PENTAGRAMA - EM BUSCA DO SANTO GRAAL (Edição Especial)
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Em Busca do Graal Sagrado
EM BUSCA DO
SANTO GRAAL
INÚMEROS SÃO OS QUE
PROCURAM O GRAAL
NO MUNDO
O GRAAL CÉLTICO E A
SAGA DE ARTUR
PRESENÇA DO GRAAL
EM CADA UM
PARSIFAL – O CAMINHO
DO PESQUISADOR
OS CÁTAROS NO
CAMINHO DO SANTO
GRAAL
ORIGEM E SIGNIFICADO
DAS LENDAS DO GRAAL
A VIAGEM DO ORIENTE
AO OCIDENTE
O LIVRO DOS REIS DA
PÉRSIA ANTIGA
KITESJ, SÍMBOLO DE UM
COSMO INVIOLADO
PENTAGRAMAR e v i s ta d o Lectorium Rosicrucianum e d i ç ã o e s p ec ial
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Í N D I C E
02 E M B U S C A D O
SA N T O G R A A L
03 I N Ú M E R O S S Ã O O S
Q U E PRO C U RA M O G R A A L
N O M U N D O
06 O G R A A L C ÉLT I C O E A
SA G A D E A R T U R
11 PR ESE N Ç A D O G R A A L
E M C A DA U M
12 PA RSI F A L – O C AM I N H O
D O PES Q U IS A D O R
18 O S C Á T A R O S N O C AMI N H O
D O SA N T O G R A A L
24 O RI G E M E SI G N I F I C A D O
DAS L E N D AS D O G R A A L
29 A V I A G EM D O O R I E N T E
AO O C I D E N T E
32 O L IV RO D O S R E IS DA
PÉRSI A A N TI G A
39 K I T ESJ, SÍ M B O L O D E U M
C O SM O I N VI O LA D O
E D I Ç Ã O ESP E C I A L
D I A P ORTA S A BERTAS
C E N TRO D E C O N F E R Ê N C I A S
PE D R A A N G U L A R , JA R I N U
24 D E O U T UBRO D E 2004
PENTAGRAMA
Tema deste número:
Em busca do
Santo Graal
Muitos grupos orientados espiritualmente utilizam,
em seus emblemas, o sí mbolo do Graal. O Graal está
na moda. Ele é cada vez mais conhecido e procurado, da
mesma f orma como na Idade Média. Suas lendas eram,
então, a f orma pela qual uma mensagem secular
seria outra vez transmitida à humanidade.
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Em busca do Santo Graal
A bus c a d o G r aa l é um t e ma s e m- p r e a t ua l. É um s í mb olo uni v e r s a l d a bus c a d a v e r d a d e : a v e r d a d e
e t e r na que s e a p r e s e nt a qua nd o o
s e r huma no a l c a nç a o li mi t e d e s ua s po ss i b ili d a d e s . Foi a ss i m na I d a d e
M é d i a , e c o nt i nua a ss i m a i nd a hoje.
M a s ne ss e meio t e m po, a huma ni -d a d e – e c a d a i nd i v í duo – e v ol ui u.
P a r a o b e m o u p a r a o ma l, p a r a o
a l t o, p a r a uma ele v a ç ã o a o E s pí r i t o
d i v i no, o u p a r a b a ixo, d e s c e nd o
s e m p r e ma i s no a b i s mo d a ma t é r i a .
ada época recebe novas possibili-dades que lhe são específicas. Frontei-r
as clar
as devem encerr
ar
o passado. Enão teria nenhum sentido querer atra-vessar de novo essas f ronteiras unica-mente para procurar, no passado, ele-mentos ainda ho je válidos. A verdadepermanece sempre a mesma, embora,a cada segundo, ela se apresente demodo novo, diferente. E o ser huma-no é, sempre de novo, convidado a co-laborar com esse processo de renova-ção, como participante consciente da
Criação.Assim também o Graal, em nossos
dias, não é o mesmo Graal dos séculospassados. E f uturamente ele tambémnão será o mesmo que é agora. Massua essência não muda e somente ela
pode auxiliar o pesquisador a dar mais
um passo no seu caminho. Os contosdo Graal são uns mais lindos que os
outros, cativantes e simbolicamente
pur
os. Mas nenhum pode fazer
o pes-quisador progredir se este não desco-brir e não compreender interiormentesua mensagem para realizá-la em sua
própria vida.
Por isso, este número sobre a buscado Santo Graal não é um relato histó-rico, mas, sim, o testemunho cons-ciente e autêntico do caminho que de-ve, de fato, ser seguido para a conquis-ta do Santo Graal, a taça que podetransmitir o Amor divino, transmuta-
do em uma Força apropriada para in-dicar e iluminar o caminho de cada
pesquisador.Assim, aqueles que participaram da
elaboração deste número não hauri-ram somente das riquezas do passado,mas voltaram-se principalmente para
o f uturo glorioso que se abre para a
humanidade nos tempos presentes.Esperamos que estes textos, traba-
lhados a part
ir
das alocuções pr
onun-
ciadas por ocasião do simpósio sobreo Graal, acontecido em 24 de maio de2001, no Centro de ConferênciasChristianopolis, em Birnbach, na Ale-manha, permitam ao leitor aprof undarsua compreensão sobre o mistério doGraal.
A Redação
C
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Inúmeros são os que procuram o Graal
no mundo
As le nd a s b e m c o nhe c i d a s d o G r aa l s ó d ã o uma pe que na i d éi a d a i me ns a i nfl uê nc i a d a me ns a ge m
que t r a ns mi t i a m. E l a s a p r e s e nt a -v a m um c a mi nho e s pi r i t ua l que
c o ns e r v o u t o d a a s ua i m po r t â nc i a p a r a o ho me m d e hoje. A fo nt e
d e ss a me ns a ge m é a G no s i s , a v e r -d a d e uni v e r s a l, pe r c e b i d a e t r a ns -mi t i d a s o b a fo r ma d e uma v i d a c o nc r e t a e r ege ne r a d o r a .
busca do Graal não é, portanto,
uma ficção, e muito menos o relato de
acontecimentos sobre os quais pode-mos discutir científica ou filosofica-
mente. T
r
ata-se de uma p
r
ática de vidaadotada de f orma direta e radical pelo
pesquisador a caminho para a verdade
vivente. Para conceber um pouco agrandiosidade desse impulso, aomesmo tempo secular e tão atual, estecaminho deve compreender a mensa-gem libertadora oculta em cada feitoheróico dos cavaleiros do passado.Esses acontecimentos apresentam doisaspectos, duas dimensões: por umlado, um aspecto humano transmitidopelas aventuras pitorescas dos cavalei-ros; por outro lado, a dimensão divinaalcançada após a execução desses atos
heróicos. O aspecto humano aparece
diretamente na luta contra o orgulho,
a tolice e o escândalo da ignorânciacom referência à vida superior. Estessão os inimigos característicos daque-les que partem em busca interior do
Castelo do Gr
aal.Parsifal consegue vencer seusadversários com o auxílio da f orçainterior que lhe é sempre concedida.Mas, apesar de sua coragem e de sua
genialidade, ele ainda não pode encon-trar a Luz. Ele é levado pela inquietu-de e pela agitação provocadas por seu
desejo do Graal. Mas sua vitória sobreo Cavaleiro Vermelho lhe dá o poder
de penetrar no castelo do rei Artur.Podemos considerar o CavaleiroVermelho como a alma natural, intei-
O Graal, fonte
de vida. O cervo
simboliza a alma
sedenta, os pavões,
o homem dialético
que a água Viva
dessedenta. Baixo
relevo de pedra,
Itália, século IX ou X
d.C. Staatmuseum,
Berlim.
A
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ramente devotada à vida terrestre.Para o pesquisador autêntico, ela é oprimeiro obstáculo a ser superado seele quer alcançar a vida superior daalma. Seu caráter e o meio no qual elevive, portanto sua herança sanguí nea,são igualmente obstáculos a serem
vencidos, o que implica num processode purificação da alma que se preparapara o encontro com o Espí rito.
Herança coletiva da
humanidade
Esse conflito interior acontece en-tre o consciente e o subconsciente. Osubconsciente contém, em si, as f orças
que se desenvolveram quando ohomem se separou da ordem divina
original. Essas antigas e poderosas
concentrações de f orça continuam aser mantidas. Elas f ormam a herançacoletiva da humanidade, toda a sua
história. Ao mesmo tempo, elas f or-mam a herança individual das vidaspassadas de cada personalidade, assim
como da estrutura da personalidadeatual. Esses são os inimigos e os obs-táculos que Parsifal deve vencer du-rante sua busca do Graal. Ele não sedeixa deter por essas f orças. Ele possuia f orça interior sob a f orma de umaespada que se torna cada vez maisf orte e cortante à medida que ele pro-gride. Essa espada é uma arma espiri-tual, o auxílio indispensável para
todos aqueles que quer
em acer
tar
suaconta com os demônios do mundosubterrâneo do subconsciente.
O Castelo do Graal não é, pois, parao pesquisador, alguma f ortaleza em
ruí na nos Pireneus. Essas testemunhas
do passado podem estimulá-lo f orte-mente, mas essa não é a finalidade desua viagem. O Castelo do Graal edifi-cado pelo homem atual é um campoenergético regenerador, mantido poruma comunidade de almas que aspi-
ram crescer e se elevar. Esse SantoGraal é constituí do e sustentado porhomens que vivem sobre a terra, que
descobriram o Graal por meio de seucombate e purificação interiores. EsseGraal vivente contém a energia salva-dora do Cristo Cósmico e se derramasobre a humanidade. Quem entra emcontato com essa f orça recebê-la-ácom grande alegria edesejará dar teste-munho dela. Mas é preciso tambémassimilá-la. Essa é a espada com a qualParsifal combate, o gládio mencionadopor Jesus quando disse em Mat.10:34:
E u nã o v i m t r az e r a p az , ma s a e s p a d a .Essa espada tem o poder, a f orça, deseparar o puro do impuro.O Parsifal moderno segue o cami-
nho de sua libertação interior no seiode um grupo comparável à TávolaRedonda da corte do rei Artur. Essa
Távola Redonda, essa comunidade depessoas com a mesma orientação, tema tarefa de se preparar para f ormar
uma taça, um Graal, um vaso, umacratera, a fim de aí receber as f orças
divinas e de transmiti-las a todos os
que o desejarem.
Purif icação interior
da alm
a
No mundo existem inumeráveisbuscadores do Graal. Em todos os
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domí nios, todos os campos de pesqui-sa e em todos os níveis encontram-se
pessoas com essa preocupação, cons-ciente ou não. Enquanto esse processose desenrola de f orma inconsciente,eles contestam mutuamente suas des-cobertas e combatem em vão o Cava-
leiro Vermelho. Mas assim que, comoParsifal, seu desejo interior os leva a sevoltarem para seu próximo, eles to-mam consciência de seu combate, oqual se transf orma, então, numa puri-ficação e numa preparação interior daalma. E por suas palavras, escritos eações, eles testemunham do auxílio e
da consolação que constantementesentem enquanto mantêm o Graal emmira. É que o Graal, que é a sua fina-lidade, já os sustenta e os alimenta hámuito tempo.Enquanto a alma participa das
dores e lutas terrestres, é impossívelao buscador distinguir o Graal como aúnica finalidade da vida: seu podersensorial está danificado demais. Eis
porque a antiga estrutura da alma deve
ser transf ormada em uma nova, capazde ser alimentada pela f orça regenera-
dora e, com isso, reagir de maneiracorreta. Se f or este o caso, o que pode-ria ainda prejudicá-la? A morte? Ela
venceu todos os aspectos da morte – avida cotidiana inconsciente. Portanto,
o Graal é o mistério da alma renovadaa caminho para a eternidade.
Eis uma das razões pelas quais os
processos do Graal f oram descritos,no passado, em linguagem simbólica
tão color
ida. Aqueles que fizer
am essaexperiência o compreenderam. Para os
outros, eram as maravilhosas históriasque alimentavam seu desejo de umavida melhor, de uma vida superior.
Aqueles que buscam o Graal devempenetrar em seu f oro interior. É lá quecomeça a viagem e em nenhum outrolugar. O ponto de partida é um grande
desejo de penetrar o mistério da trans-f ormação da alma. Porque a consola-ção que emana do Graal dá ao peregri-
no a alegria de um saber autêntico,crescente, que é designado comoGnosis. Bem antes de poder ser umguardião do Graal, o buscador já estáligado a ele; ele experimenta e tambémsabe que sua busca seguirá um longocaminho, doloroso e, por momentos,
precário.O Graal, como mistério de inicia-
ção, está agora tão vivo como na IdadeMédia, quando esse conhecimento,
por volta do ano 1200, f oi traduzidoem narrativas pitorescas. Algumas
delas são abordadas nesta Penta-grama. Na nossa época, esse mistérioé explicado de f orma diferente porqueé pelo poder mental que a buscacomeça. Entretanto, o Graal só revela
seus segredos àqueles que estão pron-tos, de todo o seu coração, a suportaras conseqüências de seu encontro com
essa f orça regeneradora. Quem querseguir o caminho sempre pode encon-trar o Graal. Este pro jeta suas raí zesf ora do tempo e, com uma paciênciainfinita, chama todas as almas e as leva
de volta à vida eterna.
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Artur retira a
espada da pedra.
Victoria & Albert
Museum, Londres.
O s c el t a s e s t ã o na o r ige m d a s le n-d a s d o G r aa l na E ur op a . E le s nã o
t i nha m uma v e r d a d ei r a e s t r ut ur a e s t a t a l, ma s fo r ma v a m uma s o c ie -d a d e d i r igi d a pelo s d r ui d a s , que
t r a ns mi t i a m s e u e ns i na me nt o a o
po v o s o b a fo r ma d e c o nt o s o u d e
c a nt o s .
cidade de Carnutum (atualmenteChartres) é considerada como o maisimportante local de reunião dos drui-das. Na floresta circundante encontra-va-se uma gruta onde eles guardavama representação da Vi r go p a r i t ur a , avirgem parturiente. Lá eles aguarda-
vam o nascimento daquele que «des
-ceria no abismo para sair dele vence-dor». A Bretanha, a Irlanda, o País de
Gales e a Escócia conservam ainda nu-merosos traços dessa cultura religiosa.A mitologia celta f oi tema de um
texto intitulado O s M ab i nogio n. Tra-ta-se de uma espécie de Graal: um cal-deirão que servia de instrumento ini-
ciático. Na realidade, havia dois cal-deirões: o do renascimento e o doaperfeiçoamento. Dizia-se que o heróimorto em combate retornava à vidaimergindo no primeiro. O segundoestava cheio do alimento de que o he-rói renascido precisaria para progre-
dir. Mas ele estava vazio para quemdele se aproximasse sem ter vivido def orma heróica.
O Caldeirão de Ceridwen
Ceridwen era a deusa-mãe celta. Elapossuía um caldeirão no qual prepara-va
uma
beb
eragem qu
epod
eriapr
o-
vocar renascimento ou metamorf ose.
Um jovem que bebesse uma gota des-ta beberagem conheceria todos os se-gredos e renasceria, após uma série demetamorf oses, sob a f orma do GrandeDruida e Bardo Taliesin – a princí pio,
na qualidade de aluno de Merlin; emseguida, ele mesmo seria chamado deMerlin. Taliesin significa f ronte irra-diante. O caldeirão e a taça são sí mbo-los femininos e representam o princí -pio receptor; a lança e a espada sãosí mbolos da f orça masculina.
