Perfil do Ecossistema Hotspot de Biodiversidade do...

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Perfil do Ecossistema Hotspot de Biodiversidade do Cerrado Abril 2016

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Perfil do Ecossistema

Hotspot de Biodiversidade do Cerrado

Abril 2016

2

Equipe responsvel pela elaborao do Perfil do Ecossistema:

Donald Sawyer ISPN, Coordenador

Beto Mesquita Conservao Internacional

Bruno Coutinho Conservao Internacional

Fbio Vaz de Almeida ISPN

Isabel Figueiredo ISPN

Ivana Lamas Conservao Internacional

Ludivine Eloy Pereira Consultora independente

Luiz Paulo Pinto Consultor independente

Mauro Oliveira Pires Consultor independente

Thas Kasecker Conservao Internacional

Com o apoio de:

Joo Guilherme Cruz ISPN

Juliana Napolitano ISPN

Renata Ceolin ISPN

Renato Arajo ISPN

Silvana Bastos ISPN

David Hathaway Consultor independente

Felipe Lenti Consultor independente

Maria Isabel Martnez Consultora independente

Andra Zimmermann Matres Socioambiental

Elise Dalmaso Matres Socioambiental

Marina Palhares Matres Socioambiental

Renata Navega Matres Socioambiental

Conselho Consultivo Snior:

Adriana Moreira Lder Global de Biodiversidade, Banco Mundial

Ana Cristina Barros Secretria Nacional de Biodiversidade e Florestas, Ministrio

do Meio Ambiente

Andr Nassar* Secretrio Nacional de Poltica Agrcola, Ministrio da

Agricultura, Pecuria e Abastecimento

Debora Castellani Diretora de Pesquisa, Natura

Edite Lopes de Souza Agncia 10envolvimento

Elaine Barbosa Silva Laboratrio de Processamento de Imagens e Geoprocessamento

(LAPIG), Universidade Federal de Gois (UFG)

Fbio Scarano Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fundao

Brasileira de Desenvolvimento Sustentvel (FBDS)

Ftima A. G. de Moura Federao de Organizaes para Assistncia Social e Educacional

(FASE)

Jean-Franois Timmers WWF Internacional

Jlio Cesar Sampaio WWF Brasil, Coordenador do Programa Cerrado

Laerte Ferreira* Laboratrio de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), Universidade Federal de Gois (UFG)

Luiz Fernando Merico Coordenador Nacional da IUCN

3

Marcelo de Paula* Ponto Focal Operacional do GEF, Secretaria de Assuntos Internacionais (SEAIN), Ministrio do Planejamento, Oramento e

Gesto (MP)

Mercedes Bustamante* Departamento de Ecologia, Universidade de Braslia (UnB)

Selma Yuki Ishii* Alternativas para a Pequena Agricultura do Tocantins (APA-

TO)

Valmir Soares de Macedo Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV)

*Assessores que aceitaram ou manifestaram interesse na participao, mas no colaboraram

diretamente para a elaborao do Perfil do Ecossistema.

Na preparao do Perfil do Ecossistema do Cerrado um grande nmero de especialistas,

colaboradores e partes interessadas participou generosamente de pelo menos uma das oficinas

de consulta, da reunio do Conselho Consultivo ou de entrevistas pessoais. No entanto, os

conceitos e propostas apresentados neste perfil no necessariamente refletem seus pontos de

vista.

A Conservao Internacional e o ISPN agradecem s seguintes pessoas:

Aldicir Scariot Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genticos e Biotecnologia

(CENARGEN), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA)

Adolfo Dalla Pria Pereira Centro de Desenvolvimento Sustentvel (CDS), Universidade de Braslia

(UnB)

Adriana Moreira Banco Mundial

Adriano Ferreira da Silva Movimento dos Trabalhadores Camponeses (MTC)

Alessandra Chaves Associao de Agricultores e Irrigantes da Bahia(AIBA)

lvaro Alves Carrara Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA/NM)

Ana Cristina Barros Secretria de Biodiversidade e Florestas do Ministrio do Meio Ambiente

(MMA)

Analise Cristoldo Romero Fundao Mais Cerrado

Andr Ramalho Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentavel

(CEBDS)

Andrew Miccolis Centro Agroflorestal Mundial (ICRAF)

Aneliza Miranda Melo Instituto Estadual de Florestas (IEF), Minas Gerais

Asier Santellan Comisso Europeia

Beatriz Secaf Associao Brasileira do Agronegcio (ABAG)

Bruno Lopes Rocha Mello Fundao Mais Cerrado

Caio Cescir Gomes Fonseca Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Carlos Eduardo Negres

Victorio

Coordenao das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO)

Cesar Victor de Esprito

Santo

Fundao Pr-Natureza (FUNATURA)

Cludia Calrio Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM),

Mecanismo de Doao Dedicado (MDD)

Cleidionice Pereira dos

Santos

Movimento dos Trabalhadores Camponeses (MTC)

Cristiane Moura Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial (SEPPIR)

Cristiane Peres da Silva Secretaria do Meio Ambiente, Tocantins (SEMA/TO)

Cristina Carvalho Comisso Europia

Dalci Jos de Carvalho Associao de Promoo ao Lavrador e Assistncia ao Menor de Turmalina

4

(APLAMT)

Daniel Pereira Lobo Bonsucro

Dbora Cristina Castellani Natura

Denise Daleva Costa Secretaria de Meio Ambiente e Cidades, Gois (SECIMA/GO)

Edite Lopes de Souza Agncia 10envolvimento

Eduardo Barroso de Souza Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio)

Eduardo Safons Soares Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentvel (SEDR),

Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Elaine Barbosa da Silva Laboratrio de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG),

Universidade Federal de Gois (UFG)

Eldo Moreira Barreto Associao Comunitria dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de

Clemente (ACCFC)

Eliane Braga Ribeiro Secretaria do Meio Ambiente, Maranho (SEMA/MA)

Eline Matos Martins Centro Nacional de Conservao da Flora (CNC Flora)

Elizabeth Turini Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)

Elton Antonio Silveira Secretaria de Meio Ambiente, Mato Grosso (SEMA/MT)

Eric Vieira da Silva Cooperativa Regional de Produtores Agrossilviextrativistas Serto Veredas

(COOPSERTO)

Estevo Bororo Taukane Articulao dos Povos Indgenas do Brazil (APIB)

Eulinda de Campos Lopes Secretaria de Meio Ambiente, Mato Grosso (SEMA/MT)

Fbio Matsumoto Ricarte Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Fbio Scarano Fundao Brasileira para o Desenvolvimento Sustentvel (FBDS)

Ftima Aparecida Garcia de

Moura

Federao de Assistncia Social e Educacional (FASE)

Fernando Antonio Rodrigues

Lima

Fundao Pr-Natureza (FUNATURA)

Fernando Tatagiba Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF), Ministrio do Meio Ambiente

(MMA)

Flamarion Luiz Soares Movimento dos Trabalhadores Camponeses (MTC)

Flvia Costa Bandeira Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Francisca da Silva

Nascimento

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau (MIQCB)

Gabriela Gonalves Servio Florestal Brasileiro (SFB), Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Gabriela Grisolia Servio Florestal Brasileiro (SFB), Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Gislano Oliveira Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Glaciana Arajo Associao de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA)

Guilherme Eidt Agncia de Cooperao Internacional Alem (GIZ)

Gustavo Luedemann Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA)

Gustavo Martinelli Jardim Botnico do Rio de Janeiro (JBRJ)

Gustavo Oliveira Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Helena Maria Maltez Secretaria do Meio Ambiente, Distrito Federal (SEMA/DF)

Helena Pavese Programa das Naes Unidades para o Meio Ambiente (PNUMA)

Hudson Coimbra Felix Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio),

Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Iran Magno Xavier de

Oliveira Filho

California Environmental Associates (CEA)

Irene dos Santos Instituto Brasil Central (IBRACE)

Isabel Belloni Schmidt Departamento de Ecologia, Universidade de Braslia (UnB)

5

Isis Freitas Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Isolete Wichinieski Comisso Pastoral da Terra (CPT)

talo Veras Eduardo Instituto Internacional de Cooperao Agrcola (IICA)

Jackson Lus da Silva Suzano Papel e Celulose S.A.

Janana Gomes Dantas Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Maranho (SEMA/MA)

Jean-Franois Timmers WWF Internacional

Joo da Mata Nunes Rocha Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio),

Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

John Landers O.B.E. Associao Plantio Direto no Cerrado (APDC)

Jlio Cesar Sampaio da Silva WWF Brasil

Jussara Pinto Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM),

Mecanismo de Doao Dedicado (MDD)

Juvana Evarista dos Santos Movimento dos Povos Indgenas do Cerrado (MOPIC)

Ktia Torres Ribeiro Consultora independente

Keila Juarez Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI)

Kolbe Soares WWF Brasil

Larcio Machado de Sousa Confederao Nacional de Reservas Particulares do Patrimnio Natural

(CNRPPN)

Letcia Campos WWF Brasil

Lourdes Cardozo Laureano Associao Pacari

Luciana Brando Federao Brasileira de Plantio Direto e Irrigao

Luciano Andra Prefeitura Municipal de Valparaso de Gois

Luiz Fernando Krieger

Merico

Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN)

Mrcia Andaluza Xavier Instituto Lina Galvani

Mrcio Macedo Costa Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES)

Maria Faria do Amaral Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Mariana de Alencar Ramos

Fernandes

Instituto Internacional de Cooperao Agrcola (IICA)

Mrio Augusto de Campos

Cardoso

Confederao Nacional da Indstria (CNI)

Martha Gilka Gutierrez

Carrijo

Instituto de Meio Ambiente, Mato Grosso do Sul

Matheus Campos Fonseca Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Mauro Terena Movimento dos Povos Indgenas do Cerrado (MOPIC)

