Percepção de risco ambiental no córrego do urubu ANPPAS · percepção média do grau de risco...

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VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil ______________________________________________________ Diagnóstico de Percepção de Risco Ambiental e Mudança Climática no Núcleo Rural da Microbacia do Córrego do Urubu Renata Marson Teixeira de Andrade (Universidade Católica de Brasília) Engenheira Química e Mestre em Energia (USP), PhD in Energy and Resources (UCBerkeley), Coordenadora do Núcleo de Governança em Biocombustíveis e Mudança Climática e Professora da Universidade Católica de Brasília [email protected] Andrew Miccolis (Instituto Salvia) Coordenador Executivo e Consultor Ambiental [email protected] Resumo As cidades brasileiras vêm sofrendo uma urbanização acelerada e desordenada, onde áreas urbanas formadas por bairros e assentamentos precários substituem zonas rurais que abrigam áreas de preservação ambiental e mananciais, e, portanto com alta vulnerabilidade às mudanças climáticas. A Microbacia do Córrego Urubu é uma destas regiões no DF que vem sofrendo a ameaça de uma rápida expansão urbana, numa área considerada de proteção ambiental. O presente estudo avalia a percepção de risco ambiental da comunidade que vive no núcleo rural da Microbacia do Córrego Urubu, Distrito Federal, com o intuito de subsidiar a elaboração de estratégias de adaptação a mudanças climáticas no âmbito do Projeto Aclimar. Os dados foram coletados mediante a aplicação de questionários na comunidade e ferramentas de geo- referenciamento, que possibilitaram mapear a percepção da comunidade sobre a freqüência e impactos de diversas ameaças ambientais e climáticas sobre seus bens, meio ambiente e pessoas na microbacia. Foram aplicados 40 questionários, distribuídos de forma a abranger as diferentes subregiões na microbacia, o que representa aproximadamente 20% das propriedades da microbacia. Constatou-se que a população entrevistada no núcleo rural do Córrego do Urubu se mostra muito preocupada com as mudanças climáticas, assim como crescimento urbano desordenado, perda de biodiversidade e lixo. As áreas onde a percepção de riscos ambientais e climáticos foi mais acentuada estão localizadas justamente nas fronteiras de expansão urbana. O estudo foi fundamental para identificar prioridades para a elaboração de estratégias de adaptação a mudanças climáticas na região no âmbito do Projeto Aclimar. Palavras-chave Percepção de mudança do clima, riscos ambientais, Distrito Federal, Córrego do Urubu

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Diagnóstico de Percepção de Risco Ambiental e Mudança Climática no Núcleo Rural da Microbacia do Córrego do Urubu

Renata Marson Teixeira de Andrade (Universidade Católica de Brasília)

Engenheira Química e Mestre em Energia (USP), PhD in Energy and Resources (UCBerkeley), Coordenadora do Núcleo de Governança em Biocombustíveis e Mudança Climática e Professora

da Universidade Católica de Brasília [email protected]

Andrew Miccolis (Instituto Salvia)

Coordenador Executivo e Consultor Ambiental [email protected]

Resumo

As cidades brasileiras vêm sofrendo uma urbanização acelerada e desordenada, onde áreas

urbanas formadas por bairros e assentamentos precários substituem zonas rurais que abrigam

áreas de preservação ambiental e mananciais, e, portanto com alta vulnerabilidade às mudanças

climáticas. A Microbacia do Córrego Urubu é uma destas regiões no DF que vem sofrendo a

ameaça de uma rápida expansão urbana, numa área considerada de proteção ambiental. O

presente estudo avalia a percepção de risco ambiental da comunidade que vive no núcleo rural da

Microbacia do Córrego Urubu, Distrito Federal, com o intuito de subsidiar a elaboração de

estratégias de adaptação a mudanças climáticas no âmbito do Projeto Aclimar. Os dados foram

coletados mediante a aplicação de questionários na comunidade e ferramentas de geo-

referenciamento, que possibilitaram mapear a percepção da comunidade sobre a freqüência e

impactos de diversas ameaças ambientais e climáticas sobre seus bens, meio ambiente e

pessoas na microbacia. Foram aplicados 40 questionários, distribuídos de forma a abranger as

diferentes subregiões na microbacia, o que representa aproximadamente 20% das propriedades

da microbacia. Constatou-se que a população entrevistada no núcleo rural do Córrego do Urubu

se mostra muito preocupada com as mudanças climáticas, assim como crescimento urbano

desordenado, perda de biodiversidade e lixo. As áreas onde a percepção de riscos ambientais e

climáticos foi mais acentuada estão localizadas justamente nas fronteiras de expansão urbana. O

estudo foi fundamental para identificar prioridades para a elaboração de estratégias de adaptação

a mudanças climáticas na região no âmbito do Projeto Aclimar.