As cruzes solares celtas
A cruz celta combina aspectos docristianismo oriental e da sabedoria
dr
uí dica ocidental. Não é somente umsí mbolo do corpo físico, mas tambémdo encontro entre matéria e Espí rito.Freqüentemente, encontra-se, no meiodessa cruz, uma roda solar ou a repre-
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O Graal céltico e a saga de Artur
A
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sentação de um movimento rotativosimbolizado por três sinais semelhan-tes ligados uns aos outros por um cen-tro comum. A cruz é também o sí m-bolo do homem em pé, os braços es-tendidos e os pés firmes no chão. Nocruzamento das duas hastes, o sol en-globa a cabeça e o coração, imagem dohomem regenerado pelo Espí rito divi-no. A ligação da corrente oriental e datradição druí dica gerou o cristianismocelta e os contos da Távola Redonda
do rei Artur.Merlin era o grande iniciado nos
Mistérios druí dicos, e, assim sendo,
possuía o dom de profecia. E, uma vez
que, segundo a lenda, ele tinha acessoa todas as esferas de vida, criou condi-ções para que Artur viesse ao mundoem Tintagel, um castelo que ficava nacosta da Cornualha, no sudoeste da
Inglaterra. Merlin havia feito um acor-do com o rei Uther Pendragon: levaria
o jovem prí ncipe para educá-lo emlugar seguro. Quando Uther Pendra-gon morreu, houve uma controvérsiasobre sua descendência, pois ninguém
sabia que ele tinha um filho. Na noitede Natal apareceu, na praça do merca-do, uma pedra na qual estava cravadauma espada. Uma inscrição em letras
de f ogo indicava que aquele que pu-desse retirar a espada da pedra tornar-se-ia o rei da Inglaterra. Muitos cava-leiros tentaram em vão, e, finalmente,f oi o jovem Artur quem conseguiu re-tirar a espada, sem dificuldade. Dessa
f or
ma, ele pr
ovou sua linhagem e suavocação.Segundo a lenda, Merlin, que o ha-
via assim entronizado, tornou-se seuconselheiro, e juntos estabeleceram
Galaad se junta à
Távola Redonda e
ocupa o lugar vazio.
Itália, por volta de
1390.
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paz e prosperidade no país. Então, oGraal f oi introduzido na Inglaterra e oRei pescador deu instruções a Merlinpara que instituísse uma Távola Re-donda. Uther Pendragon lhe pedira
para transmitir essa herança ao seufilho Artur, que estaria apto a realizar
essa tarefa. Ele criaria uma nova f ra-ternidade na qual se reuniriam todosos que combatessem o mal com suas
palavras e seus atos. Merlin deu a Ar-tur a espada mágica Excalibur tendoem vista a boa causa.O portador dessa
espada – oferecida pela Dama do Lago– era invencível.Ao lado de um rei vencedor o povo
desejava também uma rainha. Essamulher, Guinevere, trouxe infelicida-de para a f raternidade dos nobres ca-valeiros, por causa dos problemas quesurgiram devido a suas relações comLancelot, o melhor amigo do rei. Ar-tur não reagiu nem com ciúmes, nem
com ódio ou cóler
a, mas sim comcompreensão. Ele também teve difi-culdades com seu filho adulterinochamado Mordred, que se tornou seupior inimigo. Uma de suas meio-ir-
mãs, a fada Morgana, tentou aniquilara Távola Redonda, mas esbarrou na
elevada ética dos cavaleiros e, princi-palmente, com Galaad, que não se dei-xou influenciar.
8
O Caldeirão
de Gundestrup,
recoberto de
prata. Dinamarca,
século I ou II a.C.
National Museum,
Copenhague.
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«É preciso que vás embora»
Quando Merlin levou Galaad à Tá-vola Redonda, este tomou lugar, semdificuldade, na décima terceira cadei-ra, a cadeira perigosa, e seu nome apa-receu em letras luminosas sobre o es-paldar. Era o cavaleiro que todos espe-ravam há muito tempo. No mesmoinstante, alguns an jos trouxeram oGraal, que ofereceu deliciosos man ja-res a cada um deles.Os cavaleiros fica-ram tão tocados que decidiram partirem busca do Graal, que desapareceude suas vistas. Somente o rei Arturpermaneceu em Camelot. Comoadeus, o cavaleiro Gawain disse a Ga-laad: É p r e c i s o que v á s e mb o r a , poi s
nã o é s d o s no ss o s . Merlin também nãoos acompanhou, pois ele havia termi-nado sua tarefa e retirou-se da TávolaRedonda.
Em seguida, o r
ei Ar
tur
teve de lu-tar contra seu próprio filho.Na véspe-ra do combate, seus conselheiros, quehaviam consultado os astros, disse-ram-lhe que não saísse de sua tenda no
dia seguinte. À noite, o rei sonhou queestava acorrentado à roda do destino,
que a deusa da Fortuna girava.Na pri-meira volta da roda, ele encontrou-se
no alto, como rei; na volta seguinte, na
parte de baixo da roda, ele tinha setornado um mendigo. Então, compre-endeu a lei inflexível da reencarnação.Ele percorreu sua vida num relance e
descobriu a relatividade dos desejos
de bondade e de perfeição terrestres.No dia seguinte, depois de ter ad-
quirido esta compreensão, ele f oi lutarcontra seu filho. Os dois infligiramferimentos mortais um ao outro.Mordred morreu e Artur pediu a seuamigo que o levasse até um lago vizi-nho. Lá ele devolveu Excalibur à Da-ma do Lago. Depois, uma nave comnove mulheres levou o rei à ilha decristal, Avalon, para cuidar dele e pre-pará-lo para seu retorno, quando f os-se a hora. Ar t ur é o r ei! Ago r a e p a r a
s e m p r
e! A busca do Graal continuou, em-bora numerosos cavaleiros tenhamperdido a vida ou se perdido. No en-tanto, três cavaleiros encontraram o
Galaad encontra
o Graal.Tapeçaria
de Burne-Jones,
executada porWilliam Morris,
Birmingham City
Museum & Art
Gallery.
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Cálice Sagrado
: Boho
r, Parsifal e Ga-laad. Mas apenas um pôde aproximar-se dele. E a lenda relata: D epoi s d i ss o,o G r aa l d e s a p a r e c e u d o mund o.
A Távola Redonda continua
atual
Quem não se senteria tocado pela
nobreza, valentia e tragédia dessa ma-ravilhosa história? «Eram heróis, Ar-tur, Lancelot, Parsifal e Galaad. E es-tão vivos ainda ho je!» Há séculos ohomem é criado com a idéia de que overdadeiro herói é um personagem ex-terior a ele mesmo, de modo que, de-pois de uma história tão bonita, ele re-torna tranqüilamente à mediocridade
de sua vida cotidiana: comer, beber,
dor
mir
, e talvez, dur
ante as fér
ias, visi-tar Tintagel, para ver se ainda existealguma coisa por lá...E a mensagem do Graal em tudo
isso? Apesar de tudo, ela ressoa em ca-
da passagem da nobre lenda. É a pró-pria história da vida. Todos os aconte-cimentos dessa lenda representam a
busca dos ideais, assim como os esf or-ços, os desalentos, as descobertas e asdecepções da vida. O que buscamos
em nossos dias com nossas máquinasultra-rápidas, nossos aparelhos sofis-ticados e os produtos sintéticos? Sãoempreitadas muito parecidas com asdos cavaleiros que estavam em busca
do Graal. Alguns querem alcançar umideal elevado e ajudar o próximo; ou-tros querem conseguir um domí nioabsoluto sobre a natureza ou sobre os
povos. Assim, cada um traz, em si
mesmo, os diferentes aspectos da bus-ca: em cada um se esconde o rei Artur.Um bom rei não é um tirano, po-
rém assume conscientemente a res-ponsabilidade de todas as vidas con-fiadas à sua direção. Portanto, ele nãose aproveita de seus súditos para al-cançar seus próprios ob jetivos; ele nãoos explora. Na qualidade de verdadei-ro cavaleiro, ele não luta em interesse
próprio. Mas será que ainda existemcavaleiros como esses?Quem ainda pode ouvir a voz inte-
rior, sua consciência, por ela será ins-pirado a seguir o caminho correto.Noentanto, para ouvi-la, é preciso calma
e silêncio interiores. Ora, é escutandoessa voz que o cavaleiro andante podedescobrir e ver claramente qual é averdadeira finalidade de sua vida e,
por fim, alcançá-la.
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A busca do
Graal. Esboço de
Walter Map,
Bridgeman Art
Library, Londres
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Presença do Graal em cada um*
C e r t a me nt e c o nhe c ei s a le nd a d o
S a nt o G r aa l. E s t a a nt ig a le nd a c o nt a que o G r aa l é a t a ç a ut ili za -d a po r Je s us , o S e nho r , po r o c a s i ã o
d a S a nt a C ei a . D i z a le nd a que ne -l a Jo s é d e Ar i ma t éi a r e c ol he u o
s a ng ue d o c r uc ifi c a d o e, e m s eg ui -
d a , t o mo u o G r aa l s o b s ua p r o -t e ç ã o. M a i s t a r d e, s e us s uc e ss o r e s
t r a ns po r t a r a m o G r aa l p a r a o
O c i d e nt e, o nd e s e e nc o nt r a , a t é o
p r e s e nt e mo me nt o, g ua r d a d o e m
lo c a l o c ul t o.
sta lenda, que é profanada de todasas maneiras possíveis pelos místicos
par
a especulações emocionais, e queserviu de tema, na Idade Média, para
diversas obras poéticas por parte dos
imitadores místicos, em sua simplici-dade nos dá plenamente os valoresgnósticos de que necessitamos paracompreender o que é o Graal, comodeverá ser edificado ou onde podere-mos encontrá-lo.
Para penetrar neste mistério, cha-mamos primeiramente vossa atençãopara tudo o que já f oi considerado na
narrativa do Evangelho sobre o enviode Pedro e João para a preparação da
Santa Ceia. É o próprio aluno quemterá de preparar o Graal para que ele
possa, em seguida, ser utilizado porJesus, o Senhor.Anatomicamente, a taça do Graal é
indicada pelos três cí rculos plexiais jámencionados: o da laringe, o dos pul-mões e o do coração. A parte superiorda taça sagrada corresponde ao sis-tema da laringe; a haste da taça de
cristal está erigida nos pulmões e abase fica na cavidade cardíaca. A pos-
sibilidade par
a a confecção dessataçanupcial encontra-se, portanto, pre-
sente em todos os seres humanos.
* A G no s i s U ni v e r s a l , Jan van Rijckenborghe C atharose de Petr i, Lectorium Rosicru-cianum, São Paulo, 1985.
E
Armado com o
escudo da Fé e
acompanhado pelas
pombas do Espírito
Santo, um cavaleiro
parte para lutar
contra o mal.
Summa de vitiis,
Peraldus, 1240,
British Library,
Londres.
11
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A I d a d e M é d i a foi uma épo c a e m
que ho uv e g r a nd e a ng ús t i a na E ur op a . A I g r ej a p r o c ur a v a a ss e -g ur a r s ua s po s i ç õe s na s o c ie d a d e. A
li b e r d a d e d e exp r e ss ã o d e s a p a r e -c e u, a v i d a e s pi r i t ua l e nf r a que c e ue d epoi s s e ex t i ng ui u. O O c i d e nt e
pô s -s e e m ma r c ha c o nt r a o I s l ã .M a s a c i v ili za ç ã o d o O r ie nt e M é -d io c o nhe c e u um d e s e nv ol v i me nt o
mui t o ma io r d o que o O c i d e nt e, e
o s c r uza d o s le v a r a m um no v o
i m p ul s o c ul t ur a l p a r a c a s a .
Inquisição empreendeu a erradi-cação de toda renovação de vida espi-r
itual no seio dos dogmas já es
tabele
-cidos. Um renascimento espiritual
buscou, pois, seus próprios caminhos
para expressar-se e comunicar-se. Ahistória de Parsifal e de sua busca doGraal, tal como relatada, por exem-plo, por Chrétien de Troyes eWolf ram von Eschenbach, é uma ilus-tração disso. São, à primeira vista,romances de aventuras que evocam oheroísmo, a fé, a coragem e os amores
dos cavaleiros. Eles descrevem a bele-za e a virtude das damas amadas e as
provas que os cavaleiros devemsuportar por elas.Podemos também encontrar neles
um caminho de iniciação, velado, na-turalmente, mas perfeitamente deci-f rável com o auxílio de certas chaves.Foi assim que, sob imagens ricas e fa-bulosas, os bogomilos, os templários
e os cátar
os ocultar
am sua viventesabedoria antiga e conseguiram legá-la à posteridade.Embora Wolf ram von Eschenbach,
reconheça ter-se servido do romance
inacabado de Chrétien de Troyes,afirma tê-lo haurido de uma outraf onte. Ele dá como referência o magoKyot, um iniciado que havia desco-berto a lenda do Graal num velho ma-nuscrito, em Toledo. Esse manuscritoera obra do filósof o oriental Flegeta-
nis que havia lido nos astros algunsdados relativos ao Graal. «Uma mul-tidão de an jos o trouxe para a terra,
depois voou para as estrelas...» Kyotprocurou saber onde se encontravaessa preciosa dádiva do céu e isso olevou à linhagem dos Anschauwe (vi-sionários). Não se tratava de uma di-nastia existente, mas de uma raça deseres enobrecidos pela contemplação
espir
itual.Wolf ram von Eschenbach deu ou-
tra razão de não ter sido ele a origemda lenda do Graal. Ele afirmava nãoser um erudito, mas um cavaleiro que
não sabia ler nem escrever. Certa-mente não devemos considerar tal de-claração literalmente; mas isso mostrabem que se tratava de um homemmodesto, que pensava que sua imagi-nação, embora grande, era insuficien-
te para descrever o bem supremo.Com efeito, ele descreveu, usando umambiente da época, como a alma queaspira a Deus acaba f undindo-se comas f orças espirituais do Graal, apóssubmeter-se a muitas provas e purifi-cações. No presente, esse caminho étão significativo como o f oi outrora;entretanto, ele se adapta às possibili-dades e às limitações da humanidade
atual. Inter
pr
etado de f or
ma adequa-da e positiva, esse caminho simbólicoé capaz de esclarecer os desenvolvi-mentos e processos da própria vida
do leitor.
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Parsif al – o caminho do pesquisador
A
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O tolo ingênuo iluminado pelacompaixão
Wolf ram von Eschenbach descreveo caminho seguido por um homem
que, partindo de sua condição terrena,retorna para sua origem divina. Adão,em sua presunção, deixou de obedecer
a Deus. Desde então, a obediência é aúnica exigência que Deus impôs ao ser
humano para que ele possa ter acessoà imortalidade. Ass i m, d e s d e a ge r a ç ã o
d e Ad ã o, nó s s ó c o nhe c e mo s a fli ç ã o o ua leg r i a , é dessa maneira que o ascetaTrevrizent descreveu a existência hu-
mana. A alegr
ia, por
que Deus jamaisabandona suas criaturas; a aflição,
porque nós carregamos o fardo dopecado de Adão. Amf ortas, o ho-mem divino original, jaz mortalmente
doente, na cidadela do Graal, onde
aguarda sua libertação. Cada filho dohomem esconde em si um Amf ortas, ea cidadela do Graal, que o envolve, é osí mbolo do microcosmo. Ora, se opesquisador tem em si alguma remi-
niscência – isto é, a lembrança da con-dição do homem antes de sua su jeiçãoà vida e à morte – essa lembrança ointerpela; ele pode, então, tornar-seconsciente do caminho a percorrerpara encontrar o estado original e seuverdadeiro lugar na Criação.
Segundo uma certa profecia, so-mente um tolo ingênuo, iluminadopela compaixão, libertará o doente in-
cur
ável. Sua her
ança inter
ior
colocaParsifal no caminho. Seu pai, um va-lente cavaleiro, acumulou todas as ex-periências da vida terrena e sua mãe
personifica os sof rimentos da alma.
