Permacultura Em Paisagens Áridas

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    PERMACULTURA EM PAISAGENS RIDASpor Bill Mollison

    Panfleto III da Srie Curso de Design em PermaculturaPUBLICADO PORYANKEE PERMACULTURE

    Editor e Distribuidor de Publicaes em Permcultura.P.O. Box 69, Sparr FL 32192-0069 USA.

    Yankee [email protected]

    Editado a partir das transcries do Curso de Design em Permacultura

    The Rural Education Center, Wilton NH USA 1981

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    PERMACULTURA EM PAISAGENS RIDAS III

    Este o terceiro de uma srie de 15 panfletos, baseados no Curso de Design em

    Permacultura ministrado em 1981 por Bill Mollison no Centro Educacional Rural, NewHampshire, Estados Unidos. Elizabeth Beyor, sem compensao financeira, transcreveu

    gravaes em fita do curso e subseqentemente editou o material em 15 panfletos.

    Posteriormente, Thelma Snell datilografou todos os panfletos. Dawn Shiner produziu as

    ilustraes para este panfleto, tambm sem compensao financeira. Lisa Barnes

    organizou as edies originais e tambm produziu as ilustraes mantidas nesta edio.

    Mais recentemente, Meara Culligan digitalizou todos os 15 panfletos. Ocasionalmente,

    temos editado os panfletos levemente para melhorar sua legibilidade.

    Em respeito tarefa monumental de amor representada pela organizao do

    material do Curso de Design em Permacultura por Bill, e subsequentes esforosvoluntrios que produziram estes panfletos, Yankee Permaculture os colocou em

    domnio pblico. Sua reproduo livre e altamente encorajada.

    Temos alguns panfletos traduzidos para o espanhol, francs e alemo.

    Precisamos de voluntrios para completar essas tradues e para traduzir estes panfletos

    para outras lnguas. Yankee Permaculture continua a depender de voluntrios para todas

    nossas publicaes. Para ajudar, contacte-nos pelos endereos na capa.

    Pela Me Terra

    Dan Hemenway, Dahlonega, Georgia, dezembro de 1994.

    Traduzido para o portugus por Cssio P. Octaviani, um voluntrio. Correspondncia

    com Barking Frogs Permaculture deve ser em ingls, porque no falamos portugus.

    Terceira edio.

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    Permacultura em Paisagens ridas III

    Em paisagens ridas clssicas, h dois nveis de eroso. H escarpas, que vo

    recuando geologicamente. A partir da escarpa, tem-se uma queda brusca de um lado, euma parte alta suavemente inclinada, e ento uma descida a partir dessa parte elevada. A

    escarpa um local muito ngreme, agudo. No deserto, temos montes com encostas

    muito ngremes e topo achatado, semelhantes a mesas, que so pedaos residuais de

    escarpas deixados para trs conforme a escarpa retrocede. s vezes, essas mesas

    conectam-se com o pedimento (reas planas de capeamentos de cascalho, arenoso ou

    no, entre reas com extensos afloramentos de rocha nua ou levemente alterada). s

    vezes, as mesas encontram-se isoladas, no meio da plancie. Elas podem levantar-se a

    uma altura de 13 a 130 metros. O Grand Canyon, com 1,5 km de profundidade,

    apresenta um grande perfil. Essas escarpas e remanescentes de escarpas ocorrem emseqncias atravs do deserto. o nico perfil que voc tem em grandes reas do

    deserto.

    H apenas um lugar para se viver no deserto, castigado pelo sol. Na base da

    escarpa h sempre uma reentrncia cortada na rocha, justo antes da descida do

    pedimento, criada pelo impacto da gua, refletida ao cair do topo da escarpa. Ao cair da

    escarpa, a gua atinge o pedimento, sendo rebatida com fora contra a parede na base da

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    escarpa, e assim vai escavando essa reentrncia na rocha. Escarpas no deserto

    usualmente consistem de rochas no muito duras, geralmente compostas de xidos de

    alumnio, xidos frricos, e conforme essas rochas se erodem, uma crosta de ferro forma

    uma capa dura, vermelha, de laterite. Essa capa normalmente tem apenas uns 15 cm deespessura. Ela cobre o topo da escarpa atravs das partes altas do deserto, e das mesas.

    O resto da escarpa de material relativamente mole. A maioria das rochas de desertos

    so esculpidas facilmente. Em Anatlia, na Turquia, no sul do Ir e Egito, as pessoas

    esculpiram seus caminhos pelas rochas do deserto. Trata-se de rocha relativamente mole,

    que se endurece pela exposio ao ar. possvel, com ferramentas bem primitivas,

    escavar um monte de habitaes nessas escarpas. Os ndios americanos das reas

    desrticas do sudoeste tm feito suas casas nesses abrigos h muito tempo, naquelas

    pequenas reentrncias no p da escarpa. Suas habitaes podem ficar bem protegidas do

    sol no vero, mas o sol do inverno pode entrar. De qualquer forma, uma vez que vocest 5 metros dentro da rocha, sua variao de temperatura praticamente nula. Ento

    l que voc vive.

    A habitao no deserto fica apropriadamente debaixo do rochedo. Em desertos

    quentes, a habitao ser sempre no lado sombreado. Em desertos frios, as habitaes se

    situam onde o sol do vero no entra, mas o do inverno sim.

    L embaixo muito seco, mesmo que chova. A nica chuva que entra aquela

    que cai do alto da escarpa, rebatendo-se ao atingir o cho na parte da frente do abrigo.

    Voc pode cortar sarjetas ao longo do topo do penhasco para redirecionar a gua,

    evitando que ela continue a correr pela frente do rochedo.Quando chove no deserto, normalmente chove ces e gatos. Tambm chovem

    peixes e rs, e os poos d'gua enchem-se de peixes e rs. Onde a gua da chuva

    transborda sobre essas escarpas, pode haver cachoeiras, e a gua cai em um tipo de vala

    que corre por trs da escarpa, e ento transborda para os crregos intermitentes,

    carregando uma enorme quantidade de areia, especialmente nos leitos desses crregos.

    E ento, essa gua espalha-se pelo cho do deserto. Obviamente, ela se dispersa muito

    rapidamente. Mesmo assim, enquanto est correndo os crregos estreitos, ela

    freqentemente chega a um a dois metros de altura.

    Essa gua penetra no solo do crrego, enxarcando-o. Por um curto tempo, avegetao ao redor reflete isso. Esses locais freqentemente suportam uma vegetao

    bem razovel, com rvores crescendo ali, pinheiros do deserto e accias mais resistentes.

    So rvores bem verdes e grandes.

