Perigo iminente

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Capa 36 Segurança nas instalações 37 Por Luciana Freitas PERIGO IMINENTE O número de instalações elétricas irregulares no Brasil continua sendo alarmante. A falta de conscientização da sociedade sobre a importância do assunto é apontada como a causa principal deste cenário C onsideradas verdadeiras “bombas-relógio”, as insta- lações elétricas brasileiras são ameaças constantes quando o assunto é segurança. Fios desencapados, emendas e derivações inadequadas, falta de ligação do condutor-terra nas tomadas, entre outras irregula- ridades, ilustram a realidade da grande maioria das instalações, principalmente nas chamadas autoconstruções ou construções unifamiliares, que representam cerca de 70% do mercado. Neste cenário altamente crítico, o cidadão constrói ou refor- ma sua casa por conta própria, (contratando um leigo), e nisso inclui-se um arquiteto, decorador ou empreiteiro, que arrebanham eletricistas para trabalharem na obra, o que faz com que ela fique sem um devido responsável técnico, e amplia em muito o grau de periculosidade envolvendo choques elétricos e incêndios. Obras referentes a instalações correspondem, em média, a 15% dos custos da obra, e no planejamento físico, as instalações pertencem ao grupo de serviços que determinam o caminho crítico da obra; portanto, a responsabilidade do instalador é enorme para o sucesso da construção. José Silvio Valdissera, engenheiro civil e presidente do Sindicato da Indústria da Instalação do Estado de São Paulo (Sindinstala- ção) explica que quando o proprietário da obra contrata o serviço de instalações analisando todos os aspectos (preço, qualidade, segurança financeira, responsabilidade técnica), o padrão de qualidade da execução das instalações é excelente; porém, se o contratante somente visa preço e despreza as outras variáveis, a tendência é a deterioração da execução. “Quando o contratante só analisa preço, invariavelmente as boas técnicas são deixadas de lado e os materiais aplicados são de origem duvidosa”, afirma. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada ano, são inaugurados cerca de 1,7 milhão domicílios; desse total, 35% são apartamentos e 65%, casas. Dos apartamentos, 12% são obras governamentais e 23% estão relacionados a construtoras. Anualmente, há um índice de 40% de reformas no País, seja em casas ou apartamentos, e a instalação elétrica acaba sendo incluída – ainda que não sejam levados em conta todos os aspectos importantes. No âmbito formal do mercado, isto é, quando há uma cons- trutora sustentando o empreendimento, existe a contratação de um projeto de instalações elétricas feita por um profissional le- galmente habilitado, e também a figura da empresa instaladora representada por este profissional. “Quando se trata de construções industrializadas, isto é, prédios e condomínios, as construtoras são submetidas obrigatoriamente a uma série de documentações, e entre elas, está o projeto elétrico”, conta Edson Martinho, en- genheiro eletricista e diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), cuja missão é conscientizar por meio da informação e formação de profissionais, toda a população brasileira para os perigos que a eletricidade, quando mal utilizada, pode causar. Neste sentido, nas últimas décadas, houve uma evolução significativa na segurança das instalações, a começar pelo início dos trabalhos mediante a elaboração de um projeto. As obras formais, incluindo o “boom” da construção civil, além de uma série de lançamentos de apartamentos, conjuntos habitacionais e condomínios, são execu- tadas mediante um projeto específico, que, felizmente, na maioria dos casos, é elaborado por um profissional legalmente habilitado. “Quando analisamos as construções industrializadas, pode- mos afirmar que nos últimos sete anos, houve o cumprimento de pelo menos cerca de 80% da NBR 5410 – norma que rege as instalações elétricas de baixa tensão. No entanto, quando traçamos um panorama das principais capitais, em uma amostra de 500 edifícios, constatamos que a situação é caótica e que de fato não há preocupação em readequar as instalações elétricas”, revela Milena Guirão Prado, gerente de marketing no Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre) e coordenadora do Programa Casa Segura – projeto de conscientização e orientação sobre os riscos de acidentes causados por instalações elétricas inadequadas e o impacto destas instalações no consumo excessivo de energia, na desvalorização das edificações e na segurança dos imóveis. Ainda segundo Milena, com relação a edifícios, percebe-se que há uma preocupação maior por parte dos síndicos em investir na segurança das pessoas. Na amostra de 500 edifícios realizada pelo Programa Casa Segura, foi verificado que cerca de 40% dos síndicos, dependendo da cidade, quando descobrem a existência de algum problema na instalação, tomam uma atitude por terem uma responsabilidade civil envolvida. Ações como esta contribuem para que as chances de o empreendimento resultar em boa qualidade sejam maiores, uma vez que a instalação elétrica atende o mínimo exigido pelas normas e pela legislação vigente. No entanto, um dos problemas existentes está relacionado à execução das instalações elétricas, etapa que tem apresentado certa variação. Mesmo que o projeto seja elaborado por profis- sionais habilitados, as execuções nem sempre são. Geralmente, se contratada uma empresa instaladora registrada no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), a qual atesta que o profissional está legalmente habilitado, não costuma haver pro- blemas, e a probabilidade de a instalação ser segura é grande. Sem dúvida, essa readequação é de extrema importância para atender a demanda de energia hoje solicitada dentro de uma residência ou apartamento. “Há muito o que ser feito no merca- do informal. Não adianta fecharmos os olhos para uma situação que é realidade no País. Estamos trabalhando no âmbito formal, mas sabemos que a informalidade é muito maior”, atesta Paulo Barreto, engenheiro eletricista e diretor-técnico da Barreto En- genharia Ltda., empresa especializada em consultoria, projetos, treinamento e perícia na área de instalações elétricas. O problema está no fato de empreendimentos que mesmo executados por construtoras não oferecem a devida segurança, considerando que a construtora pode não contratar uma insta- ladora. “Às vezes, a construtora possui uma equipe própria de encanadores, eletricistas, azulejistas, pedreiros, e submete todos ao mesmo nível. Neste caso, a execução da instalação nem sempre estará sob supervisão de um profissional legalmente habilitado, ficando na mão do dirigente da obra”, explica Barreto. Quando se trata de aspectos organizacionais, a primeira “anomalia” (termo usual que remete a uma série de falhas, defeitos e irregularidades) que ocorre, é a inexistência de projeto, o que tornam grandes os riscos. “Em outros casos, o projeto pode até existir, mas normalmente é de autoria de leigos, isto é, projetistas de carreira que atuam em escritórios de engenharia, sem formação técnica, que passam a oferecer este tipo de serviço por conta própria”, destaca Barreto. Outra falha que ocorre na grande maioria das obras é alteração de projeto sem consulta ao projetista, o que também pode in- correr em riscos na instalação, uma vez que o projeto já traçado estabeleceu uma série de critérios a serem seguidos. “A pessoa que não participou do projeto não conhece as pre- missas, as considerações, os fatores técnicos, a especificação de material, a dimensão de um cabo, a mudança de um trajeto ou de eletroduto para bandeja ou vice-versa. Isso tem implicações na instalação e precisa ser averiguado”, esclarece o engenheiro. Mas os entraves não param por aí. No âmbito técnico, os problemas são ainda maiores, pois resultam em prejuízos materiais e humanos, ocasionando mortes por choque elétrico ou por incêndio de origem elétrica. Algumas das principais anomalias encontradas são: inexistência de sistemas de aterramento e do condutor de proteção, ou presença de condutor de proteção inadequado; ausência de coordenação entre condutores e dispositivos de proteção, contribuindo para a ocorrência de sobrecargas e curtos-circuitos, sem atuação dos devidos protetores, e componentes com grau de proteção (IP) inadequado. De acordo com Eduardo Daniel, engenheiro eletricista e supe- rintendente da Certiel Brasil, de maneira geral, a primeira irregu- laridade encontrada são problemas de instalação propriamente ditos. “Temos visto alguns problemas de montagem na instalação em conexões, a utilização incorreta de condutores, principalmente em pontos especiais nos quais a NBR 5410 determina o uso de condutores elétricos de baixa emissão de fumaça e com ausência de halogênio, entre outras falhas”, afirma. Outra problemática típica é a falta de ligação do condutor-terra nas tomadas que possuem o terceiro orifício, o que mascara o perigo real da instalação. “Se observada por fora, são vistos os três furos, o que aparentemente indica que a tomada oferece se- gurança; no entanto, quando se desmonta ou se faz o ensaio no produto, constata-se que o condutor de proteção da instalação – se é que existia – não estava conectado à tomada, o que quer dizer que o terceiro furo não tinha utilidade”, manifesta Eduardo Daniel. Em edifícios, é exigido o uso de condutores com baixa emissão de fumaça, que nem sempre são usados, por exemplo, em ligações internas de luminárias, um ponto exigido pela norma. Lamentavel- mente, muitas vezes, o produto é especificado, mas não é instalado. Em diagnósticos feitos em instalações pré-existentes, a situação mais preocupante é a ausência de aterramento em praticamente 90% dos edifícios, o que revela que a probabi- lidade de um choque elétrico é muito grande, ao passo que praticamente 90% das novas instalações possuem o fio-terra nas grandes capitais. “Quando nos voltamos ao mercado ‘for- miguinha’, isto é, às casas, sabemos que a aplicação ainda é muito baixa. Por isso, a nossa maior preocupação é atingir o consumidor final, e o grande influenciador para isso é o eletri- cista, pois é ele quem o acompanha e pode alertá-lo sobre a Emenda de eletrodutos embutida na alvenaria (sem caixa de passagem) Divulgação/Barreto Engenharia

