Percepções e Atuação

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1170 Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1170-1177 www.ee.usp.br/reeusp/ RESUMO Este estudo teve como objeƟvo idenƟcar as percepções de Agentes Comunitários de Saúde acerca de saúde e transtorno mental, bem como vericar o preparo desses agentes para atuar na área. Trata-se de uma pesquisa qualitaƟva que uƟlizou como técnica de cole- ta de dados a entrevista semiestruturada e, para interpretação dos dados, a técnica de análise de conteúdo. Foram entrevistados 45 Agentes Comunitários de Saúde da Estratégia Saúde da Família, pertencentes às 21 unida- des básicas de saúde do município de Marin- gá, PR. Os resultados obƟdos demonstram os preconceitos em relação ao transtorno men- tal desses prossionais, que reconhecem a importância de se trabalhar tanto com o por- tador quanto com a família, mas não se sen- tem capacitados para prestar uma assistên- cia adequada. Por comparƟlharem o mesmo contexto social e por conhecerem de perto a dinâmica da comunidade, vislumbramos os agentes como importantes facilitadores no cuidado à saúde mental. DESCRITORES Transtornos mentais Agentes Comunitários de Saúde Programa Saúde da Família Enfermagem psiquiátrica Saúde mental Percepções e atuação do Agente Comunitário de Saúde em saúde mental ARTIGO ORIGINAL ABSTRACT The objecƟves of this study are to iden- Ɵty the percepƟons of community health agents regarding health and mental disor- ders, and to verify the preparaƟon these agents receive to work in this eld. This qualitaƟve study was performed using semi-structured interviews for data col- lecƟon and uƟlizing content analysis to interpret the data. Interviews were per- formed with 45 community health agents working in the Family Health Strategy, who reported to 21 basic health units in the city of Maringá, PR. Results show the prejudice that these workers have regard- ing mental disorders. They recognize the importance of working with the paƟent and the family but do not feel prepared to provide adequate care. Because they share the same social context and have a close experience with the community dy- namics, we see them as important facilita- tors of mental healthcare. DESCRIPTORS Mental disorders Community Health Workers Family Health Program Psychiatric nursing Mental health RESUMEN Estudio que objeƟvó idenƟcar las per- cepciones de Agentes Comunitarios de Salud acerca de salud y transtorno mental, así como vericar la preparación de tales agentes para actuar en el área. InvesƟga- ción cualitaƟva con datos recolectados me- diante entrevista semiestructurada, anali- zados según análisis de contenido. Fueron entrevistados 45 Agentes Comunitarios de Salud de la Estrategia Salud de la Familia, pertenecientes a las 21 unidades prima- rias de salud del municipio (Maringá, PR). Los resultados obtenidos demuestran los preconceptos de estos profesionales, en relación al transtorno mental. Los Agentes reconocen la importancia de trabajar tanto con el afectado como con su familia, pero no se sienten capacitados para brindar una atención adecuada. Por formar parte del mismo contexto social y conocer de cerca la dinámica comunitaria, vislumbramos a los agentes como importantes facilitadores en el cuidado de la salud mental. DESCRIPTORES Trastornos mentales Agentes Comunitarios de Salud Programa de Salud Familiar Enfermería psiquiátrica Salud mental Maria Angélica Pagliarini Waidman 1 , Bruna da Costa 2 , Marcelle Paiano 3 COMMUNITY HEALTH AGENTS’ PERCEPTIONS AND PRACTICE IN MENTAL HEALTH PERCEPCIONES Y ACTUACIÓN DEL AGENTE COMUNITARIO DE SALUD EN SALUD MENTAL 1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento da Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, PR, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, PR, [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, PR, Brasil. [email protected] Recebido: 04/08/2011 Aprovado: 17/02/2012 Português / Inglês www.scielo.br/reeusp

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Do Agente Comunitário de Saúde Em Saúde Mental

