Personalidade dentro do pensamento Marxista

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Traços de personalidade aliada ao pensamento de Karl Marx. Como pensar a personalidade a partir disso? Nessa resenha tento me dedicar a aliar ambos

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A busca por respostas tem sido empreendida a partir de perspectivas terico-metodolgicas e ideolgicas diferenciadas, inclusive por aqueles que insistem em manter-se sob filiao Tradio Marxista. Para esses, no entanto, h dificuldades adicionais, algumas delas perpassadas pela constante reposio de crticas de que tal tradio, por sua dimenso abrangente e macrossocietria, no teria capacidade terico-metodolgica para fornecer as respostas demandadas. contra essas crticas e no esprito de desmistific-las, pelo menos em parte, que este texto se coloca. Isto , no sentido de sumariar alguns aspectos que demonstrem no s a preocupao de Marx com o indivduo mas a fecundidade da Tradio Marxista para abordagens analticas sobre o tema.A resposta s crticas de que o indivduo no era uma preocupao para Marx exige situar a origem delas e, para tanto, lembrar, por um lado, a defesa quanto ciso do mesmo em duas fases distintas (e opostas) e, por outro, o domnio, em um certo perodo da histria do Marxismo, da vertente Marxista-Leninista sustentculo do Socialismo Real no plano iderio.O pensamento de Marx se constitui em uma unidade orgnica inseparvel, com as idias da juventude funcionando como uma espcie de guia sem o qual no possvel a compreenso da riqueza das obras da maturidade e estes, por sua vez, iluminam e ampliam as anlises presentes nos primeiros. sabido que a Tradio Marxista no se coloca como um bloco homogneo, conservando vrias polmicas e divergncias internas e que, assim, tal tese do indivduo como eixo central e como objetivo pode no configurar-se como unnime. Porm, independente de posies divergentes nestes aspectos, pensamos que no h no pensamento marxiano ou na Tradio Marxista argumentos favor de uma desvalorizao do mbito individual.Em verdade, embora para ns esteja claro que a preocupao ltima de Marx era com o indivduo e com sua libertao das condies sociais limitadoras de sua plena realizao enquanto ser humano, igualmente claro que ele no elabora algo que poderia ser intitulado de Teoria da Personalidade ou Teoria da Individualidade.A primeira grande crtica a de que Marx, como economista, preocupou-se em analisar fenmenos econmicos e, por conseguinte, impossibilitou-se de discutir o indivduo. Logo de incio h que desmistificar o fato de Marx ser um economista nos termos atuais; nem mesmo em seu tempo ele poderia assim ser qualificado. Boa parte de seus estudos foram realmente dedicados Economia Poltica e, portanto, fenmenos econmicos. No entanto, nenhuma das categorias marxianas como modo de produo, alienao, fetichismo, dinheiro e etc. podem ser identificadas como materiais ou econmicas. o dinheiro que simboliza o poder de tudo comprar e consequentemente de tudo realizar e, simbolizando tal poder (que no tem origem nas foras essenciais do homem mas que o submete), a ele transferido toda e qualquer possibilidade de realizao do indivduo.Em sntese, sob relaes alienadas a riqueza individual deixa de vincular-se efetivao da essncia genrica historicamente produzida pela humanidade para definir-se enquanto posse de uma quantidade significativa de mercadoria e/ou de seu meio possibilitador o dinheiro, e este tipo de anlise, empreendida com o mesmo cariz no tocante alienao e outras categorias, em nada se aproxima de uma abordagem estritamente econmica.Outra crtica, a esta associada, a interpretao do materialismo marxiano como economicismo. A afirmativa de que a chamada base econmica determina a configurao superestrutural no equivalente a um determinismo econmico automtico e monoltico. justamente por isso que Marx pde afirmar que o ponto de partida no o indivduo abstrato, imaginado ou pensado. Ele antes de mais nada um ser corpreo, real e objetivo; um ser que tem existncia material e que tem uma atividade vital que no se reduz conscincia, embora a envolva visto que uma caracterstica ontolgica do homem o fato de ter uma atividade vital consciente e teleolgica.O ponto de partida , ento, esse ser vivente em suas condies concretas, at porque Marx no o v como isolado e independente do gnero humano ou da sociedade determinada no mbito da qual d-se sua existncia emprica. Ao contrrio, o homem um ser social e na socialidade, na interatividade social (forma prpria de existncia do homem), mediante processo de apropriao do acmulo histrica e socialmente produzido pelo gnero, que ele se forja verdadeiramente como humano.A atividade social dos homens, com sua base material, que cria o meio onde o indivduo vive e apenas nesse meio, no mdium criado pela interatividade social, que ele pode se constituir. ela que cria as condies e os meios objetivos e subjetivos para a realizao da forma prpria de ser de cada singular, da individualidade entendida como a vida privada ou espiritual de cada um.Na medida em que o indivduo, ao nascer, j encontra postas estas circunstncias sociais, porquanto independentes de sua vontade, podemos afirmar que ele condicionado pelas mesmas, residindo a a importncia da considerao, em quaisquer anlise sobre o homem, do tipo de sociedade na qual est inserido.Fica negada, portanto, qualquer crtica que defenda como pertinente Tradio Marxista a figurao do indivduo como mero reflexo da sociedade, bem como de uma possvel pretenso da mesma quanto ao cancelamento de individualidades diferenciadas.Em Marx est garantido uma autonomia e um papel fundamental ao singular que, pelo processo de apropriao e objetivao individual, recolhe e atribui significados e sentidos a si mesmo, aos outros homens e ao mundo. Alm disso, ao apropriar-se das possibilidades de subjetivao postas na socialidade, o far de forma diferenciada, combinando-as tambm diferenciadamente. Assim, mesmo sob base social comum e mesmo frente a oportunidades idnticas, cada singular, por seu papel de sujeito, construir uma individualidade distinta.Revela-se, por conseguinte, a igualdade e a irrepetibilidade simultneas do indivduo. Todos so substantivamente iguais, porque pertencem a um mesmo gnero (gnero humano). Entretanto, precisamente por que so iguais, podendo por isso comunicarem-se, interagirem e viverem em socialidade, so irrepetveis: apropriam-se e retotalizam as objetivaes do gnero de forma diferenciada.Isto posto, a crtica de direcionar-se massificao dos homens muito mais pertinente ao que se processa na sociedade burguesa onde o hiperindividualismo, o egosmo econmico, a desconsiderao do outro (caso isto traga vantagens sua particularidade) tanto em termos macrossocietrios como no que tange s relaes interpessoais e a submisso cada vez maior do indivduo sociedade de consumo, dentre outros, jogam com o fim do indivduo como sntese diferenciada.Em oposio, na perspectiva marxiana no objetiva-se a igualdade no sentido de indiferenciao entre os indivduos. Busca-se a instalao de condies sociais concretas onde os mesmos, tendo acesso oportunidades reais iguais muitas vezes exponenciadas pela supresso das desigualdades econmicas e sociais, possam desenvolver e explicitar suas diferenas contribuindo, por isso mesmo, para o desenvolvimento do gnero humano.