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    O local mais satisfatrio para se colocar uma vila ...no alto de rochedos dentro dessas gargantas

    O local mais satisfatrio para se colocar uma vila nesses desfiladeiros

    fechados, no alto de rochedos dentro dessas gargantas. A vantagem dessa localizao

    que uma nica cerca na entrada do vale freqentemente vai manter animais selvagens

    grandes para fora.

    No deserto Australiano h camelos, que foram trazidos por um grupo de

    pessoas que ns chamvamos de afegos; eles no eram realmente afegos, vieram do

    lado paquistans da passagem de Khyber. Essas pessoas trouxeram camelos para usarno transporte de produtos para os mineiros que operavam no interior do pas. No final,

    instalaram uma ferrovia, que foi chamada de O Afego. Ela vai at Alice Springs. Esse

    trem acabou com o negcio dos afegos, ento eles se assentaram e casaram-se com

    mulheres aborgenes. Agora, voc pode encontrar esses mestios de aborgenes com

    afegos por todo o deserto. Eles ficaram selvagens, tambm. E, da mesma forma, os

    camelos ficaram selvagens. H milhares desses camelos, e os malvados so os machos

    grandes. So animais perigosos. H muitos animais perigosos no deserto, mas os

    camelos - e h milhares deles por ali - tm um pavio realmente curto.

    Ento, voc pe uma cerca fechando a entrada do rio intermitente. As pessoasvivem para o lado de dentro, dentro da zona de segurana. Por todos os lados do leito do

    rio sobem esses penhascos muito abruptos. Esses desfiladeiros so geralmente bem

    estreitos, com cerca de 270 a 360 metros de largura. Os pedimentos saem do cho e

    sobem at encontrar os penhascos. Um desfiladeiro freqentemente se ramifica em

    outros pequenos desfiladeiros. No fundo h um pequeno fio de gua, e os pedimentos

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    encontrando-se quase como um "V". A drenagem original teria vindo da frente, onde

    encontrou linhas de fraqueza, cortando a partir da frente e puxando a drenagem para

    dentro dessas linhas de fraqueza. So freqentemente assim, fraturas quase que em

    ngulos retos umas s outras. O processo comea a cortar o pedimento e eventualmenterecorta esses remanescentes fora; eles se destacam e comeam a ficar cada vez mais

    baixos, at que se fragmentam em pedaos. A maior parte das rochas vai se soltando

    durante os ciclos de congelamento e aquecimento que ocorrem no deserto. Ento, chove,

    e um monte dessa coisa solta simplesmente levada pela enxurrada e se distribi pela

    plancie. A gua no deserto desloca imensas quantidades de terra, porque ela cai

    repentinamente e em grande quantidade.

    Certa vez, 12 hippies me convenceram a ir com eles para uma rea no oeste da

    Austrlia. Fomos at l em uma perua velha, enorme. Estvamos a 1100 km do povoado

    mais prximo, o que no era muito, de qualquer forma. Era um moinho de vento. Elesacharam que iriam se estabelecer ali. Estavam comprando 1800 quilmetros quadrados

    por 30.000 dlares, e achavam que era uma boa barganha. E ali estvamos, percorrendo

    aquela imensido deserta sem estrada nem nada naquela perua velha. Ns acampamos e

    comeamos a sondar o local procura de gua.

    As pombas e passarinhos comedores de sementes do deserto tm que beber

    gua, e se voc os seguir, pode ser que voc a encontre. Eles estavam voando a partir

    desse rio intermitente um dia, e ns fomos at l. Ao invs de encontrarmos gua no rio,

    passamos um dia ou dois procurando, e fomos encontrar a gua quando ns subimos na

    escarpa, no local logo antes do ponto onde, durante uma chuva, os fios dgua caem daborda da escarpa. Quando a gua cai, forma uma turbulncia, e isso faz aqueles buracos

    dgua no alto da escarpa. Essa a regra para esse tipo de deserto, e caracterstico do

    deserto americano tambm. A gua fica aqui em cima, logo antes da queda. s vezes

    voc encontra buracos cheios de areia l em cima, que voc pode escavar, e haver gua

    dentro deles. A areia armazena gua equivalente metade de seu volume. Na areia,

    possvel armazenar gua sem evaporar. Voc pode fazer um tanque e ench-lo com

    areia, e a gua entre os gros de areia bem boa. Ela no vai evaporar, e outros animais

    no podem beb-la, ento esse um jeito bom e seguro de armazenar gua.

    Encontramos gua livre naquela escarpa. Passamos a maior parte do diasentados dentro dgua. Aps as 11 da manh, o deserto um ambiente muito hostil

    para o homem.

    Porm, a vegetao do deserto cresce muito rapidamente se for possvel obter

    gua para as plantas. Os solos no foram explorados; esto repletos de minerais frescos

    de todo tipo. Quando voc consegue obter gua, a resposta no crescimento das plantas

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    possvel aqui.

    Todos os povos dos desertos secam sua comida. Na escarpa em frente,

    colhendo o sol quente, podem-se cortar salas de desidratao, onde as coisas secam

    muito rapidamente. Tmaras, damascos secos e outros items de longa conservaocomo nozes do deserto so muito importantes para os povos do deserto.

    H ecologias muito simples nos desertos. No deserto do norte da frica, toda a

    ecologia baseada na tmara, o melo, cabras e caf, com as cabras comendo o melo, a

    tmara e arbustos. Este um sistema de vida completo, um tipo de ecologia de seis

    espcies, e permanece por milhares de anos. Tudo o que voc precisa est ali. Voc tem

    que fermentar algumas coisas, fazer queijo de cabra.

    Outra coisa abundante no deserto um grupo de aves que se alimentam de

    sementes, principalmente rolinhas e pombos, mas tambm um grupo interessante de

    codornas. H uma grande produo de sementes.H uma outra forma de armazenamento nos desertos, que so enormes

    tubrculos. O deserto produz enormes tubrculos, freqentemente de leguminosas. H

    um rgo de armazenamento enorme em uma leguminosa chamada yala nem sei se ela

    tem um nome botnico que pesa de 135 a 180 kilos. Ela vive nas dunas. Podem se

    passar sete anos sem nada acontecer; ento, chove, e a yala emerge e se espalha talvez

    uns 200 metros no deserto, uma grande planta verde. um legume verde com uma flor

    de ervilha. Tem sementes abundantes. Ela ento morre, seca e desaparece cerca de 1,8

    m abaixo da areia. Os aborgenes a encontram por meio de bruxaria. S pode ser por

    bruxaria. De qualquer forma, eu posso contar com eles para encontrar a yala para mim:eles saem procurando ao redor da duna, e cantam, e tateiam, tateiam, tateiam. Ento eles

    cavam um buraco e encontram a yala. Se a memria de onde a planta estava, ou se h

    algum trao dela na superfcie da duna, eu no consigo entender, porque eu no posso

    conversar com eles, a no ser com um ingls precrio. Eles comem esses tubrculos,

    mas no o fazem muito freqentemente. No h muitos, e eles tendem a reserv-los para

    tempos de escassez. Fora isso, eles comem muitas outras coisas, incluindo insetos. H

    um monte de comida no deserto. Voc nunca fica sem comida. O ingrediente crucial a

    gua.