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1170Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M RESUMOEsteestudotevecomoobjevoidencar aspercepesdeAgentesComunitriosde Sade acerca de sade e transtorno mental, bem como vericar o preparo desses agentes para atuar na rea. Trata-se de uma pesquisa qualitava que ulizou como tcnica de cole-tadedadosaentrevistasemiestruturadae, parainterpretaodosdados,atcnicade anlise de contedo. Foram entrevistados 45 Agentes Comunitrios de Sade da Estratgia Sade da Famlia, pertencentes s 21 unida-des bsicas de sade do municpio de Marin-g, PR. Os resultados obdos demonstram os preconceitos em relao ao transtorno men-taldessesprossionais,quereconhecema importncia de se trabalhar tanto com o por-tador quanto com a famlia, mas no se sen-temcapacitadosparaprestarumaassistn-cia adequada. Por comparlharem o mesmo contexto social e por conhecerem de perto a dinmicadacomunidade,vislumbramosos agentescomoimportantesfacilitadoresno cuidado sade mental.DESCRITORES Transtornos mentaisAgentes Comunitrios de SadePrograma Sade da FamliaEnfermagem psiquitricaSade mentalPercepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalARTIGO ORIGINALABSTRACTTheobjecvesofthisstudyaretoiden-tytheperceponsofcommunityhealth agents regarding health and mental disor-ders,andtoverifythepreparaonthese agentsreceivetoworkinthiseld.This qualitavestudywasperformedusing semi-structuredinterviewsfordatacol-leconandulizingcontentanalysisto interpretthedata.Interviewswereper-formed with 45 community health agents workingintheFamilyHealthStrategy, whoreportedto21basichealthunitsin the city of Maring, PR. Results show the prejudice that these workers have regard-ingmentaldisorders.Theyrecognizethe importanceofworkingwiththepaent andthefamilybutdonotfeelprepared toprovideadequatecare.Becausethey share the same social context and have a close experience with the community dy-namics, we see them as important facilita-tors of mental healthcare.DESCRIPTORS Mental disordersCommunity Health WorkersFamily Health ProgramPsychiatric nursingMental healthRESUMEN Estudioqueobjevidencarlasper-cepcionesdeAgentesComunitariosde Salud acerca de salud y transtorno mental, ascomovericarlapreparacindetales agentesparaactuarenelrea.Invesga-cin cualitava con datos recolectados me-dianteentrevistasemiestructurada,anali-zados segn anlisis de contenido. Fueron entrevistados 45 Agentes Comunitarios de SaluddelaEstrategiaSaluddelaFamilia, pertenecientesalas21unidadesprima-riasdesaluddelmunicipio(Maring,PR). Losresultadosobtenidosdemuestranlos preconceptosdeestosprofesionales,en relacin al transtorno mental. Los Agentes reconocen la importancia de trabajar tanto conelafectadocomoconsufamilia,pero no se sienten capacitados para brindar una atencinadecuada.Porformarpartedel mismocontextosocialyconocerdecerca ladinmicacomunitaria,vislumbramosa los agentes como importantes facilitadores en el cuidado de la salud mental.DESCRIPTORES Trastornos mentalesAgentes Comunitarios de SaludPrograma de Salud FamiliarEnfermera psiquitricaSalud mentalMaria Anglica Pagliarini Waidman1, Bruna da Costa2, Marcelle Paiano3COMMUNITY HEALTH AGENTS PERCEPTIONS AND PRACTICE IN MENTAL HEALTHPERCEPCIONES Y ACTUACIN DEL AGENTE COMUNITARIO DE SALUD ENSALUD MENTAL1 Enfermeira.DoutoraemEnfermagem.DocentedoDepartamentodaEnfermagemdaUniversidadeEstadualdeMaring.Maring,PR,Brasil. [email protected] 2 Enfermeira. Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Estadual de Maring. Maring, PR, [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Estadual de Maring. Maring, PR, Brasil. [email protected]: 04/08/2011Aprovado: 17/02/2012Portugus / Inglswww.scielo.br/reeusp1171Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/INTRODUONaslmasdcadasoSistemanicodeSade(SUS) brasileiro,estabelecidopelaConstuioFederalde1988 e regulamentado por leis complementares, vem gradava-menteseassentandosobreospilaresdauniversalizao, da integralidade, da descentralizao e da parcipao po-pular(1). Com a implementao do Programa de Agentes Co-munitrios de Sade (PACS) em 1991 e do Programa Sade da Famlia (PSF) em 1994, buscava-se omizar a assistncia sade e a organizao da ateno bsica de forma a aten-der aos princpios do SUS. O PSF prope uma ampliao do lcusdeintervenoemsade,incorporandonasuapr-caodomiclioeespaosdiversos.Talcaracterscavem contribuindo para o fortalecimento do vnculo entre pros-sionais das equipes e a comunidade local(2).Atualmenteadiretrizparaassistnciaemsademen-taltemsidoofortalecimentodaarculaoentresade mental e a Ateno Bsica de Sade (ABS). Isso se deve em grande parte longa histria de lutas e reivindicaes que resultaramnaaprovaodaatualLein10.216/01,ouLei NacionaldaReformaPsiquitrica.NessecontextoaEstra-tgiaSadedaFamlia(ESF)funcionacomo umafortealiadadafamliaedosservios extra-hospitalaresdesadementalparaa manuteno da pessoa com transtorno men-tal(PTM)nodomicilio.Almdisso,umadas principais atribuies do Agente Comunitrio de Sade (ACS) na ESF coletar informaes referentessnecessidadesdesadedapo-pulao,idencarusurioscomproblemas e encaminh-los unidade de sade(3).Porserintegrantedacomunidade,o AgenteComunitriodeSadetorna-seum mediador e facilitador na relao entre o ser-viodesadeeseuusurio,estabelecendoumacomuni-caointerpessoalefeva,poisaspessoas,porcompar-lharem da mesma realidade local, idencam-se com esse agente.Essacomunicaoestabelecidavemaoencontro do que se prope a reforma psiquitrica, fazendo com que osserviosextramurosdetenhamgrandepapelnaiden-caoeacompanhamentodoscasos,realizandoassima