Pençá nº1 para visualizacao

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N° 1 - ANO 1 - JUNHO& JULHO DE 2010 - BIMESTRAL

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N° 1 - ANO 1 - JUNHO& JULHO DE 2010 - BIMESTRAL

Alexandre

INDIFERENÇAMais uma cena rotineira dacidade grande

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Expediente:Fecundado e parido por:Eduardo Marinhoe Fabio da Silva BarbosaAgradecimentos:Movimento Evolutivo Mundial (MEM),Federação Evolutiva do Sistema Solar (FESS),Confederação Evolucional Galáctica (CEGA),todos ligados ao Movimento EvolutivoUniversal (MEU).

“Não sabemos, nemqueremos saberestacionar”

E aí começa a mentirada, que evoluiue nos engana até hoje. Na verdade, no princí-pio eram grunhidos, gritos, urros, rosnados,sons desarticulados. Depois, muito depois,os sons foram designando coisas e procedi-mentos, pouco a pouco se tornando pala-vras. As comunicações foram evoluindo atéformarem os idiomas (o “Verbo”). Que vira-ram as línguas faladas, desenvolvendo-secom as formas de sociedade, em desenvol-vimento conjunto com todos os setores. Aevolução das relações criou a necessidadeda escrita e, assim, desenvolveram-se as es-critas. Com a estratificação das sociedades,restringiu-se o conhecimento da escrita (ede uma parcela dos conhecimentos) às clas-ses mais elevadas (a hierarquia social já es-tava implantada), excluindo a maioria, jánaquela época.

Isso é pra demonstrar que primeiro,veio a língua falada. Depois, a escrita. Com aexclusividade do conhecimento para as “eli-tes”- e com a sua costumeira soberba e idio-tia, estas passaram a se sentir donas das lín-guas (que passaram a ser chamadas de “ofici-

Por: Eduardo Marinho

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ais”), ditando regras e tentando conter odesenvolvimento dinâmico da linguagem.E a linguagem ignora as regras, fazendoseu caminho espontâneo e descontrolado.

Agora junta um bocado desses ca-ras e estabelecem regras gramaticais para“unificar” a língua portuguesa, nos diver-sos países lusófonos. Eu, aqui da minhaignorância, acho um disparate e, depoisde passar as vistas nas tais regras, me sen-ti no direito de escrever do jeito que quiser,da forma que achar que serei entendidopelo público que me interessa – e a quemespero interessar.

Numa sociedade de alto nível desabotagem do ensino público, onde o co-nhecimento da gramática nem chega àmaioria, o estabelecimento de tais regras éa demonstração da distância que esses ca-ras têm da realidade. Prefiro o desprezodesses elitistas acadêmicos e a aproxima-ção da linguagem compreensível à maioria.

Declaro meu descompromisso comas regras gramaticais estabelecidas na últi-ma reforma. Agora eu escrevo como quiser.“Condenem-me, não importa. A história meabsolverá.”

“No Princípio era o Verbo”

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Meu pai era militar e minha mãe,funcionária pública, do IAPC, depoisINPS, depois INAMPS, depois... Ele serta-nejo (de Nova Cruz, fronteira entre Paraíbae Rio Grande do Norte), ela mineira (des-cendente de alemães e portugueses).

Nasci no Espírito Santo, saí de lácom um mês de idade, pro Rio de Janeiro.Mas minha primeira lembrança da infânciaé de Corumbá, no Mato Grosso. Soltei ofreio de mão da kombi do meu pai (ele medeixou sozinho, por um instante) e ela des-ceu de ré a ladeira onde morávamos, indobater num poste no meio de uma avenidalá embaixo, assustando um burro que puxa-va uma carroça de abóboras, que empinoue virou com a carroça, espalhando as abó-boras e provocando uma confusão dana-da, com gritos e correrias. Abri um enormeberreiro, com o dedo na buzina (naqueletempo a buzina funcionava, com o motordesligado), até meu pai descer correndo aladeira e me pegar no colo. Lembro que eleriu da minha cara apavorada e também dealívio. Hoje eu digo, pra descrença geral,que bati o carro do meu pai quando eutinha três anos. Morávamos lá, em 64,enquanto davam o golpe “militar”.Mudamos pro Rio em 66, onde estudei,com minhas irmãs, num colégio de freiras.