Artur e os
cavaleiros partem
em busca do Graal.
Manuscrito francês,
século XIII.
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Como missão, ela tem de dar a umacriança a oportunidade de reencontraro caminho do Graal, para que assimseja revelado o caminho da libertaçãoa todos os seres humanos. Em Parsifaltrabalham, portanto, a herança coleti-va das experiências da humanidade (opai), e o pressentimento de sua voca-ção divina (a mãe). Sua aparência detolo representa a percepção pura eingênua da alma: a educação de suamãe só se dirigia à sua alma. Mas esse
traço particular, no sentido exclusiva-mente literal, o faz cometer erros,além de provocar sof rimentos. Parsi-fal deve, portanto, aprender a distin-
guir entre comportamento terreno easpiração espiritual. Uma bela e en-cantadora mulher pode ser considera-da como a encarnação de uma alma
pura, mas também como um ser hu-mano.
O caminho do meio
A caminho, Parsifal cruza várias ve-zes com Sigune, que personifica a vozda reminiscência. Ela o chama por seunome e lhe revela sua origem: P a r s if a l,e ss e é o t e u no me. E le s ig nifi c a : p a ss a r
pelo c e nt r o. Seu caminho para o co-nhecimento da verdade passa tambémpelas prof undezas da natureza terre-na. Mas ele ainda não encontra suamissão interior e aspira sempre à cava-
laria exterior, simbolizada, em suaf orma mais nobre, pela Távola Re-donda do rei Artur. Esse grupo de ca-valeiros alcançou tudo o que é possí -vel na natureza terrena.Os cavaleiros, os reis, as damas e
outros personagens que Parsifal en-contra em sua busca podem ser vistos
como representações de seus senti-mentos, idéias e desejos. Ele sempre se
vê face a face com obstáculos que deveenf rentar e resolver em si mesmo. As-sim, ele liberta Kondwiramur dasmãos de seus inimigos e a desposa.Trata-se da união duradoura com
aquela que o «conduz ao amor», a no-va alma! Impulsionado pelo desejooriginal (que Eschenbach representapelo amor de sua mãe) e guiado inte-riormente por Kondwiramur, Parsifal
põe-se a caminho para a cidadela doGraal. Ainda muito influenciado pelaslições de Gurnemanz, ele não compre-ende o que se espera dele no Castelodo Graal. Ele não sabe fazer ao rei a
pergunta salvadora.
Suas vitórias não o aproximam
do Graal
A espada de Amf ortas lhe será maistarde de grande auxílio para separar oque é terreno do que é divino. Ele
aprende a reconhecer suas faltas e arepará-las. A maldição de Kundry ofaz tomar consciência de sua negligên-cia em relação à sua elevada missão eele já não deseja mais nada a não ser
encontrar o Graal e unir-se a Kondwi-r
amur
, a nova alma.Na qualidade de cavaleiro em bus-ca do Graal, Parsifal envolve-se emincontáveis combates. Van Eschenba-ch utiliza o personagem do cavaleiroGawain para representar suas nume-rosas aventuras. A princí pio, elecombate as alucinações do espí ritohumano. Porém, embora ele registrenumerosos sucessos, essas vitóriasnão o aproximam da meta porque
ainda são, em sua maioria, expressãode sua vontade terrena. Elas são, noentanto, o ponto de partida necessá-rio para poder encontrar a SantaCidadela.Desencorajado, desesperado, com o
coração cheio de rancor por Deus, ele
vagueia pelos caminhos. Sof re por nãopoder encontrar a taça maravilhosa.Mas, em sua extrema solidão e impo-
tência, o auxílio de Deus chega nova-mente até ele. Um cavaleiro cinzentovem ao seu encontro, caminhandodescalço na neve, com sua mulher eseus filhos. Esse cavaleiro lhe diz que
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num dia como aquele, Sexta-feira San-ta, é permitido esperar a graça de
Deus. Refletindo sobre essas palavras,Parsifal af rouxa as rédeas de seu cava-lo e este o leva até o eremita Trevri-zent que lhe dá um novo significadoda Sexta-feira Santa: é o dia no qual setem o poder de amar a Divindade! En-tão, Parsifal percebe que, para com-preender o sacrifício da Sexta-feiraSanta, deve entregar a Deus sua vonta-de pessoal: S e nho r , que T ua v o nt a d e s ej a fei t a ! Esta é a expressão do verda-deiro amor. No mesmo instante, asf orças divinas vêm tocá-lo para suaconsolação e libertação. A partir desse
momento, ele trava vitoriosamenteseus últimos combates. Com a espadado Cavaleiro Vermelho ele põe em or-dem seus conflitos exteriores. Coma espada de Amf ortas elevence seu adversáriointerior, Gramoflanz,que simboliza a lutapelo poder terreno;Gawain, a luta pela
santidade terrena;e Feirefis, a lutapelo conhecimen-to e sabedoria ter-renos. A pele deFeirefis é manchadade branco e pretoporque ele acumuloutodas as riquezas e conhe-cimentos deste mundo: tantoos bons quanto os maus.
«Ninguém pode ir à procura
do Graal se não for conhecidono céu»
Os três conflitos da fase final apre-sentam uma certa semelhança com astrês tentações de Jesus no deserto. No
entanto, as f or
ças enganador
as destemundo não podem ser eliminadas: é
preciso vencê-las para que possa haver
uma reconciliação. Vitorioso por trêsvezes, Parsifal é purificado, isto é, ele
já não combate com o seu eu nem pro-cura libertar-se dele. Ele compreendeuo quanto os homens se encontramafastados de Deus, de quem ele mes-mo havia se apartado. Isso despertouo anseio por encontrá-Lo. Seu desejode salvação e de regeneração o faz en-tregar-se à vontade divina. Por issoTrevrizent disse: N i ng ué m po d e i r à
p r o c ur a d o G r aa l s e nã o fo r c o nhe c i d o
no c é u e c ha ma d o po r s e u no me.Só então conflitos interiores são ul-
trapassados e o mensageiro dos deusesindica o caminho do Castelo do Graal.É lá, no microcosmo, que se dá o en-contro consciente com Amf ortas. So-
mente então Parsifal, com um verda-deiro amor e uma prof unda compai-xão, faz a pergunta libertadora: M e u
t io, qua l é o v o ss o t o r me nt o? É a
pergunta que cada um deve
se fazer algum dia. E aresposta – a cura domicrocosmo sof re-dor – se realizaráem si e nos ou-tros. Uma parteda missão deParsifal era con-duzir um irmão
ao Castelo doGraal. Ele esco-
lheu Feirefis que,após seu batismo, é
encarregado de levar oGraal à humanidade para li-
bertá-la do sof rimento.
Parsifal torna-se o rei do Graal,com Kondwiramur ao seu lado: a
união do coração purificado com a
nova compreensão. Lohengrin seráseu filho, o Novo Homem que apare-ce para salvar o mundo.
O templo do
Graal no centro
do zodíaco. Lars
Ivar Ringbom,
Estocolmo, 1951.
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a r a a lg uns , o mi s t e r io s o G r aa l e r a uma pe d r a c ele s t e que s ó
i rr ad i ava s ua fo r ç a v i t a l s e a lg ué m d el a s e a p r oxi ma ss e.
E s t a v a s o b a g ua r d a e p r o t e ç ã o d o r ei Amfo r t a s , a nc i ã o
d oe nt e que v i v i a numa c i d a d el a d e d ifí c il a c e ss o. S ua c ur a
d epe nd i a uni c a me nt e d e um c a v a lei
r
o c a p az d e d a r
t e s t e -
munho d e uma v i d a p ur a e no b r e e e nc o nt r a r o C a s t elo.
E s t e d e v e r i a e nt ã o f az e r a o r ei uma pe r g unt a p r e c i s a p a r a r e s ol v e r o e nig ma d e
s e u ma l.
P a r s if a l a s pi r ava a e ss a c ava l a r i a e a c o ns eg ui u. S e us p a i s e r a m d e s ang ue r e a l.
S e u p a i,G a mur e t van Ans c hauw e, t i nha s i d o um c ava lei r o c o mba t i v o e s ua mã e,
H e r z eloi d e, uma r a i nha da li nha ge m d o G r aa l.G a mur e t mo rr e u po r o c a s i ã o d e
uma c a m p anha , ant e s d o na s c i me nt o d e P a r s if a l. H e r z eloi d e r e t i r o u-s e c o m s e u
fil ho p a r
a uma flo r
e s t
a a fi m d e p r
e s e r
v á -lo d e um e nc o n
t r
o c o m c a v a lei r
o s e rr a nt e s , e e v i t a r -l he, a ss i m, a fli ç õe s , d oe nç a e mo r t e. M a s P a r s if a l pe r c e b e u, um
d i a , um g r u po d e c a v a lei r o s e, mui t o i m p r e ss io na d o, fe z v o t o d e t o r na r -s e um
c a v a lei r o t a mb é m. E le qui s d i r igi r -s e a o c a s t elo d o r ei Ar t ur o nd e, c o mo l he c o n-
t a r a m o s c a v a lei r o s , ele r e c e b e r i a a a r ma dur a d e c a v a lei r o.
H e r z eloi d e nã o o d eixo u p a r t i r d e b o a v o nt ad e. E l a l he c o nfe cc io no u um t r a je
r i d í c ulo c o m a e s pe r anç a d e que z o mba r i a m d ele e que, d e s e nc o r a j ad o, ele
v ol t a r i a . E l a t a mb é m l he d e u a lg uns c o ns el ho s e, a pó s d e s pe d i r -s e d e s e u fil ho,
s e nt i u o c o
r
a ç ã o d e s pe da ç ad o. E nt r
e t
ant o, P a
r s if a l p a
r t i u feli z e nã o
t
a r
d o u a a l c anç a r o c a s t elo d o c ava lei r o G ur ne manz . E s t e l he e ns i no u a manej a r a e s p a -
d a e a l a nç a , e, p r i nc ip a l me nt e, a s r eg r a s a s e r e m o b s e r v a d a s p a r a t o r na r -s e um
a ut ê nt i c o c a v a lei r o. L i a ss e, a fil ha d e G ur ne ma nz , c o nt o u-l he que s ua p r i ma , a
r a i nha Ko nd w i r a mur , e s t a v a s e nd o a ss e d i a d a po r um r ei que d e s ej a v a e s po s á -l a
a fo r ç a . P a r s if a l p a r t i u i me d i a t a me nt e à p r o c ur a d e ss e a g r e ss o r . E nc o nt r o u-o,
d e rr o t o u-o e t o mo u Ko nd w i r a mur po r e s po s a .
M a s , logo ele a d eixo u p a r a v i s i t a r s ua mã e. P e r c o rr e nd o o c a mi nho, ele
c hego u à b ei r
a d e um l a go, que fi c ava numa r
egi ã o d e s e r t
a .U
m pe s c ad o r
r
i c a -
me nt e v e s t i d o i nd i c o u-l he a d i r e ç ã o d e um c a s t elo o nd e ele foi r e c e b i d o mui t o
c o r t e s me nt e. D ur ant e o ex c ele nt e j ant a r , ele s e nt o u-s e a o l ad o d e um pe s c ad o r ,
d o no d o l ug a r , que p a r e c i a s of r e r d e um ma l s é r io. U ma l anç a e uma t a ç a , c o m
e s p a nt o s o po d e r d e a ç ã o, t i nha m-l he fei t o um fe r i me nt o s a ng r e nt o. E le ofe r e c e u
a P a r s if a l uma e s p a d a p r e c io s a c o m um r ub i i nc r us t a d o no p unho. P a r s if a l,
a t ô ni t o, na d a pe r g unt o u. N a ma nhã s eg ui nt e, ele e nc o nt r o u o c a s t elo d e s e r t o e,
d e s pei t a d o, pô s -s e a c a mi nho.
N o c a mi nho, e nc o nt r
o u s ua p r
i ma S ig une que l he fe z s a b e r
que ele v i nha d o C a s t elo d o G r aa l. S ur p r e s o, ele c o m p r ee nd e u que d e v e r i a t e r fei t o a pe r g unt a a o
r ei s of r e d o r p a r a li v r á -lo d e s e u ma l. D e c i d i u, e nt ã o, r e me d i a r e ss a f a l t a e, a pó s
uma v i a ge m mo v i me nt ada , e nc o nt r o u-s e no c a m po d o r ei Ar t hur . E le foi a c o -
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l hi d o na T áv ol a Re d o nda d o s c ava lei r o s e K und r y, a me ns a gei r a d o G r aa l,
a p a r e c e u. E l a o c e ns ur o u pel a s ua a t i t ud e no C a s t elo d o G r aa l. O jo v e m c ava -
lei r o, s e nt i nd o -s e d e s o nr a d o, r e t i r o u-s e d o mund o p a r a p r o c ur a r a C i d a d el a
S a nt a e r ep a r a r s e u e rr o. M a s s e us e s fo r ç o s fo r a m e m v ã o e s ua v i a ge m dur o u
lo ngo s a no s . E mb o r
a s a í ss e s e m p r
e v e nc e d o r
d o s t o
r
neio s , ele e s t
a v a c o nt i nua
-
me nt e r e v ol t a d o, op r i mi d o po r D e us e pelo s e u d e s t i no.
N o ma i s p r of und o d e s e u d e s e s pe r o, P a r s if a l, e m s ua a r madur a , mant i nha -s e
s o b r e um ma g nífi c o c ava lo que hav i a t o mad o d e um c ava lei r o d o G r aa l, que
t i nha s i d o v e nc i d o. E le d eixo u o ani ma l s eg ui r s e u p r óp r io c a mi nho e c hego u à
c abana d o e r e mi t a T r e v r i z e nt , i r mã o d e s ua mã e e d o v el ho r ei Amfo r t a s .
T r e v r i z e nt hav i a s i d o um c ava lei r o c o b e r t o d e gló r i a , ma s quand o Amfo r t a s
r e c e b e u s e u fe r i me nt o i nc ur áv el, ele aband o no u a ant ig a c ava l a r i a . S e o r ei d o
G r
aa l a i nd a e s t
a v a v i v o, e r
a pel a g r
a ç a d o G r
aa l, que l he t r
a ns mi t i a s e m c e ss a
r
uma no v a fo r ç a v i t a l.
P a r s if a l pe r ma ne c e u qua t o r z e d i a s na s ó b r i a mo r a d a d o e r e mi t a , o nd e r e c e -
b e u e s c l a r e c i me nt o s a r e s pei t o d a ma r a v il ho s a t a ç a e d e t ud o que a c o nt e c i a a o
r e d o r d el a . E le e nc o nt r o u a fé e m D e us e e s fo r ç o u-s e p a r a a me ni za r a s d o r e s que
hav i a c aus ad o po r ig no r ânc i a . Wolf r a m v o n E s c he nba c h e s c r e v e u:
« N e ss e s l ug a r e s , s e u ho s pe d ei r o o li b e r t o u d e s e us pe c ad o s e o a c o ns el ho u a
v ol t a r p a r a a c ava l a r i a .» E nt ã o, ele t r ava s e us t r ê s c o mba t e s ma i s d ifí c ei s . N o
úl t i mo, a l u
t
a foi t
ã o dur
a que ele que b r
o u s ua e s p ada c o nt r
a o el mo d e s e uadv e r s á r io, um c ava lei r o t ã o i nv e nc í v el quant o ele. F a c e a f a c e, ele s s e r e c o -
nhe c e r a m: a mb o s s ã o fil ho s d e G a mur e t ! O fil ho ma i s v el ho, Fei r efi s , a d o r a d o r
d e J ú pi t e r e d e J uno, um d o s ho me ns ma i s r i c o s d a t e rr a e po ss ui d o r d e v á r io s
r ei no s , t e m a pele ma nc ha d a d e p r e t o e b r a nc o.