Miguel D'Avila de Morais Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN)

Nina Paula Laranjeira Universidade de Braslia (UnB), Centro Cerrado

Olympio Barbanti Junior Consultor independente

Onildo Marini Centro Nacional de Pesquisa e Conservao da Biodiversidade do Cerrado e

Caatinga (CECAT), Institituto Chico Mendes de Conservao da

Biodiversidade (ICMBio), Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Patrcia de Lucena Mouro Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), Ministrio do Desenvolvimento

Agrrio (MDA)

Paulo Fiza Fundao Mais Cerrado

Paulo Roberto Neil

Magalhes

Fundao Banco do Brazil (FBB)

Pedro Gasparinetti Fundao Mais Cerrado

Rafael de Oliveira Poubel Centro de Excelncia e Estudos do Cerrado (CEEX), Cerratenses, Jardim

Botnico de Braslia (JBB),

6

Rafael Dias Loyola Universidade Federal de Gois (UFG)

Rafael Pereira Secretaria de Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental (SMCQ),

Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Rassa Ribeiro Pereira Silva Instituto Socioambiental (ISA)

Raul Xavier de Oliveira Secretaria de Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental (SMCQ),

Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Renato Flit Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial (SEPPIR)

Roberta Holmes Secretaria de Biodiversidade, Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Samantha Ro'otsitsina de

Carvalho Juruna

Rede de Juventude Indgena (REJUIND)

Samir Gomes Tannus Fundao Mais Cerrado

Sandra Regina Afonso Servio Florestal Brasileiro (SFB), Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Sara Pitombo Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Sarah Alves de Melo Ncleo Gestor da Cadeia Produtiva do Pequi e Outros Frutos do Cerrado,

Conselho Estadual Pr-Pequi, Minas Gerais

Slvia Torrecilha Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

Srew da Mata de Brito Movimento dos Povos Indgenas do Cerrado (MOPIC), Unio Indgena

Xerente

Stphane Guneau Universidade de Braslia (UnB)

Sueli Gomes Fernandes Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV)

Sueli Matiko Sano Empresa Brasileira de Pesquisa Agopecuria (EMBRAPA)

Suelma Silva Centro Nacional de Pesquisa e Conservao da Biodiversidade do Cerrado e

Caatinga (CECAT), Institituto Chico Mendes de Conservao da

Biodiversidade (ICMBio), Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

Talia Manceira Bonfante Natura

Tnia M. Caldeira Jardim Agncia Brasileira de Cooperao (ABC)

Tiago Jordo Porto Santos Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Bahia (SEMA/BA)

Ugo Todde Fundao Mais Cerrado

Valmir Macedo Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica ( CAV)

Valney Dias Rigonato Universidade Federal do Oeste da Bahia

Vinicius de Araujo Klier Consultor independente

Wilson Miguel Cooperativa Regional de Produtores Agrossilviextrativistas Serto Veredas

Alm das oficinas e encontros pessoais, representantes de 42 organizaes comunitrias

responderam a uma pesquisa realizada em julho de 2014, durante o Encontro Nacional dos

Povos do Cerrado. Os resultados desta pesquisa contriburam para aumentar o conhecimento

sobre as preocupaes das partes interessadas, bem como para definir as prioridades para

KBAs e corredores, proporcionando aos autores a informao relevante sobre o estado atual

das organizaes da sociedade civil no Hotspot Cerrado.

7

SUMRIO

SUMRIO ................................................................................................................................ 7

GLOSSRIO .......................................................................................................................... 10

LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................... 17

RESUMO EXECUTIVO ....................................................................................................... 25

1. INTRODUO .................................................................................................................. 29

1.1. Hotspot Cerrado ............................................................................................................ 29

1.2 Perfil do Ecossistema do Cerrado .................................................................................. 34

2. ANTECEDENTES ............................................................................................................. 35

3. IMPORTNCIA BIOLGICA DO HOTSPOT ............................................................ 38

3.1 Histria e Geografia ....................................................................................................... 38

3.2 Ecossistemas e Cobertura Vegetal ................................................................................. 40

3.3 Diversidade de Espcies Endmicas .............................................................................. 42

3.4 Importncia Social ......................................................................................................... 47

3.5 Sistema Hidrolgico e Valores Biolgicos .................................................................... 47

3.6 Concluses ..................................................................................................................... 48

4. SERVIOS ECOSSISTMICOS NO HOTSPOT ......................................................... 49

4.1 Biodiversidade ............................................................................................................... 49

4.2 gua ............................................................................................................................... 51

4.3 Carbono .......................................................................................................................... 54

4.4 Meios de Vida Rurais..................................................................................................... 56

4.5 Outros Servios Culturais .............................................................................................. 58

4.6 Concluses ..................................................................................................................... 58

5. RESULTADOS DE CONSERVAO............................................................................ 60

5.1 Locais de Importncia para a Conservao e Instrumentos de Gesto Ambiental ........ 60

5.2 Resultados de Espcies .................................................................................................. 62

5.3 Resultados Locais: reas Chave para a Biodiversidade ................................................ 65

5.4 Resultados de Corredores .............................................................................................. 72

5.5 Concluses ..................................................................................................................... 80

6. CONTEXTO SOCIOECONMICO DO HOTSPOT ................................................... 81

6.1 Regies Ecossociais ....................................................................................................... 81

6.2 Tendncias Sociais e Demogrficas............................................................................... 85

6.3 Gnero ............................................................................................................................ 96

6.4 Tendncias Econmicas ................................................................................................. 97

6.5 Bolivia ............................................................................................................................ 98

6.6 Paraguai.......................................................................................................................... 99

8

6.7 Concluses ................................................................................................................... 100

7. CONTEXTO POLTICO DO HOTSPOT .................................................................... 101

7.1 Viso Geral da Situao Poltica Nacional do Brasil ................................................... 101

7.2 Polticas de Recursos Naturais ..................................................................................... 102

7.3 Polticas Socioambientais ............................................................................................ 112

7.4 Polticas de Desenvolvimento ...................................................................................... 115

7.5 Polticas de Posse da Terra e Uso do Solo ................................................................... 116

7.6 Instituies de Implementao de Polticas de Gesto de Recursos ............................ 117

7.7 Poltica e Governana no Hotspot Cerrado .................................................................. 121

7.8 Contexto Poltico da Bolvia ........................................................................................ 124

7.9 Contexto Poltico do Paraguai ..................................................................................... 125

7.10 Compromissos no mbito de Acordos Globais e Regionais ..................................... 126

7.11 Concluses ................................................................................................................. 127

8. CONTEXTO DA SOCIEDADE CIVIL DO HOTSPOT ............................................. 128

8.1 Organizaes da Sociedade Civil ................................................................................. 128

8.2 Ambiente de Trabalho para as OSCs ........................................................................... 140

8.3 Programas e Atividades da Sociedade Civil no Cerrado ............................................. 141

8.4 Capacidade da Sociedade Civil no Cerrado ................................................................. 144

8.5 Sociedade Civil na Bolvia e no Paraguai .................................................................... 145

8.6 Resoluo de Lacunas na Capacidade da Sociedade Civil .......................................... 146

8.7 Concluses ................................................................................................................... 148

9. AMEAAS BIODIVERSIDADE NO HOTSPOT .................................................... 150

9.1 Ameaas Diretas .......................................................................................................... 150

9.2 Causas Indiretas de Ameaas ....................................................................................... 154

9.3 Concluses ................................................................................................................... 164

10. AVALIAO DAS MUDANAS CLIMTICAS .................................................... 170

10.1 Tendncias Passadas do Clima e da Biodiversidade do Cerrado ............................... 170

10.2 Modelos Projetados e Atuais do Cerrado................................................................... 171

10.3 Impactos da Mudana Climtica na Biodiversidade .................................................. 172

10.4 Impactos Sociais e Econmicos das Mudanas Climticas ....................................... 173

10.5 Potencial de Mitigao e Adaptao .......................................................................... 175

10.6 Concluses ................................................................................................................. 176

11. AVALIAO DO INVESTIMENTO CORRENTE EM CONSERVAO .......... 177

11.1 Investimentos por Fonte e Localizao...................................................................... 177

11.2 Anlises das Lacunas ................................................................................................. 192

11.3 Lies Aprendidas ..................................................................................................... 194

11.4 Concluses ................................................................................................................. 195

9

12. NICHO PARA OS INVESTIMENTOS DO CEPF .................................................... 197

12.1 Necessidades de Investimento em Conservao ........................................................ 197

12.2 Nicho do CEPF .......................................................................................................... 198

12.3 Colaborao com Outras Iniciativas .......................................................................... 200

13. ESTRATGIA DE INVESTIMENTO E FOCO PROGRAMTICO DO CEPF .. 202

13.1 Priorizao dos Resultados de Conservao .............................................................. 202

13.2 Direes Estratgicas e Prioridades de Investimento ................................................ 216

13.3 Descries de Direes Estratgicas e Prioridades de Investimento ......................... 218

14. SUSTENTABILIDADE ................................................................................................. 229

14.1 Desenvolvimento de Capacidade para a Sustentabilidade ......................................... 229

14.2 Financiamento Sustentvel ........................................................................................ 230

14.3 Sustentando a Mudana por meio de Normas e Regras ............................................. 232

14.4 Concluses ................................................................................................................. 233

MARCO LGICO DO HOTSPOT CERRADO 2016-2021 ............................................ 234

REFERNCIAS ................................................................................................................... 241

APNDICES 276

10

GLOSSRIO

1. Adaptao - ajustes em sistemas naturais ou humanos em resposta a estmulos climticos ou a seus efeitos reais ou esperados, que moderam danos ou aproveitam oportunidades

benficas.

