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Perfis: Twin Peaks, Mozart e Gonzaguinha Na 12, 13 eIS Kleinübing trabalha desperdiçando 70 milhões em propaganda FLORIANÓPOLIS, 29 DE MAIO A 12 DE JUNHO· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC ANO IX, N: 2 Aumentam casos de AIDS no Estado Na página 10 A ENTREVISTA COM CLÓVIS ROSSI ESTÁ NA CENTRAL o registro da greve está na 2,3 e 16 Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Perfis: TwinPeaks, Mozart eGonzaguinhaNa 12, 13 eIS

Kleinübing trabalhadesperdiçando 70milhõesem propaganda

FLORIANÓPOLIS, 29 DE MAIO A 12 DE JUNHO· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC • ANO IX, N: 2

Aumentamcasos de AIDS

no EstadoNa página 10

A ENTREVISTACOM CLÓVIS ROSSIESTÁ NA CENTRAL

o registroda greve estána 2,3 e 16

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZEBO

***Melhor

Peça GráficaI, "e 11/ SetUniversitárioMaio 88

Setembro 89Setembro 90

Jornal-laboratório do Cur­so de Jornalismo da Univer­sidade Federal de Santa Cata­rina, editado em 29 de maiode 91Arte: FrankCopydesks: Jornalistas­professores Gastão Cassel,Gilka Girardello e RicardoBarretoDiagramadores(as): AdrianaMartorano, Angelita Correa,Fernanda Medeiros, JoãoPaulo Miller, Marta Scherer,Nilva Bianco, Simone Frits­cheEditores assistentes: EmersonGasperin, Fernando Mos­korz, Marta Moritz, Marcelode Andrade, Nilva BiancoEditor e supervisor: professorRicardo Barreto (MTb 2708RS)Fotografia: Deise Freitas, Pe­dro Melo, Sara Caprário, Te­rezinha Silva, Victor CarlsonLaboratório fotográfico: Dei­se Freitas, Pedro MeloMontagem: MarinhoTextos: Alexandre Gonçal­ves, Ana Cláudia Menezes,Ana Carine Montero, Geral­do Hoffmann, Mônica Linha­res, Nelson Lorenz, azias Al­ves Jr., Pedro Santos, RafaelMasseli, Rogério Mosimann,Sara Caprário, Silvânia Sie­bert, Terezinha Silva, VictorCarlsonAcabamento e impressão: Im­pre farRedação: UFSC-CCE-COM,Curso de Jornalismo, Trinda­de, CEP 88049, Florianópo­lis, SCTelefones: (0482) 31-9215,31-9490Telefax: (0482) 33-4069Distribuição gratuitaCirculação dirigida

João Pessoa parou.Foi geral, -

Criciúma tem desemprego: parouFoi uma greve parcial em San­

ta Catarina, onde houve parali­sação, principalmente dos servi­dores públicos e professores es­taduais e federais, previdenciá­rios e bancários, que protesta­vam contra a política econômicado governo.Para chegar a esta greve a

Central Unica dos Trabalhado­res (CUT), discutiu muito du­rante o ano com as categorias.Campanha publicitária, conver­sas com sindicatos, organizaçãode passeatas, shows e tantas ou­tras coisas que envolvem uma

greve geral.A CUT na terça-feira, dia 21,

já considerava a greve como vi­toriosa. Ineir Mittmann - presi­dente da CUT em Santa Cata­rina afirma que "mais de 90%da população na terça-feira jása­bia da greve e o que ela estavacombatendo: o arrocho, a situa­ção de miséria da população, ossalários que valem 1/4 desdequando o Collor assumiu e os6 milhões de trabalhadores de­

sempre&ados" .

Criciuma parou - O primeirodia de greve foi o mais expressivoem adesões. Blumenau, Caça­dor, Concórdia, Jaraguá do Sul,Imbituba e Chapecó paralisaramquase que totalmente as ativida­des nas escolas federais, esta­duais e municipais. Descanso,Itapiranga, Anchieta, Remelân­dia, Caxambu do Sul, Aguas deChapecó e Quilombo decreta­ram ponto facultativo, segundoa CUT. Ern La�es o Banco doBrasil foi invadido por agricul­tores.

GREVE NACIONAL

nor que seja, onde não tenha si­do mostrada a angústia".João Pessoa (PB) foi a capital

que obteve maior êxito na grevegeral. Os trens e ônibus não cir­cularam. Os funcionários da saú­de, educação, construção civil eferroviários paralisaram 100%.Só o comércio funcionou, par­cialmente.

Com a greve dos transportesem São Paulo, indústrias, comér­cio e bancos abriram suas portascom menos funcionários. O trân­sito ficou tumultuado devido aosconstantes congestionamentos.No ABC, principal base daCUT, não houve greve e até os

movimentos de protestos que ti­nham sido programados fracas­saram, devido as sucessivas para­lisações salariais da categoria."Eu não posso agir como um di­tador diante dos trabalhadores:tenho de me submeter às deci­sões deles", disse Vicente Pauloda Silva, presidente do Sindicatodos Metalúrgicos de São Bernar­do do Campo e Diadema..Ministério em greve - Mesmo

sem fazer um balanço das parali­sações, o Ministro do Trabalho,Antônio RO$ério Magri, afir­mou que "não houve nenhumagreve no país, mas, sim, um con­

Junto de Incidentes violentos pa­trocinados pela CUT", esque­cendoa longa greve em seu pró­prio ministério. Sobre a situaçãoda prefeita de São Paulo, LuizaErundina, o ministro disse ape­nas que "ela não fez o menor

esforço para evitar a greve". Umrelatório das Delegacias Regio­nais indica, de acordo com Ma­gri, que a paralisação' ocorreuapenas nos transportes coletivosde São Paulo, Rio e Bahia, Esta­dos onde foram registradosmaiores índices de violência.

No Rio de Janeiro apenas os

ferroviários paralisaram total­mente, os metroviários pararamparcialmente, mas o metrô nãodeixou de funcionar. O comandode greve reconhece que a parali­sação foi parcial. O Banco doBrasil e a Caixa Econômica Fe­deral fecharam algumas agências

na capital carioca. O gove-rnadorLeonel Brizola não quis dar de­clarações sobre o movimento.Os organizadores da greve em

Porto Alegre formaram um "pi­quetâo" para fazer passeatas pe­las principais ruas da cidade,obrigando lojas a fecharem. Inci­dentes sem gravidades envolve­ram grevistas e a polícia militardo estado. O comando da grevegeral informou que grandes in­dústrias da região metropolitanafuncionaram normalmente.

taduais paralisaram suas ativida­des, São Miguel d'Oeste man­

teve a greve entre 60% dos pre­videnciários e 70% dos profes­sores. Em Concórdia a Embra­pa, Escola Técnica FederalAgropecuária, Associação Cata­rinense de Criadores de Suínos- ACCS e 85% dos professoresestaduais.Alguns incidentes marcaram a

greve no estado, com duas pes-

Para o monopólio de comuni­cações a greve foi um fracassototal, resultando apenas em vio­lência e depredação. Mas os diri­gentes sindicais acreditam que os

protestos serviram de demons­tração da revolta dos trabalha­dores, conseguindo ocupar man­chete de jornais e algunsminutosdos telejornais. Para Luiz InácioLula da Silva, presidente do PT,"qualquer resultado será umalerta para o governo".

SII'II Cllp,ã,io

soas presas em Joinville, um- de­les membro do Sindicato dosEmpregados na Indústria MetalMecânica, Em Rio do Sul a polí­cia utilizou gás lacrimogêneo,para desafazer um piquete for­mado em frente ao terminal deônibus. Em Criciúma um moto­rista de ônibus foi atingido poruma pedrada.

Parcialmesmo,foi a coberturada imprensaA greve geral convocada pela

Central Unica dos Trabalhado­res (CUT), com apoio das CGTs(Central e Confederação Geraldos Trabalhadores) conseguiuapenas uma adesão parcial emtodo o país. Com objetivo deprotestar contra a política econô­mica recessiva e o desemprego,os dirigentes sindicais encerram

a greve com um balanço nega­tivo, segundo a imprensa nacio­nal. E o governo, que não acre­

ditava no sucesso da paralisação,ganha tempo para uma tentativade entendimento nacional.Para Jair Meneguelli, presi­

dente da CUT, os objetivos dagreve foram alcançados. Duran­te entrevista coletiva disse quenão importa o número de traba­lhadores parados, mas o fato deque "não houve cidade, por me-

"Criciúma foi um sucesso",comentário geral entre os mem­

bros da CUT. Com paralisaçãototal da cidade, apenas 5% dafrota de ônibus operou.No segundo dia de greve mui­

tas categorias voltaram a traba­lhar, poucos municípios manti­veram sua adesão: em Chapecó80% dos professores permane­ceram parados, Blumenau aFURB e 80% dos professores es-

MAIO 91 ZERO2

Silviinill Siebert

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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GREVE NA ILHA

Está tudo ótimo no Brasil Novo

"Eu tô passando fome. O queeu vou fazer? Roubar eu não

posso. se não a polícia me pren­de! "desabafa a aposentada Ma­ria de Lurdes Fanas, que não pa­rava de apitar e gritar palavrasde ordem nos dois dias de mani­festações da Greve Geral, con­vocada pela Central Unica dosTrabalhadores (CUT) e pelasduas centrais Gerais dos traba­lhadores (CGTs) para os dias 22e 23 de maio.

E a polícia prendeu. Mas. ne­nhum dos 12 detidos estava rou­

bando. Todos participavam daGreve Geral, em protesto contraa política econômica do governoCollor, o arrocho salarial, e a pri­vatização das universidades e es­

tatais em geral, pela melhoria no

ensino público e pela reformaagrária urgente.As manifestações no primeiro

dia da Greve começaram porvolta das 10:00 hs. da manhã.Cerca de mil pessoas, entre pro­fessores, bancários, comerciá­rios, funcionários da Sunah,APAE, Fundação Hospitalar e

estudantes saíram do largo da ca­tedral em passeata pelo centrode Florianópolis. O chamado"arrastão" tinha como objetivoconvencer o comércio a fecharsuas portas.

Os comerciantes que tinhamaberto suas lojas fecharam com

medo de depredação. Quem ar­

riscou ficar com as portas aber­tas. como uma panificadora na

rua Tenente Silveira. foi vítimade piquetes e acabou fechando.Os piqueteiros gritavam "Fecha!Fecha�" e os mais exaltados ba­tiam nas portas das lojas e han­cos. Nas Casas Coelho chegarama danificar o letreiro.Diante de tanta convicção dos

grevistas, restou aos comercian­tes fechar suas portas. enquantoa passeata seguia com rumo cer­

to: o terminal urbano de Floria­

nópolis, onde alguns poucos po­liciais só observavam.

RepressãoNo terminal, os manifestantes

sentam-se no chão e impedema saída dos ônihus. A propostado comando da greve é só um

ato temporário para sensibilizaros motoristas e cobradores a ade­rirem a greve. O policiamentoaumenta, os policiais fazem uma

corrente , mas, continuam só oh­servando. O clima é tenso. Osmotoristas pareciam mio se sen­

sibilizar com o chamado à ade­sáo. "Se der pra trabalhar, nóstrabalha" disse um motorista da

empresa Transol. Chega reforçoda polícia militar e o contingentede. policiais alcança cerca de 200."E born o pessoal sair no máxi­mo em cinco minutos, se não

complica", diz um sindicalista.

Não existe arrocho, inflação, desemprego em massa ...

Presidente fez beicinho mas uma minoria parou

Estudante não-grevista: presoA polícia não deu nem cinco

minutos, partiu para cima dosmanifcstantes que se defendiamdos cacetetes com mastros debandeiras de cano PVc. A vio­lênciafoigrande, quem não que­na sair fOI sendo empurrado e

espancado. Os policiais apreen­deram a Kombi do som e logo

. possibilitaram a saída dos ôni­hus.A violência ainda não havia

terminado. Agora, já na PraçaXV. a polícia enfrenta os gre­vistas que respondem com pe­dras.Várias pessoas foram pre-

ldeli tentou mobilizar ...

sas. Testemunhas afirmam quea polícia prendeu urn estudanteque estava num bar no local daconfusão.O saldo final foram doze pre­

sos e duas pessoas no hospital:uma com hemorragia nos testí-

MAIO 91 ZERO3

. ..mas como Rita: foram presas

culos e outra com suspeitas defraturas nas costelas.

Menor presoEntre os detidos estavam o

vereador do PC do B João Gui­zoni, Rita Gonçalves, presiden­te do Sindicato dos Trabalha­dores em Educação, um estu­dante de apenas 14 anos e nove

sindicalistas: O estudante foi sol­to ainda no local, por ordem dosecretário de Segurança PúblicaSidney Pacheco, graças a inter­vençáo do advogado ClementeMannes da CUT e da vereadoraClair Castilhos (PSDB). As ou-

tras pessos presas foram levadasao 1': DP (centro) e soltas porvolta das 16:00 horas.

,

"A polícia me 'enforcouquando me prendeu" foi só o

que o menino Alexandre conse­

guiu dizer. "Não queremos vio­lência", afirmou Sidnev Pache­co. "Só queremos assegurar o di­reno para quem quer trabalhare l?ara quem quer voltar para ca­

sa.

concluiu o secretário. Apóso tumulto. os grevistas voltaramao largo da catedral.Fora do centro, alguns colé­

gios pararam e "a universidadefederal ficou quase toda parali­sada, só com algumas aulas nos

centros sócio-econômico e tec­nológico". diz Paulo Corso. doDiretório Central dos Estudan­tes.

No período da tarde. houvemais passeatas. sem nenhumtranstorno. O comércio funcio­mau normalmente. exceto nos

momentos da passeata. quandoas portas fechavam. Ao anoite­cer. houve nova concentração no

largo da catedral. O clima era

de scontraido , pessoas dançan­do. vendedores de chocolate nas

escadarias e até um grupo folclo­nco tez uma apre se nt açâo deBoi-de-mamão.

CalmariaO segundo dia da zreve , foi

IIIa rca cit)" por ofensas do coman­

do de zreve aos meios de cornu­

nação �pela repetição, por partedos grevistas de que a greve esta­va sendo vitoriosa em todo o

Brasil. "A greve cumpre e cum­

priu seus objetivos" avaliou Jor­ge Lorenzetti, membro da exe­cutiva nacional da CUT.Cerca de KOO pessoas partici­

param da passeata pela munhâ.A todo momento estou ravam

"rojões" e a Kombi do som pe­diu aos mauitestantes que ide nti­ficassem o baderneiro. Era Fa­brizio S .. II anos. jornaleiro. Aoser perguntado sobre por CJ.u0 fa­WI aquilo. respondeu: "E paraassustar esses vazabundos. deviatü tudo trabalhando". A mani­festaçáo seguiu sem o

.. rerroris­ta" e foi para o terminal. Destavez, os manifestnntes ficaram dooutro lado da rua.

