Pegatin to Analise Ergonomica

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XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Análise ergonômica de um posto de trabalho numa fábrica de calçados Thiago de Oliveira Pegatin [email protected] TOPErgonomia – Pederneiras/SP Ms. Fábio Molina da Silva [email protected] Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)/SP Resumo Este trabalho apresenta a elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) através de uma adaptação da metodologia da análise do modo e efeito das falhas (FMEA) em uma fábrica de calçados infantis da cidade de Birigüi-SP. O objetivo desta análise é identificar, priorizar e controlar possíveis riscos ergonômicos. O estudo realizado pelo método sugere uma forma de intervenção pró-ativa, auxiliando profissionais da área de ergonomia dentro e um sistema de gerenciamento. Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho, FMEA e sistema de gerenciamento. 1. Introdução Com a globalização da economia, as empresas, para sobreviverem neste novo contexto de busca pela modernização industrial e tecnológica, devem adaptar seus sistemas produtivos, visando sua melhoria contínua, principalmente, quanto aos prazos de entrega, à qualidade, à diminuição dos custos e ao tempo de lançamento de novos produtos. Para tanto, as empresas investem em tecnologia, sistemas de gestão, parcerias com clientes e fornecedores, colaboradores multifuncionais, etc. Desde meados dos anos 80, as indústrias de calçados estão se modernizando e, cada vez mais, preocupando-se em atingir padrões de desempenho conforme aqueles exigidos pela economia global. Entretanto, a modernização das formas de organização industrial não trata apenas de melhorias gerenciais. Fatores, como instabilidade de demanda, mudança constante de políticas fiscais e monetárias, altas taxas de juros, altos índices de analfabetismo e outros problemas sociais do país, dificultam as empresas brasileiras na adaptação a este novo paradigma mundial. Na busca da tecnologia de produtos e processo, este trabalho destaca a análise ergonômica como importante ferramenta no auxílio ao desenvolvimento ativo dessas organizações. Pois conforme Iida (1990) destaca que a ergonomia busca a melhoria do sistema produtivo tanto para os colaboradores quanto para a organização através do estudo de diversos aspectos do comportamento humano e do sistema de trabalho, dentre eles: homem, máquina, ambiente, informação, organização e conseqüências do trabalho. A ergonomia não é necessária somente pela busca da qualidade do produto, mas também pela melhoria da qualidade do trabalho e ambiente de trabalho aos colaboradores como proposto por Guérin et al. (2001). A estrutura da Análise Ergonômica do Trabalho se propõe a partir da análise da demanda, seguida pela análise da tarefa e das atividades (determinando os componentes da situação de trabalho que serão analisados e medidos), e a elaboração de um conjunto de resultados que interpretados, constituem um modelo da situação e provisão de melhoria na condição de trabalho (Vidal, 2002). Guérin et. al. (2001) relata que a ação ergonômica tem triplo objetivo,

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XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004

Análise ergonômica de um posto de trabalho numa fábrica de calçados

Thiago de Oliveira Pegatin – [email protected] TOPErgonomia – Pederneiras/SP

Ms. Fábio Molina da Silva – [email protected]

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)/SP

Resumo

Este trabalho apresenta a elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) através de uma adaptação da metodologia da análise do modo e efeito das falhas (FMEA) em uma fábrica de calçados infantis da cidade de Birigüi-SP. O objetivo desta análise é identificar, priorizar e controlar possíveis riscos ergonômicos. O estudo realizado pelo método sugere uma forma de intervenção pró-ativa, auxiliando profissionais da área de ergonomia dentro e um sistema de gerenciamento.

Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho, FMEA e sistema de gerenciamento.

1. Introdução Com a globalização da economia, as empresas, para sobreviverem neste novo contexto de busca pela modernização industrial e tecnológica, devem adaptar seus sistemas produtivos, visando sua melhoria contínua, principalmente, quanto aos prazos de entrega, à qualidade, à diminuição dos custos e ao tempo de lançamento de novos produtos. Para tanto, as empresas investem em tecnologia, sistemas de gestão, parcerias com clientes e fornecedores, colaboradores multifuncionais, etc.

Desde meados dos anos 80, as indústrias de calçados estão se modernizando e, cada vez mais, preocupando-se em atingir padrões de desempenho conforme aqueles exigidos pela economia global. Entretanto, a modernização das formas de organização industrial não trata apenas de melhorias gerenciais.

