Perfil do Ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul - Mapeamento e Avaliação dos Portais Noticiosos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL UFMS FERNANDA FRANÇA FORTUNA PERFIL DO CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL MAPEAMENTO E AVALIAÇÃO DOS PORTAIS NOTICIOSOS CAMPO GRANDE MS 2014

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Dissertação de Mestrado defendida em agosto de 2014 na UFMS.

Transcript of Perfil do Ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul - Mapeamento e Avaliação dos Portais Noticiosos

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL UFMS

    FERNANDA FRANA FORTUNA

    PERFIL DO CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL MAPEAMENTO E AVALIAO DOS PORTAIS NOTICIOSOS

    CAMPO GRANDE MS

    2014

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL UFMS

    FERNANDA FRANA FORTUNA

    PERFIL DO CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL MAPEAMENTO E AVALIAO DOS PORTAIS NOTICIOSOS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Comunicao da UFMS, como

    requisito parcial para obteno do ttulo de

    mestre em Comunicao. rea de

    Concentrao: Mdia e Representao Social.

    Orientao: Prof. Dr. Gerson Luiz Martins

    CAMPO GRANDE MS 2014

  • FERNANDA FRANA FORTUNA

    PERFIL DO CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL MAPEAMENTO E AVALIAO DOS PORTAIS NOTICIOSOS

    A comisso examinadora, abaixo assinada, aprova a

    dissertao Perfil do Ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul Mapeamento e Avaliao dos Portais Noticiosos, elaborada por Fernanda Frana Fortuna como requisito

    parcial para obteno do grau de Mestre em Comunicao.

    Campo Grande, MS, _____ de ______________________ de 2014

    COMISSO EXAMINADORA

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Gerson Luiz Martins

    Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS

    ____________________________________________

    Prof. Dr. Mrio Luiz Fernandes

    Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS

    ____________________________________________

    Prof. Dr. Thas de Mendona Jorge

    Universidade de Braslia - UnB

  • s minhas filhas, Rafaela e Marina, pedacinhos de mim.

    Meu corao pulsando fora do corpo.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pelo dom da vida, e aos meus pais, Airtom e Cludia, pelo amor, apoio e incentivo em

    todas as horas. Obrigada pela vibrao de vocs com minhas vitrias!

    Ao companheiro que escolhi para a vida, Willams Arajo, pela dedicao famlia, carinho e

    suporte.

    Ao professor Gerson Martins, por ter aceitado ser meu orientador e por ter clareado meus

    pensamentos nos momentos de desespero.

    Aos professores Mrio Luiz Fernandes e Thas de Mendona Jorge pelas contribuies valiosas

    em minha pesquisa. Muito obrigada pela ateno dispensada e por participarem da minha banca

    de avaliao.

    Aos amigos Thasa Bueno, pela fora na construo das primeiras ideias que resultaram nesta

    pesquisa e pelo suporte constante; Catarine Sturza e Amanda Leal, pela ajuda fundamental na

    coleta de dados; Bruno Oliveira e Walter Queiroz Jnior pelo apoio tcnico imprescindvel.

    Ao casal Lia e Eduardo Rockenbach, pelas correes preciosas ao texto e pela amizade sincera.

    Meu muito obrigada.

    deputada Mara Caseiro, que flexibilizou meus horrios de trabalho para que eu pudesse

    concluir o mestrado. Minha sincera gratido.

    A todos os amigos que fiz neste perodo de estudos, em especial aos parceiros Beatriz Longhini

    e Jos Milton Rocha, pela fora trocada nos momentos de desespero. Todos os nossos bate-

    papos no suco do corredor central e pelo Facebook valeram a pena!

    A todos que de alguma maneira, seja de perto ou de longe, torceram por mim, me incentivaram

    e contriburam para o meu sucesso. Meu muito obrigada!

  • RESUMO

    Esta pesquisa apresenta um mapa do ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul, a partir do

    levantamento dos stios web noticiosos nos 79 municpios e avaliao dos cibermeios mais

    importantes de cada regio do estado. Dos mais de 300 veculos listados, 20 foram escolhidos

    como base para o estudo, que verifica se eles utilizam as principais potencialidades da internet

    (hipertextualidade, multimidialidade, personalizao, interatividade, memria e atualizao

    contnua) e em que fase do ciberjornalismo eles se encontram, alm de apresentar um catlogo

    com os principais dados destes stios de webnotcias. A proposta do trabalho trazer um

    panorama do jornalismo especializado em internet em um estado peculiar, onde os cibermeios

    se proliferam em alta velocidade. A pesquisa aponta que, apesar do grande volume de stios

    web verificados, a mdia online local se apropriou parcialmente das potencialidades

    tecnolgicas oferecidas pela internet.

    Palavras-chave: Ciberjornalismo; Mapeamento; Cibermeios; Internet; Catalogao.

  • ABSTRACT

    This research introduces a map of cyberjornalism in Mato Grosso do Sul, from the survey of

    informative web sites in 79 cities and the most important cybermedia in each region of the state.

    Over 300 vehicles were listed and 20 were chosen as a basis for the study, which verifies if they

    use the main potential of the internet (hypertextuality, multimidiality, personalization,

    interactivity, memory and continuous upgrading) and in which phase of the cyberjornalism they

    meet, beyond to present a catalog with the key data from these sites of webnews. The papers proposal is to bring a panorama of the internet specialized journalism in a peculiar state, where

    the cybermedia proliferate in a high velocity. The research shows that despite of the great

    volume of verified web sites, the online local media partially appropriated of the technological

    potential offered by the Internet.

    Key-words: Cyberjournalism, Mapping, Cybermedia, Internet, Cataloguing

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Nomenclaturas e definies do jornalismo praticado na internet............................. 25

    Quadro 2: Empregos gerados nos stios web de referncia........................................................ 86

    Quadro 3: Comercializao de espaos publicitrios nos cibermeios de referncia.................. 87

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Parte da capa do jornal Correio do Estado em novembro de 2000.......................... 40

    Figura 2: Segundo layout do Campo Grande News, em 06/06/2000...................................... 41

    Figura 3: Parte da capa do RMT Online em 1 de Novembro de 2001................................... 44

    Figura 4: Parte da capa do MS Notcias em 23/11/2002......................................................... 45

    Figura 5: Parte da capa do Midiamax News em 02/08/2002.................................................. 46

    Figura 6: Capa atual do stio Conjuntura Online.................................................................... 47

    Figura 7: Parte da capa do Capital News em 30/08/2004....................................................... 48

    Figura 8: Dourados News em 25/09/2001, ano seguinte ao lanamento................................ 50

    Figura 9: Capa do Dourados Agora em 08/02/2004............................................................... 51

    Figura 10: Capa do Dourados Informa em 18/04/2006.......................................................... 52

    Figura 11: Capa do Dirio Online em 08/10/2009.................................................................. 53

    Figura 12: Capa do Aquidauana News em 04/08/2002........................................................... 55

    Figura 13: Conesul News em 13 de novembro de 2004......................................................... 56

    Figura 14: Capa do Che Fronteira em 13/06/2014.................................................................. 58

    Figura 15: Layout da Rdio Caula em 08/04/2005................................................................ 58

    Figura 16: Capa do Jornal do Povo em 2000, ano que foi lanado na internet....................... 60

    Figura 17: Capa do Jovem Sul News em 6/10/2003............................................................... 61

    Figura 18: Layout atual do Parada Dez 13/06/2014............................................................. 62

    Figura 19: Parte da capa do Jornal da Nova em 1 de dezembro de 2012.............................. 63

    Figura 20: Capa parcial do Edio de Notcias em 17/07/2007.............................................. 64

    Figura 21: Layout atual do Bonito Informa 13/06/2014...................................................... 64

    Figura 22: Mapa de Mato Grosso do Sul dividido por regies............................................... 83

    Figura 23: Stios de webnotcias distribudos por regio........................................................ 85

  • SUMRIO

    CONSIDERAES INICIAIS........................................................................................ 11

    Problemas de pesquisa e objetivos.................................................................................... 14

    Referenciais metodolgicos.............................................................................................. 15

    Estrutura da dissertao..................................................................................................... 19

    1. CIBERJORNALISMO: DEFINIES........................................................................

    20

    1.1 Conceitos..................................................................................................................... 20

    1.2 Caractersticas............................................................................................................. 25

    1.3 Fases............................................................................................................................ 34

    2. CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL.............................................

    38

    2.1 Ciberjornalismo no interior do estado......................................................................... 50

    2.2 Portais locais de notcia.............................................................................................. 65

    3. A CARTOGRAFIA E OS ESTUDOS EM CIBERJORNALISMO............................

    68

    3.1 Mapa dos cibermeios em Mato Grosso do Sul........................................................... 71

    3.2 Cruzamento de dados stios de referncia............................................................... 86

    4. ANLISE DE FORMA E CONTEDO.....................................................................

    87

    4.1 Metodologia de anlise............................................................................................... 87

    4.2 Caractersticas............................................................................................................. 89

    4.3 Fases........................................................................................................................... 106

    5. CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................

    108

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................

    112

    APNDICES....................................................................................................................

    117

    APNDICE 1 PORTAIS E STIOS WEB DE REFNCIA......................................... 118

    APNDICE 2 CATLOGO DE CIBERMEIOS.......................................................... 119

  • ANEXOS.......................................................................................................................... 126

    ANEXO A: ANLISE DA ATUALIZAO CONTNUA........................................... 127

    ANEXO B: FERRAMENTA PARA ANLISE DA INTERATIVIDADE.................... 128

    ANEXO C: FERRAMENTA PARA ANLISE DA MEMRIA................................... 130

    ANEXO D: FERRAMENTA PARA ANLISE DA

    PERSONALIZAO/CUSTOMIZAO DE CONTEDO........................................

    132

    ANEXO E: FERRAMENTA PARA ANLISE DA HIPERTEXTUALIDADE............ 133

    ANEXO F: FERRAMENTA PARA ANLISE DA MULTIMIDIALIDADE............... 135

  • 11

    CONSIDERAES INICIAIS

    incontestvel que a internet modifica a maneira pela qual o homem se comunica,

    trabalha, se relaciona com as pessoas, acessa e distribui informaes. As mudanas no modo de

    consumo de material jornalstico so visveis desde seu surgimento no Brasil, em 1995.

    Pesquisa do Cetic.br1 (Centro de Estudo sobre as Tecnologias da Informao e da

    Comunicao), divulgada em junho de 2013, revela que o Brasil possui 80,9 milhes de

    usurios de Internet, o que equivale a 49% da populao nacional. Os dados, que integram o

    levantamento TIC (Tecnologias da Informao e da Comunicao) Domiclios, apontam

    crescimento de 12 pontos percentuais em relao a 2008.