Palavras-chave Percepção de mudança do clima, riscos ambientais, Distrito Federal, Córrego do Urubu

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1 - Introdução

As mudanças climáticas afetarão as estruturas das cidades e seus serviços básicos, tais

como: o abastecimento de água, a rede de escoamento e esgoto sanitário, o transporte, o

abastecimento de energia, a biodiversidade e bens e serviços dos ecossistemas, dentre outros. As

cidades brasileiras vêm sofrendo uma urbanização acelerada e desordenada, onde áreas urbanas

formadas por bairros e assentamentos precários substituem zonas rurais com áreas de

preservação ambiental e mananciais e, portanto, com alta vulnerabilidade às mudanças climáticas.

A Microbacia do Córrego Urubu é uma destas regiões no Distrito Federal que vem sofrendo a

ameaça da rápida expansão urbana, numa área considerada de proteção ambiental. Esta região

situa-se em área de recarga da sub-bacia Norte do Lago Paranoá, concentrando importante

nascentes, e os córregos do Urubu, Sagui e Olhos D’água, na Região Administrativa do Lago

Norte e na Área de Proteção Ambiental – APA do Planalto Central. A população mais afetada por

estas ameaças é composta por moradores e trabalhadores de chácaras do Núcleo Rural do

Córrego Urubu, situado na Região Administrativa do Lago Norte.

Esta região vem sofrendo grande ameaças decorrentes de mudanças no uso do solo com

o avanço urbano na região trazido pelo Bairro Taquari e os moradores têm se mostrado

preocupados com esta transformação no meio ambiente e na qualidade da água e do solo, além

do desmatamento e perda da biodiversidade local. Dois estudos foram realizados em 2009 e 2010

para compreender os efeitos das mudanças climáticas - aumento da frequencia de eventos

extremos de pluviosidade na região - frente à urbanização crescente prevista no plano de

ordenamento territorial. Segundo estes estudos, haverá elevação dos riscos de alagamentos e

enchentes, além do perigo de erosão e perda de nascentes que dependem da infiltração de água

nos locais onde serão construídas as novas etapas deste bairros urbano (SOARES et al., 2009,

BRAGA et al., 2010). Enquanto isso, Zacharias (2012) estudou a ameaça de queimada frente à

mudança do clima na região, e propõe um processo de adaptação a eventos extremos de seca na

região por meio de um Plano de Gestão de Risco Ambiental a Queimadas em áreas peri-urbanas,

bem como a formação de brigadistas junto aos chacareiros da região.

O presente estudo avalia a percepção de risco ambiental da comunidade que vive na Microbacia

do Córrego Urubu, Distrito Federal, com o intuito de subsidiar a elaboração de estratégias de

adaptação a mudanças climáticas no âmbito do Projeto Aclimar. Este projeto tem por objetivo

elaborar e demonstrar estratégias locais de adaptação a mudanças climáticas com foco na gestão

sustentável dos recursos hídricos, controle de erosão e drenagem, bem como sistemas

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sustentáveis de uso e ocupação do solo, como Agroecologia, Permacultura e Sistemas

Agroflorestais.

2 – Percepção de Risco Ambiental

No processo de percepção e avaliação dos riscos, os indivíduos consideram não só a

probabilidade mensurável de ocorrência, mas também a gravidade estimável dos perigos e a

extensão de seus efeitos. Segundo Renn (2004), é essencialmente o contexto no qual o risco é

experimentado que determina a percepção do mesmo.