refernciaecontrarreferncia.Porsuafacilidadeemesta-belecervnculosecontatos,osAgentesComunitriosde Sade tornam-se importantes instrumentos na ateno em Sade Mental.A desinstucionalizao, o resgate da cidadania, a sin-gularidade dos sujeitos e a criao de servios que visam reabilitaopsicossocialdaspessoascomtranstornos mentais so premissas bsicas do movimento em prol da reforma psiquitrica(4), a qual, entre outras aes, reorien-taaatenopessoacomtranstornomentalbuscando substuir o modelo asilar segregador, excludente, redu-cionista e tutelar que tem como centro de atendimento o hospital psiquitrico(5).Para a implantao desse modelo de ateno so ne-cessriosconhecimentosehabilidadestcnicascapazes de impedir que a assistncia se torne fragilizada e inecaz. A no formao especca, a ausncia de atualizaes na rea de sade mental e a diculdade em acompanhar as mudanaspropostaspelareformapodemtornar-seele-mentos complicadores(6).Empesquisarealizadacomprossionaisintegran-tesdeumaequipedeSadedaFamlianota-sequeos AgentesComunitriosdeSadenorecebemformao nemtmexperinciaantesdesuainseronaESF,com exceodemomentospontuaisnaformaodospros-sionaisdenvelsuperior,enquantootrabalhodaequipe revela-se permeado por demandas que requerem prcas de ateno sade mental(7).Transpondo essa questo no que diz respeito capaci-tao do Agente Comunitrio de Sade para atuar no cam-po da sade mental, os problemas parecem se agravar, haja vistaacarnciadeconhecimentoespecconessareae as questes que envolvem o esgma da doena mental(8).Compreende-se, assim, que a posio em que o Agente ComunitriodeSadeseencontrapode,de acordocomsuasconcepesequalicao, facilitaraconcrezaodaassistnciasa-de integral preconizada pelo SUS e, conforme descrito por outros autores(2,6), alcanar a rein-serodaspessoascomtranstornosmentais na sociedade, alm de lhes proporcionar a dig-nidade e o respeito que lhes foram negados.Asadementalnaatenobsica,es-pecialmenteaEstratgiaSadedaFamlia, tem sido alvo de vrias pesquisas nos lmos anos;noentanto,estudoscomAgentesCo-munitrios de Sade ainda no so facilmen-teencontrados,havendoumalacunadeco-nhecimento neste campo. Como esse prossional aquele que,porrealizarvisitasregularessfamlias,temmaior contato com elas, conforme exige a ESF, propusemo-nos a realizaresteestudo,poracreditarmosqueatravsdoco-nhecimento da realidade desses prossionais seja possvel prepar-los para assisr as pessoas com transtornos men-tais e as famlias de acordo com suas necessidades.Assim,oestudotemcomoobjevoidencaraper-cepo sobre sade e transtorno mental que tm os Agen-tesComunitriosdeSadeatuantesnaEstratgiaSade da Famlia e vericar seu preparo para atuar nessa rea.MTODOTrata-se de um estudo exploratrio-descrivo de nature-zaqualitava,desenvolvidoemMaringPR.Omunicpio o terceiro maior do Paran, com 325.968 mil habitantes e possui 25 Unidades Bsicas de sade (UBS), com 69 equipes de Sade da Famlia. Para a realizao do estudo foram se-Por sua facilidade em estabelecer vnculos e contatos, os Agentes Comunitrios de Sade tornam-se importantes instrumentos na ateno em Sade Mental.1172Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M lecionadas apenas as equipes da ESF que estavam com seu quadromulprossionalemconformidadecomoquepre-coniza o Ministrio da Sade, por se acreditar que dessa for-ma o atendimento famlia e a pessoa com transtorno men-tal se torna de melhor qualidade.Com base nesse critrio, o estudo foi realizado em 21 UnidadesBsicasdeSadedomunicpio,contandocom a parcipao de 45 Agentes Comunitrios de Sade que aceitaram parcipar da pesquisa. A coleta de informaes sedeunoperododesetembrode2008aabrilde2009 por meio de entrevista individual semiestruturada e anotao das observaes em dirio de campo.Oinstrumentoulizadonacoletadedadosfoiumrotei-ro constudo de duas partes, das quais a primeira abordava caracterscas sociodemogrcas e a segunda, questes refe-rentes aos objevos do estudo. O roteiro connha as seguintes questes:1)Oquevoccompreendeporsademental?;2) Das avidades que desenvolve no seu dia a dia quais voc clas-sicaria como de promoo da sade mental?; 3) Voc desen-volve/promoveavidadesdegruponaUBS?Quaisso, emsuaopinio,asmovaesparaqueaspessoaspar-cipem do grupo?; 4) Na rea de cobertura de sua equipe sorealizadasavidadesdelazer?Quaisavidadesso realizadas?; 5) Voc sente-se capacitado para atender fa-mliasdepacientescomtranstornomental?Porqu?;6) Quando na sua rea de abrangncia tem uma famlia que possui uma pessoa com transtorno mental, independente-mente de ela procurar ou no o servio, que po de aten-dimentolheoferecidopelaequipe?;7)Quandoumpa-ciente ou famlia de sua rea de abrangncia procura voc por vivenciar um problema pontual de ordem mental, qual a sua conduta?; 8) Se um paciente que faz tratamento h muitosanos,porproblemasmentais,nomomentoest recebendotratamentonodomiclio,aorealizarvisitado-miciliar