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Segurança nas instalações 37

Por Luciana Freitas

Perigo iminenteO número de instalações elétricas irregulares no Brasil continua sendo alarmante. A falta de conscientização da sociedade sobre a importância do assunto é apontada como a causa principal deste cenário

Consideradas verdadeiras “bombas-relógio”, as insta-lações elétricas brasileiras são ameaças constantes quando o assunto é segurança. Fios desencapados, emendas e derivações inadequadas, falta de ligação do condutor-terra nas tomadas, entre outras irregula-

ridades, ilustram a realidade da grande maioria das instalações, principalmente nas chamadas autoconstruções ou construções unifamiliares, que representam cerca de 70% do mercado.

Neste cenário altamente crítico, o cidadão constrói ou refor-ma sua casa por conta própria, (contratando um leigo), e nisso inclui-se um arquiteto, decorador ou empreiteiro, que arrebanham eletricistas para trabalharem na obra, o que faz com que ela fique sem um devido responsável técnico, e amplia em muito o grau de periculosidade envolvendo choques elétricos e incêndios.

Obras referentes a instalações correspondem, em média, a 15% dos custos da obra, e no planejamento físico, as instalações pertencem ao grupo de serviços que determinam o caminho crítico da obra; portanto, a responsabilidade do instalador é enorme para o sucesso da construção.

José Silvio Valdissera, engenheiro civil e presidente do Sindicato da Indústria da Instalação do Estado de São Paulo (Sindinstala-ção) explica que quando o proprietário da obra contrata o serviço de instalações analisando todos os aspectos (preço, qualidade, segurança financeira, responsabilidade técnica), o padrão de qualidade da execução das instalações é excelente; porém, se o contratante somente visa preço e despreza as outras variáveis, a tendência é a deterioração da execução. “Quando o contratante só analisa preço, invariavelmente as boas técnicas são deixadas de lado e os materiais aplicados são de origem duvidosa”, afirma.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada ano, são inaugurados cerca de 1,7 milhão domicílios; desse total, 35% são apartamentos e 65%, casas. Dos apartamentos, 12%

são obras governamentais e 23% estão relacionados a construtoras.Anualmente, há um índice de 40% de reformas no País, seja em

casas ou apartamentos, e a instalação elétrica acaba sendo incluída – ainda que não sejam levados em conta todos os aspectos importantes.

No âmbito formal do mercado, isto é, quando há uma cons-trutora sustentando o empreendimento, existe a contratação de um projeto de instalações elétricas feita por um profissional le-galmente habilitado, e também a figura da empresa instaladora representada por este profissional. “Quando se trata de construções industrializadas, isto é, prédios e condomínios, as construtoras são submetidas obrigatoriamente a uma série de documentações, e entre elas, está o projeto elétrico”, conta Edson Martinho, en-genheiro eletricista e diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), cuja missão é conscientizar por meio da informação e formação de profissionais, toda a população brasileira para os perigos que a eletricidade, quando mal utilizada, pode causar.

Neste sentido, nas últimas décadas, houve uma evolução significativa na segurança das instalações, a começar pelo início dos trabalhos mediante a elaboração de um projeto. As obras formais, incluindo o “boom” da construção civil, além de uma série de lançamentos de apartamentos, conjuntos habitacionais e condomínios, são execu-tadas mediante um projeto específico, que, felizmente, na maioria dos casos, é elaborado por um profissional legalmente habilitado.