    Quando ns perfuramos o cho do deserto, podemos encontrar boa gua seperfuramos prximo ao pedimento. L ainda h atividade, embora talvez muito lenta, e

    no h muita salinidade. Quanto mais longe se entra na plancie, mais a salinidade

    aumenta. Tipicamente, voc pode ir de cerca de 200 a 300 partes por milho de sal, o

    que bem baixo, at 1.100 partes por milho, entrando somente 1,5 km na plancie.

    Voc no pode usar essa gua. Ento, com equipamentos modernos, podemos instalar

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    cataventos em algum lugar prximo escarpa, de forma que o risco de falta absoluta de

    gua facilmente eliminado dessas reas locais. Porm, voc no deve se preocupar

    muito com cataventos a no ser que os sistemas naturais de gua estejam exaustos. No

    algo que possamos utilizar continuamente. No se deve usar cataventos para fazergramados ou para a descarga do banheiro.

    Voc tem que conservar gua. Voc pode fazer cercas de arbustos, levemente

    reforadas, e plantar bancos de desvio baixos atravs do rio intermitente levando deserto

    adentro, estabelecendo reas de absoro.

    No livro Permaculture IIns mostramos uma forma diferente de deserto, com

    sifes indo de uma dessas reas de absoro at a outra. Na chuva, quando uma dessas

    reas se enche, a gua sifonada para a outra e assim por diante, e assim ns

    carregamos as reas de represamento de gua. Com chuvas leves, talvez s d para

    saturar trs desses represamentos. Quando eu fui l numa viagem em particular, tivemos700 mm de chuva, dos quais 100 mm foram em um s dia. Aquele deserto tem uma

    precipitao anual mdia de 250 mm. Portanto, precipitao anual mdia no significa

    nada no deserto. No chovia havia trs anos, e ento, 700 mm. assim que voc tem

    uma mdia anual de 250 mm.

    Voc pode levar esses sistemas to longe quanto quiser, de forma que alguns

    deles so irrigados apenas eventualmente. Voc colocaria ento suas plantas mais

    resistentes nas reas mais distantes, e as menos resistentes falta de gua mais prximo

    fonte de gua. O grande segredo para cultivar plantas no deserto alguma forma de

    irrigao por gotejamento, que pode ser bem primitivo, ou muito sofisticado. A formaprimitiva pode ser algo como um ovo de avestruz com um nico furo, bem prximo

    planta; a gua vaza pelo fundo em pequenas gotas. Tambm pode ser to primitivo

    como um galo velho daqueles que tem aos montes jogados por a. Voc enche o galo

    de gua e o pe invertido, a gua goteja atravs de um pequeno furo na tampa. E pode

    ser to sofisticado como uma linha de irrigao por gotejamento israelense.

    Se voc escutar cuidadosamente St. Barbe Baker, vai ouv-lo dizer que no

    deserto, at mesmo trs ou quatro pedras ao redor de uma rvore fazem a diferena entre

    sobrevivncia e morte. Ningum sabe ao certo porque a cobertura com pedras funciona.

    H duas escolas de pensamento, e eu concordo com ambas. Se voc puser uma pilha depedras no deserto, freqentemente fica mido em baixo delas. Os aborgenes usam

    pedras em buracos para coletar umidade. Eles colocam pequenas bacias de barro em

    baixo delas. Os aborgenes normalmente no revelam suas fontes do deserto,

    particularmente gua emergencial. Voc tem que saber exatamente onde as fontes esto,

    e enfiar um canudo l para beber a gua. Essa gua nunca armazenada como gua

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    visvel. Dentro desses buracos, em baixo de pedras, normalmente mido. Duas razes

    foram dadas. Uma que as pedras se aquecem rapidamente durante o dia, ficando

    relativamente mais quentes que o cho. Elas puxam gua do solo ao redor, criando uma

    evaporao mais rpida do solo naquele lugar. noite, elas esfriam-se maisrapidamente que a terra ao redor. Elas so sensivelmente mais frias. s vezes nas noites

    do deserto h uma umidade positiva, e qualquer umidade condensa entre essas rochas e

    escorre para dentro da areia. Ento, provavelmente ambos os fatores esto operando.

    possvel plantar uma figueira ou outra rvore e fazer uma cobertura do solo ao redor

    com pedras, e as rvores parecem ficar muito bem. As figueiras do deserto, no seu

    habitat natural, esto sempre nessas pilhas de pedras soltas. Citrus tambm vai muito

    bem em pilhas de rochas. Ento, cobrir o solo com pedras uma estratgia valiosa.

    H uma abundncia de materiais para cobrir o solo no deserto. Os aborgines

    cobrem os buracos dgua com uma cobertura bem grossa de gramneas do deserto, bemrente superfcie da gua. Tambm cobrem seus abrigos diurnos com essas gramneas.

    H uma enorme quantidade de cobertura em todos os desertos, exceto os desertos de

    dunas, que de qualquer forma so raros. A maioria dos desertos tm bastante vegetao.

    A maior parte dessa vegetao quebra-se e deixa-se carregar pelo vento. Voc pode

    capturar esse material facilmente com cercas. Muitas plantas do deserto se distribuem

    liberando grandes emaranhados de sementes que rolam pelo deserto. Esse material pra

    nas cercas. Voc pode facilmente acumular grandes quantidades de material para

    cobertura dessa forma. Todas as plantas do deserto, especialmente as casuarinas e

    muitos dos pinheiros, tambm depositam grandes quantidades de matria vegetal. Nose fica sem matria para cobertura nos desertos. Se voc no cobrir o solo, o pH onde

    voc irriga por gotejamento rapidamente aumenta e se torna txico para plantas. Se voc

    goteja gua sobre a cobertura vegetal morta, h um tamponamento por cidos hmicos

    que previne esse aumento no pH.