a essa famlia, qual seria sua maior preocupao? Porqu?;9)Comoacomunicaoentreoserviode atendimentosadementaleoProgramadeSadeda Famlia referente ao paciente que faz parte de sua regio deabrangncia?Hrefernciaecontrarreferncia?;10) Como voc avalia sua atuao junto a pessoas com trans-torno mental e seus familiares?Asentrevistasforampreviamenteagendadas,realiza-dasemsalareservadanaprpriaUBSecomoconsen-mentodoparcipante;foramgravadaseposteriormente transcritas na ntegra. Os dados coletados foram subme-dos ao processo de anlise de contedo(9). Essa tcnica tra-balha as palavras e suas signicaes, ou seja, uma busca deoutrasrealidadesatravsdamensagem,usandoum mecanismo de deduo com base nos indicadores constru-dos a parr de uma amostra de mensagens parculares(9).Aanlisedecontedoabrangetrsfases: 1) pr-anlise; 2) explorao do material; e 3) tratamen-toeinterpretaodosresultadosobtidos.Essaltima parte um tanto complexa, pois necessrio obter dos dados a subjetividade necessria para a interpretao e inferncia exigidas pela anlise desse tipo de estudo(9). Osdadosdodiriodecampoauxiliaramnaanlisee discusso dos resultados.Delimitado o corpus do estudo, realizou-se o procedi-mentodeanlise,emqueforamgeradasquatrocatego-rias temcas: O signicado de sade e transtorno mental paraosAgentesComunitriosdeSade;Atendimento famlia:umarealidadeemconstruo;OAgenteComu-nitriodeSadeeasaesdesademental;Entraves assistnciaemsademental.Aidencaodosnomes dos sujeitos da pesquisa se deu pelo uso de pseudnimos, demodoagaranrseuanonimato.Foramlevadosem considerao todos os preceitos cos exigidos para esse po de pesquisa e foi aprovado pelo Comit de ca em Pesquisa da Universidade Estadual de Maring (Parecer n 110/2007). Os parcipantes foram orientados quanto aos objevos e procedimentos a serem realizados e ao carter voluntriodaparcipao,eassinaramoTermodeCon-senmento Livre e Esclarecido.RESULTADOSOs45AgentesComunitriosdeSadeparcipantes do estudo so trabalhadores pertencentes s 21 unidades bsicas distribudas no territrio do municpio e possuem as seguintes caracterscas: 84,4% pertencem ao sexo fe-minino;estodentrodasfaixasetriasde40a49anos (40%), de 20 a 29 anos (28,8%), de 30 a 39 anos (17,7%), de 50 a 59 e de 60 a 69 anos (ambas 6,6%). O tempo de exerccio da prosso foi de um a cinco anos (48,8%), de seis a dez anos (40%), menor que um ano (6,6%) e maior que dez anos (4,4%); j o tempo de servio em Unidades Bsicas de Sade foi de um a cinco anos (62,2%), de seis a dez anos (33,3%) e menor que um ano (4,4%). Em rela-o ao nvel de escolaridade, 70% nham o Ensino Mdio completo, 22,1% o Ensino Mdio incompleto e 6,6% o En-sino Superior completo.O signicado de sade e transtorno mental para os Agentes Comunitrios de SadePercebemos quo dicil abordar o tema sade-trans-torno mental com os Agentes Comunitrios de Sade. Ao iniciarmosapesquisaeexplicarmosseusobjevoseos procedimentos a serem realizados, alguns demonstraram diculdades em compreender o tema:Tudo vai ter mental? (Tulipa).Sade mental? A difcil...(Lisianto).NenhumdosAgentesComunitriosdeSadedisn-guia sade de transtorno mental, tratando-os como sin-nimos. Observamos que alguns no nham conhecimento sucienteparadiferenciartranstornomentaldeproble-masneurolgicos.Nosrelatospossvelperceberadi-culdade em disnguir essa diferena:1173Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/...umserquetemalgumadecincia,algumacoisaa menos;quejnascecomalgumproblema,alevaater um problema mental (Begnia)....umapessoaquetemproblemasrelacionadosaos seus neurnios (Violeta)....Todoselestmumadecincia,nosabemlernem escrever... fao uma tabelinha parte para o controle da medicao (Cravo).Eu acho assim que uma pessoa que (...) tem medo de sair de casa, tem medo de andar na rua, tem uns que tm medo de car sozinho; eu acho que isso um transtorno (Begnia).Nos relatos tambm foi possvel detectar o senmento demedodealgunsentrevistadosemrelaospessoas com transtorno mental, por consider-las agressivas e por elas poderem se mostrar mais agitadas....svezes,quandovocseencontracomumpaciente que voc sabe que ele toma medicao, que ele tem pro-blemas, assim, s vezes ele comea a se alterar, queren-do ou no voc ca com medo (Violeta)....temalgunspacientesquechegamgritandoeavoc nopode,derepentevocvaifalaralgumacoisaeat apanha. Mas tem paciente que mais... que d mais pra conversar (Tulipa)....eles so alterados. Vai saber se o dia que eu vou l ele vai estar bem ou no...! (Jasmim).Atendimento famlia: uma realidade em construoAlguns Agentes Comunitrios de Sade tm receio de seinserirnadinmicafamiliar,masreconhecemosofri-mentopsquicopeloqualosfamiliarespassamesabem queenvolv-losnocuidadocomosujeitoavoauxiliar na insero das pessoas com transtornos mentais no con-vvio com a sociedade....Ah, eu tento me aproximar da famlia e ir conversando... assim... criando o vnculo