2. Agricultor familiar - para fins oficiais no Brasil, produtores rurais, que: a) usam a terra como proprietrios, posseiros, arrendatrios ou assentados da reforma agrria; b) residem

na propriedade ou perto dela; c) no possuem mais de quatro mdulos fiscais (os quais

variam em tamanho de acordo com a localizao) para a agricultura ou seis mdulos

fiscais para a pecuria; e d) usam principalmente mo de obra familiar.

3. Agrobiodiversidade - parte da biodiversidade utilizada na agricultura ou em atividades relacionadas, seja na natureza ou sob domesticao ou semi-domesticao.

4. Agroextrativismo - agricultura familiar que combina a produo de lavouras e pecuria com o uso da biodiversidade nativa.

5. Amaznia Legal - os estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par, Amap, Tocantins e Mato Grosso e Maranho a oeste de 44W.

6. Ambientalismo - uma filosofia, ideologia e movimento social amplo referente s preocupaes de proteco do meio ambiente e melhoria da sade do meio ambiente,

particularmente seus elementos no-humanos, muitas vezes em oposio ao

desenvolvimentismo.

7. rea Chave para a Biodiversidade (KBA) - local de importncia internacional para a conservao da biodiversidade, definido de acordo com critrios padronizados com base

em princpios de vulnerabilidade e impossibilidade de substituio.

8. Area Conservada Comunitria e Indgena (ICCA) - ecossistema natural e/ou modificado contendo valores significativos de biodiversidade e servios ecossistmicos,

voluntariamente conservados por comunidades indgenas e locais, sedentrias ou mveis,

por meio de leis consuetudinrias ou outros meios eficazes.

9. rea de Preservao Permanente (APP) de acordo com a Lei Federal 12.651/2012, a APP definida como rea protegida, coberta ou no por vegetao nativa, com a

funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica

e a biodiversidade, facilitar o fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o

bem-estar das populaes humanas, a qual deve ser demarcada no interior de todas as

propriedades rurais brasileiras do Brasil e inscrita no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

10. rea Importante para Aves (IBA) - local de importncia internacional para a conservao das aves e outras formas de biodiversidade.

11. rea Protegida - no Brasil, o conceito de reas protegidas inclui as unidades de conservao, definidas conforme a Lei Federal 9.985/2000, as Terras Indgenas, os

Territrio Quilombolas e tambm as Reservas Legais e reas de Preservao Permanente,

definidas pela Lei Federal 12.651/2012.

11

12. Bioma de acordo com Osborne (2000), bioma definido como um grupo extenso de ecossistemas que ocorrem em diferentes regies do mundo, caracterizados por formas de

vida dominantes (plantas e animais) que se desenvolveram em resposta a condies

climticas relativamente uniformes (distribuio das chuvas e temperatura mdia anual).

H grande controvrsia no Brasil sobre o conceito de Bioma, e o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatstica (IBGE) emprega o termo para referir-se s grandes regies

bioclimticas do pas (Amaznia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlntica, Pampa e Pantanal).

13. Boa prtica - tcnica ou metodologia que, por meio de experincia e pesquisa, demostrou que gera um resultado desejado de forma confivel. No contexto do presente documento,

o resultado desejado menor impacto ambiental ou social negativo.

14. Caatinga - bioma semirido no Nordeste do Brasil, adjacente Amaznia, ao Cerrado e Mata Atlntica.

15. Cadastro Ambiental Rural criado pela Lei Federal 12.651/2012 e conhecido pela sigla CAR, definido como o registro pblico eletrnico de mbito nacional, obrigatrio para

todos os imveis rurais, com a finalidade de integrar as informaes ambientais das

propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento,

planejamento ambiental e econmico e combate ao desmatamento.

16. Cerrado - savana arborizada incluindo 12 tipos de vegetao no Brasil Central e partes da Bolvia e do Paraguai, adjacente Amaznia, Caatinga, Mata Atlntica e Pantanal.

17. Chaco - regio natural pouco povoada, quente e semi-rida das terras baixas da bacia do Ro de la Plata, no leste da Bolvia, Paraguai, norte da Argentina e partes dos estados

brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

18. Chiquitano - florestas secas da Bolvia e do Brasil, com rvores que perdem as folhas durante a estao seca e geralmente so resistentes a inundaes e incndios.

19. Consentimento livre, prvio e informado (CLPI) - em ingls Free, prior, informed consent (FPIC), princpio de que as comunidades (particularmente dos povos indgenas)

tm o direito de dar ou negar seu consentimento a projetos propostos que podem afetar as

terras que habitualmente so prprias, ocupadas ou usadas de outra maneira.

20. Corredor - definido pelo CEPF como uma paisagem inter-conectada ligando os locais mais importantes para a conservao de ampla escala de processos ecolgicos e

evolutivos e comunidades ecolgicas pouco alteradas.

21. Desenvolvimentismo - teoria econmica de que os pases em desenvolvimento devem estimular mercados internos fortes e variados, promover a indstria nacional e impor altas

tarifas sobre bens importados, muitas vezes em oposio ao ambientalismo.

22. Direo Estratgica - um agrupamento de vrias prioridades de investimento no mbito da estratgia de investimento do CEPF para um hotspot.

23. Ecossistema - sistema interativo que consiste em todos os organismos vivos e seu ambiente abitico (fsico e qumico) dentro de uma determinada rea, cobrindo vrias

escalas espaciais.

12

24. Endmica classificao atribuda a uma espcie que s pode ser encontrada na natureza em uma determinada localizao geogrfica ecossistema, regio, pas, etc. no

ocorrendo em nenhuma outra.

25. Equipe de Implementao Regional em ingls Regional Implementation Team (RIT) organizao selecionada pelo CEPF para coordenar a implementao da sua estratgia de

investimento em um hotspot.

26. Extino - desaparecimento mundial de uma espcie inteira.

27. Extrativismo - no Brasil, coleta ou colheita silvestre de produtos da biodiversidade nativa, no incluindo a minerao e o petrleo.

28. Fundo de pasto/fecho de pasto meio de vida rural tradicional em partes da Caatinga e do Cerrado em que lotes familiares so combinados com terras comuns em que bovinos,

caprinos e ovinos so criados soltos em pastagens nativas.

29. Geraizeiro - comunidades tradicionais que vivem no Cerrado no lado sul do rio So Francisco no norte de Minas Gerais.

30. Hotspot ecossistemas com elevada concentrao de espcies endmicas e intensa perda de habitat, onde esforos de conservao e restaurao ecolgica so priorizados para

proteger a biodiversidade. No Brasil, a Mata Atlntica e o Cerrado so considerados

Hotspots. Myers et al. (2000) estabeleceram 25 hotspots mundiais. Posteriormente, essa

lista foi ampliada para 35 hotspots (Mittermeier et al., 2005; Noss et al., 2015). Um

hotspot abriga pelo menos 1.500 espcies de plantas endmicas e tem ao menos 70% de

sua vegetao nativa com algum grau de degradao.

31. Indigenista - indivduo ou organizao que trabalha para defender os povos indgenas.

32. Mainstreaming da conservao - tornar a conservao uma dimenso integral da formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas em

todas as esferas polticas, econmicas e sociais.

33. Mitigao - interveno humana para reduzir a presso antropognica sobre o sistema climtico, incluindo estratgias para reduzir as fontes e emisses de gases de efeito estufa

e para reforar os sumidouros de gses de efeito estufa.

34. Nicho de investimento - as reas geogrficas e temticas especficas em que os investimentos CEPF podem ser mais eficazes, tendo em conta as necessidades de

conservao e a distribuio de outros investimentos.

35. Organizao da Sociedade Civil (OSC) - definida pelo CEPF como organizaes no governamentais e do setor privado, grupos comunitrios, indivduos, universidades e

fundaes, incluindo organizaes governamentais, desde que possam estabelecer sua

personalidade jurdica independente de qualquer agncia do governo, sua autoridade para

solicitar e receber fundos privados e que no podem invocar um direito de imunidade

soberana.

13

36. Pantanal bioma de zonas midas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, adjacente ao Cerrado, Mata Atlntica, Chaco e Chiquitano.

37. Parte interessada - pessoa, grupo ou organizao que tem interesse ou preocupao em uma organizao ou questo.

38. Perfil do Ecossistema para o CEPF, avaliao rpida de um hotspot de biodiversidade ou rea prioritria dentro de um hotspot, fornecendo uma viso geral da importncia da

biodiversidade, metas ou resultados gerais de conservao, principais ameaas e o

contexto poltico, da sociedade civil e socioeconmico, bem como as lacunas e

oportunidades de financiamento.

39. Povos e comunidades tradicionais - grupos que possuem culturas diferentes das que predominam na sociedade, identidade prpria, organizao social distinta, uso de

territrios e recursos naturais para manter sua cultura no que diz respeito organizao

social, religio, economia e ancestralidade. De acordo com Diegues (2003), so

populaes ou sociedades humanas cujos indivduos possuem modos de vida fortemente

associados ao uso e manejo dos recursos naturais ao longo de sua permanncia histrica

em ecossistemas naturais e em reas cultivadas adjacentes, e que detm o chamado

conhecimento ecolgico tradicional. Incluem tanto populaes tradicionais indgenas

como no indgenas, tais como caiaras, jangadeiros, sertanejos, caipiras, quilombolas,

ribeirinhos, etc. De forma geral, so populaes que, por meio de extrativismo, usam

diversos produtos da flora e fauna nativas como fonte de medicamento, fibra, alimento e

energia, bem como possuem vrios elementos culturais e religiosos associados

biodiversidade e ecossistemas locais. Adicionalmente, as sociedades tradicionais

geralmente obtm parte significativa de seu sustento do cultivo de roados e da criao de

animais em mosaicos de reas naturais e reas agrcolas abertas periodicamente em meio

vegetao secundria.