    Voc tem que ter uma rea relativamente grande no deserto talvez um hectare

    ou um hectare e meio para prover uma quantidade suficiente de matria vegetal para

    uma rea de 400 a 1000 metros quadrados. Uma das tticas empregadas no deserto

    plantar espcies com alta produo de matria vegetal como barreiras em quebra-ventos

    ou bancos de terra. necessrio plantar nesses bancos para segurar essa matria decobertura. Uma das melhores plantas para isso o tamarix. Ele produz uma grande

    quantidade de matria vegetal. Outras plantas de alta produo so as casuarinas e, claro,

    os pinheiros do deserto. Voc pode plantar tamarix no deserto apenas enfiando os

    pauzinhos na terra, aps enxarcar o solo com gua por trs dias. Voc s enfia as plantas

    e elas crescem. Muitas das casuarinas se propagam assim. Elas tm sistemas radiculares

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    bem profundos. Um grupo de plantas teis so as mesquitas. Suas razes podem penetrar

    mais de 30 metros, o que, prximo a rios intermitentes, realmente abaixo do nvel do

    lenol fretico. Ento muitas das plantas do deserto com razes realmente profundas no

    sofrem com falta dgua, e poderiam provavelmente transpirar sem problemas. Asmesquitas tm uma alta produo de vagens.

    Um grupo de plantas que tem sido altamente negligenciado so os cactos.

    Alguns dos cactos tm sido cultivados h muito tempo, e tm produtos de alta qualidade.

    Alguns deles provavelmente tm sido continuamente selecionados por pelo menos

    quatro ou cinco mil anos. Esse o caso dos cactos que produzem frutos. H outro grupo

    de cactos que produz pequenos frutos em abundncia, semelhantes a morangos. H um

    cactus que produz pequenos botes comestveis. H as opuntias (figueiras-da-ndia).

    Elas foram introduzidas no sul da Europa pelos espanhis, e agora so elementos

    comuns em jardins italianos e gregos, sendo freqentemente usadas como cercas vivas.Elas variam em qualidade, mas se voc procurar em comunidades italianas na Austrlia,

    como temos em Adelaide e nos subrbios de Melbourne, voc encontrar toda uma

    variedade de opuntias que crescem de sementes e produzem um grande fruto semelhante

    ao figo, s centenas. As palmas da opuntia so vegetais muito bons, que se propagam

    rapidamente. Essas plantas tambm podem ser usadas como barreiras. Essa uma das

    plantas recomendadas como barreiras no deserto. Tanto a opuntia como as mesquitas

    vo barrar animais ungulados grandes.

    Ns j usamos plantas espinhosas do deserto, das quais h muitos tipos. Toda

    vez que voc sai do deserto, voc tem que jogar seus chinelos fora. Eles ficam todoscarregados de espinhos, que acabam atravessando a sola. Essas plantas espinhosas

    podem ser usadas ao redor de plantaes isoladas, para evitar que animais como lebres

    cheguem at as rvores. Voc pode plantar defesas no deserto no que eu chamo de

    estratgias de guerrilha, uma fissura na rocha defendida por plantas espinhosas.

    Ns temos uma srie de plantas e animais adaptados, e pessoas que se do bem

    nessas condies. Todos os povos do deserto desenvolveram vegetais bem especficos.

    No h falta de vida animal e vegetal para um assentamento restrito. Mas h uma

    escassez absoluta de gua, e voc tem que planejar reservas para trs anos frente.

    Como em outros ambientes, muito fcil aumentar rapidamente os recursosanimais no deserto. Para cada uma dessas cavernas que ns construmos artificialmente,

    ns arrumaremos um ocupante. Pombos selvagens e domsticos so originrios do

    deserto. Voc os ver bem vontade nas regies scas da ndia e Ir, vivendo naqueles

    pequenos buracos nas rochas. Voc os ver nas costas martimas e em qualquer local

    onde haja buracos em rochas erodidas. Tudo o que voc tem que fazer talhar mais

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    buracos para obter mais pombos, porque h sementes mais que o suficiente no deserto, e

    tambm gua para animais que bebem to pouco. Portanto, os pombos so os animais

    domsticos nmero um no deserto.

    Alguns de vocs podem j ter visto figuras de habitats para pombos construdosno Egito. Eles so coisas grandiosas, como pequenos castelos, todos perfurados com

    milhares de buracos, e enormes quantidades de pombos vivem nesses castelos de

    pombos. O esterco dos pombos o melhor fertilizante do deserto. o esterco de maior

    valor de mercado que conhecemos. Os egpcios fazem os buracos para ninhos grandes o

    suficiente para comportarem dois ovos, mas apenas um filhote, de forma que, conforme

    eles crescem, um empurrado para fora e cai. Ento, o outro cresce. Portanto os ninhos

    tambm so sistemas auto-limpantes. Todos os resduos e filhotes extras caem para fora.

    H tambm ovos que podem ser apanhados. Uma grande vantagem de se criar pombos

    no deserto que, devido aos seus hbitos em relao aos ninhos, eles so quase livres depredadores, exceto por alguns gavies, dos quais no h muitos. Portanto, pombos so

    um recurso bom e til.

    Outra fonte de comida no deserto so os rpteis. Eles esto para o deserto assim

    como os peixes esto para as comunidades praianas. Muitos nomes no deserto refletem

    isso. Temos coisas chamadas tainhas da areia, que na verdade so rpteis. Rpteis so

    grandes e abundantes porque a segunda coisa que enormemente comum e disseminada

    nos desertos so insetos, alguns deles noturnos, mas muitos so diurnos. Portanto voc

    tem um monte de animais insetvoros. De novo, o nmero de rpteis por unidade de rea

    determinado pela escassa sombra oferecida por rochas empilhadas por acaso, oufendas, e no pela disponibilidade de comida. Portanto, apenas aumentando a

    quantidade de abrigos na rocha, voc pode aumentar o nmero de rpteis. Em alguns

    desertos a sombra to restrita, e fendas so to restritas, que milhares de rpteis podem

    se juntar para passar o inverno em uma nica pilha de rochas. Por exemplo, as pilhas de

    rochas so locais notrios para cascavis hibernarem, talvez centenas delas em uma

    nica fenda na rocha.

    Na Austrlia, ns temos lagartos muito grandes. Eles vo sentar e olhar para

    voc por um longo tempo, e se voc faz um movimento, eles saem correndo a 60

    kilmetros por hora nas suas pernas trazeiras. No perdem nada para o ppa-lguas,simplesmente desaparacem, no d para acreditar. Tudo o que voc v uma pequena

    trilha de areia subindo e caindo, entrando no deserto.

    Os problemas do deserto so bvios. Um desses problemas o transporte de

    cargas. Camelos so animais de carga bvios, mas ningum com algum conhecimento

    desses animais quer fazer muita coisa com eles. Eles babam em voc, te mordem, fogem,

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    do coice, ajoelham em voc, te agarram pela sua roupa ou sua tralha, e te chacoalham.

