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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Mestrado Área de Concentração: Psicologia Aplicada Personalidade e sua relação com transtornos de ansiedade e de humor: Uma análise da produção científica brasileira na abordagem cognitivo-comportamental PABLO FERNANDO SOUZA MARTINS UBERLÂNDIA 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Ps-Graduao em Psicologia - Mestrado

rea de Concentrao: Psicologia Aplicada

Personalidade e sua relao com transtornos de ansiedade e de humor: Uma anlise da produo cientfica brasileira na

abordagem cognitivo-comportamental

PABLO FERNANDO SOUZA MARTINS

UBERLNDIA

2010

PABLO FERNANDO SOUZA MARTINS

Personalidade e sua relao com transtornos de ansiedade e de humor: Uma anlise da produo cientfica brasileira na

abordagem cognitivo-comportamental

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Uberlndia como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Psicologia.

rea de Concentrao: Psicologia da Sade/ Processos Cognitivos

Orientador: Prof. Dr. Ederaldo Jos Lopes

UBERLNDIA

2010

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.

M386p

Martins, Pablo Fernando Souza, 1980-

Personalidade e sua relao com transtornos de ansiedade e de

humor : uma anlise da produo cientfica brasileira na abordagem

cognitivo-comportamenal / Pablo Fernando Souza Martins. 2010.

124 f. : il.

Orientador: Ederaldo Jos Lopes.

Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia,

Programa de Ps-Graduao em Psicologia.

Inclui bibliografia.

1. Personalidade - Teses. 2. Ansiedade - Teses. 3. Humor (Psico-

logia) - Teses. I. Lopes, Ederaldo Jos. II.Universidade Federal de

Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Psicologia. III.Ttulo.

CDU: 159.923.2

Agradecimentos

Chegar a esta etapa s foi possvel com a ajuda, companheirismo e presena de

algumas pessoas. Sendo assim, agradeo:

Aos meus pais por representarem o cuidado, o amor, o carinho e por me

ensinarem o gosto pelo conhecimento. Sem o apoio deles nada disso seria possvel.

Aos meus irmos Paulo, Laura e Luciene companheiros de caminhada, unidos

nas dificuldades e nas vitrias. Agradeo tambm ao Itemivaldo e Stephania. Por tudo

que representam para mim. Muito Obrigado!!

Nayanne pela ajuda, pacincia, companheirismo, dedicao, carinho e amor.

Sou extremamente grato.

todos os familiares pelo apoio constante e por me acolherem no comeo da

etapa em Uberlndia. Em especial aos meus avs que me abriram a casa e permitiram o

comeo desta etapa.

Aos colegas da CLIPS, Neuza, Sergue, Lia, Hlvia, Susi, Margarete, Prof.

Cludia Dechichi e Antnio, pelo apoio e incentivo constantes.

Ao grupo de amigos e aos amigos do grupo: Elson, Dudu, Carlos Felipe, Lucas

Batista, Lucas Oliveira, Gledson, Duto Santana, Fernando, Ricardo, Vincius, Rmulo,

Weslley

Aos meus estagirios, de 2009 e 2010 que estiveram sempre presentes nesse

percurso. Agradeo a todos com muito carinho.

Aos amigos Eduardo Bernardes, Leonardo Lana, Alexandre Montagnero, Cntia

Marques Alves, Chrystiane e Llian Rodrigues pela contribuio terica e tcnica, mas

principalmente pela amizade.

Prof.a Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes por me apresentar o caminho da

clnica.

Ao Programa de Ps Graduao. Em especial Marineide pelo exemplo de

competncia e gentileza.

Um agradecimento especial ao meu orientador Prof. Dr. Ederaldo Jos Lopes,

pelos ensinamentos, companheirismo e amizade. Com Ederaldo aprendi o significado

mais amplo da palavra mestre. Muito obrigado, mestre. Sem a sua ajuda nada disso seria

possvel. Sou eternamente grato.