Em 68 fomos pra Feira de Santana,onde eu aprendi a comer com farinha (atéhoje), moramos afastados da cidade, emárea rural, na vila militar dos oficiais. Meupai era o comandante do 35º Batalhão deInfantaria. Dali voltamos ao Rio, de 71 a73, e eu fui para o Colégio Militar.Morávamos na Tijuca, ao lado do ClubeMunicipal. Eu já fazia vários esportes.

Em 74 fomos pra Brasília. Ali, com15 anos, fiz concurso e entrei pro Banco

do Brasil. Pedi demissão dez meses depois,pra espanto geral. Na época, quem entravapro Banco dava graças a deus e não saía mais,até se aposentar. E foi justamente esta idéiaque me apavorou, viver ali a vida toda meparecia um horror. Foi a primeira vez que mechamaram de louco. A próxima experiência foio exército. Entrei (via concurso) pra escolapreparatória de cadetes do exército, pra alívioda família, que imaginou que eu estava com avida resolvida. Ali eu tomei ojeriza dahierarquia forçada, artificial e sem sentido. Edo papel do exército dentro do conjunto dasociedade, depois que me peguei com um fuzilna mão, apontando pra uma manifestação deestudantes desarmados, em frente ao quartel.Havíamos chegado de um exercício de campobrabo, com campo de concentração e tortura,caminháramos 90 km pra chegar de volta noquartel, 2/3 da tropa caiu pelo caminho, oestado interno era deplorável, eu ia dormirquando tocou o alarme, me deram de volta ofuzil e as balas, eu deitei na barricada com aarma destravada e louco pra atirar. Eu era daequipe de tiro, acertava um alvo a 600 metros,a manifestação era, no máximo a 200 m,coloquei o cara do megafone na alça de mirae pedi ordem de fogo, “tenho o líder na mira,tenente”. Ele não deu a ordem e eu fiqueiputo. Depois, chegou a polícia de choque edispersou a manifestação, gás lacrimogêneo,cacetetes, gritos, correria. E pudemos ir dormir.Quando acordei, lembrei e fiquei estarrecidocomigo mesmo. Saí do exército, pra comoçãogeral na família.

Meu pai e minha mãe se aposentaram,meu pai foi trabalhar na Eletrobrás do EspíritoSanto, e eu conheci o estado onde nasci. Ali,fui corretor de imóveis, mergulhador (capturae criação de lagostas), surfista, maconhófilo,capoeirista e estudante de direito. Nafaculdade, conheci os filósofos (ótimos) e

Crônicas de estradaPor: Eduardo Marinho

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Foto cedida pel

seus seguidores (péssimos). Ao ler Marx,disse “é isso!” Mas não durou muitotempo, os marxistas me deram no saco, eramuita certeza pra minha cabeça duvidosa.Além do mais, novamente uma hierarquiaridícula se fazia presente. Eu vinha de umano e meio de exército, tinha cortado umdobrado, vinha um bando de filhinhos demamãe que tinham tudo na mão e nuncatinham ficado por conta própria querendoexercer superioridade, talvez por sabermuito mais textos decorados e se suporemportadores da verdade. Eu desconhecia.Fiz algumas ações de sabotagem, corteiuns fios, pichei uns muros, contestei osistema daquela maneira lá. Me desentendicom o movimento estudantil, na épocacontrolado pelo PC do B (stalinista).Abracei o anarquismo, depois achei fraco,também, as pessoas eram superficiais.Pregavam, mas não viviam aquilo. Aí eume desliguei da escola, “não quero serdotô”, botei umas coisas na mochila(poucas) e fui experimentar o que é nãoter nada, fui procurar um sentido pra vida.E a família me baniu, e não era umametáfora. “Pode esquecer que teve família