O vereador João Guizoni (PCdo B) avaliou o movimento co­

mo "forte, dentro das expecta­tiva- do comando. quanto a polí­cia. a gente pode esperar tudo.ainda mais num país autoritáriocomo esse". Varios represenran­res de partidos discursaram na

catedral. "Os dois dias mio ter­minam hoje, Seio o início de uma

grande jornada para devolver O·Brasil pra gente" proclamouDc lmun Ferreira, membro daexecutiva nacional da CUT.

Rogério Mósimann

r

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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DESPERDíCIO,

Kleinübing adota estilo Collorse. Por um decreto de 29 deabril, Berea passou a ter a úl­tima palavra sobre toda a mí­dia governamental, inclusiveo poder de selecionar e con­

tratar agências de publicida­de. O mesmo decreto tam­bém lhe impõe o dever de co­lher e prestar informações deinteresse da comunidade.

�Santa Catarina l,1ffuma a casa, fazeconi

e vaiembusca de um futuro melh(l�»:·:·,..w;_·· --'-_-;-:«.,:.):.'-.-,,-:-:<,:,_, - ,.

:,.':i� : :::,:,!,�; .. :�::'���w :"·��'::��{w::::�:: .. _.:

Governador nãopechinchou nahora de pagar

Santa CEitarina arruma a casa, fEiz ecoticmiafJ.vaiem busca de um futUff) mgthor.

Um "pedido de informa­ção" aprovado pela Assem­bléia Legislativa, no dia 29 deabril, está incomodando o go­vernador Vilson Kleinübing.Os deputados da oposiçãoquerem saber quanto o go­verno do Estado gastou com

propaganda entre 15 de mar­

ço e 28 de abril. Cálculos ex­

tra-oficiais, baseados nas ta­belas de preços dos meios decomunicação, indicam que o

Palácio Santa Catarina já des­pejou cerca de Cr$ 70 milhõesem oito jornais, quatro emis­soras de TV e duas agênciasde publicidade. E dinheirosuficiente para pagar o saláriode dois mil professores.Até agora, a obra mais visí­

vel do governo que se diz em"estado de trabalho" é a pu­blicidade oficial. Em um mêse meio, foram oito anúnciospublicados nos quatro princi­pais jornais catarinenses(Diário Catarinense, A Notí­cia, O Estado e Jornal de San­ta Catarina), um nos quatromaiores diários do centro doPaís e três vinhetas, de trintasegundos cada, veiculadasdezenas de vezes nas �atroemissoras locais de TV tKBS,RCE, Barriga Verde e TV OEstado). Sem contar com as

manchetes quase diárias a fa­vor do governo e um eficienteesquema de rádio montadono Palácio, que chega a em­

placar em média 132 boletinspor dia (mais da metade ao

vivo) em 83 das 93 emissorasexistentes no Estado.Os gastos exagerados com

mídia eram visíveis desde os

Mas só quer responder à As­sembléia, no final de maio,quanto o governo já gastoucom propaganda. Para despa­char o repórter que insistiudurante duas semanas atrásdesses números, chuta "unsCr$ 30 milhões". Sequer in­forma que o orçamento assu­

miu a pasta. O ex-secretáriode Comunicação Social, NeryClito Vieira, garante que dei­xou em caixa Cr$ 36 milhões,de um orçamento de Cr$ 76milhões para 1991. Kleinü­

bing diz que vai enviar umprojeto de lei à Assembléiapara fixar o novo orçamentoao gabinete de divulgação"porque a verba acabou".

Governo catarínense torrou 70 milhões em propaganda

primeiros dias do atual gover­no, mas só foram notados pe­la oposição no dia 19 de abril,quando a Folha de São Paulo,O Estado de São Paulo, OGlobo e o Jornal do Brasilestamparam um anúncio depágina quase inteira sobre o

Plano de Modernização doGoverno, com o título "SantaCatarina arruma a casa, fazeconomia e vai em busca deum futuro melhor". O depu­tado Arnaldo Schmitt(PMDB) pôs a boca no trom­bone na Assembléia: "Sócom o dinheiro gasto na pu­blicação do anúncio na Folha(Cr$ 7,2 milhões), o governopoderia pagar a insalubridadede 412 enfermeiras". Nosquatro jornais, juntos, a peçacustou algo em torno de Cr$20 milhões.

ra o serviço. Há oito agênciaspré-qualificadas ainda 'pelogoverno do PMDB: MPM,Granméta, RL, SC, Quadra,Artplan Sul, Propague e ExaPropaganda. Pelo menos trêsdeveriam receber uma "car­ta-confite", para execução demídia até o valor de Cr$ 7,9milhões para serviços acimadesse valor, deveria haver to­mada de preços ou licitações.

O governador Vilson Klei­nübing irrita-se com o quechama de "modismo de co­

brar quanto o governo gastacom propaganda". Diz �uelançou mão desse tipo de ' di­vulgação" - limitada pelaConstituição Estadual - pa­ra desfazer a "imagem debandido" com que teria sidopintado após a aprovação emregime de urgência e sançãoapressada do PMG. "O amin­CIO em jornais do centro doPaís tem o objetivo de atrairinvestimentos para Santa Ca­tarina", defende-se. Um diadepois de receber o "pedidode informação" da Assem­bléia, Kleinübing decretou o

fim da "carta-convite" àsagências e prometeu incluiras despesas com publicidadenos balancetes mensais quecontinuará publicando nos

jornais.

"Jogo da Verdade" - OChefe do Gabinete de Co­municação Social, EugênioBerea Filho, resiste a cum­

prir uma palavra que escre­

veu no primeiro anúnciodeste governo: transparên­cia. "Só publicamos os balan­cetes, que é promessa decampanha, e fizemos uma di­vulgação do PMG", esquiva-

amoço com 150 empresáriosno Hotel Castelmar. Entre os

convidados, um editorialistada Gazeta mercantil encan­tou-se com o PMG, que defi­niu como "O exemplo deSanta Catarina", no editoriale sábado, 27, que também vi­roumatéria paga na imprensabarriga verde.O almoço foi organizado

pelo presidente da Associa­ção dos Dirigentes Brasilei­ros de Vendas - ADBV/SC,Roberto Costa, dono da Pro­pague, agência que, juntocom a Artplan Sul, de PauloRoberto Bornhausen - filhode ex-senador Jorge Bor­nhausen (PFL), abocanhouboa parte dos Cr$ 200 mi­lhões gastos pela União porSanta Catarina na campanhaeleitoral de 1990. Estas duasempresas também estariamrachando a conta publicitáriado governo, denuncia o donode uma agência habilitada pa-

O mistério que ainda en­

volve os negócios de propa­ganda do governo lança duvi­das sobre o título de um anún­cio veiculado no dia 19 deabril nos jornais locais: "Ojogo da verdade já come­

çou". Parece ter razão o líderdo PFL, Júlio Garcia, paraquem "este governo tem di­vulgado apenas o que faz".

Pro-paganda em cima de pro­paganda. E, como diz AldousHuxley, no livro

.

AdmirávelMundo Novo " "os maiorestriunfos da propaganda fo­ram obtidos não fazendo coi­sa alguma, mas deixando defazê-Ia. A verdade é grande,mas ainda maior, de um pon­to de vista prático, é o silênciosobre a verdade".

A denúncia do deputadomereceu uma nota de pé dapágina no jornal O Estado,longe do destaque dado, emmarço, às notícias sobre a

campanha publicitária do fi­nal do governo do PMDB,que custou Cr$ 90 milhões.

J

O anúncio do PMG ganhouum elogioso editorial do Jor­nal do Brasil: "Um exemplodo que pode e precisa ser fei­to para recolocar o Brasil nos.trilhos ql1e levam ao PrimeiroMundo no século' XXI estásendo dado pelo governadorVilson Kleinübing" , escreveu

o editorialista, no dia 23 deabril. O editorial virou anún­cio nos quatro jornais catari­nenses. Um elogio page.

Entre Amigos - Dois diasdepois do elogio do JB, Klei­nübing partic_ipou de um

1I •••0 seu "jogo da verdade"••• de todo Pais••.Anunciando em jornais...

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CONTRASTES

o Governoarruma a casa

através da imprensae não economiza em cooptação

Imprensa é amordaçadaGoverno trocacoberturasporpublicidadeA história se repete e, aqui,

até com coincidência de nomes.

'Conta o jornalista Moacir Perei­ra, num texto inédito, que du­rante a gestão do governadorAntônio Carlos Konder Reis(1975-1979), o governo do Esta­do teve "participação direta" noprocesso que levou o MDB' a de­nunciar o amordaçamento daimprensa catarinense.Konder Reis criou a Dicesc­

Companhia de Divulgação doEstado de Santa Catarina, quecentralizou todas as verbas pu­blicitárias dosÓrgãos e das em­

presas públicas. Passou a com­

PEar eSP31ç_o nos jornais, televi:soes e rádios que, em troca, so

divulgavam notícias da Arena.

Segundo o colunista, a linha edi­torial de alguns desses veículosera ditada por jornalistas contra­tados pelo Palácio.Lê-se no texto de Pereira:Os jornais tidos como impar­

ciais passaram a sofrer pressõesdiretas e indiretas do sistema go­vernamental. Cinco jornalistasde Porto Alegre foram obriga­dos a solicitar demissão do Jor­nal de Santa Catarina e da TV

Coligadas, porque, segundo al­

guns depoimentos, eram profis­sionais e apresentavam os fatose noticies com a imparcialidadeexigível e desejável. Os dois veí­culos - de uma mesmo grupo -

não queriam este tipo de maté­ria. O jornal e a TV foram, namesma época, adquiridos peloSr. Paulo Roberto Bornhausen,primo-irmão do governadorKonder Reis, em duvidosa ope­ração comercial, e que levou o

MDB a contestara saída. Parale­lamente, os mesmo veiculos co­

meçaram a se fixar em notíciasexclusives da Arena e do gover­no, a ponto de se posicionaremem editoriais. Começaram a per-

der o crédito perante a opiniãopública, que denomina o jornalde 'Diário Oficiar.O governo Konder Reis ainda

conseguiu acabar com "o melhor

programa de radiojornalismo atéentão produzido em Santa Cata­rina", o Linha de Frente que vei­

culava os debates da AssembléiaLegistativa. "Como a bancadada Arena era menos atuante quea do MDB, o programa pegou",escreve Moacir. A Rádio SantaCatarina decidiu extingui-lo de­pois de uma briga Que o gover­nador comprou com os deputadosda oposição, ao inteferir direta­mente no Legislativo. O dono darádio, Arldo Carvalho, 2� su­

plente de deputado federal, de­mitiu três jornalistas - dois com

imunidade sindical - e foi pre­miado com uma cadeira no Con­gresso Nacional, através de ma­

nobra política conduzida porKonder Reis. "O governadornão atendia aos repórteres, deuapenas uma entrevista formal.Os secretários evitavam os jor­nalistas", diz ainda Moacir.

. Apesar das pressões e do par­tidarismo que tomou conta daimprensa, havia veículos quecontinuavam divulgando os fa­tos "com imparcialidade e inde­pendência", ressalva Pereira, notexto "Aspectos da RealidadePolítica de Santa Catarina",apresentado num curso sobre"análise catarinense", promovi­do pelo Regional Sul IV daCNBB, em Lages, em 1978. Naplatéia, estava um professor uni­versitário de nome FernandoMarcondes de Mattos.Dois anos antes, a Assembléia

Legislativa formara uma Comis­são Parlamentar de Inquérito pa­ra apurar as atividades da Di­cesc. Konder Reis recusou-se vá­rias vezes a fornecer os docu­mentos requisitados pela CPI e,diante da insistência dos depu­tados da oposição, extinguiu a

empresa. As 169 folhas do rela­tóno foram para o arquivo, des­tino de quase todas a CPls dacorrupção.

A enxurrada de anúncios con­tinuou abastecendo os caixas dosmeios de comunicação duranteos governos de Jorge Bornhau­sen (1979-1982) e de EsperidiãoAmin (1982-86). Basta folhearos jornais da época para confe­rir. Pedro Ivo Campos-PMDBtentou conter essa sangria de re­

cursos públicos a partir de 1987e se deu mal com a imprensa.Até Kleinübing já disse aos jor­nalistas que cobrem o Palácio:"A pressao dos patrões de vocêspor mais verbas publicitárias égrande". Mas não reclama da co­bertura que vem sendo dada a

seu governo.Quem reclama desta cobertu­

ra é o presidente do diretório doPMDB de Florianópolis, NeryClito Vieira, que acusa a impren­sa local de "parcialidade, por to­mar como verdade única a ver­

são do novo governo". O PMDBtambém promete entrar com

uma ação popular na justiça paraque o governo Kleinübing devol­va aos cofres públicos o dinheirojá gasto em publicidade inconsti­tucional. O PT apresentou pro­jeto de lei na Assembléia pararegulamentar a propaganda ofi-cial. .

O desfecho dessa história ain­da é desconhecido, mas algunsnomes não são novos na cena.

O professor Marcondes de Mat­tos, que viu Moacir Pereira fazeras denúncias de pressões, no cur­so da CNBB em Lages, é hojesecretário da Fazenda e Planeja­mento. Tem a chave do cofre.Konder Reis é vice-governador.A extinta Dicesc agora é o Gabi­nete de Comunicação Social,mandado por Eugênio Berea,que já trabalhou pafa o ex-secre­

tário de Agricultura de Amin,Vilson Kleinübing, e agora dá a

última palavra sobre os gastos dogoverno com publicidade. Masesquece da transparência. com

a cumplicidade da "grande" im­prensa.

Textos:Geraldo Hoffmann

Marginalizados reclamamdo preconceitocontra seu estilo de vidaIndigentes sãoconfundidoscom aidéticos

A Aids, também chamada SI­DA, está solta. Fantasma substi­tuto do tifo, da tuberculose, docâncer, a doença estimula resis­tências e preconceitos. No cen­

tro de Florianópolis, na esquinada Rua Conselheiro Mafra com

a Rua Trajano, vive um grupode pessoas que se autodenomi­nam "hippies" e que são consi­derados como "aidéticos" pelospopulares que os conhecem. Vi­vem do dinheiro que esmolame das gorjetas em troca de vigi­lância de automóveis que esta­cionam por ali."Em comum", diz Carlos, um

dos integrantes do grupo "nóstemos o alcoolismo e a amiza­de". Entre nós não há maldade,dormimos juntos sem ninguémabusar de ninguém e quandochega alguém novo querendo sa­

canagem nós fechamos o cerco

pro cara". Carlos é natural deItajaí, tem 27 anos e desde no­

vembro, quando chegou em Flo­rianópolis, trabalha à noite, cui­dando dos carros no estaciona­menta do restaurante Lagoa's naBeira-Mar. "Logo no início",conta "quando cheguei, estavasentado na porta do mercado, e

do meu lado estavam a Xuxa e

o marido dela, o Jefe; eu nãotinha dinheiro nem cigarro. AXuxa fazia o maior escândalo,que é o J'eito dela, eu chegueinela e pe i um cigarro". A Xuxaou "Polaca", como também échamada, não tinha cigarro, masrapidamente conseguiu um, ofe­recendo-o para Carlos que a par­tir daí se integrou ao grupo.Xuxa é uma mulher magra,

bem magra, cabelos curtos de pi­vete e um jeito italiano de se ex­

pressar, não no sota9ue mas no

exagero dos gestos. 'Mora" na

esquina da Conselheiro junto

com o marido Jefe ou "Cachor­rão". "Cachorrão do meu mari­do" como ela o chama, para fes­tejo dos amigos. Xuxa até teria·onde morar. A mãe dela desceo morro todos os dias para tra­zer-lhe roupas limpas e pedir-lheque vá dormir em casa, coisa queXuxa se nega a fazer, confirmao grupo. Jefe, diminutivo de Je­ferson, tem traços de índio no

rosto e o cabelo comprido de um

marrom oleoso. Um sorrisofranco, cheio de dentes come­

mora todas as façanhas da sua

sempre presente e ciumenta mu­

lher. O casal diz estar com tuber­culose. Não tratam a doençaporque, segundo eles, não têmonde fazê-lo. "Nem hospitaisnem igrejas querem cuidar dagente", diz Jefe. E assim eles fi­cam na rua pedindo dinheiro pa­r� comprar cachaça. "Ontem",disse Jefe, "com o grupo todobebemos nove litros de puri­nha".

