Percepção de risco ambiental no córrego do urubu ANPPAS · percepção média do grau de risco...
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Diagnóstico de Percepção de Risco Ambiental e Mudança Climática no Núcleo Rural da Microbacia do Córrego do Urubu
Renata Marson Teixeira de Andrade (Universidade Católica de Brasília)
Engenheira Química e Mestre em Energia (USP), PhD in Energy and Resources (UCBerkeley), Coordenadora do Núcleo de Governança em Biocombustíveis e Mudança Climática e Professora
da Universidade Católica de Brasília [email protected]
Andrew Miccolis (Instituto Salvia)
Coordenador Executivo e Consultor Ambiental [email protected]
Resumo
As cidades brasileiras vêm sofrendo uma urbanização acelerada e desordenada, onde áreas
urbanas formadas por bairros e assentamentos precários substituem zonas rurais que abrigam
áreas de preservação ambiental e mananciais, e, portanto com alta vulnerabilidade às mudanças
climáticas. A Microbacia do Córrego Urubu é uma destas regiões no DF que vem sofrendo a
ameaça de uma rápida expansão urbana, numa área considerada de proteção ambiental. O
presente estudo avalia a percepção de risco ambiental da comunidade que vive no núcleo rural da
Microbacia do Córrego Urubu, Distrito Federal, com o intuito de subsidiar a elaboração de
estratégias de adaptação a mudanças climáticas no âmbito do Projeto Aclimar. Os dados foram
coletados mediante a aplicação de questionários na comunidade e ferramentas de geo-
referenciamento, que possibilitaram mapear a percepção da comunidade sobre a freqüência e
impactos de diversas ameaças ambientais e climáticas sobre seus bens, meio ambiente e
pessoas na microbacia. Foram aplicados 40 questionários, distribuídos de forma a abranger as
diferentes subregiões na microbacia, o que representa aproximadamente 20% das propriedades
da microbacia. Constatou-se que a população entrevistada no núcleo rural do Córrego do Urubu
se mostra muito preocupada com as mudanças climáticas, assim como crescimento urbano
desordenado, perda de biodiversidade e lixo. As áreas onde a percepção de riscos ambientais e
climáticos foi mais acentuada estão localizadas justamente nas fronteiras de expansão urbana. O
estudo foi fundamental para identificar prioridades para a elaboração de estratégias de adaptação
a mudanças climáticas na região no âmbito do Projeto Aclimar.
Palavras-chave Percepção de mudança do clima, riscos ambientais, Distrito Federal, Córrego do Urubu
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1 - Introdução
As mudanças climáticas afetarão as estruturas das cidades e seus serviços básicos, tais
como: o abastecimento de água, a rede de escoamento e esgoto sanitário, o transporte, o
abastecimento de energia, a biodiversidade e bens e serviços dos ecossistemas, dentre outros. As
cidades brasileiras vêm sofrendo uma urbanização acelerada e desordenada, onde áreas urbanas
formadas por bairros e assentamentos precários substituem zonas rurais com áreas de
preservação ambiental e mananciais e, portanto, com alta vulnerabilidade às mudanças climáticas.
A Microbacia do Córrego Urubu é uma destas regiões no Distrito Federal que vem sofrendo a
ameaça da rápida expansão urbana, numa área considerada de proteção ambiental. Esta região
situa-se em área de recarga da sub-bacia Norte do Lago Paranoá, concentrando importante
nascentes, e os córregos do Urubu, Sagui e Olhos D’água, na Região Administrativa do Lago
Norte e na Área de Proteção Ambiental – APA do Planalto Central. A população mais afetada por
estas ameaças é composta por moradores e trabalhadores de chácaras do Núcleo Rural do
Córrego Urubu, situado na Região Administrativa do Lago Norte.