um dia”, “você não faz mais parte da família”,“não nos procure para nada, em nenhumacircunstância”. Isso depois de passar por umpsicólogo, um psiquiatra e um padre, deúltima, pra me exorcizar (se eu não tavadesequilibrado, nem louco, só podia estarendemoniado). Foi um rompimento geral, nãosó pai e mãe, mas a família inteira. Eu tavacom 19 anos. E aí começou a história......continuando...Passei alguns anos só viajando, de cidadeem cidade, às vezes só na estrada, dormindonos acostamentos, sob as marquises dospostos de gasolina, em construções, casasabandonadas, ruínas. Quando tinha fome,pedia o que comer em casas, restaurantes,postos, onde tivesse, trocava em serviço oupedia simplesmente, pra seguir viagem.Andava sem dinheiro nenhum,tranqüilamente. Logo nos primeiros tempos,perdi os documentos (que ainda me davamalguma proteção contra as investidas dapolícia). Em seguida fui preso pela primeiravez. Acusação: vadiagem. Na verdade, tireiuma onda com uns PMs em Salvador, e elesnão gostaram. Como a geral não revelou nada,vadiagem foi o pretexto. Sagrada prisão. Tive

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que lavar um camburão e fiquei conhecendoo motorista (ou melhor, ele ficou meconhecendo), com quem eu insisti pra abrira caçapa. Queria lavar lá dentro, depois delavar toda a viatura. Ele não abriu, masachou a maior graça de eu fazer tantaquestão de lavar lá dentro.

Meses depois ele me salvou numageral de cana certa, eu carregava umasgramas pra uns gringos meus vizinhosesporádicos na ilha de Itaparica (estavamorando em Mar Grande). 50 gramas depreto, de “massa” ou “chá”, na Bahia daépoca. Fui parado por um camburão, denoite, no caminho do Pelourinho pro ele-vador Lacerda, canas nervosos, agressivos,iam iniciar uma geral, pelo jeito, minuciosa.De dentro do camburão escuro saiu a vozda salvação - “eu conheço esse cara!”, ageral parou e todos olharam pro motorista,sumido no breu da viatura - “conhece?- eele -”ele já lavou esse carro, é maluco mas égente boa”. Os caras me dispensaram e eunem pude agradecer com o entusiasmo doalívio. Eles podiam desconfiar...

Na Bahia, também, eu descobri queprimeiro cê ouve o zumbido, depois o tiro,numa carreira desabalada ladeira abaixo, emoutro “avião”. Dessa vez os PMs tavam apé, e os tiros foram um estímulo tão grandeque eles me perderam de vista em seguida,pois eu saí voando. Eu já tinha uma filha,Brisa do Outono, que nascera numapassagem em Vitória. Depois dessa, pareide fazer avião. Tive outra filha nessa época,Adhara, ainda na Bahia, quando morava naaldeia de Arembepe, numa casa toda depalha, minha primeira casa própria, onde vividois anos, ao norte de Salvador. Depois,morei na Boca do Rio, ainda em Salvador,durante uns seis meses ainda, de onde saípor falta de pagamento das contas, mas sódepois de ficar sem água nem luz. Pegamosa estrada e viemos descendo, pouco apouco, até chegar no Rio, em 85/6. Morei

em Saquarema, num sítio de um alemão daLufthansa que só tinha latinoamericanosde língua espanhola. Depois passei umtempo nas ruas do Rio, morei numaocupação em Jacarepaguá, depois emPetrópolis, onde perdi o pouco que tinhana enchente de 87 pra 88, e fui prumacomunidade alternativa em Montes Claros,MG, já durante a gravidez de Ravi.

Partimos quatro meses depois epassamos por muitas cidades, até chegarem Sete Lagoas. Ali, ficamos hospedadosno Hotel Vitória, por um mês, a convite,sem pagar. Dali fomos a uma cidadezinhasatélite de Sete Lagoas, Prudente deMorais, onde moramos por 4 anos (nãohavia morado tanto tempo num lugar só,ainda). Aí me separei e fiquei com trêscrianças, sem a mãe, por escolha delas. Fuipra Visconde de Mauá e me escondi nomato, saindo pra vender minhas coisas ebancar as pequenas despesas que tinha.As crianças foram crescendo, eu casei denovo (com uma cearence que hoje é juíza emudou o nome do filho que nós tivemos,de Manu Moreno pra Emanuel) e mudei proRio, desta vez pra um apartamento emCopacabana, um conjugado. Ela medispensou e voltou pras suas “regalias”de família rica, cansada da minha pobrezamaterial, queria babá, creche, empregada, eme deixou no fundo do poço, de onde eutirei aquela frase (que vendo até hoje),“quem chega ao fundo do poço, precisalembrar que o fundo é o melhor lugar dopoço, pra se tomar impulso”. Morei emSanta Teresa um ano e depois, meestabeleci em Santa Rosa, onde moro atéhoje. Aí, já fazendo desenhos a nanquim,pintura a óleo, cenários pra teatro, semprefocado em esclarecer, sensibilizar,questionar, conscientizar.