    Quando o assunto busca por informaes na internet, o Brasil figura acima da mdia

    mundial. Para 47% da populao brasileira, a web a primeira fonte procurada, enquanto para

    o restante do mundo, esse percentual registra uma mdia de 45%. 2

    Porm, o Centro-Oeste foi a regio do Brasil que teve o menor crescimento no

    contingente de internautas em 2012 (4,6%) em relao ao ano anterior, segundo dados da PNAD

    (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios) 2012.

    O Mapa da Incluso Digital 2012 da FGV (Fundao Getlio Vargas)3 revela que apenas

    38,42% da populao de Mato Grosso do Sul possuem acesso ao computador e 30,72% ao

    computador com internet.

    Segundo o ranking municipal de acesso domiciliar 2010, divulgado dentro da mesma

    pesquisa, 41,93% da populao de Campo Grande tm acesso a microcomputador com internet,

    enquanto 38,26% tm acesso em Dourados, 25,65% em Corumb, 46,90% em Trs Lagoas,

    24,80% em Ponta Por e 28,84% em Paranaba, s para citar as maiores cidades do estado.

    Mato Grosso do Sul um estado novo, com pouco mais de 30 anos de existncia, e

    possui considervel nmero de stios de webnotcias, mesmo com dados que apontam a

    excluso de grande parte da populao do mundo virtual. A presente pesquisa revelou a

    existncia de mais de 300 cibermeios noticiosos no estado, o que conflita com as estatsticas de

    acesso internet.

    1 Resultados da pesquisa podem ser acessados em: . Acesso em: 25 de julho de 2014. 2 Estes dados fazem parte do estudo global O que motiva os consumidores do mundo, que tem como base a pesquisa Target Group Index, desenvolvida pela Kantar Media e difundida pelo IBOPE Media no Brasil e na

    Amrica Latina. 3 Resultados da pesquisa disponveis em: . Acesso

    em: 25 de julho de 2014.

  • 12

    Outro ponto a ser observado que, enquanto em vrios estados brasileiros o

    ciberjornalismo se desenvolveu basicamente vinculado a outros veculos jornais, emissoras

    de rdio e televiso, em Mato Grosso do Sul o processo se deu de forma diferente: pouco tempo

    aps o surgimento da internet no pas, comearam a funcionar veculos exclusivamente online,

    sem vnculo com outras empresas jornalsticas.

    Em 1995, o Jornal do Brasil4, um dos mais tradicionais do Pas, foi o primeiro a utilizar

    a nova mdia para divulgar seu material. Antes disso, em 1993, o jornal j tinha criado o

    Servio Instantneo de Notcias (SIN), pelo qual eram enviadas notas de economia e poltica s

    bolsas, corretoras e bancos (BALDESSAR, 2009, p.2). Mato Grosso do Sul entrou nesse

    cenrio em 1997, com a verso online do jornal O Progresso5. Isso demonstra que o estado

    sempre esteve na vanguarda deste processo no Brasil.

    O Campo Grande News6 surgiu pouco tempo depois, em 1999, no apenas reproduzindo

    notcias de outro meio de comunicao, mas apurando informaes e divulgando em fluxo

    contnuo. Na sequncia, dezenas de cibermeios de contedo local iniciaram suas atividades. O

    Midiamax News7, em Campo Grande, e o Dourados News8, em Dourados, so alguns exemplos

    de veculos que surgiram nesta poca.

    Ano aps ano, muitos outros stios de webnotcias regionais apareceram, e vrios

    tambm encerraram suas atividades, mostrando que a volatilidade uma caracterstica deste

    mercado.

    Apesar do grande volume de cibermeios catalogados e da abertura constante de novas

    empresas, poucos estudos foram voltados para o mapeamento desses veculos. Pesquisas

    temticas foram realizadas nesta rea, mas no um levantamento e avaliao aprofundados dos

    portais locais de notcia, o que justamente o objeto deste estudo.

    Dezessete anos se passaram desde que o primeiro stio de webnotcias foi lanado no

    estado. Desde ento, os cibermeios de Mato Grosso do Sul tm experimentado diversas fases

    de desenvolvimento, que vo desde a reproduo do contedo de outros veculos, como jornais

    impressos, rdios e televises, at a oferta de material produzido pela prpria equipe do veculo,

    atualizado de maneira constante e com recursos multimdia cada vez mais modernos.

    4 Disponvel em: < http://www.jb.com.br>. Acesso em: 25 de julho de 2014.5 Disponvel em: . Acesso em: 25 de julho de 2014. 6 Disponvel em: . Acesso em: 25 de julho de 2014. 7 Disponvel em: < www.midiamaxnews.com.br>. Acesso em: 25 de julho de 2014. 8 Disponvel em: . Acesso em: 25 de julho de 2014.

  • 13

    Esta pesquisa avana nesse sentido, ao apresentar no apenas um mapa do

    ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul, a partir da listagem e catalogao dos stios de

    webnotcias do Estado, mas tambm a avaliao de 20 desses veculos, escolhidos por meio de

    entrevistas com assessores de imprensa dos municpios mais importantes de cada regio do

    estado. Essa anlise verifica se os cibermeios utilizam as potencialidades da internet e em que

    fase do ciberjornalismo eles se encontram.

    A proposta do trabalho, alm de apresentar um panorama do jornalismo especializado

    em internet em um estado peculiar, onde os cibermeios se proliferam em alta velocidade,

    apontar caminhos para futuras pesquisas na rea.

  • 14

    PROBLEMAS DE PESQUISA

    A presente pesquisa pretende responder aos seguintes questionamentos: Quais so os

    stios de webnotcias em atividade em Mato Grosso do Sul? De que maneira eles utilizam as

    principais ferramentas disponveis na internet? Em que fase do ciberjornalismo esto inseridos?

    OBJETIVOS

    O objetivo geral deste estudo apresentar o perfil dos cibermeios de Mato Grosso do

    Sul, por meio de mapeamento e avaliao dos stios web noticiosos, com base nas caractersticas

    e fases do ciberjornalismo. Alguns objetivos especficos tambm foram definidos nesta

    pesquisa: identificar quantos e quais so os portais e stios web noticiosos em atividade em

    Mato Grosso do Sul, catalogar os stios de webnotcias, avaliar os cibermeios de referncia,

    com sede nos municpios mais populosos do Estado, a partir das caractersticas de forma e

    contedo, e identificar a fase do ciberjornalismo em que se inserem os portais e stios web de

    referncia.

    A ideia de perfil, nesta pesquisa, pode ser compreendida como a descrio detalhada de

    alguns dados, recolhidos durante tempo determinado e por meio de variveis definidas.

    possvel compreender este processo luz de algumas tcnicas da anlise de contedo.

    Trivios (1987) resumiu as trs etapas bsicas para este tipo de anlise, apontadas por

    Bardin: pr-anlise, descrio analtica e interpretao inferencial. A pr-anlise

    simplesmente a organizao do material, o que, na presente pesquisa, abrange o mapeamento

    dos cibermeios do estado. A descrio analtica prev o estudo aprofundado do material de

    documentos que constitui o corpus, sob orientao das hipteses e referenciais tericos. De

    acordo com Trivios (1987, p. 161), os procedimentos como a codificao, a classificao e a

    categorizao so bsicos nesta instncia do estudo. A aplicao dessa segunda etapa do

    mtodo, na presente pesquisa, est na catalogao dos cibermeios, detalhamento de suas fases

    e de suas caractersticas de forma e contedo.

    A terceira etapa de anlise, conforme o mesmo autor, a interpretao inferencial,

    resumida por ele como o aprofundamento das ideias com base nos materiais informativos, ou

    seja, o cruzamento dos dados.

  • 15

    REFERENCIAIS METODOLGICOS

    O presente estudo apresenta o perfil dos cibermeios de Mato Grosso do Sul, tendo como

    fonte de pesquisa e critrio de seleo mecanismos de busca na internet (Google e Yahoo) e

    mailings, tanto de instituies pblicas quanto de assessorias de imprensa de empresas privadas

    e organizaes no governamentais, alm de levantamento pessoal e profissional.

    Tambm serve de apoio para identificar os ciberjornais do Estado o Portal de Mdia9,

    projeto desenvolvido na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) que tem como

    objetivo mapear os veculos de comunicao do Estado, sob a coordenao do professor doutor

    Mrio Luiz Fernandes. Outro portal que cataloga os veculos de comunicao brasileiros, e que

    serviu como fonte de buscas, o Guia de Mdia10.

    O critrio de contagem desses stios web exclui os endereos exclusivos de festas e

    eventos, pginas governamentais ou de jornalismo especializado. Alm dos veculos que

    trabalham com notcias em tempo real, tambm foram catalogados os endereos eletrnicos

    vinculados aos jornais impressos, rdios e televises.

    Os dados colhidos foram conferidos com os jornalistas de referncia de cada municpio,

    ou seja, assessores de imprensa das prefeituras, cmaras municipais e outros rgos pblicos

    ou privados.

    Aps o mapeamento realizado nos 79 municpios de Mato Grosso do Sul, 20 cibermeios

    de referncia foram escolhidos para estudo aprofundado. Eles esto sediados em 14 das mais

    importantes cidades sul-mato-grossenses, eleitas com base na estimativa populacional de 2012

    do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) e na representatividade de cada uma

    em suas respectivas regies.

    Os municpios escolhidos para a pesquisa so: Campo Grande, Dourados, Corumb,

    Trs Lagoas, Navira, Aquidauana, Paranaba, Coxim, Ponta Por, Amambai, Maracaju, Nova

    Andradina, Bonito e Chapado do Sul. O trabalho tem como objetivo no apenas revelar o perfil

    dos stios de webnotcias nos municpios mais populosos, mas contemplar todas as regies de

    Mato Grosso do Sul na pesquisa, com vistas a oferecer um mapa mais diverso e completo

    possvel do ciberjornalismo no estado.

    A escolha desses 20 cibermeios como referncia de estudo foi feita por meio de

    entrevistas com assessores de imprensa das prefeituras. A opo por este mtodo deu-se pela

    9 Disponvel em: . Acesso em: 24 de julho de 2014. 10Disponvel em: . Acesso em: 23 julho de 2014.

  • 16

    dificuldade em encontrar ferramentas confiveis para mensurar a audincia dos veculos,

    sobretudo do interior do estado.

    Decidiu-se ento entrevistar os responsveis pelo Departamento de Comunicao dos

    municpios, uma vez que esses profissionais convivem diariamente com a distribuio e

    monitoramento das notcias, e, portanto, so capazes de detectar quais os cibermeios so mais

    populares na cidade.