Amigos Legais - Tem aindaum casal que convive com o gru­po, mas mora em uma casa aban­donada na Rua Trajano. Este ca­

sai- ele alto, quase dois metrosde altura, cabelos crespos caindonos ombros; ela, pequena e frá­gio - trabalha com artesanatoe tem uma filha de seis mesesde idade. Ficam ali com o grupop�)fque são seus amigos, comodizem os dOIS: "entre nós, nósnos cuidamos". Carlos concordae acrescenta dando o exemplodo "Menino".

O "Menino", como eles o cha­mam, tem 27 anos, está com

Aids, e os "hippies" dividem o

que têm com ele. Baixinho, mui­to magro, feridas abertas escon­

dem a pele branca. Foi estupra­do por desconhecidos duas ve­

zes, a última vez faz pouco tem­

po, conta Carlos, que com penalembra-se de Vera. Ela tambémera integrante do grupo e mor­

reu, três semanas atrás vitimadade Aids. Talvez tenham sido es­

tes últimos casos que fizeramuma policial de trânsito se referiraos '.'hippies:: como um "grupode aidéticos . As pessoas que,esquivando-se, passam por elesde longe e transitam pelo PontoChic também se referem a elescomo um grupo de "aidéticos",o que é contestado pelos "hip­pies". "No nosso grupo tem detudo, tem tuberculose, tem aidé­tico, tem cara que se pica e tem

cara são como eu, que já fiz exa­me para Aids, c não deu nada"diz Carlos, o rapaz loiro, fortee bonito que há seis meses, depassagem pela capital, acabouachando um trabalho: cuidar doscarros da Beira-Mar. - Com­prei a praça de um cara, e agoraé minha, é de lá que tiro meus

trocos e também uns amigos le­gais".

Ana Carine Montero

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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BRASIL NOVO".

; com o barulho que o motor!:! da"Ais de Ouro" vai fazen­� diii o.

:oS•t�

A sobrevivência que vem. da lamaEmPalhoçaapesca do berbigãoajuda na rends

Roseli e Fátima Dutra, cu­nhadas e comadres de 30 anosde idade, vão sair mais um

dia para chafurdar na lamaonde vive o berbigão. Elas fa­zem parte de um grupo decerca de 30 mulheres que so­

brevivem, assim como suas

mães e avós sobreviviam, ti­rando berbigão nosyântanosda Ponte do Imaruí, municí­pio de Palhoça. Nos dias emque a maré é favorável se­guem rumo ao mar com ba­Iaios, baldes e sacos nas mãos

para buscar na lama negra o

produto que, vendido, ajudanas despesas da casa, porquea gente tem que se VIrar dojeito que pode, explica Rose­li, pra não morrer de fome.As duas estão há poucos me­ses nesta vida de mulher doberbigão. Vida danada quedepende da direção do vento,pois quanto sopra o vento sulamaré enche e aí só se mergu­lhar pra tirar berbigão. Antesde partir, elas pedem a meni­na Kelly, 10 anos de idade,filha de Roseli - que leve o

irmão para a escola, e cuidebem da priminha Karina, de2 anos.

Na saída de casa encon­

tram o Negão sentado pr�gui,­çosamente numa cadeira a

beira da rua - bermuda, pei­to nu e uma "Dorilda" tatua­da no braço direito, ele bebecalmamente seu chimarrão e

provoca as mulheres: o ventosul tá chegando, maré cheianão vai dá nada, e Fátima,vai trabalhar Negão em vez

de rogar praga pra nós, e elesorri maroto, tô doente, e

Roseli, cara amarrada, tu tássempre doente, e seguemadiante. na rua pequena e es­

treita que vai desembocar nu­ma outra, paralela ao mar.

Ali, avistam José Paulo Ma­chado, o Dinho, que já vailonge com seus passos largos,levando nas costas o balaioe o rodo - uma espécie degarfo gigante fechado nos la­dos, que ele usa para tirarberbigão. Dinho volta a cabe­ça quando escuta o assobiode Fátima 9,ue grita "já iassem nós, é?' , e torna a virarpara frente e caminhar, en­

quanto elas correm pra te al­cançar, meu amigo Dinho,hoje a maré tá baixa e tu vaisficar rodeado de mulher, e ele

Dona Maurina colhe berbigão há nove anos mas apesar da dureza do trabalho é dali que sai seu dinheiro

ri porque hoje tá bom e a ma­

ré vai baixar ainda mais. En­tram n'água, caminham maiscinco minutos até chegar -

já com água acima dos joe­lhos - onde está encorada a

lancha-baleeira "Ais de Ou­ro". As mulheres se acomo­

dam na proa do barco e Di­nho, de pé, liga omotor baru­lhento, rompe esse silênciode mar, segu_ra firme o leme

Quando sopra o vento

sul, a maré sobe e

complica o trabalho

e conduz a baleeira.O rumo é o Rio da Palhoça

- aquele lado de mangues e

lodaçais onde desembocamalguns rios do município -,um dos lugares onde o berbi­gão é mais farto. No trajeto

de 20 minutos a conversa ésobre a vida de quem depen­de do mar: a maré que tá bai­xa, graças a Deus, o vento,e o berbigão que vai ser graú­do. São quase oito horas e o

sol aparece entre as nuvens.

Sua luz, quase horizontal,forma uma faixa dourada na

superfície calma do mar, on­de cardumes de manjuvas pu­lam fora d'água, assustados

MAIO 91 ZERO6

Dinho conduz a baleeiraolhando sempre para frenteaté que escuta: "olha lá, Di­nho, não é a Dona Mauri­na?", e é a Roseli quem apon­ta para a direita de Dinho e

ele então desvia o olhar na

direção indicada: não sei, se

tiver de chapéu é porque éela", e Roseli: "será que elanão quer ir juntó?". Dinhofaz sinal para Dona Maurina,mas ela não vai, não, vai ficarpor ali mesmo onde já come­

çou o trabalho, de cavucar a

lama, à procura de berbigão,porque Dona Maurina Sala­zar começa a trabalhar cedi­nho, que é a hora que o solnão tá muito quente, "minhafilha, pois já estou com 66anos de vida, nove nesta vidade mulher do berbigão". Elatem cabelo comprido e com­

pletamente branco, as unhasamarelas, curtas e estraga­das, olha só, mostra ela, detanto mexer na lama, e temcalos nas mãos "vê só", porcausa do rodo, tão pesado,minha filha, e sente dor aquiÓ, na cana do braço, de tantopegar e descascar berbigão",mas continua a trabalhar por­que é viúva, recebe 30 milcruzeiros mensais como apo­sentada e pensionista, e o di­nheiro do berbigão ajuda nas

despesas, "já deu até praconstruir uma casinha de ma­

terial", diz orgulhosa DonaMaurina, que pega berbigãosempre sozinha, sua primaajuda a descascar e o filho vaibuscar na praia os sacos

cheios de berbigão que elatraz do mar, porque o bichi­nho é pesado, duro de lidar,mas continua pegando bichograúdo, pois não gosta deberbigão de proa que é esse

muito pequeno, "quando eu

boto o rodo é na certa, e émesmo", diz Roseli, eu nun­

ca vi coisa igual, ela não vaiatrás do berbigão, o berbigãoé que vai atras dela, e DonaMaurina cavuca na lama e

quando tem que se abaixarmuito n'água do mar ela esti­ca uma das pernas para equi­librar seu corpo balofo, e épor isso que não pára de tra­

balhar, se parar vou engordartanto, tanto, e fica lá com o

corpo curvado até que a águado mar bata em seu peito;chapéu de palha na cabeça,o balde amarrado no pulso e

o barco amarrado na cinturade pneu dos seus 81 quilos depeso, ela vai se transforman­do num pontinho perdido no

meio domar àmedida em que

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DEADLINE'" DESCAMISADO

a baleeira do Dinho se apro­xima do Rio da Palhoça.Dinho desce da "Ais de

Ouro", procura o melhor lu­gar para deixar a âncora, en­quanto Roseli e Fátima tirambalaios e baldes, descem n'á­gua e começam o trabalhoporque "a maré tá baixa épreciso aproveitar, diz Ro�e­li. Elas não têm rodo: incli­nam o corpo até ficarem como nariz muito próximo d'á­gua, mergulham as mãos e

trazem à tona a lama e o ber-

.big�oi sacodem as mãos paralava- o e Jogam no balde.

Uma semana inteirade cata pode render180 Kg de marisco

Voltam a mergulhar as mãose a remexer na lama, repetemos mesmos gestos muitas e

muitas vezes, baixam e levan­tam o corpo, e é por isso quea Roseli já está com a colunacheia de desvios, andam deum lado para o outro, pisan­do firme na lama à procurade malhas de berbigão, levan­tam o corpo para torcer a blu­sa molhada, e tornam a se

curvar, vêem o rosto refletidona água escura, sentem um

cheiro podre, que é esse chei­ro de lama remexida, esse

cheiro da lama dos mangues,porque "pobre é assim mes­

mo, e se eu nascer pobre na

próxima encarnação eu me

mato", reclama Roseli, e Fá­tima: "acho que a maré tá su­

bindo, não tá, Dinho?", e Di­nho afastado delas, levanta a

cabeça, "tá começando o

vento sul, e são só nove ho­ras", e ele volta a ficar em

silêncio e a enterrar o rodona lama, "assim Ó, afunda os

dentes do rodo, vai puxandodevagarinho com algumas sa­

cudidelas, levanta e balançao rodo para lavar o berbigãoe pronto, é só jogar no ba­laio". Dinho, 37 anos, é um

dos poucos homens da Pontedo Imaruí que vive exclusiva­mente da pesca do berbigão,e está há nove anos nesta lutana lama, diabo de homemforte, dizem dele, que já tirou180 quilos de berbigão em

uma semana, que quando a

maré está boa volta do mar

com 40 quilos em um só dia,esse homem de olhar e sorrisodebochados, pele curtida pe­lo sol e barba.Iarta que escon­de as cicatrizes do rosto e doqueixo provocadas por um

acidente no fim do ano passa­do, quando a hélice do motorda "Ais de Ouro" enrolou na

manga de sua camisa, "pobreDinho, quase perdeu o braçoou o pescoço, lamenta Rose­li.

Como boa parte daqueles

É preciso curvar-se para remexer a lama...

... antes de baixar o pesado rodo ...

... e ver o resultado da pesca

que tiram berbigão na Pontedo Imaruí, Dinho vende o

produto para Seu Jorge, essehomem que compra o berbi­gão a 200 cruzeiros o quilopara revender lá na feira deSão Paulo a mil ou 1500. equando aumenta o preço ésóem 20 ou 30 cruzeiros. Desdeque a Associação das Mulhe­res do Berbigão - que tinhacomo principal objetivo con­

seguir bons preços para o pro­duto - se desmantelou hámais de um ano porque as

próprias mulheres foram se

desinteressando, que não se

tem um bom comprador parao berbigão. O melhor negó­cio, então, é vender avulsopor 300 cruzeiros o quilo, co­mo faz Dona Ma�rina - que

vende. p�ra uma peixaria de

Forquilhinhas ou em sua pró­pna casa - ou como Roselie Fátima que entregam cerca

de 12 quilos por semana paraumamulher de Campinas quefaz salgadinhos para bar.Com 300 cruzeiros Roselicomprá meio quilo de pó decafé. Ela e Fátima ainda aju­dam Cida (mulher do Di­nho), a descascar o berbigãoque o marido traz do mar, erecebem 50 cruzeiros por qui­lo de berbigão descascado.Para alguém como Fátima,que descasca 10 quilos porvez, são 500 cruzeiros a maisem sua renda de mulher doberbigão. Descascando ber­bigão durante uma semanaela faz 2 mil cruzeiros e paga

MAIO 91 ZERO7

! uma das várias prestações da� colcha que comprou de um

� vendedor ambulante.Depois de tirar pouco mais

de meio balaio de berbigão,Roseli e Fátima param parafazer o lanche: um pão de tri­go com margarina e um cigar­ro para rebater. "Não querum pão, Dinho?". não, elenão quer nada, só um goleda água que trouxe consigo,e volta ao trabalho já com

água pela cintura, pois o ven­to sui chega devagar, "a marétá subindo", diz Roseli, sen­tada no fundo da beleeira, e

Cotação do berbigãoé baixa: entre Cr$ 50e Cr$ 300 o quiloFátima: "até parece praga deurubu", e Roseli: "é coisa doNegão", lembrando o que o

negro tatuado tinha previsto,e Dinho, vocês desanimammuito rápido, não pode ser

assim, porque o Dinho nãoé assim, não, continua cavu­

cando na lama, resignado,pois essa é sua única fonte derenda, e dela dependem qua­tro filhos, e além do mais elegosta de tirar berbigão, faz

ce�ca d� 89 mil cruzeiros pormes e ' nao precIso receberordens de ninguém, trabalhopra mim mesmo".Sentadas no fundo da "Ais

de Ouro", Roseli e Fátimaolham desanimadas o poucoberbigão que pegaram, "issoaí não dá nem dois quilos",diz Roseli, e Fátima sonha­dora, "ah! um radinho de pi­lha pra escutar uma música"epinho debochado, "da pró:xtma vez vou trazer uma tele­visão pra vocês", enquantocoloca na baleeira os sete sa­

cos de berbigão que pegou -

cerca de 20 quilos - porquesão 10 e meia, a maré subiumuito, as ondas estão fortese assim é impossível conti­nuar o trabalho.No caminho de volta, silên­

cio. Dinho conduz o barco,fuma um cigarro, olha parafrente; Roseli, cabeça baixa,olha para as unhas do péamareladas de tanto pisar nàlama, e Fátima olha para o

mar e para a cunhada e ri tris­te. A "Ais de Ouro" segueadiante furando as ondas. Nachegada, Dinho amarra a ba­leeira a uma estaca e os trêscomeçam a descarregar o bar­co. Roseli e Fátima seguempara casa encontram o Ne­gão que oiha com desdém pa­ra o balaio de berbigão e rigozador, "eu não disse queo vento sul tava chegando?,agora só daqui a três dias, queé o tempo que o vento sui levapara passar".

