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Mayombe Pepetela Sequência didática

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MayombePepetela

Sequência didática

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ParticipantesMELP II

Beatriz de Souza Santos | 9015267

Fernanda Sampaio Gomes | 8975486

Iara da Paz | 9881406

Isabella Sales Ribeiro | 8978447

Mayara Luiz Barbosa | 8973251

Samanta Esteves | 8975785

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Planejamento

● Terceiro ano do Ensino Médio

● Segundo bimestre

● Quantidade de aulas necessárias: 14 (7 dobradinhas)

● Proposta para leitura: meta semanal

● Como os alunos conseguirão os livros?

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BNCC

Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias

2 Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.

4 Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, cultural, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo suas variedades e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza.

6 Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.

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BNCCHabilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG103 Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, sonoras, gestuais).

EM13LGG301 Participar de processos de produção individual e colaborativa em diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais), levando em conta suas formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos em diferentes contextos.

EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.

EM13LGG602 Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.

EM13LGG603 Expressar-se e atuar em processos de criação autorais individuais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas.

EM13LGG604 Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção histórica dessas práticas.

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BNCCHabilidades de Língua PortuguesaEM13LP01(competência 2)

Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.

EM13LP10(competência 4)

Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos.

EM13LP46(competência 6)

Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

EM13LP47(competência 6)

Participar de eventos (saraus, competições orais, audições, mostras, festivais, feiras culturais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperativas culturais, jograis, repentes, slams etc.), inclusive para socializar obras da própria autoria (poemas, contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, videominutos, playlists comentadas de música etc.) e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas diferentes práticas culturais de seu tempo.

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BNCCHabilidades de Língua Portuguesa

EM13LP50(competência 6)

Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.

EM13LP52(competência 2)

Analisar obras significativas das literaturas brasileiras e de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos) ou outros critérios relacionados a diferentes matrizes culturais, considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como dialogam com o presente.

EM13LP54(competências 1 e 3)

Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

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Resumo da sequência didáticaAulas Conteúdo sugerido

1 e 2(dobradinha 1)

A colonização e o processo de libertação de Angola

3 e 4(dobradinha 2)

Mayombe e a literatura de guerrilha

5 e 6(dobradinha 3)

Caracterização do romance

7 e 8(dobradinha 4)

Roda de conversa

9 e 10(dobradinha 5)

As mulheres e a guerra

11 e 12(dobradinha 6)

Questões da Fuvest

13 e 14(dobradinha 7)

Mostra Mayombe

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Sobre o autorArtur Carlos Maurício Pestana dos Santos, com pseudônimo Pepetela, nasceu em Benguela, no dia 29 de outubro de 1941. Graduado em Sociologia, é professor da Universidade Agostinho Neto em Luanda desde 1984.

Pepetela foi guerrilheiro e lutou durante a guerra de independência de Angola junto do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Sua experiência na luta de libertação foi crucial para a composição de Mayombe (1980), que foi escrito durante a guerrilha, assim como para algumas de suas obras posteriores. Pepetela é autor de 21 romances.

O escritor assume destaque na literatura lusófona e foi ganhador do Prêmio Camões (1997).

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Contexto histórico do romance

● Dobradinha 1 Contexto de colonização de Angola e Guerra de Independência de Angola.

● Dobradinha 2Introdução à literatura angolana e sua relação com a guerrilha de libertação nacional.

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Aulas 1 e 2: A colonização e o processo de libertação de Angola

❖ A dobradinha contextualizará em duas aulas expositivas o processo de colonização de Angola a fim de possibilitar a compreensão dos motivos que culminaram na luta armada pela libertação da nação angolana.

❖ Para ler: Capítulo 1.

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Objetivos da dobradinha

● Contextualização histórica do romance.

● Compreender o processo histórico de colonização e independência de Angola.

● Abordar o marxismo e o maoísmo e sua influência para os movimentos de libertação nacional de Angola.

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Conjuntura sociopolítica

❖ Apresentar a conjuntura sociopolítica que culminou na colonização de Angola:

● Depois da Conferência de Berlim, vários portugueses são incentivados a ir para as colônias, sendo que a maioria deles se instalou em Angola, região de exploração exclusiva portuguesa.

● É no século XVI, em 1576, que os portugueses fundam São Paulo da Assunção de Luanda, capital de Angola, que se torna alvo da economia portuguesa.

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O interesse econômico

❖ Apresentar em que consiste o interesse econômico na região angolana, motivo que levou Portugal a explorar a região:

● A exploração de Angola é baseada, principalmente, no comércio e no abastecimento de escravos, que serviam às plantações de cana-de-açúcar e minérios no Brasil.

● Além dos escravos, o interesse econômico na região angolana girava em torno de diamante, minério de ferro, manganês, cobre e petróleo.

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Portugal e a política de dominação❖ Explicar como se deu a política de dominação:

● Usando a estratégia de dividir para conquistar, Portugal instrumentaliza e explora as rivalidades de tribos para consolidar a dominação naquela região.