RESUMO

A Personalidade um dos conceitos mais controversos e intrigantes da Psicologia. Em linhas gerais pode ser entendida como um conjunto de padres rgidos de sentimentos, pensamentos e comportamentos de cada indivduo. Partindo de uma reviso na literatura brasileira de psicologia, este trabalho teve o objetivo de descrever como os pesquisadores que utilizam os referenciais cognitivo, comportamental e cognitivo-comportamental tm abordado o tema personalidade em seus trabalhos. Alm disso, verificou-se a freqncia de publicaes sobre transtornos de personalidade a fim de comparar esse dado com a produo bibliogrfica sobre os Transtornos de Ansiedade e de Humor; e descrever como o constructo personalidade e mesmo os transtornos da personalidade tem sido abordado nos trabalhos sobre os Transtornos de Ansiedade e Humor escolhidos para essa reviso. As bases usadas foram o PePSIC Peridicos Eletrnicos em Psicologia e SciELO.ORG - Scientific Electronic Library Online, totalizando 53 revistas pesquisadas, incluindo duas revistas especficas de Terapias Cognitivas e Terapia Comportamental e Cognitiva. Dentro de cada revista, realizou-se uma busca sistemtica de publicaes sobre os temas: Personalidade, Transtornos de Personalidade, Transtorno de Pnico, Fobia Social, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada, Depresso Maior, Transtorno Bipolar e Distimia. Uma pesquisa preliminar resultou em 218 artigos. De uma segunda filtragem obteve-se 81 artigos que foram foco dessa reviso. Foram encontrados trinta e oito artigos de Transtornos de Ansiedade, vinte e cinco de Transtornos de Humor e dezoito sobre Transtornos de Personalidade. Verificou-se que 90% dos artigos sobre Transtornos de Ansiedade no fazem, ou fazem uma discreta referncia ao termo personalidade. Esse nmero sobe para 96% para o grupo de Transtornos de Humor. Ao analisar as revistas especficas de TCC verificou-se que 97% dos artigos sobre Transtornos de Ansiedade e Transtornos de Humor no fazem nenhuma referncia ou apenas uma referncia discreta ao termo personalidade. Esses resultados apontam o baixo nmero de pesquisas que abordam a personalidade e seus transtornos. Assim, pode-se inferir que a dificuldade no tratamento dos transtornos do Eixo II tem sido agravada pela falta de conhecimentos produzidos sobre o tema, seja por desinteresse dos pesquisadores seja pelos obstculos metodolgicos.

Palavras-Chaves: Personalidade, Transtornos de Ansiedade, Transtornos de Humor, Terapia Cognitivo-Comportamental.

ABSTRACT

Personality is one of the most controversial and intriguing theme in Psychology. In a general way, it could be understood as a set of rigid patters of feelings, thoughts, and behaviors from an individual. The aim of this investigation was describe how Brazilian researches in Psychology that use cognitive, behavioral, and cognitive-behavioral therapy referential have been approaching the subject Personality in their work. We also intended to determine the frequency of publications on Personality Disorders to compare this data with the bibliographical production on Anxiety and Mood Disorders. Moreover, we tried to describe how the Personality construct - and even Personality Disorders construct - has been addressed in the work on the Anxiety and Mood Disorders chosen for this review. The PePSIC Peridicos Eletrnicos em Psicologia - e SciELO.ORG - Scientific Electronic Library Online - databases were used for research. We investigated 53 journals, including two specific Cognitive Therapies and Behavioral-Cognitive Therapy (TCC) periodicals. Within each journal, we undertook a systematic survey on publications on the themes: Personality, Personality Disorder, Panic Disorder, Social Phobia, Obsessive-Compulsive Disorder (OCD), Generalized Anxiety Disorder, Major Depression, Dysthymia and Bipolar Disorder. A preliminary research has resulted in 218 articles. A second filter has obtained 81 articles in which we the focused on this review. There were found thirty-eight articles on Anxiety Disorders, twenty-five on Mood Disorders and eighteen on Personality Disorders. It was found that 90% of the papers on Anxiety Disorders make no reference to the term Personality or make it in a discrete way. This number rises to 96% to Personality Disorder group. Analyzing the specific journals on TCC we verified that 97% of the articles on Anxiety and Humor disorders do not cite the term Personality or cite but not explore it. This results point to the low rate of studies addressing the Personality and personality disturbs. Then, we can suggest that the difficulty on treating this Axis II disturbs has been worsened by lack of knowledge produced on the subject, either for lack of interest among researchers or because of the methodological obstacles found on this field.

Key-words: Personality, Anxiety Disorders, Humor Disorders, Cognitive-Behavioral Therapy.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade 82

Quadro 2 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Esquiva 82

Quadro 3 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Dependente 83

Quadro 4 Critrios para Transtorno da Personalidade passivo-agressiva 84

Quadro 5 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Obsessivo-

Compulsiva 84

Quadro 6 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Paranoide 85

Quadro 7 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Anti-social 86

Quadro 8 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Narcisista 87

Quadro 9 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Histrinica 87

Quadro 10 Critrios diagnsticos para Transtorno da Personalidade Esquizoide 88

Quadro 11 Critrios diagnsticos para Transtorno de Pnico Sem Agorafobia 89

Quadro 12 Critrios diagnsticos para Fobia Social 89

Quadro 13 Critrios diagnsticos para Transtorno Obsessivo-compulsivo 91

Quadro 14 Critrios diagnsticos para Transtorno de Ansiedade Generalizada 92

Quadro 15 Critrios diagnsticos para Transtorno Depressivo Maior 93

Quadro 16 Critrios diagnsticos para Transtorno Distmico 94

Quadro 17 Critrios diagnsticos para Transtorno Bipolar I e II 95

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Citao de Personalidade no grupo dos Transtornos de Ansiedade 60