Terezinha Si/tia

Debate quente dia 7

"Denuncie todos os tipos deviolência e defenda seus direi­tos" pede o Fórum PermanenteContra a Violência e a Impuni­dade no Campo e Cidade. A pri­meira atividade do Fórum seráum debate dia 7 de junho na Fe­cesc, com Helio Bicudo - quediscutirá a violência urbana e

questionará a pena de morte.Frei Sérgio, também falará, so­bre o incidente da praça da Ma­triz em Porto Alegre, ano passa­do, quando trabalhadores sem­

terra foram espancados pela po­lícia militar. Junto com o debateserá lançado o livro Vidas em

Risco, dossiê sobre a situaçãodos meninos (as) de rua e o ex­

termínio de crianças no país.O Fórum foi criado, em Flo­

rianópolis, no dia 22 de abril.Tem a intenção de ser supra-par­tidário e reúne desde represen­tantes da Pastoral Universitária,Movimento dos Meninos e Me­ninas de Rua, movimento dasMulheres Negras, até o Nuca,Núcleo Castor de estudos exis­tencialistas. Estão sendo criadosfóruns semelhantes em várias ci­dades, no país para defender osdireitos das pessoas que soframalgum tipo de agressão, Em San­ta Catanna a imciativa foi do de­putado Vilson Santim (PT).O Fórum não vai se limitar a

denunciar casos de violênciatambém fazem parte das ativida­des programadas a mobilizaçãoem apoio de quem estiver sendoagredido, incluindo defesa jurí­dica, praticada em parte por ad­vogados da OAB.

Set internacionalo professor João Brito de Al­

meida, coordenador do Curso deJornalismo da Famecos, de Por­to Alegre, avisa que a quarta edi­ção doSet Universitárioassumedimensão internacional. É quea partir deste ano, além dos 12cursos de comunicação da regiãoSul, entram na competição re­

presentantes de universidadesargentinas, chilenas e uruguaias,o que certamente elevará a quali­dade do festival de laboratorios.Com mais fôlego, o evento mar­

cado para realização entre 8 e

10 Go:! outubro convida desdeagora não só alunos (para inscre­verem seus trabalhos) como to­dos professores da área, para os

trabalhos de extensão previstosna programação. As novidadessão con�e9..üêncja direta do prê­mio Opinião Publica, conferidopelo Conselho Regional de Re­lações Públicas de São Paulo ao

regular e estimulante evento daPUC-RS. O Curso de Jornalis­mo da UFSC vai estar lá.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Como está o relacionamento da Folha com o Sindicato dosJornalistas de São Paulo?CR - Na raiz das divergências da Folha com o Sindicatoestá a questão da obrigatoriedade do diploma. Todos os sindi­catos e escolas de comunicação têm tomado uma posição queeu acho muito corporativa que é a de defender a obrigato­riedade do diploma. A Folha sempre foi agressivamente con­

tra. Com isso, acabou havendo uma colisão frontal entre estasduas posições.O Jornal da Tarde abriu um concurso de reportagem paraestudantes de jornalismo. A Folha faz alguma coisa para dimi­nuir a distância entre a faculdade e o veículo de comunicação?A Folha discrimins profissionais saídos das escolas de Jorna­lismo?CR - Não, não tem nenhuma discriminação. A Folha estabe­leceu um critério de admissão exclusivamente através de con­curso. Candidata-se quem quer e o currículo é analisado. Aavaliação independe do tipo de diploma que ele carrega ou

da faculdade que ele fez. Não há nenhum veto a estudantesde Jornalismo.Os profissionais formados em faculdades de comunicação quevão trabalhar na Folha estão preparados?

CR - Eu tenho dificuldade para responder porque eu nãotenho caIJJo de chefia, não comando ninguém, graças a Deus(risos). E difícil julgar. O que eu sinto, muito empiricamente,é que o nível é baixo, mas você percebe que não é só dequem vem da faculdade de Jornalismo. De modo geral, as

pessoas que chegam nas redações de jornal têm um nívelde preparação inadequado e acabam tendo a necessidade decompletar a formação naprática. Aspessoas, seja de faculdadede Jornalismo, Economia ou Administração, chegam às reda­ções com um déficit de informação muito sensívelSeria um problema de cultura geral?CR - De cultura geral, sim, mas fundamentalmente da deca­dência do sistema educacional brasileiro como um todo, tantopúblico como o privado. Eu, pessoalmente, acho que a coisado Jornalismo, no fundo, émuito simples. São, basicamente,duas exigências: uma, saber escrever, que eu acho que vocênão aprende na faculdade, mas no antigo primário, a nãoser com casos excepcionais de autodidatas. A outra, é bom­senso, sentido comum. Estas são as duas únicas qualidades

. básicas para o jornalista, e é óbvio que não é na faculdadeque vai se aprender.

.

A Folha pretende fazer campanha contra a pena de morte?E em relação ao plebiscito, qual é a posição?CR - Até onde eu sei, campanha não. O jornal tem tomadoposição clara contra a pena de morte, mas não creio quevá se engajar em alguma campanha. Mas não sei qual é a

posição da Folha em relação ao plebiscito.Na cobertura que você fez em Jerusalém da Guerra do Golfo,você afirmou que lá, apesar de toda a situação de conflito,hámais informação do que aquinoBrasil. Como isto épossível?

CR - Como Israel é um país formado basicamente por imi­grantes judeus, europeus e norte-americanos, eles trouxeramuma idéia de um tipo de relacior:amento entre o poder ea mídia diferente do que você vê no Brasil. A .mentalidadebásica é a de que o servidor público, seja ele o primeiro­ministro (no caso de Israel), que é a figura politicamenteprincipal, deve satisfações ao público. O jornalista é apenaso intermediário entre autoridades e público, portanto temdireito ao acesso a todo tipo de informação, ressalvadas as

questões de segurança nacional. No Brasil, os ocupantes decargos públicos, do Presidente da República para baixo,acham quesão donos das informações como pessoas físicas.A ex-ministra da Economia, por exemplo, não sabe de deter­minadas coisas, porque é a pessoa física Zélia Maria Cardosode Mello, mas porque é a ministra da Economia, ganha dasociedade para trabalhar em favor desta sociedade. Mas elanão tem esta mentalidade. Ela acha que tem aquelas informa­ções, porque ela é Zélia Maria Cardoso deMello e eventual­mente não deve satisfações à sociedade. Dá informações a

quem ela acha que deve dar, e não indiscriminadamente, a

qualquer veiculo de comunicação ou a qualquer jornalista,inclusive àqueles que são críticos em relação à gestão dela.Em Israel, funciona ao contrário. Tem um sistema organiza­dissimo de porta-vozes, desde a repartição de trânsito atéo primeiro-ministro, que você pode consultar por telefoneou pessoalmente. Em geral, eles respondem às suasperguntas.Quando não podem por razões estratégicas, dizem que não

podem. Em vez de tentareventualmente desviar, como acon­

teceu freqüentemente no Brasil no caso dos congelamentos,quando desviavam o jornalista da pista certa. Nestes países,o poderpúblico sente necessidade e obrigação de dar satisfa­ção à sociedade. No Brasil, não.Como se portou a Imprensa brasileira na cobertura da Guerrado Golfo?CR - Não seiporque eu não via (risos) o resultado publicadonos jornais. Eu não via nem o meu, quanto mais o dos compa­nheiros que estavam lá. Mesmo quando voltei: eu não tenhoo hábito de rever jornais velhos porque eles envelhecem rspt­damente. É difícil analisàr, eu não sei exatamente o que a

Imprensa brasileira publicou, ou o que a televisão brasileiradivulgou porque eu não via. Eu não tive tempo depois ou

paciência na volta, de ver e comparar. Eu sei o que eu manda­va, mas também não sei se tudo o que eu mandava saía exata­mente como vinha, ou se por problemas de espaço, sofria

Como você vê o relacionamento da Imprensa brasileira com

o governo Collor e vice-versa?Clovis Rossi - Generalizar é diiicil porque cada veículode com unicsção tem um tipo de relacionamento diferentecom o governo. Infelizmente, ::/. maioria tem um comporta­mentoaté certoponto condesceudetrte com ogoverno:muitopouco crítico, tradição da msici parte da Imprensa brasi­leira Do lado dogoverno, existe um tipo de comportamentocoronelistico, tradicional, do político que acha que a Im­prensa está aí para fazer propaganda do governo e nãopara supervisionar e vigiar o seu comportamento.Por que justamente agora em que temos uma Constituiçâoque permite uma maior liberdade de Imprensa e de organi­zação, os veículos de comunicação se comportam de maneiradiferente a da época pós-64, onde havia uma Imprensa maiscrtticu?CR - É uma boa pergunta, mas a resposta é complicada.Eu acho que a combatividade da Imprensa no período ditato­rial veio muito tarde, quando o próprio regime já estava esgo­tado. E parte da causa desta demora em reagir foi conse­qüência óbvia dos instrumentos ditatoriais, da censura prévia,que impediam qualquer tentativa demanifestação crítica, prin­cipalmente da Imprensa escrita e da televisão em relação ao

governo militar. A Imprensa demorou muito para reagir e

quando o fez, era o momento em que o próprio regime jáse abria a partir da gestão Geisel. Também reagiu tarde, por­que a maioria dos veículos apoiou o golpe e porque noBrasiJhá um vínculo poderoso entre os governos estaduais e a Im­prensa regional. São vincutos que se dão ou pela publicidadeofidaI nestes veiculos ou pele concessão de canais de televisãoou de rádio para pessoas que já têm jornais. Há uma vellistredição de condcsccndcttcis: o medo de perder smincios oubeneficios leva a Imprensa a se comportar de maneira acríticaem relação a quulqu-r governo.A Folha de São Pau;o '1Jo está se aproveitando demais doepisódio do processo que o governo Collor move contra elapara fazer disto uma estratégia de marketing?CR - Poderia até SI'( pensar na utilização como marketingse os demais veículos estivessem dando ao processo a atençãoque eu acho que ele merece. Como só a Folha trata desteassunto, se estivesse fazendo marketing, estaria fazendo paraos seus próprios leitores, o que não é uma grande estratégia.Para a Folha, o que está em jogo é, fundamentalmente, a

questão da liberdade de imprensa e, mais do que isso, as

relações entre Imprensa independente epoder: uma Imprensa

algum corte, ou se o título era rigorosamente fiel ao texto.Qual foi a sua cobertura mais importante?CR - Eu sempre acho que a próxima será a mais importante.Raramente eu fico satisfeito com o que foi feito, acho atéque se não houvesse prazo de fechamento do jornal eu acaba­ria nunca entregando um textoporque ia tentar sempremelho­rá-Ia.Fico sempre com aquela sensação de que na próxima vezvou corrigir este ou aquele defeito. Mas eu gostei de algumascoisas que eu fiz, principalmente no exterior, como por exem­plo, a cobertura da transição do autoritarismo para a demo­cmcis na Espanha, a Revolução dos Cravos em Portugal etodo o processo de democrátização na América Latina, espe­cialmente Uruguai e Argentina. Mas, mesmo assim, sempreachando que davapara fazermelhor. Acho que todo jornalistapensa assim, principalmente aquele que trabalha em jornaldiário.

o que eu planejo- realmente, se for possível, se puder acertarcom a Folha é passar uma temporada no extenor por algunsanos, para ver o mundo funcionando e aprender um poucomais. Quem sabe, encaixar uma cobertura esportiva regular,mas também cobrindo assuntos políticos e econômicos.

Nestes onze anos de Folha de S. Paulo, você recebeu propostasde mudança para algum outro veículo?CN - Uma só, quando eu voltei de Buenos Aires, da TVGlobo. Não aceitei. A televisão não conseguiu até agora mefascinar.

A decepção com a política é inevitável para o jornalista queatua nests área?CR - No fundo, você se decepciona um pouco diariamente,mas no dia seguinte você está de novo trabalhando normal­mente. Eu, pelo menos, não levo para casa ou para o fígadoesta idéia: "Nunca mais vou falar com esta pessoa, nuncamais vou fazer isso". Eu fico, às vezes, irritado, mas no diaseguinte acabo esquecendo e volto a trabalhar como se fossea primeira vez com aquele assunto. Não é inevitável a decep­ção, mas é uma questão de você não se colocar numa posiçãode palmatória do mundo, achando que os outros não estãocertos e que (J único certo é você.

O que está acontecendo com o Jornal do Brasil?.

CR - Eu tenho algumas informações, mas eu preferia nãofalar, porque eu não sei se elas são verídicas ou não, emboravenham de dentro do Jamal do Brasil. Seria um pouco levianose eu me mànifestasse sem ter absoluta segurança do querealmente está acontecendo nesta última etapa de uma criseque já dura anos.

Na palestra, você falou da crise de idéias e de lideranças que.

se abate sobre o país. O que a oposição está fazendo parareverter este quadro?CR - Nada, rigorosamente nada. A oposição parece tãotonta quanto ogoverno. OLula ainda brincou outro dia dizen­do que é difícil fazer funcionar o governo paralelo porqueo governo real não funcionava. Tanto quanto o governo, a

oposição parece perdida, atônita, incapaz de unir algumaspropostas básicas. A meu ver, equivocadamente, as grandeslideranças oposicionistas já estão jogandopara a eleição presi­dencial de 94 imaginando que qualquer atitude que algumdeles tomarhoje vai intluencisr, eventualmente, a suaperspec­tiva presidencisl. E um equívoco porque neste país não é

A América Latina continua sendo o continente mais perigosopara os jornalistas?CR - Eu tenho a impressão de que o Libsno era, não agoraporque houve uma pausa ou talvez uma interrupção definitivada guerra civil, o país mais perigoso. Na América Latina onível de conflitos se reduziu bastante com a redemocratizaçãode quase todos os países. Hoje, você tem conflitos na Colôm­bia, graves, inclusive envolvendo jornalistas, e na América

.

Central, basicamente em EI Salvador. Mas caiu bastante a

violência contra jornalistas nesta área do mundo. Tenho a

impressão de que no Oriente Médio é bem mais complicadopara se trabalhar do que na América Latina.

Você já enfrentou algum problema de perseguição política nas

suas coberturas?CR - Eu tive muitos incidentes deste tipo' na Argentina.Perseguição política, pressão psicológica, tIpOS de roubo visi­velmentepraticadospelos serviços de inteligência, porque nãoroubavam todo o dinheiro, deixavam sempre algum. Na Ar­gentina, por exemplo, eu tinha retirado do banco numa sexta­feira um quantia equivslente a 100milhões de pesos antigos,que valia mais de 2 mil dólares na época. Na segunda-feira,quando fui pegar o dinheiro para pagar umas contas, tinhamroubado 55 milhões de pesos e deixado 45 milhões. Evidenteque um ladrão comum, tendo no mesmo bolo de dinheirotoda esta quantia, não vai deixar para a vítima 45 e levarsó 55. No Chile, também, eu tive problemas com o governoPinochet. Na América Central, não tanto porparte do gover­no, masporparte dopróprio conflito. Você estánuma situaçãode guerra civil, no meio da linha de fogo entre guertilhu e

exército e fica sujeito a chuvas e trovoadas. Eu peguei duasou três situações complicadas de ficar no fogo cruzado entreos dois lados.