E estamos aí.

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Mário era mais um novo detento nocomplexo carcerário de Juiz de Fora. Estavareceoso, pois seria sua primeira noite nacadeia e já tinha ouvido várias estóriassobre a vida no cárcere. Sua cabeça estavaperdida com idéias vagas, sobre quandodescobrissem o que o levou até ali. Máriotinha medo de virar bonequinha nas mãosdos predadores. Mas, uma coisa era certa efizera desde que entrou: humildade,solidariedade e respeito aos mais antigosdo pedaço. “Cagueta, Jack, nen talarico eunun sou!” Pensava acuado em seu canto.

O calor infernal aumentava odesconforto causado pela superlotação.Não havia mais nada para passar o tempo.O último estuprador que fora lançado nacela já tinha morrido. Assim não dava maispara aguentar. O frente do pedaçoencostou-se às grades e chamou:

- Ô carcereiro.- O que você quer rapaz?- Tá um calor do caralho aqui. Já tem

preso passando mal.- O ar condicionado chega semana

que vem. - Disse o carcereiro em tomirônico.

“Putz... o que fazer agora?” pensavao frente.

- Alguém tem alguma coisa pra lernessa porra.

Mário estremeceu, percebendo queao perguntar, os olhos do frente pararamnele.

- E você aí rapaz. Desde que chegouenrolou, enrolou e não disse por que veioparar aqui.

Mário mudou de cor tentandobalbuciar alguma coisa que não saiu. Ofrente chegou perto e pôs os braços emvolta do pescoço do novato.

- Seguinte. Tô vendo que boa coisa não foi,mas vou dar oportunidade de não precisarcontar sua história. O carcereiro está muitofolgado e a situação no pavilhão já estáinsuportável. Na hora do banho de sol, vocêvai esfaquear o filho da puta e a gente vaitomar conta do lugar.

“Vou ter que assinar o 121, pracolocar banca na cadeia... Nun seria melhoreu contar minha historia... E se eles nãoentendesse?”

- Truta, tem alguma coisa pra fumar?cabeça tá “milhão”. - Perguntou um ma-grinho do canto.

- Bola o baseado. Pô... Mas comovocês têm isso aqui?

- Tá querendo saber demais. - Res-mungou o barrigudo encostado na parede.

- Que artigo é o seu, ô sacana? –perguntou o preso da cela da frente.

Der repente ele sentiu a mão dofrente tocar na sua enquanto dava umapuxada no baseado.

- Segura a faca aí figura. Não olhanão. Continua normal. Passa o baseado quetá rolando na de um. Pega a faca disfarçadoe coloca malocada por aí.. Disfarçado. Agoraé com você. Não tem como correr.

- Ô rapá. Tá ouvindo a perguntanão? Qual seu artigo porra?

- Não interessa. - Gritou o frente. - Ofigura aqui ta fechado comigo. Quemaporrinhar ele, tem de conversar comigo.

Mário aproveitou o momento emque todos olhavam para o frente e malocoua faca. O frente voltou a se aproximar dele.

- Mas agora rapá... Só decuriosidade.... Que merda que você fez? Falasó para mim. Não precisa esquentar que nãovai sair daqui. Nosso trato tá de pé.

Pior do que estava não podia ficar.

Por Fabio da Silva Barbosa e Evandro Santos Pinheiro

A Pergunta

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Quando o dia amanhecesse as portas seabririam para o banho de sol. Aí... Aí ninguémsabia o que iria acontecer quandoesfaqueasse o carcereiro. Mário respiroufundo e começou sua história.................................................................................................................................................................