    A entrevista a esses assessores de imprensa foi feita por telefone, com o objetivo de

    saber quais os portais e stio web noticiosos so mais bem aceitos pela populao local, para

    quais deles os profissionais entrevistados preferem mandar as informaes que precisam ser

    divulgadas com maior rapidez e qual o motivo da escolha desses veculos.

    As justificativas mais recorrentes dos assessores de imprensa para escolher os

    cibermeios de referncia foram a rapidez com que a equipe jornalstica destes veculos apura

    os fatos e veicula as notcias; a credibilidade dos profissionais envolvidos; o vnculo desses

    stios web com grupos de comunicao (rdios e jornais impressos); a abordagem poltica ou

    policial das notcias, que atrai muitos acessos; redao estruturada para cobertura de fatos

    jornalsticos, sobretudo em localidades mais distantes e a cobertura de festas e eventos por esses

    veculos, o que tambm ajuda a popularizar o cibermeio.

    Esses 20 stios de referncia foram classificados por fases, com base em critrio

    proposto por Luciana Mielniczuk (2001, p.3). O primeiro modelo, conforme a pesquisadora,

    o transpositivo, onde os produtos oferecidos, em sua maioria, eram reprodues de partes dos

    grandes jornais impressos. No segundo modelo, o da metfora, h utilizao de novas

    ferramentas e produo de algum contedo exclusivo para a internet. No terceiro modelo, as

    potencialidades oferecidas pela web Interatividade, Customizao de

    Contedo/Personalizao, Hipertextualidade, Multimidialidade/Convergncia, Memria e

    Atualizao Contnua so plenamente exploradas.

    Na sequncia, confeccionou-se um catlogo dos 20 cibermeios noticiosos escolhidos

    como referncia nesta pesquisa. Esse mapa geral revela quem so os proprietrios das empresas,

    quantos jornalistas atuam, quais deles possuem formao acadmica e qual o meio para

    sobrevivncia financeira dessas empresas. Para isto, foi utilizada a Ferramenta para

    Catalogao de Cibermeios11, baseada em chas similares empregadas para a imprensa, que

    tiveram como modelo a cha hemerogrca de Jacques Kayser (1963).

    11Pode ser acessada em:< http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20111219-201110_marcos_palacios.pdf.>. ltimo

    acesso: 25 de maio de 2014.

  • 17

    O mtodo, utilizado para fazer o censo dos dirios franceses da dcada de 1960, foi

    adaptado e serviu para catalogar cibermeios espanhis12 entre os anos de 2002 e 2005, em um

    projeto coordenado pelas universidades de Mlaga, Navarra, Pas Basco e Santiago de

    Compostela. Os questionrios, novamente adaptados para o presente trabalho, foram aplicados

    aos representantes dos cibermeios, com o objetivo de identificar suas principais caractersticas.

    De acordo com Javier Daz Noci (2011), responsvel pelo desenvolvimento da

    ferramenta de catalogao dos cibermeios, essas fichas podem servir para fazer um catlogo

    completo dos cibermeios de um pas e de uma poca determinados, por exemplo (NOCI, 2011,

    p. 5).

    Por fim, os stios web selecionados foram estudados a partir das caractersticas de forma

    e contedo, com base nas Ferramentas para Anlise de Qualidade no Ciberjornalismo,

    contidas em um trabalho organizado pelo professor e pesquisador Marcos Palcios. Do livro,

    publicado em 2011, foram feitas adaptaes para a Ferramenta para Anlise de

    Hipertextualidade em Cibermeios (BARBOSA e MIELNICZUK, p. 37), Ferramenta para

    Anlise da Interatividade em Cibermeios (MESO, NATANSOHN, PALOMO e QUADROS,

    p. 51), Ferramenta para Anlise de Multimidialidade em Cibermeios (MASIP, MIC e

    TEIXEIRA, p. 81), Ferramenta para Anlise de Design em Cibermeios (PALOMO,

    QUADROS e SILVA, p. 131) e Ferramenta para Anlise de Memria em Cibermeios

    (PALCIOS e RIBAS, p. 183).

    As ferramentas para medir a customizao de contedo, caracterstica tambm

    conhecida como personalizao, e a instantaneidade, foram elaboradas exclusivamente para

    esta pesquisa.

    Lima (2000) mapeou os cibermeios do estado como trabalho de concluso do curso de

    Ps-Graduao Latu Senso em Midiologia da Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento

    do Estado e da Regio do Pantanal). Porm, o levantamento Jornalismo online em Mato

    Grosso do Sul: diagnstico do ciberjornalismo no estado de Mato Grosso do Sul encontra-se

    defasado, uma vez que 13 anos se passaram e muitas empresas abriram e fecharam suas portas

    nesse intervalo de tempo.

    Outra catalogao mais recente dos cibermeios locais foi feita por Telarolli (2008) no

    trabalho Mapeamento dos portais jornalsticos de Mato Grosso do Sul e aplicao de aspectos

    da gesto da informao no Campo Grande News. Foram identificados 54 stios web

    12Foram catalogados 1.075 cibermeios na Espanha durante a pesquisa. Parte dela pode ser vista em:

    . ltimo acesso em: 25 de maio de 2014.

  • 18

    noticiosos, distribudos em 30 cidades, mapeados por meio de alguns critrios13 estipulados na

    pesquisa. Entretanto, o levantamento mais atualizado aponta que esse nmero de cibermeios

    cresceu seis vezes mais.

    A cartografia um valioso instrumento para aferir a expanso do jornalismo feito para

    a web em uma determinada regio. A importncia desse mtodo como forma de entendimento

    de certos processos foi destacada no livro Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no

    Brasil em 2010, realizado pelo projeto Rumos Ita Cultural. Um bom mapa, como uma boa

    teoria, faz-nos enxergar e compreender realidades (SOARES, 2010, p.16).

    Mato Grosso do Sul se apresenta como um estado importante no cenrio do

    ciberjornalismo brasileiro, uma vez que possui grande nmero de stios web noticiosos. A

    presente pesquisa mapeou mais de 300 cibermeios, o que comprova essa afirmao.

    Apesar do volume de cibermeios em funcionamento no estado, e o visvel crescimento

    dessa atividade, poucos estudos foram voltados para o mapeamento desses veculos. Grande

    parte destas pesquisas focou o Campo Grande News, pioneiro nessa modalidade. Quatro

    dissertaes de mestrado14 podem ser citadas como exemplo.

    Essas pesquisas contriburam sobremaneira para os estudos em ciberjornalismo no

    estado, mas o presente trabalho pretende avanar ainda mais, no apenas catalogando os

    cibermeios, mas estudando-os de maneira profunda e consistente.

    13 1) ser um meio criado especificamente para o ambiente virtual, no sendo um projeto j consolidado no mercado

    televisivo, radiofnico ou impresso que migrou para a web;

    2) ter como foco a produo de notcias e

    3) ser um canal de notcias variado sobre determinada cidade ou regio de Mato Grosso

    do Sul, portanto, no especializado em apenas uma editoria. 14REINO. Relacionamento entre o webjornal Campo Grande News e os seus usurios. BUENO. Em tempo (quase)

    real: anlise semitica do jornalismo na web. TELLAROLI. Gesto da informao no jornalismo on-line: estudo

    do portal Campo Grande News. AMADORI. O Jornalismo Online: a informao e a construo da notcia no

    site CGNews.

  • 19

    ESTRUTURA DA DISSERTAO

    A dissertao de mestrado Perfil do Ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul

    Mapeamento e Avaliao dos Portais Noticiosos foi estruturada em quatro captulos.

    O primeiro apresenta as definies do ciberjornalismo, o que inclui conceitos,

    caractersticas e fases. Trata-se de uma introduo terica, uma reviso bibliogrfica sobre o

    assunto que permeia toda a pesquisa, com ateno terminologia empregada ao jornalismo

    especializado em internet, as caractersticas dessa modalidade jornalstica e as fases dos

    cibermeios.

    O segundo captulo apresenta a histria do ciberjornalismo no estado, desde a fase em

    que os stios web noticiosos eram transposies dos jornais impressos at o perodo atual,

    quando a maioria desses veculos trabalha com noticirio em tempo real.

    No terceiro captulo, a pesquisa buscou apresentar as contribuies da cartografia para

    o estudo do ciberjornalismo, com base nas definies e conceitos oriundos da geografia e dos

    mapeamentos voltados comunicao, alm do cruzamento de dados dos cibermeios locais,

    que revela uma parte do perfil desses veculos.

    O quarto captulo focado na anlise de 20 cibermeios noticiosos em atividade no

    estado, escolhidos como referncia nesta pesquisa. So eles: Campo Grande News, Midiamax,

    Capital News (Campo Grande); Dourados News, Dourados Agora (Dourados); Conesul News,

    Che Fronteira (Ponta Por); Dirio Online, Capital do Pantanal (Corumb); Rdio Caula,

    Jornal do Povo (Trs Lagoas); Aquidauana News (Aquidauana); Bonito Informa (Bonito);

    Maracaju Speed (Maracaju); Parada Dez (Paranaba); Jovem Sul News (Chapado do Sul);

    Jornal da Nova (Nova Andradina); Portal do MS (Navira), Gazeta News (Amambai) e Edio

    de Notcias (Coxim). Essa seo traz detalhes sobre a metodologia de anlise, de que forma os

    cibermeios utilizam as potencialidades do ciberjornalismo e em que fase se encontram.

  • 20

    1. CIBERJORNALISMO: DEFINIES

    Jornalismo Online, Jornalismo Multimdia, Jornalismo Telemtico, Jornalismo

    Eletrnico, Jornalismo Digital, Webjornalismo e Ciberjornalismo so algumas nomenclaturas

    utilizadas para denominar o jornalismo praticado no (e com a ajuda do) ciberespao. Jorge

    (2013) resumiu algumas dessas terminologias ao afirmar que

    jornalismo on-line o jornalismo conectado, em rede ou em linha (do francs en

    ligne). Jornalismo eletrnico remete aos meios televisivos, entretanto, usa-se pgina

    eletrnica. Ciberperiodismo no uma expresso da lngua portuguesa.

    Ciberjornalismo um termo derivado do ciberespao, com nfase na interconexo, e

    vem sendo cada vez mais utilizado (JORGE, 2013, p. 26).

    O fato que, passados quase 20 anos do incio da utilizao da internet no Brasil, ainda

    no h consenso sobre a terminologia que defina essa modalidade jornalstica.

    Neste captulo, alm dos diversos conceitos atribudos ao jornalismo praticado na

    internet e dos autores que as defendem, sero abordadas tambm suas principais caractersticas:

    hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, personalizao, memria e atualizao

    contnua (BARDOEL e DEUZE, 2000; PALCIOS, 2003) e fases (ou geraes).