O s i r mã o s s ã o r e c e b i d o s na T á v ol a Re d o nd a d e Ar t ur c o mo o s ma i s il us t r e s
c a v a lei r o s . D epoi s K und r y a nunc i a que P a r s if a l é elei t o r ei d o G r aa l, e que ele
po d e e s c ol he r um c o m p anhei r o p a r a auxili á -lo. P a r s if a l e s c ol he Fei r efi s e t o d o s o s
t r
ê s s e d i r
ige m a o C
a s t elo d o
G r
aa l. L á , i nt ei
r
a me nt e c o nc e n
t r
ad o no G r aa l, P a r s if a l f az a pe r g unt a : « M e u t io, qua l é o v o ss o t o r me nt o? O
que v o s f az e nf r aque c e r ?» E nt ã o, Amfo r t a s r e c o b r a r a pi da me nt e a s aúd e e
P a r s if a l t o r na -s e o no v o r ei. A r a i nha Ko nd w i r a mur é c o nv i dada a o C a s t elo e
P a r s if a l v ê s e us d oi s fil ho s gê meo s K a r d ei ss e L o he ng r i n. E s t e úl t i mo s e r á s e u
s uc e ss o r .
U ma g r a nd e fe s t a é ofe r t a d a e o G r aa l é i nt r o duz i d o po r uma r a i nha v i r ge m,
Rep a ns e d e Joye, i r mã d e Amfo r t a s . P r a t o s e t a ç a s s ã o p r ee nc hi d o s pelo mil a g r o s o
c á li c e e d i s t r
i buí d o s e m c í r c ulo. Fei
r
efi s e na mo r
a -s e pel a po
r t
a d o r
a d o G r
aa l,e mb o r a nã o p ud e ss e a i nda pe r c e b e r o c á li c e. U m a mo r d e s c o nhe c i d o e i rr e s i s t í -
v el o fo r ç a a s ep a r a r -s e d e s e us d e us e s e d e s ua mul he r e a f az e r -s e ba t i za r .D epoi s
d i ss o, ele t a mb é m po d e v e r o G r aa l e d e s po s a Rep ans e d e Joye.
17
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18
O a p a r e c i me nt o d o s c á t a r o s na s r egiõe s me d i t e rr â ne a s c oi nc i d e c o mo a poge u d a s le nd a s d o G r aa l na E ur op a . N a c o r t e d o s no b r e s , o s
t r o v a d o r e s c o nt a v a m a epopéi a d o
G r aa l e i nt e r p r e t a v a m c a nt o s mí s -t i c o s que f a l a v a m d o Amo r d i v i no.
O s c á t a r o s nã o s e c o nt e nt a r a m e m pe r ma ne c e r c o mo e s pe c t a d o r e s d e s -s e fe nô me no. E le s bus c a r a m o
G r aa l d e d i c a nd o -s e, d i a r i a me nt e,
à p ur e za e à c o r a ge m.
m 950 d.C., os bogomilos vindos da
Bulgária trouxeram ao Ocidente oautêntico ensinamento gnóstico e cris-tão de Mani. Após o ano 1000, os cá
ta-
ros retomaram a chama do ensina-mento cristão da libertação e, numcurto espaço de tempo, desenvolveu-se um grande movimento que influen-ciou todo o Ocidente. No fim do sé-culo XII, quase toda a Europa conhe-cia a mensagem do Graal. Mas f oi so-mente no final do século XIII que asmudanças se manifestaram. E a c r a t e -r a p r ee nc hi da pel a s fo r ç a s d o E s pí r i t o –
segundo a expressão de Hermes Tris-megisto – surgiu na Europa para pro-digalizar às almas amadurecidas oAmor divino libertador.O centro do movimento cátaro en-
contrava-se na Occitânia, no sul daFrança. Lá floresceu uma cultura ex-cepcionalmente rica. Foi principal-mente no Languedoc que se cantou oamor cortês e se propagou a pura
mensagem cr
istã dos cátar
os. Atual-mente o caminho do Santo Graal con-duz igualmente o pesquisador para oSabartez e, mais especialmente, para ovale do Ariège. Nos brasões do Sabar-
tez estão inscritas as palavras: S a -b a r t e z , c us t o s s ummo r um, Sabartez,guardião do altíssimo, sendo que o al-tíssimo é simbolizado por um SantoGraal alado, que se situa no centro de
um sol radiante.O Sabartez, que tem Tarascon co-
mo cidade principal, encontra-se noencantador vale do Ariège e se estendeaté as terras mais elevadas do vale dorio Sem. Toda essa região f ormava ocondado de Foix. Sobre um rochedocom altura de uma centena de metros,
na própria cidade de Foix, encontra-seainda o majestoso castelo dos condes
de Foix, protetores dos cátaros. NaIdade Média, esse castelo era muito
consider
ado por
causa dostrovado
r
esque costumavam ser para lá convida-dos, tais como Chrétien de Troyes,Bertrand de Born e Wolf ram vonEschenbach.
Ref úgio do amor espiritual
No vale do Ariège encontra-se tam-
bém todo um sistema de grutas que seestende por quilômetros através damontanha. Era nessas grutas, às vezespequenas, outras vezes com altas abó-badas, que os cátaros podiam abrigar-se. Mas, bem antes deles, outros ha-viam encontrado proteção e salvaçãonessas vastas grutas com suas nascen-tes quentes e atmosfera tão peculiar,verdadeiros ref úgios para aqueles que
desejavam pr
aticar
livr
emente suar
eli-gião. Graças aos desenhos encontra-dos nas paredes, sabemos que essa re-gião f oi habitada há 12.000 anos. Ascolinas e cavernas do Sabartez f oram
Os cátaros no caminho do Santo Graal
E
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utilizadas pelos celtas e pelos druidascomo lugares de culto. Lá encontra-
mos traços dos maniqueus, dos pauli-cianos e dos priscilianos, predecesso-res dos cátaros; aos poucos, f orma-ram-se grupos que se diziam ligados àGnosis e às suas correntes de sabedo-ria.A palavra cátaro vem do grego k a -
t ha r oi que significa puro. Os cátarosdiziam-se simplesmente cristãos e opovo os chamava de b o ns o me s e b o -
na s fe mna s . Mas, entre si, eles se no-meavam a mi c i D ei ou a mi c z d e D ie uou ainda c r e z e ns . O termo cátaro f oiutilizado pela primeira vez nos mea-dos do século XII por um grupo de
heréticos de Colônia1. Mais tarde, otermo f oi empregado principalmente
nos escritos oficiais. Foi a Igreja queos denominou de albigenses, dandoesse nome a todos os grupos pretensa-mente hereges da Occitânia. Essa de-nominação nada tem a ver com a cida-de de Albi, no sul da França. Ela f oi
utilizada pela Igreja e pelos f rancesesdo norte para designar os hereges quenão eram valdenses e que habitavamno sul da França. Na Inglaterra os he-
réticos também eram denominados dealbigenses.Tornar-se cátaro não era algo reali-
zado de qualquer maneira, fazendo-se
batizar, por exemplo, ou passando por
Um trovador
do Codex Manesse.
Universidade de
Heidelberg.
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uma prova de admissão na comunida-de religiosa. Uma das exigências era
uma longa preparação na prática de
vida cristã, a exemplo de Jesus. Os cá-taros diziam que um serviço f ormal,com rituais falsificados e degradados,
não é capaz de libertar a alma de sua
prisão. Para que essa libertação acon-teça, é preciso que o mistério de ini-
ciação crística do Santo Graal seja re-velado graças a um comportamentocoerente e integralmente cristão.
O muro simbólico e a porta
mí stica
Se observarmos um candidato queaspira por esse caminho, poderemos
perceber com que seriedade e abnega-ção os cátaros se consagravam ao pro-cesso de transf ormação interior. Ocandidato que havia tomado sua deci-são renunciava à vida social comum,ao casamento, aos bens terrenos e à
ingestão de carne e de vinho. Ele sededicava à e ndur a , um processo vo-luntário de neutralização de tudo oque liga à vida terrestre, para permitir
que a alma despertasse e crescesse. Es-se tempo de preparação durava algunsanos e ocorria nas grutas de Ussat-Ornolac, no vale do Ariège. Algumasgrutas tinham a f unção de templos,
outras de habitações. A entrada dessas
habitações era, às vezes, fechada porum muro e uma porta. Essas s po ulg a s (grutas) eram de difícil acesso.Até o século XIII, essas grutas esta-
vam situadas sobr
e as mar
gens de umgrande lago que se estendia até Taras-con. O candidato que se decidisse aseguir o caminho do Santo Graal de-via, primeiramente, atravessar um mu-
ro simbólico. Assim ele se despedia domundo terrestre e obtinha acesso aomundo dos que buscam o Espí rito deDeus. Com o auxílio de outros ir-mãos, ele percorria esse caminho pas-so a passo.Os diferentes estágios erampercorridos graças a um programa
diário de jejum, de trabalho e deaprendizagem, em absoluto silêncio.
Dessa f orma eram-lhe ensinadas a sa-bedoria dos astros (astrosofia), a me-dicina e, principalmente, os mistérios
que acompanhavam as diferentes eta-pas de seu desenvolvimento interior.Para os cátaros, o caminho do Santo
Graal implicava em conhecimentos li-bertadores e serviços aos outros. Pou-co antes de o candidato ser iniciadoem sua missão, ele deveria sof rer umamorte mística simbólica, após umperí odo de quarenta dias de jejum. Ele
precisava passar três dias deitado nu-ma sepultura, na gruta denominadaKepler, para morrer para a naturezaterrestre. Desse modo, sua alma podiaalcançar a libertação e, pela imitaçãode Jesus, pronunciar o c o ns umma t ume s t : tudo está consumado.O mistério do Graal está estreita-
mente ligado à morte da natureza ter-restre. Naturalmente, poderíamos to-mar como epitáfio a inscrição gravadana taça do Graal que chama o candi-dato a unir-se à Fraternidade. Mas aendura não tem, efetivamente, nada aver com a morte do corpo físico oucom qualquer espécie de tortura ousuplício. Na realidade, a endura era –e continua sendo – um processo querompe todos os laços que mantém a
consciência pr
esa ao passado. Nesseprocesso, o velho eu entrega-se às f or-ças crísticas renovadoras para que aalma possa renascer.Após ter passado três dias na gruta
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de Kepler, o candidato era despertadopelo irmão que o acompanhava, e saía
da tumba. Ele agora podia receber oc o ns ol a me nt um, o sacramento da con-solação. Sua alma purificada estava li-gada ao Espí rito de Deus. Esse gran-de acontecimento passava-se na grutade Be t hlée m (Belém).O candidato en-trava nessa gruta, que era considerada
um templo, pela po r t a mí s t i c a . Lá, en-contrava-se um altar, uma pedra degranito coberta por uma toalha de
linho branco, sobre a qual havia umaBí blia aberta na página do Evangelhode João. Num nicho da parede estavacolocada a taça do Graal, encobertapor uma cortina. O sí mbolo do penta-grama, gravado na rocha, era, assimcomo o altar, de origem druí dica. Parareceber o c o ns ol a me nt um, o candidatodevia colocar-se no pentagrama. Coma cabeça erguida e com os braços e
pernas afastados, ele f ormava, assim,uma estrela de cinco pontas.No momento dessa iniciação, o nas-
cimento do Cristo tornava-se umaexperiência física. Antonin Gadal, Pa-triarca dos cátaros e guardião de seutesouro, escreveu: N ada po d e r i a f az e r
e s t r e me c e r o u d e s v i a r d o b o m c a mi nho
o ho me m que r e na s c i a e m Be t hlée m.N i ng ué m no mund o po d e r i a v e nc e r a Fo r ç a mi s t e r io s a que ele r ep r e s e nt a v a ! Quando o candidato havia cumpri-
do o caminho iniciático e se tornadoperfeito, ele saía do santuário pela po r -
t a mí s t i c a , celebrava um ritual e davaa sua benção aos companheiros. De-pois disso, ele percorria o célebre ca-minho dos cátaros, que existe ainda
em nossos dias: da Montanha Sagr
adaele se dirigia a Montségur, onde osperfeitos se reuniam antes de cami-nhar pelo mundo para levar a Luz aosseus semelhantes.
a herança dos cátaros
continua atual
Montségur tem a f orma de um na-vio e está situado no cume de um ro-chedo. Esse castelo f oi construí donum lugar onde se elevava, há muitotempo, um templo dedicado ao sol, e
no qual as pessoas da época se ligavamaos mistérios de Zoroastro. Na capela
há uma abertura pela qual, no dia de
São João, 24 de junho, às onze horas,
um raio de sol penetra e ilumina osí mbolo do Logos solar na paredeoposta (Essa data corresponde aosolstício do verão no hemisférionorte).Quando, em 1244, o exército da In-
quisição f orçou os que estavam ref u-giados no castelo a capitularem, os cá-taros tiveram ainda um prazo para ter-minar sua tarefa espiritual. Na véspera
de subir para a f ogueira, todos os quequeriam defender sua fé receberam,das mãos do grão-mestre BertrandMarti, o c o ns ol a me nt um, para quesuas almas se unissem ao Espí rito de
Deus. O misterioso tesouro dos cáta-ros f oi ocultado nas grutas do vale do
Ariège. No dia 16 de maio desse ano,duzentos e cinco homens e mulhereslançaram-se voluntariamente nas cha-mas da f ogueira. Conta a lenda que,enquanto caminhavam em direção àf ogueira, de mãos dadas e cantando,
um trovador que se encontrava entre amultidão disse: Apó s 700 a no s o lo u-r ei r o r eflo r i r á s o b r e a s c i nza s d o s má r -
t i r e s .
Em 1944 o patr
iar
ca da Fr
ater
nida-de dos cátaros, Antonin Gadal, subiucom sete testemunhas até a montanhade Montségur e cumpriu a profecia dotrovador. Assim, verifica-se mais uma
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vez, que os buscadores da Luz sagra-da que representa o Santo Graal po-dem ser perseguidos, martirizados emortos, mas que a própria Luz jamaispode ser destruí da e retorna sempreao lugar de onde ela já surgiu.Em Albi, os perseguidores dos cáta-
ros construí ram uma catedral f ortifi-cada para mostrar que eles eram os
vencedores. A catedral ainda existe edomina a cidade. Assim, fecha-se uma
das mais negras páginas da história daIgreja Católica dita «cristã». O amordo Graal, que tudo perdoa, e a não-combatividade absoluta dos cátaros,
que dele decorre, colocaram um fim aesses acontecimentos. Desde então,
um acontecimento tão maravilhosoquanto inesperado aconteceu em Albi,provocando um retorno espiritual que
deu um novo impulso à libertação es-piritual da humanidade.