“Quando analisamos as construções industrializadas, pode-mos afirmar que nos últimos sete anos, houve o cumprimento de pelo menos cerca de 80% da NBR 5410 – norma que rege as instalações elétricas de baixa tensão. No entanto, quando traçamos um panorama das principais capitais, em uma amostra de 500 edifícios, constatamos que a situação é caótica e que de fato não há preocupação em readequar as instalações elétricas”, revela Milena Guirão Prado, gerente de marketing no Instituto

Brasileiro do Cobre (Procobre) e coordenadora do Programa Casa Segura – projeto de conscientização e orientação sobre os riscos de acidentes causados por instalações elétricas inadequadas e o impacto destas instalações no consumo excessivo de energia, na desvalorização das edificações e na segurança dos imóveis.

Ainda segundo Milena, com relação a edifícios, percebe-se que há uma preocupação maior por parte dos síndicos em investir na segurança das pessoas. Na amostra de 500 edifícios realizada pelo Programa Casa Segura, foi verificado que cerca de 40% dos síndicos, dependendo da cidade, quando descobrem a existência de algum problema na instalação, tomam uma atitude por terem uma responsabilidade civil envolvida.

Ações como esta contribuem para que as chances de o empreendimento resultar em boa qualidade sejam maiores, uma vez que a instalação elétrica atende o mínimo exigido pelas normas e pela legislação vigente.

No entanto, um dos problemas existentes está relacionado à execução das instalações elétricas, etapa que tem apresentado certa variação. Mesmo que o projeto seja elaborado por profis-sionais habilitados, as execuções nem sempre são. Geralmente, se contratada uma empresa instaladora registrada no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), a qual atesta que o profissional está legalmente habilitado, não costuma haver pro-blemas, e a probabilidade de a instalação ser segura é grande.

Sem dúvida, essa readequação é de extrema importância para atender a demanda de energia hoje solicitada dentro de uma residência ou apartamento. “Há muito o que ser feito no merca-do informal. Não adianta fecharmos os olhos para uma situação que é realidade no País. Estamos trabalhando no âmbito formal, mas sabemos que a informalidade é muito maior”, atesta Paulo Barreto, engenheiro eletricista e diretor-técnico da Barreto En-genharia Ltda., empresa especializada em consultoria, projetos, treinamento e perícia na área de instalações elétricas.

O problema está no fato de empreendimentos que mesmo executados por construtoras não oferecem a devida segurança, considerando que a construtora pode não contratar uma insta-ladora. “Às vezes, a construtora possui uma equipe própria de encanadores, eletricistas, azulejistas, pedreiros, e submete todos ao mesmo nível. Neste caso, a execução da instalação nem sempre estará sob supervisão de um profissional legalmente habilitado, ficando na mão do dirigente da obra”, explica Barreto.

Quando se trata de aspectos organizacionais, a primeira “anomalia” (termo usual que remete a uma série de falhas, defeitos e irregularidades) que ocorre, é a inexistência de projeto, o que tornam grandes os riscos.

“Em outros casos, o projeto pode até existir, mas normalmente é de autoria de leigos, isto é, projetistas de carreira que atuam em escritórios de engenharia, sem formação técnica, que passam a oferecer este tipo de serviço por conta própria”, destaca Barreto.

Outra falha que ocorre na grande maioria das obras é alteração de projeto sem consulta ao projetista, o que também pode in-correr em riscos na instalação, uma vez que o projeto já traçado estabeleceu uma série de critérios a serem seguidos.

“A pessoa que não participou do projeto não conhece as pre-missas, as considerações, os fatores técnicos, a especificação de material, a dimensão de um cabo, a mudança de um trajeto ou de eletroduto para bandeja ou vice-versa. Isso tem implicações

na instalação e precisa ser averiguado”, esclarece o engenheiro.Mas os entraves não param por aí. No âmbito técnico, os problemas

são ainda maiores, pois resultam em prejuízos materiais e humanos, ocasionando mortes por choque elétrico ou por incêndio de origem elétrica. Algumas das principais anomalias encontradas são: inexistência de sistemas de aterramento e do condutor de proteção, ou presença de condutor de proteção inadequado; ausência de coordenação entre condutores e dispositivos de proteção, contribuindo para a ocorrência de sobrecargas e curtos-circuitos, sem atuação dos devidos protetores, e componentes com grau de proteção (IP) inadequado.

De acordo com Eduardo Daniel, engenheiro eletricista e supe-rintendente da Certiel Brasil, de maneira geral, a primeira irregu-laridade encontrada são problemas de instalação propriamente ditos. “Temos visto alguns problemas de montagem na instalação em conexões, a utilização incorreta de condutores, principalmente em pontos especiais nos quais a NBR 5410 determina o uso de condutores elétricos de baixa emissão de fumaça e com ausência de halogênio, entre outras falhas”, afirma.

Outra problemática típica é a falta de ligação do condutor-terra nas tomadas que possuem o terceiro orifício, o que mascara o perigo real da instalação. “Se observada por fora, são vistos os três furos, o que aparentemente indica que a tomada oferece se-gurança; no entanto, quando se desmonta ou se faz o ensaio no produto, constata-se que o condutor de proteção da instalação – se é que existia – não estava conectado à tomada, o que quer dizer que o terceiro furo não tinha utilidade”, manifesta Eduardo Daniel.

Em edifícios, é exigido o uso de condutores com baixa emissão de fumaça, que nem sempre são usados, por exemplo, em ligações internas de luminárias, um ponto exigido pela norma. Lamentavel-mente, muitas vezes, o produto é especificado, mas não é instalado.

Em diagnósticos feitos em instalações pré-existentes, a situação mais preocupante é a ausência de aterramento em praticamente 90% dos edifícios, o que revela que a probabi-lidade de um choque elétrico é muito grande, ao passo que praticamente 90% das novas instalações possuem o fio-terra nas grandes capitais. “Quando nos voltamos ao mercado ‘for-miguinha’, isto é, às casas, sabemos que a aplicação ainda é muito baixa. Por isso, a nossa maior preocupação é atingir o consumidor final, e o grande influenciador para isso é o eletri-cista, pois é ele quem o acompanha e pode alertá-lo sobre a

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importância da readequação das instalações”, declara Milena.Além disso, a segunda grande constatação é que 85% desses

edifícios têm problemas de para-raios, que não funcionam ade-quadamente, fato inadmissível em um país como o Brasil, que apresenta alta incidência de descargas.