    1.1 CONCEITOS

    Hlder Bastos (2000) comeou a usar em Portugal o termo jornalismo eletrnico

    como uma juno do jornalismo online e do jornalismo digital. De acordo com essa

    definio, o jornalismo online est ligado apurao, ou seja, pesquisa realizada nas redes

    onde as informaes circulam em tempo real, e o jornalismo digital disponibilizao desse

    material na internet.

    Essa terminologia foi empregada por Daz Noci e Meso (2000, p.15). De acordo com

    eles, o jornalismo eletrnico pode ser definido como el que se transmite por las redes

    telemticas, en especial Internet, y que definimos en base a dos de sus caractersticas

    fundamentales: la multimedialidad y la interactividad15.

    Conforme Schwingel (2012, p. 32), o termo tambm foi usado por Armentia (1999) e

    Lopez Garcia (2000). Couto (2010), porm, constata que essa nomenclatura caiu em desuso,

    uma vez que pode ser igualmente aplicada rdio ou televiso.

    15 Aquele que transmitido atravs das redes telemticas, especialmente a Internet, e que definimos com base em

    duas caractersticas fundamentais: a multimidialidade e a interatividade (traduo nossa).

  • 21

    Luciana Mielniczuk (2003, p.1) lembra que, no Brasil, a terminologia preferida pelos

    autores jornalismo on-line, a exemplo dos tericos norteamericanos, e o termo jornalismo

    eletrnico mais empregado pelos autores espanhis.

    Carla Schwingel (2012, p.33) confirma essa informao, ao citar autores como Stuart

    Hall, Roland De Wolk e Mike Ward, de lngua inglesa, como exemplos de estudiosos que

    adotam o termo jornalismo on-line. Ainda de acordo com Schwingel, essa tendncia tambm

    seguida

    por pesquisadores de lngua hispnica, portuguesa, italiana e alem (como Cabrera,

    Veloso, Palomo Torres, Squirra, Fidalgo e Serra (2003), Sousa e Aroso, Contaldo e

    Di Fabio, Fabiani, Papuzzi, Hoffacker e Lackerbauer). J o termo jornalismo em rede

    utilizado em espanhol por Estevez e em italiano por Carelli. (SCHWINGEL, 2012,

    p.32).

    Conforme os estudos desenvolvidos pela autora (2012, p.32), o termo jornalismo

    multimdia aplicado pelos espanhis Alvarez Marcos e Pescador, pelo francs Laubier e

    pelo italiano Pratellesi.

    Joo Canavilhas (2001, p.1) diz que a terminologia on-line remete a uma simples

    transposio dos velhos jornalismos escrito, radiofnico e televisivo para um novo meio. Ele

    defende a nomenclatura webjornalismo como a mais adequada ao alegar que ela vai muito

    mais alm do chamado jornalismo on-line. Em sua concepo, com base na convergncia entre

    texto, som e imagem em movimento, o webjornalismo pode explorar todas as potencialidades

    que a internet oferece, oferecendo um produto completamente novo: a webnotcia".

    Mielniczuk (2003, p.43) no concorda que a terminologia defendida por Canavilhas

    (2001) seja to abrangente. Ela afirma que o webjornalismo refere-se a uma parte especfica

    da internet, que disponibiliza interfaces grficas de uma forma bastante amigvel. Na opinio

    da autora, a internet envolve recursos e processos que so mais amplos do que a web, embora

    esta seja, para o pblico leigo, sinnimo de internet.

    Elias Machado (2000, p.19) defende a utilizao do termo jornalismo digital, por

    entender que a expresso on-line mais restrita e no contempla todas as especificidades

    dessa nova prtica jornalstica. Ele define jornalismo digital como:

    todo el producto discursivo que construye la realidad por medio de la singularidad de los eventos, que tiene como soporte de circulacin las redes telemticas o cualquier otro tipo de tecnologa por donde se transmita seales numricas y que incorpore la

  • 22

    interaccin con los usuarios a lo largo del proceso productivo (MACHADO, 2000, p.19).16

    Nesse sentido, Luciana Mielniczuk (2003, p.43) aborda uma questo importante, ao

    alertar sobre a diferena entre on-line e o digital, termos comumente confundidos. De acordo

    com ela,

    o termo on-line reporta ideia de conexo em tempo real, ou seja, fluxo de informao

    contnuo e quase instantneo. As possibilidades de acesso e transferncia de dados on-

    line utilizam-se, na maioria dos casos, de tecnologia digital. Porm, nem tudo que

    digital on-line. (MIELNICZUK, 2003, p. 43).

    Em seus estudos sobre a historicidade, terminologia e conceito de ciberjornalismo,

    Carla Schwingel (2012) cita ainda Canga Larequi, Garcia Gallo, Pollyana Ferrari, Raquel Porto

    Alegre dos Santos Alves e a mexicana Lizy Navarro Zamora (2002) como pesquisadores que

    utilizam o termo jornalismo digital.

    Para Zamora (2002, p. 2-15), 14 caractersticas identificam o jornalismo digital: ter

    leitura no sequencial, estar em rede mundial, ser instantneo, atualizvel, ter interatividade,

    profundidade, personalizao, disponibilidade, multimdia, confiabilidade, um novo desenho,

    servios gratuitos, uma nova retrica e estar na tela.

    Na opinio de Schwingel (2012), Alves (2004) conseguiu sintetizar em sua definio

    o pensamento de Zamora (2002) e Machado (2000). A autora diz que jornalismo digital

    todo processo discursivo que permite a multisequencialidade; que constri a realidade por meio da singularidade dos eventos que podem ou no ser instantneos e atualizveis; que tem como suporte de circulao as redes telemticas de alcance mundial ou qualquer outro tipo de tecnologia por onde se transmitam sinais numricos; que incorpore a interao com os usurios ao longo do processo produtivo; que tenha a possibilidade de utilizar formatos em texto, udio, imagem fotografada ou em movimento, sendo dessa forma, multimdia, o que demanda novos desenhos e retrica; e que, por fim, disponha de ferramentas que permitam a personalizao do processo por parte de todos os atores envolvidos no processo de produo. (ALVES, 2004, p.6 apud SCHWINGEL, 2012, p. 21).

    Mielniczuk (2003, p. 25) enfatiza que o jornalismo digital tambm denominado de

    jornalismo multimdia, pois implica a possibilidade da manipulao conjunta de dados

    digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem.

    16 todo produto discursivo que constri a realidade por meio da singularidade dos eventos e que tem como suporte

    de circulao as redes telemticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por onde se transmitam sinais numricos

    e que incorpore a interao com os usurios ao longo do processo produtivo (traduo nossa).

  • 23

    Diversos autores defendem o uso do termo ciberjornalismo, por enxergarem essa

    nomenclatura como a mais completa. Martins e Sturza (2010, p. 2) lembram que a expresso

    ciber est relacionada com a ciberntica, e apresentam a definio de Gmes et al. (2002)

    para o termo:

    Ciencia o disciplina que estudia los mecanismos automticos de comunicacin y de control o tcnica de funcionamiento de las conexiones de los seres vivos y de las mquinas autogobernadas, acepcin femenina procedente del griego kybernetike (arte de pilotar o gobernar) y del francs cyberntique, acuada por Norbet Wiener tras postular, en 1948, a la ciberntica como una nueva disciplina cientfica tras sus investigaciones basadas sobre el clculo de probabilidades, el anlisis y la teora de la informacin (GMES et al., 2002 apud MARTINS e STURZA, 2010, p. 2) 17.

    Na definio de Mielniczuk (2003, p. 43), ciberjornalismo pode ser compreendido

    como:

    o jornalismo realizado com o auxlio de possibilidades tecnolgicas oferecidas pela ciberntica ou ao jornalismo praticado no ou com o auxlio do ciberespao. A utilizao do computador, para gerenciar um banco de dados na hora da elaborao de uma matria, um exemplo da prtica do ciberjornalismo (MIELNICZUK, 2003, p.43).

    Para Martins (2011), os cibermeios conjugam, no mesmo espao, texto, imagens,

    vdeos, udio e outras possibilidades, que determinam uma caracterstica de linguagem muito

    particular.

    Aps estudar o assunto mais profundamente, Helder Bastos (2005), que antes fazia uso

    do termo jornalismo eletrnico, tambm passou a adotar o ciberjornalismo. Ele afirma que

    essa nomenclatura resume o jornalismo produzido para publicaes na web por profissionais

    destacados para trabalhar, em exclusivo, nessas mesmas publicaes (BASTOS, 2005, p.2).

    Ainda de acordo com o pesquisador, os ciberjornalistas diferem de outros seus colegas de

    prosso no sentido em que usam as caractersticas particulares da internet no seu trabalho

    dirio: multimdia, interactividade e hipertexto.

    Flor (2006, p.5) apresenta uma definio objetiva ao afirmar que o ciberjornalismo

    utiliza o ciberespao para a produo ou divulgao de contedo jornalstico. Para ela, os

    blogs podem ser citados como exemplo dessa prtica.

    17 Cincia ou disciplina que estuda os mecanismos automticos de comunicao e controle ou tcnica de

    funcionamento das conexes dos seres vivos e das mquinas autogovernadas, a partir do significado grego

    feminino kybernetike (arte de pilotar ou governar) e do francs cyberntique, cunhado por Norbet Wiener aps a

    aplicao, em 1948, da ciberntica como uma nova disciplina cientfica depois de suas investigaes com base no

    balano de probabilidades, anlise e teoria da informao (traduo nossa).

  • 24

    Ramn Salaverra (2009) afirma que o ciberjornalismo a terminologia mais adequada

    em termos de exatido e representao da atividade realizada por meio eletrnico e na internet.

    Isso porque o termo se refere aquella especialidad del periodismo que emplea el ciberespacio

    para la investigacin, la elaboracin y, muy especialmente, la difusin de contenidos

    periodsticos18 (NOCI e SALAVERRA, 2003, p.17 apud SALAVERRA, 2009, p.40).

    O autor complementa seu pensamento ao dizer que, ao utilizarmos essa terminologia,

    os equvocos relativos s demais nomenclaturas deixam de existir. Ele define o cibermeio como

    aquel emisor de contenidos que tiene voluntad de mediacin entre hechos y pblico,

    utiliza fundamentalmente criterios y tcnicas periodsticas, usa el linguage

    multimedia, es interactivo e hipertextual, se actualiza y se publica em la red internet

    (SALAVERRA, 2009, p. 40). 19

    Salaverra (2009) diz ainda que o cibermeio o quarto componente dentro da

    classificao dos meios de comunicao, atrs do rdio, da televiso e do jornalismo impresso,

    pois possui estruturas prprias redacionais, narrativas e discursivas.