Supressão do personagem
histórico de Cristo
Não longe de Albi, em 1167, Nice-tas, patriarca búlgaro, havia dado à
Fraternidade Cátara a missão de fazerconhecer e espalhar pela Europa osmistérios da iniciação crística. Erapreciso libertar a humanidade do per-sonagem histórico de Cristo e dos
dogmas a isso inerentes, pois são essasrepresentações que sempre a impedemde ter acesso às possibilidades liberta-doras que a Força crística cósmica
propicia: o Graal, preenchido pela
Luz que é capaz de expulsar
todas astrevas das almas humanas. A pessoaque adquire essa compreensão desco-bre em si uma chaga incurável e isto aimpulsiona a procurar a verdade uni-
versal. Ela não cessará de aspirar pelorenascimento de sua alma e já não dará
ouvidos aos cantos de seu eu, que sódeseja garantir a segurança e o poder
de seu próprio mundinho. A humani-dade deve aprender novamente a fazeressa oferenda que representa o amorao próximo e a viver do santo e mara-vilhoso alimento dispensado pelo
Graal.Em 1954, no roseiral de Albi, ao la-
do da catedral-f ortaleza do tempo daInquisição, a Luz universal transmitiuà Jovem Fraternidade Gnóstica daRosacruz Áurea, representada por Janvan Rijckenborgh e Catharose de Pe-tri, a missão de terminar a obra come-çada pelos cátaros, de completar suaexpansão e de estendê-la sobre o mun-do inteiro. Em seguida, Jan van Ri-ckenborgh, Grão-Mestre da Escola daRosacruz Áurea, recebeu das mãos dosenhor Gadal o selo de Grão-Mestre –o mesmo selo que o patriarca búlgaroNicetas havia dado à Fraternidade doscátaros, no século XII.É para tornar essa ligação espiritual
visível na matéria que f oi erigido, em 5de maio de 1957, em Ussat-les-Bains,
no vale do Ariège, um monumento
que recebeu o nome de Galaad. Essenome aparece com f reqüência nas len-das do Graal. Traduzido literalmenteele significa: «O Monte do Testemu-nho». Sobre o quadrado do monu-mento está apoiada a pedra do altarsobre a qual o Perfeito celebrava seuprimeiro ritual após sua iniciação nagruta de Belém. Essa pedra f oi ofere-cida, como relí quia, pelo último pa-
tr
iar
ca dos cátar
os à Jovem Fr
ater
ni-dade Gnóstica. Este monumento sim-boliza os esf orços contí nuos para li-bertar a humanidade da sua prisãoreligiosa, esf orços empreendidos pela
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Aliança da Luz: Graal,Cátaros eCruzcom Rosas.
Descoberta de uma nova
dimensão
Indubitavelmente, a gruta de Belém
e a catedral de Lombrives, por exem-plo, ainda são, atualmente, lugares es-peciais onde a atmosfera de pureza in-terior e de disponibilidade a serviçodo próximo é sempre perceptível. ACatedral de Lombrives tem cerca de
oitenta metros de altura. Era lá que oscátaros celebravam seus serviços. Em1328 – oitenta e quatro anos após aqueda de Montségur – essa gruta f oifechada para o mundo exterior e as510 pessoas que aí permanecerammorreram de f ome. Seus restos f oramencontrados bem mais tarde.Talvez a mensagem do Graal seja
transmitida oculta sob imagens pito-rescas, mas não é um conto de fadas.
Trata-se de uma realidade vivente e vi-brante, mesmo para nossa época. En-tretanto, não podemos descobrir essarealidade pela exaltação ou investigan-
do o passado. Para ter acesso a essa di-mensão, é preciso seguir concreta-mente o processo da e ndur a , isto é, oabandono dos desejos terrestres e aaspiração à união com o Espí rito deDeus, a Gnosis Universal.
Segundo a lei hermética O que e s t á e mba ixo é c o mo o que e s t á e m c i ma , oGraal tem um aspecto macrocósmico,
um aspecto cósmico e um aspecto
micr
ocósmico. Seu aspecto macr
o-cósmico é a manifestação universal;seu aspecto cósmico abrange a Terracomo morada da humanidade e seuaspecto microcósmico tem relação
com a presença da taça do Graal nopróprio homem. Cada um deve reali-zar esse milagre: reencontrar interior-mente essa taça, purificá-la e prepará-la, para nela receber a f orça santifica-dora do Espí rito!
Eis a razão pela qual a imagem doGraal vivente toca prof undamente aconsciência humana: ela reanima a al-
ma adormecida e prisioneira da maté-ria. A lembrança dessa realidade, que
um dia existiu e que é continuamenteapresentada à humanidade, impulsio-na os seres humanos a buscar Deus.Para a eterna pergunta: Q ue r ei s r e c e -b e r o G r aa l? só podemos dar a eternaresposta: S ó há uma úni c a c o nd i ç ã o : d e s ej á -lo s a nt a e p r of und a me nt e!
1 S e r mo ne s c o nt r a c a t ha r o s , Eckbert vanSchönau, 1163.
2 N o c a mi nho d o S a nt o G r aa l , A . Gadal,Lectorium Rosicrucianum, São Paulo, 1983
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M o nt s a l v a t , o c a s t elo d o G r aa l.E r a l á que s e e nc o nt r a v a , s eg und o
a s le nd a s , a o r d e m d o s c a v a lei r o s
g ua r d i ã e s d o G r aa l. Ass i m c o mo o
r ei Ar t ur c o m s e us c a v a lei r o s , ele s
t a mb é m fo r ma v a m uma T á v ol a Re d o nd a . Q ua nd o ele s s e r e uni a m
e o G r aa l e r a a p r e s e nt a d o, ele s r e -c e b i a m um a li me nt o mi r a c ulo s o, e
a s i m ple s v i s ã o d o G r aa l l he s c o n-c e d i a a j uv e nt ud e e t e r na .
egundo as lendas, o Graal é a taça da
qual Cristo bebeu na Santa Ceia. José
de Arimatéia, de posse dessa taça, terianela recolhido o sangue do Redentor.A Taça miraculosa do Santo Graal é
um sí mbolo que pode ser encontradono mundo inteiro. Na Idade Média,
na Europa, existiam versões dessaslendas nas tradições de muitos países.Diferentes religiões representam o sole a lua como cálices preenchidos dealimento divino. Os heróis, em re-compensa por suas nobres proezas,tinham o direito de haurir dele novasf orças. A filosofia grega fala de uma
«cratera» onde o deus supremo mistu-ra as matérias da criação com a luz dosol. Essa taça era estendida às almasrecentemente criadas para que elas daí tirassem a sabedoria.Num mistério de iniciação grega é
relatada uma festa mística que seassemelha muito com a refeição doscavaleiros do Graal. De um recipien-te sagrado, o k e r no s , os participantesr
ecebem uma bebida que lhes dáacesso a um mundo superior. Umaimagem semelhante aparece igual-mente nas tradições celtas: trata-se de
um caldeirão cu jo conteúdo pode
suscitar um renascimento espiritual.Em algumas lendas, uma pedra pre-ciosa, ou pérola, substitui o sí mboloda taça sagrada.A maior parte das lendas indica que
essa taça está guardada num temploou castelo, especialmente construí do
para a ocasião. Por exemplo, um tem-plo alto e redondo dotado de umacúpula dourada, onde pedras precio-sas representam um firmamento comum sol de ouro e uma lua de prata des-crevendo sua órbita. Segundo alguns
pesquisadores, um templo desse tipodevia existir na Pérsia, sobre a monta-nha sagrada de Shiz. Nesse santuário,o mais importante da Pérsia, ardia of ogo sagrado. Esse teria sido o lugar
de nascimento de Zoroastro. As len-das budistas do Japão descrevem omonte Meru, a montanha mística quetambém nos faz lembrar o templo doGraal. Buda está sentado no cume, ro-deado por seus b o d i s a t v a s , e, ao redordeles, circulam o sol e a lua.
O ní vel mais elevado que a alma
pode alcançar
Todas essas lendas testemunhamque o encontro com os valores espiri-tuais do Graal modifica f undamental-mente a vida. Para desvendar um pou-co esses mistérios, os rosacruzes au-tênticos podem dar orientação, poisseus mistérios estão em relação direta
com os do Gr
aal. Eles par
tem do pr
in-cí pio de que não há somente um mun-do visível e tangível, mas também ummundo superior não perceptível pelossentidos. O mundo visível com todos
24
Origem e signif icado das lendas
do Graal
S
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25
os seus aspectos, inclusive o homem,nasce, atinge o ápice do seu desenvol-vimento e depois desaparece. Cada
um pode constatar, por sua própriaexperiência, que este mundo não co-nhece a perfeição. Entretanto, ele ésustentado e mantido por um mundoimperecível, eterno. Segundo a sabe-doria original, os habitantes dessemundo superior são perfeitos e, porisso, imortais.Colocamos, agora, a pergunta cru-
cial – e é aí que verificamos os misté-r
ios do Gr
aal – existe uma passagementre o mundo eterno perfeito e omundo imortal imperfeito? Haveráuma esfera, um espaço, uma dimensãoonde a eternidade e o tempo se encon-
tram e se unem? Estritamente falando,não. O que acontece é que existemdois campos de vida f undamental-
mente separados.Entretanto, existe um domí nio de
transição no qual os dois mundos po-dem cooperar durante um certo tem-po. Esse lugar se revela num movi-mento periódico de ir e vir.
Seres perfeitos do campo de vidaeterno ligam-se, de f orma rí tmica, aoshabitantes do campo de vida perecívela fim de elevá-los ao plano de vida
super
ior
. Esse pr
ocesso ér
epr
esentadopelo sí mbolo da cruz. A eternidade, otraço vertical, desce ao mundo perecí -vel, o traço horizontal, e penetra nomundo mortal. Assim é a crucificação:
Os doze
irmãos. Kniha
Václava z Jihlavy,
Tchecoslováquia.
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o mundo perfeito se oferece ao mun-do imperfeito ligando-se a ele.
Eles mostravam o caminho
vivendo-o para dar o exemplo
Os grandes sábios, como Buda, Zo-roastro e Jesus, estabeleceram uma
ponte entre esses dois mundos, ref or-çaram-no e explicaram-no, colocan-do-se, assim, a serviço da humanidade.
Dessa f orma, eles fizeram o sacrifíciode seu sangue puro. Eles mostraram ocaminho através da vivência, para dar
o exemplo. Eles abriram a porta entreos dois mundos. Assim, a ponte espi-ritual que eles edificaram é sempreconservada por aqueles que seguem
seu exemplo em palavr
a e por
seusatos puros.
Uma tal ponte é um milagre. Asmúltiplas lendas representam essaligação temporária e sutil, realizada
pelo Graal, entre a eternidade e otempo: a taça ou a cratera. Trata-se de
um espaço, de um campo de vida pro-tegido, como uma terceira natureza,no qual a alma que busca pode apren-der a encontrar seu caminho através
do mundo dos opostos, a fim de des-cobrir a eternidade.As diferentes lendas descrevem co-
mo os cavaleiros do Graal vão execu-tar suas proezas. Essas narrações sãosempre tão atuais ho je quanto o f oramhá muitos séculos atrás. Entretanto, ohomem moderno simplesmente nãopercebe o mundo perfeito, a meta desua viagem final. Seus sentidos não lhe
permitem. Ele percebe que deve haveroutra coisa, mas não tem, a esse res-peito, uma imagem clara. Isso o preo-cupa e o impulsiona a procurar. Ele se
perguntará por que vive, para que ser-
ve a vida e por que tanta gente, inclu-sive ele, tem de sof rer, sem esperança.Com sinceridade, ele começa a pro-
curar, como Parsifal; e um cavaleirodo Graal não deixará de cruzar seu ca-minho. Quem parte em busca doGraal talvez já tenha estado em conta-to com ele, mesmo que inconsciente-mente.
O domí nio de transição
À noite, durante o sono, pode acon-tecer aquilo que é impossível aconte-cer durante o dia: uma parte da perso-nalidade se separa do corpo e vai paraos domí nios invisíveis que correspon-dem à vida interior. Se estivermos ani-
mados por
um gr
ande desejo, aindaque inconsciente e sem orientaçãoprecisa, de compreender o sentido davida, os aspectos superiores de nossaalma se dirigirão, à noite, para os do-mí nios correspondentes. Então, a al-ma que busca tem a possibilidade de
se encontrar num lugar de transiçãoentre os dois mundos. Lá, ela é tocada
pela pura energia do Graal. Isso acon-tece durante a fase sem sonhos do so-
no prof undo, quando a consciênciaestá desconectada e, por isso, já nãoconstitui um obstáculo. É o que acon-tece a Parsifal quando ele entra pela
primeira vez no Castelo do Graal semcompreender o que está acontecendoali. Ele partiu tão ignorante comoquando ele aí havia chegado; faltava-lhe ainda levar uma vida de austerida-de antes de começar uma busca cons-
ciente e encontrar o caminho.O caminho que a Rosacruz Áureamostra visa despertar no pesquisadoruma nova alma livre e ligá-la ao Espí -rito Divino. Em outras palavras, a Ro-
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sacruz Áurea abre para o pesquisadorincondicional – Parsifal – o caminhoque conduz ao Castelo do Graal, ocampo de vida original da alma. É ocaminho que todas as lendas do Graaldescrevem, embora o conteúdo e af orma não sejam sempre semelhantes.Freqüentemente são apresentadas so-mente algumas fases da evolução deParsifal. Assim, o texto P e r c e va l do
poeta f rancês Chrétien de Troyes (sé-culo XII), por exemplo, é f ragmentá-rio. Nele não é relatado que Percevalretorna conscientemente ao castelo doGraal.O P a r z i va l do poeta alemão Wol-
f ram von Eschenbach (cerca de 1170-1220) descreve o caminho por inteiro;ele mostra de uma maneira velada que,para isso, necessita-se de uma nova
consciência, e par
a começar
é pr
ecisodescobrir a f onte interior oculta. Por-tanto, cada um tem a possibilidade dereceber e de utilizar uma f orça interiormuito especial. Essa f orça de origemcósmica é também denominada san-gue divino. Aquele que consegue en-contrar e receber essa energia é f unda-mentalmente transf ormado e postoem condição de receber diretamente asabedoria divina. O mistério do Graal
não é, pois, um processo exterior, masse passa no mais elevado nível que aalma pode alcançar.A esse propósito, a saga do rei Ar-
tur é mais clara. Trata-se aqui de Ga-laad, o cavaleiro irrepreensível. ComParsifal e um outro cavaleiro da Tá-vola Redonda, ele se põe a caminho,em busca do Graal sagrado. Ao seaproximarem do castelo, eles perce-
bem uma luz que não vem do sol. Emseguida, Galaad torna-se rei do Graal:ele representa o homem perfeito e a
nova consciência da alma despertada.Ele é, portanto, o sí mbolo do aspecto
desconhecido do ser humano: a cons-ciência latente de sua verdadeira natu-reza que aspira ao mais elevado poder,ao Bem supremo. Assim que essaconsciência ressurge, o caminho seabre à percepção lúcida do Graal.