40. Povos Indgenas - grupo de pessoas reconhecido como tendo direitos especficos segundo o direito nacional ou internacional, com base em residncia dentro ou vinculada a habitats

geograficamente distintos e tradicionais, territrios ancestrais e seus recursos naturais;

manuteno das identidades culturais e sociais e instituies sociais, econmicas,

culturais e polticas separadas das sociedades ou culturas centrais ou dominantes;

descendncia de grupos populacionais presentes em uma determinada rea, mais

frequentemente antes da criao de estados ou territrios modernos e da e definio das

fronteiras atuais; e/ou auto-identificao como sendo parte de um grupo cultural indgena

distinto, e o desejo de preservar essa identidade cultural.

41. Preservao de acordo com a Lei Federal 9.985/2000, preservao definida como o conjunto de mtodos, procedimentos e polticas que visem a proteo em longo prazo

das espcies, habitats e ecossistemas, alm da manuteno dos processos ecolgicos,

prevenindo a simplificao dos sistemas naturais, pressupondo nveis mnimos de

interveno humana.

42. Prioridade de Investimento - um entre um conjunto de prioridades temticas para o investimento CEPF.

43. Proteo Integral de acordo com a Lei Federal 9.985/2000, proteo integral definida como manuteno dos ecossistemas livres de alteraes causadas por interferncia

14

humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. As unidades de

conservao do grupo de Proteo Integral previstas no SNUC so aquelas onde s

permitido o uso indireto dos recursos naturais, tais como visitao, turismo, educao

ambiental e pesquisas.

44. Quilombola - comunidade tradicional constituda por descendentes de africanos escravizados.

45. Repartio de benefcios canalizao de algum tipo de retorno, seja monetrio ou no monetrio, de volta para as comunidades afetadas, comunidades de origem ou naes de

origem, entre outros.

46. Reserva Legal - de acordo com a Lei Federal 12.651/2012, a Reserva Legal definida como rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos

termos do art. 12, com a funo de assegurar o uso econmico de modo sustentvel dos

recursos naturais do imvel rural, auxiliar a conservao e a reabilitao dos processos

ecolgicos e promover a conservao da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteo

de fauna silvestre e da flora nativa. Todos os imveis rurais brasileiros devem demarcar

sua Reserva Legal, que no devem ser menores que 80% da rea total do imvel no

bioma Amaznia, 35% no bioma Cerrado dentro da Amaznia Legal e 20% nas demais

regies do pas. Devem ser inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

47. Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN) de acordo com a Lei Federal 9.985/2000, uma categoria de unidade de conservao definida como uma rea

privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade

biolgica. As RPPNs so reconhecidas legalmente pelo Poder Pblico, mediante

requerimento voluntrio do proprietrio da rea, podendo abranger a totalidade ou parte

do imvel rural. Nas RPPNs so permitidas apenas atividades de uso indireto dos recursos

naturais, como visitao, turismo, educao ambiental e pesquisas.

48. Resilincia - capacidade de um sistema social ou ecolgico de absorver perturbaes, mantendo a mesma estrutura bsica e os modos de funcionamento, incluindo a capacidade

de auto-organizao e a capacidade de se adaptar ao estresse e mudana.

49. Restaurao de acordo com a Sociedade Internacional de Restaurao Ecolgica, definida como o processo e a prtica de auxiliar a recuperao de um ecossistema que foi

degradado, danificado ou destrudo, com o restabelecimento mnimo de sua forma e

funes.

50. Resultado de conservao - definido pelo CEPF como todo o conjunto de metas quantitativas e justificveis de conservao em um hotspot que deve ser alcanado para

evitar a perda da biodiversidade. Estes objetivos so definidos em trs nveis

hierrquicos: espcies (extines evitadas); locais (reas protegidas); e paisagens

(corredores criados), o que corresponde s unidades reconhecveis da biodiversidade ao

longo de um continuum ecolgico.

51. Retireiros - comunidades tradicionais que vivem ao longo do rio Araguaia no Tocantins e Mato Grosso.

15

52. Satoyama - uma iniciativa global com o objetivo de realizar sociedades em harmonia com a natureza por meio da conservao e promoo das paisagens e reas marinhas

produtivas scio-ecolgicas.

53. Savana - campo tropical incluindo arbustos e rvores isoladas, devido s chuvas limitadas, que pode ser encontrado entre biomas de floresta tropical e de deserto.

54. Sertanejo - habitante rural tradicional do interior do Brasil (serto).

55. Servios Ambientais conjunto de aes e decises antrpicas que favorecem a manuteno e/ou recuperao da capacidade dos ecossistemas em prover servios

essenciais para o equilbrio ecolgico e para o bem-estar humano.

56. Servios Ecossistmicos - servios proporcionados pelos ecossistemas que resultam em equilbrio ecolgico e condies favorveis ao bem-estar humano, tais como purificao

de gua, polinizao de cultivos, proteo de mananciais, controle de eroso e sequestro

de carbono.

57. Socioambiental - ambiental, mas tendo em conta as sinergias com a organizao social e a cultura tradicional.

58. Sociobiodiversidade - bens e servios produzidos com base no uso dos recursos naturais pelos povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares.

59. Terras Indgenas poro do territrio nacional, de propriedade da Unio, habitada por um ou mais povos indgenas, por ele(s) utilizada para suas atividades produtivas,

imprescindvel preservao dos recursos ambientais necessrios a seu bem-estar e

necessria sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies.

60. Trampolins ecolgicos - so manchas de habitat dispersas na matriz da paisagem que, mesmo no estando fisicamente ligadas (ao contrrio dos corredores), funcionam como pontos de ligao entre habitats fragmentados, facilitando a disperso e o fluxo gentico para

algumas espcies.

61. Unidade de Conservao de acordo com a Lei Federal 9.985, de 18 de julho de 2000, unidade de conservao definida como espao territorial e seus recursos ambientais,

incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente

institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob

regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo.

So previstas 12 categorias de unidades de conservao, divididas em dois grupos:

Proteo Integral e Uso Sustentvel.

62. Uso Sustentvel - de acordo com a Lei Federal 9.985, de 18 de julho de 2000, uso sustentvel definido como a explorao do ambiente de maneira a garantir a

perenidade dos recursos ambientais renovveis e dos processos ecolgicos, mantendo a

biodiversidade e os demais atributos ecolgicos, de forma socialmente justa e

economicamente vivel. O grupo de unidades de conservao de uso sustentvel

previstas no SNUC integra aquelas onde se so permitidas atividades produtivas

sustentveis, ao contrrio das reas protegidas de Proteo Integral (conservao de uso

indireto).

16

63. Vazamento - metfora para representar qualquer perda significativa de recursos naturais provocada por atividades humanas imprudentes, com efeitos adversos na funcionalidade,

estrutura e composio dos ecossistemas. Tais vazamentos tambm tm efeitos adversos

no fluxo de servios ecossistmicos sociedade. Tambm pode ser definido como o

deslocamento espacial de impactos ambientais negativos causados pela proteo do

ambiente em determinadas reas.

64. Vazanteiro - membro de uma comunidade tradicional vivendo em ilhas ou barrancos ao longo dos rios So Francisco, Tocantins e Araguaia.

17

LISTA DE SIGLAS

ABA Associao Brasileira de Antropologia

ABAG Associao Brasileira do Agronegcio

ABC Agncia Brasileira de Cooperao

ABC Agricultura de Baixo Carbono

ABEMA Associao Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente

ABI Associao Brasileira da Imprensa

ABIOVE Associao Brasileira de Indstrias de leos Vegetais

ABONG Associao Brasileira de Organizaes No Governamentais

ABRAS Associao Brasileira de Supermercados

ABRH Associao Brasileira de Recursos Hdricos

ACCFC Associao Comunitria dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de

Clemente

AECID Agncia Espanhola de Cooperao Internacional para o Desenvolvimento

AFD Agncia Francesa de Desenvolvimento

AHP Processo Hierrquico Analtico

AIBA Associao de Agricultores e Irrigantes da Bahia

AMAVIDA Associao Maranhense para a Conservao da Natureza

ANA Agncia Nacional de guas

ANAMMA Associao Nacional de rgos Municipais de Meio Ambiente

ANATER Agncia Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao ANPEC Associao Nacional de Centros de Ps-Graduao e Pesquisa em

Economia

ANPEGE Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Geografia ANPOCS Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais

ANPPAS Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Ambiente e

Sociedade

ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia e Inspeo Sanitria

AP rea Protegida

APA rea de Proteo Ambiental

APA-TO Alternativas para a Pequena Agricultura do Tocantins

APDC Associao de Plantio Direto no Cerrado

APIB Articulao dos Povos Indgenas do Brasil

APLAMT Associao de Promoo do Lavrador e Assistncia ao Menor de

Turmalina

APOINME Articulao dos Povos e Organizaes Indgenas do Nordeste, Minas

Gerais e Esprito Santo

APP rea de Preservao Permanente

APROSOJA Associao dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso

ASCEMA Associao Nacional dos Servidores de Carreira de Especialistas em Meio

Ambiente

ASMUPIB Associao Regional Mulheres Trabalhadoras Rurais Bico do Papagaio

AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

ASSEMA Associao Sindical dos Servidores Estaduais do Meio Ambiente

ASSIBAMA Associao de Servidores do IBAMA

AZE Aliana para Extino Zero

BASA Banco da Amaznia

BASIC Brasil, frica do Sul, ndia e China

18

BB Banco do Brasil

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Internacional de Reconstruo e Desenvolvimento