    Para ele, as caractersticas que definem os cibermeios rompem com o discurso

    unidirecional dos meios de comunicao de massa e estabelecem uma comunicao

    personalizada e individualizada, onde o usurio deixa de ser passivo para ser ativo e interativo.

    Carla Schwingel definiu ciberjornalismo como a modalidade jornalstica no ciberespao

    fundamentada pela utilizao de sistemas automatizados de produo de contedos

    que possibilitam a composio de narrativas hipertextuais, multimdias e interativas.

    Seu processo de produo contempla a atualizao contnua, o armazenamento e

    recuperao de contedos e a liberdade narrativa com a flexibilizao dos limites de

    tempo e espao, e com a possibilidade de incorporar o usurio nas etapas de produo.

    Os sistemas de gerenciamento e publicao de contedos so vinculados a banco de

    dados relacionais e complexos. (SCHWINGEL, 2012, p. 37).

    Na tentativa de sistematizar de forma simplificada todas as nomenclaturas citadas,

    Luciana Mielniczuk (2003, p.44) sugeriu o seguinte quadro:

    18 quela especialidade de jornalismo que utiliza o ciberespao para a investigao, a elaborao e, muito

    especialmente, a difuso de contedos jornalsticos (traduo nossa). 19 Aquele emissor de contedos que determina a mediao entre os atos e o pblico, que utiliza fundamentalmente

    critrios e tcnicas jornalsticas, utiliza a linguagem multimdia, interativo e hipertextual, se atualiza e se publica

    na internet (traduo nossa).

  • 25

    Quadro 1- Nomenclaturas e definies do jornalismo praticado na internet

    Fonte: Jornalismo na Web: uma contribuio para o estudo do formato da

    notcia na escrita hipertextual (tese de doutorado).

    Neste trabalho, ser adotado o termo ciberjornalismo, uma vez que essa nomenclatura

    diz respeito ao jornalismo que faz uso de uma linguagem multimiditica, hipertextual e

    interativa, que dispe do recurso da memria para armazenar e recuperar dados e que est

    inserido em um contexto de agilidade, por meio da atualizao contnua dos contedos. Por

    esse motivo, considera-se a nomenclatura mais completa e abrangente.

    1.2 CARACTERSTICAS

    As caractersticas do jornalismo feito para a internet resumem sua especificidade, ou

    seja, as potencialidades oferecidas para essa nova modalidade jornalstica.

    Conforme Palcios (2003, p.18), so muitos os formatos possveis e complementares

    que exploram essas peculiaridades das TICs (Tecnologias da Informao e da Comunicao).

    Alguns stios web focam na atualizao contnua, enquanto outros aprofundam mais o assunto

    abordado no material jornalstico ao explorar o som, os vdeos e as fotos. H ainda os

    cibermeios que priorizam a interatividade como mtodo de trabalho.

    Mielniczuk (2001) alerta para alguns motivos que impedem os cibermeios de utilizar

    esses elementos de forma completa.

    Tais possibilidades no se traduzem necessariamente em aspectos efetivamente explorados pelos sites jornalsticos, quer por razes tcnicas, de convenincia, adequao natureza do produto oferecido ou ainda por questes de aceitao do mercado consumidor. (MIELNICZUK, 2001, p. 3).

  • 26

    Ainda assim, h consenso a respeito de algumas especificidades que caracterizam esse

    formato jornalstico. A hipertextualidade, a multimidialidade e a interatividade so as trs

    caractersticas principais citadas pelos estudiosos da rea. Porm, alguns pesquisadores

    avanaram nos estudos e propuseram outras peculiaridades do jornalismo feito para a web.

    Bardoel e Deuze (2000 apud PALCIOS, 2004, p.1), pioneiros em pesquisas nessa rea,

    acrescentam uma quarta peculiaridade a estas trs caractersticas: a customizao de contedo.

    Para Palcios (2003, p.17), so seis as principais caractersticas:

    multimidialidade/convergncia, interatividade, hipertextualidade, personalizao, memria e

    atualizao contnua.

    A essas especificidades, Schwingel (2012, p.37) acrescentou mais duas: a

    flexibilizao dos limites de tempo e espao como fator de produo e o uso de ferramentas

    automatizadas no processo de produo.

    Lpez Garca et al., (2009) propem uma classificao segundo o nvel de dinamismo

    dos cibermeios. Dessa forma, os stios web com maior grau de adequao s caractersticas

    propostas (hipertextualidade, multimedialidade, interatividade e frequncia de atualizao) so

    aqueles mais dinmicos.

    A multimidialidade, conforme Palcios (2003, p. 19), est relacionada com a

    convergncia dos formatos das mdias tradicionais na narrao do fato jornalstico, possibilitada

    pelo processo de digitalizao da informao e sua posterior circulao e/ou disponibilizao

    em mltiplas plataformas e suportes, numa situao de agregao e complementaridade.

    Schwingel (2012) complementa essa definio ao afirmar que a multimidialidade pode ser

    compreendida como a

    utilizao de texto, som e imagem na construo da narrativa jornalstica. De acordo com as delimitaes do ciberjornalismo, a multimidialidade necessariamente se vincula composio narrativa atravs de um sistema de publicao associado base de dados prpria (do produto ou organizao jornalstica). (SCHWINGEL, 2012, p.54).

    Vieira (2009, p.57) afirma que uma pea multimdia tem como mais valia a capacidade

    de dar a escolher ao leitor as suas formas de interpretar a histria, seja ela composta por texto,

    udio, vdeo, etc. Ainda de acordo com o pesquisador,

    apresentando o termo de uma forma mais simplificada, multimdia no mais do que um sistema onde esto reunidas as caractersticas de vrios media e que, ao mesmo tempo, concede novos poderes aos utilizadores. Conceitos como criatividade, liberdade de escolhas e maior eficincia esto intrinsecamente ligados ao multimdia,

  • 27

    garantindo que a audincia est perante a melhor forma de compreender a mensagem (VIEIRA, 2009, p.58).

    Ele tambm afirma que, no contexto especfico do jornalismo produzido para a web,

    multimidialidade relaciona-se com a convergncia dos formatos das media tradicionais

    (imagem, texto e som) na narrao do facto jornalstico.

    Ao detalhar essa caracterstica, Vieira (2009, p.58) apresenta ainda a concepo de

    multimdia de Mike Ward (2002). Ele afirma que a convergncia pode proporcionar vrias

    texturas ao jornalismo. Na definio de Gascn,

    la multimedialidad es uno de los pilares singularizadores del periodismo digital, que utiliza caractersticas hipermediticas desarrolladas en un contexto virtual a partir de los fenmenos de convergencia, conectividad e integracin multimedia (GASCN, 2009, p.7).20

    Outra caracterstica do jornalismo produzido para o ciberespao a hipertextualidade,

    definida por Palcios (2003, p.19) como aquela que possibilita a interconexo de textos, por

    meio dos links (interligaes).

    Schwingel (2012, p.57) sintetizou o significado de hipertextualidade ao dizer que a

    prpria estrutura do protocolo da word wide web, a natureza do ciberjornalismo. Ainda de

    acordo com a pesquisadora,

    a hipertextualidade so as conexes, os links, as vinculaes entre os contedos. a teia que se constri, e percorrida ao deslocar-se por informaes. Esta caracterstica permite trabalhar em termos de contexto e profundidade, ou seja, desdobrando informaes em outras estruturas informativas para aprofundar assuntos, enfoques, pontos de vista. (SCHWINGEL, 2012, p.57).

    Couto (2010, p.21) afirma que a noo de hipertexto surgiu com Vannevar Bush, em

    1945, e que 20 anos mais tarde, Ted Nelson criou a expresso hipertexto, surgida da

    necessidade de organizao documental da sobrecarga informativa que a II Guerra Mundial

    trouxe.

    Conforme a pesquisadora, associado internet, o hipertexto reflete a interconexo entre

    contedos, apresentada de forma personalizada e no linear. Ainda de acordo com Couto

    20A multimidialidade um dos pilares singularizadores do jornalismo digital, que utiliza caractersticas

    hipermiditicas desenvolvidas em um contexto virtual a partir dos fenmenos de convergncia, conectividade e

    integrao multimdia (traduo nossa).

  • 28

    (2010, p.21), por meio dos chamados links, o utilizador tem acesso a informaes

    complementares que podem estar acessveis em diversos formatos.

    Ward (2002), citado por Vieira (2009, p.40), afirma que o hipertexto pode ser encarado

    como o corao da escrita online, aquele que permite novas formas de escrita e de leitura.

    Silva Jnior (2000) destaca a liberdade que os hiperlinks proporcionam ao usurio durante o

    processo de leitura. Ele afirma que, do ponto de vista do leitor, fica colocada a

    possibilidade ativa, de construir sua prpria noo de sentido, a partir no mais de um priori estabelecido, e sim, de uma mirade de possibilidades oferecidas na teia do jogo hipertextual, apropriando-se criativamente daquilo que est disponibilizado ao alcance do seu mouse e da sua vontade. (SILVA JNIOR, 2000, p.29).

    Para Palcios e Noci (2007, p.28), hipertextualidade est relacionada com la

    exploracin de los cibertextos a partir de las nuevas estructuras prototpicas com las que se

    relacionan21. Os dois pesquisadores ressaltam ainda que o estudo da hipertextualidade

    representa uma das prioridades da investigao sobre os gneros e suas tcnicas de construo

    discursiva.

    Palcios e Noci (2007, p. 62) classificam ainda como uma boa definio de hipertexto

    a apresentada pelos autores Mara Teresa Vilario e Anxo Abun Gonzlez na introduo do

    livro coletivo Teora del hipertexto. La literatura en la era electrnica22: El hipertexto []

    es un tipo de texto interactivo, no secuencial, no lineal (o multi-lineal), esto es, no basado em

    una secuencia fija [] cuya secuencialidad pueda variar considerablemente a lo largo de la

    lectura23 (VILARIO e ABUN, 2006, p. 20 apud PALCIOS e NOCI, 2008, p.62).

    Para Salaverra (2009, p.42), o cibermeio definido por sua hipertextualidade, por

    relacionar entre si bloques individuales de informacin mediante enlaces hipertextuales24. O

    autor destaca ainda o impacto da hipertextualidade no processo de redefinio dos gneros

    jornalsticos no ciberespao. Se antes os textos tinham comeo, meio e fim bem definidos, hoje

    o usurio que escolhe a ordem em que ele ler a informao.