- Sai, sai... - Gritava o carcereiro paraque todos evacuassem as celas.Mário foi o ultimo a sair. O coração prestes apular pela boca. Quando, no calor forte daemoção, desferiu um único golpe na barrigado agente do estado. A gritaria, o quebra-quebra geral, algazarra desenfreada... Osdetentos atearam fogo nos colchões. Márionão imaginava que sua atitude poderiacausar um transtorno daquele. Em tudo quese metia dava errado. “Até na cadeia”.Pensava. A rebelião tomou conta do presídio.Acertos de contas, tomada do poder... Tudoacontecendo ao mesmo tempo. A políciacercou o local. Começaram as negociações.Ânimos cada vez mais exaltados. Máriotentou se esconder em um canto.

- Tá escondido aí né. Agora o frentenão tá aqui para te ajudar. Vou te ensinar aresponder com educação quando fazem umapergunta.

Era o preso da cela da frente. Máriolevantou os braços. Pediu calma. Disse quecontaria o que ele quisesse saber. Mas agoraele não queria saber mais nada. Com umabarra de ferro nas mãos o preso avançou atoda velocidade. Mário só sentiu a primeirapancada. A sequência foi só para divertir oagressor.

Algumas horas depois a polícia játinha invadido. Vários corpos seamontoavam por toda a parte. O frente estavade cara no chão, junto com outrossobreviventes. Pelo canto do olho tentavaencontrar Mário. No dia seguinte soube doocorrido. Um cara que tinha roubado umalata de ervilha no mercado havia sido mortoa pancadas por não ter respondido apergunta.

Vozes caladas

entorpecidas pelas mentiras

Vidradas em conceitos falsos

criados por elites criadas

para manter tudo como está

Quem sabe mais do que?

Quem tem mais o que?

Vote no opressor

Quem vai dominar?

Quem vai explorar?

É mais fácil teorizar

Agir é para quem sabe

que a ação é tudo que temos

A verdade é sempre questionável

Ação direta a todo vapor

Errar é melhor que se conformar

Não podemos nos adaptar

Toda ação

Reação

Pelo eterno transformar

Em tempo: Quer conhecer alguém? Olhealém das palavras e observe o que ele faz.

PráxisPor Fabio da Silva Barbosa

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Propostas para uma novasociedade

Toda pessoa pública deve ter suavida publicada, na íntegra. Contas ban-cárias, propriedades, opiniões sobre todosos temas que interessem à coletividade,movimentações financeiras, rendas, tudo,tudo deve estar acessível a quem quer quequeira saber. Quem quer privacidade, nãose candidate a cargo público eletivo.

Além disso, o representante do povonão pode ganhar mais que seu patrão, ouseja, o povo, em sua maioria. Salário mínimo,garantidas as condições para trabalhar comeficiência. A pessoa pública e seus depen-dentes devem se utilizar apenas dos ser-viços públicos, ensino, saúde, transportes,serviços jurídicos, para vivenciar a realidadeda maioria. Nada de planos de saúde, deescolas particulares, até a segunda geração.

As campanhas eleitorais devem serfinanciadas com dinheiro público em igualmontante para todos os candidatos, sempreo mínimo necessário para que sejam conhe-cidas suas propostas. Em caso de descum-primento destas ou de alguma delas, a cas-sação do mandato pode ser automática, mo-vida por uma corregedoria eleitoral, a pedidode entidades representativas das coletivida-des. Mesmo qualquer indivíduo pode darentrada num pedido de exame de mandato,na corregedoria, que deve ter um prazo míni-mo para responder, digamos, uma semana.

Por: Eduardo Marinho

MáscarasPor Fabio da Silva Barbosa e Evandro dosSantos Pinheiro

Estava voando em seu carro a milpor hora. O expediente havia terminado e aorla de Copacabana o chamava. Iria começarsua parte predileta do dia. A escolha daparceira ideal para a noitada. Suas incríveisnoitadas entre quatro paredes. O momentoera único, como todo momento. Mas,naquele dia, já despojado do casaco damoralidade, sua mente fabricava constantesfantasias. Luzes, espetáculos, futebol...Nada mais o interessava. Estava vidradonaquilo.