BMUB Ministrio Federal do Meio Ambiente, Proteo da Natureza,

Construo e Segurana Nuclear da Alemanha BNB Banco do Nordeste

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

BRB Banco Regional de Braslia

BRIICS Brasil, Rssia, ndia, Indonsia, China e frica do Sul

BVRio Bolsa de Valores Ambientais

CAA-NM Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas

CAPES Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal do Nvel Superior

CAR Cadastro Ambiental Rural

CAV Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica

CBH Comit de Bacia Hidrogrfica

CBUC Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao

CDB Conveno sobre Diversidade Biolgica

CDS Centro de Desenvolvimento Sustentvel

CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel

CECAT Centro Nacional de Pesquisa e Conservao da Biodiversidade do Cerrado

e Caatinga

CEDAC Centro de Desenvolvimento Agroecolgico do Cerrado

CENARGEN Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genticos e Biotecnologia

CEPF Fundo de Parcerias de Ecossistemas Crticos

CESE Coordenadoria Ecumnica do Servio

CFR Casa Famlia Rural

CGTB Central Geral dos Trabalhadores do Brasil

CI Conservao Internacional

CIF Fundos de Investimento em Clima

CIM Comit Interministerial sobre Mudana do Clima

CIMI Conselho Indigenista Missionrio

CIRAD Centro de Pesquisa Agronmica para o Desenvolvimento

CIRAT Centro de Referncia Internacional em gua e Transdisciplinaridade

CITES Conveno sobre o Comrcio Internacional de Espcies de Fauna e Flora

Selvagens em Perigo de Extino

CLPI Consentimento livre, prvio e informado

CLUA Aliana pelo Clima e pelo Uso da Terra

CMADS Comisso de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel

CMBBC Conservao e Manejo da Biodiversidade Vegetal do Bioma Cerrado

CNA Confederao Nacional de Agricultura e Pecuria

CNAPO Comisso Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica

CNC Confederao Nacional do Comrcio

CNCFlora Centro Nacional de Conservao da Flora

CNEA Cadastro Nacional de Entidades Ambientais

CNI Confederao Nacional da Indstria

CNJI Comisso Nacional de Juventude Indgena

CNMP Conselho Nacional do Ministrio Pblico

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurdicas

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos

CNS Conselho Nacional das Populaes Extrativistas

CNUMAD Conselho das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

19

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e Parnaba

COEQTO Coordenao das Comunidades Quilombolas do Tocantins

COIAB Coordenao de Organizaes Indgenas da Amaznia Brasileira

COMCERRADO Rede de Cincia e Tecnologia para a Conservao e Uso Sustentvel do

Cerrado

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONABIO Comisso Nacional da Biodiversidade

CONACER Comisso Nacional do Programa Cerrado Sustentvel

CONAMA Comisso Nacional do Meio Ambiente

CONAQ Coordenao Nacional de Articulao das Comunidades Negras Rurais

Quilombolas CONDRAF Comisso Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio

CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOPSERTO Cooperativa Regional de Produtores Agrossilviextrativistas Serto

Veredas

COP Conferncia das Partes

COPALJ Cooperativa de Produtores Agroextrativistas do Lago de Junco

CPAC Centro de Pesquisa Agropecuria do Cerrado (EMBRAPA)

CPI Comisso Pro-ndio

CPT Comisso Pastoral da Terra

CRAD Centro de Referncia em Conservao da Natureza e Recuperao de

reas Degradadas

CSO Organizao da sociedade civil

CSTT Ferramenta de Rastreamento da Sociedade Civil

CTB Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

CTC Central dos Trabalhadores do Campo

CTI Centro de Trabalho Indigenista

CUT Central nico dos Trabalhadores

DAP Declarao de Aptido para o PRONAF

DEFRA Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais DETER Sistema de Deteco do Desmatamento na Amaznia Legal em Tempo

Real DfID Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido

EBC Empresa Brasileira de Comunicao

ECODATA Agncia Brasileira de Meio Ambiente e Tecnologia da Informao

EFR Escola Famlia Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

FAMATO Federao da Agricultura e Pecuria de Mato Grosso

FAO Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura

FAP Fundao de Apoio Pesquisa

FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

FASE Federao de Organizaes para Assistncia Social e Educacional

FASFIL Fundaes Privadas e Associaes sem Fins Lucrativos no Brasil FBB Fundao Banco do Brasil

FBDS Fundao Brasileira de Desenvolvimento Sustentvel

FBES Frum Brasileiro de Economia Solidria

FBMC Frum Brasileiro de Mudanas Climticas

FBOMS Frum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para Meio Ambiente e

Desenvolvimento

FCO Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste

FEBRABAN Federao Brasileira de Bancos

20

FETRAF Federao Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura

Familiar FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Servio

FIP Programa de Investimento Florestal

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

FNE Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste

FNO Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Norte

FOIRN Federao das Organizaes Indgenas do Rio Negro

FORMAD Frum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento

FSC Conselho Brasileiro de Manejo Florestal

FUNATURA Fundao Pr-Natureza

GAPAN Grupo de Apoio aos Planos de Ao Nacional

GATI Gesto Ambiental e Territorial Indgena

GCC Mudana Climtica Global

GCF Fundo para Conservao Global

GDP Produto Interno Bruto

GEF Fundo para o Meio Ambiente Mundial

GENPAC Gentica Geogrfica e Planejamento Regional para Conservao de

Recursos Naturais do Cerrado GIZ Agncia de Cooperao Internacional Alem

GTA Grupo de Trabalho da Amaznia

HDI ndice de Desenvolvimento Humano

IABS Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade

IB Instituto Brasileiro de rvores

IBA rea Importante para Aves

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovveis

IBAS ndia, Brasil e frica do Sul

IBRACE Instituto Brasil Central

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

ICCA rea Conservada Indgena e Comunitria

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade

ICMS Imposto sobre a Circulao de Mercadorias e Servios

ICRAF Centro Agroflorestal Mundial

ICV Instituto Centro da Vida

IDB Banco Interamericano Desenvolvimento

IEF Instituto Estadual de Florestas, Minas Gerais

IESB Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia

IFC Corporao Financeira Internacional

IICA Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura

IIEB Instituto Internacional de Educao do Brasil

ILP Integrao Lavoura-Pecuria

ILUC Mudana indireta no uso da terra

IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificao Florestal e Agrcola

IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia

IMS Instituto Marista de Solidariedade

INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

INDC Contribuio Nacionalmente Determinada

INPA Instituto Nacional de Pesquisa da Amaznia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INSA Instituto Nacional do Semirido

IPA ndice de Presso Antrpica

21

IPAM Instituto de Pesquisa da Amaznia

IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudana Climtica

IP Instituto de Pesquisa Ecolgica

IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

IPEC Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado

IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

IRD Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento

ISA Instituto Socioambiental

ISPN Instituto Sociedade, Populao e Natureza

IUCN Unio Internacional para a Conservao da Natureza

JBB Jardim Botnico de Braslia

JBRJ Jardim Botnico do Rio de Janeiro

JICA Agncia Japonesa de Cooperao Internacional

KBA rea Chave para a Biodiversidade

LAPIG Laboratrio de Processamento de Imagens e Geoprocessamento

LBA Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amaznia LULUCF Uso da Terra, Mudana no Uso da Terra e Florestas

MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

Matopiba Maranho, Tocantins, Piau e Bahia

MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao

MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

MDB Bancos multilaterais de desenvolvimento

MDD Mecanismo de Doao Dedicado

MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior

MDRyT Ministrio de Desenvolvimento Rural e Terras da Bolvia MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

MEC Ministrio da Educao

MI Ministrio da Integrao Nacional

MinC Ministrio das Cidades

MIQCB Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babau

MJ Ministrio da Justia

MMA Ministrio do Meio Ambiente

MMAyA Ministrio do Meio Ambiente e gua da Bolvia

MME Ministrio das Minas e Energia

MOPIC Mobilizao dos Povos Indgenas do Cerrado

MP Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

MPA Movimento dos Pequenos Agricultores

MPEG Museu Paraense Emilio Goeldi

MRE Ministrio das Relaes Exteriores MROSC Marco Regulatrio para Organizaes da Sociedade Civil

MSI Iniciativas com Mltiplas Partes Interessadas

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTC Movimento dos Trabalhadores do Campo

NAMA Ao de Mitigao Nacionalmente Adequada NCP Ncleo dos Biomas Cerrado e Pantanal

OCB Organizao das Cooperativas Brasileiras

ODA Agncia de Cooperao do Reino Unido ODM Objetivo de Desenvolvimento do Milnio

ODS Objetivo de Desenvolvimento Sustentvel

OEA Organizao dos Estados Americanos

OGM Organismo geneticamente modificado

ONG Organizao no-governamental

22

ONS Operador Nacional do Sistema

OPAN Operao Amaznia Nativa

OS Organizao Social

OSCIP Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

OTCA Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica

PAA Programa de Aquisio de Alimentos

PAE Projeto de Assentamento Agroextrativista

PAC Programa de Acelerao do Crescimento

PAN Plano de Ao Nacional

PAS Paisagens Agrcolas Sustentveis

PBMC Painel Brasileiro de Mudanas Climticas

PCS Programa Cerrado Sustentvel

PFNM Produto florestal no-madeireiro

PGPM Poltica de Garantia de Preos Mnimos

PGPM-Bio Poltica de Garantia de Preo Mnimo para os Produtos da

Sociobiodiversidade

PESACRE Grupo de Pesquisa e Extenso em Sistemas Agroflorestais do Acre

PIB Produto Interno Bruto

PN Parque Nacional

PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar

PNAP Plano Estratgico Nacional de reas Protegidas

PNAPO Poltica Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica

POP Poluente orgnico persistente

PPG7 Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil

PPCerrado Plano de Ao para Preveno e Controle do Desmatamento e das

Queimadas no Cerrado

PLANAVEG Plano Nacional de Recuperao da Vegetao Nativa

PNGATI Poltica Nacional de Gesto Territorial e Ambiental de Terras Indgenas

PNPCT Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e

Comunidades Tradicionais

PNPSB Plano Nacional de Promoo dos Produtos da Sociobiodiversidade

PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

PRA Programa de Regularizao Ambiental

PROBIO Projeto de Conservao e Uso Sustentvel da Diversidade Biolgica

Brasileira

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PSA Pagamento por Servios Ambientais

