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PEREGRINAÇÃO DE FERNÃO MENDES PINTO ENCENAÇÃO E INTERPRETAÇÃO MARCELO LAFONTANA

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Page 1: PEREGRINAÇÃO¡vel Peregrinação.pdfFernão em terras do sol-nascente! Ele foi comerciante, corsário, sob o comando do pirata António de Faria, embaixador, companheiro de reis

PEREGRINAÇÃOdE

FERNÃO MENdEs PINtO ENcENAÇÃO E INtERPREtAÇÃO

MARcElO lAFONtANA

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Câmara Municipal do PortoPolícia de Segurança PúblicaMr. Piano/Pianos – Rui Macedo

A Lafontana – Formas Animadas é uma estrutura financiada por

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Elisa FerrazLeonor MacedoCristina PeresSusana RodriguesMário Micaelo Amauri AlvesAndré ReisPaulo Costa Pinto

lafontana – formas AnimadasCentro Municipal da JuventudeAv. Júlio Graça, 5804480-672 Vila do [email protected]

Teatro Nacional são JoãoPraça da Batalha4000-102 PortoT 22 340 19 00

Teatro carlos AlbertoRua das Oliveiras, 434050-449 PortoT 22 340 19 00

mosteiro de são Bento da vitóriaRua de São Bento da Vitória4050-543 PortoT 22 340 19 00

[email protected]

edição

departamento de edições do TNsJcoordenação João luís pereiradesign gráfico Joana monteiromapa luís félixilustrações rebeca das Nevesimpressão multitema

Não é permitido filmar, gravar ou fotografar durante o espetáculo. O uso de telemóveis ou relógios com sinal sonoro é incómodo, tanto para os intérpretes como para os espectadores.

Fernão Mendes Pinto, o velhoFernão Mendes Pinto, o jovemFernão Mendes Pinto adultoTio de Fernão Mendes PintoD. FidalgoDama Pombinha, esposa de D. FidalgoCapitão da nau roubada por Coja AcémDois marinheiros portugueses (sempre os mesmos)Coja Acém, o pirataMarinheiros piratas (os mesmos em todas as cenas em que aparecem marinheiros)Dois indianos, carcereiros da prisãoPrisioneiro MadureiraPrisioneiro FonsecaJoseph, o leiloeiroPessoas no mercado de escravosAntónio Faria, o corsário portuguêsTubarões que devoram Coja AcémMonge japonês do Templo DouradoMarinheiros que roubam o TemploGaivota que afunda o barcoTradutor oficial do Imperador do JapãoImperador do JapãoFilho do Imperador do JapãoMissionários jesuítas

Personagens (por ordem de aparição)

A Peregrinação tecnológica MARCELO LAFONTANA

Abissínia, Arábia, Malaca, Samatra, Java, Pegu, Sião, China e JapãoA Peregrinação de Fernão Mendes Pinto JOSÉ COUTINHAS

ESTREIA

PEREGRINAÇÃO

dramaturgia José coutinhascenografia sílvia fagundesdireção musical eduardo patriarcadesenho de luz pedro cardosodesenho de cenários e personagens luís félix, rebeca das Nevesdireção de fotografia Jpedro martinssistema e conteúdos multimédia luís grifuassistência de encenação rita Nova

interpretação marcelo lafontanavozes off Bernardo Travessas, frederica ferreira, João miguel ferreira, Nuno sousa

direção técnica pedro cardosoconstrução de cenografia, marionetas e adereços Américo cardoso, Andreia coelho, André ribeira, mário magalhães silva, miguel cardoso, raquel coelhoequipa de gravação de imagens exteriores maria da guia carmo, Joana martins, rita martinscostureira glória silvaassistentes estagiários (Curso de Animação) Jaime frasco, fátima pereiragravação de áudio rádio linear de vila do condeprodução executiva marcelo redondo

coprodução lafontana – formas Animadas, TNsJespetáculo coproduzido no âmbito da rede 5 sentidos

dur. aprox. 1:10m/6 anos

mosteiro de são Bento da vitóriasala do Tribunal10-23 maio 2014*seg+ter 15:00 qua-sex 15:00+21:30 sáb (dia 10) 21:30 sáb (dia 17) 16:00* O espetáculo não se realiza nos dias 14 e 19.

ESPETáCULO BASEAdO NO LIVRO HOMóNIMO dE ferNão meNdes piNTo

ENCENAçãO mArcelo lAfoNTANA

O espetáculo Peregrinação dá continuidade ao projeto artístico da nossa companhia, que assenta no reconhecimento e exploração das técnicas tradicionais do Teatro de Formas Animadas, na compreensão da sua natureza essencial e – em especial – na procura dos caminhos para a sua evolução. Neste sentido, temos procurado aliar aos princípios ancestrais desta arte elementos contemporâneos e recursos atualmente disponíveis, de forma a contribuir para aumentar a eficácia dos sistemas originais.Ao longo de cada processo de criação surgem muitas incertezas. Para além de dúvidas emergentes na dramaturgia ou encenação de cada trabalho, estão também os problemas técnicos e pragmáticos, enredos do saber fazer. No Teatro de Formas Animadas, à mistura com a diversidade de materiais e ferramentas de manipulação, acabamos por criar uma relação especial, de amor e ódio, com as matérias de que são feitas as nossas personagens, as tecnologias de transformação, os desafios mecânicos. Nos tempos que correm, também nós, marionetistas, tivemos que aprender a lidar com outro desafio de aprendizagem: uma legião de computadores, soft e hardwares, interfaces, gigabytes, megapixéis e um mega-mundo novo de nomenclaturas estranhas e ferramentas virtuais. A multimédia chegou para ficar, aliando-se aos parâmetros anteriormente estabelecidos e ditando uma reapreciação das bases do nosso ofício. Então, mais do que nunca, foi-nos preciso conciliar passado e presente, tradição e contem-poraneidade. Evidentemente, sob este ponto de vista técnico, o espetáculo atual pode levantar

Em Montemor-o-Velho nasceu, no início do século dezasseis, um menino que viria a ser um dos mais fabulosos heróis ou, melhor dizendo, um dos maiores, senão o maior anti-herói português de todos os tempos: Fernão Mendes Pinto. Quando veio ao mundo, por volta de 1510, reinava em Portugal D. Manuel I, o Venturoso monarca dos Descobrimentos. Fernão, ele, nasceu predestinado para uma vida sem horizontes, sem venturas: “Passei a vida até à idade de dez ou doze anos na miséria e estreiteza da pobre casa de meu pai”. A existência do nosso homem iria, porém, dar uma volta decisiva, não sem grandes ameaças e sustos terríveis: “Um tio meu, parece que desejoso de me encaminhar para milhor fortuna, me trouxe à cidade de Lisboa e me pôs ao serviço de ũa senhora de geração assaz nobre e de parentes assaz ilustres, parecendo-lhe que pela valia assi dela como deles poderia haver efeito o que ele pretendia para mim”. Tudo isto duraria no entanto muito pouco tempo e acabaria de forma assaz estranha, como conta o próprio Fernão Mendes Pinto: “A tenção deste meu tio não teve o sucesso que ele imaginava, antes o teve muito diferente, porque, havendo ano e meio, pouco mais ou menos, que eu estava ao serviço desta senhora, me sucedeu um caso que me pôs a vida em tanto risco, que, para a poder salvar, me foi forçado sair-me naquela mesma hora de casa, fugindo tão desatinado, c’o grande medo que levava, que não sabia por onde ia, como quem vira a morte diante dos olhos, e a dado passo cuidava que a tinha comigo, fui ter

desenhos bidimensionais, que depois de recortados, montados e sobrepostos em cena criam um belo e eficaz efeito de ilusão, tanto na perceção dos espaços como na interação das personagens ou no próprio desenvolvimento da ação narrativa. No caso atual, tentámos avançar um pouco mais além, integrando nesta linguagem secular a utilização dos modelos Toy Papers, objetos igualmente construídos em papel, mas de uma forma mais estrutural, como se de uma maqueta se tratasse. Este recurso possibilitou-nos explorar o espaço cénico de forma mais abrangente, num ambiente verdadeiramente tridimensional. Do ponto de vista da linha cénica adotada na elaboração deste espetáculo, tínhamos como preocupação criar soluções técnicas eficazes e um vocabulário alternativo para a comunicação teatral com as formas animadas. A proposta foi aproximar os modos de operação do teatro e do cinema, integrando em palco estas duas linguagens da animação, só que de uma forma coesa e indissociável. Num palco transformado em estúdio de cinema, cenários e personagens desenhados e recortados em cartão são manipulados perante o olhar de diversas câmaras de vídeo. As imagens são recolhidas por um sistema informático que promove o seu tratamento, montagem, mistura, sonorização e inserção de efeitos especiais, tudo em tempo real. O resultado final é projetado numa tela, janela tecnológica que se abre aos sortilégios de uma viagem que se faz viajando, com a imaginação à solta. Foi o computador, este recurso tão poderoso, que abriu as portas para esta integração, trazendo consigo possibilidades inusitadas ao nosso teatro de papel. Além disso, a

ao Cais da Pedra, onde achei ũa caravela d’Alfama…”Assim começa, a bordo de uma caravela, a incrível aventura contada pelo nosso anti- -herói no livro que dedicou aos filhos “para eles aprenderem a ler por meus trabalhos”, livro que só foi publicado em 1614, trinta e um anos após a morte do seu autor.A caravela na qual embarcara Fernão, em Lisboa, ao invés do que pensara o fugitivo, não ia para a Índia. O seu destino era Setúbal. Por alturas de Sesimbra, um corsário francês aprisionou o barco. Os portugueses foram açoitados e abandonados, nus, na praia alentejana de Melides. Refeito das agressões, Fernão caminhou então de lá até Setúbal, onde um fidalgo do Mestre de Santiago o tomou ao seu serviço e para o qual trabalhou quatro anos. Depois, mudou-se para casa do próprio Mestre de Santiago e lá serviu um ano e meio, sonhando sempre com o eldorado distante, seguro, como estava, que iria enfim achar a almejada fortuna. No dia 11 de março de 1537, Fernão embarca finalmente numa caravela que o leva à Índia. Começava assim a sua fantástica aventura que o faria percorrer terras e mares do levante longínquo: Abissínia, Arábia, Malaca, Samatra, Java, Pegu, Sião, China e Japão. Em 1553, Fernão resolve regressar a Lisboa. Queria voltar a Montemor para casar na terra que o vira nascer e ali constituir família e levar uma existência tranquila e desafogada: “E com esta determinação cheguei a Goa, esperando as naus do reino para partir-me logo, parecendo-me que minha glória e

assumir que na relação com o público o nosso teatro alimenta as mesmas impressões, sensações e relações que marcam o universo cénico tradicional das marionetas. A nossa peça cumpriu com os seus objetivos, e em múltiplas vertentes: como objeto de comunicação artística, de investigação profissional, tábua integradora de saberes, base experimental e, se o público agora o confirmar, também como um eficaz espetáculo de Teatro de Formas Animadas.

felicidade estava em entrar em minha terra com nove ou dez mil cruzados. E que, como um homem não roubasse um cálix ou a custódia da igreja ou fosse mouro, que por nenhũa outra via podia temer o Inferno e que abastava ser cristão e que a misericórdia de Deus era grande”. Fernão parece estar a pressentir as dificuldades que iria encontrar após a sua chegada a Portugal e, ainda lá longe, vai preparando já a sua defesa.Mas que fabulosa odisseia a vida de Fernão em terras do sol-nascente! Ele foi comerciante, corsário, sob o comando do pirata António de Faria, embaixador, companheiro de reis e infiéis, amigo dos padres Francisco Xavier e Belchior. Foram aliás estas duas amizades que o levaram a converter-se à Companhia de Jesus, do que viria mais tarde a arrepender-se. Desiludido, numa carta escrita de Malaca, em 1554, Fernão diz que vai fazer a relação da sua vida “e dos trabalhos, cativeiros, fomes, perigos e vaidades em que tanto sem razão gastara quarenta anos”.Na sua espantosa narrativa há algumas passagens – propositadamente ou não – obscuras. Por exemplo, o que lhe aconteceu na casa da nobre dama lisboeta que o empregava, o rapto da noiva no Oriente, o achado do menino dentro de um junco assaltado. São tudo histórias que o nosso anti-herói começa, mas não acaba!Como Fernão Mendes Pinto nos faz recordar outro ilustre viandante lusitano, o Padre António Vieira, que viveu um século depois do anti-herói de Montemor! Fernão encerra o relato da sua odisseia queixando-se da ingratidão da pátria. Vieira escreve: “Um tão amado reino posto que para mim tão ingrato…”O famoso livro onde o nosso aventureiro conta a sua vida errante, embora só publicado cerca de trinta anos após a morte de Fernão, foi traduzido para