● A efetiva colonização do interior se inicia no século XIX, após independência do Brasil e fim do tráfico de escravos (mas não da escravidão).

● A ocupação do interior surge como resposta às pretensões de Inglaterra, Alemanha e França de avançar pelo território africano.

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Os movimentos de independência angolana❖ Explicar o processo que culminou na criação dos movimentos nacionalistas de

libertação:

● Com a independência do Congo Belga e a insatisfação frente aos anos de opressão colonial, ideais nacionalistas se fortaleceram em Angola.

● Tal contexto acelerou o surgimento de grupos políticos de libertação nacional angolanos, como o MPLA, UNITA e FNLA.

● Portugal não aceita a proposta de independência defendida pelos movimentos e começa o período de luta armada que vai durar quase 14 anos.

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Os grupos de libertação nacional

❖ Apresentar os grupos políticos que se engajaram na luta pela independência:

● MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola):Formado principalmente por kimbundos e apoiado pela URSS e Cuba.

● FNLA (Frente Nacional pela Libertação de Angola):Com forte presença do grupo étnico ovimbundos e apoiada pela China e posteriormente pelos EUA e África do Sul.

● UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola):Composta por bacongos, apoiada pela China e posteriormente pelos EUA.

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O embate ideológico

❖ Explicar as disputas ideológicas internas do movimento no contexto de Guerra Fria:

● MPLA – o marxismo-leninismo e a influência do socialismo soviético. (URSS/Cuba)

● UNITA e FNLA – o comunismo maoísta. (China), África do Sul e posteriormente o “democratismo” (EUA).

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A independência

❖ Exposição dos motivos que levaram à independência:

● A partir da Revolução dos Cravos, a estrutura política portuguesa é alterada, mediante a queda do salazarismo.

● Nesse momento, abre-se uma conjuntura política favorável à libertação das províncias e colônias ultramarinas.

● O MPLA proclama a independência de Angola em 11 de novembro de 1975 sob o governo de Agostinho Neto, líder do MPLA, enquanto UNITA e FLNA declaram a independência da República Democrática de Angola, sendo legitimado apenas a primeira.

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O projeto político do MPLA

❖ Mostrar como a independência conduzida pelo MPLA tinha como objetivo consolidar um projeto político socialista:

● A preocupação do MPLA ao proclamar a independência e realizar a função pedagógica de educar a sociedade compunha um projeto maior que libertar a nação. O movimento tinha a pretensão de conduzir o povo na lógica do socialismo pós-independência. Tinha-se como objetivo educar a população para que o povo todo formasse a administração e não apenas a cúpula do partido.

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Guerra civil: a divisão interna

❖ Apresentar as disputas políticas de luta interna que levaram à guerra civil:

● Se no início a luta era contra o português colonizador, mais tarde passou a ser uma luta interna.

● MPLA, UNITA e FNLA passam a disputar o poder de Angola.

● As promessas de paz entre os movimentos são interrompidas por inúmeras lutas civis devido ao descontentamento de grupos que ficaram de fora do controle político de Angola, resultando na união do UNITA a FNLA contra um inimigo comum: o MPLA.

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O fim da luta armada e a democratização de Angola

❖ Comentar a conjuntura política do processo de democratização que culminou no fim da luta armada:

● No princípio, Angola era um país de regime socialista, marxista e unipartidário, porém – com a queda da URSS em 1991 – entra num processo de democratização, tornando-se "ex-marxista":

● A partir de então, Angola está inserida no campo da social-democracia.

● Após o período de luta armada, as organizações transformam-se em partidos políticos e disputam as eleições.

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Aulas 3 e 4: Mayombe e a literatura de guerrilha

❖ A dobradinha buscará localizar Mayombe no panorama da Literatura Angolana no período de guerrilha a fim de permitir a compreensão do fazer literário como ferramenta política naquele período e o conhecimento do contexto de efervescência cultural em que o romance se insere.

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Objetivos da dobradinha

● Apresentar o fazer literário como testemunho de um momento histórico, representação de ideais de libertação nacional e meio de cantar os feitos de quem cai em combate.

● Mostrar como a literatura angolana ganha uma nova dimensão no período histórico de guerrilha, influenciada pelo contexto histórico e teorias como a de Frantz Fanon.

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Literatura e história

❖ Evidenciar a relação entre literatura e história em Mayombe:

● Como diversos outros autores, Pepetela usa a ficção como testemunho e parte de suas experiências como guerrilheiro para subsidiar Mayombe.

● Sua experiência dá a Mayombe a possibilidade não só de apresentar a relação desgastada entre Portugal e África, mas também de tecer críticas ao MPLA, em relação a machismo, racismo e corrupção.

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A função política da literatura em Mayombe

❖ Explicar como razões políticas e históricas influenciaram Pepetela no processo de publicação da obra:

● Antes de publicar o romance, Pepetela o entrega a Agostinho Neto – líder do MPLA e presidente de Angola – para que possa lê-la.

● Agostinho Neto concorda com as críticas feitas às contradições internas do MPLA, mas Pepetela opta por não publicar a obra de imediato, já que a revelação dos pontos fracos do movimento poderia favorecer os inimigos.