Muitas instalações antigas estão obsoletas e demandam urgen-temente um retrofit. “Diversas instalações foram feitas em épocas passadas de modo correto, mas agora, partem para a obsolescência de uma maneira natural, pois a carga que deve ser atendida hoje já não está adequada à capacidade da instalação”, justifica Daniel.

Nos últimos anos, houve um aumento significativo do uso de aparelhos eletrônicos e de eletrodomésticos, e hoje são consumi-das seis vezes mais energia em comparação com 30 anos atrás. O problema é que as instalações elétricas continuam precárias, sem que haja uma mudança, provocando a degradação da insta-lação, incluindo o envelhecimento de componentes, aparecimento de falhas e aquecimento de condutores. “Constatamos que pelo menos 60% dos edifícios apresentavam superaquecimento, o que demonstra que é preciso redimensionar a instalação e fazer no-vos circuitos para atender a carga da instalação”, orienta Milena.

A manutenção é outra vertente em estado crítico, pois comu-mente é feita de maneira incorreta. Para exemplificar, pensemos em uma instalação com um disjuntor de 25A, aplicado para proteger condutores. Com a elevação das cargas, há também o aumento da demanda, o que faz com que o disjuntor se abra quando a carga ultrapassa o que ele suporta.

Eduardo Daniel enfatiza que quando um disjuntor é substitu-ído por outro considerado mais potente – com uma capacidade de abertura maior –, significa que não se está mais protegendo

a instalação. “Um problema é resolvido (o disjuntor não abre mais), mas começa-se a aquecer os condutores, podendo derre-ter a isolação e gerar curtos-circuitos e incêndios”, argumenta.

Mesmo diante da evolução da qualidade dos produtos, ainda são encontrados diversos problemas críticos que comprometem a segurança, principalmente no que se refere a aterramento e outros itens de segurança contra choques. Em grande parte dos casos, a qualidade da energia chega de forma apropriada ao equipamento; contudo, muitas vezes, a instalação deixa a desejar no que diz respeito à segurança do usuário.

Outro erro que costuma ser cometido é o fato de que muitos indivíduos montam seus próprios quadros de distribuição, com a finalidade de baixar custos e promover soluções caseiras.

O quadro muitas vezes não tem o espaço adequado para a ins-talação de equipamentos reserva, não há a infraestrutura de fixação dos componentes de maneira adequada e diversas vezes não são utilizados barramentos na conexão interna. “Em alguns casos, a própria instaladora compra o cabo, faz um rabicho de cerca de três metros na instalação e interliga a rede (a parte fixa da instalação) com a luminária. Assim sendo, sabemos que deve ser usado o cabo com baixa emissão de fumaça, mas muitas vezes o instalador compra um outro cabo e orienta sua instalação em algum ponto”, relata Daniel.

A composição de todos estes fatores é que acarreta a falta de segurança de usuários e instalações. Infelizmente, a cultura do cida-dão brasileiro se baseia em não realizar a manutenção da instalação elétrica de forma rotineira, mas toma providências apenas quando surgem problemas. Em outras palavras, a sociedade (no âmbito casas) opta pela manutenção corretiva e não pela preventiva.

“No caso do mercado corporativo, envolvendo locais onde há uma dinâmica de cargas maior e mais frequente, talvez as instalações elétricas ganhem um pouco mais de atenção, mas mesmo assim, ainda deixam muito a desejar”, lamenta Daniel.

Para sanar estes problemas, a verificação prescrita pelo capítulo 7 da NBR 5410, seria um divisor de águas no setor. Infelizmente, não é feita essa verificação final e muito menos de maneira periódica, o que dificulta muito a garantia da boa qualidade das instalações. “Ainda nem conseguimos sensibilizar as autoridades sobre a importância desse assunto; elas sabem, mas fingem que não conhecem. Essa seria uma ação interessante, a exemplo do que é feito em outros países”, sugere Daniel. E complementa sua opinião ao acrescentar que “o Brasil possui normas adequadas para tudo. Em relação ao que prescrevem as normas, não estamos devendo nada para qual-quer norma internacional. O problema maior é o não cumprimento delas e a ausência de verificação final”.

ElEmEntos DE sEgurançaPara garantir a segurança, a instalação deve estar equipada

com todos os itens necessários, o que por diversas vezes não acontece em construções informais. Por outro lado, praticamente 100% das novas construções já utilizam os principais elementos de segurança, uma vez que seguem a norma. O problema per-siste nas autoconstruções, pois ainda falta uma conscientização e conhecimento por parte dos usuários das instalações. Eduardo Daniel explica que se tratando de novas instalações, o uso do dispositivo DR, por exemplo, atualmente está muito mais comum do que antes. “Ainda está longe ainda de ser 100%, mas é muito

mais utilizado do que era há cinco anos”, recorda. Muitos consideram o DR como um “dedo-duro”, por sua função

de detectar correntes de fuga geradas por qualquer instalação elétrica malfeita. “O problema está em se instalar equipamentos antigos, como geladeiras, chuveiros, entre outros, pois isso gera o desarme do DR, que é instantâneo, garantindo a segurança da pessoa que estiver no local”, salienta Martinho.

Grande parcela da população nem sequer conhece o dispositivo e muito menos sua utilidade. “Acredito que este teria de ser um trabalho desenvolvido pelas próprias indústrias fabricantes deste produto, no sentido de esclarecer as informações ao morador da casa, que às vezes não sabe olhar para sua caixa de distribuição e identificar todos os materiais que ali estão instalados”, orienta Milena Prado.

O condutor de proteção ganhou mais repercussão por conta dos equipamentos eletrônicos (computadores basicamente), porém, seu uso continua tímido.

Outro elemento compulsório é o dispositivo de proteção contra surtos (DPS), o qual também ainda não é aplicado como deveria. A norma exige sua utilização, mas ele não protege o usuário, e sim, os equipamentos contra queimas. “Com a vida, quase ninguém se preocupa, mas com o equipamento, sim”, observa Martinho.

Além disso, hoje são encontradas muitas instalações com con-

dutor de proteção (fio-terra); porém, quando o assunto é sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) ainda são re-queridas muitas ações a serem tomadas para garantir seu uso, mesmo existindo uma legislação nacional para isso.

“O SPDA está deixando muito a desejar, justamente porque é um elemento pouco visto na instalação elétrica. O problema é que qualquer instalação funciona bem sem ele, uma vez que só é usado em casos de emergência”, afirma Eduardo Daniel.

