos apontar que o PI obteve sucesso sobre o ensino tradicional,

    uma vez que ele foi benfico para a grande maioria dos alunos (grupos 1 e 2).

    A seguir apresentamos os dados globais do perodo em questo.

  • 23

    Figura 3.6: Resultados referentes ao perodo de 2012/2. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202 e

    N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos dados

    PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    Aqui vemos uma leve vantagem do PI sobre o ensino tradicional, isto nos

    mostra que basear nossos estudos apenas em uma forma de anlise pode nos levar

    a tirar concluses equivocadas.

    O cerne da anlise global gira em torno da comparao entre as posies

    relativas das retas do ajuste linear (uma estar acima da outra). Se tivermos poucos

    alunos de uma metodologia com uma nota alta tanto em FIS 201 quanto em FIS 202,

    este pequeno grupo capaz de influenciar a inclinao da reta do ajuste linear dando

    a impresso que uma metodologia se sobressai a outra.

    Em relao ao semestre seguinte (2013/1), observamos os seguintes dados:

  • 24

    Figura 3.7: Resultados obtidos durante o perodo de 2013/1. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Verifica-se que o PI se sobressai ao ensino tradicional em todos os grupos,

    destacando-se nos grupos 2 e 3. A melhora de desempenho que o PI causou aos

    alunos do grupo 2 um indicativo do sucesso em geral desta metodologia ao longo

    do perodo, uma vez que o grupo 2 constitudo de um grande nmero de alunos.

    Os resultados globais so exibidos a seguir:

  • 25

    Figura 3.8: Resultados referentes ao perodo de 2013/1. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202 e

    N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos dados

    PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    Desta vez observamos uma conciliao entre as concluses tiradas das duas

    formas de anlise: vemos na anlise global uma grande vantagem do PI, indicado pela

    posio superior da sua reta representativa em relao reta do ensino tradicional.

    Verifica-se tambm que ambas as retas possuem inclinao positiva, sendo o

    indicativo de que ambas as metodologias se tornam mais eficientes quanto mais

    preparados os alunos so.

    Referente ao perodo de 2013/2, devemos salientar que os questionrios

    pr-aula no foram usados. Os resultados obtidos so exibidos a seguir:

  • 26

    Figura 3.9: Resultados obtidos durante o perodo de 2013/2. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Aqui vemos a necessidade do questionrio pr-aula para os grupos 1 e 2: o PI

    no se sobressai ao ensino tradicional nestes grupos, inclusive sendo pior para o

    grupo 1, onde o ensino tradicional foi ligeiramente mais eficaz para os alunos.

    Para o grupo 3 tirarmos as mesmas concluses apresentadas na anlise de

    2011/2: estes so alunos que por j possurem um bom preparo acadmico

    aproveitam o ambiente em sala de aula construdo pelo PI para aprimorar aquilo que

    eles j estudaram, fato este refletido no melhor desempenho destes alunos em

    comparao com os do mesmo grupo, porm do ensino tradicional.

    Os resultados globais so exibidos a seguir:

  • 27

    Figura 3.10: Resultados referentes ao perodo de 2013/2. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202

    e N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos

    dados PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    O primeiro ponto a ser destacado a reta dos dados PI estar abaixo da reta

    dos dados do ensino tradicional para os alunos com nota de FIS 201 prximas a 60%,

    indicando que o PI foi pior que o ensino tradicional para estes alunos. Isto est de

    acordo com as observaes feitas na anlise por grupos, onde os alunos PI do grupo

    1 foram piores que os alunos do ensino tradicional do mesmo grupo.

    Para maiores notas de FIS 201, observamos a troca de posies das retas: a

    do PI passa a ficar acima da que representa o ensino tradicional. Para os alunos com

    notas de FIS 201 superiores a 76% esta superioridade da reta PI est de acordo com

    a anlise por grupos, mas para a regio entre 65% e 76% os resultados

    aparentemente conflitam com aqueles observados na anlise por grupos, pois vemos

    uma leve vantagem do PI que no indicada pela anlise por grupos.

    Estas ambiguidades encontradas reforam a necessidade de apoiar nosso

    estudo em diferentes pticas, para que evitemos que concluses equivocadas sejam

    tiradas.