    Os machos adultos so animais muito selvagens, raramente mansos; e embora as fmeas

    sejam bem boas, os machos podem ficar interessados nelas, e justo na hora que voc

    est saindo na sua fmea, o macho vem com tudo e voc l metido na confuso. Notem escapatria fcil, isso eu te digo.

    Ento uma sada para esse problema, em minha opinio, seria velejar pelos

    desertos. Eu propuz aos meus amigos hippies que ns construssemos um grande veleiro,

    com rodas bem grandes, e viajssemos pelo deserto aproveitando a fora do vento. A

    maioria dos desertos tm ventos constantes, fracos mas constantes. Ns trabalhamos em

    cima dessa proposta, mas nunca arrumamos os 30.000 dlares, seno talvez tivssemos

    realmente ido parar l. Azar. Ns at bolamos uma rota que poderamos usar para

    velejar pelo deserto, cruzando o vento, e eu at sonhava em atravessar o deserto sob

    uma grande lua, com uma gangue de hippies e aborgenes, bebendo suco de cactos. Masnunca aconteceu. Talvez ainda role um dia. Poderamos reativar a idia quando ficarmos

    ricos.

    Eu no sei de nenhum deserto que no tenha problemas com cupins. O cupim

    est para o deserto assim como os vermes esto para as terras midas. O cupim o seu

    decompositor principal. Eles podem representar um problema srio nos desertos. H

    alguns problemas maiores. Falta dgua e cupins seriam seus dois principais problemas.

    Cupins necessitam de cobertura para viver. Galinhas podem ser teis, permitindo-nos

    plantar algumas coisas, porque elas ciscam, descobrem e perseguem os cupins

    vorazmente. Os cupins usualmente andam cobertos por pequenos tneis de terra que asgalinhas destrem facilmente. Ns tambm pensamos que esse sistema de inundao,

    no importa o quo infreqente, far muito para combater os cupins na rea cultivada.

    Ns temos observado que no h muitos cupins nas reas onde temos algumas

    inundaes. Achamos que as inundaes podem ter destrudo os seus pequenos tneis

    de terra e afogado alguns deles. Porm, eles reinfestam, porque os adultos tm asas. H

    certas rvores que no podemos plantar, porque os cupins as destrem. Isso meio triste,

    j que algumas boas rvores, como a alfarrobeira, so preferidas pelos cupins. Eles a

    adoram, e atacam a rvore viva. Ento, resistncia aos cupins no deserto um fator

    primrio a ser trabalhado.Se voc reparar em jardins secos, ver que plantas do gnero Tagetes (ex.

    cravo-de-defunto) so muito comums ali. At mesmo em situaes semi-ridas por todo

    o sudoeste da sia e o planalto Decanim na ndia, voc ver cravos em jardins nativos,

    onde servem de proteo contra vermes do solo.

    Essas coisas usadas desde tempos muito remotos s vezes se tornam costumes,

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    incorporados nas religies dos povos. A vaca na ndia tratada como um animal

    sagrado, porque somente ela pode converter as gramas das mones em combustvel

    para cozinhar. As pessoas na ndia simplesmente no podem se dar ao luxo de comer a

    vaca. Cerca de 90% do combustvel domstico na ndia rural esterco de vaca seco. Emnvel nacional, talvez tanto quanto 70% do combustvel usado para cozinhar estrume

    de vaca. Ento a vaca tem que ser mantida viva, at morrer de velha. Na ndia, voc tem

    que ser bonzinho com as vacas.

    Ns podemos depender de cupins para uma reciclagem geral no sistema do

    qual estamos extraindo matria vegetal e sementes, mas temos que mant-los fora da

    nossa horta, e longe de nossas laranjeiras. Ento, podemos criar galinhas em volta dos

    cravos. Todas essas estratgias so muito simples. Cobrimos o solo com matria vegetal

    morta e pedras, economizamos gua, e no extendemos nosso sistema alm da

    capacidade do nosso suprimento de gua de agentar uma seca de trs anos.Ao redor da nossa apertada cpsula de vida, nosso rio intermitente, ns tambm

    temos um conjunto de suprimento de comida mais largamente distribudo e facilmente

    disponvel, como nossos pinheiros da areia e tmaras. s vezes, as tmaras podem

    extender-se por trs a cinco kilmetros de distncia.

    Em reas muito secas, devemos dar muita ateno a sombras altas. Podemos

    construir trelias altas com madeira resistente a cupins, e cobr-las com videiras, meles,

    etc., usando bastante cobertura vegetal morta na base das plantas. Em baixo da trelia

    podemos produzir hortalias normais que no agentam o calor do vero, e elas tero

    luz suficiente passando atravs da trelia.No cho, podemos pr uma barreira de umidade, folhas de plstico verticais

    postas em trincheiras que so escavadas e preenchidas novamente com terra. Essas

    barreiras devem ir at cerca de um metro de profundidade, ou mais at. Tambm podem

    ser feitas de argila socada, se voc no tem plstico. Assim, a gua do nosso sistema de

    irrigao por gotejamento no tem transferncia lateral para fora desse nosso pequeno

    sistema. Isto crtico. Ponha essa barreira bem em volta do jardim. Assim, a gua que

    ns pusermos aqui permanece dentro do nosso jardim e viaja para cima e para baixo.

    Barreira de umidade ao redor, cobertura vegetal morta sobre o solo e uma

    trelia por cima isso uma horta do deserto.Os aborgenes fazem pequenos abrigos cobertos com muito sap, abrigos

    sombreados sob os quais eles podem sentar-se. Quando eles renovam esse sap, o sap

    velho usado como cobertura para o solo. Eles tambm varrem o cho do deserto com

    vassouras, e fazem pequenas linhas com esse material da varredura amontoado. Ao

    redor de todo campo de aborgenes h essa lombada, uma linha de matria vegetal

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    morta amontoada. Sementes descartadas ficam por debaixo desse material. Ento,

    quando chove, cresce comida nessas lombadas. Eles tambm varrem em baixo de suas

    rvores favoritas, trazendo esse material da varredura para as linhas de irrigao por

    gotejamento. Eles fazem coberturas de sap, e cobrem o solo com matria vegetal mortaonde h gua; cobrem a areia mida para reter essa umidade.

    H apenas dois tipos de desertos onde as pessoas vivem. Somente nas chuvas

    as pessoas atravessam grandes extenses desrticas at os osis. Os osis so

    principalmente um produto da ao dos ventos. As pessoas no vivem muito pelo

    deserto em si. Elas vivem nesses osis, assim como praticamente todas as outras formas

    de vida do deserto. Esses locais podem extender-se por 1000 a 1200 kilmetros atravs

    do deserto. H bastantes deles.