Esta região vem sofrendo grande ameaças decorrentes de mudanças no uso do solo com
o avanço urbano na região trazido pelo Bairro Taquari e os moradores têm se mostrado
preocupados com esta transformação no meio ambiente e na qualidade da água e do solo, além
do desmatamento e perda da biodiversidade local. Dois estudos foram realizados em 2009 e 2010
para compreender os efeitos das mudanças climáticas - aumento da frequencia de eventos
extremos de pluviosidade na região - frente à urbanização crescente prevista no plano de
ordenamento territorial. Segundo estes estudos, haverá elevação dos riscos de alagamentos e
enchentes, além do perigo de erosão e perda de nascentes que dependem da infiltração de água
nos locais onde serão construídas as novas etapas deste bairros urbano (SOARES et al., 2009,
BRAGA et al., 2010). Enquanto isso, Zacharias (2012) estudou a ameaça de queimada frente à
mudança do clima na região, e propõe um processo de adaptação a eventos extremos de seca na
região por meio de um Plano de Gestão de Risco Ambiental a Queimadas em áreas peri-urbanas,
bem como a formação de brigadistas junto aos chacareiros da região.
O presente estudo avalia a percepção de risco ambiental da comunidade que vive na Microbacia
do Córrego Urubu, Distrito Federal, com o intuito de subsidiar a elaboração de estratégias de
adaptação a mudanças climáticas no âmbito do Projeto Aclimar. Este projeto tem por objetivo
elaborar e demonstrar estratégias locais de adaptação a mudanças climáticas com foco na gestão
sustentável dos recursos hídricos, controle de erosão e drenagem, bem como sistemas
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sustentáveis de uso e ocupação do solo, como Agroecologia, Permacultura e Sistemas
Agroflorestais.
2 – Percepção de Risco Ambiental
No processo de percepção e avaliação dos riscos, os indivíduos consideram não só a
probabilidade mensurável de ocorrência, mas também a gravidade estimável dos perigos e a
extensão de seus efeitos. Segundo Renn (2004), é essencialmente o contexto no qual o risco é
experimentado que determina a percepção do mesmo.
Segundo Slovic et al. (1981) e Slovic (1987), existem circunstâncias ou fatores qualitativos que se
encontram subjacentes às percepções de risco e que os indivíduos mobilizam mentalmente para a
avaliação do mesmo. São eles:
a. A familiaridade com a fonte do risco, ou seja, a capacidade de tolerância e de convivência
com o risco, que parece aumentar na proporção direta da frequência e possibilidade de ocorrência
do mesmo.
b. A aceitação voluntária do risco, sendo que a capacidade de aceitar voluntariamente o risco
se encontra intimamente relacionada com os benefícios percepcionados. Relacionado com este
aspecto, encontram-se ainda os fatores que se associam à apreensão da existência de justiça na
distribuição dos ganhos e perdas decorrentes dos riscos, sendo que a capacidade de aceitação e
convivência com esses, dependente do modo como é apreendida a justiça distributiva dos seus
impactos (positivos e negativos).
c. A capacidade (real ou percepcionada) de controle sobre as fontes de risco determina a
capacidade de convivência com um determinado perigo. Esta está, assim, associada à
possibilidade de controlar os fatores de risco antecipadamente, quer seja individualmente,
quer seja através da percepção da existência de mecanismos técnicos e institucionais
adequados.
d. A confiança que os indivíduos depositam nos mecanismos e entidades de controle e
gestão do risco, sendo que a capacidade de conviver com determinados fatores de perigo será
tanto maior, quanto maior for a confiança nos instrumentos políticos e técnicos de controle e
gestão.