A muralha de sua própria
impotência
No homem dormita, portanto, umaspecto desconhecido: o aspecto doGraal. Despertar esse elemento é, se-gundo a Rosacruz Áurea, a verdadeira
finalidade da vida sobre a terra. É sa-bido que a humanidade se choca, nosdias atuais, contra a grande muralha
de sua impotência; chegou o momen-to de desvenda
r
novamente o seg
r
edodo Graal, pois ele contém a solução detodos os problemas.As lendas do Graal apareceram to-
das ao mesmo tempo, por volta do sé-culo XII, tanto na Europa Ocidental eOriental como na Pérsia. Teria sidoum acaso? Os servidores do Graal vi-ram surgir uma época na qual a maiorparte dos seres humanos restabelece-ria a ligação interior com o mundo su-
perior. Se não f osse assim, esta desapa-receria completamente, pois a influên-cia da ciência e da técnica faria evoluir
uma mentalidade que fecharia aos se-res humanos o mundo da Alma-Es-pí rito. Talvez seja uma das razões doressurgimento das lendas do Graal na-quela época. Seu misticismo e seu ro-mantismo misterioso deviam conti-nuar a interpelar os corações nos sécu-
los vindouros. Quando a alma cai emuma grande angústia, essas alegorias
de prof undo significado poderiam lheservir de guia. Em nossa época turbu-lenta e incerta, esses antigos contos
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emocionantes mostram que o cami-nho interior, velho como o mundo,continua praticável: o pesquisador de
ho je, como os cavaleiros da TávolaRedonda, tem sempre a possibilidade
de fazer parte do mundo superior.Em diversos episódios, trata-se de
duas Távolas Redondas: a dos cavalei-ros do Graal e a do rei Artur. Istomostra que a unidade do mundo supe-rior, simbolizada pela Távola Redon-da dos cavaleiros do Graal, deve ser
realizada no mundo inferior: a TávolaRedonda do Rei Artur. Os candidatos
que se preparam para ir ao encontroda Taça sagrada precisam, aos poucos,se purificar interiormente e se libertar
detodas as influências que os
r
etêm navida inferior. No decorrer desse pro-
cesso, eles vão progressivamente jun-tar-se à Távola Redonda superior, deconf ormidade com as palavras deCristo: O P a i e e u s o mo s um, e v ó s s e r ei s uno s c o migo. Nesse caminho, a
Santa Ceia oferece um alimento que já
não é simbólico, mas direto e concre-to.Cada membro do grupo assimila asenergias divinas concentradas na me-
dida em que está preparado e podesuportar.Assim, o processo de mudança inte-
rior tem início e o Graal se ergue ne-les; então, a Taça invisível do Espí ritose manifesta no grupo de orientaçãoconvergente e se estabelece no meiodo mundo.No C o r p us H e r me t i c um (antigo es-
crito iniciático egí pcio) podemos ler:
E le fe z d e s c e r
uma g r
a nd e c r
a t e r
a , p r ee nc hi d a po r fo r ç a s d o E s pí r i t o e e nv io u um me ns a gei r o p a r a anunc i a r
a o s c o r a ç õe s d o s ho me ns : me r g ul ha i ne ss a c r a t e r a , v ó s , a l ma s que o po d ei s ;
v ó s que a g ua r d a i s , c o m fé e c o nfi a nç a ,v o s ele va r a t é àquele que fe z d e s c e r
e ss e va s o ; v ó s que s ab ei s p a r a que fi na -li dad e fo s t e s c r i ad o s . T o d o s aquele s
que d e r a m o uv i d o s a e ss a a dv e r t ê nc i a e s e p ur ifi c a r a m i me r gi nd o -s e na s fo r -
ç a s d o E s pí r i t o t i v e r a m p a r t e na G no -
s i s , o v i v e nt e c o nhe c i me nt o d e D e us , e r e c e b e nd o o E s pí r i t o, t o r na r a m-s e ho -me ns pe r fei t o s .*
28
* A Ar quig no s i s E gíp c i a e o s e u c ha ma d o no
e t e r no p r e s e nt e , vol. 2, Jan van Rijckenborgh,
Lectorium Rosicrucianum, São Paulo, 1986.
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A viagem do Oriente ao Ocidente
U ma d a s nume r o s a s le nd a s d o
G r aa l r el a t a c o mo a t a ç a mi s t e r io -s a c hego u a o O c i d e nt e. Be m a nt e s
d o na s c i me nt o d e M e r li n, a t a ç a d o
G r aa l pe r t e nc i a a um o r ie nt a l d e
no me Jo s é. C o mo ele o b t e v e a t a ç a ,que m a ha v i a fei t o, d e o nd e v i -
nha m s e us po d e r e s mil a g r o s o s ? N i ng ué m o s a b i a .
m certas ocasiões, José convocavasua família e seus amigos para umarefeição que era servida sobre umamesa de prata. Quando todos haviamtomado seus lugares, ele exibia oGraal e o colocava no centro da mesa,
encoberto po
r
uma nuvem luminosa.Em seguida, ele pedia a um velhopescador para descer ao rio e apanhar
um peixe de prata que nadava naságuas claras. O pescador estava habi-tuado a isso e cada vez ele voltavacom um grande peixe brilhante. Josélhe ordenava que o preparasse sobreum f ogo de carvões ardentes. E quan-do o peixe ficava pronto, servia a pre-ciosa carne aos convidados, não im-
portando qual f osse o número deles.Aqueles que haviam provado esseman jar milagroso sentiam-se, de re-pente, plenos de alegria, e tornavam-se suficientemente f ortes para evitaro mal e fazer o bem. Terminada a re-feição, todos voltavam para seus la-res. E, embora essa cerimônia tivessesido repetida por centenas de anos se-guidos, e que muitos, graças a isso, ti-
vessem tido uma vida feliz, somenteJosé e o velho pescador conheciam osegredo do Graal e do Peixe. Assim,eles estavam em condições de socor-rer a humanidade.
Mas naquela época não havia sógente boa. O país de José era gover-nado por um prí ncipe mau que, mui-tas vezes, já havia tentado f urtar a
preciosa taça. Entretanto, mesmoaprisionado, José nunca revelou o es-conderijo de seu tesouro. Ora, seus
inimigos continuavam a procurá-la eameaçavam José, sua família e seusamigos; mas nada conseguiam.
«Tem conf iança, toma a taça
e parte.»
Um dia, quando José trabalhava emseu
jard
im, receb
eu
a visitad
eum ser
luminoso que lhe recomendou levar ataça para um país longí nquo, paraalém do mar, ao Ocidente. José lheperguntou como faria isso. E u nã o
p a ss o d e um j a r d i nei r o e t r aba l ho ha -b i t ua l me nt e no s c a m po s d e t r igo. N ã o t e nho ne nhum b a r c o e nã o c o nhe ç o ni ng ué m que s a i ba nav eg a r . Entre-tanto, o personagem lhe disse pa-ra não ter medo. T e m c o nfi anç a . C ha -
ma t ua f a míli a e t e us a migo s , peg a a me s a d e p r a t a , a t a ç a , e p a r t e! Eledesapareceu; José f oi para casa e cha-mou o pescador. Pediu que ele reunis-se as pessoas para preparar essa gran-de viagem ao desconhecido e acompa-nhá-los.Logo tudo ficou pronto e eles par-
tiram: José, o pescador, os filhos eseus amigos. Eles levavam a mesa de
pr
ata e José carr
egava a taça do Gr
aalnum pequeno cof re decorado comcentenas de pedras preciosas. Dias se
passaram e eles chegaram à beira domar. Este se estendia diante deles,
E
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azul e misteriosamente iluminado,
aqui e ali, por luzes de cores rosa evioleta. Eles viram, no horizonte, nu-vens baixas que pareciam ilhas rodea-
das pelo brilho dourado do sol poen-te. Deveriam ir até lá? Estariam as
ilhas do Ocidente sendo anunciadas aJosé? Entre os viajantes e as ilhas ha-via uma grande extensão de água comondas turbulentas. Para atravessá-las
seria preciso um barco, mas não havianenhum, nada com o que alguém pu-desse ousar fazer essa grande viagem.José mantinha-se à beira do mar, e
todos aqueles que confiaram nele ointerrogavam com os olhos. Então,acima da água, soou uma voz que to-dos puderam ouvir: T o ma t ua v e s t i -me nt a b r anc a , Jo s é, e e s t e nd e -a s o b r e a á g ua ! José obedeceu. Tomou sua
vestimenta de linho branco e esten-deu-a sobre a superfície ondulantedas águas. E eis que a vestimenta to-mou a f orma de um barco. Então, no-
vamente, a voz
r
essoou como o chil-
rear de um canto de pássaro ao anoi-tecer: S o b e a b o r d o, Jo s é, e que t o d o s
t e s ig a m.José pegou o pequeno cof re do
Graal e, confiante, subiu a bordo. Avestimenta branca provou ser sufici-entemente f orte para levá-lo e a em-barcação ficou tão imóvel como se es-tivesse presa por uma âncora. Os ou-tros o seguiram e depositaram a mesa
de prata no centro da embarcação.Quando todos tomaram seus lugaresà mesa, o barco, impulsionado poruma f orça misteriosa, começou a mo-ver-se e tomou rapidamente a direçãodo Ocidente.
O bastão se enraí za na terragelada
Logo o sol declinou, a lua subiu aocéu e o barco continuou seu cursomais rapidamente do que qualquer
outra embarcação. Entretanto, a luatambém se deitou; depois, atrás deles,o sol despontou novamente, e, nosraios de luz dourada que despertavampara a nova vida, José percebeu a
praia de areia branca e os altos roche-dos do país do Ocidente. Ele os con-templou com admiração, mas, quan-do os viajantes aproximaram-se, des-cobriram que haviam trocado o calordo verão e árvores cheias de f rutospor um país onde reinava o f rio do in-verno e cu jo solo estava coberto de
neve. O gelo, que havia recoberto os
rochedos durante a noite, brilhava; eos rios corriam sob uma dura crostagelada. O barco levou os viajantes pa-ra uma pequena baía, onde o vento donorte os apressou a procurar um abri-go. José f oi o último a sair, e a vozmandou que ele recolhesse e usassenovamente sua vestimenta. Milagre!Ela estava seca, quente e conf ortável!Os viajantes subiram uns atrás dos
outros
: J
osé com o pequeno cof r
e, opescador, os que carregavam a mesade prata e toda a comitiva. Eles galga-ram as alturas, desceram aos vales, de-pois chegaram num lugar mais aco-lhedor. José apoiou-se em seu bastãoe olhou se o lugar era convenientepara aí se fixar. Então, seu bastão co-meçou a vibrar e dele saí ram brotos eramos cobertos de flores brancas: ele
se enraizou no solo gelado! A árvorecresceu rapidamente e tornou-se tãogrande que José pode facilmente ins-talar-se debaixo dela. Quando ele to-cou as flores, elas esparziram um per-f ume maravilhoso.
José chamou o pescador e seusamigos e lhes pediu para colocarem amesa de prata sob a árvore. Todos se
instalaram ali. Então, o pescador en-controu um peixe de prata num ribei-
rinho próximo, como se esse peixe oestivesse esperando há muito tempo.Ele o levou a José, que o preparou so-bre os carvões em brasa. O Graal f oicolocado no meio da mesa, e todos se
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apressaram a tomar parte da refeiçãomágica, que lhes era familiar, sob a ár-vore florida. Essa f oi a primeira refei-ção feita no país do Ocidente, en-quanto colinas e vales desapareciamsob uma espessa camada de neve.
A taça envolta por uma nuvemluminosa
Nesse momento, um ancião vestido
com um grande casaco os observava.Era um druida que apareceu por aca-so. Espantado, ele olhava esses ho-mens morenos, com suas vestimentas
orientais coloridas, instalados ao re-dor de uma mesa de prata sob uma ár-vore florida. Mas era principalmente ataça envolta por uma nuvem lumino-sa que atraía sua atenção. Quandoeles terminaram de comer, um deles
levantou-se e, com grande cuidado,
tomou a taça cintilante em suas mãos.Todos se levantaram, pegaram a mesa
de prata e continuaram seu caminhopela neve. O druida aproximou-se da
árvore e tocou-a. A árvore era verda-deira, assim como as flores de odordelicado. Ele retornou para sua casa econtou a todas as pessoas o que havia
visto. Então, o rei do país do Oci-dente ofereceu a José e a seus amigos
a terra onde a árvore se encontrava.Eles ali construí ram uma capela e, du-rante muitos anos, puderam reunir-setranqüilamente ao redor da mesa deprata e permanecer no país, graças àinfluência protetora e salutar doGraal.
Jesus, pescador.
Papiro copta,
Staatliche Museen,
Berlim. Pedra
tumular do século
XIII. Museu de
Lerida, Espanha.
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O I r
ã , a a nt ig a P é r s i a , é, j unt o c o m o s p a í s e s á
r
a b e s , há s é c ulo s , um i m- po r t a nt e c e nt r o d o mund o i s l â mi c o. N o O c i d e nt e, e s que c e mo s c o m f r e -qüê nc i a que o s d ife r e nt e s p a í s e s i s l â mi c o s t ê m r a í z e s e t r a d i ç õe s mui t o d i s -t i nt a s . E m no ss o s d i a s , o que s e c o nhe c e s o b r e a mi t ologi a d a P é r s i a é mui -t o a nt e r io r a o i ní c io d o I s l ã .
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O Livro dos Reis da Pérsia antiga
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pesquisa científica mostra que, noespaço e tempo, as tentativas que vi-sam tornar os homens conscientes deseu verdadeiro destino são universais.Encontramos testemunhos em pala-vras, escritos e sí mbolos sobre a terrainteira. É como um fio de ouro que
liga entre si os pesquisadores de todasas raças, em todos os séculos.Após o islã ter se tornado religião
de Estado, na Pérsia, correntes e mo-vimentos continuaram tentando fazerreviver a antiga herança espiritual doIrã. Eles procuraram a essência daqui-lo que se conservou e a adaptaram aoespí rito do tempo. Assim, o fio de ou-ro f oi novamente restabelecido e seudevido valor reiterado por toda parteonde isso se fez necessário.No século XII, o sábio persa Shihab
ad-Din Yahya al-Suhrawardi (1154-1191) religou o ensinamento de Zoro-astro e as tradições do antigo Irã coma sabedoria hermética e o neoplatonis-mo grego. Ele hauriu dessas f ontes
para atualizar sua mensagem, pois es-
sas duas corr
entes de sabedor
ia er
ammuito conhecidas e apreciadas no seutempo. Em um de seus relatos ele fazreviver, de certa f orma, a imagem doGraal, uma clara e poderosa imagemque dif unde a prof unda verdade doensinamento espiritual libertador. Asf ontes de seus dizeres sobre a ação doGraal estão ocultas na pré-história daPérsia.
A taça mágica com sete
cí rculos
Todos os iranianos conhecem e ve-neram o L i v r o d o s Rei s , o S hah-na -me h, que f oi composto no ano 1000
d.C. pelo grande poeta Firdawsi ecompreende 50.000 versos. No Irã,
ele é tão considerado quanto a O d i s -s éi a de Homero ou A D i v i na C o mé -d i a de Dante no Ocidente. O L i v r o d o s Rei s é uma gigantesca epopéiasobre os tempos extremamente anti-
gos, quando os sábios prí ncipes con-duziram seus povos de f orma justa elevaram sua civilização a um imensodesenvolvimento. Conta-se de Jam-shid, o mais importante rei, o quartodesse perí odo, que seu trono flutua-va no ar e que ele possuía uma taçamágica com sete cí rculos. Na mitolo-gia da Pérsia, essa taça é conhecidacomo a Taça de Jamshid. Mais tarde,ela f oi denominada a t a ç a que r efle t e o uni v e r s o . Entretanto, satisfeitodemais com suas obras, Jamshid caiusob o domí nio do mal. S o b r e a t e rr a ,e u s ó c o nhe ç o a mi m me s mo : o t r o no r e a l j a ma i s v i u um ho me m t ã o f a mo -
s o c o mo e u. Ele perdeu a razão e f oidestronado por um jovem que estavasob as ordens do mal. Esse aconteci-mento marcou o começo da lutasempre atual entre o bem e o mal,simbolizada pelo combate do Irã e deTurã.O rei Jamshid não é uma invenção
de Firdawsi. Suas descrições do pas-sado iraniano e dos dezessete primei-r
osr
eis têm por
f undamento a obr
ado grande sábio Zoroastro (cerca de628-551 a.C.), que propagou, naPérsia, o ensinamento monoteísta deAhura Mazda e de seu adversárioAhriman. Jamshid é o antigo rei Yimadas tradições zoroástricas, queremontam à pré-história da Índia.O reino de Yima é conhecido como
a Idade de Ouro, quando não havianem doença nem morte. Ele era um
prí ncipe justo e sábio, chamado de oBom Pastor. O número de imortaiscresceu tão depressa sob sua direção,
que ele decidiu ampliar a Terra trêsvezes. Mas o demônio Mahrkuschaenviou um terrível maremoto seguidode verões tórridos que provocaramuma seca tão grande, que só AhuraMazda pôde impedir a exterminaçãodos seres humanos. Ele mandou Yima
cavar uma morada subterrânea, ondetodos os homens e todos os animais
encontrariam um abrigo e onde have-ria fartura de água, árvores, flores ef rutos.
A ilha celeste,
atribuída a Mirza
Ali, Ca.1560.