    Las tipologas clsicas de los gneros periodsticos han partido siempre de un presupuesto: la unidad del texto. Hasta la llegada del ciberperiodismo, se presupona que todo gnero contaba con unas lindes claras. El texto posea un arranque, un

    21 A explorao dos cibertextos a partir das novas estruturas padro com as que se relacionam (traduo nossa). 22 Teoria do hipertexto. A literatura na era eletrnica (traduo nossa) 23 O hipertexto [...] um tipo de texto interativo, no sequencial, no linear (ou multilinear), isto , no baseado

    em uma sequncia fixa [...] cuja sequencialidade pode variar consideravelmente ao longo da leitura (traduo

    nossa). 24 blocos individuais de informao usando links de hipertexto (traduo nossa).

  • 29

    desarrollo y un final plenamente reconocibles, dispuestos en un orden discursivo establecido por el periodista bien en el espacio (en prensa impresa) o bien en el tiempo (en radio y televisin). Con la hipertextualidad, los textos periodsticos pierden esa anterior unidad estructural por dos motivos: porque habitualmente el lector puede acceder a la informacin desde cualquiera de los nodos hipertextuales no necesariamente desde el primero , y porque es de ordinario el prprio lector el que, una vez dentro de la informacin, puede determinar el orden en que leer esos nodos25 (SALAVERRA, 2009, p. 147).

    A interatividade, apontada por muitos autores como uma das principais caractersticas

    do ciberjornalismo, potencializa a comunicao entre o emissor e o receptor da informao.

    Na concepo de Barzoel e Deuze26, caracteriza a participao do usurio no processo

    jornalstico, seja por meio de e-mails, na seo de opinio dos leitores ou nos fruns de

    discusso. Martins (2010, p.1) refora essa ideia ao afirmar que a interatividade permite, como

    a nenhum outro meio, a possibilidade do produtor jornalstico obter feed back imediato de sua

    produo.

    Suzana Barbosa (2001)27 define a interatividade como sinnimo de participao ativa

    do consumidor da notcia.

    Seja atravs de e-mail redao, sugerindo assuntos a serem abordados, de mensagem enviada diretamente ao redator da matria, ou ainda atravs da opo envie seus comentrios sobre esta matria', o leitor ter participao ativa, interferindo no contedo e opinando diretamente na produo da informao (BARBOSA, 2001).

    Rosental Calmon Alves (2006) ressalta que o carter interativo da internet tira o

    monoplio da notcia das mos do jornalista.

    O jornalista vai perdendo o monoplio do jornalismo, enquanto cidados, que at bem

    pouco tempo atrs no tinham como publicar e chegar a grandes audincias,

    encontram na web formas de comunicar suas mensagens. O receptor passivo do velho

    esquema comunicacional se transforma assim num emissor ativo, com potencial at

    de, em certos casos, chegar a audincias comparveis s dos meios de comunicao

    de massa tradicionais. (ALVES, 2006, p.99).

    25 As tipologias clssicas dos gneros jornalsticos tm partido sempre de um pressuposto: a unidade do texto. At

    a chegada do ciberjornalismo, supunha-se que todo gnero contava com limites claros. O texto possua um comeo,

    um desenvolvimento e um final plenamente reconhecveis, dispostos em uma ordem discursiva estabelecida pelo

    jornalista bem no espao (no impresso) ou bem no tempo (no rdio e na televiso). Com a hipertextualidade, os

    textos perdem essa unidade estrutural anterior por dois motivos: porque habitualmente o leitor pode conectar-se

    informao a partir de qualquer um dos ns hipertextuais no necessariamente a partir do primeiro -, e porque natural que o prprio leitor, uma vez dentro da informao, pode determinar a ordem em que ler esses ns

    (traduo nossa). 26 BARZOEL e DEUZE, 2000 apud Mielniczuk, 2001, p.3. 27Disponvel em: . Acesso em: 25 de maio

    de 2014.

  • 30

    O pesquisador complementa seu pensamento a respeito da interatividade ao enfatizar

    que o jornalismo deixou de ser privilgio dos jornalistas e os prprios meios de comunicao

    que entenderam isso esto convidando constantemente os seus leitores, telespectadores ou

    ouvintes a enviar suas contribuies.

    Carla Schwingel (2012, p.56) elencou seis aspectos para sistematizar a interatividade,

    tendo em vista os procedimentos do ciberjornalismo:

    do usurio com as ferramentas interativas quando o usurio abre um

    programa para envio de e-mail ou de mensagens instantneas, ou quando entra

    em uma pgina web com as ferramentas embutidas no cdigo para proceder a

    interao preenchendo as informaes necessrias, por exemplo.

    do usurio com os contedos navegao: ocorre a escolha dos caminhos a

    serem percorridos, do que ser lido, h a interao em termos de escolha. o

    nvel mais baixo de interatividade que, para Arlindo Machado (1997), seria

    reatividade.

    do usurio com os contedos incluso: o usurio altera o contedo, seja atravs

    de comentrios, do envio de matrias, com textos, fotografias ou vdeos.

    do usurio com a equipe de produo (ou jornalistas): o usurio contata com o

    jornalista atravs de uma ferramenta ou sistema, h a inteno de fazer chegar

    sua informao ao editor ou reprter. Aqui, houve primeiramente a

    interatividade com a ferramenta. E a interao se completa quando h a resposta

    da equipe.

    do usurio com outro ou outros usurios: quando h ferramentas de conversao

    ou blogs abertos associados que no necessitem a interveno da equipe de

    produo.

    do contedo com o contedo: no caso dos sistemas, dos recursos da web 2.0,

    com a utilizao de metadados que permitem a vinculao automatizada de

    contedos a contedos, sem a ao consciente do usurio (SCHWINGEL,

    2012, p. 56).

    A pesquisadora acrescenta que as formas de interatividade elencadas vo definir o nvel

    de envolvimento do usurio com os processos de apurao, produo e circulao das

    informaes.

  • 31

    A customizao de contedo ou personalizao, de acordo com Palcios (2003, p.19),

    consiste na opo oferecida ao usurio para configurar os produtos jornalsticos de acordo com

    os seus interesses individuais.

    Para Suzana Barbosa (2001), a customizao de contedo se d por meio do prprio

    percurso escolhido pelo leitor para ter acesso s informaes. Em sua opinio, uma

    caracterstica do ciberjornalismo ligada relao com os leitores,

    pois lhes assegura tambm a possibilidade de personalizar os contedos atravs do recebimento de informaes sobre determinados assuntos do seu interesse. Ou seja, pode ter um produto jornalstico ajustado s suas necessidades de informao. Alguns sites at permitem ao usurio criar a sua webpage, onde pode observar suas escolhas pessoais de notcias. (BARBOSA, 2001).

    Nas palavras de Silva Jnior (2000, p. 64), personalizao de contedo quer dizer que

    o mesmo contedo base pode ser moldado para diferentes usurios da informao jornalstica

    segundo as preferncias e/ ou histrico pertinentes a cada um deles. Ele afirma que, com a

    personalizao, o contedo jornalstico passa a ter a configurao de uma potncia, ou seja,

    de uma srie de contedos armazenados no mais como depsito ou arquivo, e sim, como uma mirade de contedos, atualizveis segundo a lgica de preferncia, histrica e hipertextual de cada usurio. Gerando processos efmeros de publicizao eletrnica, atualizveis vrias vezes ao dia, e diferenciados entre si, de acordo com a sua inter-relao com usurios especficos. (SILVA JNIOR, 2000, p. 65).

    Para Schwingel (2012, p. 57), a customizao de contedo o processo em que o leitor

    escolhe o que ele deseja receber, e de que forma ele vai hierarquizar essas informaes de

    acordo com seus interesses: customizar relaciona-se escolha prvia, opo de leitura e

    acesso, portanto, atravs deste parmetro, o usurio pode alterar os critrios editoriais do

    produto.

    A memria, conforme Palcios, configura-se em uma caracterstica singular de

    acumulao de informaes, uma vez que muito mais barato guardar dados na internet do que

    em outras mdias. O autor enfatiza que,

    da mesma forma que a quebra dos limites fsicos na web possibilita a utilizao de um espao praticamente ilimitado para a disponibilizao de material noticioso, sob os mais variados formatos (multi)mediticos, abre-se a possibilidade de disponibilizao online de toda informao anteriormente produzida e armazenada, atravs da criao de arquivos digitais, com sistemas sofisticados de indexao e recuperao da informao. (PALCIOS, 2003, p. 25).

  • 32

    O pesquisador ressalta ainda que tanto o produtor da informao quanto o usurio

    podem recuperar a memria no jornalismo na web, atravs de arquivos on-line providos com

    motores de busca (search engines) que permitem mltiplos cruzamentos de palavras-chaves e

    datas (indexao).

    Segundo Palcios (2003, p.25), o jornalismo tem na web a sua primeira forma de

    Memria Mltipla, Instantnea e Cumulativa, sem limitaes de espao, numa situao de

    extrema rapidez de acesso e alimentao (Instantaneidade e Interatividade e de grande

    flexibilidade combinatria (Hipertextualidade).

    Machado (2001, p.4) destaca que a prtica de coleta de dados nas redaes foi totalmente

    alterada pelos recursos oferecidos pelas redes de circulao de notcias. Se antes o jornalista

    necessitava perder muito tempo consultando arquivos fsicos de maneira completamente

    arcaica, hoje o lugar da documentao e da memria foi totalmente alterado. Nesse sentido, ele

    ressalta que a documentao, atravs dos enlaces entre os artigos ou reportagens similares, se

    converte em uma fonte noticiosa direta, impensvel nos meios convencionais e sem a qual se

    pode dizer que os contedos so incompletos (MACHADO, 2001, p.4).

    Esse pensamento reforado por Canavilhas (2006, p.5), que destaca a fora da

    memria para o ganho de qualidade da informao: a possibilidade de ligar uma nova notcia

    aos seus antecedentes permite o enriquecimento do jornalismo graas contextualizao dos

    fenmenos.

    Outra caracterstica do ciberjornalismo proposta por Palcios (2003, p.20), entre outros

    tericos, a instantaneidade ou atualizao contnua. Na internet, de acordo com ele, a

    rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produo e de disponibilizao, propiciadas

    pela digitalizao da informao e pelas tecnologias telemticas, permitem uma extrema

    agilidade de atualizao do material nos jornais da web.

    Machado, Kerber e Manini (2008, p.7) observam que uma das caractersticas que mais

    indica a criao de processos adaptados ao ciberespao, a atualizao contnua dos

    contedos.

    Suzana Barbosa (2001) afirma que essa caracterstica do ciberjornalismo acaba

    prendendo o leitor aos stios web de sua preferncia, uma vez que o usurio sempre est em

    busca de informao nova sobre determinado assunto.