Imprensa está acrítica em

relação a todos os governos. Hávínculos poderosos entre' eles

Não existe oposição atuante noBrasil: eles não se reúnem paradiscutir propostas conjuntasPor que a Folha, assim como outros veículos brasileiros, não

contrata serviços de agências internacionais do TerceiroMun-®?

,

CR - Honestamente, eu não sei te responder. E uma mera

suposição, mas para cobrir o Oriente Médio, por exemplo,não adianta contratar serviços de agências do Terceiro Mundoporque quem tem fotógrafos em grande quantidade e quali­dade naquela área são as grandes agências internacionais defotografia: a Gamma, a Sula, etc. E para cobrir o TerceiroMundo, é mais fácil, mais barato e mais garantido mandarum fotógrafo 'próprio do que contratar uma agência perma­nente de fotografia. Para cobrir o Primeiro Mundo, émelhorcontratar os já estabelecidos e que tenham enviados especiaisnas áreas mais quentes do planeta, como as agências interna­cionais de fotografia.

independente dá poder, capaz de noticiar tudo o que sejabom ou ruim em relação a ele sem temer represáliaspoliciais.Como foi o caso da invasão do jornal pela Polícia Federalno ano passado, ou, disfarçada depolicial, quando na verdadese trata de pura coerção sobre o jornal.Qual é a avaliação que os jornalistas da Folha e a cúpulado jornal fazem das últimas reformas?CR - Da cúpula do jornal eu não sei porque faz algumtempo que eu não converso sobre isso com eles. O processoque o governo federalmove contra o jornalmobiliza demaisas energias e as f!0nvers_as,çirl!"':. demais em torno dÍ!so ..Domeu ponto de vista, a ideie e otuns, mas a execuçao eindsestámuito complicada, principalmente na definição dos assun­tos que vão em cada caderno, como o Brasil, por exemplo.Eu, pessoalmente, faço um crítica interna sistematlcamente:considero imperdoável que não exista um caderno diário deesportes. Parece que há um problema industrial que eu desco­nheço em detalhes, mas acho que a grande deficiência nareforma da Folha é esta.

Qual é o próximo passo da reforma no jornal?CR - Honestamente, eu não sei. Não tenho, pelo menos,participado de nenhuma discussão sobre os próximos passos.Qual é sua opinião sobre a carta enviada pelo Sindicato dosJornalistas de São Paulo à Folha, apoiando a "Carta abertaao Presidente da República" e queso mesmo tempo afirmaque o jornalmantém um regime repressiro contra seus jorna­listas e critica o sistema de notas, usado como avaliação?CR - Eu não acho que haja grandes problemas de relaciona­mento interno. A questão .Ievs-ited« da avaliação é apenasuma questão de método. Todo mundo é avaliado permanen­temente em qualquer empresa, inclusive os chefes e oprópriodono do jornal.Apesar de não receberem notas, estão sendo avaliados pelosresultadoseconômico-financeiros que o jornalproduz ou deixade produzir. Se a Folha começar a dar prejuízo It perderleitores, isto já funciona como avaliação de desempenho e

alguma providência será tomada. Não vejo porque fazer umcavalo de batalha em tomo deste sistema de avaliação. Euacho que não é o sistema perfeito, está longe disso, mas l!!'um sistema como outro qualquer, como seria com qualquerempresa privada ou até pública. A não ser que se caia no

nepotismo, afilhados políticos, o que seria muito pior.

possível fazer planejamento, quanto mais político. Basta vero exemplo do Collor nas eleições de 89, quando. ninguémo conhecia e acabou gahando. Os caciquespolíticos, de modogeral, se posicionam em função de 94 muito mais do queem função de 91. Eles evitam sentar na mesma mesa e discutirpropostas conjuntas. Embora todos, Btizols, Ouercis, Lula,Covas, se digam de oposição ao governo federal, nenhumdeles sentam juntos, e, isoladamente, parecem pouco nume­rosos no plano parlamentar para ter alguma influência. Nãoexiste oposição atuante no Brasil, hoje,Com oprocesso movido contra lJ Folhã pelogoverno, apublici­dade oficial diminuiu no jornal?CR - A Folha de S. Paulo sempre teve um percentual depublicidade oficial baixíssimo. Sendo assim, isto não chegoua afetar as finanças do jornal.Como está o clima entre os jornalistas da Folha?CR - É um clima de alguma apreensão em relação ao desen­lace da coisa. Fundamentalmente porque o proce§so gira emtorno de uma questão essencialmente política. E óbivo quevocê, às vezes, se flagra policiando a tua semântica para evitarum novo processo, ou o agravamento do processo já em anda­mento. Eu acho que atéhoje não chegou a interterirnoprodu­to final, mas sempre fica no inconsciente de cada um essedrama de ter que lidar com as palavras de uma forma quese imaginava desnecessária num sistema democrático.

E as agências de notícias?CR - Mas tem no TerceiroMundo alguma que seja indepen­dente e capacitada? Não sei...

Como você vê a diferença entre a sua cobertura na AméricaLatina e 8 das agências internacionais?CR - A diferença essencial é de que eu vou, evidentemente,com olho e background nosso, imaginando o que o leitorbrasileiro gostaria de ver para poder comparar o que acontecelá fora e aqui. As agências vêem com olho de estrangeiro;não há brasileiros trabalhando para a UPI ou a France Presseem Beirute ou em Jerusalém. Esta diferença é fundamental.A outra coisa que eu acho, é que o bom jornalista brasileirotem nível internacional, podendo competir com jornalistasestrangeiros sem passar vergonha. Sendo ssim, é muito melhorter alguém do próprio jornal dando a visão do que está aconte­cendo no mundo, do que se fiar nos serviços das agências.Não que estes serviços sejam ruins, mas é que é outro tipode mentalidade com que eles encaram as coisas. Por estadiferença essencial: eles serem estrangeiros, e nós, nacionais.

Você ainda pensa em abandonar a reportagem política e se

dedicar à reportagem de turismo?CR - Agora eu tenho a idéia de .ser cronista. esportivo, d_efazer muito esporte; fazer no sentido de cobrir, porque !laotenho fôlego para praticar. Nã_o dá realmente para faz_er IStO.Foi uma brincsdeirs que eu fiz com o pessoal da reviste Im­

prensa (referindo-se à entrevista d_ada em abril de 89, de quese dedicaria à reportagem de turismo ou esportiva). Agora,

Qual i o mais importsnte jornal brasileiro?CR - Folha de São PauloDestaque um jornalista?eR - Jânio de FreitasQual seu programa de TVpreferido?CR - Sou viciado em tele-jornais. Especialmente o do SBT.Aliás, eu acabo vendo pouco por causa do horário incom-patível com omeu.'

,

Cite um livro interessanteCR - De Beirute a Jerusalém, do jornalista americano Tho­mas Friedmann, que viveu 11 anos entre estas duas cidadescc:mo correspondente do t=» York Times. É um livro excep­cionsl, especislmente para jornalistas.

'9

Entrevist.: Ana Cláudia Menezes

MAIO 91 ZERO

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 9: Perfis: Aumentam Peaks, Gonzaguinhahemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1991002.pdf · Perfis: Twin Peaks,Mozarte Gonzaguinha Na12,13eIS Kleinübingtrabalha desperdiçando70

Na última década, foram registradosmais de 16 mil casos de AIDS em todoo Brasil. Até 1990, cerca de oito mil pes­soas morreram da doença, correspon­dendo a um total de 48% do númerodeindivíduos que a manifestararn.Uma triste realidade, para um país

que, pela imensa quantidade de pessoascontaminadas ocupa a terceira colocaçãono ranking mundial, depois dos EstadosUnidos e do Continente Africano.Atualmente, existem 1622 mulheres e

14641 homens com a doença, concen­trados, principalmente, na região de SãoPaulo, que conta sozinha com 42% dapopulação infectada do país.Em Santa Catarina, existem 216 doen­

tes de Aids, divididos num número de177 casos masculinos e 39 femininos,compondo uma proporção de 'luatro ho­mens para cada mulher. O numero dedoentes duplica a cada ano, colocandoo Estado no nono lugar em incidênciade casos no país. Para grande parte dos

'

profissionais de Saúde, as causas básicasdo constante aumento de doentes no Es­tado são as campanhas de prevenção ine­ficientes, a falta de informação e as pre­cárias condições de vida da população.Elma Fior da Cruz, coordenadora dosassuntos de Aids, na Secretaria Estadualda Saúde, explica que as pessoas nãotêm consciência de que podem se conta­minar."As campanhas de prevenção só serão

eficientes quando conscientizarem o po­vo de que o perigo da contaminação égeral, e não restrito apenas aos homosse­�uais, prostitutas e usuários de drogas.E preciso apagar da cabeça das pessoasque somente certos grupos estão sujeitosa se infectarem", alerta.Drogados - Para Mariete Silveira,

médica do hospital Nereu Ramos, o pro­blema está na descontinuidade e na des­virtuação das campanhas de prevenção."O que existe é a proliferaçao da ima­gem do aidético corno indivíduo doente,o que acaba incapacitando as pessoas deenxergarem outras, aparentemente sau­

dáveis, como portadores do vírus".Um outro fator que está ligado intima­

mente ao aumento do número de doen­tes de Aids é o expressivo número deusuários de drogas no Estado, que equi­valem a 30% do total de pessoas conta­minadas pelo HIV."Enquanto diminui progressivamente

o número de casos de homossexuais e

prostitutas com Aids, aumenta, princi­palmente em Santa Catarina, a contami­nação pelo uso de drogas injetáveis. Noresto do país esses numeros equivalema 17% do total dos doentes, mas, aguino Estado, atingem praticamente 30%constituindo o maior foco de dissemi­nação da doença. O que existe é uma

epidemia de uso de drogas injetáveis,agravada pela falta de um serviço esta­dual para a recuperação de toxicômano.Em 86 e 87, quando começou o surtode Aids em Santa Catarina, muitos usuá­rios de drogas, com medo de se infecta­rem, procuraram apoio para tentar lar­gar a dependência, e não encontraram.Sem encaminhamento e tratamento,continuaram usando drogas e acabaramadquirindo a doença" explica Elma,Tratamento caro - O aumento do nú­

mero de casos traz. também, consequên-

VíRUS ASSASSINO

Casos duplicam a cada ano em SCProporção é dequatro homenspara cada mulher

A foto premiada de Lamas: colhida no hospital Emílio Ribas

cias bastante desanimadoras. A falta deleitos nos hospitais e a incapacidade decustear o tratamento dos pacientes cons­tituem problemas sérios que devem ser

resolvidos. .

A Aids é a doença crônica mais cara

de ser tratada. Só o tratamento com o

AZT, remédio capaz de deter tempora­riamente a disseminação do vírus, custamensalmente cerca de Cr$ 80 mil. Ospacientes acham que o medicamento de­veria ser financiado pelo governo fede­ral. O governo acha que não. E entreos médicos não há consenso.

"Existem dois lados: Se ocorresse, ofinanciamento do tratamento pelo go­verno deveria ter um nível bastanteabrangente, que atendesse a toda pc;>pu­lação carente. Porém, essa atitude acar­

retaria um dispêndio de capital muitogrande, que poderia, por outro lado, serdestinado às campanhas de prevenção,visando diminuir a incidência de casos" ,

explica Mariete Silveira, que consideradifícil manter uma posição.Omissão de hospitais - Para Elma,

a dificuldade de se trabalhar com o pa­ciente de Aids é grande, não somente

pelo alto custo, mas, pela sólida estru­tura de atendimento que ele exige. "Tal­vez, por isso, nem todos os hospitaisaceitem os pacientes de Aids. O hospitalNereu Ramos, de Florianópolis, recebeo fluxo da incompetência de outros, quese negam, às vezes por real falta de estru­tura, a tratar com pacientes tão caros"explica. Com 14 aidéticos internados, ohospital sofre pela falta de leitos e medi­camentos. "E muito difícil se conseguiruma vaga aqui. Tem, pelo menos, umas50 pessoas na fila. Mas, o atendimentoé muito bom. Eles cuidam da gente."diz um paciente de Aids internado no

hospital.Ineficaz no apoio financeiro, o Minis­

tério da Saúde deixou de oferecer mes­mo o apoio informative. "Antes do �o­vemo Collor ainda existia uma iniciativapor parte do Ministério da Saúde em

atualizar e esclarecer dúvidas eventuaissobre a doença. Hoje, a dificuldade dese conseguir informações é muito gran­de", afirma Elma.Dessa forma, os hospitais, médicos e

pacientes esperam soluções que possamresolver os problemas cada vez mais la­tentes, agravados pelo aumento constan­te do número de casos de doentes deAids no Estado.

� Aidéticosacusam, governode omissãoAs verdades sobre a Aids vêm mudando

constantemente. Os homossexuais deixaramde pertencer ao principal grupo de risco paradar lugar às pessoas que se contaminaram atra­vés do sangue, por transfusões e uso de drogas.São estes os responsáveis pelo maior índicede crescimento da doença. Também mudoua maneira com que é encarada a doença. Hoje,a Aids é vista com mais naturalidade, emborao preconceito ainda exista, principalmente, nascamadas mais desinformadas da população. Ospróprios doentes alteraram a sua maneira de

reagir a presença do vírus. Diferente dos anos

oitenta, quando muitos se suicidaram pela sim­ples constatação de estarem contaminados, ho­je eles descobrem -que é possível conviver coma doença e aproveitar a vida da mesma forma

que as outras pessoas, apenas com mais cui­dado.Rosângela Corrêa foi contaminada numa ro­

da de viciados em drogas. Há quatro anos estácom a doença e é uma das mais antigas pacien­tes do Hospital Nereu Ramos. "Eu era depen­dente da cocaína. Ouvia falar sobre Aids, mas,pensava que ela estava muito distante de mim.Eu sabia do perigo de compartilhar uma serin­ga com várias pessoas, mas, na hora achavaque não tinha problema. Você nunca imaginaque os outros podem ter o vírus. Eu confiavae acabei me contaminando". Aos poucos Ro­

sângela começou a se envolver em um trabalhode informação, contra a discriminação e o pre­conceito que eram muito grandes.Ela fala que sua família the deu muito apoio.

"No começo, foi um choque. Mas isso passoue o que conta agora é o carinho que eu recebodeles". Ela têm dois filhos. A mais nova tinhacinco meses quando fiz o teste e por pouconão foi contaminada. "Seus amigos antigos su­

miram "Não considero "aqueles" como meus

amigos. Eles só queriam saber da cocaína".AZT sem validade - "O Ministério da Saúde,há algum tempo, comprou AZT para ser distri­buído nos Estados, mas, com a demora da dis­tribuição, os medicamentos acabaram perden­do a validade. Foi tudo jogado fora" denuncia.Hoje, Rosângela é muito consciente. Trabalhacomo voluntária na diretoria -do Grupo de

Apoio e Prevenção da Aids (GAPA), e procu­ra preencher o seu tempo com atividades pro­dutivas.Vilson, internado há um mês no hospital

Nereu Ramos, também está contaminado. Eleé caminhoneiro e diz que pegou a doença na

farra", quando viajava para o Nordeste. "Ti­nha muita febre e achei que estava com den­gue. No exame anti-HIV confirmei a suspeita."Minha mulher chorou muito e disse que se

não tivesse jeito, morreria comigo" diz orgu­lhoso e ciente de ser um privilegiado em rece­

ber tanto apoio da família.José .

outro paciente do Nereu Ramos, não-acredita na cura. "Isto aqui é um corredor damorte. As pessoas querem me iludir, mas, eusei que é um caminho sem volta. Eu não tenhodinheiro para pagar o remédio. Os únicos queconseguem viver com Aids são os mais ricos".