Fatores, como instabilidade de demanda, mudança constante de políticas fiscais e monetárias, altas taxas de juros, altos índices de analfabetismo e outros problemas sociais do país, dificultam as empresas brasileiras na adaptação a este novo paradigma mundial.

Na busca da tecnologia de produtos e processo, este trabalho destaca a análise ergonômica como importante ferramenta no auxílio ao desenvolvimento ativo dessas organizações. Pois conforme Iida (1990) destaca que a ergonomia busca a melhoria do sistema produtivo tanto para os colaboradores quanto para a organização através do estudo de diversos aspectos do comportamento humano e do sistema de trabalho, dentre eles: homem, máquina, ambiente, informação, organização e conseqüências do trabalho.

A ergonomia não é necessária somente pela busca da qualidade do produto, mas também pela melhoria da qualidade do trabalho e ambiente de trabalho aos colaboradores como proposto por Guérin et al. (2001).

A estrutura da Análise Ergonômica do Trabalho se propõe a partir da análise da demanda, seguida pela análise da tarefa e das atividades (determinando os componentes da situação de trabalho que serão analisados e medidos), e a elaboração de um conjunto de resultados que interpretados, constituem um modelo da situação e provisão de melhoria na condição de trabalho (Vidal, 2002). Guérin et. al. (2001) relata que a ação ergonômica tem triplo objetivo,

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o de contribuir para a melhoria das condições de trabalho e da saúde dos trabalhadores, um melhor funcionamento da empresa e contribuir para a transformação das representações do trabalho.

Uma importante consideração é feita pelo trabalho de Wisner (1987) que ressalta a importância da participação dos trabalhadores, que não deve ser limitada a uma simples coleta de opiniões, mas deve servir de grande auxílio na descrição da realidade do trabalho, das atividades perceptivas, cognitivas e motoras dos mesmos, sendo esta uma forma de validar as informações.

Entre as técnicas de análise ergonômica, este trabalho destaca a metodologia de Análise do Modo e Efeito de Falha, conhecida como FMEA, do inglês Failure Mode and Effect Analysis, é uma ferramenta da área de qualidade que tem em seu princípio evitar falhas potenciais por meio das análises e propostas de melhoria, que possam ocorrer em projetos de produto ou em processos (Ben-Daya et al, 1996).

A proliferação de normas abordando a gestão da qualidade (ISO 9000 e QS 9000), gestão ambiental (ISO 14000) e gestão da segurança e saúde do trabalho (BS 8800) abordam de maneira objetiva ações pró-ativas buscando minimizar prejuízos oriundos de deficiências crônicas da face de planejamento. O FMEA é uma ferramenta que se utilizada de forma correta pode atender aos requisitos específicos de prevenção destas normas. (Silva et al, 1997).

Silva et al (1997) define FMEA como um método de análise de produtos ou processos usado para identificar todos os possíveis modos potenciais de falha e determinar o efeito de cada um sobre o desempenho do sistema (produto ou processo), mediante um raciocínio basicamente dedutivo (não exige cálculos sofisticados). Portanto, podemos considerar o FMEA como um método analítico padronizado para detectar e eliminar problemas potenciais de forma sistemática e completa.

Segundo Sanches & Santos (2003), o princípio da metodologia aplicada a analise ergonômica é o mesmo tipo de FMEA aplicado a processos. A análise consiste basicamente na identificação de um processo em questão de suas funções, ou seja, suas atividades desenvolvidas, os principais problemas ergonômicos, e os efeitos causadores dos problemas evidenciados. Em seguida são avaliados os riscos de cada atividade por meio de índices e, com base nesta avaliação, são tomadas as ações necessárias para diminuir estes riscos.

Este trabalho tem por objeto a realização da análise ergonômica do trabalho em uma fábrica de calçados infantil localizada na cidade de Birigüi-SP, tendo como foco principal à atividade, objetivando a compreensão e transformação do ambiente de trabalho, através da adaptação do método FMEA.

Na seção 2 o trabalho apresenta dados da fábrica de calçados analisada. Na seção 3 o trabalho descreve a metodologia da análise ergonômica

2. Dados referentes à empresa O estudo de caso foi realizado na empresa Kidy (Kidy Industria de Calçados LTDA). Atualmente, esta empresa encontra-se entre as cinco maiores empresas de calçado infantil do Brasil.