com a famlia pra ver se eu con-sigo resolver o problema dela (Orqudea)....no s tambm medicao, tem que ver no geral. No s especicamente daquele problema que voc vai, acha quesisso;temqueverquetemasuabasefamiliar (Violeta).No obstante, idencamos que alguns acreditam no ser necessria a assistncia famlia e buscam no inter-ferir na dinmica de seus membros.Eu procuro, assim, como agente de sade, no me intro-meter entre os familiares (Rosa).Ah, eu acho que a gente tem que tentar no entrar muito nessaparteadaintimidadefamiliar.Eunopossocar dando opinio... e se tiver um conito no momento que eu t ali eu vou tentar, assim... no participar do conito. ... eu prero car meio de fora (Tulipa).O Agente Comunitrio de Sade e as aes em sade mentalPercebemos que os entrevistados tm conscincia da suaimportnciajuntocomunidadeatendidaporsua equipe e reconhecem seu papel de facilitar a relao en-tre a comunidade e sua unidade de sade....geralmente a primeira pessoa com quem eles vo conver-sar a gente. Ns somos a porta de entrada (...) quando eu vou formar como que um elo da ligao (Margarida).Ns vamos na casa e conversamos com ele, a gente le-vanta tudo... tudo o ACS (Jasmim).Quando quesonados em relao ao pblico-alvo das aes de sade nas quais se tem a oportunidade de tam-bmtrabalharsademental,notamosqueessasaes estorestritasaosdenominadosgruposderisco,englo-bando adolescentes, gestantes, idosos, hipertensos e dia-bcos,comopodemosobservarnadescriodasaes desenvolvidas na UBS:Grupodehipertenso,grupodegestante,grupodeca-minhada,deadolescente(...)idoso,maisidoso,mas tambm tem o grupo de adolescente, mais jovens, n? Assim na faixa entre 14 e 16 anos (Tulipa).Percebemosqueaindanoestclaroopapeldaas-sistncia em sade mental no trabalho do Agente Comu-nitrio de Sade, pois a grande preocupao deste ainda soosgruposconsideradosderiscoparaasade,como preconiza o Ministrio da Sade.O que tem a caminhada e mais pro adulto, pra terceira idade...muitosdelesmoramsozinhos...umamaneira de socializar, de ter um vnculo maior de amizade, no -car s em casa, pensando at s vezes besteira, e nesse grupo ele tem essa possibilidade (Violeta).Outra avidade descrita pelos Agentes Comunitrios Sadecomocapazdeestabelecerumrelacionamento terapuco foi a visita domiciliria (VD), que se constui num instrumento facilitador na abordagem dos usurios e sua famlia. atravs do tempo de convivncia com aquela pessoa, do vnculo que voc tem com o domiclio. Todo ms, uma vez por ms, eu passo no domiclio; ento d para per-ceberquandoapessoanoestbemequandoest. Ento, atravs do vnculo que o PSF tem com a visita domiciliar (Girassol).Asvisitasqueagentefaz,agenteorienta,conversa, fazacompanhamentodamedicao;quandoagente encaminhaprapsicloga,otratamentocomapsic-loga (Orqudea).Na visita normalmente vai primeiro o ACS... ns vamos na casa e conversamos com ele (Jasmim).Osentrevistadoscompreendemaimportnciadeum trabalho muldisciplinar na ateno sade em que todos 1174Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M tenhamcomoobjevocomumconseguirobem-estarda famlia e da pessoa com transtorno mental por meio de um trabalho arculado que fornea um atendimento integral.Entoagentetemqueestarpassando,orientandoafa-mliacomomdicooucomaenfermeiraquevaiestar olhando; se for necessrio, encaminha eles para o... psi-quiatra. Agentetemapsiclogaquesvezesdapoio pra gente (Dlia).Entraves na assistncia sade mentalOs prossionais dizem que, em decorrncia da alta de-manda do servio, no tm tempo para se dedicar a avi-dades de sade mental.Podia at ser melhor, mas a gente no tem perna pra ser, n? No d pra fazer tudo ao mesmo tempo (Jasmim).H tambm a falha do prossional em no incluir em sua prca aes de cuidado psquico, por considerar ou-tros atendimentos como de maior relevncia:Assim, poderia fazer at mais; s vezes por falta de tempo, de estar indo l mais vezes. s vezes at por falta da prio-ridade (...) que s vezes a gente d prioridade pra criana, pragestante,praidoso,n,edeixaoutrosproblemasto srios e s vezes at importantes tambm (Violeta).Outrositenscitadospelosentrevistadosforamade-moranosserviosderefernciaecontrarrefernciaea falta de prossionais:A contrarreferncia demora um pouquinho e a la de es-pera da psiquiatria demorada tambm (Begnia).Anossaatuaoboa.Deveriasermelhorsetivesse maismdicos.Porquesvezesvocprecisaajudarum paciente e ca na la de espera... Porque voc v o pro-blema, sabe que a famlia est passando por diculdades, mas voc ca de mos amarradas tambm; voc no po-defazernada,porquenodependedevoc. Agente apenas uma sementinha... (Girassol).Outrodadorelevantequemuitosprossionaisno sesentemcapacitadosparaatenderaspessoascom transtornos mentais por falta de cursos e treinamentos:A gente teve ano passado um curso de quatro horas so-bre sade mental. Mas tambm no foi muito aproveitado, no,porquesfoideteorias,teoriaseteorias...nahora