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A década de 1970

❖ Apresentação da movimentação literária no período pós-independência:

● Logo após a independência, os escritores proclamam a constituição da União dos Escritores Angolanos:

"A história da nossa literatura é testemunho de gerações de escritores que souberam, na sua época, dinamizar o processo da nossa libertação exprimindo os anseios profundos do nosso povo, particularmente o das camadas mais exploradas. A literatura escrita angolana surge, assim, não como simples necessidade estética, mas como arma de combate pela afirmação do homem angolano."

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Alguns representantes

❖ Comentar a importância de alguns autores para o panorama da literatura angolana e em que contexto aconteceu a proclamação da União dos Escritores Angolanos:

● A UEA foi proclamada em 1975, em sessão que contou com a presença do presidente Agostinho Neto, que proferiu um discurso programático sobre a dimensão cultural em Angola.

● Pepetela é membro fundador da UEA. Entre os presentes, estiveram também escritores como Luandino Vieira, António Jacinto e o próprio Agostinho Neto.

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Objetivos da União dos Escritores Angolanos

● Promover a defesa da cultura angolana como patrimônio da Nação.

● Estimular o estudo das tradições culturais do povo angolano.

● Fortalecer o laço com as literaturas e as artes de outros povos africanos.

● A necessidade de os escritores se organizarem coletivamente em busca de se libertar de todas as formas de alienação.

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✥ Para introduzir o romance, toque a música “O guerrilheiro (Mwangolé)”, de David Zé (aqui). O cantor foi um quadro político importante para o MPLA e suas letras foram baseadas na sua militância pela libertação de Angola. A canção sugerida faz referências à guerrilha de Cabinda.

✥ Peça para que os alunos prestem atenção na letra da música e anotem todas as partes que entenderem. Em seguida, escreva o que foi anotado por eles na lousa para criar paralelos com o fundo histórico proposto pela narrativa.

✥ A partir da canção, discuta o conceito de arte engajada, mostrando como a literatura e as outras linguagens artísticas estão intrinsecamente ligadas aos processos de transformação social. Será importante para as discussões iniciadas por Mayombe.

Dobradinha 3: Caracterização do romance

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● As palavras de David Zé listam as dificuldades diárias enfrentadas por aqueles que vivem na guerrilha: as condições meteorológicas e ambientais, a fome e o isolamento.

● Mayombe apresenta história de pessoas que por motivos ideológicos ou pessoais deixaram suas casas e relacionamentos para ingressar na luta de libertação, de modo que podemos conhecer as suas fraquezas e convicções.

Dobradinha 3: Caracterização do romance

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✥ Entregue aos alunos um mapa impresso de Angola e seus territórios vizinhos. Sugira que eles acompanhem a leitura marcando os pontos que são mencionados ao longo do romance.

● O enredo é situado em Cabinda, uma província exclave angolana, limitada ao norte pela República do Congo (Brazzavile), a leste e ao sul pela República Democrática do Congo, e a oeste pelo Oceano Atlântico.

● O exclave existe porque na Conferência de Berlim (séc. XIX) os portugueses cederam aos belgas uma faixa de terra que ligasse ao mar o imenso território do Congo Belga, atualmente República Democrática do Congo.

Espaço

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● A floresta do Mayombe é uma região geográfica da África ocidental ocupada por montanhas que se estendem desde o Rio Congo ao sul até o rio Kouilou-Niari pelo norte. Essa região inclui parte da República Democrática do Congo, de Angola (província de Cabinda), da República do Congo e também do Gabão.

● Mayombe é a segunda maior floresta do mundo em extensão, atrás apenas da Floresta Amazônica.

● No romance, a base da guerrilha fica na floresta. Lá acontecem ações ofensivas, como o ataque aos madeireiros e à tropa portuguesa e, por último, o ataque aos portugueses no Pau Caído e ações defensivas, como o socorro ao suposto ataque à Base.

Floresta do Mayombe

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Floresta do Mayombe

No documentário Sobre a violência (1974), há fotografias e filmagens da floresta de Mayombe, além de um depoimento de um ex-combatente do MPLA: https://www.youtube.com/watch?v=meQaSZriuJM&t=4334s

[de 00:08:40 até 00:12:12]

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● No início da guerra de libertação, o MPLA e a FNLA estavam sediados em Leopoldville (atualmente Kinshasa), a capital do antigo Congo Belga (atualmente República Democrática do Congo). No entanto, o governo desse país apoiava a FNLA e hostilizava movimentos apoiados pela União Soviética, de modo que o MPLA precisou mudar sua sede para Congo-Brazzaville.

● Dolisie (que também aparece nos mapas Loubomo) é uma cidade do Congo-Brazzaville que dá espaço para grande parte da ação do romance. Lá está localizada a retaguarda de apoio à guerrilha. Por estar localizada em um território de fronteiras, os guerrilheiros do MPLA podiam ter acesso à Cabinda por meio dela.