Texto.:M6nlca Linha,..

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 10: Perfis: Aumentam Peaks, Gonzaguinhahemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1991002.pdf · Perfis: Twin Peaks,Mozarte Gonzaguinha Na12,13eIS Kleinübingtrabalha desperdiçando70

Um rapaz encosta no ouvi­do do outro e resmunga:- Conhece a piada do não

e nem eu?O outro rapaz quase não

entende direito e ingenua­mente responde que não. Ogozador abre um sorriso:-Nemeu.Essa piada retrata bem o

que acontece nas repartiçõespúblicas de Santa Catarina,mas com uma pequena dife­rença: entre o primeiro nãoaté o fatal "nem eu", vocêpassa por 13 salas, fala com17 funcionários, aparece no

local qua�ro dias seguid?s, e

a conclusao que se tem e quea recepcionista e o diretor sa­bem exatamente a mesma

coisa: nada.O Detran; Departamento

de Trânsito, é o órgão res­

ponsável pela emissão demultas por alta velocidade,estacionamento proibido e

principalmente pela blitz. Ascobranças aumentam, coinci­dentemente, quando a Polí­cia Militar, Polícia Civil, fun­cionários do próprio Detrane grande parte dos servidoresdo estado ficam com saláriosatrasados.Durante o verão.principal­

mente nos meses de janeiroe fevereiro, as PolíciasMilitare Civil desencadearam uma

operação com o "objetivo deregularizar os documentos ir­regulares" - carteira de mo­

torista e Imposto sobre Pro­priedade de Veículos Auto­motores (IPVA). Eles prepa­ravam o "bote" na cabeceirada ponte Colombo Salles e na

Beira-Mar Norte, prendendoo veículo caso o documentonão estivesse em dia. Alémdisso, você poderia recebermultas por alta velocidade oupor estar embriagado.Na verdade, o que aconte­

cia era mais ou menos assim:você saía numa sexta-feira,tomava algumas, se divertia.Depois, cansado e louco prachegar em casa, pegava o car­

ro e ia embora. Passava pormilhares de buracos e se con­

seguisse esticar a quarta era

lucro, já que a quantidade delombadas não deixa o carro

respirar nem um pouquinho.Aí quando alcançava a Beira­Mar, onde as lombadas aindahão se instalaram, você acele­rava. Quando chegava aos

100 quilômetros, o guardinhaabria um sorriso sádico e pe­dia gentilmente para você pa­rar: "pára o carro aí, pára".

BLITZ

Quando seu carro vira um circoPiada sem graçaprolonga II ressaca

do motorista

Ele anotava sua placa, se

aproximava para sentir o seu'bafo e pedia os documentos.Isso às três e meia da manhã.Voltava meia hora depois e

dizia que "lamentavelmenteseus documentos estavam ir­regulares", ou seja, estavaatrasado dez dias. Educada­mente ele mandava você sair,porque o carro ficaria retidono Detran. Até aí tudo bem,perto do sofrimento que viriadepois. Ah! Se você pensouque eles te levariam em casa,com certeza você não conhe­ce a polícia ou ainda acreditaem papai noel. Eles tambémfaziam uma ficha com tudoque você tinha no carro, paraconferir na devolução. Só queessa ficha tem a mesma vali­dade que promessas de políti­cos em campanha eleitoral.No outro dia, coincidente­

mente um sábado, dia que

não funcionam os bancos, vo­cê acorda cedo, leva umas

broncas do pai e se manda pa­ra o Detran. Chega lá, per­gunta para a recepcionista co­mo resolver o seu problema.Ela the atende mal e fala quevocê precisa tirar xerox disso,daquilo, pagar isso, assinarum monte de papel, compraruma ficha e falar com o seu

Vicente. você anota tudo,corre para a sala do homem.Espera um tempão, já quetem um monte de gente na

frente. Na sua vez, ele pedelicença para tomar um café,"mas ja volta". Quando eleescuta suas explicações, la­menta o fato e manda vocêfalar com a exatoria, no cen­

tro da cidade, que só abre na

segunda-feira.Nessa hora seu sábado e

domingo J'á foram pro pau.Na segun a-feira, você acor­

da cedo de novo, vai até essaexatoria. Lá, eles examinamseus dados no computador e

mandam você de volta parao Detran. Novamente a re­

cepcionista:- Já pagaste o banco? Já ti­raste os xerox? - Então vaifalar com seu Vicente.

Ele dessa vez já tomou o

café e examina o seu caso.

"Documentos irregulares, di­ri�indo em alta velocidade e

bebado". Nessa hora, seu paidá aquela olhadiha. "Dá 45mil cruzeiros". .

Seu pai já prepara o che­que, mas você ainda quer fa­zer aquela moral:- Bêbado? Alta volocidade?Esses caras estão malucos.Chama eles aqui, chama! Ochefão nem te dá bola.Aí para descontrair, seu

pai puxa um papo profissio­nal, e como você não traba­lha, tem que ficar quieto.

- Ah, o senhor é enge­nheiro. Trabalha na Celesc.

- Trabalho. Sou eletricis­ta.

- Eu estou precisando co­

locar uns interruptores lá em

casa.

Posso falar com o senhor?,pergunta o chefão.

- Pode. Liga pra esse nú­mero e pede para me chamar.

Mas quanto é mesmo a multa,seu Vicente?

- Não, deixa pra lá. Nãoprecisa pagar não! Como eu

ajudei o senhor agora, esperopela sua ajuda mais tarde.

Pronto, seu carro está li­vre. Você confere a ficha comos objetos do carro e vê quenão falta nada. Tá tudo ali:chave de roda, estepe, trancado carro , ... Só falta o porreteque você carregava no carro ,

a chave de fenda, a manguei­rinha para tirar combustível.a 'iadeira de praia, o plásticoque tinha no vidro e fica sur­

preso por seu carro estar gas­tando tanto, pois na sexta eleestava com o tanque pela me­tade e na segunda, depois dealguns quilômetros, você ficasem combustível, isso porqueele ficou parado sábado e do­mingo. Ou não?

RafaelMasseli

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 11: Perfis: Aumentam Peaks, Gonzaguinhahemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1991002.pdf · Perfis: Twin Peaks,Mozarte Gonzaguinha Na12,13eIS Kleinübingtrabalha desperdiçando70

Victor Carlson

Cenário de estréia desafiante para um repórter genuíno

Quatro calouros vão à

luta. E cumprem a pautaEu começava a ficar inquieto com a demora da apresentação do boi

demamão no encerramento doprimeiro dia da greve geral, quando comeceia pensar na atuação dos calouros de jornalismo em busca de fotografias,dados e entrevistas para fazerem as suas reportagens. Era a primeira vez

que faziam reportagens desse porte. Estavam um pouco perdidos no início,mas, cheios de garra e empenho na realização de seus trabalhos.Uma delas era Sara Caprario, 18 anos, que fazia para o Zero a cobertura

necionel da greve. Estava sempre com um ar de calma e de quem não

quer nada com nada, porém, permanecia atenta ao que acontecia em sua

volta. Durante a passeata, acompanhava a comissão de frente para sabero que estava acontecendo. O único momento que a deixou nervosa foino instante em que a confusão do terminal dispersou:e multidão, e elase viu quase atropelada. Para realizar a sua matéria, Sara foi obrigadaa correr atrás dos dados fornecidos pela assessoria de imprensa da CUTe do Sindicato dos Bancários.Já Fabrizio Luciani, apesar de admitir que estcve nervoso e tenso em

certos momentos, mostrava-se bastante entusiasmado e corria no meio daconfusão atrás do melhor momento, sem se preocupar em se proteger.Nos momentos de calma, batia papo com diversos tipos de pessoas buscandoinformação e opinião.

'

Rogério Mosimann, 17 anos, csteve discreto e pensativo durante o diatodo. Quieto, observava e anotava o que acontecia, pois era dele a cobertura

municipal da greve para o jornal Zero. Sentiu-se nervoso ao cobrir, pelaprimeira vez, um confronto com a polícia, contudo, após os primeiros inci­dentes, ficou mais calmo. Relatava o que via e procurava manter distânciada brigada de choque. Ainda assim, notava o clima tenso no rosto de cada

policialmilitar. Procurava chegarperto dos incidentes, indo atrás da polícia,manifestantes e pessoas agredidas para suas entrevistas.

Meninas em perigoPara o Fabrizio, o fotógrafo se sente protegido pela presença da máquina

e passa a circular com mais liberdade no meio da manifestação.Adriane Canan, 18 anos, e Cristiane Miranda, 20, contudo, tiveram pro­

blemas com a polícia, tendo que correr e proteger a câmera dos policiais,o que deixou as duas nervosas e amedrontadas.As luzes da cidade iam sendo ligadas e a noite chegava em Florianópolis.

A apresentação alcançava sua terceira parte com a entrada da Bernunça.Ao meu lado, além do Rogério, estava a Silvânia Siebert, descontraídae batendo palmas ao ritmo da música. Ela reclamava de ter passado a

manhã na assessoria de imprensa da CUT, fazendo a cobertura estadualda greve. com pouca informação e longe da agitação. Silvânia se sentiuum tanto desestimulada, mas estava confiante na experiência adquirida.Assim como todos os calouros, Rogério achou que "foi altas aventuras",

completando "acho que é um trabalho realizador estar em contato com

a notícia". "Valeu a experiência, deu pra ver como é um pique de redaçãode um jornal, onde te mandam trabalhar e você tem que dar o máximo

para conseguir o objetivo" diz Cristiane. Preocupada com isso, Adrianeficou grande parte do tempo incomodada com o que estava escrevendo,sentindo a responsabilidade. Gastão Cassel, professor do Curso de Jorna­lismo, diz que "eles fizeram um excelente trabalho de cobertura, de fotose textos", Valci Zsneletto, também protessors do curso, confirma' "rece­beram excelentes informações e, apesar de ainda não terem costume, fizeramum excelente trebelho'".Gastão diz que "não hánadamelhor do que estarpresente em um aconteci­

mento para aprender o jornalismo. Por melhor que sejam o curso e os

protessores, só se aprende o verdadeiro jornalismo indo pra rua, convivendocom profissionais e a notícia ao vivo".Para Ricardo Jacques, 22, da terceira fase, a turma deste ano estápegando

com mais garra o jornalismo e mostrando serviço. Gastão completa dizendoque "essa turma que estcve na greve vai lange",O boi de mamão chegava ao fim e nem se imaginava que naquela mesma

praça a manhã tinha sido tão agitada. Agora, todos os personegens e atores

misturavam-se com o público para dançar num momento de contreterni­

zação. Enquanto isso, eu, a Silvânia e o Rogério nos separávamosmarcandoencontro para o outro dia da greve quando a turma de "focas", novatos,na gíria do vocabulário jornalístico, começaria mais um dia de experiênciase emoções.

VER PARA CRER

ses, hotéis, lanchonetes. Umapureza que serve como um biom­bo a esconder o tráfico de cocei­na, as negociatás financeiras e

todo cenário perverso que se

possa imaginar. ,

O detetive insuspeito - E jus­tamente o excesso de ambigüi­dades que nos revela umpossívelrompante moralista do idealiza­dor de Twin Peaks. O herói dasérie, talvez o único, é o detetiveDale Cooper (Kyle MacLach­lan) do "insuspeito" FBI. Tãoinsuspeito quanto o departamen­to de investigações a que perten­ce, Cooper é oprotótipo dopoli­cial incortuptivel e leal até a

�morte. Mas com uma imprevi­

� sivel excentricidade. Ele não sail• da linha nem mesmo quando a

� sensualperspicazAudreyHorne.: (Sherilyn Fenn) o aguarda sob� as cobertas, num quarto do hotel

de seu pai.Lynch, um contumaz explora­

dor das deformidades físicas e

psicológicas do ser humano,criou vários enigmas na trama.

Desvendar a morte de LauraPalmer acaba se tornandomenos

importante do que revelar os se­gredos ocultos dos habitantes deTwin Peaks. Diz o crítico Ricar­do largman, da Isto É Senhor,que a série "é um dos maisperfei­tos, instigantes, perturbadores e

festejados trabalhos já reslize­dos pela tevê americana. E uma

combinação exata de um thrillerpolicial e uma trama tolhetines-ca".É possível interpreter Twin

Peaks como um manifesto inqui­sidor de um cineasta consagrado,obcecado com a idéia de instigara sociedade a voltar os olhos sa­bre si mesma. Não é a toa quea série atingiu tanto sucesso nosEstados Unidos, sendo vista pormais de 40 milhões de pessoasa cada episódio. A trama cons­

truída por Lynch foi perfeita. Earrasadora.

Retrato ambígüodeumasociedade perversaLaura Palmer não morreu,

quem morreu foi a sociedademoderna. Laura simplesmente"escapou" dessa sociedade em

avançado estado de putrefação,morrendo. Forçando um poucoa bsrts, não há nada que impeçauma leitura moralista de TwinPeaks, a novela-série que está to­dos os domingos a partir das 10da noite na tela da Globo. Issoporque deixou de ser importantesaber quem de fatomatou LauraPalmer. Na verdade, o que im­porta agora é saber o que vairestar dos habitantes de TwinPeaks, cada qual com suaparcelade responsabilidade no ssssssi­nio.Passados oito episódios desde

14 de sbtil, dia em que a Globofinalmente resolveu oferecer al­ga excepcional em sua progra­mação de enlatados, Twin Peaksainda está longe da conclusão.A menos que a emissora decidaabreviar suas 33 horas de dura­ção. O que não é improvável ca­so se considere duas coisas: a játradicional falta de respeito pelopúblico e, a acolhida pouco calo­rosa da série por este público.A badalaçãomaioratéaqui ficoumesmopor conta da crítica, qua­se toda unânime em ressaltar a

qualidade da obra.

Twin Peeks é mais uma reali­

zação bem sucedida do múltiploartista David Lynch, cineasta

múltiplo, de talento reconhecidotambém como cartunista, artistaplástico e músico. No cinema,ele amplia sua atuação. A últimanovidade em sua bem sucedidacsrreirs de diretor, roteirista e

produtorde seuspróprios filmes,é a faceta de compositor de trilhasonora. Foi dele, em parceriacom o não menos festejado An­gelo Badalamenti que surgiramalgumas das composições envol­ventes e tristes de Twin Peaks.Omérito é de Badalamenti, masLynch participe com a música e

le tras de "The Nigh tingale ","Into the Night" e "Falling".Morte aos inocentes - A vir­

tual leitura moralista se deve

principalmente ao inquietanteenfoque de Lynch. É a idéia de

que todo homem nasce bom,a sociedade é que o torna mau.