Figura 02: Como os artigos sobre Transtornos de Humor citam Personalidade 66

Figura 03: Distribuio dos artigos sobre T. Ansiedade nas revistas especficas (TC e

TCC) 70

Figura 04: Distribuio dos artigos sobre T. de Humor nas revistas especficas (TC e

TCC) 70

Figura 05: Porcentagem de citaes Personalidade na soma de todos os artigos das

revistas de TC e TCC 71

Figura 06: Porcentagem de Citaes ao termo Personalidade em todos os artigos

pesquisados 71

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Todos os artigos divididos em trs categorias de transtornos 52

Tabela 02: Nmero de artigos para cada Transtorno de Personalidade 53

Tabela 03: Artigos sobre Transtornos de Humor e Ansiedade 59

Tabela 04: Porcentagem dos artigos de T. Ansiedade que citam ou no Personalidade 63

Tabela 05: Relao de todos os artigos encontrados nas Revistas de TC e TCC. 68

Tabela 06: Artigos sobre T. Ansiedade e T. Humor na Revista de TC. 69

Tabela 07: Artigos sobre T. Ansiedade e T. Humor na Revista de TCC 69

SUMRIO

I. INTRODUO 12

1. Personalidade 12

1.1 As Abordagens Comportamental e Cognitiva da Personalidade 13

1.1.1) Abordagem Comportamental 13

1.1.2) Abordagem Cognitiva do Processamento de Informaes 15

1.1.3) Teoria de Personalidade de Aaron Beck 16

1.2) As Psicoterapias Cognitiva, Comportamental e Cognitivo-Comportamental 18

1.2.1) A Terapia Cognitiva 19

1.2.2) A Terapia Comportamental 20

1.2.3) Terapia Cognitivo-Comportamental 21

1.3. A Abordagem Cognitiva dos Transtornos de Personalidade 22

1.4 Os Transtornos de Personalidade e as Sndromes Sintomticas 23

1.4.1) Transtorno da Personalidade Esquiva 25

1.4.2) Transtorno da Personalidade Dependente 26

1.4.3) Transtorno da Personalidade Passivo-Agressiva 26

1.4.4) Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva 27

1.4.5) Transtorno da Personalidade Paranide 28

1.4.6) Transtorno da Personalidade Anti-Social 28

1.4.7) Transtorno da Personalidade Narcisista 29

1.4.8) Transtorno da Personalidade Histrinica 29

1.4.9) Transtorno da Personalidade Esquizide 30

2. Transtornos de Ansiedade 32

2.1 Transtorno de Pnico Com e Sem Agorafobia 36

2.2 Fobia Social 37

2.3 Transtorno Obsessivo-Compulsivo 38

2.4 Transtorno de Ansiedade Generalizada 40

3. Transtornos de Humor 40

3.1 Transtorno Depressivo Maior 45

3.2 Transtorno Distmico 46

3.3 Transtorno Bipolar 46

II. OBJETIVOS 47

1.1 Objetivos especficos 47

III. JUSTIFICATIVA 48

IV. MTODO 49

V. RESULTADOS E DISCUSSO 52

VI. CONSIDERAES FINAIS 74

REFERNCIAS 76

ANEXOS 81

ANEXO A 82

ANEXO B 97

ANEXO C 99

ANEXO D 100

12

I. INTRODUO

1. Personalidade

O constructo personalidade com certeza um dos mais controversos e no menos

intrigantes no ramo da psicologia. Embora a palavra seja usada de vrias maneiras, a maior

parte dos significados de uso popular pode ser compreendida em umas destas duas

conceituaes: a primeira relaciona-se com habilidades sociais. Nesse caso, a personalidade

de um indivduo poderia ser avaliada pela eficincia em produzir reaes positivas em

diversas pessoas e em diferentes situaes. A segunda conceituao avalia a personalidade

pela impresso marcante que o indivduo causa em outras pessoas, podendo-se ento falar em

personalidade agressiva, personalidade passiva e personalidade tmida (Hall &

Lindzey, 1973 p.20). Em ambas as conceituaes existe um movimento de valorao, pois

personalidades so identificadas, comumente, em termos de boas ou ms (Hall & Lindzey,

1973; Pervin & John, 2004).