RAPPAM Avaliao e Priorizao Rpida de Manejo de reas Protegidas

RBJA Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental

RCA Rede de Cooperao Amaznica

RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentvel

REBAL Rede Brasileira de Agendas 21 Locais

REBEA Rede Brasileira de Educao Ambiental

REBIA Rede Brasileira de Informao Ambiental

RECO Regio Ecossocial

REDD+ Reduo das Emisses provenientes do Desmatamento e da Degradao

Florestal incluindo o papel da conservao, do manejo sustentvel e do

aumento de estoques de carbono nas florestas REDEPROUC Rede Nacional Pr-Unidades de Conservao

REJUIND Rede de Juventude Indgena

RESEX Reserva Extrativista

23

RIDE Regio de Desenvolvimento Integrado do Distrito Federal e Entorno

RL Reserva Legal

RMA Rede de ONGs da Mata Atlntica

RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural

RTRS Associao Internacional de Soja Responsvel

RTS Rede de Tecnologia Social

SAE Secretaria de Assuntos Estratgicos

SAF Secretaria de Agricultura Familiar

SAIC Secretaria de Coordenao Institucional e Cidadania Ambiental

SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia

SEAIN Secretaria de Assuntos Internacionais

SECIMA/GO Secretaria do Meio Ambiente e Cidades, Gois

SEDR Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentvel

SEMA/BA Secretaria do Meio Ambiente, Bahia

SEMA/DF Secretaria do Meio Ambiente, Distrito Federal

SEMA/MA Secretaria do Meio Ambiente, Maranho

SEMA/MT Secretaria do Meio Ambiente, Mato Grosso

SEMA/TO Secretaria do Meio Ambiente, Tocantins

SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural

SEPPIR Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial

SERNAP Sistema Nacional de reas Protegidas

SESI Servio Social da Indstria

SFB Servio Florestal Brasileiro

SGP Programa de Pequenos Projetos (Small Grants Program)

SIN Sistema Integrado Nacional

SIRGAS Sistema de Referncia Geocntrico para as Amricas SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SMCQ Secretaria de Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental

SMPE Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa

SNA Sociedade Nacional da Agricultura

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza

SOSMA Fundao SOS Mata Atlntica

SPM Secretaria de Polticas para as Mulheres

SPVS Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educao Ambiental

SRB Sociedade Rural Brasileira

SRHU Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano

STRLRV Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde

SUASA Sistema Unificado de Ateno Sanidade Agropecuria

SUDAM Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia

SUDECO Superintendncia de Desenvolvimento do Centro-Oeste

SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

SUNY Universidade Estadual de New York

SUS Sistema nico de Sade

TFCA Lei de Conservao das Florestas Tropicais

TFF Fundao Floresta Tropical

UC Unidade de Conservao

UF Unidade da Federao

UFG Universidade Federal de Gois

UGT Unio Geral dos Trabalhadores

UHE Usina Hidreltrica

24

UICN Unio Internacional para a Conservao da Natureza

UNCED Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

UNEMAT Universidade Estadual de Mato Grosso

UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura

UNI Unio das Naes Indgenas

UNICA Unio da Indstria de Cana-de-Acar

UNICAFES Unio Nacional das Cooperativas de Agricultores Familiares e Economia

Solidria

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros

USAID Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

USFS Servio Florestal dos Estados Unidos

WBCSD Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel

WDPA Base de Dados Mundial sobre reas Protegidas

WLT Fundo Fiducirio Mundial de Terras

WRI Instituto de Recursos Mundiais

WWF Fundo Mundial para a Natureza

ZEE Zoneamento Ecolgico-Econmico

25

RESUMO EXECUTIVO

A biodiversidade e suas ameaas no so distribudas uniformemente sobre a face do planeta.

As organizaes de conservao procuram maximizar a eficcia dos seus recursos limitados

concentrando-se sobre os lugares mais importantes, onde a ao mais urgente e eficaz. Uma

das anlises para definio de prioridades mais influentes foi a identificao de hotspots de

biodiversidade (Myers et al. 2000; Mittermeier et al. 2004), definidos como regies que

possuem pelo menos 1.500 espcies de plantas endmicas e perderam pelo menos 70% do

seu habitat natural. H 35 hotspots no mundo todo, cobrindo 15,7% da superfcie da Terra.

Os habitats naturais dentro destes hotspots cobrem apenas 2,3% da superfcie do mundo, mas

contm a metade de todas as plantas e 77% de todos os vertebrados terrestres. Existem dois

hotspots no Brasil: a Mata Atlntica e o Cerrado. O CEPF investiu no Hotspot Mata Atlntica

entre 2001 e 2010.

De acordo com a definio original, o Hotspot Cerrado, localizado no centro da Amrica do

Sul, estende-se por uma rea total de 2.024.838 km2, estando 99,30% no Brasil e o restante

dividido entre o Paraguai (0,41%) e a Bolvia (0,29%). Esses nmeros foram atualizados para

2.039.386 km2 apenas para o bioma Cerrado no Brasil, mas no se chegou a acordo sobre a

extenso do Cerrado no Paraguai e na Bolvia. Para efeitos do presente Perfil do Ecossistema,

o Hotspot Cerrado foi definido como o bioma Cerrado reconhecido pelo governo brasileiro e

quatro reas Importantes para Aves (IBAs) na Bolvia e no Paraguai, que contm exemplos

de ecossistemas de Cerrado. A rea total considerada para o Hotspot Cerrado neste perfil

ecossistema , portanto, 2.064.301 km2.

O Cerrado uma das maiores e biologicamente mais ricas regies de savana tropical do

mundo (Mittermeier et al. 2004) e abriga comunidades biolgicas altamente diversas com

muitas espcies nicas e variedades. Muitas dessas espcies e variedades so endmicas, no

s para o hotspot, mas tambm para locais especficos dentro dele. Elas so nicas e teis,

como tambm constituem um ecossistema que vital nacionalmente para o abastecimento de

gua e energia, controle de eroso e reduo das emisses de gases de efeito estufa. Tais

espcies so altamente vulnerveis perda de habitat, caa legal e ilegal, poluio e outras

presses.

O desenvolvimento de um Perfil do Ecossistema para orientar os investimentos em cada

hotspot uma parte fundamental da abordagem do CEPF antes da concesso dos

financiamentos. O processo conduzido por grupos da sociedade civil e inclui diversas partes

interessadas no desenvolvimento de uma estratgia comum desde o incio. Este perfil inclui

os resultados gerais de conservao, as principais ameaas, os contextos poltico, da

sociedade civil e socioeconmico e as lacunas e oportunidades de financiamento, bem como

o nicho do CEPF, as estratgias e a sustentabilidade.

O Perfil do Ecossistema lista 1.629 espcies terrestres e de gua doce classificadas pela

Unio Internacional para a Conservao da Natureza (UICN) como globalmente ameaadas e

pelas autoridades brasileiras ambientais como ameaadas em nvel nacional, bem como

peixes raros e espcies de plantas raras. H muitas outras espcies para as quais existem

dados insuficientes para permitir uma avaliao completa do seu estado. Para muitas

espcies, a melhor forma de conservao a proteo de reas adequadas de habitat

apropriado. Por conseguinte, o perfil identifica locais importantes, conhecidos como reas

Chave para a Biodiversidade (KBAs), onde se sabe que estas espcies ameaadas

sobrevivem. No Brasil, 761 KBAs foram identificadas usando registros da presena de

26

espcies ameaadas e vulnerveis. Na Bolvia e no Paraguai, foram usadas quatro reas

Importantes para Aves (IBAs).

Em alguns casos, a proteo de reas discretas de habitat dentro de uma KBA no garante a

sobrevivncia de uma espcie, especialmente onde as espcies se dispersam amplamente

sobre a paisagem ou ocorrem com densidade muito baixa. Estas grandes reas desempenham

um papel vital na garantia de conectividade entre KBAs. Ao mesmo tempo, elas tambm

desempenham um papel importante na manuteno de funes ecossistmicas que so

essenciais para a natureza e para os meios de vida humanos no Cerrado, outros biomas e

pases vizinhos, ou mesmo em todo o planeta, no caso das mudanas climticas.

A fragmentao da regio exerce uma influncia decisiva sobre as paisagens sociais, polticas

e econmicas. A maioria dos seus 43 milhes de habitantes vive em reas urbanas, mas em

torno de 12,5 milhes ainda dependem de terras agrcolas, ecossistemas naturais e zonas

midas. No entanto, a regio passa por mudanas aceleradas. A construo da nova capital

em Braslia no final dos anos 1950 intensificou o processo de ocupao da fronteira agrcola

no corao do Cerrado. Na dcada de 1980, com a inovao tecnolgica, o agronegcio

expandiu rapidamente no hotspot.