    A segunda forma de deserto o deserto com formaes residuais. Grandes

    rochas subindo do cho do deserto, grandes cpulas, muito duras, geralmente granticas,muito resistentes eroso. Placas rochosas tambm aparecem, saindo de dentro da terra.

    H muitos desses desertos ao redor do mundo.

    Num deserto com uma precipitao irregular com mdia em torno de 250 mm,

    se voc tem uma placa de granito cobrindo 150 hectares, os 15 hectares imediatamente

    ao redor dessa placa tero o equivalente a 2500 mm de chuva, porque nada daquela

    chuva consegue penetrar no granito; essa gua vai apenas escorrer para fora, o que vai

    continuar por horas aps uma chuva. Muitas vezes h depresses nessas placas nas

    quais se podem criar pequenas represas na rocha, que podem armazenar gua muito

    limpa.Nas margens das sees montanhosas desses desertos, as montanhas de rocha

    slida, h inmeras oportunidades de se construir pequenas represas. Represas no

    deserto so feitas de rocha e cimento. No construmos com paredes de terra no deserto.

    Voc tambm pode fazer buracos na rocha. Essas pequenas represas de rocha tiram voc

    de apuros. No difcil armazenar 500.000 litros nelas. Voc pode construir pequenos

    drenos de desvio na rocha com apenas alguns centmetros de concreto moldado, ou

    pequenas paredes de pedra baixas, e trazer dois ou trs desses canais para dentro de um

    s canal.

    Voc precisa de uma rea de captao equivalente a vinte vezes a reacultivada. Ento, se voc quer viver em meio hectare, voc vai precisar de uma rea de

    captao de 10 hectares. possvel tambm criar essa captao impermeabilizando-se a

    superfcie com concreto ou asfalto.

    O deserto um ambiente agradvel, porm restrito. Os requerimentos bsicos

    so realmente muito simples, os resultados muito recompensadores, e a produo de

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    plantas excelente.

    Como designer, voc est envolvido em planejamento estratgico. Voc vai

    ficar sentado em casa por talvez oito semanas e calcular uma nica carga de caminho

    de provises para trs hippies, para durar por cerca de 18 meses. Esses hippies semudaro para o deserto com um rdio. Eles so um pequeno grupo de pioneiros hippies.

    Eles comero suas tmaras e plantaro suas hortas, e em bem menos de 15 meses eles

    tero uma base slida de uma horta. Ento, estaro prontos para trazer mais pessoas em

    carter permanente, e trabalhar os sistemas mais pesados. Voc, como designer,

    contribui com a estratgia e a administrao, o que to importante quanto o resultado

    final.

    Hoje em dia, cada vez mais voc vai projetar para clientes em grupos. A

    maioria das pessoas no quer aquela existncia solitria no campo, apenas duas pessoas

    ali, no meio do nada, talvez matando-se um ao outro. Muitas pessoas desejam umrelacionamento social com outras pessoas. Ento, quando algum arranja uma rea de

    80 hectares, ele procura por maneiras de compartilhar essa terra. nisso que ns

    freqentemente nos envolvemos, em fazer o projeto do local aonde outras pessoas iro,

    que funes eles assumiro, e como vo se relacionar como um grupo. H muitas

    estratgias sem sentido, como vamos todos nos juntar e viver nessa casa e compartilhar

    tudo.... uma receita de desastre para a maioria de ns.

    Observao essencial para bom planejamento. Olhe ao redor no deserto,

    procurando por rvores que produzem bastantes folhas mortas. Ento use esse tipo de

    rvore como sua barreira para o vento, e fornecedor de matria vegetal morta. Vejacomo a prpria gua armazenada na natureza. Se voc encontrar uma lagoa de trs

    quilmetros, pergunte o que fez aquela lagoa. Se voc se esforar, pode descobrir que

    foi uma nica rocha obstruindo o leito arenoso de um rio. O rio tem que escorrer em

    volta da pedra e carregar uma carga mais pesada. possvel copiar aquela estratgia

    muito simples para construir represas, de forma que a gua ao correr escave poos.

    Quando voc tem um lenol fretico carregado, isso representa gua

    permanente. Nas margens de terras ridas, algumas dessas estratgias simples

    encorajam foras naturais a fazer escavaes. Os ndios Papagos, ao invs de usar

    paredes bloqueando os rios intermitentes, usaram barreiras de terra e arbustos paramanter as guas de enxentes na plancie inundvel at que essa gua seja absorvida, ao

    invs de apenas deix-la correr sobre a plancie e ir embora. Os egpcios tambm faziam

    isso, permitindo que as guas de enxentes depositassem silte em seus campos. A

    construo da represa de Assu foi um desastre para o Egito. um evento temporrio.

    Ela vai se entupir e se transformar em pntano, e a gua vai transbordar de novo. Mas

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    enquanto ela est l, um transtorno. Barragens no deserto sempre vo se entupir, se

    forem feitas longe da origem das guas. As barragens normais de vales simplesmente se

    enchem de silte, porque no h vegetao para segurar a terra. A prpria definio de

    terra rida que h solo n entre as plantas. Ento voc pode usar paredes de desvio,barragens leves que fazem a gua escavar um poo pela turbulncia. Observe o que

    acontece na natureza e ento imite, adapte estratgias que j foram desenvolvidas

    acidentalmente.

    Com seu cata-vento, voc devolve gua para o sistema. Os ventos no deserto

    tendem a ser razoavelmente constantes, raramente virando tempestades, devido

    imensa capacidade estabilizadora do continente. Um cata-vento com um dimetro de 7 a

    8 metros trar 100.000 litros de gua por dia. O suficiente para abastecer um

    assentamento de umas 500 pessoas.

    Em escarpas ou em qualquer colina residual voc tem uma linha muito abruptadelimitando a ocorrncia de geadas, e esta linha no flutua mais do que dois metros. Vai

    congelar at aquela linha, e a partir de l no congela. Ento, ponha um pequeno tanque

    l em cima e faa irrigao por gotejamento ao redor da rea abaixo. Dentro de uma

    distncia vertical de 7 metros voc pode ir de plantas aquticas a nozes. O

    sombreamento pode ajustar a intensidade das geadas. Voc pode ter todo tipo de

    pequenos sistemas, de sistemas que so resistentes e at se beneficiam com a geada, at

    sistemas que no toleram geadas, tudo na mesma colina. Em algumas das colinas ao

    redor da Austrlia central onde ns fizemos isso deliberadamente, tivemos nossos

    tomates perenes estabelecidos acima da linha da geada, e as plantas normais anuais, aspimentas e meles, l em baixo.