Fronteiras

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✥ Peça aos alunos que examinem a fronteira leste de Angola e localizem a fronteira com a Zâmbia, antiga colônia inglesa chamada Rodésia do Sul.

● Zâmbia conquistou sua independência política em 1964. O governo desse novo país apoiou os guerrilheiros que lutavam contra o colonialismo e também mantinham ligações com o bloco socialista da URSS.

● Nesse local, foi cedida ao MPLA uma fronteira de acesso ao território principal de Angola. A abertura foi chamada de “Frente Leste”, mencionada diversas vezes ao longo do romance.  É para lá que o Comandante Sem Medo teria sido transferido se continuasse vivo.

Fronteiras

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● A floresta é retratada como uma extensão dos guerrilheiros, devido ao isolamento vivenciado por eles. No entanto, as experiências vividas pelo restrito grupo de militantes alegorizam a realidade angolana.

● Este espaço aparece em oposição aos espaços dominados pelos portugueses.

✥ Peça para que os alunos examinem o trecho seguinte procurando visualizar a relação dos guerrilheiros com a floresta:

Espaço

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“O Mayombe tinha criado o fruto, mas não se dignou a mostrá-lo aos homens: encarregou os gorilas de o fazer, que deixaram os caroços (de comunas) partidos perto da Base, misturados com as suas pegadas. E os guerrilheiros perceberam então que o deus-Mayombe lhes indicava assim que ali estava o seu tributo à coragem dos que o desafiavam: Zeus vergado a Prometeu, Zeus preocupado com a salvaguarda de Prometeu, arrependido de o ter agrilhoado, enviando agora a águia, não para lhe furar o fígado, mas para o socorrer. (Terá sido Zeus que agrilhoou Prometeu, ou o contrário?)A mata criou cordas nos pés dos homens, criou cobras à frente dos homens, a mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros, rios caudalosos, lama, escuridão. Medo. A mata abriu valas camufladas de folhas sob os pés dos homens, barulhos imensos no silêncio da noite, derrubou árvores sobre os homens. E os homens avançaram. E os homens tornaram-se verdes, e dos seus braços folhas brotaram, e flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata estendeu-lhes a sombra protetora, e os frutos. Zeus ajoelhado diante de Prometeu. E Prometeu dava impunemente o fogo aos homens e a inteligência. E os homens compreendiam que Zeus, afinal, não era invencível, que Zeus se vergava à coragem, graças a Prometeu que lhes dá a inteligência e a força de se afirmarem homens em oposição aos deuses. Tal é o atributo do herói, o de levar os homens a desafiarem os deuses. Assim é Ogun, o Prometeu africano.”

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✥ Chame a atenção dos alunos para o local e a data que estão indicados na última página do romance: Dolisie, 1971.

● Em uma conversa, o Comandante Sem Medo e Lutamos comentam que estão em guerra há 10 anos — a guerra foi iniciada em 1961.

✥ Com base nessas duas informações, mostre aos alunos como eles podem estimar o período em que a narrativa acontece.

Tempo

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✥ Entregue aos alunos um mapa que apresenta os grupos étnicos de Angola.

● Em Angola, existem seis línguas que pertencem a grupos étnicos diferentes.

● No período colonial, os colonizadores estimularam conflitos entre esses grupos com a intenção de impedir a formação de uma unidade política entre os colonizados. A consequência foi um fenômeno conhecido como tribalismo.

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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Umbundu, língua dos Ovimbundu

Kimbundu, língua dos Ambundu

Kikongo, língua dos Bakongo

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✥ Após entregar o mapa dos grupos étnicos de Angola, peça para os alunos lerem os seguintes trechos: o primeiro, em que a voz narrativa pertence ao personagem Milagre; e o segundo, em que a voz narrativa pertence ao personagem Muatiânvua. (os trechos estão reduzidos para caber nos slides.)

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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● EU, O NARRADOR, SOU MILAGRE:Os intelectuais têm a mania de que somos nós, os camponeses, os tribalistas. Mas eles também o são. O problema é que há tribalismo e tribalismo. Há o tribalismo justo, porque se defende a tribo que merece. E há o tribalismo injusto, quando se quer impor a tribo que não merece ter direitos. Foi o que Lenine quis dizer, quando falava de guerras justas e injustas. É preciso sempre distinguir entre o tribalismo justo e o tribalismo injusto, e não falar à toa.

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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● EU, O NARRADOR, SOU MUATIÂNVUA:Querem hoje que eu seja tribalista! / De que tribo?, pergunto eu. De que tribo, se eu sou de todas as tribos, não só de Angola, como de África? não falo eu o swahili, não aprendi eu o haussa com um nigeriano? Qual é a minha língua, eu, que não dizia uma frase sem empregar palavras de línguas diferentes? E agora, que utilizo para falar com os camaradas, para deles ser compreendido? O português. A que tribo angolana pertence a língua portuguesa? / […] / Eu, Muatiânvua, de nome de rei, eu que escolhi a minha rota no meio dos caminhos do Mundo, eu, ladrão, marinheiro, contrabandista, guerrilheiro, sempre à margem de tudo (mas não é a praia uma margem?), eu não preciso de me apoiar numa tribo para sentir a minha força.