  • 33

    No meio eletrnico-digital, a atualizao dos contedos acontece de maneira constante, no h dead line estabelecido. Em qualquer momento, na medida em que novas informaes ou acontecimentos vo sendo produzidos, pode-se disponibilizar algo novo. Esta renovao contnua tem a inteno de manter o leitor/internauta mais tempo dentro de determinado site, entretido em suas pginas e links e recebendo informao nova. (BARBOSA, 2001).

    Schwingel (2012) aponta que o diferencial dessa potencialidade foi um dos primeiros

    mecanismos que caracterizou o ciberjornalismo ltimas notcias, em que o leitor pode

    acompanhar os desdobramentos de um acontecimento. A pesquisadora enfatiza ainda que essa

    peculiaridade gerou o fim do horrio de fechamento das redaes, alterando as rotinas de

    produo. (SCHWINGEL 2012, p. 58).

    Silva Jnior (2000, p. 55) corrobora com essa ideia ao afirmar que isto verifica-se na

    medida em que a audincia se apercebe que j no tem de esperar pelo dia seguinte para ler o

    jornal, ou pela hora de jantar para assistir ao telejornal.

    Alm das caractersticas do ciberjornalismo aqui postas, Schwingel acrescentou mais

    duas. A primeira delas a flexibilizao dos limites de tempo e espao como fator de

    produo, que segundo a pesquisadora consiste na possibilidade que o jornalista ou o cidado

    tem, no caso do jornalismo colaborativo, de utilizar a quantidade de tempo e espao que deseja

    ao compor uma matria, ao elaborar determinada narrativa. Essa caracterstica, de acordo com

    Schwingel, est intimamente ligada ao hipertexto, uma vez que ele quem vai estruturar a

    narrativa em nveis de importncia das informaes.

    A liberdade de tempo, espao e recursos materiais e econmicos uma vantagem

    oferecida pelos cibermeios, ao contrrio do que acontece nos veculos impressos, onde h

    caractersticas limitadoras. Mas preciso atentar-se ao fator factualidade, que est intimamente

    ligado atualizao contnua dos contedos. A questo debatida pela prpria pesquisadora ao

    citar o posicionamento de Santos (2002) e Barbosa (2002), que alertam para a possibilidade de

    um afrouxamento dos critrios de noticiabilidade a partir da inexistncia de uma delimitao

    para a narrao da notcia em termos de factualidade.

    A segunda caracterstica apontada pela pesquisadora est relacionada s ferramentas

    automatizadas no processo de produo, parmetro que, de acordo com ela, compreende a

    utilizao de sistemas de gesto de contedos para organizar as informaes do produto,

    associados a bancos de dados prprios ou da organizao jornalstica.

    Um dos diferenciais dessa caracterstica o uso de agregadores de informaes como

    os blogs e ferramentas relacionadas com as redes e as mdias sociais, que formam comunidades

    em torno do produto.

  • 34

    1.3 FASES

    Para compreender a evoluo do ciberjornalismo, pesquisadores dividiram esse

    processo em fases ou geraes. Conforme a classificao proposta inicialmente por Luciana

    Mielniczuk (2001), do GJOL (Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online) da Faculdade de

    Comunicao da Universidade Federal da Bahia, o jornalismo praticado na internet pode ser

    situado como:

    1) Transpositivo modelo onde os produtos oferecidos eram, na maioria das vezes,

    reprodues do que era publicado pelos jornais impressos. Ainda conforme a

    pesquisadora, o que era chamado de jornal online no passava da transposio de

    uma ou duas das principais matrias de algumas editorias. Este material era

    atualizado a cada 24 horas, de acordo com o fechamento das edies do impresso

    (MIELNICZUK, 2001, p.2).

    2) Metfora mesmo vinculados ao jornal impresso, os produtos comeam a

    apresentar tentativas de explorao das potencialidades da internet. Nesta fase,

    comeam a aparecer editorias nomeadas de planto ou ltimas notcias, onde

    so divulgados os fatos novos que acontecem entre as edies do impresso. O

    cenrio s comeou a se transformar quando algumas empresas deram incio a

    projetos editoriais exclusivos para a internet.

    3) Jornalismo de terceira gerao fase onde os produtos ou servios so especficos

    para a web. Os stios web utilizam vrios recursos multimdia, como vdeos,

    animaes e hiperlinks, e so interativos, ou seja, o leitor pode discutir e tornar

    pblica sua opinio sobre os assuntos noticiados.

    A partir de 2004, pesquisadores do GJOL como Suzana Barbosa, Marcos Palcios, Elias

    Machado, Carla Schwingel e Lucas Almeida Rocha, propuseram uma quarta fase para o

    ciberjornalismo, considerando o desenvolvimento de produtos articulados em torno de bases de

    dados complexas e a utilizao de ferramentas automatizadas e diferenciadas. De acordo com

    eles, esse processo se deu de 2002 em diante.

  • 35

    Na prtica, estes diferentes modelos so complementares, podendo existir ou no em

    um mesmo perodo. O que sim muda nas diferentes fases que em cada uma delas

    um novo tipo de modelo passa a ser o predominante, relegando os demais a posies

    secundrias. (PALCIOS et al., 2005, p.1).

    Diante da classificao proposta, Schwingel (2012) sugere uma nova sistematizao,

    visando compreender mais profundamente a evoluo histrica do ciberjornalismo, em funo

    dos produtos gerados:

    a) Experincias pioneiras comeo no fim da dcada de 1960 com os processos de

    digitalizao e informatizao. Exemplos desse processo: fax, clipping via telnet,

    associao com BBSs e provedores restritos de internet.

    b) Experincias de primeira gerao comeo em 1992, com a apario de notcias em

    pginas da web. Processo transpositivo e processo de produo igual ao do impresso.

    c) Experincias de segunda gerao a partir de 1995, com a utilizao de algumas

    potencialidades da internet, como a personalizao e interatividade. Mesmo com

    funes distintas no processo de produo, tudo ainda permanece ligado ao modelo

    metafrico do impresso.

    d) Experincias de terceira gerao comea em 1999, quando acontece a desvinculao

    com o modelo do impresso e os produtos aproveitam as possibilidades do ciberespao

    de forma mais plena. H um processo de produo diverso do impresso e a integrao

    do udio e do vdeo aos produtos. Comeam a ser usados os sistemas de gesto de

    contedos, a partir dos bancos de dados integrados.

    e) Experincias ciberjornalsticas a partir de 2002, com o uso dos bancos de dados

    integrados das empresas de comunicao, uso do sistema de produo de contedos e

    deflagrao do jornalismo colaborativo, onde o usurio participa do processo de

    produo (SCHWINGEL, 2012, p. 46).

    Silva Jnior (2000, p.62) entende que a migrao das caractersticas do suporte impresso

    ao suporte e interface computadorizados, ainda est em curso e em permanente

    desenvolvimento de possibilidades. A partir dessa perspectiva, ele afirma que o

    desenvolvimento do ciberjornalismo est posto em trs etapas, at o momento:

    1) Transpositiva quando a formatao e organizao seguiam o modelo do impresso.

    No h agregao significativa de recursos possibilitados pela tecnologia da Internet.

    2) Perceptiva quando a produo do impresso reaproveitada para a internet, mas h

    uma potencializao da notcia. Nesta fase, h uma percepo dos veculos de

  • 36

    comunicao em relao aos elementos necessrios para a organizao de notcias na

    rede, o que criou uma base para o desenvolvimento das modalidades hipermiditicas do

    jornalismo.

    3) Hipermiditica h uso de recursos hipertextuais, convergncia entre suportes e

    disseminao de um mesmo produto em vrias plataformas (SILVA JNIOR, 2000,

    p.63).

    Schwingel (2002, p.44) aponta que Pavlik (2001) tambm sistematiza em trs geraes a

    evoluo do ciberjornalismo. Alm da descrio semelhante aos pesquisadores do GJOL das

    duas primeiras fases (transpositiva e da metfora do impresso), ele destaca que a terceira

    gerao formada por produtos exclusivos para internet. Conforme o pesquisador, essa etapa

    estaria para ser estabelecida no comeo dos anos 2000.

    Pryor (2002), tambm citado por Schwingel (2002, p.44), denomina este estgio como a

    terceira onda do jornalismo digital. Ele caracteriza essa fase pela interatividade, ou seja, pelas

    novas maneiras de apresentar as notcias da comunidade, por meio de ferramentas como fruns,

    por exemplo, que motivam o dilogo entre os leitores e os jornalistas.

    Anterior a essa fase, vem a primeira onda, onde os veculos de comunicao controlavam

    todo o processo e o leitor tinha poucos canais para expressar seu pensamento. Nessa fase,

    situada nos anos 80, a interatividade dos consumidores da notcia com os veculos de

    comunicao era pouca ou inexistente. Conforme Antnio Jos Silva (2005), uma segunda

    onda, que ganhou momento entre 1993 e 2001,

    caracterizada por Larry Pryor como o momento do florescimento do controlo por

    parte dos utilizadores. Mais do que consumidores, os utilizadores transformaram-se

    tambm em produtores de contedos para a Internet atravs da criao de weblogs.

    (SILVA, 2005).28

    Gonzlez (2000) sugeriu trs modelos evolutivos dos produtos no ciberespao: fac-

    similar, adaptado e digital. H 14 anos, a pesquisadora j previa a quarta fase, que ela chamou

    de multimdia. O modelo atual de ciberjornalismo, de acordo com ela, chegou a partir do

    aumento da potncia da banda larga e da melhoria na velocidade de transmisso de dados.

    A primeira fase constitui-se, segundo a pesquisadora, em um modelo mais primitivo,

    que corresponde ao nascimento da maioria dos jornais na internet. De acordo com Gonzlez

    28 Disponvel em: . Acesso em: 28 de julho de

    2014.

  • 37

    (2000), a reproduo da pgina do jornal era inserida na rede mundial de computadores por

    meio de um scanner.

    No segundo modelo, o adaptado, h aproveitamento de alguns elementos grficos

    utilizados na verso impressa e o uso do hipertexto, mas os recursos interativos oferecidos pela

    internet no so completamente explorados. A fase digital do ciberjornalismo classificada

    pela pesquisadora como o terceiro momento, onde o modelo grfico das pginas mais

    evoludo, criado especificamente para a verso on-line do jornal. El modelo digital goza de

    texto y diseo exclusivos para su edicin, y empieza a utilizar recursos expresivos y

    multimediales29 (GONZLEZ, 2000)30.

    O atual modelo, j indicado em 2000 nos textos da pesquisadora, permite o

    aproveitamento das caractersticas da internet, cada vez mais presentes no ciberespao.

    29O modelo digital tem texto e design exclusivos para sua edio, e comea a usar recursos expressivos e

    multimiditicos (traduo nossa). 30 Disponvel em: < http://www.revistalatinacs.org/aa2000yen/149MALAGA.html >. Acesso em: 28 de julho de 2014.