Uma definio centralizadora proposta por Pervin e John (2004). Para este autor a

personalidade representa aquelas caractersticas da pessoa que explicam padres

consistentes de sentimentos, pensamentos e comportamentos (p.23). Esta uma definio

que permite que nos concentremos em muitos aspectos diferentes da pessoa. Ao mesmo

tempo, ela sugere que prestemos ateno a padres consistentes de comportamento e

qualidades internas pessoa, que explicam essas regularidades em oposio, por exemplo, a

enfocar qualidades no ambiente que expliquem tais regularidades.

As regularidades de interesse, para este autor, envolvem os pensamentos, sentimentos

e comportamentos explcitos (observveis) das pessoas. De particular interesse a maneira

como esses pensamentos, sentimentos e comportamentos se relacionam entre si para formar o

indivduo nico e peculiar. Embora seja escolhida uma definio para personalidade, devem-

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se levar em considerao outras definies possveis teis para o direcionamento e

compreenso do tema.

Uma vez que foram consideradas nesse trabalho as publicaes que de alguma

maneira estejam sob enfoque das Psicoterapias Comportamental, Cognitiva e Cognitivo-

Comportamental, faz-se necessrio apresentar brevemente as vises comportamental e

cognitiva de personalidade. Adiante, sero apresentadas as diferenas e semelhanas desses

trs tipos de psicoterapia.

1.1 As Abordagens Comportamental e Cognitiva da Personalidade

1.1.1) Abordagem Comportamental

Considerado o fundador da abordagem denominada Behaviorista, John B. Watson

(1878-1958) conduziu seus estudos enfatizando o comportamento observvel e excluindo o

uso da auto-observao ou introspeco. A proposta de Watson de se utilizar mtodos

objetivos e o fim da especulao a respeito do que ocorre dentro da pessoa, foi bem recebida

no meio cientfico e ele foi eleito presidente da American Psychological Association para o

ano de 1915. (Pervin & John, 2004)

Mas foi com B. F. Skinner (1904 1990) que o Behaviorismo ganhou ainda mais

notoriedade. Skinner interessou-se pelo comportamento animal e pelo seu controle atravs da

manipulao de recompensas e punies no ambiente. Desenvolvia-se assim o

condicionamento operante que a forma de aprendizagem relacionada com as alteraes nas

respostas emitidas como uma funo de suas conseqncias. (Glassman & Hadad, 2008)

Partindo da definio de condicionamento operante podemos perceber que o termo

Personalidade visto pelos Behavioristas de maneira bem diferente das outras abordagens.

Explicaes relacionadas a sintomas com causas subjacentes no so necessrias. Segundo

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Pervin e John (2004) a patologia comportamental no passaria de um padro de respostas

aprendidas de acordo com os mesmos princpios de comportamento que todos os padres de

respostas.

Os comportamentalistas descartam termos como inconsciente ou mesmo

personalidade doente. Os indivduos no estariam doentes, eles apenas no estariam

respondendo adequadamente aos estmulos. Indivduos socialmente inadequados, por

exemplo, podem ter tido histria de reforamento deficientes nas quais as habilidades sociais

no se desenvolveram. Dessa forma, as pessoas desenvolvem repertrios de comportamentos

deficientes e que outras pessoas chamam de doentes ou psicopatologias (Pervin & John,

2004).

Fica clara aqui a importncia do ambiente e da aquisio ou no de repertrio e no de

termos como pulso, conflitos inconscientes ou auto-estima, na explicao de determinados

padres comportamentais dos indivduos, comumente chamados de personalidade. Sobre esse

tema, Skinner (1974/2002) afirma que

um eu ou uma personalidade , na melhor das hipteses, um repertrio de

comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingncias. O

comportamento que um jovem adquire no seio de sua famlia compe um eu; o

comportamento que adquire, digamos, no servio militar compe outro. Os dois eus

podem coexistir na mesma pele sem conflito at as contingncias conflitarem o que

pode ocorrer, por exemplo, quando amigos da vida militar o visitam em sua casa.

(p.130).

Para Funder (2001) esta abordagem tem passado por uma evoluo ao longo dos anos.

A princpio, a inteno era excluir da psicologia tudo aquilo que fosse subjetivo ou

inobservvel. O comportamento era visto exclusivamente como uma funo de contingncias

de reforamento impostas pelo ambiente. Mediadores que no podem ser observados, tais

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como percepes, memrias, pensamentos e traos, foram banidos da anlise. Esta viso no

se sustentou ao longo das dcadas: os analistas do comportamento negligenciaram

importantes fenmenos como a aprendizagem vicria, e os tericos da aprendizagem social

ressaltam que, para um ser humano (se no para um rato) a prpria crena sobre potenciais

reforamentos, e no o reforamento em si, que determina o comportamento (Funder, 2001).