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● Mayombe é um romance polifônico, em que predominam diversas vozes narrativas.

● O romance começa sendo narrado por um narrador onisciente com abertura para as vozes narrativas dos guerrilheiros. A mudança de foco narrativo da terceira para a primeira pessoa é marcada através do título que identifica o personagem e o gesto de narrar.

● Em um primeiro momento, o foco narrativo está na floresta e no percurso traçado pelos guerrilheiros no interior dela.

● Em um segundo momento, o foco narrativo passa a acompanhar o ponto de vista do Comandante Sem Medo — representado como Ogum, “o Prometeu africano”. Entretanto, Sem Medo não ocupa o espaço de narrador em nenhum momento da narrativa.

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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● A presença de uma pluralidade de vozes tão grande tem a intenção de representar os indivíduos nacionais em sua totalidade, apontando para a adoção de uma perspectiva multicultural na construção da nova nação.

● Ao dar voz para todos os personagens, o autor luta para suprimir as diferenças e desigualdades ao menos no plano da ficção.  Cada personagem pode se constituir como sujeito de seu próprio discurso, dando ênfase ao que acredita que deva estar em evidência.

● A escolha ética do autor está transposta na forma de narrar: os personagens são provenientes de classes sociais e regiões diferentes, porém não existem muitas variações linguísticas no modo como cada um deles constrói o próprio discurso.

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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● No romance que estamos estudando, o conceito formal da polifonia é um caminho para que concepções de mundo distintas entrem em diálogo no interior do texto. Sabendo disso, contraponha o primeiro trecho (Milagre), em que há a defesa do tribalismo, com o segundo (Muatiânvua), em que a voz narrativa expõe uma posição de defesa do multiculturalismo.

✥ Em seguida, discuta as semelhanças que existem entre os dois personagens. Milagre e o Muatiânvua, ambos órfãos, são dois combatentes que tiveram a vida cruelmente afetadas por conta da exploração do colonialismo. Seus pais eram trabalhadores de terras ricas – uma com diamantes, outra com café. No entanto, morreram sem conseguir acumular qualquer riqueza. Os dois personagens apresentam ao leitor o modo como os acontecimentos passados influenciaram na sua escolha de lutar contra o colonialismo.

Tribalismo, personagens e foco narrativo

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“Teoria sentia que o Comandante também tinha um segredo. Como cada um dos outros. E era esse segredo de cada um que os fazia combater, frequentemente por razões longínquas das afirmadas. Por que Sem Medo abandonara o curso de Economia, em 1964, para entrar na guerrilha? Por que o Comissário abandonara Caxito, o pai velho e pobre camponês arruinado pelo roubo das terras de café, e viera? Talvez o Comissário tivesse uma razão mais evidente que os outros, sim. Por que o Chefe de Operações abandonara os Dembos? Por que Milagre abandonara a família? Por que Muatiânvua, o desenraizado, o marinheiro, abandonara os barcos para agora marchar a pé, numa vida de aventura tão diferente da sua? E por que ele, Teoria, abandonara a mulher e a posição que podia facilmente adquirir? Consciência política, consciência das necessidades do povo! Palavras fáceis, palavras que, no fundo, nada diziam. Como age em cada um deles essa dita consciência?” (PEPETELA, 1993, p. 7)

Atividade para ser feita em casa

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✥ Cada combatente encontrou seus próprios motivos para estar na guerra, mas todos buscam o mesmo ideal: a descolonização. Peça para os alunos identificarem a posição de cada um dos personagens, respondendo às seguintes questões: O que os levou à luta armada? De qual forma cada um deles enxerga o tribalismo?

✥ Para auxiliá-los na tarefa, entregue uma árvore com o nome de todos os guerrilheiros.

Atividade para ser feita em casa

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● Em Mayombe, nenhum dos personagens é branco. Os portugueses, quando aparecem, estão distantes do olhar que acompanha o eixo narrativo principal. Com isso, o autor rompe com a literatura colonial, que trazia o olhar do colonizador europeu para os habitantes do continente.

● No entanto, há entre os guerrilheiros uma figura diferente das demais: Teoria, professor da base e primeiro personagem-narrador a aparecer. Teoria é filho de mãe negra angolana e pai branco português, o que o coloca numa situação de não pertencimento. Por isso, o personagem vive em constante revisão e reinterpretação da sua subjetividade e do seu papel social. Peça para que os alunos leiam novamente os dois primeiros capítulos do romance e discutam a posição do personagem.

Dobradinha 4Aula 1: roda de conversa

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Dobradinha 4Primeira parte: roda de conversa

✥ A partir disso, proponha uma reflexão acerca da questão macro da narrativa, que é a formação da identidade nacional. Questione qual projeto de nação o autor tinha em mente.