Por legislação, é exigida a verificação da inspeção do SPDA a cada cinco anos. Daniel garante que em muitos dos casos verifi-cados, o equipamento está em condições inadequadas, inclusive em edifícios famosos em São Paulo, até mesmo com certificação LEED. O usuário começa a perceber a necessidade do SPDA quando os problemas surgem nos equipamentos. “Não adianta haver uma legislação se não tiver quem verifique, se não vira ‘canetada’. E este é o nosso temor em relação à certificação das instalações, pois se assim acontecer, nada será agregado à segurança”, expressa.

Sistemas de aterramento interno também são pouco represen-tativos, mas sua frequência tem aumentado por conta do uso de computadores. Milena Prado afirma que uma pesquisa feita pelo Programa Casa Segura, no final de 2010, com 300 residências, apontou que em 30% delas é utilizado o fio-terra, quando há a

• Não sobrecarregue as instalações elétricas. Elas devem ser projetadas de modo que seja possível prevenir perigos, como incêndios e curtos-circuitos devido ao superaquecimento dos fios. • Não faça gambiarras. Instalações elétricas provisórias ou precárias podem provocar choques elétricos e incêndios. • Evite o uso de “benjamins” ou “Ts” para evitar sobrecarga. Prefira sempre instalar mais tomadas.• Instale o fio-terra e dispositivos DR. Evite choques elétricos. • Use circuitos separados para iluminação e tomadas. • O quadro de luz deve estar sempre limpo, ventilado e desimpedido, longe de botijões de gás. • Não deixe aparelhos elétricos ao alcance das crianças. • Quando for trocar uma lâmpada, desligue o disjuntor. • Feche a água pelo registro antes de mudar a chave seletora quente/frio do chuveiro ou da torneira elétrica. • Nunca puxe o fio para desligar um aparelho da tomada. • Leia atentamente as instruções do fabricante ao instalar aparelhos elétricos. • Limpe os eletrodomésticos só depois de retirá-los da tomada. • Verifique se os aparelhos elétricos não estão com os fios desencapados. • Se as lâmpadas ou aparelhos elétricos de sua residência queimam com frequência, os disjuntores desarmam ou as tomadas e os fios estão ficando quentes, chame um eletricista qualificado. • Cuidado com instalações elétricas em lugares úmidos, como lavanderias, garagens e jardins. • Quando houver tempestade com descargas atmosféricas (raios), desligue os aparelhos das tomadas e evite atender o telefone. • Somente pessoas com conhecimento técnico devem executar trabalhos em instalações elétricas.• A manutenção das instalações elétricas é muito importante na economia de energia. Além de valorizar seu imóvel, também aumenta o conforto pela possibilidade do uso de novos equipamentos de forma segura. • Revisões periódicas são importantes na manutenção da fiação elétrica e na prevenção de fugas de corrente. • Não utilize benjamins e extensões. Elas sobrecarregam a rede elétrica e oferecem riscos de incêndio. • Iluminação: abra as janelas e aproveite a luz natural. Pinte as paredes em cores claras, que refletem luz e dispensam o uso de lâm-padas de alta potência. • Limpe as luminárias e lustres. O acúmulo de pó reduz o nível de iluminação.• Lâmpadas fluorescentes são mais econômicas e iluminam tão bem quanto as incandescentes. As lâmpadas de vapor de sódio também têm grande poder de iluminação além de consumirem menos energia se comparadas com as de mercúrio. • Iluminação externa: células fotoelétricas são ideais para ambientes externos, pois desligam-se automaticamente de acordo com a luminosidade do dia.

Tipo de improviso comum encontrado nas instalações

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Adote hábitos inteligentes que visem a segurança e reduzam o consumo de energia. Confira algumas dicas primordiais:

Fonte: Programa Casa Segura

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atuação de um empreiteiro na obra. “Este índice ainda é conside-ravelmente baixo, mas muito melhor do que há 10 anos, que era zero”, profere. Dentro da instalação, os gastos com aterramento representam de 10% a 15%, sendo que 10% do valor da instalação elétrica significa 0,5% do custo total da obra.

E os aciDEntEs não param por aíOs acidentes relacionados a eletricidade são amplamente

divulgados ao mercado pelo seu caráter de importância e de alerta, com a finalidade de serem evitados. No Brasil, não exis-tem estatísticas atualizadas e precisas quanto a acidentes com a rede elétrica. Sabe-se que nos Estados Unidos, cerca de cinco mil pessoas chegam anualmente aos prontos socorros vitimadas por choques elétricos, e aproximadamente mil casos fatais são creditados anualmente a este fator.

A grande maioria dos acidentes se dá pela falta de informação das pessoas que utilizam ou trabalham com a eletricidade, o que faz com que a instalação elétrica seja mal executada, desprovida de dispositivos de proteção.

“Quando acontece o acidente, é traçado como fatalidade, o que na verdade não é. Ainda estou tentando encontrar ao menos um caso que seja realmente uma fatalidade, mas até agora, pelo que acompanho, o motivo dos acidentes está sempre relacionado a algum tipo de erro, exceto quando se trata de descarga atmosférica, em que a pessoa não tem onde se abrigar”, frisa Edson Martinho.

A estatística real dos acidentes com eletricidade está mascarada e muito além dos números noticiados, pois quando ocorre um acidente relacionado a choque elétrico, o indivíduo dá entrada no pronto-socorro e a causa é atribuída à parada cardiorrespiratória.

Muitas pessoas, vítimas de choque elétrico, vêm a óbito e este é um ponto principal que afeta, principalmente, crianças dentro das casas. “As pessoas se enganam achando que tapando a tomada não terão problemas. Às vezes, acabam até mesmo inutilizando a tomada para evitar o choque elétrico”, expõe Milena Prado.

A adoção do novo padrão de plugues e tomadas é destaca-da pelos especialistas como uma das ações que colaboraram bastante para a diminuição de acidentes, pois os critérios de segurança que foram embutidos são indiscutíveis.

O curto-circuito, isto é, a sobrecarga na instalação também é um dos perigos iminentes, estando relacionado a incêndios que costumam ser graves na maioria das vezes.

Paulo Barreto contrapõe e afirma que se levarmos em conta o crescimento da população, as ocorrências diminuíram. “Nas três últimas décadas, houve um aumento da responsabilidade e do senso crítico dos riscos de instalações elétricas irregulares, e com isso, houve uma elevação significativa de projetos e de execuções de acordo com as normas”, declara.