1.1.2) Abordagem Cognitiva do Processamento de Informaes

Utilizando um computador como modelo, os psiclogos cognitivos da personalidade

esto interessados na maneira como as pessoas processam (codificam, armazenam,

recuperam) informaes. O interesse na maneira como as pessoas representam o mundo

(objetos fsicos, situaes, pessoas) concentra-se nas categorias que as pessoas desenvolvem e

na organizao hierrquica dessas categorias. As categorias so definidas por um padro de

caractersticas. Um prottipo representa um tipo ideal que melhor exemplifica os contedos

de uma categoria. (Rosch et al. 1976).

As pessoas definem scripts que so relevantes para certas situaes ou categorias de

situaes. Um script representa uma srie ou padro de comportamentos considerados

apropriados para a situao (Schank & Abelson, 1977). Alm disso, so desenvolvidos

esquemas de self ou generalizaes cognitivas a respeito do self, que organizam e guiam

informaes relacionadas com o self. Esses esquemas influenciam quais informaes

consideramos relevantes e o modo como essas informaes so organizadas e lembradas.

Uma vez desenvolvidos, os esquemas de self podem ser difceis de mudar, devido a uma

tendncia para informaes consistentes com o self e devido a uma tendncia a evocar

evidncias que confirmem o self de outras pessoas. Ao invs de um self nico, temos uma

famlia de selves, formada na maneira como agimos em vrias situaes e nossos vrios selves

possveis. A relao entre o processamento de informaes e o afeto e a motivao

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ilustradas pelos conceitos de selves possveis, guias do self (padres que a pessoa deve

cumprir), e por pesquisas sobre motivos de autoverificao e auto-aprimoramento (Markus,

1977; Dweck, Chiu, Hong, 1995).

Um ingrediente fundamental do processamento de informaes relevante para os

eventos so suas explicaes causais. Existem, segundo esta abordagem, trs dimenses de

explicaes causais das pessoas: locus de causalidade (interna-externa), estabilidade (estvel-

instvel) e capacidade de controle. Ao organizarem informaes relevantes com relao s

pessoas, os indivduos desenvolvem uma teoria implcita da personalidade ou consideram que

certos traos so associados a outros traos (Weiner, 1996).

Dentre as abordagens existentes, Caspi & Shiner (2005) estabelecem quatro reas que

tiveram um destacvel progresso na ltima dcada. A primeira refere-se estrutura da

personalidade na infncia e na idade adulta, com ateno especial para possveis mudanas no

desenvolvimento atravs dos traos. A segunda refere-se s pesquisas sobre estudos sobre a

personalidade em gentica do comportamento. A terceira trata dos estudos longitudinais que

tentam especificar em qual estgio da vida do indivduo h maior probabilidade da ocorrncia

de mudana. A quarta trata de como traos de personalidade influenciam as relaes sociais,

status e sade, bem como os mecanismos pelos quais a personalidade se estrutura. Em todas

estas reas, ainda existem lacunas, o que torna necessrio identificar prioridades para

pesquisas futuras.

1.1.3) Teoria de Personalidade de Aaron Beck

No mbito da Terapia Cognitiva busca-se entender a relao do que chamamos de

personalidade com a adaptao do indivduo ao meio. Nesse sentido, o entendimento da

personalidade no pode prescindir das teorias sobre herana filogentica. Obviamente, assim

como ocorreu com todas as espcies, as estratgias que favoreceram a sobrevivncia e a

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reproduo foram mantidas pela seleo natural. Tais estratgias, pensando agora na espcie

humana, contriburam para que ns chegssemos at aqui. Que tivssemos um domnio

razovel da natureza, podendo manipul-la, at certa medida, a nosso favor. O fato que

estratgias que favoreceram a sobrevivncia e a reproduo devem estar na base do que

chamamos personalidade.

A discusso sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avana desde estratgias

baseadas na evoluo, at uma considerao de como o processamento da informao,

incluindo processos afetivos, antecede a operao destas estratgias (Beck & Freeman, 1993).

Uma vez que a demanda ambiental surja, o indivduo avalia as necessidades especficas para

lidar com tal demanda e automaticamente aciona uma estratgia que pode ou no ser

adaptativa ao contexto. Para Beck, Shaw, Rush e Emery (2005) a maneira como avaliada

uma situao depende, pelo menos em parte, das crenas relevantes subjacentes, as quais

esto integradas em estruturas mais ou menos estveis, denominadas esquemas, que

selecionam e sintetizam informaes. A seqncia psicolgica progride, pois, da avaliao

para a estimulao afetiva e motivacional e, finalmente, para a seleo e implementao da

estratgia relevante. A abordagem Cognitiva considera os esquemas como sendo as unidades

fundamentais da personalidade. E a define como uma organizao relativamente estvel,

composta de sistemas e moldes. Sistemas de estruturas (esquemas) interconectadas

respondem pela seqncia que se estende desde a recepo do estmulo at o ponto final da

resposta comportamental.