Conforme depoimentos de moradores da cidade, esta empresa destaca-se também pela preocupação do bem estar de seus colaboradores. Podemos citar dois atos que demonstram esta preocupação: a empresa possui parceria com o Sesi visando educação dos filhos dos colaboradores, esta empresa também modernizou seu sistema produtivo para trabalhar com cola a base de água na montagem de seus calçados.

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A empresa emprega mais de 3 mil colaboradores que estão distribuídos em suas 5 fábricas, uma inclusive fora do estado de São Paulo, localizada na cidade de Três Lagoas no estado do Mato Grosso.

A análise ergonômica deste trabalho foi realizada em uma das fábricas localizada em Birigui-SP, esta fábrica contém aproximadamente 300 funcionários sendo que 70 trabalhavam no pesponto, posto escolhido para realização da análise ergonômica.

O pesponto foi escolhido devido seguintes motivos: alto índice de absenteísmo, alta freqüências de queixas de dores, alto índice de afastamento, além disso, este posto é um gargalo na produção de calçado infantil.

A atividade de pesponto é a montagem do calçado por meio de costuras em máquinas industriais. O trabalho neste posto é bastante sistematizado exigindo muito esforço e precisão por parte do operário.

3. Metodologia 3.1 Analise da demanda Para Guérin et al. (2001), a condução do processo de análise em ergonomia é uma construção que, partindo da demanda, se elabora e toma forma ao longo do desenrolar da ação. A demanda pode ter origem de pessoas ou de grupos diversos da empresa. Ela pode se originar diretamente dos trabalhadores, das organizações sindicais ou mesmo da direção da empresa. (Fialho, 1997).

Durante entrevista com o irmão do proprietário, questionamos qual seria o posto que ele indicaria para análise ergonômica ele respondeu instantaneamente o pesponto. Então buscamos saber quais motivos levaria ele a nos dizer isso, vimos, como relatado acima, que os índices de absenteísmo e afastamento eram altos e que a produtividade oscilava muito durante a semana.

Nas primeiras horas dentro da empresa examinamos todo o processo produtivo e as atividades dos trabalhadores para podermos utilizar o método de análise ergonômica adotado. Também avaliamos alguns índices que a empresa mantinha registro que confirmou que o pesponto era realmente um posto de trabalho válido para a pesquisa.

A análise em primeiro momento, foi baseada na aplicação do EWA (Ergonomic Workplace Analysis). Este método questiona os colaboradores sobre as suas opiniões quanto ao ambiente de trabalho, carga física, exigência mental, autonomia, relações com os colegas, conteúdo de trabalho, etc. O questionário apresenta duas notas: uma dada pelo analista e outra através de entrevista com os colaboradores.

3.2 Método para Análise Cinesiológica Após a entrevista realizamos uma análise cinesiológica com os colaboradores filmando e observando as atividades dos trabalhadores desempenhadas no posto de trabalho. Através desta observação foram realizadas a Análise da Tarefa e a Análise da Atividade (trabalho prescrito x trabalho real) como sugerido por Granjean (1998).

Foi utilizada ainda a ferramenta RULA, método desenvolvido por Lynn & Corlett (1993). Esta ferramenta é utilizada para avaliar a exposição de indivíduos a posturas, forças e atividades musculares podendo contribuir para o desenvolvimento de DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).

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Diferente do modelo original do FMEA, que utiliza o indicador D (detecção de falhas), o resultado da aplicação do método definirá o fator Ergonomia (E) na qualificação do Nível de Risco dê acordo com tabela a seguir:

Nível 1 Pontuação de 1 a 2 Postura aceitável se não repetida ou mantida por longos períodos

Nível 2 Pontuação de 3 a 4 Investigar, possibilidade de requerer mudanças

Nível 3 Pontuação de 5 e 6 Investigar, realizar mudanças rapidamente

Nível 4 Pontuação de 7+ Mudanças imediatas

Tabela 1- Níveis de Risco do FMEA 3.3 Definição de Nível de risco (NR) Para a definição de priorização das ações, além do resultado do método RULA, foram acrescidos dois outros indicadores: a caracterização do Fator Duração do Trabalho (FDT) de acordo com o critério semiquantitativo de Moore & Garg; e o indicador de Gravidade.