As garotas começaram a aparecerreluzentes pelos calçadões, mas não era issoque ele queria. Era outro tipo de garota. Umtipo especial. “Pronto!” Elas ficavam poressa parte. Travestis e transexuais seexibiam, mostrando todo o prazer que elepoderia ter se fizesse a escolha certa.“Pronto!” Ali estava ela. Luci Estrela, suagrande paixão. Nem a esposa, ou a amanteo excitava tanto. “Merda!” Um carro o haviacortado. “Essa não! Só faltava...” O canalhapassou a frente e parou bem no ponto parafalar com sua Estrela. Passou peloadversário e olhou pelo retrovisor.Diminuindo a velocidade fizera o retorno.

- Ahhh!!!- Respirava aliviado. Ocanalha que havia passado a frente... Haviasó passado.

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Fala RaulIlustração: Eduardo MarinhoFrases: Raul Seixas “Ninguém tem o direito de me julgar, a não

ser eu mesmo.”

“Vivo a viver a vida, no segundo e noinstante, prefiro ser essa metamorfoseambulante, do que ter aquela velhaopinião formada sobre tudo.”

“Não que me sinta sozinho, quandocaminho por entre toda essa gente, decabeça baixa.Lastimo e é só.As ruas se desfazem, quando ocaminho pra frente é percorrido. Nãohá mais retorno.Uns há que ficam, são tantos...Quero a mão dos que prosseguem.Quero a certeza dos loucos que brilham,pois se o louco persistir na sua loucura,acabará sábio.”

“O que falta é cultura pra cuspir naestrutura.”

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A feição mudou com um sorriso,parecendo criança que acabara de ganharo brinquedo que tanto desejava. Seta pa-ra direita, acenou para aquela que seriasua acompanhante da noite. Ao se apro-ximar, como costumava fazer, combinouo preço e pediu que entrasse. Ela entrou.Pegou a direção do Motel. Quando viu jáestavam no quarto. Tirou a roupa e mos-trou a cueca com a bandeira do Brasil.

Da alta sociedade, Dimitri, secomportava sem expressão, fechado,controlando seus movimentos, sua voze suas vontades. O sexo pago era a formade se satisfazer sem ter compromisso.

Achava menos arriscado. Preso no armário damoral, dos bons costumes... Da vida que nãoqueria pra si, mas que impuseram e acaboupor aceitar.

Após trocas de carícias, com o pênis jálubrificado, o travesti pediu que ele ficasse dequatro, como já estava acostumado ser a posi-ção predileta de seu cliente. Após horas decoitos e sexo selvagem, Dimitri volta para casa,onde chegaria reclamando da reunião ente-diante que tivera depois do expediente. Ama-nhã estaria cedo no escritório, pronto paraconversar com senhores tão moralistas quantoele. Afinal, a tradição era muito apreciada emseu círculo de amizades.

“Não sou músico. Uso a música para dizer o que penso.”

“Na casa da ignorância não há espelho no qual se possa ver a alma.”

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Vítimas da Síndrome Biguebrodiana-novelesco-futebolística, exultai! ChegouBabador-Invisível (super absorvente) epapel higiênico mental.

ClassificadosRede de Pizzarias “Leva em Casa” - contra-ta revolucionários que tenham comoobjetivo conduzir as massas. É preciso se-parar por rebanhos de diferentes “istas”,para não atrapalhar o serviço com discus-sões intermináveis e infrutíferas. Garan-timos massas de qualidade para seremconduzidas.

Centro de Comunicação Popular - oferececurso de linguagem coloquial, para acadêmi-cos palestrantes que desejam falar com aclasse popular e desaprenderam, devido àprática compulsiva do academês. Necessárioexame prévio pois, em alguns casos, é impres-cindível passar pela terapia de desintoxicaçãomental e espiritual. Para isso há a...Clínica de Desintoxicação Etérica - recuperepelo menos parte da sua autonomia in-dividual.

Curso Intensivo de Humildade -Para“ólogos”, “istas”, doutores, mestres,PHDs e outras divindades. Para humanizaras divindades mortais.

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