As principais ameaas ao Cerrado no presente e no futuro prximo so a pecuria, as culturas

anuais (principalmente soja, milho e algodo), biocombustveis (cana-de-acar), carvo

vegetal, fogo e silvicultura de mono-espcies. A eroso, espcies invasoras, culturas

permanentes, sunos, transporte e aquecimento (local e global) tambm so relevantes. Isto

leva a desmatamento a uma taxa de 6.000 km2 por ano; at agora, o hotspot perdeu cerca de

50% de sua cobertura natural.

Apesar destes problemas, o governo nacional e os governos locais esto reconhecendo a

importncia dos recursos naturais da regio e sua biodiversidade. O Brasil criou reas

protegidas terrestres oficiais em 8,3% do Cerrado e estabeleceu uma meta de 17% do bioma

em reas protegidas, a fim de atingir a meta de Aichi, bem como metas ambiciosas para

reduzir o desmatamento e as emisses. Para reduzir significativamente as emisses de gases

de efeito estufa e manter os ciclos hidrolgicos, so necessrias grandes reas. O ideal seria

manter pelo menos 50% do Cerrado, cerca de um milho de quilmetros quadrados, com

cobertura de vegetao nativa, por meio de uma combinao de conservao, uso sustentvel

e restaurao. A criao de reas protegidas pblicas em terras privadas implica custos

elevados nos casos que exigem a desapropriao de terras, especialmente quando o governo

enfrenta restries oramentrias. A Lei Florestal tambm exige Reservas Legais de 35% na

parte de hotspot classificada como Amaznia Legal e 20% na rea restante, bem como reas

de Preservao Permanente em topos de morro e encostas ngremes e ao longo das bordas de

crregos e rios. As comunidades indgenas e tradicionais utilizam uma variedade de

mecanismos para controlar e gerir seus recursos naturais. As Terras Indgenas, que so as

partes mais intactas do Cerrado, esto localizadas principalmente nas franjas da Amaznia.

Muitos outros tipos de comunidades tradicionais e agricultores familiares esto onipresentes

onde permanece a vegetao nativa, principalmente na poro norte do Hotspot. A forma de

utilizao de recursos, no entanto, mudou para uso da terra para agropecuria em larga escala.

Os mecanismos formais para o planejamento e aplicao das regras sobre a explorao dos

recursos naturais geralmente tm falhado em termos de obter resultados eficientes ou

sustentveis. A capacidade limitada, falta de vontade poltica, acompanhamento insuficiente e

conflitos entre os regimes de gesto de recursos consuetudinrios e formais tm conspirado

27

para criar uma situao na qual predomina a explorao de curto prazo e muitas vezes ilegal

de recursos naturais por empresas e indivduos oportunistas, enquanto que o uso

cuidadosamente planejado e a gesto sustentvel so excees.

Para aumentar as chances de sucesso, importante que as aes apoiadas pelo CEPF

complementem as estratgias e programas existentes dos governos nacional e locais, dos

doadores e das outras partes interessadas. Para este fim, antes de iniciar um programa de

concesso de doaes, o CEPF trabalha com as diversas partes interessadas para desenvolver

um Perfil do Ecossistema para cada hotspot. O perfil descreve as espcies e locais

importantes, bem como as ameaas, oportunidades e aes que j esto sendo tomadas para a

conservao na regio, permitindo ao CEPF identificar locais, espcies e temas prioritrios

para apoiar.

O Perfil do Ecossistema do Cerrado foi desenvolvido entre outubro de 2014 e outubro de

2015, por meio de um processo que envolveu a participao de mais de 170 pessoas,

representando 130 instituies e empresas pblicas ou privadas. Tambm envolveu extensa

reviso da literatura e anlise de vrios tipos de dados, aproveitando-se a experincia de

apoio s comunidades locais em toda a regio do Programa de Pequenos Projetos do GEF-

PNUD. Um Conselho Consultivo, composto por especialistas com diferentes conhecimentos

e perfis ligados a universidades, governos, organizaes da sociedade civil, instituies

multilaterais e setor privado, foi convidado a fornecer orientaes estratgicas para a

preparao do perfil e para analisar a abordagem e os mtodos assim como o documento

final.

Diversos critrios, incluindo prioridades do governo, urgncia, oportunidade, remanescentes

de cobertura de vegetao nativa, reas protegidas e fortalecimento de organizaes da

sociedade civil, foram utilizados para selecionar quatro corredores prioritrios entre os 13 que

foram identificados. O investimento do CEPF incidir sobre a parte norte e leste do Hotspot,

em corredores prioritrios que se estendem do Maranho ao norte de Minas Gerais no sul:

Mirador-Mesas, Central de Matopiba, Veadeiros-Pouso Alto-Kalungas e Serto Veredas-

Peruau. Dentro destes quatro corredores prioritrios, investimentos locais tero como alvo

62 locais prioritrios, com base numa priorizao de KBAs de acordo com critrios de

servios biolgicos, scio-econmicos e ambientais.

Cada vez mais, o financiamento externo ser majoritariamente dirigido ao combate s

mudanas climticas, que podem ser mitigadas mantendo-se em p a vegetao nativa. O

financiamento interno, por outro lado, poderia ser mobilizado mostrando-se como a flora e a

fauna nativas do Cerrado mantm os fluxos de gua superficial e de umidade atmosfrica

para outras regies ao sul, bem como partes da Bolvia, Paraguai, Argentina e Uruguai. A

conscientizao sobre a interdependncia entre as funes ecossistmicas e socioeconmicas

da biodiversidade do Cerrado pode ser uma das principais contribuies do CEPF.

Alm disso, seria fundamental investir no fortalecimento da sociedade civil e nas adequaes

das normas e regulamentos federais e estaduais, de modo a incorporar a conservao da

biodiversidade nas polticas pblicas e prticas privadas. Os investimentos do CEPF no

Cerrado podero contribuir para impactos relevantes sobre a capacidade da sociedade civil de

influenciar positivamente as polticas pblicas e iniciativas privadas que influem na

conservao e o desenvolvimento sustentvel no hotspot. Alm disto, os investimentos

podero apoiar as prticas nas cadeias de produtos florestais no-madeireiros realizadas por

comunidades rurais, indgenas e quilombolas. A melhor insero no mercado dos produtos da

28

sociobiodiversidade cria incentivos econmicos para a conservao da biodiversidade. Ao

investir em uma das regies mais importantes do mundo para as commodities agrcolas, o

CEPF tambm contribuir para aumentar a eficcia e a escala de prticas sustentveis do

agronegcio.

O apoio do CEPF criao de novas reas protegidas pblicas e privadas e gesto eficaz

daquelas j existentes tambm ir melhorar o status da proteo legal para as espcies

criticamente ameaadas no hotspot. Ao todo, esta estratgia, em reas prioritrias especficas,

ir alavancar uma contribuio notvel para a conservao do Cerrado, como tem sido o caso

para a proteo em outros hotspots ao redor do mundo.

29

1. INTRODUO

1.1. Hotspot Cerrado

O Cerrado o maior hotspot no Hemisfrio Ocidental, cobrindo mais de 2 milhes de km2 no

Brasil e partes menores (cerca de 1%) da Bolvia e do Paraguai. O bioma Cerrado o

segundo maior bioma da Amrica do Sul, cobrindo uma rea de 2.039.386 km2, 24% do

territrio do Brasil.

Reconhecido como um hotspot global de biodiversidade, o Cerrado destaca-se pela

abundncia de espcies endmicas, abrigando 12.070 espcies de plantas nativas catalogadas.

A grande diversidade de habitats resulta em transies notveis entre as diferentes tipologias

de vegetao. Um total de 251 espcies de mamferos vive no Cerrado, juntamente com

avifauna rica compreendendo 856 espcies. A diversidade de peixes (800 espcies), rpteis

(262 espcies) e anfbios (204 espcies) tambm elevada. Por essas razes, em termos

biolgicos, o Cerrado considerado uma das regies de savana tropical mais ricas do mundo

(Mittermeier et al. 2004). Este hotspot tambm inclui as cabeceiras das trs maiores bacias

hidrogrficas da Amrica do Sul (Amazonas/Tocantins, So Francisco e Prata), destacando-

se, assim, a sua importncia para a segurana dos recursos hdricos e da biodiversidade.

Durante a preparao deste perfil, um desafio enfrentado pela equipe foi conciliar os limites

do Hotspot Cerrado (Figura 1.1) propostos por Mittermeier et al. (2004) e os limites oficiais

do bioma Cerrado definidos pelo governo brasileiro.

Os limites originais do hotspot na Bolvia e no Paraguai cobrem reas naturais significativas,

cuja importncia biolgica destacada por sua classificao como reas Importantes para

Aves (IBA). No entanto, ao analisar essas IBAs - uma na Bolvia e trs no Paraguai fica

claro que apenas uma pequena parte delas est includa no limite do hotspot original. Outras

diferenas entre os limites do hotspot e o bioma brasileiro foram notadas ao longo das

fronteiras norte e sul do hotspot (a Figura 1.2 destaca as diferenas entre os limites do bioma

brasileiro e os limites do hotspot).

Portanto, a fim de incluir uma rea maior de anlise, englobando todo o hotspot, bem como

todo o bioma Cerrado, alm das IBAs na Bolvia e no Paraguai, uma proposta inicial para

uma nova delimitao do hotspot foi feita para a elaborao do perfil. Esta redefinio inicial

dos limites do hotspot combinou o bioma Cerrado no Brasil com as quatro IBAs na Bolvia e

no Paraguai (Figura 1.3).

Sem dvida, esta proposta poder ser analisada novamente no futuro, depois de recolher mais

informao e de consultar especialistas dos trs pases. Esta uma das iniciativas que os

investimentos do CEPF poderiam apoiar como parte da troca de experincias entre os trs

pases.