Nesta adaptação do indicador O (ocorrência) no FMEA original, utiliza-se o critério de Moore & Garg, que indica a Probabilidade (P) de ocorrência do risco, através de uma escala gradativa de acordo com o tempo de exposição do individuo as situações de trabalho, como representado na tabela 2:

Probabilidade 01 02 03 04

Tempo de exposição < 2 horas 2 a 4 horas 4 a 8 horas > 8 horas

Tabela 2 – Distribuição da probabilidade de risco Fonte: (Moore & Garg, ) O indicador Gravidade (G), é obtido de acordo com histórico de casos e queixas na organização observados pelo analista. No modelo original do FMEA encontramos o indicador S (severidade) que se refere aos mesmos termos aqui utilizados.

Os dados são interpretados na seguinte tabela.

Escore Gravidade Efeito

1 Nenhuma Sem procuras ambulatoriais ou reclamações

2 Alguma Procura ambulatorial e reclamações isoladas

3 Moderada Procura ambulatorial e reclamações freqüentes, mas sem afastamentos

4 Alta Procura ambulatorial e reclamações freqüentes com afastamentos

Tabela 3- Distribuição de pontos conforme a gravidade

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Após a obtenção dos três indicadores, podemos criar uma matriz de priorização das ações a serem realizadas a partir das condições de trabalho analisadas, como segue a representação:

NR = G x P x E, onde:

G= Gravidade

P= Probabilidade

E= Ergonomia

A interpretação dos resultados e a definição do grau ações estarão de acordo com a tabela 4:

Escore Condição Definição das ações

1 a 2 excelente Desnecessário ações

3 a 11 boa Longo prazo

12 a 26 razoável Médio prazo

27 a 47 ruim Curto prazo

48 acima péssima Urgente

Tabela 4 – Interpretação dos resultados 4. A Pesquisa 4.1 Análise da Demanda Analisando os dados do posto de pesponto, notou-se que é composto na sua totalidade por mulheres jovens (100%) e com faixa etária entre 18 e 30 anos (80%). 100% dos entrevistados relatam que não realizam exercícios laborais antes, durante ou após a jornada de trabalho e que não há rodízio de funções.

A grande maioria (80%) está na empresa há pouco tempo entre 3 meses a 1 ano. Também se notou que a empresa procurava pespontadeira para contratar, devido a alta demanda de vagas para o posto de trabalho em estudo.

Todos os funcionários entrevistados afirmam sentir dores, sendo que 40% em região cervical, 60% punho, 40% lombar e 80% afirmam sentir dores em duas ou mais regiões.

4.1.1. Aplicação do check point EWA A aplicação do EWA foi realizado em um grupo de 8 pespontadeiras reunidas durante uma hora. As questões foram realizadas em grupo sem a presença de outros funcionários da empresa. A tabela 5 apresenta a avaliação dos itens ergonômicos, quantificados de 1 para o menos grave e 5 para itens críticos, feitos pelos funcionários e pelo ergonomista.

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Item Avaliação do Operador* Avaliação do analista

Espaço de trabalho 3 3

Atividade física 4 4

Levantamento de cargas 2 2

Pescoço e ombro 3 3

Cotovelo-punho 4 4

Costas 4 3

Quadril - pernas 3 3

Risco de acidente 1 2

Conteúdo de trabalho 5 4

Restrições no trabalho 5 5

Comunicação interpessoal 1 3

Tomada de decisões 2 2

Repetitividade 5 4

Atenção 3 3

Iluminação** 2 1

Ambiente térmico** 3 3

Ruído** 2 4

Tabela 5 – Resultado da aplicação do EWA

4.2 Análise Cinesiológica 4.2.1. Análise da Tarefa O funcionário recebe um contêiner com o lote do material a ser costurado, realiza a costura de todo o lote, coloca novamente no contêiner e passa para o setor de montagem, tendo como meta produção de 19 a 22 calçados/hora.

4.2.2 Análise da Atividade Para desenvolver seu trabalho o funcionário recebe um contêiner com grande quantidade de material a ser costurado. O funcionário posiciona o material no ponto de costura com as duas mãos (braço encontra-se abduzido a mais ou menos 45° e sem apoio).

** Dados colhidos a partir do LTCAT (Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho)

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O comando da costura é acionado com os pés (mecanismo de pedal com movimentos de flexo-extensão de tornozelo) enquanto com as mãos faz a costura no formato do calçado a ser produzido, sucessivamente até o término do lote.