  • 38

    2 - CIBERJORNALISMO EM MATO GROSSO DO SUL

    A trajetria do ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul teve incio em 1997, a partir da

    expanso da internet no Brasil. Neste captulo, ser relatado um pouco da histria dos mais

    importantes cibermeios do Estado.

    O jornal O Progresso31, de Dourados, foi o primeiro stio web local a disponibilizar seu

    contedo na rede, embora de maneira transpositiva. No ano seguinte, o jornal Correio do

    Estado32 criou sua verso on-line, tambm reproduzindo na web o que era distribudo no

    impresso.

    Conforme Karina Lima (2000, p. 9), a pgina do jornal O Progresso na internet era

    uma cpia viva do jornal impresso. Em entrevista pesquisadora, Gerivaldo Pinheiro de

    Andrade, do setor de informtica do jornal, disse que o veculo optou por destinar funcionrios

    da prpria empresa para abastecer a pgina, com vistas segurana das informaes a serem

    veiculadas. Nos primeiros meses de funcionamento do cibermeio, em 1997, apenas um

    funcionrio cuidava da edio virtual do jornal.

    A entrada de O Progresso na internet foi motivada pela concorrncia. O jornal queria

    sair na frente dos outros veculos lanando sua pgina poucos anos depois da chegada da

    internet no Brasil, o que ocorreu em 1995. Durante entrevista a Karina Lima (2000), Gerivaldo

    detalhou essa passagem:

    A empresa decidiu-se pelo jornalismo on-line aps uma anlise de mercado, e por

    inmeros pedidos de assinantes que tm filhos no exterior. Outro motivo foi para no

    perder espao para os concorrentes virtuais e para os jornais do estado e do Brasil.

    (LIMA, 2000, p. 10).

    Ao contrrio do que acontece nos dias de hoje, no incio, os espaos publicitrios no

    eram comercializados na internet. O impresso sustentava as duas vertentes da empresa.

    Maria Lcia Tolouei, uma das editoras do jornal, conta que, no incio, no havia

    redao nem editor. Nos primeiros anos, era um canal on-line onde o leitor podia ler de qualquer

    parte do mundo as notcias de O Progresso impresso33.

    De acordo com a jornalista, h cerca de dois anos, houve uma reformulao no stio

    web, e um funcionrio do jornal, alm de transpor o contedo do impresso, abastece a pgina

    31Disponvel em: . Acesso em: 22 de julho de 2014. 32Disponvel em: . Acesso em: 25 de julho de 2014. 33 Entrevista concedida via e-mail dia 2 de agosto de 2013.

  • 39

    com colunas, notcias escritas especialmente para O Progresso na internet, e com informaes

    de outros veculos. A atual editora do cibermeio a jornalista Marli Lange.

    O Correio do Estado comeou a circular em 1954 em Mato Grosso do Sul e iniciou em

    1998 os trabalhos para colocar no ar sua pgina na internet. Lima (2000, p. 7) relata que o

    primeiro webmaster do jornal, Edson Luiz Bassani, foi contratado nesta poca para desenvolver

    o stio web, trabalho que ficou pronto em dois meses.

    Porm, a pgina estreou sem alarde, pois os proprietrios do grupo Correio do Estado

    queriam fazer todos os ajustes necessrios e corrigir possveis erros antes que a populao

    tivesse conhecimento do novo veculo. O site foi colocado imediatamente no ar, mas sem

    divulgao ao pblico (LIMA, 2010, p.7).

    Inara Silva (2001, p.14) revela que o veculo comeou a ocupar de fato seu espao na

    web em janeiro de 2000. Assim como O Progresso, o Correio do Estado era completamente

    transpositivo em sua fase inicial.

    Paula Andria Fernandes (2006) endossa essa informao e acrescenta que, apenas em

    alguns poucos casos, jornalistas do impresso eram acionados para engrossar o noticirio do

    stio web. O jornal abriu excees apenas para os perodos de eleies, colocando os jornalistas

    de todos os veculos do grupo na cobertura do pleito (FERNANDES, 2006, p.20).

    No incio de seus trabalhos, o Correio do Estado on-line possua 11 editorias: Artigos,

    Brasil, Campo Grande, Classificados, Dilogo, Economia, Esportes, Geral, Polcia, Poltica e

    Ponto de Vista.

    Tambm havia espao destinado aos indicadores financeiros e previso do tempo. Na

    seo Artigos, era disponibilizado um dos textos opinativos veiculados na verso impressa

    do jornal. Nas demais editorias, havia fragmentos de algumas matrias publicadas na edio

    impressa, geralmente oferece apenas o lead e o sub lead e sem informaes complementares ao

    impresso (SILVA, 2001, p. 14).

    O editorial era copiado na ntegra na seo Ponto de Vista e a cpia da capa impressa

    podia ser vista por meio de um pop-up34, com informaes ilegveis e sem hipertextos.

    34Janela extra que abre no navegador ao visitar uma pgina web ou acessar uma hiperligao especfica.

  • 40

    Figura 1 - Parte da capa do jornal Correio do Estado em novembro de 2000.

    Fonte: web.archive.org/web

    A seo Canal Aberto era o nico espao destinado interatividade com o leitor. Nele,

    eram disponibilizados os e-mails da redao (divididos por editorias), endereo da

    administrao do jornal, diretoria, classificados, fotos, suporte e webmaster. Mesmo assim,

    conforme Silva (2001, p.16), no havia qualquer espao para a publicao das opinies dos

    leitores, como crticas ou sugestes. O nico canal relativamente interativo era a enquete.

    O editor do Correio do Estado on-line em 2000, Maurcio Hugo, conta uma histria

    parecida com a do jornal O Progresso sobre os motivos que fizeram o grupo apostar em uma

    pgina na internet. Em entrevista a Inara Silva (2000, p.24), ele diz que o impresso foi

    transportado para a rede mundial de computadores para acompanhar o restante dos jornais

    brasileiros, que esto ocupando espao na web. A ideia para o futuro era a de compor a edio

    digital com matrias em tempo real, atualizadas constantemente, e disponibilizar,

    paralelamente, a publicao do dia do jornal impresso na internet.

    Maurcio Hugo era o nico responsvel por abastecer o stio web. Isso era feito apenas

    uma vez por dia, sempre meia-noite.

    Em 1999, os portais locais de informao, tambm chamados de portais regionais,

    comearam a ganhar fora no Brasil (BARBOSA, 2001, p.12). Foi nesse mesmo ano que

  • 41

    comeou a atuar em Mato Grosso do Sul o primeiro stio web noticioso independente de outro

    meio de comunicao, com disponibilizao de notcias das 7h s 19h, o Campo Grande

    News35.

    Figura 2 - Segundo layout do Campo Grande News, em 06/06/2000

    Fonte: web.archive.org/web

    Inicialmente, os scios da empresa Lucimar Couto e Miro Ceolim entenderam que

    o empreendimento seria ousado, por enxergarem a internet como um veculo caro e ainda de

    pouco acesso populao. pesquisadora Karina Lima (2000, p.10), Lucimar Couto tambm

    revelou que decidiu trabalhar com jornalismo online por acaso, pois acabara de sair de uma

    campanha poltica e encontrava-se desempregado.

    Silva (2010) ressalta que Lucimar Couto era um jornalista de impresso, e por isso

    suspeitava que iria enfrentar muitas dificuldades com o desafio. Isto porque a Internet, em

    1999, ainda era conhecida de pouca gente, sem contar que o computador era pouco acessvel e

    considerado um equipamento caro (SILVA, 2010).

    35

  • 42

    Mesmo assim, apostaram na ideia, no apenas reproduzindo notcias como outros

    veculos de comunicao que j estavam na rede, mas disponibilizando material novo,

    informao apurada, conforme atesta TELLAROLLI (2006):

    Enquanto os grandes veculos de comunicao passaram a meramente disponibilizar

    seu contedo impresso e televisivo em sites prprios, o portal Campograndenews

    surgia como empresa independente de outros veculos de comunicao. Sua produo

    de contedos foi desenvolvida diretamente para o jornalismo on-line. (TELLAROLI,

    2006, p. 54).

    Como no tinham condies estruturais de competir com grandes portais nacionais,

    Lucimar Couto e Miro Ceolim decidiram trabalhar apenas com notcias locais. Com melhor

    acesso aos entrevistados, rgos governamentais e todo o tipo de fontes para reportagens, o

    jornalismo regionalizado foi a melhor opo para a empresa.

    De acordo com Silva (2010), a estrutura inicial era pequena, com apenas um jornalista

    (o prprio Lucimar Couto), um webmaster (Adriano Hany) e uma estudante de jornalismo

    (Tarsila Cunha) atuando no veculo. No comeo, de acordo com a pesquisadora, o trabalho era

    mais lento e chegava a haver intervalo de duas horas sem que uma notcia fosse publicada.

    Segundo Fernandes (2006), Lucimar Couto ia at o local do acontecimento, fazia a

    cobertura e, por conta da inexperincia da estagiria na lida com o texto, a matria era ditada

    por telefone. Em questo de meses, a primeira estagiria do jornalismo digital do estado passou

    a ter mais domnio da linguagem da web agilizando a captao, apurao e veiculao de

    matrias no espao ciberntico (FERNANDES, 2006, p. 22).

    Cinco meses depois de entrar no ar, por causa da necessidade de aumentar a produo

    de notcias, o Campo Grande News contratou o segundo jornalista para a equipe. Tellaroli

    (2007, p. 108) relata que o prprio Lucimar Couto, que no apostava no potencial da internet,

    ficou surpreso quando, em um nico ms, o stio web alcanou a marca de 20 mil visitas.

    Tellaroli (2007, p. 98) informa que, tambm em 1999, o jornal Primeira Hora36 comeou

    a investir na web e o jornal Folha do Povo37 foi disponibilizado na internet com 20% de cpia

    de contedo.

    Assim como o Correio do Estado, a Folha do Povo no colocou a pgina no ar para ter

    rentabilidade, mas por uma necessidade de mercado, para no ficar para trs na concorrncia

    (LIMA, 2000, p.8).

    36 (Hoje o endereo direciona para o blog Jornal do Estado). 37

  • 43

    O stio web do jornal Primeira Hora, conforme Lima (2000, p.9), surgiu em julho de

    1999 e era um resumo do impresso. Na poca, havia espaos para banners, mas a procura era

    pequena. Maurcio Nantes Dias, da equipe de suporte tcnico, contou pesquisadora que esse

    baixo interesse pela publicidade acontecia porque pouca gente acreditava no potencial da

    internet.

    Lima (2000, p.13) destaca que o ciberjornalismo em