O xis da questãO está

na cOnscientizaçãOA precariedade das instalações elétricas tem sua origem na

cultura da sociedade, que pouco conhece o assunto e não investe em recursos que garantam sua própria segurança. “O ponto que considero mais alarmante nisso tudo está ligado à cultura do próprio brasileiro, que não tem o hábito de fazer uma instalação elétrica segura, mas, sim, para funcionar. Esse é o primeiro passo que temos de dar, pois mudança de cultura é um processo longo e leva muitos anos”, declara Edson Martinho.

Para ilustrar o que deveria acontecer com as instalações elétri-cas, o engenheiro cita o exemplo do uso do cinto de segurança. “Há vinte anos, sua obrigatoriedade começou com uma fiscali-zação; depois, foi feita uma campanha muito forte, e é isso que vai criando uma cultura. Hoje em dia é muito comum as pessoas entrarem no carro e colocarem o cinto de segurança automati-camente. É mais ou menos nessa linha que precisamos atuar, para que tenhamos os resultados mais rapidamente”, argumenta.

Paulo Barreto é ainda mais conciso ao declarar: “Nós, profissio-nais do meio, temos falado o óbvio para nós mesmos, enquanto o problema está na falta de conscientização social. Os acidentes ocorrem em uma parcela considerável por desleixo e por desconhe-cimento da sociedade. Se for feita uma campanha de conscientiza-ção, esclarecimento e orientação, há uma maior probabilidade de sucesso; caso contrário, o insucesso é que ganha terreno”, enfatiza.

Apesar das mobilizações de diversos agentes do mercado, é preciso promover um trabalho muito mais acentuado no que diz respeito à mídia de massa, ou seja, campanhas em televisões, rádios, jornais, revistas, palestras, cursos etc., a fim de aumentar a consciência de todos, já que cultura não se muda de um dia para o outro. Ademais, com a sociedade devidamente esclarecida, será possível detectar a má-fé de certos prestadores de serviço.

“Sempre costumo dizer que existem duas formas de se promover a segurança: uma é pela conscientização, isto é, mudar a cultura

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Estatísticas Das instalaçõEs Elétricas na américa latina

Fonte: Procobre

Pesquisa de Mercado - Novas Construções

Fio-terraEdifícios

Fio-terraCasas

do ser humano para que ele comece a entender que instalação elétrica é necessária; a outra é pela legislação aliada à fiscali-zação, porque se houver uma legislação, mas sem fiscalização, não há o cumprimento da lei”, justifica Martinho.

Neste sentido, é travada uma complexa briga jurídica, pois há quem afirme que uma norma técnica não pode ser obrigatória porque não é disponibilizada gratuitamente; por outro lado, o Có-digo de Defesa do Consumidor (CDC) remete ao seu cumprimento como sendo obrigatório. Isso revela que o grande problema no Brasil não gira somente em torno da legislação, mas também, de seu cumprimento por falta de fiscalização e de cultura que a exija.

Indo mais a fundo, para gerar essa mudança de cultura neces-sária, é preciso ir além de promover trabalhos junto às mídias. Milena Prado explica que por mais que a população seja cons-cientizada a saiba da gravidade do problema, se não houver uma lei e benefícios por se fazer a reforma, dificilmente este processo funcionará, pois o brasileiro se adéqua quando há fiscalização e multas. “Poderiam ser envolvidos bancos que incentivem a reforma e ofereçam crédito para a instalação elétrica”, sugere.

Outra alternativa proposta por ela é a criação de um comitê para ouvir a cadeia e entidades de classe, de modo a realizar a apre-sentação de um dossiê dos problemas ocorridos para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em Brasília, a fim de fomentar a mudança cultural. “Quem sabe assim, as concessionárias de energia tenham permissão por parte da Aneel para entrarem na residência do consumidor e fazerem a verificação, pois até o momento, elas só chegam até o padrão de entrada da unidade consumidora”, propõe.

Como forma de despertar a atenção e o interesse da popu-lação sobre o assunto, o Programa Casa Segura, juntamente com a rede da C&C – Casa e Construção, criou um produto chamado “Assistência Elétrica”, disponível para compra em algumas lojas da rede, por meio do qual o próprio consumidor pode fazer o diagnóstico de sua instalação elétrica.

Ainda para este ano, o Casa Segura está programando um trabalho em parceria com treinamentos ministrados no homecenter da Dicico, que visa justamente alertar os consumidores sobre os riscos da eletri-cidade e entregar-lhes um guia de bolso para atentarem à qualidade das instalações. O trabalho está em fase inicial, porém deve estar em funcionamento a partir do final de junho, aproximadamente.

Milena Prado conta que outra ação almejada consiste em um trabalho de solicitação a bancos, de modo que verifiquem dentro de seus relatórios de inspeção, a possibilidade de serem listados mais materiais elétricos na instalação. “Quando o banco libera um seguro residencial, ele tem de fazer uma inspeção para verificar a condição da instalação. Estamos tentando convencer algum deles a impor mais itens, porque o relatório atual é muito superficial. Acredito que essa também seja outra forma de incentivar uma movimentação na cultura da sociedade”, relata.

paDrão DE qualiDaDEO ano de 2011 apresentou, em relação a 2010, uma redução

dos fabricantes com produtos de qualidade (de 54% para 46%) e um aumento dos fabricantes com deficiências, embora certificadas (de 13% para 33%), segundo dados da Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos (Qualifio). Os fabricantes

não certificados ou com certificados cancelados apresentaram uma redução (de 33% para 21%). A situação é preocupante e foi gerada pela falta de cancelamentos de certificados (diferente do ano de 2010) e pela migração dos fabricantes com problemas para novas certificadoras.

Contudo, ainda assim, se compararmos a qualidade dos produtos hoje comercializados no mercado com a qualidade das instalações propriamente ditas, a melhoria da qualidade dos itens é muito maior, porque todos eles praticamente contam com uma certificação compulsória. Logicamente ainda existem problemas de produtos piratas e não conformes, mas mesmo em disjuntores, por exemplo, em que se tem casos até mesmo de falsificação de marca, a falta de qualidade é muito menor do que era há 10 anos.

Quando se trata de condutores, se analisarmos o monitoramento de controle de qualidade realizado, veremos que o índice atual de conformidade ultrapassa 95%. “Em muitos países, como os Estados Unidos, não existe uma legislação para estas questões, porque o mercado exige segurança e qualidade, enquanto nós, infelizmente, ainda precisamos desta ‘figura antipática’ da certi-ficação compulsória”, compara Daniel.

A melhoria da qualidade dos produtos também se deve à conscientização do próprio fabricante em investir cada vez mais em seus produtos. O outro viés que existe é o tecnológico. Os processos de fabricação atualmente estão melhores e bem mais acessíveis em termos de custos, o que também auxiliou essa melhoria geral dos componentes.