    As estratgias em larga escala para plantar no deserto nos interessam, porque

    um de nossos maiores servios no mundo comear a replantar os desertos. A maior

    rea de degradao global que ocorre cada ano o aumento dos desertos. Portanto, a

    meu ver o maior trabalho que ns temos como um grupo de designers ambientais

    comear a diminuir esse efeito. At mesmo pequenos cintures de rvores tm um

    incrvel efeito, pela ao do vento, nos desertos, e voc no tem que pensar

    grandiosamente. Quinhentos metros ou mil metros de cinturo de rvores, se

    conseguirmos estabelecer, vo umidificar o ar por uma boa distncia, pela ao do vento.Acho que isso se deve em parte ao carreamento da transpirao pelo vento, e em parte

    porque estamos obtendo melhor retorno atmosfera de parte da gua contida na terra.

    Certamente, os efeitos tornam-se manifestos to logo voc tem o sistema funcionando.

    Obviamente, temos que considerar a direo do vento. Ns avaliamos a

    constncia do vento, e plantamos as rvores na rea que primeiro recebe o vento, de

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    forma que o vento carrega a umidade para dentro do deserto. Isso o que est

    acontecendo no Marrocos e outras reas. Essa a estratgia.

    Outra estratgia conter as guas prximo sua fonte, evitando que boa parte

    da gua corra e desaparea em panelas de evaporao, lagoas secas de sal. Nscomeamos no alto das colinas com nosso sistema, prximo origem da gua. Voc

    pode seguir os riachos do deserto at sua fonte, e encontrar um ambiente extico,

    semi-mido. l que voc comea a reflorestar, de l para baixo. Isso rapidamente leva

    a gua at o deserto, gua limpa, fluente. Isso pode acontecer bem rapidamente.

    Refloreste os mananciais e siga a gua que gerada at o deserto.

    Uma terceira e bvia estratgia usar seu osis e esses numerosos

    assentamentos espalhados ao longo das escarpas como reas nucleadas das quais ns

    comeamos a zonear. Aqui, o problema principal controlar animais selvagens. Assente

    alguns hippies ao redor de buracos dgua. Mantenha grandes animais longe dasplantaes. O nmero excessivo de cabras, camelos, jegues, porcos e vacas contribui

    para o aumento de desertos. Vinte mil cavalos uma carga enorme para o ambiente.

    S o fato de ser criar um assentamento freqentemente cria uma floresta quase

    fechada ao redor do assentamento. Ns vemos esses locais com ces que afujentam

    animais selvagens, e ao redor deles h uma rea verde.

    Ento aqui esto seus trs sistemas de ataque que voc pode usar como

    estratgias gerais.

    H mais uma estratgia. Papanek fez algo que era uma imitao de uma planta

    do deserto em plstico. Ele inventou uma espiral plstica com uma semente encapsulada,junto com alguns nutrientes. Isso foi projetado para ser lanado de avies, e imita a

    semente do deserto quando atinge a areia. Conforme o vento sopra, essa semente entra

    no cho. Papanek fez milhares dessas engenhocas, e prope que sejam lanadas sobre o

    deserto por avies, de forma que todas essas sementes enterrem-se na areia e os animais

    no tenham acesso a elas. Ento, quando chover, elas germinam. A maioria das

    sementes do deserto tm uma coisinha como um pedacinho de papel mata-borro nelas,

    que murcha. Quando voc pe gua naquilo, aquilo se enche. Este um pequeno

    reservatrio de gua para a semente, e suficiente para a raiz da semente comear a

    crescer. Apesar de ser uma grande idia, o sucesso da engenhoca de Papanek dependeriade haver um modo de controlar animais que viriam comer as plantas recm germinadas.

    Ento voc usa cachorros, uma abordagem em larga escala, faz seu trabalho

    posicionado corretamente em relao ao vento, e usa adequadamente as fontes de gua.

    Todas so abordagens muito vlidas. Todas podem gerar gua e vegetao localmente, o

    que tambm parece gerar gua morro abaixo. H bastante espao por a no deserto, para

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    todos ns.

    Conforme o deserto aumenta, o fazendeiro comea a ter problemas. Voc pode

    ver isso bem em frente aos seus olhos, por toda a rea da Iugoslvia at a Tailndia,

    extendendo-se ao sul atravs da frica. O agricultor est em uma batalha que ele nopode vencer. Conforme a gua comea a secar, e os animais passam a invadir as

    plantaes, as pessoas mais pobres que no tm condies de cercar comeam a perder

    terreno para a criao. a que os pastores aumentam. Quando o pastoreio se torna a

    principal atividade econmica, j se est no fim da linha. Depois disso, no h mais

    nada a no ser longas migraes, extines e animais magros, e pastores moribundos

    migrando em direo ao nascer do sol. Isso est acontecendo a olhos vistos na frica.

    Rebanhos no so apropriados para regies semi-ridas. Ungulados em particular, so

    totalmente imprprios.

    Vamos olhar para outro aspecto do deserto, as dunas. Dunas tm lenisfreticos. As bases das dunas e as partes altas das dunas so bons lugares para se

    comear vegetao. O problema que as dunas se movem. Pelo padro que voc usa na

    vegetao, voc pode aumentar ou diminuir o movimento da areia. A abordagem

    chinesa bem tpica. Eles trazem tapetes de arroz para o deserto. L atrs, nos campos

    de arroz, h milhares de pessoas tecendo esses tapetes de arroz. Eles enrolam esses

    tapetes formando rolos enormes, e transportam por trem at o deserto. L, eles cobrem o

    deserto com esses tapetes de arroz. Atravs desses tapetes, eles plantam rvores grandes,

    como tamarix e algumas accias australianas. Eles tm essas rvores crescendo em

    cestas cheia de hmus grandes cestas de quatro homens. Eles cortam buracos nostapetes e metem essas cestas enormes dentro do buraco floresta instantnea no deserto.

    Essas so rvores do deserto, e tudo o que elas querem esse bom comeo. Ento elas

    passam a gerar gua. bonito de se ver. Eles provavelmente tm todas essas rvores

    prontas s esperando, e ento quando h uma forte chuva, eles as levam, enfiam no

    deserto e as rvores seguem o lenol fretico abaixo.