● Tenha em mente que, pela perspectiva da personagem, a questão apresenta um forte apelo para a multiplicidade das possibilidades de formação. O que percebemos ser denunciado por meio de Teoria é a falta da existência harmônica de uma identidade formada pela junção de diversos grupos étnicos, mas com características sociais muito próprias e específicas. Neste sentido, o pensamento do personagem aponta para um pertencimento étnico-racial plural e diverso, formando, assim, a riqueza e o valor da nação.

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● À luz das discussões anteriores, podemos perceber que o cenário de Mayombe constitui uma espécie de exílio comunitário e individual, onde cada um dos guerrilheiros é confrontado por conflitos internos — os seus e os dos outros.

✥ Sabendo disso, discuta o vínculo formado entre Lutamos (cabinda), o Comandante Sem Medo (kikongo) e o Comissário Político João (kimbundo) no final do romance: a fusão dos interesses individuais com os interesses do grupo ocorre? De que modo? É possível identificar o projeto de nação que o autor tinha em mente ao escrever o romance?

Dobradinha 4Segunda parte: discussão coletiva

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✥ Durante a colonização, as mulheres sofreram duplamente. Leia o depoimento registrado pelas escritoras Paulina Chiziane (Moçambique) e Dya Kasembe (Angola) em O livro da paz da mulher angolana:

“A estrada asfaltada que vocês conhecem que liga Porto Amboim a Ngunza (Kuanza Sul, Sumbe) foi feita com a participação forçada das mulheres. Nas roças de café na Gabela, aquelas pedras do caminho de ferro foi obra barata feita pelas mulheres, elas carregaram, cozinharam, lavaram, regaram em troca de fubá tulha-munguluta (fubá de milho) seco não tratado, moído muitas vezes com o seu ‘sapupu’, a espiga completa) peixe seco que cheirava nguano (carapau seco salgado não comerciável por estar em estado avançado de putrefação, cheirando mal), e sardinha que também cheirava nguano. O nosso sofrimento dura há muito tempo.”

Dobradinha 5: A guerra não tem rosto de mulher?

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✥ Desse modo, a emergência dos movimentos de libertação nacional ampliaram os horizontes das mulheres angolanas. Confira o discurso da FRELIMO, em Moçambique:

“A libertação da mulher é uma necessidade fundamental da Revolução, uma garantia da sua continuidade, uma condição do seu triunfo. A Revolução tem por objetivo essencial a destruição do sistema de exploração, a construção duma nova sociedade libertadora das potencialidades do ser humano e que o reconcilia com o trabalho, com a natureza. [...] Como fazer então a Revolução sem mobilizar a mulher? Se mais de metade do povo explorado e oprimido é constituído por mulheres, como deixá-las à margem da luta? A Revolução para ser feita necessita de mobilizar todos os explorados e oprimidos, por consequência as mulheres também.”

A guerra não tem rosto de mulher?

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● Em 1962, surgiu uma agremiação denominada OMA (Organização das Mulheres Angolanas) dentro da estrutura do MPLA.  As cinco heroínas angolanas (Deolinda Rodrigues, Lucrécia Paim, Engrácia dos Santos, Irene Cohen e Teresa Afonso) em conjunto com outras guerrilheiras participaram de todas as tarefas revolucionárias: combates, prestação de apoio social e alfabetização dos guerrilheiros. Muitas delas foram presas e torturadas durante a guerra.

● No entanto, mesmo na guerra as mulheres estiveram à margem dos homens, tendo as suas histórias invisibilizadas.

A guerra não tem rosto de mulher?

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● Quando não participam ativamente da guerra, as mulheres são mães, mulheres ou filhas de combatentes. A primeira personagem que compõe metonimicamente a condição histórica feminina  no livro é Manuela, abandonada grávida após Teoria entrar para a luta armada em busca da satisfação do seu desejo individual: poder se constituir enquanto sujeito, apesar de ser mestiço. Em suas palavras, “Entre Manuela e meu próprio eu, escolhi este [...] Fugi dela, sim, fugi dela, porque ela estava a mais na minha vida; a minha vida é o esforço de mostrar a uns e outros [...]”.

A guerra não tem rosto de mulher?

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● Em uma conversa com o Comandante Sem Medo, o Comissário afirma: “Isso vem do papel social da mulher – disse o Comissário. – Numa sociedade em que o homem controla os meios de produção onde é o marido que trabalha e traz o dinheiro para casa, é natural que a mulher se submeta à supremacia masculina. [...] Primeiro, esse problema não está ainda resolvido nos países socialistas. Em segundo lugar, deve ser a última superestrutura a ser modificada. A mais difícil de modificar, que choca contra toda a moral e preconceitos individuais que os modos de produção anteriores provocaram.”

A guerra não tem rosto de mulher?

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● Nesse sentido, Ondina aponta para um novo papel social para as mulheres, transgredindo o modelo cultural vigente - burguês, imposto pelo colonizador. Sua maneira de pensar os seus relacionamentos sinaliza outra forma de pensar o mundo e as relação sociais, fruto das mudanças das bases da sociedade.

● Peça para que os alunos leiam o trecho abaixo, em que o Comandante Sem Medo conversa com Ondina:

A guerra não tem rosto de mulher?