A
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No f im da Idade de Ouro Yima
torna-se mortal
Diz-se que f oi o orgulho de Yima
que provocou essa catástrofe. Ele teriase desviado de seu Criador e se encer-rado no erro. A Idade de Ouro termi-nou e Yima tornou-se mortal. Desde
que propagou suas falsas idéias, a Luzde Glória (Xvarnah) retirou-se. Segun-do os iranianos, todos os reis legí timospossuíam essa luz. Zoroastro disse:E l a il umi na c ada c é u que, d o a l t o, r e s -
pl and e c e d e l uz e s e e s t e nd e a c i ma e a o r e d o r d e s t a T e rr a , a ss i m c o mo um j a r -
d i m c r i a d o no mund o e s pi r i t ua l i rr a d i a s ua l uz s o b r e a s t r ê s p a r t e s d a T e rr a .Esses mitos dos tempos primitivos
apresentam uma fase do desenvolvi-mento da humanidade quando os reis
sacerdotes ainda existiam. Nessa épo-ca, a humanidade era guiada por essesreis que possuíam a Taça de Jamshidou Luz de Glória. Eles estavam liga-dos ao Espí rito de Deus e tinham portarefa proteger seu povo graças a umasociedade justa e ordenada, a fim de
que ele pudesse desenvolver-se. Nãosão somente os mitos persas que falamdeste sacerdócio-real, mas também osmitos do Egito antigo.
Voltemos para L i v r o d o s Rei s , o S hah-na me h. Nos contos e lendas daluta entre Irã e Turã aparece um ho-mem que tem um papel importante nabusca do Graal. Seu nome é Kay
Khosraw, o oitavo e último rei da di-nastia dos Kayanides. Sua vida mostramuita semelhança com a dos cavalei-ros das lendas do Graal conhecidas noOcidente.
Seu avô, o rei do Irã, não sabia oque fazia quando atacou o reino dos
demônios. Seus adversários o aprisio-naram e lhe vazaram os olhos. Graçasao herói Rustam, que af rontou sete
per
igos, o r
ei voltou finalmente aotrono do Irã. Seu filho retomou a lutacontra Turã mas, f orçado pelas cir-cunstâncias, se entendeu com seu ini-migo, o rei de Turã, e esposou sua
filha, Farangis. Pouco depois, ele per-deu sua vida devido a traição. Farangisestava grávida e deu à luz, após a mor-te de seu esposo, um filho denomina-do Kay Khosraw.
Os reinos do bem e do mal
são entrelaçados
As relações entre Irã e Turã mos-tram que, no tempo de Kay Khosraw– nos primeiros tempos da história doIrã – o reino do Bem e do Mal já esta-va em curso. O novo prí ncipe Kay
Khosraw é o protótipo dessa dualida-de. Seus avós f oram, respectivamente,
os reis de Irã e Turã.Como nas lendas ocidentais sobre o
Graal, fica claro que os guardiões dataça mágica a têm desmerecido muito.É preciso um ato enérgico para fazer aTaçade sete cí rculos de Jamshid, onde oUniverso se reflete, volte à Terra para
libertar a humanidade.
A juventude de Kay Khosr
aw separece com a de Parsifal. O pai de ca-da um deles é assassinado traiçoeira-mente. Os dois são filhos de princesas
e crescem ao lado de suas mães na soli-dão de uma floresta. Quando jovens,eles sentem atração pela cavalaria.Quando Kay Khosraw, pela primeiravez, encontra-se diante do rei de Turã,
ele passa por um tolo e não fala desuas origens. Parsifal igualmente se
conduz como um simplório, um pate-ta que nem mesmo sabe seu nome.Kay Khosraw chega finalmente ao
Irã, ao lado de seu avô, que o faz ime-diatamente rei. Ele jura vingar o assas-sinato de seu pai, e não mais ter des-canso antes de ter vencido o malvadorei de Turã.Kay Khosraw, como Parsifal, tem
como ob jetivo restabelecer a justiça
divina original. É então que o Graalaparece de novo: um jovem iraniano é
feito prisioneiro em Turã. Para salvá-lo, no dia do Ano Novo na Pérsia,Kay Khosraw coloca uma vestimenta
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especial e cinge a coroa dos Kayani-des; depois, pega a taça mágica comsete cí rculos onde o Universo se refle-te e tenta descobrir o jovem num dossete mundos.Logo se dá a luta decisiva entre Irã
e Turã. Kay Khosraw vence o rei de
Turã, que f oge em seu cintilante palá-cio de Gangbehest. Após um longocerco, Kay Khosraw vence seu adver-sário. Então, começa um perí odo ilu-minado de sessenta anos no Irã.
No final de sua vida terrestre, KayKhosraw, com oito cavaleiros, sobe
uma alta montanha. Quando ele osadverte da chegada de uma tempestade
de neve e aconselha a retornar, trêscavaleiros acatam seu conselho, mascinco deles continuam a acompanhá-loaté o momento em que eles chegam a
uma f onte. Lá, o rei se despede de seus
cavaleiros, banha-se na Água da Vida edesaparece. Os cavaleiros o procuramainda durante muito tempo e acabamse perdendo na tempestade de neve.
O Graal e a Luz de Glória
A lenda persa da Taça com sete cí r-culos que reflete o universo se parecemuito com as lendas do Graal. Estataça está ligada à Luz original que estáf ora do alcance da consciência comum,
que, aliás, é vigiada e combatida pelastrevas.No mesmo contexto, a tradição
de Zoroastro fala sobre o «Xvarnah», aLuz da Glória que envolve a Terra econfere a realeza aos prí ncipes do Irã.
Um hino zoroastriano relata como aLuz da Glória é transmitida, em segui-da, a oito reis. O último rei tem pornome Kavi Husravah, nome zoroas-triano de Kay Khosraw. Portanto,
com Zoroastro igualmente aparecemos oito reis portadores de luz da dinas-
tia dos Kayanides. O número oito –oito reis e oito cavaleiros que acompa-nham Kay Khosraw – faz pensar na
tradição ocidental segundo a qual oitodescendentes de José de Arimatéia
conservaram a taça na qual ele reco-lheu o sangue de Cristo.
Substituição do ser interior
Após esses exemplos de lendas rela-tivas ao Graal na antiga Pérsia, uma
questão apaixonante se impõe: para
onde f oi uma tal herança? Onde pode-mos retomar o fio de ouro? Afinal,cada civilização tem sua própria lí nguae características particulares, de modoque os homens de cada época têmoutras tarefas e possibilidades para
alcançar a meta, seguindo um processode mudança interior. É interessantenotar que as lendas do Graal reapare-cem no século XII, não somente noOcidente, mas também na Pérsia.No mundo árabe persa, Suhrawardi
retoma os temas do Graal, sob o ângu-lo do zoroastrismo, das tradições daantiga Pérsia, do hermetismo e dos
elementos helenísticos. Para ele, im-
por
ta menos uma filosofia ou umateologia do que as experiências con-cretas do pesquisador da verdade.Após muitas provas, este último pode
dar uma vista d’olhos na Taça comsete cí rculos e assim ligar-se a umnovo e superior campo de vida. É porisso que ele não fala dos sacerdotes-rei
que intervieram como substitutos doCriador, mas de uma substituição doser interior em cada pessoa.
Na Pérsia de Suhrawardi existiamnumerosos sí mbolos que se referiamao País da Luz do Espí rito divino,uma rica herança provinda do tempode Zoroastro. Mas a idéia do Reino deLuz amplamente dif undida por Maniexercia ainda uma grande influência.
Mais tarde, Mani f oi considerado etratado pelo Islã como herético; entre-tanto, f ragmentos de seu ensinamento
f oram conservados em textos maistardios da mística e do gnosticismopersas. Em seus hinos e seus salmos,Mani descreveu o País da Luz deDeus, ao qual deve aspirar o homem
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Vitória sobre o
dragão, guardião do
tesouro. Hamsah,
Nisami, British
Museum, Londres.
mutável e cego. Esses textos de Maniprovêm das tradições da antiga sabe-doria persa; contudo, ele denominavaa si mesmo Apóstolo de Jesus Cristosegundo a vontade de Deus.
O E s pí r i t o da v e r dad e v eio e no s d e s a t o u da il us ã o d o mund o.E le no s e nt r ego u um e s pel ho.
C o nt e m pl a nd o -o, v e mo s nele o U ni v e r s o.E le no s mo s t r a que exi s t e m dua s o r -
d e ns : a o r d e m da L uz e a o r d e m da s t r e v a s .
A o r d e m d a L uz pe ne t r a a o r d e m da s t r e va s .N ã o o b s t ant e, a o r d e m da s t r e va s e s t á s ep a r a d a d a L uz d e s d e o c o me ç o...
A corrente da iluminação
No século XII, Suhr
awar
di haur
iudessa f onte e instituiu o Ishraq, aCor-rente da Iluminação, denominadatambém de A Rad i a ç ã o da Aur o r a . Ele
deixou uma obra considerável. Parte
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em árabe, parte em persa, ele redigiuconsiderações teológicas e tambémnarrativas alegóricas e herméticas. Eleexplica, em trechos diferentes, a quaistradições espirituais ele se sente liga-do; e insiste sempre na importância,
não dos conhecimentos, mas da expe-riência concreta: Q uant o a o s a migo s s o b r e o c a mi nho, ele s pe r c e b e m, e ms ua s a l ma s , l uz e s que o s d eix a m nume nc a nt a me nt o ex t r a o r d i ná r io, po r que e ss a l uz nã o s e e nc o nt r a na v i d a t e rr e s -
t r e. P a r a o p r i nc ipi ant e, é uma l uz f u-g az c o mo o r a io ; p a r a o ma i s ad i ant a -d o, uma l uz unifo r me, e, p a r a o ho -me m s u pe r io r , uma l uz c ele s t e o b s c ur a .
Q uant o à l uz o b s c ur a que le va à pe -que na mo r t e, o s áb io P l a t ã o, e nt r e o s g r ego s , foi o úl t i mo que r e a l me nt e a c o nhe c e u, a ss i m c o mo o G r a nd e E s pí -r i t o c u jo no me foi c o ns e r v a d o a o lo ngo da hi s t ó r i a d e H e r me s .
Suhrawardi só consagrou algumaslinhas à taça, ou Graal. Ele parte doprincí pio de que seus leitores conhe-cem bem a história do rei mí tico KayKhosraw. O G r aa l, o e s pel ho d o uni -v e r s o, pe r t e nc i a a K a y K ho s r a w . E le
po d i a le r ne ss e e s pel ho t ud o o que qui -s e ss e, c o nt e m pl a r a s c oi s a s o c ul t a s e c o nhe c e r a s c oi s a s ma nife s t a d a s . D i z -s e que o G r aa l e nc o nt r ava -s e e m ume s t ojo d e c o ur o, d e fo r ma c ô ni c a e a t a -d o po r d e z t i r a s . Q ua nd o K a y K ho s -r a w qui s , um d i a , v e r a s c oi s a s o c ul t a s ,ele c o nfio u o e s t ojo a o t o r nei r o. Q ua n-d o t o da s a s t i r a s fo r a m d e s a t ada s , o
G r aa l fi c o u i nv i s í v el. P o r é m, quand o o e s t ojo, na ofi c i na d o t o r nei r o, foi r e a -ma rr a d o, o G r aa l t o r no u-s e no v a me n-t e v i s í v el.O tema da taça, espelho do Univer-
so, remonta a um passado muito lon-gí nquo e era ainda conhecido no tem-po de Mani.Portanto, para Suhrawardi, fica cla-
ro que o Graal desce na natureza do
homem par
a liber
tá-lo dela. O imor
taldesce no mortal. A natureza terrestreé o invólucro, o Graal está escondidodentro do esto jo, voluntariamenteamarrado. No interior desse invólu-
cro, a nova alma precisa despertar parareceber o Espí rito. Kay Khosraw jápossuía essa ligação, em princí pio.Permanecendo em seu corpo, o Graalera visível, quer dizer, agia na nature-za terrestre. Assim que ele desfez os
dez laços e voltou-se totalmente paraas coisas invisíveis, o Graal não f oimais visível. Afinal, elevar-se no Es-pí rito significa desligar-se da matéria.
E como o Graal é preenchidopelo Espí rito?
Q uand o o s ol e nc o nt r ava -s e no e qui nó c io da p r i mav e r a , segundoSuhrawardi, K a y K ho s r a w ele v o u o G r aa l p a r a o s ol. I me d i a t a me nt e uma
po d e r o s a l uz c a i u s o b r e ele e t o da s a s li nha s e r ep r e s e nt a ç õe s d o mund o nele s e manife s t a r a m. Ele conclui: Q uand o
e u o uv i o me s t r e d e s c r e v e r o G r aa l d e J a m, e u f ui, e u me s mo, o G r aa l d o mund o, o e s pel ho d e J a m. N o G r aa l d o mund o, o e s pel ho, nó s v i mo s , e mle mb r anç a , que c ada G r aa l é uma c ha -ma que no s f az mo rr e r .Repetidamente, Suhrawardi indica
que o eu da natureza deve morrer demodo que uma nova alma possa nas-cer. Sob a ação do Graal, o superiordeve substituir o inferior. Tal f oi suamensagem aos homens de seu tempo:são nossos atos que nos transf ormam.
Seu ensinamento exerceu ainda uma
grande influência muito tempo apóssua morte. Sua f raternidade tinha pornome I s hr aqiy un, e também K ho s r a -w iy un, segundo o legendário KayKhosraw.Essa comunidade perpetuou-se
após seu desaparecimento e encon-tramos traços dela até em nossos dias.
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Kites j, sí mbolo de um cosmo inviolado
O G r aa l é o s í mb olo d e uma r e a li -d a d e e s pi r i t ua l i nc o m p r ee ns í v el
p a r a a c o ns c iê nc i a c o mum. E s t a , s ó
c o m d ifi c ul d a d e po d e t e nt a r a p r o -xi ma r -s e d ele! E nt r e t a nt o, e ma na d e ss e s í mb olo uma fo r ç a c r i a d o r a e
d i na mi za d o r a , uma fo r ç a po r t a d o -r a d e c ur a e d e r e no v a ç ã o. Alé md i ss o, e ss a fo r ç a exe r c e s ua a ç ã o
s o b r e a c o ns c iê nc i a huma na e s o b r e
a s a t i v i d a d e s que d el a d e c o rr e m; e
el a a b r e a po r t a a v i s õe s i nt ui t i v a s c a p az e s d e e s c l a r e c e r a c o ns c iê nc i a c o mum, c ha ma d a d e no r ma l.
uando se descreve o Graal, fala-se
detaça ou vaso sag
r
ado, de pedr
a pr
e-
ciosa luminosa, de um f ogo puro, de
uma música celeste que invade todas
as coisas, de uma f orça salvadora esantificadora que torna supérfluoqualquer outro alimento, de pura luzda sabedoria e também de uma cidade
oculta. A consciência terrestre estáimpossibilitada de dar a exata defini-ção de uma realidade espiritual deuma ordem elevada, de rotulá-la.
Talvez seja por essa razão que o Graalé um conceito que, em toda parte,
interpela o homem até o mais í ntimodo coração.Quando não é representado mate-
rialmente, ele é considerado como umf ogo, como uma energia espiritual –
todas as lendas são unânimes – inaces-sível aos simples mortais, a menos queestes tenham se preparado especial-
mente par
a a pr
ova, seguindo umplano muito claro. Se não f or este ocaso, eles seriam, então, simplesmenteconsumidos por essa energia muitoespecial e não-terrena.