Ele conduz a trama por um fio

prmanentemente ambígüo. Acidadezinha do interior dos Esta­dos Unidos é ao mesmo tempotranqüila e fatal. Seus habitantesparecem pessoas honestas queroubam, trapaceiam e até ma­

tam se a situsçâo exigir. Todosguardam muitos mistérios, al­guns comuns outros inusitados.Além dessas características, a

MAIO 91 ZERO12

MacLachlan: excêntrico algoz

Lynch: análise corrosiva

ambição generalizada e desme­dida formam o elo em torno doqual todos se unem.

Nesse ambiente desenhadopor Lynch e por sua filha Jenni­fer, os inocentes não têm vez.

O cineasta sempre usou de mui­tos símbolos para expressar suasopiniões em seus filmes. Foi as­sim em O Homem Elefante, Ve­ludo Azul e Coração Selvagem.Em Twin Peaks, a maioria deseus habitantes vive do corte e

transporte de madeira. A im­pressão é de que a única coisacssencislmentcpurs na cidade éa madeira, que reveste tudo: ca- Nelson Lorenz

Livro desvenda personagemQuem não ficar satisfeito só com o enredo de Twin Peaks, vai ter em

breve a oportunidade de examinar detidamente O Diário de Lanra Palmer.O livro foi escrito pOT Jennifer Lynch, filha do autor da série, e está sendolançado pela Editora Globo, com 215 páginas por Cr$ 1.800,00. Ele funcionacomo um complemento da trama, e.nbora terna sido originalmente a basepara a construção dos personagens CLJdc < F yrç'1 e, Twin Peaks.Através do Diário Secreto de Laura Palmei é mais fácil percorrer o

universo dos personagens que nos acostumamos a ver ru tela da tevê. Avantagem é que o livro não se choca com o enredo do ilme. Ele relataa vida de Laura Palmer no período entre 12 e 17 anos - quando foi assas­sinada.Jennifer Lynch se revela tão criativa e inclinada ao mórbido e U L "1'0

quanto o pai. "O Diário secreto de Laura Palmer" foi escrito por ela aos22 anos. Agora, Jennifer se prepara para dirigir seu próprio filme, BoxingHelena. Não fugindo ao estilo do pai, o roteiro conta a história de um

.

amante possessivo que chega ao irracionalismo de decepar braços e pernasda namorada para trancafiá-la numa caixa de papelão.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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o seu jeito de denunciar injustiçasderam-lhe a fama de "cantor-rancor".Mas ele não se intimida e se transformanuma dás vozes que protestaram commais rigor contra a ditadura. As letrascruas iam direto ao assunto, às vezesnum tom zombeteiro. Mas o molequeGonzaguinha, como era chamado peloscadernos culturais, não parava de repe­tir: "Não sou revoltado, nem amargu­rado, nem agressivo. Sou consciente".

1945-1991

Talvez este estado de consciência foio que fez mudar o rumo do seu gênerode "canção protesto" para um estilomais ameno e -intimista. Também os

tempos começavam a ser outros, a dita­dura já não recorria à censura e os fãsjá buscavam novas tendênciasmusicais,mais românticos. Ele mesmo reconhe­ceu em fins dos anos 70 que a músicanão faz revolução: "nosso poder é o

de encantar, informar, alegrar. E, emdeterminados momentos, formar. Po­demos fazer política sem ser políticos".Mestre dos desejos - Sem cair na

onda do rock e evitar influência dobaião do pai, Gonzaguinha suavizouseu estilo de compor e começou a con­

quistar os corações femininos. Livra-sedo título de "cantor-rancor" trocando­o pelo de "mestre dos desejos". Dascentenas de pessoas que iam aos seus Não cobrava shows de siDdfcatos, Ia onde o povo estava. Morreu numa estrada da vida

Ocantor e compositor LuizGonzaga Júnior, que morreuem acidente de carro no inte­rior do Paraná, dia 29 de

abril, certamente será menos lembradopelas suas molecagens no morro SãoCarlos, ou pelo curso de Ciências Polí­ticas em que se formou no Rio de Janei­ro. O filho do rei do baião Luiz Gonza­ga, falecido há dois anos, deixa sauda­des por suamaneira pessoal de compor,interpretar e lutar. Ele deixa 17 LPsgravados, onde o gênero "canção deprotesto" faz parceria com o intimismoestilo que adotou em meados da décadade 70.

Desde que desceu o morro em 1967,Gonzaguinha se impôs no cenário musi­cal levando na bagagem as agruras davida miserável das favelas cariocas. En­gaja-se no Movimento Artístico Uni­versitário (MAU), onde também atua­vam Ivan Lins e Aldir Blanc. No pri­meiro festival universitário em que par­ticipa, em 1968, já dava para sentir oque seria aquele moço franzino e áspe­ro no seu modo de lidar com as pessoas:concorreu com a música "Pobreza porPobreza". Perdeu. No ano seguinteconquistou o primeiro lugar com "Otrem", regravada no LP Gonzaguinhada Vida.

Cantor rancor - Em 1973, lança o

primeiro disco, Luiz Gonzaga Júnior.Experimenta a fama sobretudo com osucesso "Comportamento geral" e o

seu nome começa a freqüentar os fichá­rios da Censura. Gonzaguinha seria en­tão convidado a dar explicações aos ór­gãos de segurança SObre o significadodas letras "tão mal-humoradas" de"Comportamento geral": "Você deverezar pelo bem do patrão/E esquecerque está desempregadolVocê deveaprender a baixar a cabeçalE dizer sem­pre muito obrigado/São palavras queainda te deixam dizer/Por ser homembem disciplinado" ( ... )

Música popularperdeu um

genuíno galo de

briga. Que não

perdeu a ternura

MAIO 91 ZERO13

shows, ele CflI11eçOU a ter um públicomultiplicado aos milhares. O fim dacensura e a força da telenovela FeijãoMaravilha, que incluía na sua trilha so­

nora a marchinha "Preto que satisfaz",contribuíram nesse mudança.Um dos fundadores da Sombrás, res­

ponsável por uma virada no direito au­

toral nos anos 70 com a fundação doEcad, Gonzaguinha arrisca-se e cria se­

lo próprio, oMoleque. Para ele a figurado empresário era dispensável, porquesó atrapalhava.

Na virada dos anos 70 para 80, os

sucessos de Gonzaguinha tomam contado país. A voz grave de Maria Bethâniapuxava para todos os brasileiros o "Ex­plode coração" e "Grito de alerta".Gonzaguinha começava a conquistarpúblicos diversificados. Chegaram a

confundi-lo com um pós-tropicalista,influenciado por Milton Nascimento naharmonia elaborada e na vocalizaçãoaguda. Isso era perceptível nas músicas"Minha amada doidivana" e "Român­tico do Caribe". Mas não passava de

2 uma aparência. Gonzaguinha foi capazf de cair no gosto de muitos artistas, des­� de o pesadão Agnaldo Timóteo (Grito

de alerta) até a refinada Elis Regina"Eu apenas queria que você soubesse".

Mudanças - Os-sucessos aumenta­vam cada vez mais. Em 1980, lançao LP De volta ao começo, tendo como

ponto alto a música "Sangrando", gra­vada simultaneamente por Simone. Odisco vende mais de 150 mil cópias. Masseu maior sucesso de vendagem seriamesmo "Caminhos do coração", comcerca de 200 mil cópias vendidas. Oque era muita coisa para quem já haviaconvivido com o estigma do cantor ran­coroso. O samba "O que é, o que é"foi uma da músicas mais populares de1982, ano de lançamento do LP.

Mas o sucesso foi breve. Logo suas

músicas saíram das paradas de sucessos

e seu trabalho se restringiu ao seu públi­co cativo. Outros estilos musicais as­

cendiam e novos nomes como Cazuza,Marina, entre outros, começavam a

mudar o gosto do público. Com exce­

ção do samba "E", do LP Coraçõesmarginais, sua obra já não era mais re­ferência. Prova disso são os discos Grá­vida e Olho de lince (Trabalho de Par­to), lançados respectivamente em 1984e 1985. Os dois juntos não venderammais de lO()'mil cópias.

Ultimamente Gonzaguinha faziashows pelo país (morreu na véspera desua atuação no TAC, em Florianópolis)e se ocupava do futuro museu LuizGonzaga, Rei do Baião. Gonzaguinhamorreu deixando saudades naquelesque com ele lutaram contra a ditadura;deixou saudade pelo sucesso de; suasmúsicas "Preto que satisfaz" e "E" nasnovelas da "Globo. Quem se lembrarde "Feijão Maravilha" e de "Vale Tu­do", certamente sentirá falta dos versosdo moleque do morro de São Carlos.E os que aprenderam a vê-lo como "opsicanalista dos dese jos da classe médiabrasileira", igualmente vão lembrar desuas letras quando se confrontaremcom dúvidas e incertezas existenciais.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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LaZerLoucuras de uma Primavera

(Mijou en Msi, 1h50, cores) -

Talvez o filme mais divertido exi­bido nesta mostra. Realizado em89, por Louis Malle, tem no

elenco Michel Piccoli, MiouMiou e Michel Duchaussoy. Ahistória se passa no interior daFrança, durante as manifestá­ções de maio de 68. A matriarcade uma família, que tem em Mi­lou (interpretado pelo ator Mi­chel Piccoli) a figura mais séria,morre deixando um rico testa­mento. Com a notícia, os fami­liares se juntam na casa de cam­

po, em meio ao velório, para dis­putar a herança. Há cenas me­

moráveis. De 8 a 16 de junho.

• ARTE

Pintura virafax e pára noCruz e Sousa

o Palácio Cruz e Sousa exibeaté o dia 20 de junho, 75 fac-sí­miles de obras-primas doMuseuAlbertina de Viena, na Austria.Na elaboração destes fac-símilesutilizou-se uma técnica tão per­feita que só um exímio especia­lista em obras gráficas poderiaidentificar os originais. Váriasépocas gloriosas das artes sãomostradas nesta exposição, atra­vés de Dürer, Rafaelo Santi, Mi­chelangelo, Rubens, Rem­brandt, Degas, Fragonard, Re­noir e dois mestres austríacos dofim do século: Gustavov Klint eEgan Schiele, compreendendoum período de 1471 até 1918."As Cores do Personagem"

do artista ilhéu Hermínio Mene­zes Neto fica em exposição atéo dia 14 de junho, na Galeriade Artes da UFSC.Ao todo são 70 trabalhos ex­

pressionistas, entre pinturas em

acrílico, óleo, pastel e escultu­ras. A Galeria de Artes fica no

Prédio do Centro de Convivên­cia e está aberta de 2� a 6� feira,das 9 às 19 horas.

• TEATRO

Burguês Fidalgocontinua noteatro da UFSC

o Teatro da UFSC apresentaa pe�a O Burguês FiáaJgo, deMoliere, até o dia 10 de julho,sempre às 21 horas. A direçãogeral é de Carmem Fossari e a

adaptação, da obra Le Bour­geots Gentilhomme, é do GrupoPesquisa Teatro Novo. IngressosCr$ 1 mil (antecipados no Fran­go e Fritas, Ponto de Vista, Bru­neti Discos, Grão e Departa­mento Artístico e Cultural) e Cr$2 mil (no local). Informações pe­lo fone: 31-9348.

Anil Cláudill Menezes

• CINEMA

Os lobos dançamcom The Doorsem FlorianópolisA entrada do filme Dança com

Lobos, nos cines Carlitos e Ita­guaçu, e de The Doors, no SãoJosé, prometem agitar o circuitocinematográfico da cidade.Além deles, a mostra de filmesfranceses continua no CIC atéo final de junho. Adiantamos al­gumas das obras exibidas no co­

meço de junho, mas, o horárioda programação deve ser checa-do pelo fone: 34-2166. '

Taxi Blues (lh50, cores) - Estefilme, produção realizada com

apoio do francês Marin Karmitz,retrata o submundo de Moscou,uma espécie de versão moscovitade TsxiDriver, segundo o críticoAmir Labaki. Do diretor e rotei­rista russo Pavel Longuine, o fil­me foi premiado como a melhordireção no Festival de Cannes,no ano passado. Conta a históriade dois homens: o motorista detáxi Schlikov (interpretado porPiotr Zatchenko) e o saxofonistaLiocha (o ator PIOtr Mamonov).Indagado sobre o porquê de terescolhido um motorista e um sa-

. xofonista para atuarem no seu

filme, Pavel Longuine, de 41anos, explicou:' "Saxofone em

lembra tnsteza ( ... )O saxofonista parece comigo

e meus amigos, no sentido em

que ficamos muito tempo na

clandestinidade cultural ( ... ) Ta­xistas são fenômenos típicos dascidades grandes. São iguais em

Moscou, Paris, Tóquio ou NovaYork ( ... )". Até o dia 2 de ju­nho.Nouvelle Vague (lh30, cores)

- Com Alain Delon e Dorni­ziana Giordano, este é o últimofilme do diretor franco-suíçoJean-Luc Godard exibido nos ci­nemas brasileiros. É a históriada Raoul e Elena, um casal quese ama, masm não tem nenhumtipo de contato físico. O filmeé recheado de citações literáriase não possui uma linearidadenarrativa. Só vendo mesmo parapoder comprovar. De 1 � a 9 deJunho.Les Enfants du Paradis (2h "a­

da, preto e branco) - O filmeé dividido em duas partes: LeBoulevard du Crime e L 'hommeBlanc e foi escolhido como o

mais importante realizado na

França. Dirigido por MarcelCarné entre 1943 e 1945, o rotei­ro leva a assinatura do poetafrancês Jacques Prévert. A pri­meira parte será exibida nos dias4, 5 e 8 e a segunda nos dias6 e 7.