30

Figura 1.1. Limites do Hotspot Cerrado Conforme Proposta Original.

Fonte: Mittermeier et al. (2004).

31

Figura 1.2. Limites do Bioma Cerrado e do Hotspot Cerrado.

Fontes: Ministrio do Meio Ambiente e IBGE (2004) para o Bioma; Mittermeier et al. (2004) para o Hotspot.

32

Figura 1.3. Novos Limites para o Hotspot Cerrado, Somando o Bioma Cerrado e as

reas Importantes para Conservao de Aves na Bolvia e no Paraguai.

Fontes: Ministrio do Meio Ambiente (2004) para o bioma e BirdLife International para as reas Importantes

para Aves.

33

As dimenses dos limites originais e recm-propostos do hotspot, incluindo as reas no

Paraguai e Bolvia, so apresentadas na Tabela 1.1.

Tabela 1.1. Distribuio das reas de Hotspot por Pas (Proposta Inicial e Nova).

Proposta rea (ha.)a %

Proposta inicial da rea do Hotspot Cerrado 202.483.809,57 100%

Hotspot no Brasil 201.068.328,90 99,30%

Hotspot no Bolvia 594.558,27 0,29%

Hotspot no Paraguai 820.922,13 0,41%

Proposta nova da rea do Hotspot Cerrado 206.430.056,84 100%

Bioma Cerrado (pela Lei Brasileira) 204.006.553,92 98,83%

IBAs Bolvia (BirdLife) 2.246.778,53 1,09%

IBAs Paraguai (BirdLife) 176.724,39 0,09% a

Estes valores podem variar em funo do tipo de projeo utilizada. Aqui os nmeros refletem um clculo

shapefile com base em uma projeo SIRGAS 2000.

Alm de suas especificidades ambientais, o Cerrado tambm apresenta grande importncia

social. Muitas pessoas dependem de seus recursos naturais para sobreviver com qualidade de

vida, incluindo grupos indgenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos e quebradeiras de coco

babau, que so parte do patrimnio histrico e cultural do Brasil e compartilham o

conhecimento tradicional da biodiversidade. Mais de 220 espcies so conhecidas para uso

medicinal e muitas frutas nativas so regularmente consumidas por moradores locais e

vendidas nos centros urbanos, particularmente pequi (Caryocar braziliense), buriti (Mauritia

flexuosa), mangaba (Hancornia speciosa), cagaita (Eugenia dysenterica), bacupari (Salacia

crassifolia), araticum (Annona crassifolia) e baru (Dipteryx alata).

No entanto, numerosas espcies de plantas e animais esto ameaadas ou correm risco de

extino. Estima-se que 20% das espcies nativas e endmicas no so protegidas por

nenhuma das reas protegidas legais e pelo menos 345 espcies de animais que ocorrem no

Cerrado esto ameaadas de extino (ver Seo 5.2), de acordo com as listas oficiais.

Depois da Mata Atlntica, o Cerrado o bioma brasileiro que mais sofreu com a ocupao

humana. esta combinao de condies elevada biodiversidade e alto grau de ameaa

pela perda de habitat que fez com que esses dois biomas fossem considerados prioritrios

para o investimento em conservao da biodiversidade e servios ecossistmicos.

Apesar do reconhecimento de sua importncia biolgica, o Cerrado conta com uma baixa

porcentagem de reas com proteo integral. Apenas 8,3% de seu territrio contam com

alguma proteo legal. Desse total, 3,1% esto integralmente protegidos por unidades de

conservao e 5,2% so reas de uso sustentvel, incluindo as reservas privadas (0,09%).

Atualmente, o Cerrado uma das principais reas do planeta para a produo agrcola e

pecuria. Embora seja um motivo de orgulho para muitos, a expanso da fronteira tambm

cobra seu preo: cerca da metade do bioma j foi desmatada, colocando em risco a

biodiversidade rica, nica e til assim como todos os seus servios ecossistmicos. A presso

continua intensa por causa da expanso agropecuria de soja, carne, cana-de-acar, eucalipto

e algodo, produtos que so essenciais para a economia nacional e para os mercados

34

mundiais. Como consequncia, as taxas de desmatamento anuais no Cerrado so mais

elevadas do que na Amaznia, onde as taxas anuais caram e a rea total j desmatada

menor. Ao mesmo tempo, a situao socioeconmica no Cerrado est longe de ser equitativa,

inclusiva ou respeitosa para com a natureza. Por exemplo, o Cerrado produz atualmente 30%

do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB), mas o seu ndice de Desenvolvimento Humano

(IDH) inferior mdia nacional. Embora as maiores reas intactas sejam as terras

indgenas, as comunidades indgenas e tradicionais sofrem presso intensa pela expanso de

lavouras e pecuria. Este hotspot precisa, portanto, de medidas urgentes para garantir a

sustentabilidade ambiental e o bem-estar de sua populao.

1.2 Perfil do Ecossistema do Cerrado

Entre outubro de 2014 e outubro de 2015, a Conservao Internacional-Brasil (CI-Brasil) e o

Instituto Sociedade, Populao e Natureza (ISPN) uniram esforos para elaborar o presente

perfil. O processo de preparao deste documento incluiu contribuies, anlises crticas e

recomendaes de mais de 170 pessoas, entre pesquisadores, lderes comunitrios e

indgenas, representantes do setor privado, organizaes no governamentais, autoridades

governamentais e universidades ou centros de pesquisa.

Quatro oficinas foram realizadas com diferentes partes interessadas, trs em Braslia e uma

em So Paulo. Durante essas oficinas a equipe do perfil apresentou o CEPF para uma ampla

gama de instituies nos trs setores governo, empresas e sociedade civil e reuniu

recomendaes para a produo deste documento. A primeira oficina teve a participao de

55 representantes da sociedade civil. Um total de 22 representantes lderes do setor privado

foi subsequentemente consultado em duas outras oficinas. A quarta oficina, em que

participaram cerca de 50 pessoas de diferentes segmentos, foi crucial para rever a

metodologia de sistematizao e priorizao de reas Chave de Biodiversidade (KBAs) e de

corredores estratgicos, bem como para definir as direes estratgicas e prioridades de

investimento para o CEPF. Alm destas oficinas de consulta e planejamento estratgico, a

preparao do perfil tambm envolveu um amplo e detalhado levantamento bibliogrfico e

documental, o que resultou na compilao de informaes encontradas nos primeiros

captulos. Alm disso, dadas as peculiaridades desse hotspot, foram propostas e aplicadas

inovaes nas metodologias para priorizar KBAs e definir corredores para os investimentos

do CEPF..

O Perfil do Ecossistema do Hotspot Cerrado foi redigido e revisto tendo em conta os

comentrios dos revisores, incluindo o Secretariado e o Grupo de Trabalho do CEPF,

especialistas, financiadores e autoridades governamentais. O conselho consultivo incluindo

representantes de diferentes setores (sociedade civil, empresas privadas, governo, academia e

instituies multilaterais, conforme apresentado no prefcio), tambm forneceu o seu apoio.

Como passo final para a elaborao deste perfil, uma quinta e ltima oficina de consulta foi

realizada em meados de outubro de 2015, para validar as orientaes estratgicas e as

prioridades de investimento com lideranas entre as partes interessadas. importante

ressaltar que este perfil consiste em um documento pblico. Embora seu principal objetivo

seja orientar os investimentos do CEPF em conservao da biodiversidade e recuperao do

Cerrado, ele tambm tem como objetivo informar as melhores prticas para as iniciativas

pblicas e privadas. Portanto, o diagnstico e as direes estratgicas e prioridades de

investimento listadas neste documento podem e devem inspirar e orientar outros programas,

bem como outros doadores.

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2. ANTECEDENTES

Este captulo descreve o processo de elaborao do Perfil do Ecossistema, incluindo a

preparao deste documento, a reviso da literatura e as consultas junto s partes

interessadas.

Os objetivos do Perfil do Ecossistema so fornecer uma viso geral da conservao da

biodiversidade do Hotspot Cerrado, analisar as prioridades de ao e identificar formas de

fortalecer as aes da sociedade civil para a conservao do Cerrado. Ao faz-lo, estabelece

um quadro estratgico para a implementao de programas de investimento do CEPF em

conservao no hotspot, que ter uma durao de cinco anos, comeando em 2016. O perfil

tambm define uma agenda mais ampla de conservao na regio, tendo como objetivo

incentivar diversas partes interessadas a se envolver e apoiar esta agenda.

Embora o Cerrado tenha sido selecionado como um dos 25 hotspots mundiais originais

(Myers 1988, 1990; Mittermeier et al. 2000), at recentemente recebeu pouca ateno por

parte do governo brasileiro e da comunidade internacional. O outro hotspot mundial

localizado no Brasil, a Mata Atlntica, foi includo no Programa Piloto para Proteo das

Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) entre 1993 e 2009 e recebeu o apoio do CEPF entre

2001 e 2011. Agora que houve reduo significativa do desmatamento na Mata Atlntica e na

Amaznia, o Cerrado comeou a receber mais ateno internacional. No entanto, ainda

recebe nveis muito menores de financiamento (ver Captulo 11).

O Perfil do Ecossistema descreve as aes de conservao da biodiversidade necessrias no

Cerrado por meio da definio de resultados de conservao. Conforme descrito em detalhes

no Captulo 5, esses resultados so definidos em trs nveis: espcies, locais e corredores (ou

seja, paisagens). A unidade bsica de anlise para definir os resultados da conservao ,

portanto, informao sobre locais onde as populaes de espcies ameaadas podem ser

encontradas, denominadas reas Chaves para a Biodiversidade (Key Biodiversity Areas -

KBAs). Para agrupar esta inf