da prtica difcil (Girassol).Ah, eu acho assim, a gente no tem muito treinamento es-pecco pra isso; assim, pra lidar com esse tipo de proble-ma (...) a gente no tem a capacitao em sade mental como tem para outras reas (Violeta).Umadasentrevistadas,aoserquesonadasobreseu preparo para atender as questes relavas sade mental, relatouquenhasidocontratadahaviaapenasummse ainda se encontrava em perodo de treinamento, o que jus-cava seu despreparo para atuar na rea: Ainda no, mas eutrecebendopreparo.Acadadiaagenteestsendo preparada pra estar atendendo (Orqudea).DISCUSSOHistoricamente,aspessoascomtranstornomental quenoseenquadrassemnospadresdenormalidade presentesemcadacontextohistricoeramvmasde preconceitoeesgmazaoporpartedosindivduos considerados normais. Nas lmas dcadas, movimentos elutaspeladesinstucionalizaodapsiquiatriabusca-ramreinseriressaspessoasnoconvviofamiliaresocial. Mas,nofoirealizadoumtrabalhoparadesmiscaros conceitos preexistentes, de forma que os muros hospita-laresforamdesconstrudos,masosconceitosaindaper-manecem enraizados no imaginrio da populao(6), o que acaba gerando os esterepos idencados na pesquisa.Foi possvel perceber ao longo do estudo uma viso dis-torcida da realidade e confuso entre decincia mental e transtorno mental. Os temas que emergiram descrevem a pessoacomtranstornomentalcomoumserdependente, incapaz, agressivo, perigoso e desprovido de autonomia pa-ragerirsuaprpriavidaetomardecises.Sabemosque, medianteumtratamentomedicamentosoadequadoe connuo, a depender da gravidade da doena e do suporte oferecido por redes de servios extra-hospitalares estrutu-radas adequadamente, esses pacientes podem viver em so-ciedade e exercer plenamente sua cidadania.Percebe-sequeaesgmazaoquerecaiusobreas pessoas com transtornos mentais contou com a conivn-ciaeatmesmocomoapoiodeprossionaisdesade. Essefatopodeserobservadonadicotomizaodoser humano,cujoatendimento,quedeveriasertrabalhode todos os prossionais de sade, sem disno de rea de atuao, feito de forma fragmentada em diferentes re-as do conhecimento, e tambm na diviso pragmca dos servios de assistncia hospitalar(10-11).Essapercepodapessoacomtranstornomental comoumapessoaagressivagerareceionaabordagem, interferindodiretamentenocuidadoaserprestado.De nossaparte,acreditamosqueessaconcepodepericu-losidadepodeestarembasadaemduasvertentes:1-o paradigmaanterior,quepreconizavaoisolamentoea consideravaviolentaesemcondiesdeviveremsocie-dade; 2 - o fato de que os Agentes Comunitrios de Sade, por pertencerem a uma categoria prossional carente de formaotcnicaparatrabalharcomessatemca,aca-bam ulizando o imaginrio do senso comum de que toda pessoa com transtorno mental perigosa.Emrelaoaoatendimentofamlia,sabe-sequeo convvio com a pessoa com transtorno mental impe aos seusfamiliaresavivnciadesenmentoseemoesdi-ceisdeelaborareentender.Issoevidenciaagrande necessidadedeintervenesquelevememcontaoso-1175Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/frimento das famlias(6). A luta pela desinstucionalizao implica a ampliao do foco do cuidado, pois essas fam-lias apresentam dvidas e diculdades no convvio com a pessoacomtranstornomental,oquefragilizasuasrela-es e vnculos, prejudicando a reinsero e manuteno desse paciente na comunidade.Outro dado importante do estudo revela que os entre-vistados no tm entendimento da necessidade de inter-veno nas relaes familiares. Seus membros podem es-tar em conito pela falta de prossionais que os ensinem alidarcomapessoacomtranstornomental,poistodos da famlia tambm necessitam de cuidado pela sobrecar-ga que o cuidado a seu familiar pode gerar. Estudos rela-tam(12-13) que o enfrentamento do transtorno traz consigo mudanas na rona do paciente e famlia, implicando em algumaslimitaessavidadeshabituais;noentanto, esse indivduo deve ser valorizado e esmulado a exercer suas potencialidades e sua autonomia.Trabalharcomafamlianoparadigmadadesinstu-cionalizaosignicarompercompreconceitosecon-cepes,bemcomoformularpensamentospautadosna parceria e no cuidado famlia(13); porm, os prossionais da ESF no esto familiarizados com o universo da sade mental e com sua lgica e linguagem, o que no lhes per-mite levar em conta a idiossincrasia dos problemas histori-camente vividos pelas pessoas com transtorno mental(10).A no assistncia referida mostra que no h falta de interessee,sim,decompreensosobreaimportncia deafamliaparcipareintegrar-senocuidado,oque denota a necessidade de educao connua desses pro-ssionais, pois o cuidado em sade mental envolve a re-formulao de conceitos e pensamentos que geralmente segregavam e excluam a pessoa com transtorno mental e sua famlia(13).Com os avanos obdos nesse novo modelo, a integra-odafamlianoprojetoterapucodosusuriosainda constui um desao, pois, na prca, ela no se fez acom-panhardainfraestruturanecessriasuasuperaoe