Segundo Slovic et al. (1981) e Slovic (1987), existem circunstâncias ou fatores qualitativos que se

encontram subjacentes às percepções de risco e que os indivíduos mobilizam mentalmente para a

avaliação do mesmo. São eles:

a. A familiaridade com a fonte do risco, ou seja, a capacidade de tolerância e de convivência

com o risco, que parece aumentar na proporção direta da frequência e possibilidade de ocorrência

do mesmo.

b. A aceitação voluntária do risco, sendo que a capacidade de aceitar voluntariamente o risco

se encontra intimamente relacionada com os benefícios percepcionados. Relacionado com este

aspecto, encontram-se ainda os fatores que se associam à apreensão da existência de justiça na

distribuição dos ganhos e perdas decorrentes dos riscos, sendo que a capacidade de aceitação e

convivência com esses, dependente do modo como é apreendida a justiça distributiva dos seus

impactos (positivos e negativos).

c. A capacidade (real ou percepcionada) de controle sobre as fontes de risco determina a

capacidade de convivência com um determinado perigo. Esta está, assim, associada à

possibilidade de controlar os fatores de risco antecipadamente, quer seja individualmente,

quer seja através da percepção da existência de mecanismos técnicos e institucionais

adequados.

d. A confiança que os indivíduos depositam nos mecanismos e entidades de controle e

gestão do risco, sendo que a capacidade de conviver com determinados fatores de perigo será

tanto maior, quanto maior for a confiança nos instrumentos políticos e técnicos de controle e

gestão.

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e. A confiança nas fontes de informação disponíveis parece deter um papel fundamental no

modo como são construídas as percepções sociais nesta matéria.

f. O potencial catastrófico do risco, que determina igualmente o grau de tolerância e a

capacidade de convivência. Isto significa que quanto maior for a probabilidade de ocorrência de

um acidente de proporções catastróficas, menor será a capacidade de convivência e tolerância

frente a essa circunstância.

g. O grau de certeza associado à previsão dos efeitos do risco, que se encontra também

relacionado com a capacidade de controle do grau de risco e confiabilidade das fontes de

informação disponíveis.

h. O impacto previsível que o risco terá nas gerações futuras, fator que se relaciona de perto

com a sustentabilidade ambiental e com a percepção de que as atividades (positivas ou negativas)

do presente poderão ter consequências (igualmente positivas ou negativas) nas gerações futuras

e nas suas atividades e oportunidades.

i. A percepção sensorial do perigo é igualmente um fator qualitativo relevante neste domínio,

considerando que os riscos que não são imediatamente perceptíveis através da experiência

sensorial, são menos tolerados, do que aqueles cujos efeitos se apresentam mais imediatos e

visíveis.

j. A percepção da (ir)reversibilidade dos efeitos adversos interfere na avaliação social dos

riscos. Assim, quanto mais as consequências de um acidente forem percepcionadas como

irreversíveis, menor será a capacidade de aceitação e de tolerância frente a ele.

Muito embora se possa afirmar que os indivíduos utilizam alguns destes fatores (ou mesmo todos)

nas representações, avaliações e comportamentos que adotam face ao perigo, a presença dos

critérios mencionados na formação de opinião e na capacidade de tolerância e convivência com

determinados riscos varia consideravelmente entre grupos e contextos sociais (SJÖBERG, 1994).

Em situações de riscos ambientais vinculadas a processos climáticos, observa-se que algumas

características ou qualidades próprias são capazes de influenciar a percepção e as respostas dos

indivíduos, atenuando ou agravando a avaliação que se faz da realidade. Dentre essas

características pode-se destacar a causa do risco, o tipo de consequência, as vítimas envolvidas e

o possível cenário de destruição (SOUZA; ZANELLA, 2009).

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3. Material e Métodos de Pesquisa

Esta pesquisa faz parte do Projeto Aclimar - Plantando Árvores e Colhendo Águas, apoiado pelo

Instituto HSBC Solidariedade e coordenado pelo Instituto Salvia de Soluções Socioambientais –

ISSA, em parceria com a Universidade Católica de Brasília, Movimento Salve o Urubu, Oca do Sol

e WWF-Brasil. Os dados foram coletados mediante a aplicação de questionários na comunidade e

ferramentas de georreferenciamento, que possibilitaram mapear a percepção da comunidade

sobre a freqüência e impactos de diversas ameaças ambientais e climáticas sobre seus bens,

meio ambiente e pessoas na microbacia. A comunidade local é composta por aproximadamente

250 chácaras. A fim de abranger as diferentes subregiões na microbacia, foram aplicados 40

questionários.