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e. A confiança nas fontes de informação disponíveis parece deter um papel fundamental no
modo como são construídas as percepções sociais nesta matéria.
f. O potencial catastrófico do risco, que determina igualmente o grau de tolerância e a
capacidade de convivência. Isto significa que quanto maior for a probabilidade de ocorrência de
um acidente de proporções catastróficas, menor será a capacidade de convivência e tolerância
frente a essa circunstância.
g. O grau de certeza associado à previsão dos efeitos do risco, que se encontra também
relacionado com a capacidade de controle do grau de risco e confiabilidade das fontes de
informação disponíveis.
h. O impacto previsível que o risco terá nas gerações futuras, fator que se relaciona de perto
com a sustentabilidade ambiental e com a percepção de que as atividades (positivas ou negativas)
do presente poderão ter consequências (igualmente positivas ou negativas) nas gerações futuras
e nas suas atividades e oportunidades.
i. A percepção sensorial do perigo é igualmente um fator qualitativo relevante neste domínio,
considerando que os riscos que não são imediatamente perceptíveis através da experiência
sensorial, são menos tolerados, do que aqueles cujos efeitos se apresentam mais imediatos e
visíveis.
j. A percepção da (ir)reversibilidade dos efeitos adversos interfere na avaliação social dos
riscos. Assim, quanto mais as consequências de um acidente forem percepcionadas como
irreversíveis, menor será a capacidade de aceitação e de tolerância frente a ele.
Muito embora se possa afirmar que os indivíduos utilizam alguns destes fatores (ou mesmo todos)
nas representações, avaliações e comportamentos que adotam face ao perigo, a presença dos
critérios mencionados na formação de opinião e na capacidade de tolerância e convivência com
determinados riscos varia consideravelmente entre grupos e contextos sociais (SJÖBERG, 1994).
Em situações de riscos ambientais vinculadas a processos climáticos, observa-se que algumas
características ou qualidades próprias são capazes de influenciar a percepção e as respostas dos
indivíduos, atenuando ou agravando a avaliação que se faz da realidade. Dentre essas
características pode-se destacar a causa do risco, o tipo de consequência, as vítimas envolvidas e
o possível cenário de destruição (SOUZA; ZANELLA, 2009).
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3. Material e Métodos de Pesquisa
Esta pesquisa faz parte do Projeto Aclimar - Plantando Árvores e Colhendo Águas, apoiado pelo
Instituto HSBC Solidariedade e coordenado pelo Instituto Salvia de Soluções Socioambientais –
ISSA, em parceria com a Universidade Católica de Brasília, Movimento Salve o Urubu, Oca do Sol
e WWF-Brasil. Os dados foram coletados mediante a aplicação de questionários na comunidade e
ferramentas de georreferenciamento, que possibilitaram mapear a percepção da comunidade
sobre a freqüência e impactos de diversas ameaças ambientais e climáticas sobre seus bens,
meio ambiente e pessoas na microbacia. A comunidade local é composta por aproximadamente
250 chácaras. A fim de abranger as diferentes subregiões na microbacia, foram aplicados 40
questionários.
O questionário foi testado e ajustado mediante um processo de pré-teste dividido em três etapas:
(1) verificação das perguntas individuais; (2) aplicação do questionário a um grupo de pessoas e
(3) análise da aplicação e dos resultados, verificando-se o questionário como um todo no que
tange à sua validade e condições de aplicação.
Na primeira parte do instrumento de pesquisa, foram colocadas questões relativas à percepção
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Figura 1 – Cadeia de Eventos
Fonte: elaboração própria
Tabela 1 – Matriz de Risco ambiental: níveis de frequência, impacto e risco ambiental
Fonte: elaboração própria.
A equação mais genérica para expressar o risco seria dada por: R = F x I, onde R= risco, F =
frequência de ocorrência do processo em questão, e I = impactos no meio ambiente, pessoas e
bens materiais potenciais associadas.
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Segundo a Tabela 1, os níveis de risco foram obtidos a partir da frequência de ocorrência de cada
uma das 22 ameaças e a magnitude dos impactos, considerados no âmbito das pessoas, bens e
meio ambiente. A análise de risco ambiental focou-se em vinte e duas ameaças, a saber: chuva
excessiva, raio, ventania, estrada esburacada, enxurrada, erosão, desbarrancamento,
assoreamento, seca, bichos peçonhentos, falta de água, queimada, desmatamento, poeira,
poluição sonora, poluição da água, contaminação do solo, perda de biodiversidade, epidemia
(dengue), pragas e doenças em plantas, insetos e doenças em animais.
Para a microbacia como um todo, os resultados são apresentados em dois gráficos contendo a
percepção média do grau de risco de cada ameaça para cada subregião, e para fins deste
trabalho, apresentamos a distribuição espacial em seis mapas de risco para seis ameaças de
percepção de risco crítico e alta segundo o grau de percepção de risco em cada localidade onde
foi aplicado o questionário.
Na Figura 2 vemos as regiões consideradas no estudo de eco-mapeamento realizado por Semear
Educação (Pedroso 2008), que indicam que mobilidade e infraestrutura são problemas frequentes
na região. A microbacia foi dividida em subregiões que serão consideradas nesta pesquisa de
percepção de risco ambiental e climático na região.
Figura 2 – Regiões do Eco-mapeamento no Córrego do urubu:
Fonte: Pedroso, 2008
4. Resultados e Discussão
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Os moradores entrevistados no núcleo rural do urubu se mostram bastante preocupados com
problemas ambientais globais, como pode ser visto na Figura 3. De fato, a percepção dos riscos
de mudança climática está no imaginário da população que vive nas chácaras entrevistadas,
assim como outros problemas ambientais globais, como crescimento urbano desordenado, perda
da biodiversidade e lixo.
Figura 3. Grau de preocupação relativo a cada um dos problemas globais (1 a 4, sendo 1 pouca e
4 muita preocupação)
Fonte: elaborado pelos autores
Na figura 3, vemos que os entrevistados apresentam ter muita preocupação com o crescimento
desordenado, lixo, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, pobreza e violência. Por outro
lado, apresentam pouca preocupação com Aids, epidemia, terrorismo, terremoto e maremotos.
Este resultado é esperado, pois esta população vive no platô central do Brasil, longe da fronteira
com o Pantanal e a Amazônia, do litoral e da cordilheira dos Andes, onde guerrilhas e lutas
armadas (incluindo terrorismo), maremotos e terremotos são mais prováveis de ocorrer,
respectivamente.
Conforme a Figura 4, os entrevistados têm muita confiança sobre as informações relativas às
mudanças climáticas que chegam pelas universidades, Ministérios da Ciência e Tecnologia, e
Ministérios do Meio Ambiente, Igreja, família e amigos; suficiente confiança nas informações das
fundações, IBRAM, TV, jornais, associação de moradores; alguma confiança nas informações de
equipe técnica de ONG, instituição financeira e administração do Lago Norte; e pouca confiança
no governo do Distrito Federal e nos partidos políticos para obter informações sobre mudanças
climáticas.
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Para a amostra entrevistada, as mudanças climáticas geram impactos “altos” e “muito altos”, em
média, nos seguintes locais listados na Figura 5. Isso denota um entendimento de que as
mudanças climáticas irão afetar todos os tipos de sistemas naturais, incluindo florestas e rios, e
intensificarão secas. No entanto, os impactos não foram qualificados como negativos ou positivos.
Figura 4. Grau de confiança nas fontes de informações sobre Mudanças Climáticas (1 pouca, 2
alguma, 3 suficiente, 4 muita confiança)
Fonte: elaborado pelos autores
Figura 5. Percepção de impacto das mudanças climáticas (escala de 1 a 4, sendo 1 baixo e 4 alto
impacto)
Fonte: elaborado pelos autores
Quanto aos riscos ambientais, conforme os resultados apresentados na Figura 6, onde aparece a
média da percepção de risco ambiental dos moradores da microbacia como um todo, para cada
ameaça climática e ambiental, as ameaças que apresentam percepção de risco alto, foram:
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estradas esburacadas, poeira, queimada, enxurrada, seca e erosão. Falta e poluição d’água foram
classificadas, em média, como de risco tolerável. Todas as demais ameaças foram percebidas
também como sendo toleráveis, à exceção de epidemia, considerada insignificante. Cabe ressaltar,
no entanto, que houve situações individuais onde riscos considerados baixos em média eram
vistos como altos ou críticos naquela chácara.