consecuodosobjevosreabilitadorespropostospela reforma psiquitrica(14).Em relao ao cuidado oferecido pessoa com trans-tornomentalnaatenobsica,umestudoconstatou(15) queosAgentesComunitriosdeSadesoosprossio-naisdaESFquetmumaposturamaiscordial,afevae compreensiva,oquefacilitaarelao,aconstruode vnculoeoestabelecimentodeumacomunicaointer-pessoal efeva com esses pacientes. Os saberes e prcas dosAgentesComunitriosdeSadeatuamcomocampo dassntesesentreosaberciencoeosaberpopular, possibilitando a construo de importantes estratgias de ateno sade mental(16).Noquedizrespeitosavidadesdesademental realizadas,encontramosnombitodaprevenoepro-moosademental,poucasaesespeccascomo gruposdeapoioapessoacomtranstornomentaleseus familiares e ocinas de trabalho. Essas aes devem trans-poracentralizaodasaesnomodelobiomdicoda doena,oquepossvelmedianteumaabordagemque arculetratamento,reabilitaopsicossocial,clnicaam-pliada e projetos terapucos individualizados(12).Outraavidadecitadafoiavisitadomiciliria,que surgecomoumimportanterecurso,poistornapossvel entenderadinmicafamiliarevericaraspossibilidades deenvolvimentodafamlianotratamentooferecidoao usurio(17).PormeiodasvisitasdomiciliriasosAgentes Comunitrios de Sade interagem com o usurio em seu ambientefamiliareorientamafamlia,oquecontribui paraqueambospossamconquistarcondiesdeviver, trabalhar e produzir, convivendo com o transtorno mental de forma mais posiva(5).OsAgentesComunitriosdeSadecomparlharemo mesmo contexto social, cultural e lingusco da comunidade atendida pela UBS foi visto como algo que facilita a iden-caodefatoresresponsveisouintervenientesnoadoeci-mento das pessoas do bairro(17). Ademais, por meio da busca pelo conhecimento e da implementao de experincias ou-sadas e inovadoras para cuidar de famlias, os prossionais, gradavamente, tm avanado no processo de desinstucio-nalizao da pessoa com transtorno mental.Noobstante,paraquehajamudanarealnaforma decuidardafamlia,necessriaauniodeinteresses, isto , um trabalho integrado entre as pessoas com trans-tornos mentais e suas famlias, a comunidade e os pros-sionais da rea(18).No decorrer do estudo foi possvel perceber alguns en-travesnaassistnciaspessoascomtranstornosmentais, sendo mencionada a alta demanda pelo servio, cuja con-sequnciaafaltadetempoparasededicaraavidades de sade mental. A organizao do trabalho dos agentes, os quaisdispensamgrandepartedotempoaombitoburo-crco do servio, ao preenchimento de documentos e s vezes at ao desvio de funo, diculta a assistncia integral s famlias, incluindo-se nesse contexto a sade mental.Umdadovisvelodesvaloratribudosademen-tal quando no relato de um Agente Comunitrio de Sade mencionadoqueoproblemapodeseratimportante tambmouseja,problemasnovisveis,ouqueno estejam nos programas instucionalizados, no tm prio-ridade.NessafalaoAgenteComunitriodeSadedeixa clara sua ideia de que a doena mental, por no servis-vel,constatvelporexameslaboratoriais,podesvezes no ser considerada doena e por isso no est na lista de gravidade/prioridade.Outro obstculo citado diz respeito organizao dos servios substuvos ao hospital psiquitrico, pois a orga-nizao desses servios de sade no se mostra sucien-temente ecaz. A fragilidade do sistema de referncia da rede de sade constui um dos ns crcos para a con-1176Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M gurao dos disposivos de ateno diria como estrat-gias de cuidado substuvas ao disposivo hospitalar(19).Percebe-se que a espera por atendimento resultante da baixadisponibilidadederecursoshumanos,oquesemos-traumentraveparaaassistncia.AdespeitodeaPolca deSadeMentalesmularprcaspautadasnoterritrio earculadasemumaredeampliadadeserviosdesade, existe ainda uma lacuna grande entre o que essas diretrizes propem e o que se observa na realidade concreta(10).Outrodadorelevantequemuitosprossionaisno sesentemcapacitadosparaatenderaspessoascom transtornos mentais, o que pode ser explicado pela forma comquetrabalhadaaeducaoemsadenoscursos decapacitao,queabordamasadementalapenasde forma terica, no dando subsdios para a atuao prca dosprossionais.Asavidadesdeeducaopermanen-te devem enfazar, alm de questes conceituais, formas prcas de interveno(20).Um dos movos que podem explicar a falta de capaci-tao a rotavidade de prossionais na ESF. Percebemos queoprossionaliniciasuaprcasemestarprepara-do, o que mostra haver um perodo de atendimento sem instruo na rea, at que ele receba essa capacitao. importantequeoAgenteComunitriodeSadereceba orientaes para lidar com a pessoa com transtorno men-tal antes de iniciar suas avidades, uma vez que a incidn-cia desses transtornos tem apresentado um considervel aumento nas lmas dcadas. Ademais, necessrio tra-balharapromooeprevenoemSadeMental,para queoAgenteComunitriodeSadetenhaomnimode conhecimentonarea,inclusiveparasaberquesade diferente de doena