Segundo Beck et. al (2005) traos de personalidade identificados por adjetivos tais

como dependente, isolado, arrogante ou extrovertido podem ser conceitualizados

como sendo a expresso manifesta dessas estruturas subjacentes. Por sua vez, os padres

comportamentais que atribumos aos traos (honesto, tmido, comunicativo), representam as

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estratgias interpessoais desenvolvidas a partir da interao entre padres genticos e o

ambiente.

Todos os perfis de personalidade teriam sua raiz na histria evolutiva de nossa espcie

que, assim como todas as outras, sofreram os efeitos da seleo natural, permanecendo no

ambiente os representantes de cada uma delas que fossem mais aptos a se manter vivos e

reproduzir. O que chamamos de perfis de personalidade ento, so o produto de estratgias

mais eficazes que favoreceram a evoluo da espcie humana (Beck & Freeman, 1993).

O comportamento dramtico que acaba por chamar a ateno na personalidade

histrinica, pode ter suas razes em ritos de exibio em animais no-humanos; o anti-social,

no comportamento predatrio, e o dependente no comportamento de apego observado em

todo o reino animal .(Beck & Freeman, 1993). Todos os outros perfis tm correspondncia em

comportamentos que foram e muitas vezes ainda so extremamente importantes para a

adaptao do indivduo.

Para Beck et al. (2005) embora os organismos no tenham conscincia do objetivo

ltimo dessas estratgias biolgicas, eles a tm dos estados subjetivos que refletem seu modo

de operao: fome, medo, estimulao sexual e recompensas ou punies. Todas elas

orientadas para garantir a sobrevivncia e a reproduo, ou seja, contribuindo para a

adaptao do organismo.

1.2 As Psicoterapias Cognitiva, Comportamental e Cognitivo-Comportamental

Apesar de algumas diferenas, essas abordagens teraputicas compartilham muitas

semelhanas e por esse motivo, esse trabalho usou como critrio para a reviso, a seleo de

todos os artigos que se enquadrassem nesses trs tipos de psicoterapia.

19

1.2.1) A Terapia Cognitiva

Na Terapia Cognitiva, o elemento central na compreenso dos problemas dos

pacientes a cognio, embora esse tipo de terapia reconhea a interao entre pensamentos,

estados de humor, comportamento, reaes fsicas e ambiente (Greenberger & Padesky,

1999).

Desenvolvida por Aaron Beck na dcada de 1960, a terapia cognitiva sustenta a idia

de que so as interpretaes e no os fatos em si que trazem sofrimento ao indivduo. Os

pensamentos automticos (P.A) expressam a forma que os eventos so percebidos. Eles tm

origem nas crenas centrais, que so crenas nucleares muito arraigadas, precoces,

supergeneralizadas e absolutistas em relao a si, aos outros e ao mundo. Desenvolvidas a

partir da infncia, essas crenas representam uma tentativa de organizao dos dados

provenientes do mundo interno e externo e so o nvel mais profundo do processamento

cognitivo (Beck et al. 1997).

Outro grupo de crenas se desenvolve partir das crenas centrais. So as crenas

intermedirias ou condicionais, que incluem tambm regras e atitudes. As crenas

intermedirias so frequentemente expressas na forma de se...ento... e revelam estratgias

compensatrias por meio das quais a pessoa tenta se proteger da manifestao da crena

central. As regras so estruturadas de forma ampla, com imperativos do tipo devo e tenho

(Beck et al, 1997).

Ao longo da vida, mesmo com muitas evidncias contrrias s crenas disfuncionais,

elas continuam operando e causando sofrimento ao indivduo que, por meio de distores

cognitivas, filtra os dados de realidade, selecionando aqueles que confirmam a crena

disfuncional (Beck et al 1997).