“Hoje, o discurso é outro, pois houve uma evolução positiva do mercado. No passado, tínhamos riscos de materiais (casos de polí-cia), ao passo que atualmente, com a certificação compulsória, se a compra for feita em estabelecimentos formais, como lojas, revendas de materiais elétricos e grandes redes de materiais de construção, serão encontrados somente materiais normalizados e com marca de conformidade nos que são certificados”, assegura Paulo Barreto.

Ainda segundo ele, dois tipos de produtos precisam entrar na compulsoriedade de certificação o quanto antes: eletrodutos e quadros de distribuição, pois apresentam muitos problemas. “Vejo que os quadros são montados na obra sem qualquer noção, ensaio e critério. Para efeitos legais, quem monta um quadro se transforma em um fabricante, e, portanto, deve cumprir todos os requisitos que um fabricante/montador de quadros está sujeito”, destaca.

Quadro de entrada de apartamento sem proteção contra contatos diretos e com condutores expostos

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Segurança nas instalações 43

No que tange a eletrodutos, ele afirma que não têm sido en-contradas as famosas mangueiras d’água para uso, o que era outro ponto crítico. “A partir do momento que acontecerem estas certificações, eu diria que, dos materiais mais significativos, o mercado estará bem coberto”, sustenta.

mErcaDo aDaptaDo A partir de 1º de janeiro de 2012, todo o mercado brasileiro

teve de se adequar ao novo padrão de plugues e tomadas, se-gundo definição do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Fabián Yaksic, gerente do departamento de tecnologia e política industrial da Associação Brasileira da In-dústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) conta que os prazos foram bastante “consensados”, com exigências unilateriais por parte do Inmetro, que permanentemente ouviu a sociedade, e em particular, a Abinee, que por sua vez, ouviu os fabricantes e o comércio para saber em quais prazos eles poderiam adequar-se para inserir no mercado os novos plugues e tomadas padrão.

Como forma de evitar acidentes, não é recomendada a utiliza-ção de adaptadores de forma permanente, mas, sim, de maneira temporária. “Como estava havendo a mudança do tipo de toma-da, nós insistimos com o Inmetro sobre a criação da certificação compulsória também dos adaptadores, porque não há sentido, digamos, termos uma tomada segura, e um adaptador, que é uma figura provisória, que não atenda a norma alguma. Assim, feliz-mente, foi elaborada uma norma para fabricação dos adaptadores, com as exigências mínimas de segurança”, comemora Yasksic.

O novo padrão sinaliza que a tomada conta com um fio-terra, garan-tindo a segurança dos usuários e da própria instalação. “É importante que os consumidores exijam no mercado produtos certificados, e que todos os construtores, empresas de construção civil e entidades de classe estejam permanentemente conscientes – assim como já estão –, e continuem executando as instalações conforme a NBR 5410 não apenas em construções de grande porte, mas também em residências de menor poder aquisitivo, sempre instalando o fio-terra, com fios e cabos adequadamente dimensionados conforme a norma, e plugues e tomadas dentro do novo padrão”, recomenda Yaksic.

Nas construções pré-existentes, os próprios consumidores fi-nais estão optando por mudar as tomadas. Mesmo os produtos antigos que apresentavam dois pinos redondos – nos quais não

era exigido o terra –, podiam ser ligados tanto na tomada antiga como na nova. Hoje em dia, cerca de 80% dos produtos antigos adéquam-se ao novo padrão.

“Há mais de seis meses que não encontro tomadas antigas no mercado, e posso dizer que percorro bastante o comércio de várias cidades. Vejo que estão sendo comercializadas somente tomadas e plugues padrão, o que significa que a sociedade, de modo geral, e o comércio, em particular, atenderam rapidamente o que achávamos que levaria um certo tempo”, comenta Yaksic.

DE olho na qualificação

profissionalEm vários campos de atividade, o problema brasileiro é a

má formação na educação de base, e no setor de eletricidade não é diferente. A construção civil é o setor que agrega a maior quantidade de colaboradores situados na base da pirâmide edu-cacional, e sem um programa de Estado para erradicar de vez o analfabetismo na nossa sociedade, estamos fadados à ocorrência de acidentes. “Por mais que as entidades privadas se esforcem com programas de qualificação e reciclagem, não conseguem atender toda a demanda da educação reprimida”, afirma José Silvio Valdissera, do Sindinstalação.

A qualidade da mão de obra, com foco específico em instalações elétricas ligadas ao setor de construção civil, demanda investimentos, a fim de criar requisitos para a própria certificação voluntária dos eletricistas. É importante que as empresas instaladoras e/ou constru-toras utilizem profissionais capacitados para executar os trabalhos.

É possível afirmar que o atendimento às normas já é disseminado entre os profissionais legalmente habilitados no País. “Não exigimos que os eletricistas conheçam as 1.500 normas do Cobei, até mesmo porque elas não são feitas para eles, mas, sim, para engenheiros e técnicos as interpretarem e os dirigirem. É importante salientar que o eletricista não é o profissional que toma decisões; ele executa decisões tomadas por um profissional legalmente habilitado”, adverte Barreto.

No mercado formal, a cada ano ingressam centenas de profis-sionais. A questão da mão de obra também requer atenção e está dividida entre dois aspectos: conhecimento, ou seja, formação, e operacional, isto é, execução e treinamento.

O conhecimento necessário para os trabalhos está relacionado a técnicos, tecnólogos e engenheiros formados, o que remete ao ensino da área tecnológica. Neste cenário, perdura um grave pro-blema discutido em fóruns e também em âmbito governamental. Barreto esclarece que o ensino superior ou técnico está impotente e que não há o que fazer para melhorar a formação, porque a matéria-prima chega sem condições de receber o conhecimento.

“O estudante de curso técnico e de engenharia está tão des-preparado que as faculdades, por exemplo, tiveram de readequar as disciplinas e o conteúdo curricular para falarem a mesma lin-guagem deste público, o que é um verdadeiro absurdo”, contesta.

Ele conta ainda que o problema está na falta de capacidade cognitiva dos profissionais, os quais se formam sem condições de estruturar uma conexão entre os conteúdos que receberam durante o curso. “Assim, são criados autômatos ou analfabetos funcionais. Precisamos de profissionais criativos em condições de acompanhar a evolução tecnológica”, alerta.Conexão elétrica de dispositivo de proteção com parte dos

condutores energizados exposta

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Existe um dado que aponta que a obsolescência técnica está es-timada em três anos. Desta forma, o ensino deve ser eclético o sufi-ciente para permitir ao indivíduo raciocinar no futuro, ainda enquanto estudante, e ao mesmo tempo, prepará-lo para o mercado vigente.