mental.Osdadosencontradossocorroboradosporumes-tudo(21)querelataagrandecarnciadeinformaoede capacitaoparaoenfrentamentodascomplexassitua-es presentes no codiano de trabalho do Agente Comu-nitriodeSade.Essesdadosmostraramque,poratuar nessa diversidade, o Agente Comunitrio de Sade ainda temcarnciadetreinamentoespecco,queprecisaser dinmico e pautado na realidade vivenciada por cada co-munidade,possibilitandooenfrentamentodeconitos presentes no exerccio da assistncia desses prossionais.Nesse contexto, as capacitaes e treinamentos cons-tuemalternavasparaquetodososatoresenvolvidos nesseprocessodecuidadosejambeneciados,tantoa pessoa,queassimrecebeumtratamentoadequado,co-mo o prossional, que passa a adquirir a qualicao ne-cessriaparaabordaressespacientesdesdeoprincpio de sua prca na comunidade.CONCLUSOOs Agentes Comunitrios de Sade entrevistados tm umapercepodepericulosidadequepodegerarreceio na abordagem e levar ao preconceito e ao esgma. Inferi-mos que isso pode acontecer pelo fato de esses prossio-nais pertencerem a uma categoria prossional carente de formao tcnica geral e principalmente na rea de sade mental, o que os leva a usar o senso comum para embasar suas concepes.Essavisodistorcidadotranstornomentaledeseus portadores de certa forma interfere na assistncia ofere-cida, mas, apesar disso, os resultados revelam que a aten-o em sade mental oferecida pelos Agentes Comunit-rios de Sade um importante instrumento na estratgia dedesinstucionalizao,especialmenteasvisitasdomi-ciliares, pois a parr delas se formam vnculos e se torna possvel conhecer a realidade na qual a famlia est inse-rida, podendo esses agentes, juntamente com o restante da equipe, elaborar uma assistncia de melhor qualidade.A ateno bsica, principalmente por meio da Estrat-gia Sade da Famlia, congura-se como um instrumento fundamental para a reinsero da pessoa com transtorno mental na sociedade; porm, o que se mostra um desao aarculaodeumarededesuportequalicadaeca-pacitada para atender a pessoa com transtorno mental e seus familiares, alm de servios que sirvam de retaguar-daparaotrabalhodessesprossionais,elementosque permiro, quando necessrio, um bom encaminhamen-to e a contrarreferncia adequada.Umfatoquenoschamouaatenofoiqueamaio-riadosparcipantesdoestudonoentendequesua funointervirnasrelaesfamiliares.Sabe-sequecon-itos podem levar a alteraes na sade mental em fam-liassaudveisequeaconvivnciacomumapessoacom transtorno mental pode gerar alteraes nas relaes fa-miliares; por isso, o prossional que est mais prximo da famlia, no caso o Agente Comunitrio de Sade, precisa, sim, pracar essa interveno, mas ao faz-lo precisa ter a necessria sensibilidade.precisoqueessesprossionaistenhamopreparo adequadoparaabordareatenderessademanda,por meiodeprogramasdecapacitaoqueoslevemaseli-bertar de esgmas e preconceitos, para que possam con-tribuir de forma efeva para a reabilitao social e familiar dapessoaportadoradetranstornomental,resgatando suadignidadeeseudireitodecidadania,jquesoeles que mantm maior contato com a famlia e servem como elo entre ela e a equipe.Fato importante que esse prossional est sob a su-perviso do enfermeiro, e nesse sendo necessrio pro-por estratgias que minimizem os problemas encontrados naassistnciaequeassimsejapossvelprepararpros-sionaisparaatuarnasademental,temaemergentena Estratgia Sade da Famlia aps a desinstucionalizao.EsteestudopermiucompreenderqueoAgenteCo-munitriodeSade,pelaposioemqueseencontra, pode,deacordocomsuascompetncias,facilitaracon-1177Percepes e atuao do Agente Comunitrio de Sade em sade mentalWaidman MAP, Costa B, Paiano M Rev Esc Enferm USP2012; 46(5):1170-1177www.ee.usp.br/reeusp/crezao da assistncia sade integral preconizada pe-loSUSeassimtornar-seumimportanteauxiliarname-diao entre o servio de sade e seus usurios. Para isso so necessrias estratgias que trabalhem os signicados imaginriospresentesnacompreensodesademental desses prossionais, de modo a capacit-los para um cui-dadodesprovidodepreconceitos.Aodesmiscaresses conceitossegregantes,contribui-se,naprca,parame-lhorar a assistncia em sade mental e lutar pela valoriza-o das pessoas com transtorno mental. REFERNCIAS1.Tahan J, Carvalho ACD. Reexes de idosos parcipantes de grupos de promoo de sade acerca do envelhecimento e da qualidade de vida. Sade Soc. 2010;19(4):878-88.2.EscorelS,GiovanellL,MendonaMHM,SennaMCM.O ProgramadeSadedaFamliaeaconstruodeumnovo modeloparaaatenobsicanoBrasil.RevPanamSalud Publica. 2007;21(2):164-76.3.Brasil. Ministrio da Sade. Guia prco do Programa Sade da Famlia. Braslia; 2001.4.SuiyamaRCB,RolimMA,ColveroLA.Serviosresidenciais terapucosemsademental:umapropostaquebusca resgatarasubjevidadedosseussujeitos?SadeSoc 2007;16(3):102-10.5.SouzaAJF,MaasGN,GomesKFA,ParenteACM.Asade mental no Programa de Sade da Famlia. 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