Figura 6. Percepção de Risco Ambiental Média (40 chácaras)
Fonte: elaboração própria
A população percebe os riscos ambientais como sendo críticos para as seguintes ameaças:
erosão, seca, enxurrada, queimada e poeira, sendo estrada esburacada a que obteve risco critico
mais elevado. A avaliação espacial da distribuição da percepção mostra que 90% das chácaras
mais próximas de zonas de urbanização percebem 12 ameaças com riscos ambientais críticos e 6
altos se comparadas às chácaras distantes das zonas de urbanização, que percebem 4 ameaças
de alto risco e as demais de riscos toleráveis e insignificantes.
Os chacareiros que vivem distante das áreas de urbanização sinalizaram uma qualidade da água
boa para consumo, enquanto que as chácaras próximas à área urbana percebem graves
problemas de contaminação do lençol freático, e falta de água aparece como risco alto em grande
parte da bacia.
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ameaças - poluição d’água, enxurrada, perda de biodiversidade e ventania - como risco ambiental
alto. Isso também é preocupante, pois esta região está próxima à região limítrofe do bairro
Taquari 1, logo abaixo do ponto onde o Córrego Olhos D’água, que recebe as águas pluviais do
Taquari 1, se une ao Córrego Urubu. Ademais, somente a falta d’água é considerada de risco
ambiental insignificante pelos moradores, enquanto que as demais nove ameaças são percebidas
como de risco ambiental tolerável. Aqui, vale esclarecer que muitas casas nesta sub-região
possuem acesso a água forneceida pela companhia de água e esgoto do DF.
Para a sub-região Portal Araguaia, somente três ameaças - poeira, estrada esburacada e
enxurrada - são percebidas pelos moradores como de risco ambiental crítico, ao passo que para a
percepção de risco ambiental alto, seis ameaças merecem destaque: seca, queimada, bichos
peçonhentos, falta d’água, raio e insetos. As demais doze ameaças foram percebidas pelos
moradores como de risco ambiental tolerável.
Já nas sub-regiões de São Sepé e Primeiro trecho apresentaram percepção alta para cinco
ameaças: seca, poeira, estrada esburacada, enxurrada e queimada, nenhuma ameaça foi
considerada de risco ambiental critico. Em São Sepé, os moradores percebem dez ameaças como
de risco ambiental insignificante, e sete ameaças como apresentando risco ambiental tolerável. Ao
mesmo tempo, os moradores do Primeiro Trecho percebem oito ameaças como risco ambiental
insignificante, e as demais sete ameaças como risco ambiental tolerável.
Na Figura 8, pode-se notar a distribuição espacial de oito ameaças para as propriedades que
foram entrevistadas nesta pesquisa. Nota-se que a maior frequência de pontos vermelhos e
laranjas (risco crítico e alto) se dá nas região de Ladeira e Olhos D’água, ao passo que os pontos
verdes e amarelos (risco insignificante e tolerável) estão mais concentrados nas regiões mais
afastadas do atual Bairro Taquari 1 porém próximas ao futuro Bairro Taquari 2 e 3, novas zonas
de crescimento urbano na região.
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Figura 8. Distribuição espacial da percepção do risco ambiental no núcleo rural da microbacia do
Urubu 2011: para oito ameaças
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Fonte: elaboração própria
5. Considerações finais
A população entrevistada no Núcleo Rural do Córrego Urubu se mostra muito preocupada com as
mudanças climáticas, assim como com o ncrescimento urbano desordenado, perda de
biodiversidade e lixo. Além disso, compreende a extensão dos impactos daS mudança do clima e
confia nas universidades e nos ministérios federais, assim como nas suas organizações religiosas
e seus familiares e amigos para buscar informações sobre este fenômeno.