Acordes delinqüentes:a/� pesadelo

dos vizinhos

Pode não parecer, mas, Flo­rianópolis tem undereround.Mais é diferente do que existeem cidades como São Paulo e

Porto Alegre, por exemplo.Aqui, as bandas de garagem en­

frentam dois problemas: nãoexiste gravadora independente e

os lugares alternativos para apre-sentação se restringem a alguns ta", diz Cristiano, que não es- cionada ao Festival de Músicasbares da Lagoa da Conceição e conde uma certa influência da- Inéditas de Palhoça, onde, devi-aos inconstantes festivais que daísta, "mas, sem nenhuma ido- do a um mal entendido, não pu-acontecem em escolas e bairros. latria". deram tocar. "E que disseramAlém disso, a má qualidade dos Seguindo um caminho total- pra gente que ia ter um contra-estúdios da cidade não permite mente oposto ao da S.R.M.P., baixista lá, para nos acornpa-que as bandas possam gravar a banda·UX, do Kobrasol, busca nhar, mas, quando chegamos nosuas "demos" e divulgar seu tra- fazer um pop rock, ou, como diz local do festival não tinha bai-balho. o tecladista Renato, "uma mistu- xista nenhum, e então nós deci-Mas, mesmo com tantas ad- ra da melancolia do Legião Ur- dimas que não iríamos tocar na-

versidades, algumas bandas con- bana com o "punch" do Ira!, re- quele festival", lembra Renato.seguem r e allzar verdadeiras conhecendo a falta de virtuosis- Ainda sem nenhuma frustra-proezas. Este é o caso da S.R. mo instrumental, mas, estamos ção e sem um estilo definido, ou-M.P (Subversive Reek Mute melhorando". tra banda de garagem está ten-Pertubation) de Capoeiras, que Essa melhora é notada através tando ganhar espaço no "circuitojá teve músicas suas incluídas em das fitas caseiras que Vitor (vo- das festinhas". Descendente deduas coletâneas, uma na Ingla- cal e guitarra), Púnior (bateria) uma série de outras bandas, aterra e outra na Alemanha. A e Renato vêm gravando desde banda Cartel já possui o princi-inclusão nas coletâneas é, segun- que decidiram levar adiante a pal: um som compacto e consis-do o vocalista Cristiano, "resul- banda. tente. Trabalhando apenas emtado direto da troca de fitas e A falta de apoio da família é covers de Lou Read, Rarnones,informações que a gente vem fa- apontada por Renato corno o Sex Pistols, entre outros, Mau-zendo com pessoas de diversos r.rincipal problema da banda. rício (voz e guitarra solo), Andrépaíses, como Estados Unidos, 'Nós pretendemos gravar no (guitarra e vocal), Melchior (bai-Japão, Grécia, Singapura. Bul- mês de julho, caso a gente arran- xo) e Manalo (bateria) preten-gária, além da Inglaterra e da je dinheiro para alugar o estúdio dem, ern breve, mostrar suas

Alemanha. e instrumentos melhores que os próprias músicas. Já existe, algu-Head Danger - Formada em 88, utilizados hoje", diz o tecladista. mas músicas e algumas letras.a partir de urna outra banda, a Um dos destaques da banda feitas, principalmente , por Mau-S.R.M.P. tem um estilo muito UX são as letras de Vitor. Em rício, �ue só agora foi colocadopessoal. Partindo do "death-co- uma delas, "Um Homem", ele corno 'front-man". ja que nasre" (metal ultra-rápido), a ban- diz: "enquanto ele vive/eu penso bandas anteriores ele fazia ape-da, hoje, realiza um som mais que estou sofrendo/miséria não nas solos de guitarra. Um exern-

aberto, misturando diversas ten- tem limites/um dia aprendere- pia de seus versos: "estou andan-dências do metal mais sujo com mos". Além desta letra, sobre do em cima das minhas menti-um pouco do peso do rock indus- um catador de papel, destacam- ras".trial. O fato de não tocarem em se ainda "Trigal com Corvos",público não preocupa tanto, já "Sonhos de Pedra" e "Pouso do A banda Cartel é o que podeque três integrantes da banda, Albatroz". se chamar de uma típica bandaCristiano, Argerniro (guitarra e Frustração - Apesar da banda de garagem. Três caixas amplifi-baixo) e Helder (bateria), acham ter apenas um ano, os integran- cadoras, o contrabaixo mais ba-que a música que fazem "não é tes do UX já acumulam algumas rato do mercado , três peças deacessíve!" o bastante para se,r frustrações. Uma delas está rela- bateria, microfones adaptados,mostrada em público ou em ra- guitarras estridentes, e estádios, pois .�om certeza poucos

� (<2::pronta a banda de rock de gara-en�endeTlam sua prop<?sta. -z ./ gem. Agora, é só acrescentar unsAlém do som pesado, r?p�do e �

'.

(5'três acordes, algumas palavras e

sUJ�; o vocal. graye e, ass.usta- está feito o rock de garagem, pa-dor de ,Cnstlano e uma gr��de � ra o desespero dos vizinhos ...caractertstica da S.R.M.P. As

J!]I'

letras falam da realidade de uma �maneira subjetiva e individualis-

ee-e

---

Alexandre GOliÇalves

MAIO 91 ZERO ))

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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�99 ANOS SEM AMADEUS

o gênio admirado porHaydnInfluenciadopor Bach, morreucom 35 anos

Na busca da riqueza do- espí­rito humano através da arte, o

compositor austríaco WolfgangAmadeus Mozart figura entre os

seus mais nobres expoentes. Oirreverente "revolucionário" damúsica clássica completa em de­zembro 200 anos de sua morte,e ao longo deste ano serão reali­zadas comemorações em todo o

mundo. Em Florianópolis, os

eventos em homenagem a eleiniciaram no dia 7 de maio, coma apresentação no Centro Inte­grado de Cultura (CIC) do showVox Mozart. Mas é no segundosemestre que está programada a

maior parte dos eventos.A contribuição de Mozart pa­

ra a música clássica é semelhanteao impacto dos iluministas paraa ciência. Ele "inovou os princí­pios da harmonia, até então vi­

gentes", diz o maestro José Acá­cia Santana do Coral da Univer­sidade Federal de Santa Catari­na. O compositor austríaco, ao

contrário do compasso usual,buscou formular outros tipos demelodias usando- como recursos

dissonâncias, tempos prolonga­dos e transições de ritmos.O uso de maior número de re­

cursos não significa necessaria­mente que a música seja compli­cada. Ao contrário. De acordocom críticos, Mozart consegueelaborar uma obra de melodiassimples e de extrema suavidade.Memória prodigiosa - A carreirade Wolfgang Amadeus Mozartse mostrava promissora. Em1765, aos nove anos de idade,escreveria a sua primeira sinfo­nia, arrancando aplausos dascortes. Tinha capacidade de

compor em qualquer tipo de gê­nero musical erudito: serenatas,concertos, sonatas, fantasias,óperas e o que viesse.Mas o lance mais surpreen­

dente de seu gênio aconteceriadurante uma VIagem à Itália em

1770. Na Basílica de São Pedro,ele escutaria a "Miserere ". A

partitura dessa música sagradaera um segredo guardado a sete

chaves pela Igreja. Mozart, queficou irnpressionado com a can­

ção proibida, transcrevena todaa partitura de memória. O Papa

ficou impressionado. Mas, em

vez de condená-lo, como serianormal na época da inquisição,preferiu dar uma medalha ao

menino prodígio.A genialidade de Mozart, que

impressionou muitas pessoasnainfância, trouxe-lhe muitos InI­

migos. Isso ficou latente quandoo imperador tinha encomendadouma ópera -La Flints Semplice(A Falsa Simplória). Outros mú­sicos da corte conseguiram con­

vencer o monarca a não montar

a peça. . . . .

Após um InICIO bnlhante na

música, Mozart, aos vinte anos,vai assumindo a condição de mi­serável. Não consegue ter estabi­lidade financeira como compo­sitor. Por ser irreverente e sem­

pre disposto a modificar os pa­drões musicais, freqüentementeentraria em choque com os maisconservadores. E o caso do arce­

bispo de Salsburgo , sua cidadenatal, que the ofereceu um em­

prego na orquestra da igreja. Oreligioso não the dava liberdade

para compor. Além disso, Mo­zart ocupa apenas uma_posiçãomodesta na orquestra. Enjoadodo trabalho, pede demissão. Umnobre da corte do bispo dá um

pontapé em Mozart que o levaescada abaixo. Nesta epoca Mo­zart não consegue mais nada, a

não ser alguns trocados com au­

las particulares de música.Seu consolo foram as mulhe­

res. Ele se envolveu com inúme­ras alunas. Apaixonou-se poruma linda cantora de ópera de16 anos, Aloysa Weber. Mas no

final de tudo acaba ficando com

a irmã dela, a cantora Konstan­ze , com quem se casouern 1782depois de uma fuga.

Esse episódio o inspira a es­

crever a ópera O Rapto do Ser­ralha, preferida de SigmundFreud, que a assobiava no inter­valo das sessões em sua c1ínia psi­quiátrica. A música foi um suces­

so, mas Mozart mais uma vez foitapeado: o empresário do teatroembolsou todos os lucros.Foi só com a ópera Don Gio­

vanni que Mozart consegue algoestável. O imperador, por causada grande aclamação públicacom a obra, the deu um empregomodesto na corte. Don Giova­nni, uma de suas principaisobras, é a história de um jovemgalã italiano. Para se casar com

a mulher por quem se apaixonouperdidamente, Giovanni mata o

pai dela. Os dois vivem juntosaté que um dia o personagemabandona-a para voltar à antigavida de conquistador de menini­nhas. O espírito do pai sai dotúmulo para vingar-se do galã.Morte aos 35 - Na corte, Mo­zart não é bem sucedido. Porcausa da inveja dos músicos quetinham influência sobre o impe­radar, ele ganhava um saláriobaixo. Entre esses rivais estavaAntônio Salieri - músico prin­cipal da corte e o maestro vilãode Mozart. Nesse momento desua vida, ele sofre com a pobre­za. Para complicar o quadro, ele

Mito galanteador não é falso: acabou casando com a cunhada

tem problemas de insuficiênciarenal. Para piorar ainda mais a

situação, Mozart é tapeado outravez nos negócios. Foi o caso daópera A Flauta Mágica. A óperachegou a ser apresentada 200 ve­

zes consecutivas num teatro -

o maior recorde até então na his­tória do entretenimento. No en­

tanto, os lucros ficariam com um

astuto empresário.Nesses últimos meses de sua

vida, durante uma noite em queestava trabalhando nas partitu­ras de A Flauta Mágica, um es­

tranho mascarado, com trajes es­curos, aparece em sua casa para

encomendar-lhe um requiém.Mozart perguntou para quemera. O estranho recusou se iden­tificar. Talvez fosse Antônio Sa­lieri, o arqui-rival da vida de Mo­zart, tal como foi sugerido no fil­me Amadeus (84), de Milos For­man.

O requiém não chegou a ser

concluído por ele. Mozart mor­reria em 5 de dezembro de 1791,provavelmente de tifo, aos 35anos de idade. Foi enterrado nu­

ma vala comum.'

Ozias Alves Jr

Eventos só em agostoFlorianópolis também vai homenagear a obra de Mozart na come­

moração dos 200 anos de sua morte. Em agosto, ainda sem datadefinida está programada uma exposição de painéis fotogrãficcs sobrea vida e obra do compositor, organizada pela Embaixada da Austria,no saguão da Reitoria da UFSC.Durante a exposição haverá recitais. Se você é músico clássico e

deseja se apresentar durante o evento, basta se inscrever no Departa­mento Artístico e Cultural da UFSC pelo telefone 31-9348 com ClóvisWerner, seu diretor de promoções e intercãmbio.Mas não é só. Dois outros eventos estão programados. Na segunda

quinzena de setembro a Pró-Música promove (no CIC ou TAC)a ópera Missa da Coroação, composta por Mozart. O evento vaiter a participação dos corais da Pró-Música e a orquestra de Câmarade Blumenau. E a escola de música da Univesidade do Estado deSanta Catarina (Udesc) programou uma apresentação de seus alunos- músicos e do Coral. O local é o Centro de Artes da instituiçãomas as datas ainda não estão definidas.

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MAIO 91 ZERO15

Uma produçãofértil iniciadana infânciaWolfgang Amadeus Mozart rece­

beu sua primeira educação musical dopai, o violinista e compositor LeopoldMozart (1719-1787). Aos cinco anos,

já estava compondo minuetos. Em1762, seu pai levou ele e sua irmã Ma­ria Anna ("Nannerl") a Munique,Viena e Pressburg, onde fizeram exibi­ções de virtuosidade ao cravo.

No ano seguinte, os Mozart inicia­ram grande tournée européia, que in­cluiu visitas a Paris, onde Wolfgangteve publicadas quatro sonatas paraviolino, e Londres, onde conheceu (efoi influenciado por) Johann ChristianBach. Após uma segunda visita a Vie­na, apresentando em Roma.Em Viena, Wolfgang conhecera

Haydn, uma das matrizes de seu estiloe um dos raríssimos músicos que admi­rou sua genialidade enquanto Mozartainda estava vivo. Mais tarde, Ama­deus dedicou-lhe seis magníficos quar­tetos de cordas - os QuartetosHaydn.Entre 1773 e 1777, à parte breves

visitas a Viena e Munique, onde escre­

veu La Finta Giardiniera (estreada em1775), Mozart passou a maior partedo seu tempo em Salzburgo, traba­lhando dois anos para o arcebispo dacidade.Tomado de impaciência, Mozart de­

cidiu fixar-se em Viena como profes­sor independente, compositor e con­

certista. Ali se casou contra os conse­lhos do pai com a cantora ConstanzeWeber (1782) e tornou-se maçom(1784), o que the valeria alguma aju­da, mais tarde, quando esteve quasena miséria. A partir de 1787, conse­guiu uma posição nominal como com­

positor da corte.O período de Viena assistiu à com­

posição de grande número das suas

melhores obras: as óperas O Raptodo Setrslbo (1782), As Bodas de Fíga­ro (1786), Don Giovanni (1787), CosiFan Tutte (1790), A Flauta Mágica(1791), La Clemenza di Tito (1791),e as sinfonias Haffner (1782), Linz(1783), Praga (1786) e Júpiter (1788).Excesso de trabalho e problemas fi­nanceiros contribuíram provavelmen­te para sua morte prematura, talvezde tifo. Uma última obra, o Réquiem.foi completada após sua morte pelodiscípulo Süssmayr.Mozart foi mestre em quase todos

os gêneros; sua produção febril resul­tou menos em inovações formais doque na criação de sucessivas obras-pri­mas que consolidaram o estilo clássicode composição - na sinfonia, no con­

certo (especialmente para piano) ouna música de cãmara. Escreveu muitamúsica de igreja, incluindo 18 missas(entre as quais a imponente Missa em

d6 menor, inacabada), litanias, mote­tos e a cantata maçõnica MauerioheTrauermisik (1785).lua música orquestral incluiu cerca

de 50 sinfonias; mais de 40 concertos,entre os quais 25 para piano e outros

para trompa, violino e clarinete; sere­natas comHaffner (1756) e a PeguenoSerão Musical (Eine Kleine Nstcht­musik, (1787) e divertimenti. Sua vas­

ta produção de música de câmara in­clui sete quintetos para .cordas, 23quartetos para cordas; quintetos com

piano, clarinete e trompa; quartetocom piano, .oboé e flauta, tnos com

piano, e sonatas para piano e violino.

Dicionário deMúsica Zahar

,.(

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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FOTO-CHOQUE

Sindicalistas x PMs: um confronto que resultaria em violência

Esse comerciante e

seu fiel leão dechácara defendeucom

porrete seu direitode ficar aberto

Depois de um diacansativo de

mobilização, a

pausa para o showe alguma alegria Esse passeio de Rita resultou em sua prisão

FOTO-=-o Zero quer estimular a fotografia, jornalística ou não.

Pois agora este espaço estágarantido para fotógrafos amado­res ou profissionais. Esta página é dos estudantes, jornalistasou de qualquer leitor que apresente um trabalho de qualidadeque mereça publicação. Se você tem uma foto ou ensaio inte­ressante envie seu material para nossa redação citando no

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Enquanto a fé buscava novos

fiéis, a descrença' se acumulava'

"

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina