PERFIL DAS GESTANTES COM TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE...
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PERFIL DAS GESTANTES COM TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE
PORTO ALEGRE NO PERÍODO DE 2010 A 2015
Laís Haase Lanziotti Enfª Responsável pela Vigilância Epidemiológica da Tuberculose
Letícia Possebon Müller Márcia Clair Sant’anna
Enfª da Equipe de Vigilância Epidemiológica da Hanseníase e da Tuberculose Maristela Lima de Aquino
Patrícia Zancan Lopes Simone Sá Britto Garcia Vera Lúcia Júlio Ricaldi
Aux. de Enf. da Equipe da Vigilância Epidemiológica da Tuberculose Angélica Furquim dos Santos Cassiane Neves dos Santos
Madine Viafore da Silva Natália Pereira Marques
Tainã Flores Telles Estagiárias de Enf. da Equipe da Vigilância Epidemiológica Tuberculose
Porto Alegre, nos últimos anos, está no rol das capitais com maior
incidência de tuberculose. Em novembro de 2014 foi a 4ª capital com maior
taxa de incidência de tuberculose do Brasil (aproximadamente 99,3
casos/100.000 habitantes), conforme dados do Ministério da Saúde. Toda a
população é suscetível, entretanto algumas populações têm risco acrescido,
tais como: população em situação de rua (PSR), população privada de
liberdade (PPL), pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), pessoas em
extremos de idade, gestantes, entre outras situações.
O presente artigo tem por objetivo mostrar o perfil de gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre nos últimos anos. De 2010 a 2015,
foram notificadas 54 gestantes com tuberculose, sendo 37 (68,5%) dessas
casos novos de tuberculose, conforme o gráfico 1 abaixo. Para melhor
compreensão, após todas as tabelas serão colocados o número absoluto dos
casos.
Gráfico 1 – Percentual do tipo de entrada dos casos de gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Diagnóstico CASO NOVO RECIDIVA REINGRESSO APÓS ABANDONO TRANSFERÊNCIA Total
2010 4 0 2 0 6
2011 8 1 1 0 10
2012 8 1 3 0 12
2013 6 0 3 0 9
2014 6 0 2 1 9
2015 5 0 2 1 8
Total 37 2 13 2 54
A forma clínica da tuberculose mais apresentada pelas gestantes foi a
forma pulmonar, vide gráfico 2.
66,7
80,0
66,7 66,7 66,7 62,5
0 10
8,3
0 0 0
33,3
10,0
25,0
33,3
22,2 25,0
0 0 0 0
11,1 12,5
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015
%CASO NOVO
%RECIDIVA
%REINGRESSO APÓSABANDONO
%TRANSFERÊNCIA
Gráfico 2 – Percentual da forma clínica apresentada pelas gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Diagnóstico PULMONAR EXTRAPULMONAR PULMONAR + EXTRAPULMONAR Total
2010 3 0 1 4
2011 4 3 1 8
2012 5 2 1 8
2013 4 1 1 6
2014 5 1 0 6
2015 4 1 0 5
Total 25 8 4 37
O gráfico 3 abaixo mostra a faixa etária dessas gestantes. A faixa etária das gestantes variou entre 18 anos a mais nova e 37 anos a mais velha.
75
50
62,5 66,7
83,3 80
0
37,5
25
16,7 16,7 20
25
12,5 12,5 16,7
0 0 0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
2010 2011 2012 2013 2014 2015
%PULMONAR
%EXTRAPULMONAR
%PULMONAR +EXTRAPULMONAR
Gráfico 3 – Número de casos novos de gestantes com tuberculose
residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015, por faixa etária
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Diagnóstico 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos Total
2010 0 3 1 4
2011 0 5 3 8
2012 0 2 6 8
2013 1 2 3 6
2014 0 4 2 6
2015 0 3 2 5
Total 1 19 17 37
Em relação à raça/cor das gestantes, o número absoluto das gestantes é
maior da raça/cor branca. Porém, ao se calcular o coeficiente, a tuberculose
incidiu mais nas gestantes da raça/cor preta. As mulheres em idade fértil (dos
10 aos 49 anos) de Porto Alegre da cor branca são 349083, preta são 48579, e
parda são 44812, conforme dados do último censo (IBGE 2010). Abaixo segue
o gráfico 4, mostrando o coeficiente.
0 0 0
1
0 0
3
5
2 2
4
3
1
3
6
3
2 2
0
1
2
3
4
5
6
7
2010 2011 2012 2013 2014 2015
15 a 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
Gráfico 4 – Coeficiente de gestantes com tuberculose residentes em Porto
Alegre, no período de 2010 a 2015, por raça/cor
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações IBGE 2010
Ano Diagnóstico Branca Preta Parda Total
2010 2 1 1 4
2011 7 1 0 8
2012 2 4 2 8
2013 3 1 2 6
2014 5 0 1 6
2015 3 1 1 5
Total 22 8 7 37
A maioria (13) das gestantes com tuberculose não completou o ensino
fundamental, conforme gráfico 5 abaixo. Nas fichas de notificação não consta a
variável renda, mas é sabido que o grau de instrução da gestante pode servir
como parâmetro para renda. Sendo que baixa escolaridade significaria níveis
econômicos menores.
0,6
2,0
0,6 0,9
1,4
0,9
2,1 2,1
8,2
2,1
0,0
2,1 2,2
0,0
4,5 4,5
2,2 2,2
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Branca
Preta
Parda
Gráfico 5 - Casos novos de gestantes com tuberculose residentes em
Porto Alegre, no período de 2010 a 2015, por escolaridade
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Ignorado 1ª a 4ª s.i. do
EF 4ª s.c do EF 5ª a 8ª s.i. do EF EF c. EM i. EM c. ES c. Total
2010 0 0 0 2 2 0 0 0 4
2011 0 0 0 3 1 2 1 1 8
2012 0 1 1 1 1 2 1 1 8
2013 0 1 1 3 1 0 0 0 6
2014 0 0 0 4 1 1 0 0 6
2015 1 1 0 0 3 0 0 0 5
Total 1 3 2 13 9 5 2 2 37
Conforme o gráfico 6, a taxa de coinfecção TB/HIV em gestantes é
superior ao da população de Porto Alegre em geral. Nos anos de 2014 e 2015
respectivamente a taxa de coinfecção TB/HIV em Porto Alegre foi de 27,5% e
25,3%.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Gráfico 6 – Taxa de coinfecção TB/HIV em casos novos de gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Diagnóstico Positivo Negativo Não realizado Total
2010 0 2 2 4
2011 3 3 2 8
2012 2 6 0 8
2013 2 4 0 6
2014 2 4 0 6
2015 2 3 0 5
Total 11 22 4 37
Até 2013, dados de drogadição eram obtidos de forma qualitativa.
Atualmente, na nova ficha de notificação foi incluída a variável dicotômica
drogadição, facilitando a análise do dado. Portanto, somente ao longo dos anos
poderá ser feita uma avaliação melhor desta variável. O gráfico 7 mostra que
ao longo de 2010 a 2015 sempre houve um percentual de gestantes com
tuberculose “usuárias de droga”; podendo-se inferir que nem sempre a
gestação é uma escolha, mas sim uma consequência do uso abusivo da droga.
0
37,5
25
33,3 33,3
40
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
2010 2011 2012 2013 2014 2015
%Coinfecção TB/HIV
Gráfico 7 – Percentual de drogadição em casos novos de gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Ign/Branco Sim Não Total
2010 1 3 0 4
2011 6 2 0 8
2012 7 1 0 8
2013 5 1 0 6
2014 2 2 2 6
2015 0 2 3 5
Total 21 11 5 37
O gráfico 8 mostra o percentual de gestantes com tuberculose que
fazem uso abusivo de álcool. Tuberculose e uso abusivo de álcool na gestação
são fatores (independentes) de risco para aborto, parto prematuro e baixo peso
ao nascer; quando associados geralmente há potencialização desses
desfechos.
75
25
12,5 16,7
33,3
40
0
10
20
30
40
50
60
70
80
2010 2011 2012 2013 2014 2015
%Drogadição
Gráfico 8 - Percentual de alcoolismo em casos novos de gestantes com
tuberculose residentes em Porto Alegre, no período de 2010 a 2015
Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações
Ano Diagnóstico Sim Não Total
2010 1 3 4
2011 1 7 8
2012 0 8 8
2013 0 6 6
2014 1 5 6
2015 1 4 5
Total 4 33 37
O quadro 1 abaixo mostra o percentual de desfechos do tratamento
contra a tuberculose, ficando evidente o baixo percentual de cura e o alto
percentual de abandono.
25
12,5
0 0
16,7
20
0
5
10
15
20
25
30
2010 2011 2012 2013 2014 2015
%Alcoolismo
Quadro 1 - Casos novos de tuberculose, em gestantes, por tipo de saída (em percentual), residentes em Porto Alegre, nos anos de 2010 a 2015
Ano Diagnóstico %Em
tratamento %Cura %Abandono %Transferência %TB-DR
%Mudança de Esquema
2010 0 25 75 0 0 0
2011 0 50 37,5 12,5 0 0
2012 0 62,5 37,5 0 0 0
2013 0 33,3 50 0 16,7 0
2014 0 33,3 66,7 0 0 0
2015 40* 20 20 0 0 20 Fonte: Sinan Net 5.1/EVDT/CGVS/SMS/PMPA Base de dados de 18/03/2016 Dados sujeitos a alterações *O tratamento da tuberculose é de no mínimo 6 meses, podendo ser prolongado
conforme cada caso, portanto, alguns casos que fizeram diagnóstico em 2015 não
tiveram desfecho, ou seja, estão em tratamento.
Ano Diagnóstico Em tratamento Cura Abandono Transferência TB-DR Mudança de Esquema Total
2010 0 1 3 0 0 0 4
2011 0 4 3 1 0 0 8
2012 0 5 3 0 0 0 8
2013 0 2 3 0 1 0 6
2014 0 2 4 0 0 0 6
2015 2 1 1 0 0 1 5
Total 2 15 17 1 1 1 37
Resumindo: a condição de gestante com tuberculose, residente em
Porto Alegre, no período de 2010 a 2015, mostrou um perfil: caso novo de
tuberculose, ou seja, é o primeiro episódio de tuberculose; forma clínica
pulmonar – forma transmissível, impactante para saúde pública; idade variou
de 18 a 37 anos, maior coeficiente em gestantes da raça/cor preta; com ensino
fundamental incompleto; com alto percentual de coinfecção por HIV; podendo
ter drogadição ou uso de álcool associado. A tuberculose por si só é um agravo
de vulnerabilidade social, associado a outras condições como gestação,
coinfecção por HIV, uso de drogas, alcoolismo, baixa escolaridade, tende a
piorar a condição de vida dessa mulher, portanto, às políticas públicas de
saúde cabe captar a gestante com tuberculose para vinculá-la a um pré-natal
adequado com direito à toda assistência social que o período requer para que o
bebê possa nascer a termo sem doenças herdadas da mãe, o que implica
diretamente em diminuição de futuros custos em saúde.
Em Porto Alegre existem diversas instituições de saúde de distintos
níveis de complexidade como por exemplo as unidades de saúde, os CRTBs
(Centro de Referência em Tuberculose), os SAEs (Serviço de Atendimento
Especializado), os hospitais, entre outras. Entretanto, nem todos conseguem
colocar a integralidade da assistência em prática sem fracionar a gestante em
múltiplas situações como por exemplo: gestante, tuberculose, HIV, drogadição;
o que dificulta a adesão e o vínculo da paciente com inúmeros serviços, e o
que desencadeia uma sucessão de abandonos, tanto dos serviços em relação
a paciente quanto da paciente em relação aos serviços.
Abaixo segue o quadro 2 com os números absolutos retirados da base
de dados do Sinan Net 5.1 em 18/03/2016 para simples conferência.
Quadro 2 – Número absoluto de gestantes com tuberculose
ANO Subclassificação 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Casos 6 10 12 9 9 8
Casos novos 4 8 8 6 6 5
Casos novos por forma clínica Pulmonar 3 4 5 4 5 4
Extrapulmonar 0 3 2 1 1 1
Pulmonar e extrapulmonar 1 1 1 1 0 0
Casos novos com confirmação laboratorial 0 1 4 3 5 3
Casos novos por raça cor Ignorado 0 0 0 0 0 0
Branca 2 7 2 3 5 3
Preta 1 1 4 1 0 1
Amarela 0 0 0 0 0 0
Parda 1 0 2 2 1 1
Indígena 0 0 0 0 0 0
Casos novos por escolaridade Ignorado 0 0 0 0 0 1
Analfabeto 0 0 0 0 0 0
1ª a 4ª série incompleta do EF 0 0 1 1 0 1
1ª a 4ª série completa do EF 0 0 0 0 0 0
5ª a 8ª série incompleta do EF 2 3 1 3 4 0
Ensino fundamental completo 2 1 1 1 1 3
Ensino médio incompleto 0 2 2 0 1 0
Ensino médio completo 0 1 1 0 0 0
Educação superior incompleta 0 0 0 0 0 0
Educação superior completa 0 1 1 0 0 0
Casos novos por faixa etária 15 a 19 anos 0 0 0 1 0 0
20 a 29 anos 3 5 2 2 4 3
30 a 39 anos 1 3 6 3 2 2
40 a 49 anos 0 0 0 0 0 0
50 a 59 anos 0 0 0 0 0 0
60 a 69 anos 0 0 0 0 0 0
70 a 79 anos 0 0 0 0 0 0
80 anos e mais 0 0 0 0 0 0
Casos novos por testagem para HIV Positivo 0 3 2 2 2 2
Casos por tipo de entrada Caso Novo 4 8 8 6 6 5
Recidiva 0 1 1 0 0 0
Reingresso após abandono 2 1 3 3 2 2
Transferência 0 0 0 0 1 1
Casos novos por tipo de saída Em tratamento 0 0 0 0 0 2*
Cura 1 4 5 2 2 1
Abandono 3 3 3 3 4 1
Óbito 0 0 0 0 0 0
Transferência 0 1 0 0 0 0
Mudança de diagnóstico 0 0 0 0 0 0
TB-DR 0 0 0 1 0 0
Mudança de esquema 0 0 0 0 0 1
Falência 0 0 0 0 0 0
Casos novos por alcoolismo 1 1 0 0 1 1
Casos novos por drogadição 3 2 1 1 2 2
*Banco de dados de 2015 ainda não fechado Censo IBGE 2010: Mulheres residentes em POA em idade fértil (10-49 anos): branca: 349083, preta: 48579, parda: 44812