Os moradores das áreas rurais com maior declividade, conhecidas como Ladeira e Olhos D’água
e também localizadas mais próximas à fronteira de expansão urbana do Bairro Taquari, percebem
um grau de risco ambiental e climático crítico a diversas ameaças, em maior intensidade do que
os moradores das demais sub-regiões na microbacia. Assim, as ameaças consideradas mais
críticas pelos moradores têm relação direta com os efeitos das mudanças climáticas e os
processos de expansão urbana, incluindo processos erosivos (erosão, poeira e estrada
esburacada), bem como mudanças no regime hídrico e no nível de umidade (enxurrada, queimada
e seca).
Este tipo de estudo é fundamental para dar voz aos moradores desta região quanto à percepção
do nível de degradação existente na região e estresses ambientais causados por mudanças do
uso do solo e climáticas. As estratégias de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas devem
ser elaboradas levando em conta a percepção dos moradores às ameaças que afligem a região
como um todo, no entanto, é preciso analisar as especificidades de cada sub-região - e em
algumas situações até de cada propriedade - a fim de desenhar estratégias que de fato diminuam
a vulnerabilidade das comunidades e do meio ambiente local.
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6. Bibliografia
ANDRADE, R. T. M.; MICCOLIS, A; BORGES, F.; DELPHINO, R. M.; SANTOS, M. J. Estudo
preliminar de percepção a mudança do clima no Urubu. . 2011. RBSLB
BRAGA, B. R.; MARTINS, E. S.; IBRAHIM, N. L. A. Análise de vulnerabilidade climática num
cenário de crescimento urbano na microbacia do Córrego Urubu em 2019, Setor Habitacional
Taquari – Trechos 2 e 3, Lago Norte-DF. Brasília, 2010. Monografia (Graduação em Engenharia
Ambiental) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010.
PEDROSO, M. Ecomapeamento da Microbacia do Córrego do urubu. 2008. Movimento Salve o
Urubu e WWF- Brasil.
RENN, O. Perception of risks. Toxicology Letters, [S.l.], v. 149, n. 1-3, p. 405-413, Apr. 2004.
SJÖBERG, L. Perceived risk vs demand for risk reduction. Stockholm: Center for Risk Research,
Stockholm School of Economics, 1994. (RHIZIKON: Risk Research Report nº 18).
SLOVIC, P. Perception of risk. Science, New Series, v. 236, n. 4799, p. 280-285, Apr. 1987.
SLOVIC, P.; FISCHHOFF, B.; LICHTENSTEIN, S. Perceived risk: psychological factors and social
implications. Proceedings of the Royal Society, Londres, v. 376, n. 1764, p. 17-34, Apr. 1981.
SOARES, M. S.; DAL’AVA, P. B.; RIBEIRO, T. M. S. Avaliação de risco e análise multitemporal
(1989-2009) e de regime de chuvas das áreas vulneráveis à erosão na microbacia do Córrego do
Urubu, Lago Norte – DF. Monografia (Graduação em Engenharia Ambiental) – Universidade
Católica de Brasília, Brasília, 2009.
SOUZA, L. B.; ZANELLA, M. E. Percepção de riscos ambientais: teoria e aplicações. Fortaleza:
Edições UFC, 2009. 237p.
ZACHARIAS, G. Indicadores Para A Gestão De Riscos De Incêndios Florestais Em Áreas
Periurbanas Do Distrito Federal, Brasil: Estudo De Caso Do Núcleo Rural Do Córrego Do Urubu.
2012. Dissertação mestrado. UCB
Agradecimentos:
Esta pesquisa de percepção de risco ambiental não teria acontecido sem a ajuda e apoio de
várias pessoas do Instituto Salvia, e da equipe do Projeto Aclimar, Thiago Borges e Felipe Borges,
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e da turma de Gestão e Avaliação de Risco Ambiental do PPGA /UCB, e NUGOBIO, além do
apoio da comunidade do Núcleo Rural do Córrego do Urubu que participou da pesquisa. Nossos
agradecimentos pelo apoio financeiro dado pelo Instituto HSBC Solidariedade, que através do
projeto Aclimar, garantiu o levantamento dos dados e bolsa viagem para a apresentação deste
artigo neste evento.