O questionário foi testado e ajustado mediante um processo de pré-teste dividido em três etapas:

(1) verificação das perguntas individuais; (2) aplicação do questionário a um grupo de pessoas e

(3) análise da aplicação e dos resultados, verificando-se o questionário como um todo no que

tange à sua validade e condições de aplicação.

Na primeira parte do instrumento de pesquisa, foram colocadas questões relativas à percepção

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Figura 1 – Cadeia de Eventos

Fonte: elaboração própria

Tabela 1 – Matriz de Risco ambiental: níveis de frequência, impacto e risco ambiental

Fonte: elaboração própria.

A equação mais genérica para expressar o risco seria dada por: R = F x I, onde R= risco, F =

frequência de ocorrência do processo em questão, e I = impactos no meio ambiente, pessoas e

bens materiais potenciais associadas.

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Segundo a Tabela 1, os níveis de risco foram obtidos a partir da frequência de ocorrência de cada

uma das 22 ameaças e a magnitude dos impactos, considerados no âmbito das pessoas, bens e

meio ambiente. A análise de risco ambiental focou-se em vinte e duas ameaças, a saber: chuva

excessiva, raio, ventania, estrada esburacada, enxurrada, erosão, desbarrancamento,

assoreamento, seca, bichos peçonhentos, falta de água, queimada, desmatamento, poeira,

poluição sonora, poluição da água, contaminação do solo, perda de biodiversidade, epidemia

(dengue), pragas e doenças em plantas, insetos e doenças em animais.

Para a microbacia como um todo, os resultados são apresentados em dois gráficos contendo a

percepção média do grau de risco de cada ameaça para cada subregião, e para fins deste

trabalho, apresentamos a distribuição espacial em seis mapas de risco para seis ameaças de

percepção de risco crítico e alta segundo o grau de percepção de risco em cada localidade onde

foi aplicado o questionário.

Na Figura 2 vemos as regiões consideradas no estudo de eco-mapeamento realizado por Semear

Educação (Pedroso 2008), que indicam que mobilidade e infraestrutura são problemas frequentes

na região. A microbacia foi dividida em subregiões que serão consideradas nesta pesquisa de

percepção de risco ambiental e climático na região.

Figura 2 – Regiões do Eco-mapeamento no Córrego do urubu:

Fonte: Pedroso, 2008

4. Resultados e Discussão

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Os moradores entrevistados no núcleo rural do urubu se mostram bastante preocupados com

problemas ambientais globais, como pode ser visto na Figura 3. De fato, a percepção dos riscos

de mudança climática está no imaginário da população que vive nas chácaras entrevistadas,

assim como outros problemas ambientais globais, como crescimento urbano desordenado, perda

da biodiversidade e lixo.

Figura 3. Grau de preocupação relativo a cada um dos problemas globais (1 a 4, sendo 1 pouca e

4 muita preocupação)

Fonte: elaborado pelos autores

Na figura 3, vemos que os entrevistados apresentam ter muita preocupação com o crescimento

desordenado, lixo, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, pobreza e violência. Por outro

lado, apresentam pouca preocupação com Aids, epidemia, terrorismo, terremoto e maremotos.

Este resultado é esperado, pois esta população vive no platô central do Brasil, longe da fronteira

com o Pantanal e a Amazônia, do litoral e da cordilheira dos Andes, onde guerrilhas e lutas

armadas (incluindo terrorismo), maremotos e terremotos são mais prováveis de ocorrer,

respectivamente.

Conforme a Figura 4, os entrevistados têm muita confiança sobre as informações relativas às

mudanças climáticas que chegam pelas universidades, Ministérios da Ciência e Tecnologia, e

Ministérios do Meio Ambiente, Igreja, família e amigos; suficiente confiança nas informações das

fundações, IBRAM, TV, jornais, associação de moradores; alguma confiança nas informações de

equipe técnica de ONG, instituição financeira e administração do Lago Norte; e pouca confiança

no governo do Distrito Federal e nos partidos políticos para obter informações sobre mudanças

climáticas.

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Para a amostra entrevistada, as mudanças climáticas geram impactos “altos” e “muito altos”, em

média, nos seguintes locais listados na Figura 5. Isso denota um entendimento de que as

mudanças climáticas irão afetar todos os tipos de sistemas naturais, incluindo florestas e rios, e

intensificarão secas. No entanto, os impactos não foram qualificados como negativos ou positivos.

Figura 4. Grau de confiança nas fontes de informações sobre Mudanças Climáticas (1 pouca, 2

alguma, 3 suficiente, 4 muita confiança)

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 5. Percepção de impacto das mudanças climáticas (escala de 1 a 4, sendo 1 baixo e 4 alto

impacto)

Fonte: elaborado pelos autores

Quanto aos riscos ambientais, conforme os resultados apresentados na Figura 6, onde aparece a

média da percepção de risco ambiental dos moradores da microbacia como um todo, para cada

ameaça climática e ambiental, as ameaças que apresentam percepção de risco alto, foram:

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estradas esburacadas, poeira, queimada, enxurrada, seca e erosão. Falta e poluição d’água foram

classificadas, em média, como de risco tolerável. Todas as demais ameaças foram percebidas

também como sendo toleráveis, à exceção de epidemia, considerada insignificante. Cabe ressaltar,

no entanto, que houve situações individuais onde riscos considerados baixos em média eram

vistos como altos ou críticos naquela chácara.

Figura 6. Percepção de Risco Ambiental Média (40 chácaras)

Fonte: elaboração própria

A população percebe os riscos ambientais como sendo críticos para as seguintes ameaças:

erosão, seca, enxurrada, queimada e poeira, sendo estrada esburacada a que obteve risco critico

mais elevado. A avaliação espacial da distribuição da percepção mostra que 90% das chácaras

mais próximas de zonas de urbanização percebem 12 ameaças com riscos ambientais críticos e 6

altos se comparadas às chácaras distantes das zonas de urbanização, que percebem 4 ameaças

de alto risco e as demais de riscos toleráveis e insignificantes.

Os chacareiros que vivem distante das áreas de urbanização sinalizaram uma qualidade da água

boa para consumo, enquanto que as chácaras próximas à área urbana percebem graves

problemas de contaminação do lençol freático, e falta de água aparece como risco alto em grande

parte da bacia.

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ameaças - poluição d’água, enxurrada, perda de biodiversidade e ventania - como risco ambiental

alto. Isso também é preocupante, pois esta região está próxima à região limítrofe do bairro

Taquari 1, logo abaixo do ponto onde o Córrego Olhos D’água, que recebe as águas pluviais do

Taquari 1, se une ao Córrego Urubu. Ademais, somente a falta d’água é considerada de risco

ambiental insignificante pelos moradores, enquanto que as demais nove ameaças são percebidas

como de risco ambiental tolerável. Aqui, vale esclarecer que muitas casas nesta sub-região

possuem acesso a água forneceida pela companhia de água e esgoto do DF.

Para a sub-região Portal Araguaia, somente três ameaças - poeira, estrada esburacada e

enxurrada - são percebidas pelos moradores como de risco ambiental crítico, ao passo que para a

percepção de risco ambiental alto, seis ameaças merecem destaque: seca, queimada, bichos

peçonhentos, falta d’água, raio e insetos. As demais doze ameaças foram percebidas pelos

moradores como de risco ambiental tolerável.

Já nas sub-regiões de São Sepé e Primeiro trecho apresentaram percepção alta para cinco

ameaças: seca, poeira, estrada esburacada, enxurrada e queimada, nenhuma ameaça foi

considerada de risco ambiental critico. Em São Sepé, os moradores percebem dez ameaças como

de risco ambiental insignificante, e sete ameaças como apresentando risco ambiental tolerável. Ao

mesmo tempo, os moradores do Primeiro Trecho percebem oito ameaças como risco ambiental

insignificante, e as demais sete ameaças como risco ambiental tolerável.

Na Figura 8, pode-se notar a distribuição espacial de oito ameaças para as propriedades que

foram entrevistadas nesta pesquisa. Nota-se que a maior frequência de pontos vermelhos e

laranjas (risco crítico e alto) se dá nas região de Ladeira e Olhos D’água, ao passo que os pontos

verdes e amarelos (risco insignificante e tolerável) estão mais concentrados nas regiões mais

afastadas do atual Bairro Taquari 1 porém próximas ao futuro Bairro Taquari 2 e 3, novas zonas

de crescimento urbano na região.