castelhano no mesmo século. A Europa, depois do que revelara Marco Polo, na Idade Média, estava sedenta de notícias das ricas terras do Oriente. A versão italiana da Peregrinação não tardaria a surgir e iria inspirar outro andarilho, também veneziano, Pietro della Valle, que contou a sua aventura oriental num livro curiosamente intitulado Il Pellegrinaggio.Maria da Graça Orge Martins, referindo- -se à maneira de contar de Fernão Mendes Pinto, diz que o discurso descritivo permite “ao leitor elaborar grandes quadros mentais sobre a realidade descrita […], e ele assiste ao desfilar de imagens e cenários exóticos plenos de sensacionalismo. A expressividade cinematográfica é, aliás, uma das mais importantes qualidades da Peregrinação”. Fernão Mendes Pinto, ele próprio confessa no seu livro, capítulo V, que “não me deu muito escrevê-lo assim toscamente como eu o soube fazer, porque entendo que o melhor destas coisas é tratá-las eu da maneira que a natureza me ensinou, sem buscar circunlóquios nem palavras alheias com que apontasse a fraqueza do meu rude engenho, porque se isto fizesse me tomassem com o furto nas mãos, e se dissesse por mim o rifão ‘Donde veio a Pedro falar em galego?’”A riqueza da obra, as omissões voluntárias ou não, o enorme e precioso conteúdo de peripécias e o modo errático da narração que provém do facto de Fernão contar tudo de memória, permitiram ao encenador e ao dramaturgista uma liberdade de interpretação que vai certamente agradar ao espectador.Marcelo Lafontana concebeu uma apresentação cénica, um tanto à maneira de um filme de cinema, da fabulosa história do nosso aventureiro que correu terras e perigos, como conta o seu contemporâneo Luís de Camões, em

Os Lusíadas, a propósito dos portugueses que “em perigos e guerras esforçados mais do que permitia a força humana” chegaram ao Oriente da abundância.Camões também ele deixou a pátria, vinte anos depois de ter partido Fernão, e diz por que razão: porque teve que “fugir a quantos laços nessa terra me armavam os acontecimentos…”Fernão, como mais tarde Camões, ia atrás das riquezas que o mundo sabia, depois de Marco Polo, que só existiam no Oriente longínquo. Para lá partiu, fugindo da sua desgraçada vida na terra ingrata, para correr novas aventuras em que ao longo de vinte anos, escreve ele, “fui treze vezes cativo, e dezassete vendido nas partes da Índia, Etiópia, Arábia Feliz, China, Tartária, Macáçar, Samatra e muitas outras províncias daquele oriental arcipélago, dos confins da Ásia”. O paraíso dourado, onde, sonhava ele, iria ficar rico para sempre!… Novamente se enganava, ou, melhor dizendo, uma vez mais a vida enganava Fernão Mendes Pinto!…Com a apresentação cénica desta obra, a Lafontana – Formas Animadas de Vila do Conde dá continuidade à colaboração, iniciada em 2004, com o Teatro Nacional São João, que levou à criação de dois espetáculos em Teatro de Papel, uma das mais fascinantes técnicas do Teatro de Formas Animadas. Depois do grande êxito do Anfitrião (2004) e do Convidado de Pedra (2005), esta nova produção revisita, numa leitura muito própria, alguns dos mais curiosos episódios da aventura lusitana de Quinhentos, através da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, o livro português que, no dizer de António José Saraiva, é o mais conhecido no mundo, a seguir a Os Lusíadas.A proposta artística deste espetáculo centra-se na aproximação das linguagens do Teatro de Formas Animadas e da