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“Não, eu não suportaria. O João, sim. Com o João poderás fazer isso. Ele adaptar-se-á, é um homem diferente. Eu pertenço à geração passada, aquela que foi marcada por toda a moral duma sociedade tradicionalista e cristã. [...] O que amas em mim é o que há de comum entre o João e eu mesmo. Apenas, não o conheces suficientemente para saberes que é esse o traço-comum. É como se fôssemos a mesma pessoa, mas com dez anos de revolução de intervalo, percebes? Ele pertence à geração que vencerá e que, ultrapassando-se, te poderá compreender e aceitar. Eu compreendo-te, mas não te aceito tal como és. Tentaria modificar-te à minha imagem. Destruir-te-ia, dominar-te-ia. Não o posso fazer. [...] Quero o teu bem. E o teu bem é reencontrares o João, um João diferente, que já vislumbro, mas que não conheces.”

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● Documentário Concerning Violence (2014), baseado no ensaio “Sobre a violência” do livro Os condenados da terra, de Frantz Fanon. O documentário traz cenas raras da brutal violência colonial e das lutas de libertação, principalmente nas antigas colônias portuguesas na África. Acesse aqui. (Trailer)

● Documentário Langidila, baseado no diário da guerrilheira do MPLA Deolinda Rodrigues. Acesse aqui.

● Documentário sobre Mayombe e entrevista com Pepetela produzido por televisão angolana. Acesse aqui.

Sugestões

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Atividade: Eu, A Narradora, Sou Ondina.

“Ondina viera há um ano de Angola. Estudara uma boa parte do Liceu, mais que ele. Mesmo depois de noivarem, isso sempre foi uma barreira. O Comissário considerava que Ondina lhe fizera um favor, aceitando-o, pois podia aspirar a pessoas mais cultivadas. Ele formou-a politicamente, mas nem isso o convenceu de que estavam em pé de igualdade. Se não acabasse com esses complexos, o amor deles falharia, dissera um dia Sem Medo. Mas o Comissário nunca tivera um namoro, a sua experiência era unicamente de prostitutas, a desvantagem era grande em relação a uma Ondina que já conhecera outros homens.” (PEPETELA, 1993, p. 52)

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Atividade: Eu, A Narradora, Sou Ondina.A partir do recurso da polifonia, o leitor tem acesso a diferentes pontos de vista sobre os eventos narrados. Teoria, Lutamos, Milagre, Mundo Novo, Muatiânvua, Comissário, André, o Chefe do Depósito e o Chefe de Operações são os diversos narradores que aparecem na obra. Apesar de ser uma personagem fundamental no romance, inclusive intitulando um dos capítulos, Ondina não aparece na posição de narrador. A personagem aparece apenas pela descrição do narrador em terceira pessoa ou de algum dos outros narradores, como no trecho anterior.

1 – Quais seriam os possíveis motivos e as possíveis intenções do autor ao não apresentar esta personagem na posição de narrador?

2 – Escolha um episódio de sua preferência do romance e escreva um trecho (mínimo x linhas) a partir do ponto de vista de Ondina, conferindo-lhe a posição de narrador.

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Dobradinha 6: Questões da Fuvest

A aplicação das questões da Fuvest deve ser feita em classe e em duas etapas:

1 – Resolução conjunta das questões de primeira fase. A turma deverá ler as questões e alternativas conjuntamente. O professor ou professora irá desenvolver os aspectos da questão (“por que é a alternativa A e não a B?”, “tem pegadinha?”, etc.);

2 – As questões de segunda fase deverão ser feitas individualmente, de maneira que haja espaço para cada aluno colocar suas ideias no papel. O professor ou professora deve ir passando pelas mesas corrigindo as questões.

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Fuvest 2017

Observe a imagem e leia o texto para responder às questões de 1 a 3.

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O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição. […] Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam. A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida. […] Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde.

Pepetela, Mayombe

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Primeira faseQuestão 1

Considerando-se o excerto no contexto de Mayombe, os paralelos que nele são estabelecidos entre aspectos da natureza e da vida humana podem ser interpretados como umaa) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem Medo e a seu dilema característico entre a valorização do indivíduo e o engajamento em um projeto eminentemente coletivo.b) caracterização flagrante da dificuldade de aceder ao plano do raciocínio abstrato, típica da atitude pragmática do militante revolucionário.c) figuração da harmonia que reina no mundo natural, em contraste com as dissensões que caracterizam as relações humanas, notadamente nas zonas urbanizadas.d) representação do juízo do Comissário a respeito da manifesta incapacidade que tem o Comandante Sem Medo de ultrapassar o dogmatismo doutrinário.e) crítica esclarecida à mentalidade animista – que tende a personificar os elementos da natureza – e ao tribalismo, ainda muito difundidos entre os guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

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Questão 2

Consideradas no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a árvore e a floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que corresponde à da personagema) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris.c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos.d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao completar sua trajetória de politização.e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era o valentão do lugar.