    Cercas e barreiras tranadas so essenciais para parar o movimento da areia,

    particularmente no osis. No precisam ser cercas grandes. O essencial que os espaos

    cercados sejam pequenos. Mantenha-os em cerca de 30 metros de lado. Voc no pode

    ter reas cercadas muito grandes, porque seno a areia vai comear a se mover. Pegue ascrianas depois da escola e os ponha para enfiar essas pequenas cercas, fazendo espaos

    cercados de 15 metros de lado, e voc rapidamente consegue estabilizar a areia por

    centenas de metros ao redor do assentamento, e comear a trabalhar em floresta, que

    ser totalmente estvel. Essas pequenas cercas de enfiar devem ser cerca de 60%

    penetrveis. Elas podem ser feitas de galhos espinhosos simplesmente enfiados em

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    pequenos quadrados. Elas pararo o avano da areia. Voc no dever faz-las muito

    apertadas; devem ser vazadas em 40% ou mais.

    Desertos podem ser particularmente apropriados para aquacultura. Um

    assentamento no deserto basicamente uma ilha. O continente australiano basicamente um atol. As pessoas vivem no seu permetro. Sua parte central deserta, e

    os osis dentro do deserto so ilhas. Ento possvel fazer coisas bem ousadas no

    deserto, experimentar com espcies de plantas e animais numa aquacultura em modos

    que voc provavelmente no ousaria tentar dentro de sistemas comuns de rios. Se voc

    tem uma lagoa de 7 quilmetros dentro de uma paisagem desrtica, esta

    provavelmente uma das reas de mais rico potencial para aquacultura, desde que se

    tenha um volume suficiente de gua.

    H um tipo de mesquita toda cheia de espinhos que os australianos do oeste

    resolveram considerar uma erva daninha. A razo para isso que ela se d muito bemno deserto. Ela comeou a cobrir partes do oeste da Austrlia. Agora, ns no devamos

    consider-la prejudicial. Ela foi declarada prejudicial porque l as criaes de gado so

    to grandes que os animais no so nem domesticados. Nem cercas h. Voc pode

    perguntar para um pecuarista: quantas vacas voc tem? e ele responder: bom, sei l;

    tivemos alguns anos bons recentemente, talvez tenhamos umas 27.000 cabeas por a.

    Eles tentam tocar o gado com helicpteros. Mas o gado nunca se acostumou

    com os helicpteros, e fica parado sob as rvores. Ento eles tentam juntar o gado

    usando ces bravos. O gado se acostumou com os ces e cavalos. Eles so difceis de

    mover. Quando eles entram no meio dessas mesquitas espinhosas, no tem jeito detir-los de l. Voc no consegue pr cavalos l, e os ces no conseguem trazer o gado,

    e os helicpteros no do certo. Ento a razo porque essa planta que cresceu bem no

    deserto nociva que voc no consegue tirar o gado do meio dela. Tudo isso ridculo.

    A planta produz uma boa quantidade de folhas, e tm uma influncia estabilizadora no

    deserto. Se voc s prestar ateno no gado, a planta pode ser prejudicial. Mas ela

    realmente boa para o ambiente, enquanto o gado no bom para o ambiente. De

    qualquer forma, os pecuaristas esto se extinguindo, porque eles no conseguem bancar

    a gasolina para os helicpteros.

    Podemos introduzir coisas no deserto que iro crescer desenfreadamente.Inicialmente, o que queremos no deserto um estado de crescimento vegetal

    desenfreado, e o que devemos procurar introduzir plantas que tm esse potencial.

    Tivemos uma invaso de figueiras-da-ndia na parte norte de Queensland, na rea de

    veres secos, e toda a parte baixa foi tomada por figueiras-da-ndia. O gado ficou

    encurralado pela planta, ento uma segunda boa floresta foi iniciada pela

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    figueira-da-ndia. Mas as pessoas combateram a figueira-da-ndia para que o gado

    pudesse voltar. Eles so incapazes de pensar nos efeitos a longo prazo desse

    crescimento vegetal acentuado, e esses efeitos a longo prazo so benficos.

    Bem, poderamos experimentar com bastante aquacultura l. O deserto pobreem espcies aquticas. Todas as espcies aquticas do deserto so altamente adaptadas.

    Os peixes e as rs permanecem em estado de quiescncia durante o perodo sco;

    enchem-se de gua, afundam-se na lama, fazem uma pequena bacia de lama e

    sobrevivem ali. Voc pode cavar, retir-los e lev-los por a. H muitas dessas bacias de

    lama. Os aborgenes enfiam um canudo com a ponta afiada ali e bebem essa gua. Voc

    pode cortar um pequeno tijolo vermelho do fundo de um lago sco, lev-lo para casa

    num saco plstico e colocar num aqurio, e tudo se desmancha. Grandes lagos

    enchem-se, temporariamente. Pode ser um lago de cinco anos. O lago se enche de

    peixes, tambm. Em buracos dgua haver girinos gigantes, porque quando eles setransformam em sapos, eles tm que ser sapos bem grandes. Um sapo pequeno poderia

    morrer seco. Nesses buracos dgua h todo tipo de pssaros. Pssaros martimos

    chegam e ficam olhando para voc e esperando, antes de comearem a descer at a gua

    e beb-la.

    Ento, voc pode trazer juncos, aguaps e outras plantas aquticas. Pode trazer

    peixes, moluscos, pitus, e voc pode tentar todo tipo de experimentos e misturas e se dar

    bem ali. Ento quando chegarmos na nossa seo sobre aquacultura, tudo o que

    dissermos ali realmente se aplicar aos buracos dgua permanentes do deserto.

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    The International Permaculture Solutions Journal (Jornal Internacional de Solues em

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    Dan Hemenway, EditorCynthia Hemenway, sub-editor

    Um jornal lder empermacultura, fornecendo idias prticas e ferramentas para viver em

    harmonia com a Terra.

    Muitos de ns estamos dolorosamente cientes da severidade do catastrfico declnio

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    prtica, detalhada e difcil de achar em qualquer outro lugar, freqentemente aparece nas

    pginas do TIPS.

    Quem escreve para TIPS?

    Muitos dos autores de TIPS so lderes do movimento: Bill Mollison, Jim Duke, BillMcLarney, e nosso editor Dan Hemenway, por exemplo. Outros so pessoas que tm

    trabalhado quietamente consigo mesmas. Todos tm algo importante a dizer.

    Quais so os assuntos abordados em TIPS?

    O TIPS freqentemente segue um tema especfico. Atualmente, temos uma srie de

    fascculos sobre o desenvolvimento de sistemas alimentares sustentveis. Em seguida teremos

    uma srie sobre Design em Permacultura: O Processo e o Produto, e uma srie sobre

    tecnologia adequada permacultura. E, claro, cada fascculo contm tambm artigos fora dos

    temas assuntos importantes demais para esperar. Revises eclticas de livros, fascinantes

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