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Figura 8. Distribuição espacial da percepção do risco ambiental no núcleo rural da microbacia do

Urubu 2011: para oito ameaças

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Fonte: elaboração própria

5. Considerações finais

A população entrevistada no Núcleo Rural do Córrego Urubu se mostra muito preocupada com as

mudanças climáticas, assim como com o ncrescimento urbano desordenado, perda de

biodiversidade e lixo. Além disso, compreende a extensão dos impactos daS mudança do clima e

confia nas universidades e nos ministérios federais, assim como nas suas organizações religiosas

e seus familiares e amigos para buscar informações sobre este fenômeno.

Os moradores das áreas rurais com maior declividade, conhecidas como Ladeira e Olhos D’água

e também localizadas mais próximas à fronteira de expansão urbana do Bairro Taquari, percebem

um grau de risco ambiental e climático crítico a diversas ameaças, em maior intensidade do que

os moradores das demais sub-regiões na microbacia. Assim, as ameaças consideradas mais

críticas pelos moradores têm relação direta com os efeitos das mudanças climáticas e os

processos de expansão urbana, incluindo processos erosivos (erosão, poeira e estrada

esburacada), bem como mudanças no regime hídrico e no nível de umidade (enxurrada, queimada

e seca).

Este tipo de estudo é fundamental para dar voz aos moradores desta região quanto à percepção

do nível de degradação existente na região e estresses ambientais causados por mudanças do

uso do solo e climáticas. As estratégias de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas devem

ser elaboradas levando em conta a percepção dos moradores às ameaças que afligem a região

como um todo, no entanto, é preciso analisar as especificidades de cada sub-região - e em

algumas situações até de cada propriedade - a fim de desenhar estratégias que de fato diminuam

a vulnerabilidade das comunidades e do meio ambiente local.

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6. Bibliografia

ANDRADE, R. T. M.; MICCOLIS, A; BORGES, F.; DELPHINO, R. M.; SANTOS, M. J. Estudo

preliminar de percepção a mudança do clima no Urubu. . 2011. RBSLB

BRAGA, B. R.; MARTINS, E. S.; IBRAHIM, N. L. A. Análise de vulnerabilidade climática num

cenário de crescimento urbano na microbacia do Córrego Urubu em 2019, Setor Habitacional

Taquari – Trechos 2 e 3, Lago Norte-DF. Brasília, 2010. Monografia (Graduação em Engenharia

Ambiental) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010.

PEDROSO, M. Ecomapeamento da Microbacia do Córrego do urubu. 2008. Movimento Salve o

Urubu e WWF- Brasil.

RENN, O. Perception of risks. Toxicology Letters, [S.l.], v. 149, n. 1-3, p. 405-413, Apr. 2004.

SJÖBERG, L. Perceived risk vs demand for risk reduction. Stockholm: Center for Risk Research,

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SLOVIC, P. Perception of risk. Science, New Series, v. 236, n. 4799, p. 280-285, Apr. 1987.

SLOVIC, P.; FISCHHOFF, B.; LICHTENSTEIN, S. Perceived risk: psychological factors and social

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SOARES, M. S.; DAL’AVA, P. B.; RIBEIRO, T. M. S. Avaliação de risco e análise multitemporal

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Urubu, Lago Norte – DF. Monografia (Graduação em Engenharia Ambiental) – Universidade

Católica de Brasília, Brasília, 2009.

SOUZA, L. B.; ZANELLA, M. E. Percepção de riscos ambientais: teoria e aplicações. Fortaleza:

Edições UFC, 2009. 237p.

ZACHARIAS, G. Indicadores Para A Gestão De Riscos De Incêndios Florestais Em Áreas

Periurbanas Do Distrito Federal, Brasil: Estudo De Caso Do Núcleo Rural Do Córrego Do Urubu.

2012. Dissertação mestrado. UCB

Agradecimentos:

Esta pesquisa de percepção de risco ambiental não teria acontecido sem a ajuda e apoio de

várias pessoas do Instituto Salvia, e da equipe do Projeto Aclimar, Thiago Borges e Felipe Borges,

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e da turma de Gestão e Avaliação de Risco Ambiental do PPGA /UCB, e NUGOBIO, além do

apoio da comunidade do Núcleo Rural do Córrego do Urubu que participou da pesquisa. Nossos

agradecimentos pelo apoio financeiro dado pelo Instituto HSBC Solidariedade, que através do

projeto Aclimar, garantiu o levantamento dos dados e bolsa viagem para a apresentação deste

artigo neste evento.