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Questão 3

Mayombe refere-se a uma região montanhosa em Angola, dominada por floresta pluvial densa, rica em árvores de grande porte, e localizada em área de baixa latitude (4° 40’S). Levando em conta essas características geográficas e vegetacionais, é correto afirmar quea) esse tipo de vegetação predomina na maior parte do continente africano, circundando áreas de savana e deserto.b) se trata da única floresta pluvial sobre áreas montanhosas, pois esse tipo de floresta não ocorre em outras áreas do mundo.c) a vegetação da região é semelhante à da floresta encontrada, no Brasil, na mesma faixa latitudinal.d) nessa mesma faixa latitudinal, no Brasil, há regiões áridas, de altas altitudes, em que predominam ervas rasteiras.e) tais florestas pluviais só ocorrem no hemisfério sul, devido ao regime de chuvas e às altas temperatura.

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Segunda faseQuestão 4

Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela, no qual as personagens “dirigente” e Comandante Sem Medo discutem o comportamento do combatente chamado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identificam, respectivamente, as falas iniciais do “dirigente” e do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo.

[d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu ser dogmático?

[C] — Ser dogmático? Sabes tão bem como eu.

— Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu.

— Tens razão, as palavras são relativas. Ele é demasiado rígido na sua conceção da disciplina, não vê as condições existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu. A isso eu chamo dogmático, penso que é a verdadeira aceção da palavra. A sua verdade é absoluta e toda feita, recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que fosse para a discutir e a reforçar em seguida, com os dados da prática. Como os católicos que recusam pôr em dúvida a existência de Deus, porque isso poderia perturbá los.

- E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas?- Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer um

esforço para evitar de engolir como verdade universal qualquer constatação particular.

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a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a forma dialogal e as ideias expressas pelo Comandante Sem Medo?

b) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu modo de organizar e distribuir o discurso narrativo, emprega-se algum recurso para evitar que o próprio romance, considerado no seu conjunto, recaia no dogmatismo criticado no excerto? Explique resumidamente.

Segunda faseQuestão 4

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Respostas

Questão 1: alternativa A

Questão 2: alternativa D

Questão 3: alternativa C

Questão 4:

a) Aqui, deve-se checar se o aluno consegue ver a relação entre conteúdo e forma, sobretudo na postura do Comandante, que não apresenta sinais de hierarquia ou dogmatismo com o seu interlocutor,

b) É necessário conferir se o aluno consegue relacionar a questão do dogmatismo com a construção polifônica da narração que já foi trabalhada anteriormente. Sugere-se que seja incentivada uma ligação com a pluralidade étnica de Angola, também trabalhada anteriormente.

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Dobradinha 7: Encerramento

Avaliação final: Mostra Mayombe

Alunos apresentam sua criação feita a partir da obra, podendo ser individual ou em grupo. As obras serão discutidas pela turma. A produção deve ser feita em casa, durante as semanas reservadas ao estudo do livro. As criações artísticas poderiam ser em forma de:

● Poema;● Música;● Pintura/desenho;● Dramatização;● Texto em prosa.

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Esquema de avaliaçãoA avaliação será composta pelas atividades realizadas em sala e em casa e pela produção artística a ser apresentada na última dobradinha.

● Caso o aluno não realize uma das atividades, pode ser atribuída nota às questões de vestibulares, somando um percentual de, no máximo, 15%.

Atividade Porcentagem da nota

Identificação dos motivos que levaram personagens a participar da guerrilha – Dobradinha 3

15%

Discussões em sala – dobradinha 4

15%

Texto – Ondina – dobradinha 5 20%

Produção artística para Mostra Mayombe – dobradinha 7

50 %

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Referências bibliográficas

ALTMAN, Max. Hoje na História: 1975 - MPLA proclama a independência de Angola. Opera Mundi, São Paulo, 11 nov. 2010. Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/historia/7513/hoje-na-historia-1975-mpla-proclama-a-independencia-de-angola. Acesso em: 19 jun. 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Curricular Comum: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.

ERVEDOSA, Carlos. A década de 50: o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola: Mensagem e Cultura. In: CURSO DE DIFUSÃO CULTURAL “INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE ÁFRICA”, 13., 2011, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011.

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Referências bibliográficas

FRENTE Nacional de Libertação de Angola. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Frente_Nacional_de_Liberta%C3%A7%C3%A3o_de_Angola&oldid=55522726. Acesso em: 19 jun. 2019.

JUNCAL, Augusto. Lutas e resistência popular: entenda como se consolidou a Independência na Angola. MST, [s. l.] 11 nov. 2018. Disponível em: http://www.mst.org.br/2018/11/11/lutas-e-resistencia-popular-entenda-como-se-consolidou-a-independencia-na-angola.html. Acesso em: 15 nov. 2019.

KJELLIN, Evillyn. Mayombe: narrativa de guerra em meio à independência angolana. Travessias, Cascavel, v. 5, n. 2, p. 258-270. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/download/4849/4320. Acesso em: 19 jun. 2019.

PEPETELA. Mayombe. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993.