Terminado o processo o funcionário novamente coloca o material no contêiner e passa para o setor de montagem do calçado.

4.2.3. Preocupação ergonômica O indicador de preocupação ergonômica citado nesta adaptação, corresponde ao indicador de perigo do FMEA.

As possíveis agressões, de acordo com as determinadas regiões corporais a partir da análise proposta foram:

Pescoço – posição estática durante grande parte da jornada de trabalho;

Ombros - posição estática durante grande parte da jornada de trabalho (leve flexão e abdução além de 45°);

Punho – leve flexão e desvio ulnar por grandes períodos de tempo;

Mãos – preensão pulpar, uso de força e repetitividade de movimentos;

Coluna – trabalho em posição sentada, porém sem apoio adequado ao encosto, ângulo inadequado tronco-quadril;

Pernas e pés – altura e dimensões da bancada não adaptada e regulável, trabalho repetitivo de flexo-extensão de tornozelo.

Outras – organização do trabalho, fadiga muscular, campo de visão para realização do trabalho.

4.2.4. Risco ergonômico Conforme indicador utilizado para demonstrar possíveis riscos a partir do perigo (preocupação ergonômica) encontrados destacamos as seguintes regiões corporais:

Pescoço – cervicalgias, cefaléias tensionais;

Ombros – síndromes dolorosas, inflamações (bursites, tendinites);

Punho – síndromes dolorosas, síndromes compressivas nervosas, inflamações;

Mãos – tendinites, tenossinovites;

Coluna – síndromes dolorosas (lombalgias), desvios posturais;

Pernas e pés – distúrbios circulatórios, retrações musculares, síndromes dolorosas.

Outros – erros no processo, acidentes.

4.2.5. Dificuldade observada - Determinantes A partir dos dados coletados são listadas as determinantes (principais dificuldades) mediante confronto dos dados analisados (analista) e dados coletados (entrevistas com os colaboradores):

- Cumprir as metas de produção, muitas vezes não alcançando;

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- Não há tempo para necessidades fisiológicas;

- Grande insatisfação quanto ao conteúdo e restrições no trabalho;

- Alto grau de repetitividade e exigência física.

4.3. Definição do Nível de Ação Na análise cinesiológica foi utilizado o método RULA para a descrição e quantificação das posturas mais adotadas pelos funcionários durante a atividade laboral.

Os dados obtidos pelo método RULA foram confrontados com dados obtidos pelo índice de Moore e Garg, referentes à probabilidade de ocorrência do risco decorrente do tempo de exposição e ao escore de Gravidade, dados obtidos do histórico da organização.

O produto dos mesmos demonstra a definição do nível das ações, descritos na tabela 6:

Item Escore Interpretação

Ergonomia (E) 03 Investigar, realizar mudanças rapidamente

Gravidade (G) 04 Alta (procura ambulatorial com afastamentos)

Probabilidade (P) 03 4 a 8 de exposição

Nível de risco* 36 Condição de trabalho ruim – ações em curto prazo

Tabela 6 - Nível de Risco = E x G x P

5. Considerações Finais O principal objetivo da metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho apresentada é proporcionar uma maneira pertinente e eficaz de melhoria do ambiente e sistema de trabalho.

Buscou se através do método apresentado identificar os locais de intervenção e priorizar as ações de modo a otimizar as relações de trabalho. A associação das diversas ferramentas apresentadas pode auxiliar no gerenciamento das questões relacionadas à prevenção dos DORT.

Além da eficácia na análise, a inclusão de um FMEA na ergonomia é importante na padronização de um sistema de gerenciamento ergonômico eficiente na organização, baseado em dados, históricos e monitoramento (melhoria contínua), fazendo com que a organização tenha um melhor controle e diminuição de custos por meio da prevenção de ocorrência de acidentes e afastamentos.

Propomos que a partir deste estudo, outros sejam realizados para averiguação da eficácia e aplicação do método proposto, contribuindo para o alcance mais próximo do ideal em relação aos problemas acerca do sistema de trabalho, tanto para o trabalhador como para a empresa: melhoria das condições de trabalho.

6. Referências bibliográficas Ben-Daya, M. & Raouf, A. A revised failure mode and effects analysis model. International

Journal of Quality & Reliability Management. Vol. 13, n.1, p.43-47. 1996.

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