O Graal cósmico é imperecível. Eleexerce sua influência de duas f ormas:às vezes, ele se manifesta por meio desí mbolos, esboçando as linhas de f or-ça com a qual sua energia é animada;outras vezes, por intermédio de suaação libertadora e regeneradora. Os
sí mbolos falam à consciência intuitivado homem receptivo e o impulsionama buscar e a agir de maneira lúcida e
inédita. Tal comportamento pode fa-zer nascer um novo tipo de homem, oqual confiará a conduta de sua vidacotidiana ao princí pio interior imor-tal. Esse princí pio é o f undamento da
alma eterna. Graças a esse poder daalma, ele tem a capacidade de ir cons-
cientemen
te ao encon
tro do G
r
aal ede se colocar a seu serviço. Colocar-se
a serviço do Graal significa, portanto:conhecer o plano de Deus para omundo e a humanidade e colaborarcom ele. Então a alma, uma vez puri-ficada, renovada, e com isso tornada
imortal, encontra seu lugar na grandee antiga Fraternidade do Graal, queabarca todo o universo.
Sobre essa base, o Graal não
pode ser encontrado
Nessas condições, vemos claramen-te a razão pela qual reina, em todas aslendas do Graal, uma grande incertezasobre a natureza e a direção da busca.Onde é preciso procurar esse Graal? E
qual é o momento pr
opício par
a sepôr a caminho? A busca depende deum ponto de partida bem determina-do? No início, a busca só reflete nos-sas próprias idéias. Ora, sobre essa
Painel com a Visão
de Kitesj sob a
água.T.Zubkova,
1968.Têmpera
ouro e laca sobre
papel machê.
Q
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base, o Graal não pode ser encontra-do, mesmo que nossa imaginaçãoalcance um alto grau de refinamento ede idealização. Não há, portanto, comque se espantar se tantos pesquisado-res e Prometeus assaltam o céu e ficamde mãos vazias, a despeito de seus no-bres e corajosos esf orços. Somente épossível encontrar e conservar o Graal
quando a conduta é plena de dignida-de e orientada para uma espécie de ca-valaria interior, quando tudo f oi dei-xado para trás, quando cessa o pensar,sentir e agir de acordo com a consci-ência terrena, quando todos esses ele-mentos terrenos estão mortos e umlugar é preparado para a alma viventeeterna.Existia na Rússia, na época medie-
val, uma or
dem cavalheir
esca que as-pirava à honra e ao enobrecimento in-terior. Essa ordem queria servir aDeus, defender a pátria e socorrer os
pobres, os doentes e os oprimidos.
Nas cortes principescas e mansões dos
nobres, a filosofia, a astrologia, a al-quimia e a magia eram praticadas damesma f orma que no resto da Europa.Nessa época, a Rússia encontrava-sesob a influência da cultura persa alta-mente elaborada, onde encontramosos mais antigos traços conhecidos daslendas do Graal.Paralelamente a essa f raternidade
cavalheiresca, a lenda de Kitesj teve
um papel não secundário. O composi-tor russo Rimsky-Korsakof (1844-19-08) escreveu uma ópera intituladaS kazanije o ne v i d i mo m g r ad e Ki t e s j i
d e v e Fe v r o nii (A cidade invisível de
Kitesj e a virgem Fevrônia). Essa ópe-ra descreve, de f orma mais clara doque a das lendas do Graal da Europa
ocidental, a preparação necessária pa-ra ser admitido numa ordem cavalhei-resca.
A sabedoria da alma medieval
O autor do libreto, W.J.Belski, feza sí ntese de todas os conceitos que
povoam os mitos, contos e lendasrussas. Aqui, é a S a g a d a Jo v e mFe v r ô ni a d a c i d a d e d e M ur o m queocupa o lugar central. A C r ô ni c a d e Ki t e s j (1251) de Meledins sobre a edi-ficação da Pequena e da GrandeKitesj em três anos, sobre os 75 anosque duraram essas duas cidades, sobre
a destruição da Pequena Kitesj, em1239, f orneceu o quadro históricodessa saga. Em colaboração intensa
com Rimsky-Korsakov, W.J.Belskifez-se intérprete da sabedoria popularda alma medieval.Há pouca ação dramática nessa
ópera, o que permite aos artistas, se-gundo Belski, dar ênfase a todas asemoções. A música poética e lí rica de
Rimsky-Korsakov torna vigorosos ossutis estados de alma – exatamentecomo na Fl a ut a M á gi c a de Mozart –ela traduz claramente as três fases deevolução da consciência:
O Cavaleiro
Branco combate
Ivan. Gravura
sobre madeira,
Contos das
florestas e
estepes russas,
Dr. Boris
Rapschinsky.
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• a compreensão concreta, que élimitada aos fenômenos terrestres
cotidianos; • a experiência intuitiva e mística da
luz que não pro jeta sombra. Nocoração do ser que aceita conscien-temente a luz, exprime-se a fé au-têntica do cristianismo original. Éessa fé que confere a sabedoria;
• a consciência espiritual, tal como a
despertada em Fevrônia, que, apóster ela suportado provas sobre-humanas, a conduz ao campo doprogresso espiritual.
Essa pureza interior espiritual colo-
ca Fevrônia em ligação com a luz doGraal e com o domí nio onde a Frater-nidade do Graal haure as f orças quelhe permitem trabalhar no campo davida terrestre. Essa ligação é represen-tada, na ópera, pelos pássaros paradi-síacos Alkonost e Siren. Eles apare-cem cada vez que Fevrônia é submeti-da a uma prova que produz em suaconsciência uma experiência superior.
Representação da alma humana
purif icada
A Pequena e a Grande Kitesj f oramf undadas para serem as cidadelas da fécristã original. Seus habitantes pude-ram seguir, durante setenta e cincoanos, um caminho místico pessoal em
proveito do crescimento de sua alma,a grande finalidade da vida humana.Na lenda de Kitesj, o prí ncipe dessa
cidade é dotado de uma prof undaconsciência religiosa e mística que ofaz viver por antecipação seus ideaisem benefício de seu povo. Essa cons-ciência mística une todos os habitan-tes e os leva diretamente a desenvolver
uma nova alma, a qual esclarece para
eles a verdadeira finalidade da vida.A virgem Fevrônia vive solitárianuma floresta vasta e selvagem aolongo do rio Volga, diante da PequenaKitesj. Fevrônia é a representação da
alma natural pura que transmite sua
sabedoria. Ela trabalha com ervas te-rapêuticas e compartilha seu conheci-mento livremente com os homens e osanimais. Ela compreende intuitiva-mente os processos que se desenvol-vem nas plantas e no reino animal eprodigaliza aos seus semelhantes com-preensão, compaixão, assistência eamor auxiliador.Os seres vivos da flo-resta confiam nela. Ela vive em har-monia com eles, e compreende, res-peita e favorece os processos naturaisque englobam todas essas criaturas.Assim, Fevrônia terminou uma fase
importante de seu desenvolvimento.
Ela possui uma alma radiante, a luz dacompreensão intuitiva e a mais eleva-da f orma de amor que o homem podealcançar. É a razão pela qual ela é pro-vada e levada a fazer experiências queum eu muito ligado à natureza nãopoderia suportar.
Vivif icação dos poderes
superio
reslatente
s
As provas de Fevrônia começamcom um encontro com o prí ncipeVsevolod. Este se extraviou duranteuma caçada e vagueia pela floresta,ferido e cansado. É então que ele seapercebe de Fevrônia. Ela está cantan-do enquanto procura por plantas me-dicinais, e é acompanhada por pássa-ros, um urso e alguns cabritos. Oprí ncipe fica espantado e cai sob o en-canto desse quadro: uma criatura per-feita e plena de alma segundo as nor-mas terrestres, nesta floresta selva-gem!Fevrônia olha para o prí ncipe com a
maior calma e vê que ele sof re, ví timade seus conflitos interiores. Ela se per-gunta como um homem tão nobre, um
prí ncipe, pode querer caçar seus jo-vens irmãos, os animais, para matá-los. Fevrônia percebe que ele aindanão descobriu a luz que está nele. Oprí ncipe é crente, e nada mais. Ele ain-
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da necessita de ritos e de princí piosmorais para poder seguir seu caminho.
Embora ele tenha uma grande fé, seupróprio núcleo espiritual ainda nãodespertou. É por isso que ele só ageconf orme os preceitos apresentados àsua inteligência. A compreensão intui-tiva ainda lhe é desconhecida. Então,Fevrônia dirige-se a ele para descobrirse é possível vivificar seus podereslatentes.
Ela saúda Vsevolod com palavras
simples que abrem seu coração. Oprí ncipe pede-lhe pão, mel e água. Es-ses são os sí mbolos esotéricos do ali-mento espiritual.
Vida da força crí stica em cada
alma humana
O prí ncipe pensa que Fevrônia,com toda a sua simplicidade, é bemsuperior a qualquer mulher, mesmo amais culta, da Pequena Kitesj. Ela
ocupa seu lugar
na cr
iação de f or
matotalmente harmoniosa e colaboracom a natureza e suas criaturas portoda parte onde pode fazê-lo. É queCristo está em cada alma humana,
compadece-se e participa da vida decada ser vivente. Fevrônia está emcondições de doar ao prí ncipe sof re-dor, Vsevolod, a luz que iluminará sua
consciência. Ele aceita seu auxílio comreconhecimento e aprende que não
deve mais considerar os animais eoutras criaturas como presas, mas que
deve defendê-las e socorrê-las.Assim que essa mudança interior
acontece com o prí ncipe, Fevrôniapode aceitar seu pedido de casamento.Então, Vsevolod faz que sua noiva
deixe o mundo que lhe é familiar e a
leva para a vida desconhecida da cida-de e de seus habitantes. Fevrônia
observa os cidadãos da Pequena Kitesjcom espanto e compaixão. A maneira
pela qual essas pessoas passam seutempo lhe é totalmente estranha.Quando estes percebem a luz que
emana de Fevrônia, eles passam a cha-má-la de A Virgem da Luz. Assim es-timada, ela se esf orça para que enten-dam suas idéias sobre a vida e sobre averdadeira finalidade da existência.Ela os encoraja a buscarem a si mes-mos. Entretanto, apesar de sua humil-dade, sabedoria, discernimento, com-paixão, bondade, verdade e tolerância,apesar de sua alegria, f orça e retidão,
poucos se interessam por ela.
Os habitantes da Pequena Kitesjcultuam principalmente a vida mate-rial, por isso demoram a compreender.Fevrônia vê claramente os limites des-sa vida superficial e percebe que os ha-
bitantes da cidade simplesmente igno-ram seu amor e suas sábias palavras.
Aceitar a escravidão ou
ab jurar sua f é
Considerando que a mente e a con-duta deles estão fechadas a qualquer
tentativa der
enovação, eles não con-seguiriam escapar de uma transf orma-ção violenta. Os tártaros avançam pa-ra o Oeste e, na campanha devastado-ra que os faz atravessar a Rússia, dosul e do centro, aproximam-se da Pe-quena Kitesj. A Grande Kitesj deverásucumbir em seguida. Os habitantes
da Pequena Kitesj estão agora diantede uma escolha decisiva: render-se aostártaros para tornar-se seus escravos e
ab jurar sua fé, ou permanecer fiéis aesta, morrendo em combate?No decorrer dessa crise, muitos ci-
dadãos da Pequena Kitesj percebem avoz interior que lhes diz para seguirsua intuição que os impulsiona a com-bater pela sua salvação e pela preser-vação da Grande Kitesj. Nesse meiotempo, o prí ncipe Vsevolod galopacom alguns cavaleiros para a Grande
Kitesj a fim de buscar auxílio. Mas ostártaros surgem mais rápido do que oprevisto. No terrível combate, que sedesencadeia com violência, todos sãomortos, menos Fevrônia e um bêbado.
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Ninguém se mostrou disposto a aju-dar os tártaros e a lhes indicar o cami-nho secreto para a Grande Kitesj.Entretanto, o bêbado, obscurecido
por sua vida de prazeres, ligado à vidamaterial e não sabendo mais o signifi-cado da alma e dos valores superiores,
logo que cai nas mãos dos tártaros seprepara para guiá-los para a GrandeKitesj, a fim de salvar sua vida.A bela Fevrônia faz parte dos des-
po jos de guerra que cabem ao Khan,
prí ncipe dos tártaros, e torna-se suaescrava. Cativa, assim como o bêbado,ela roga a seu companheiro que não secomporte como Judas, traindo o se-
gredo do caminho para a GrandeKitesj. Ela se recolhe e ora pela salva-ção dos habitantes da Grande Kitesj:como eles se deixam guiar em sua vidacotidiana pela f orça da verdadeira fé,
somente isso pode salvá-los.
O prí ncipe enf renta
pacif icamente os tártaros
Os poderes e f orças terrestres –simbolizados pelos tártaros – procu-ram ganhar Fevrônia para sua causa,mas ela permanece inatacável e inven-cível. Ela não teme a violência e só tempiedade de Khan, que está sedento pormortes e se af oga no álcool.
Então, segue-se uma série de acon-tecimentos dramáticos. O prí ncipe
Vsevolod, com um pequeno grupo decavaleiros, marcha contra os tártaros.Ele se arma com o elmo da esperança,
o escudo da fé e a espada do Espí rito.Esses atributos mostram claramenteque ele está em busca do Graal, e queluta contra tudo o que deseja retê-lo.Ele tornou-se um puro cavaleiro doGraal, pois a lenda relata que ele vai aoencontro dos tártaros com um espí ri-
to de ausência de luta.Esses aspectos da lenda de Kitesj – e
que se encontram em muitos outros
contos do Graal – mostram que se tra-ta aqui de processos interiores de pu-
rificação espiritual a que todo ser
humano é convidado.O prí ncipe Vsevolod e seus cavalei-
ros penetram as fileiras dos tártaros eaí encontram a morte. Os habitantes
da Grande Kitesj e seu rei Yuri supli-cam à Mãe celeste para envolvê-loscom f orças puras e protegê-los. E omilagre acontece: a cidade é envolvida
por uma nuvem de f ogo. Os pastores
que assistem a esse prodígio põem-se
a cantar: Ki t e s j t o r no u-s e a c a b e ç a e o c o r a ç ã o d o mund o. A cidade desapare-ce no mar de cristal, Swetli Jar, elevan-do-se ao céu. Na beira do mar, o exér-cito tártaro é tomado de indescritível
terror e f oge para os bosques ao redor.Fevrônia vê que a Grande Kitesj seeleva para uma dimensão superior. Os
dois pássaros dos mistérios, agora vi-síveis, convidam-na a lançar-se na luz
junto com a cidade. Assim, ela alcan-çou sua finalidade: não existe maismorte para ela. Revestida de luz, ela éacolhida pelos cavaleiros do Graal;depois, vai ao encontro de Vsevolod
que, após sua mor
te no campo debatalha, é ressuscitado e, como cava-leiro do Graal, é agora guiado para aGrande Meta. Finalmente, Vsevolod eFevrônia tornam-se rei e rainha doGraal da Grande Kitesj.
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N i ng ué m mel ho r d o que G a d a l, úl t i mo p a t r i a r c a c á t a r o, p a r a no s g ui a r pelo mund o d o s mi s t é r io s c á t a r o s . C o m fi r me za , ele
p r i v ilegi a o s ut il e d á v o z a o i nef á v el.
A hi s t ó r i a é, na r e a li d a d e, um r i t o d e i ni c i a ç ã o c á t a r a . E m o nd a s s ua v e s , el a il umi na c a d a p á gi na e no s i nv a d e c o m o s ilê nc io
má gi c o d a s g r ut a s d o Ar iège.
N e ss e s ilê nc io i nt e r io r , el a p ul s a v e r d a d e s que s o me nt e o c o r a ç ã o
po d e s o nd a r , d eix a nd o -no s a um p a ss o d o C a mi nho d o S a nt o
G r aa l.
S e d e s ej a r t r il há -lo, d ê o p r i mei r o p a ss o.