“Não é de hoje que o ensino básico e o fundamental estão uma lástima. Na verdade, este desastre aconteceu no final dos anos 1960, quando houve uma acentuada reforma do ensino na época da Ditadura Militar. Em minha opinião, o objetivo foi ‘emburrecer’ a população e fazer com que ela não pensasse como deveria. Em função do que ocorreu, estamos colhendo os frutos agora”, ressalta Barreto.

O outro aspecto problemático é a mão de obra operacional, da qual fazem parte eletricistas, operadores de máquinas etc. “Este mercado eu diria que é contornável, pois existem instituições que preparam as profissionalizações, como o Senai, que oferece con-dições de o indivíduo ganhar um ofício e receber um treinamento que o permita ocupar uma função na empresa, à qual cabe o ônus de treiná-lo especificamente as atividades. Os fabricantes também vêm desenvolvendo ações nessa direção”, declara.

Para Edson Martinho, os profissionais formados atualmente atendem os requisitos mínimos para atuarem no mercado, mas alerta que é importante que cada um faça posteriormente uma especialização ou adequação à sua área. O grande problema não está nos profissionais de escolas, mas nos que se formam pela prática, como o eletricista ou instalador. “O profissional relativa-mente perigoso no mercado é o pai, que aprendeu com o avô, que aprendeu com o bisavô, mas que continua fazendo o que este último fazia, sem evoluir com o tempo”, comenta.

A luta pela compulsoriedadeA principal problemática do Brasil no que se refere à certificação

de instalações elétricas é a falta de apoio do contratante e dos agentes governamentais. A Certiel Brasil segue em seu segundo ano efetivo de certificações. No Brasil, o modelo ainda é o de certificação voluntária, mas o grande objetivo é torná-la compul-sória. Em novembro deste ano, haverá o evento da International Federation for the Safety of Electricity Users (Fisuel, na sigla em francês), em São Paulo, do qual participarão representantes in-ternacionais para dar testemunhos do que tem acontecido no exterior. O foco será alertar principalmente as autoridades e órgãos reguladores sobre a importância deste assunto.

“A certificação só é necessária quando não há uma cultura de instalação elétrica correta. Ela é uma garantia de que a instalação foi feita de acordo com as normas, e que consequentemente, atende os requisitos de segurança”, afirma Martinho.

Para Milena Prado, quando se trata principalmente de órgãos públicos, como hospitais, escolas, entre outros, as incorporadoras e construtoras deveriam mostrar que estão cumprindo a norma, e nada melhor do que a certificação para revelar isso. “Acredito que a consciência sobre a importância da certificação das instalações deveria partir primeiramente dos órgãos governamentais”, opina.

it-41: 1 ano DE vigênciaComo sabemos, a certificação de instalações elétricas no Brasil

ainda não apresenta novidades no âmbito compulsório. O que existe atualmente em funcionamento é a Instrução Técnica nº 41/2011, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, a qual

está embasada nas prescrições da NBR 5410 e nos regulamentos das autoridades de concessionárias de energia elétrica.

Eduardo Daniel esclarece que o que difere a IT-41 do trabalho realizado pela Certiel é que, além da inspeção visual, a associação realiza também os ensaios. “Eu diria que 80% dos problemas ve-rificados, são encontrados durante a inspeção visual, e os outros 20%, nos ensaios. Normalmente, começamos o trabalho da inspeção visual antes de terminar a obra, o que facilita bastante”, conta.

O engenheiro civil Adilson Antônio da Silva, major PM e sub-chefe do departamento de segurança contra incêndio Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, faz uma avaliação das condições após um ano da entrada em vigor da IT-41 e afirma que houve um despertar dos profissionais de segurança contra incêndio para o assunto, aumentando, assim, o grau de consciência. “Após a edição da IT-41, muitos profissionais nos procuram querendo informações sobre segurança nas instalações elétricas. O melhor caminho é realmente o de conscientizar as pessoas para o correto uso da eletricidade, as quais devem ter ciência dos riscos e sempre procurar profissionais habilitados para realizarem serviços nas ins-talações elétricas, bem como manutenções periódicas”, recomenda.

Atualmente, empresas e comércios que precisam do auto de vis-toria do Corpo de Bombeiros (AVCB) se preocupam em obter um documento do engenheiro que ateste que a instalação elétrica está de acordo com os requisitos da norma ou com as regras de segurança.

“Ainda não temos uma divisão em percentual de instalações novas e antigas de forma conclusiva. O que podemos adiantar é que efetivamente estamos melhorando a prevenção contra incên-dios com a aplicação da IT-41”, declara Adilson Silva.

Pesquisa desenvolvida pelos bombeiros junto às entidades do setor revela inúmeros problemas nas instalações elétricas de edifícios existentes:

- 60% das instalações são consideradas em condições precárias; 30% são regulares e 10% consideradas boas;

- 20,9% dos edifícios não apresentam condutor de proteção (fio-terra); 15,2% não têm aterramento e outros 15,2% apresentam sobrecarga nos circuitos;

- Entre os itens básicos – que serão passíveis da inspeção vi-sual –, 14,9% das entidades acreditam que o principal requisito de uma instalação elétrica é ter fio-terra, seguido de existência de um sistema de aterramento (12,8%); quadro elétrico compa-tível com a edificação (12,8%) e presença de dispositivo DR de proteção contra choques elétricos (10,6%).

De acordo com o documento, os itens principais da inspeção visual são quadros elétricos, componentes elétricos, linhas elétricas, proteção contra sobrecargas, curtos-circuitos e choques elétricos, serviços de segurança contra incêndios e documentação relativa à instalação elétrica.

É importante destacar que a inspeção visual das instalações será realizada por profissional habilitado pelo Crea para este tipo de serviço, que deverá seguir as instruções da IT-41 e entregar para o bombeiro a declaração de conformidade da instalação devidamente assinada pelo responsável técnico e pelo proprietário da edificação. Somente obras consideradas em conformidade com as exigências da IT-41 terão o auto de vistoria emitido pela corporação.

>> As instruções para a obtenção do AVCB podem ser verificadas no endereço eletrônico: www.ccb.policiamilitar.sp.gov.br, onde consta a legislação de segurança contra incêndio do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.