    Por fim, os dados referentes ao perodo de 2014/1 so apresentados a seguir:

  • 28

    Figura 3.11: Resultados obtidos durante o perodo de 2014/1. Na figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202

    considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados

    pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em cada grupo e

    os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Neste perodo os questionrios pr-aula foram novamente utilizados, refletindo

    o sobressalto do PI sobre o ensino tradicional em todos os grupos de preparo

    acadmico.

    O retorno do melhor desempenho do PI um indcio de que os questionrios

    pr-aula so fundamentais para o sucesso do PI, pois com o seu uso a grande massa

    de alunos (grupos 1 e 2) beneficia-se melhorando o seu desempenho nas provas.

    Quanto aos dados globais, estes so exibidos a seguir:

  • 29

    Figura 3.12: Resultados referentes ao perodo de 2013/2. Na figura N202* refere-se nota de prova em FIS 202

    e N201 nota total de FIS 201 obtida pelos alunos. A equao de reta em azul indica a regresso linear dos

    dados PI e em vermelho a regresso linear dos dados do ensino tradicional.

    Estes resultados coincidem com os observados na anlise por grupos. O PI se

    sobressai ao ensino tradicional em todas as faixas de notas de FIS 201, pois sua reta

    representativa est acima da que representa o ensino tradicional em todas as faixas

    de nota.

    Um resultado positivo de ambas as metodologias a inclinao de suas retas

    representativas ser sempre positiva, indicando que as metodologias se tornam mais

    eficientes quando as aplicamos em alunos com preparo acadmico cada vez melhor.

    Deve-se destacar tambm que este comportamento se repete em todos os perodos

    analisados.

    3.2 Anlise conjunta dos perodos

    Com os resultados apresentados na seo anterior, observou-se que nos perodos

    em que os questionrios pr-aula so utilizados o PI se sobressai ao ensino tradicional

    e quando no so utilizados, o PI somente se destaca para os alunos com maior

    preparo acadmico.

  • 30

    Para confirmarmos as concluses acima e termos uma ideia mais precisa do quo

    eficiente o PI sobre o ensino tradicional, faremos trs novas anlises

    esquematizadas a seguir:

    Uma envolvendo todos os perodos, por meio da anlise por grupos;

    Uma envolvendo todos os perodos em que os questionrios pr-aula foram

    utilizados, por meio da anlise por grupos;

    Uma envolvendo todos os perodos em que os questionrios pr-aula no

    foram utilizados, tambm utilizando a anlise por grupos.

    A anlise por grupos foi escolhida, pois ela nos fornece uma viso mais clara

    do efeito de cada metodologia nos trs grupos de preparo acadmico.

    Iniciemos apresentando os resultados referentes todos os perodos em que o

    PI foi aplicado juntamente com o ensino tradicional, exibido a seguir:

    Figura 3.13: Resultados obtidos durante os perodos de 2011/2 a 2014/1. Na figura N202* refere-se nota mdia

    de FIS 202 considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3 referem-se a qual grupo de notas de FIS

    201 os dados pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas representam a quantidade de alunos em

    cada grupo e os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202 obtidas em cada grupo.

    Observa-se que o PI se sobressai ao ensino tradicional em todos os grupos de

    preparo acadmico, indicando que na mdia o PI a metodologia de ensino mais

  • 31

    eficiente. Para certificar que esta concluso possui significado estatstico, ou seja, que

    as diferenas de nota mdia de FIS 202 entre o PI e o ensino tradicional dentro de

    cada grupo, no se devem a flutuaes, submetemos os dados a dois testes

    estatsticos de hiptese: valor p e Teste Z, ambos discutidos no apndice A1 deste

    trabalho.

    O clculo do valor p e de z nos fornecem os seguintes valores, apresentados

    na tabela abaixo:

    2011/2 a 2014/1

    Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

    Valor p 0,03 0,002 0,001

    z 2,18 3,13 3,25

    Tabela 3.1: Valores obtidos atravs do clculo do valor - p e de z, para todos os perodos onde o PI foi utilizado.

    Como o valor p para os trs grupos foi menor que 0,05 e z foi maiores que

    1,65 (vide apndice A1 para mais detalhes), temos que a diferena de nota de

    FIS 202 entre as duas metodologias estatisticamente significante, ou seja, ao longo

    dos seis perodos estudados o PI se mostrou mais eficaz que o ensino tradicional.

    Conforme citado anteriormente neste trabalho, os questionrios pr-aula foram

    criados para estimular o estudo prvio dos alunos e auxiliar o professor no

    acompanhamento de seus alunos e no preparado da aula. Na figura a seguir, so

    exibidos os dados referentes a todos os perodos em que os questionrios pr-aula

    foram utilizados, com o objetivo de verificarmos realmente se o uso destes

    questionrios surtiu um efeito positivo no PI.

  • 32

    Figura 3.14: Resultados obtidos durante todos os perodos que os questionrios pr-aula foram utilizados. Na

    figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202 considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3

    referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas

    representam a quantidade de alunos em cada grupo e os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202

    obtidas em cada grupo.

    As anlises individuais dos perodos em que os questionrios pr-aula foram

    utilizados nos indicam que o PI se sobressai ao ensino tradicional em todos os grupos

    de preparo acadmico. Quando analisamos todos esses perodos juntos, obtemos a

    mesma concluso.

    O clculo do valor p e de z nos fornecem os seguintes valores, apresentados

    na tabela a seguir:

    Com questionrio pr-aula

    Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

    Valor p 0,0001 3 x 10-6 0,03

    z 3,95 4,72 1,86

    Tabela 3.2: Valores obtidos atravs do clculo do valor - p e de z, para todos os perodos onde os questionrios

    pr-aula foram utilizados.

    Como o valor p para os trs grupos foi menor que 0,05 e z foi maior que 1,65

    (vide apndice A1 para mais detalhes), as diferenas de nota mdia de FIS 202 em

    todos grupos estatisticamente significante. Como as notas mdias de FIS 202 no PI

  • 33

    so maiores que as do ensino tradicional, conclui-se que o PI realmente mais efetivo

    quando fazemos uso dos questionrios pr-aula.

    Durante a anlise dos perodos de 2011/2 e 2013/2, nos quais os questionrios

    pr-aula no foram utilizados, observou-se que o PI s se sobressaa ao ensino

    tradicional para o grupo 3. A seguir exibido os levantamentos das notas de FIS 202

    por grupos, para estes dois perodos juntos.

    Figura 3.15: Resultados obtidos durante todos perodos que os questionrios pr-aula no foram utilizados. Na

    figura N202* refere-se nota mdia de FIS 202 considerando-se apenas as provas e os nmeros 1, 2 e 3

    referem-se a qual grupo de notas de FIS 201 os dados pertencem. Os nmeros em vermelho dentro das colunas

    representam a quantidade de alunos em cada grupo e os nmeros pretos representam a nota mdia de FIS 202

    obtidas em cada grupo.

    Verifica-se claramente a importncia dos questionrios pr-aula para o sucesso

    do PI em todos os grupos de alunos, sem eles os grupos 1 e 2 no se beneficiam do

    PI, tornando-o uma metodologia cujo sucesso fica restrito a poucos alunos (grupo 3).

    O clculo do valor p e de z nos fornecem os seguintes valores, apresentados na

    tabela a seguir:

  • 34

    Sem questionrio pr-aula

    Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

    Valor p 0,8 0,08 0,006

    z -0,26 -0,29 3,02

    Tabela 3.3: Valores obtidos atravs do clculo do valor - p e de z, para todos os perodos onde os questionrios

    pr-aula no foram utilizados.

    As diferenas de nota mdia de FIS 202 entre o PI e o ensino tradicional

    presentes nos grupos 1 e 2 no possui significncia estatstica, pois o valor p para

    cada grupo maior que 0,05 e o valor de z menor que 1,65. Isto mostra que a adoo

    de qualquer uma das duas metodologias irrelevante para os alunos destes grupos.

    Para o grupo 3 a situao se inverte, tanto o valor p quanto o valor de z mostra

    a significncia estatstica dos resultados obtidos, indicando o sucesso do PI para estes

    alunos independente do uso dos questionrios pr-aula.

    A vantagem do PI presente no grupo 3 nos indica algo importante: uma aula PI

    no pior que uma tradicional ou uma aula que aborda os temas superficialmente

    (fato tambm comprovado pelo empate do PI nos grupos 1 e 2), mesmo sem os

    questionrios pr-aula o aluno que vai para as aulas com o contedo estudado

    previamente, tem nas discusses em grupo fomentadas pela metodologia, um espao

    para aperfeioar seu aprendizado, aplicando-o na resoluo dos testes conceituais e

    na discusso dos mesmos com os outros alunos.

    Conclui-se que o uso do PI sem os questionrios pr-aula eficiente em

    situaes excepcionais, ou seja, ele melhor aproveitado se aplicado em situaes

    em que tenhamos alunos de alto desempenho o que, infelizmente, no a realidade

    do ensino brasileiro.

  • 35

    IV. Anlise dos questionrios pr-aula

    No captulo anterior conclumos que os questionrios pr-aula constituem uma

    ferramenta importante para o sucesso do PI e para a melhora do desempenho dos

    alunos. Para firmar a importncia dos questionrios pr-aula, discutiremos algumas

    questes utilizadas nos mesmos.

    Todas as questes que sero apresentadas a seguir foram aplicadas no decorrer

    de 2014. O objetivo aqui analisar o desempenho geral dos alunos na resoluo das

    questes, possveis erros que foram cometidos e a importncia desse retorno para o

    curso da aula precedente aos questionrios. As questes so disponibilizadas online

    pelo sistema PVANet [10] oferecido pela Universidade Federal de Viosa e atravs

    desse mesmo sistema, os alunos respondem aos questionrios pr-aula.

    1) (2014/1) Quais dos diagramas abaixo representam corretamente os fasores

    das funes 1 = 3,2 sin(2) e 2 = 5,5(2 + 75 )? Explique a sua

    resposta.

    Nesta questo a grande maioria dos alunos escolheu apenas a alternativa (C),

    associando o mdulo do fasor com a amplitude da onda e reconhecendo que as ondas

    esto defasadas de 75. Isto suficiente para concluir que o estudo deles foi produtivo,

    pois conseguiram associar aspectos geomtricos do fasor com caractersticas da

    onda. Um erro comum foi associar a constante de fase 0 da onda 2 com o fato de

    que o fasor 2 deve ser paralelo ao eixo x, essa afirmao abre espao para que na

  • 36

    aula seja reforado o fato de que um fasor sempre gira em torno da origem e o que

    importa a diferena de fase entre as ondas.

    2) (2014/2) Ondas mecnicas podem se propagar por estruturas como um prdio,

    uma ponte, ou a asa de avio. Elas podem ser destrudas por uma vibrao

    suave, se a frequncia dela tiver um valor azarado. Explique qualitativamente

    como uma vibrao suave pode destruir uma estrutura robusta. No se

    esconda atrs de palavras como interferncia, ressonncia e etc. Explique

    realmente o que ocorre.

    Esta questo foi til para ilustrar duas situaes corriqueiras no aprendizado de

    Fsica de alguns alunos: o pouco domnio de conceitos fsicos e a associao de um

    conceito geral com apenas um fenmeno fsicos.

    O pouco domnio de conceitos ficou ilustrado atravs de respostas vagas

    associadas ao fenmeno de ressonncia, conforme apresentado abaixo:

    Quando a frequncia do meio se iguala, por algum motivo, frequncia de uma

    grande estrutura, ocorre a ressonncia. Isso faz com que as ondas da estrutura

    fiquem com uma grande amplitude, fazendo com que ela fique abalada e seja

    destruda.

    Tais respostas poderiam ser complementadas citando, por exemplo, o fato de

    que ocorre o surgimento de ondas estacionrias no material e que estas so

    responsveis pelo abalo de estruturas slidas.

    Esta questo tambm ilustrou o uso correto do princpio de superposio por

    parte dos alunos, porm em muitos casos deixou-se transparecer que o aluno pensa

    que o princpio de superposio vlido apenas para ondas estacionrias, sendo que

    este vlido para qualquer interao entre duas ondas, sejam elas progressivas ou

    estacionrias. A resposta apresentada a seguir serve como base para a concluso

    tirada acima:

    Essas frequncias "azaradas" so as frequncias nas quais as ondas possuem um

    comprimento de onda que permite um nmero inteiro de ondas dentro da estrutura,

  • 37

    isso faz com que a cada reflexo da onda ela encontre uma outra onda idntica a ela

    mas em sentido oposto, o que segundo o princpio da superposio de ondas, cria

    ondas estacionrias dentro do objeto e que esto em fase com a vibrao que est

    vindo da "origem" das ondas isso faz com que o objeto oscile estacionariamente

    nestas frequncias.

    Vale ressaltar que mesmo uma compreenso modesta do fenmeno de

    ressonncia ou associar exclusivamente o princpio de superposio com ondas

    estacionrias no so argumentos para atribuir nota zero ao questionrio de um aluno.

    Estas linhas de raciocnio indicam que o aluno estudou o contedo, uma vez que ele

    foi capaz de explicar um fenmeno fsico usando os conceitos corretos e construiu

    suas prprias concluses com base em seus estudos.

    3) (2014/1) Qual a importncia da fenda simples na experincia de Young? Sem

    ela, seriam observadas franjas claras e escuras? Por qu?

    O objetivo dessa questo era verificar se os alunos se atentaram para o fato de

    que o fenmeno de interferncia s ocorre quando utilizamos luz coerente e que a

    importncia da fenda simples justamente tornar a luz incidente sobre as fendas

    duplas coerente. Verificou-se que a grande maioria no identificou o real propsito da

    fenda, explicando apenas o que ela faz com a frente de onda incidente. Isto nos indica

    que provavelmente grande parte dos alunos acredita que a fenda simples essencial

    para a realizao do experimento. Com essa suposio em mente, possvel

    organizar uma aula voltada para explicar quais as caractersticas de um feixe de luz

    coerente, a real importncia da fenda simples e salientar que possvel que ocorra

    interferncia substituindo a fenda simples por uma frente de luz coerente.

    A resposta apresentada a seguir ilustra as argumentaes acima:

    "A fenda simples tem a funo de provocar o efeito da difrao na onda incidente no

    sistema. Esse fenmeno responsvel por transformar os raios incidentes, que

    incidem em linha reta, em frentes de onda semicirculares. A combinao dessas

    frentes de onda resultantes do espalhamento da onda incidente provoca os tipos de

    interferncia observveis no anteparo. Caso no houvesse fenda, a onda iria incidir

  • 38

    em linha reta no anteparo sem sofrer interferncia, portanto somente franjas claras

    seriam observadas."

    4) (2014/2) Uma fonte puntual emite luz monocromtica com comprimento de

    onda , iluminando o anteparo sua frente (vide figura). As ondas

    eletromagnticas produzidas nos pontos 1 e 2 do anteparo esto totalmente

    em fase, completamente fora de fase, ou numa situao intermediria?

    JUSTIFIQUE.

    O intuito desta questo foi verificar se o aluno compreendeu as condies

    necessrias para que duas ondas estejam em fase e se ele sabe calcular a diferena

    de caminho percorrida por duas ondas.

    Durante a correo desta questo foi possvel identificar erros fsicos graves,

    como dizer que a onda eletromagntica que chega no ponto 1 est em fase, pois

    percorreu uma distncia mltipla inteira de seu comprimento de onda e que a onda

    que chega no ponto 2 est fora de fase, pois percorreu uma distncia semi-inteira de

    seu comprimento de onda. Isto deixa claro que o aluno no compreendeu que falar de

    fase de uma onda refere-se apenas a sua forma e que falar da diferena de fase entre

    duas ondas (que o pedido na questo), trata-se de uma comparao entre a forma

    de duas ondas distintas.

    Notou-se tambm que alguns alunos criaram um elo entre diferena de fase e

    o fenmeno de interferncia, dizendo que as ondas interfeririam destrutivamente por

    causa da diferena de fase entre elas. Com esse tipo de argumento fica claro que o

    aluno possui uma grande deficincia em conceitos bsicos de ondulatria, pois o

    fenmeno de interferncia est intimamente relacionado com o princpio de

    superposio, princpio este que o aluno demonstrou no dominar, pois os pontos do

  • 39

    anteparo nos quais chegam as ondas eletromagnticas so distintos, ou seja, as

    ondas nunca iro se superpor e consequentemente interferir.

    Tais erros citados acima so evidentes em respostas do tipo:

    Situao Intermediria, pois o caminho que a luz faz para chegar no ponto um, de

    10 lambda, sendo um mltiplo inteiro de lambda. J o caminho que faz para chegar

    no ponto dois, pelo teorema de Pitgoras, foi descoberto que no um mltiplo

    inteiro de lambda, descaracterizando a onda estar totalmente em fase, e tambm

    no um mltiplo inteiro + 1/2, que caracteriza que a onda est totalmente fora de

    fase, fazendo assim que ela fique em uma situao intermediria.

    Por teorema de Pitgoras, o caminho percorrido at o ponto 2 11,2 e para

    chegar at o ponto 1 a onda percorre 10 . Sabe-se que uma diferena de caminho

    pode gerar uma diferena de fase. Se a diferena de percurso (L2-L1) igual a um

    nmero inteiro de , elas esto em fase, se essa diferena igual a um mltiplo

    mpar de , elas esto completamente fora de fase. Mas neste caso a diferena de

    percurso igual a 1,2 , logo h uma interferncia intermediria, sendo essa

    interferncia mais construtiva que destrutiva.

  • 40

    V. Concluses

    O processo de ensino e aprendizagem s bem sucedido quando aluno e

    professor trabalham em equipe. Os mtodos ativos de ensino surgem com o intuito de

    fortalecer essa participao conjunta de aluno e professor, sendo o Peer Instruction o

    seu principal representante.

    A primeira aplicao do PI na Universidade Federal de Viosa, durante o perodo

    de 2011/2, serviu para indicar que adotar somente o PI no foi suficiente para superar

    o ensino tradicional em todos os grupos de preparo acadmico. A adoo dos

    questionrios pr-aula foi a estratgia utilizada para estimular o estudo prvio dos

    alunos, refletindo na maior participao destes na aula e em discusses em grupo

    mais aprofundadas, fortalecendo o cerne do PI (discusses em grupo).

    Desde a adoo dos questionrios pr-aula observamos um melhor desempenho

    do PI em comparao com o ensino tradicional em todos os grupos de alunos,

    indicando que eles so eficientes no cumprimento de sua proposta.

    O grupo 3 do PI (nota de FIS 201 acima de 75%) foi o nico que sempre se

    sobressaiu ao ensino tradicional, mesmo sem uso dos questionrios pr-aula. Isto

    ilustra que se o PI for aplicado em alunos de alto nvel, os questionrios pr-aula

    podem ser dispensados sem prejuzo para a metodologia.

    Com base em nossas anlises estatsticas, possvel afirmar que o PI mais

    eficiente que o ensino tradicional quando fazemos uso dos questionrios pr-aula e

    as discusses referentes aos mesmos, feitas no captulo IV, nos mostram a poderosa

    ferramenta que eles so para o professor, uma vez que ele fica ciente das dificuldades

    de seus alunos com antecedncia.

    Entretanto, o ensino tradicional e o PI compartilham de um aspecto positivo: eles

    se tornam mais eficazes a medida que so aplicados em alunos com melhor preparo

    acadmico. Isto indicado pela anlise global, pois as retas representativas de cada

    metodologia sempre possui inclinao positiva.

    Este trabalho nos d a perspectiva de um novo experimento: aplicar os

    questionrios pr-aula nas turmas PI e de ensino tradicional e verificar se o PI de

    fato mais eficaz que o ensino tradicional ou se com os questionrios ambas as

    metodologias iro se equiparar.

  • 41

    Apndice

    A1. Testes Estatsticos de Hiptese

    Quando efetuamos a comparao de um parmetro presente em duas populaes,

    muitas vezes deseja-se estipular se a diferena desse parmetro presente em cada

    populao devida somente a flutuaes ou se essa diferena realmente existente.

    O valor p um fator que reflete se a diferena citada acima devida a flutuaes

    ou se possui um significado real (a diferena estatisticamente significante). Essa

    anlise feita pela construo de duas hipteses: a nula, que afirma que a diferena

    entre as populaes devida flutuaes e a alternativa, que afirma que a diferena

    entre as populaes estatisticamente significante.

    Escolhendo o nvel de significncia sendo de 5%, obtemos o valor limite de p de

    0,05, escolhas comumente encontrados na literatura [6]. Estabelecido o valor limite de

    p, ao calcularmos o valor p entre duas populaes temos os seguintes padres de

    comparao [11]:

    p < 0,05: adota-se a hiptese alternativa;

    p > 0,05: adota-se a hiptese nula.

    Para mais detalhes de como efetuar o clculo do valor p de duas populaes,

    consulte [12].

    A hiptese nula adotada neste trabalho que a diferena entre a nota mdia de

    FIS 202 do ensino tradicional e o PI devida apenas a flutuaes, ou seja, nenhuma

    metodologia possui vantagem sobre a outra, enquanto que a hiptese alternativa

    adotada que a diferena de nota mdia de FIS 202 entre as duas metodologias

    estatisticamente significante.

    O Teste Z um teste estatstico de hiptese capaz de determinar se a diferena

    entre as mdias de duas populaes distintas e independentes estatisticamente

    significante [11]. Este um teste baseado nas hipteses nula e alternativa. Adotando

    o nvel de significncia de 5%, obtm-se um valor crtico de z = 1,65 [11] e caso o

    valor z dos grupos analisados seja maior que 1,65 adotamos a hiptese alternativa.

    Para calcular o valor de z, utilizamos a seguinte expresso:

  • 42

    =1 212

    Sendo 1 e 2 as mdias das duas populaes estudadas e 1- 2 o desvio padro

    amostral.

    Neste trabalho adotamos a igualdade da nota mdia de FIS 202 entre o ensino

    tradicional e o PI como hiptese nula. A hiptese alternativa baseia-se nos dados

    observados: quando a nota mdia do PI for superior ao ensino tradicional a hiptese

    alternativa ser que a mdia do PI superior do ensino tradicional, caso contrrio,

    a hiptese alternativa ser que a mdia do ensino tradicional superior do PI.

    A2. Testes Conceituais

    Apresentamos nesta seo do apndice alguns testes conceituais aplicados na

    disciplina FIS 202 da Universidade Federal de Viosa, com o intuito de apresentar os

    tipos de questes que compe os testes conceituais.

    1) Aps inserir um canudo num copo de gua, voc veda a parte superior dele

    com o dedo. Quando o canudo retirado do copo, sobra lquido dentro dele

    (figura). A relao entre a presso atmosfrica PA e a presso P na parte

    superior do canudo :

    a) P > Pa

    b) P = Pa

    c) P < Pa

    d) No sei.

  • 43

    2) Quando utilizamos um aspirador p para fazer limpeza, a poeira :

    a) Empurrada para dentro do aparelho;

    b) Puxada para dentro do aparelho;

    c) Empurrada e puxada para dentro do aparelho;

    d) Cai dentro do aparelho apenas pela ao do prprio peso;

    e) No sei.

    3) Para que voc veja uma moeda no cho necessrio que a luz:

    a) Vinda da moeda chegue aos seus olhos;

    b) Saindo dos seus olhos chegue moeda;

    c) Saindo dos seus olhos chegue moeda e tambm que luz vinda da moeda

    chegue aos seus olhos.

    4) Duas ambulncias esto lado a lado, quando ligam suas sirenes. Uma est

    parada e a outra se move em alta velocidade na sua direo. O som de qual

    ambulncia voc ouve primeiro?

    a) Da parada.

    b) Da em movimento.

    c) Ouo o som das duas simultaneamente.

    d) Depende da frequncia de cada sirene.

  • 44

    Referncias Bibliogrficas

    [1] Halloun, I., A., Hestenes, D.; Am. J. Phys., 53 (11); 1985;

    [2] Mazur, E., Science, 323 (5910); 2009;

    [3] Henderson, C., Dancy, M. H., Physical Review Special Topics, 5 (020107);

    2009;

    [4] Mazur, E.; Peer Instruction: A Users Manual; Pearson Prentice Hall; Upper

    Saddle River; New Jersey; USA; 1997;

    [5] Hake, R.; Am. J. Phys., 66 (64); 1998;

    [6] Lasry, N., Mazur, E., Watkins, J.; Am. J. Phys. 76 (1066); 2008;

    [7] Crouch, C. H. and Mazur, E., Am. J. Phys. 69 (9); 2001;

    [8] Lasry, N., The Physics Teacher, 46 (4); 2008;

    [9] Araujo, I. S., & Mazur, E.; Caderno Brasileiro de Ensino de Fsica, 30 (2); 2013;

    [10] PVANet; www2.cead.ufv.br/sistemas/pvanet/geral/login.php; 2014;

    [11] Larson, R. e Farber, B.; Estatstica Aplicada; Pearson Prentice Hall; So

    Paulo; SP; Brasil; 2009;

    [12] Portal Action; http://www.portalaction.com.br/539-512-c%C3%A1lculo-e-

    interpreta%C3%A7%C3%A3o-do-p-valor; 2014;