cinematografia. Como ponto de partida, recorre às técnicas do Teatro de Papel, promovendo a sua evolução tecnológica e a sua relação com os recursos audiovisuais e da multimédia. O palco aparece ao público como um estúdio de cinema, com vários cenários em miniatura representativos dos espaços da narrativa e das suas personagens. Câmaras de vídeo, fixas e móveis, recolhem as imagens que depois são enviadas para um sistema informático. Um computador central recebe os vídeos, promove o seu tratamento, montagem, mistura, sonorização e inserção de efeitos especiais, tudo em tempo real. O resultado final é servido numa tela de projeção de grande formato que permite a presença de um maior número de espectadores.

dúvidas e integrar-se num debate mais alargado, sobre o cruzamento interdisciplinar ou mesmo sobre a incorporação de recursos da modernidade nas técnicas artísticas tradicionais (no caso específico deste projeto, o teatro de marionetas). A inovação tecnológica pode destruir um património tradicional? A evolução das tecnologias traz mais benefícios ou malefícios? A arte popular deve permanecer pura, inalterada? O cruzamento de linguagens artísticas descaracteriza, neste caso, a marioneta? Estas são algumas das dúvidas que estariam na origem deste debate. No entanto, a nossa experiência tem mostrado que é perfeitamente possível evoluir numa determinada técnica tradicional, melhorando princípios funcionais da forma original, potenciando o seu vocabulário expressivo com a utilização de novos materiais e tecnologias. Aliás, com este trabalho pudemos levar mais longe o ensaio das possibilidades de evolução tecnológica para as formas animadas, com uma aproximação entre uma prática tradicional e um teatro contemporâneo de cariz mais experimental, livre, ousado. Como tem sido a nossa prática usual, tomamos como ponto de partida nesta produção uma referência clássica dentro das técnicas do Teatro de Formas Animadas: o Teatro de Papel. Este não é um mundo totalmente desconhecido para a nossa equipa de trabalho, já o tínhamos visitado por duas vezes, primeiro com a peça Anfitrião e, pouco depois, com o Convidado de Pedra, também coproduções com o Teatro Nacional São João. Neste tipo de teatro, todos os cenários, marionetas e adereços são construídos e animados a partir de

plataforma tecnológica da Peregrinação veio a revelar-se uma preciosa ferramenta de trabalho para o controlo integrado dos sistemas multimédia (som, vídeo e luz, e maquinaria), oferecendo novas valências e simplificando exponencialmente os procedimentos anteriores de montagem e operação técnica do espetáculo.No desenvolvimento deste projeto, subsistiu um diálogo permanente entre diferentes linguagens e disciplinas, não só artísticas como também científicas. Esta colaboração deu frutos muito interessantes, contribuindo decisivamente para o enriquecimento do espetáculo e de todos os seus cúmplices. Tornou-se evidente a necessidade de reavaliar os pressupostos técnicos e estéticos naquilo que realizamos, aprendendo a lidar com outros recursos disponíveis num mundo em constante mutação.Ao longo do complexo processo de montagem da Peregrinação, multiplicaram-se os momentos de euforia e frustração, encanto e deceção, vividos através do contacto contínuo com domínios técnicos ignorados e a abordagem de um vocabulário expressivo desconhecido. A exploração de um território novo implica instabilidade e, como é natural, cria bastante ansiedade. Mas suponho ser este o tipo de desequilíbrio que, segundo Piaget, pode conduzir-nos pelo caminho da aprendizagem. Desta feita, a peça Peregrinação veio juntar-se a uma longa trajetória de alguns acertos e muitos enganos. São degraus que elevam as nossas dúvidas ao nível seguinte. Como diria Beckett, “falhar, falhar de novo, falhar melhor”.Não obstante todas as vantagens da modernização técnica e visual, podemos

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