O processo psicoterpico na Terapia Cognitiva indicado para todas as idades,

podendo ser realizado individualmente ou em grupo, com indivduos com diferentes nveis

20

educacionais, econmicos e culturais e deve incluir: a conceitualizao do problema;

educao do paciente sobre o modelo cognitivo; relao de colaborao entre paciente e

terapeuta; motivao para o tratamento; estabelecimento de metas; intervenes cognitivas e

comportamentais e preveno de recada. (Beck, 2007)

1.2.2) A Terapia Comportamental

A terapia comportamental abrange os conhecimentos derivados das teorias de

aprendizagem. As principais influncias tericas so os estudos sobre comportamento

operante. Ao contrrio do que muitos pensam, ela no trata apenas dos sintomas

observveis, mas entende o comportamento como uma relao entre o sujeito e o seu

ambiente. Portanto, o terapeuta comportamental investiga vrios aspectos do comportamento

(motores, afetivos, cognitivos) e busca estabelecer relaes deste comportamento com as

condies fsicas e sociais em que estes ocorrem. Pode ser aplicada a quase todos os

problemas psiquitricos (Moro & Lachal, 2008).

Ela exige conhecimento terico e tcnico sofisticado e sua elaborao teraputica

segue os preceitos do mtodo cientfico na anlise e mensurao dos problemas do paciente,

na adaptao das tcnicas e mtodos aos seus problemas especficos e na avaliao dos

resultados (Skinner, 2002).

O processo teraputico consiste numa anlise funcional (em funo de que) do

comportamento do cliente. O terapeuta comportamental sabe que o comportamento que o

indivduo emite foi selecionado pelas conseqncias, tem uma funo dentro do seu

repertrio, mesmo quando aparentemente inadequado. Cabe ao terapeuta descobrir porque

(em que contingncias) este comportamento se instalou e como ele se mantm. Esta

descoberta se faz pela anlise funcional que, em clnica, envolve pelo menos 3 momentos da

21

vida do cliente: sua histria passada, seu comportamento atual e sua relao com o terapeuta

(Beck, 2007).

No processo teraputico, as indagaes do terapeuta auxiliam o indivduo a estabelecer

relaes funcionais entre seu modo de agir e sentir e as circunstncias antecedentes e

conseqentes que controlam seu comportamento. Nesse processo, o terapeuta passa a

representar o ambiente verbal que fornece as contingncias necessrias auto-observao

(Rang, 2001).

O terapeuta comportamental pode ainda contar com o auxlio de um conjunto de

tcnicas de modificao de comportamento, cuja eficcia j foi clinicamente comprovada e

auxiliam o cliente no seu restabelecimento psicossocial, quando sua interao social foi

seriamente comprometida em funo de transtornos especficos. A psicoterapia

comportamental amplamente utilizada no tratamento dos transtornos de humor, no

tratamento dos transtornos de ansiedade, dos transtornos psicossomticos e alimentares

(Rang, 2001).

1.2.3) Terapia Cognitivo-Comportamental

As terapias designadas de terapias cognitivo-comportamentais (TCC) denominam-se

assim porque constituem uma integrao de conceitos e tcnicas cognitivas e

comportamentais. Atualmente dispe-se de uma ampla gama de tratamento de diversos

problemas psiquitricos tais como transtornos de ansiedade, depresso, disfunes sexuais,

distrbios obsessivo-compulsivos e alimentares (Caballo, 2007).

A Terapia Cognitivo-Comportamental centra-se nos problemas que esto sendo

apresentados pelo paciente no momento em que este procura a terapia. Seu objetivo ajud-lo

a aprender novas estratgias para atuar no ambiente de forma a promover mudanas

necessrias. A metodologia utilizada na terapia de uma cooperao entre o terapeuta e o

22

paciente de forma que as estratgias para a superao de problemas concretos so planejadas

em conjunto (Caballo, 2008).

Segundo Serra (2007) a Terapia cognitivo-comportamental se situa em uma posio

intermediria confortvel entre as abordagens cognitiva e comportamental, porm com certo

grau de liberdade conferido aos seus praticantes. Verificam-se dois grandes grupos. Primeiro,

aqueles anteriormente treinados como terapeutas comportamentais, que tendem a manter-se

vinculados ao modelo comportamental, apenas adicionando a este princpios e tcnicas

cognitivos, porm com o objetivo primordial de alcanar mudanas comportamentais. Para

esses, a cognio ainda vista como um comportamento encoberto. Segundo, aqueles

treinados como terapeutas cognitivos, e que, adotando um modelo cognitivo, utilizam-se de

tcnicas comportamentais, porm com a finalidade explcita de obter mudanas cognitivas.

Ressaltadas ento as diferenas e semelhanas entre os trs tipos de psicoterapia,

passa-se agora aos transtornos de personalidade.

1.3 A Abordagem Cognitiva dos Transtornos de Personalidade

Partindo da idia de que os perfis de personalidade so resultado de estratgias que

foram importantes para a adaptao da espcie ao ambiente, resta responder como surgem os

transtornos da personalidade. Estratgias que favoreceram a adaptao do indivduo so

tambm a base para Psicopatologias. Mais precisamente, neste caso, de transtornos da

personalidade.

Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da personalidade de

cada um de ns, tm caractersticas estruturais como amplitude (estreitos ou amplos),

flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificao), e densidade (destaque na organizao

cognitiva) e valncia (grau em que so energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos

transtornos de personalidade, seriam amplos, rgidos, densos e hipervalentes.

23

Uma vez hipervalentes, os esquemas so facilmente ativados, mesmo que o estmulo

seja incuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e

introduzem um vis sistemtico no processamento da informao (Beck & Davis 2005).

Apesar da semelhana entre os esquemas dos transtornos de personalidade e os das sndromes

sintomticas, os primeiros operam sobre o processamento de informao em uma base mais

contnua. Um esquema no transtorno de personalidade ser ativado quase sempre e ser parte

do processamento da informao, normal e cotidiano, do indivduo.

A partir de semelhanas descritivas, os transtornos de personalidade so divididos em

trs grupos. O grupo A compreende os transtornos da Personalidade Paranide, Esquizide e

Esquizotpica. No grupo B esto os transtornos Anti-Social, Borderline, Histrinico e

Narcisista. Por fim, o grupo C compreende os transtornos da Personalidade Esquiva,

Dependente e Obsessivo-compulsiva (APA, 2002).

Segundo o DSM IV-TR (APA, 2002) o trao de personalidade um padro persistente

de perceber, relacionar-se com e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta

em vrios contextos sociais e pessoais. Esses traos, quando inflexveis e desadaptativos,

causam mal-estar subjetivo e prejuzo funcional significativo, caracterizando assim um

transtorno de personalidade.

1.4 Os Transtornos de Personalidade e as Sndromes Sintomticas

Os pacientes com transtornos de personalidade (TP) esto entre os mais desafiantes

para os clnicos. Geralmente esses pacientes causam muitos problemas e tm muitos prejuzos

familiares, acadmicos e profissionais.

Estima-se que de 30 a 50% dos pacientes ambulatoriais apresentam algum transtorno

de personalidade. Outros 39% dos pacientes que procuravam uma clnica psiquitrica privada

de forma ambulatorial tinham um TP (Caballo, 2007).

24

Segundo Johnson (1999) ter um transtorno de personalidade durante a adolescncia

dobra o risco de padecer de problemas de ansiedade, transtornos de humor, comportamentos

autolesivos e transtornos de consumo de substncias durante os primeiros anos da idade

adulta.

De acordo com Caballo (2007) muitos pacientes que so tratados por um transtorno do

Eixo I padecem de transtornos de personalidade co-mrbidos. Os transtornos do Eixo II j

foram associados tambm a transtornos alimentares, transtorno de somatizao, esquizofrenia,

transtornos bipolares, transtornos sexuais, transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos

dissociativos.

Ainda segunda Caballo (2008) o transtorno bipolar encontra-se muitas vezes associado

ao transtorno borderline e ao transtorno histrinico, enquanto que o depressivo est mais

ligado personalidade esquiva e obsessiva-compulsiva. Entre os indivduos com transtornos

de ansiedade, predominam os transtornos da personalidade esquiva, dependente, obsessivo-

compulsiva, esquizotpico e paranide.

Caballo (2008) afirma ainda que os pacientes com transtorno por abuso de substncias

podem apresentar um TP, mais comumente o transtorno anti-social. E que o TOC e a

tricotilomania esto frequentemente associados ao transtorno da personalidade obsessivo-

compulsiva.

Segundo Caballo (2008) a dor crnica tambm pode ser associada a transtornos de

personalidade, mais especificamente os transtornos do grupo B (Anti-Social, Borderline,

Histrinico e Narcisista).

Como se pode observar, os traos e transtornos de personalidade esto frequentemente

presentes nas queixas psiquitricas, causando prejuzos significativos aos pacientes que

geralmente ignoram a presena do TP por julgar que suas crenas, emoes e

comportamentos rgidos representam apenas a sua maneira de ser e no um problema.

25

Dessa maneira, importantssimo que a presena de um TP seja sempre considerada

na ocasio de uma avaliao psicolgica ou psiquitrica, para que o tratamento possa se dar

da melhor maneira possvel.

A seguir, sero apresentados os transtornos de personalidade segundo o DSM-IV-TR,

bem como os seguintes transtornos de Ansiedade e Humor: transtorno de Pnico Com e Sem

Agorafobia, Fobia Social, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de ansiedade

Generalizada, transtorno depressivo maior, transtorno distmico e transtorno bipolar. Em

seguida, so descritas as principais caractersticas de cada desses transtornos dentro da

abordagem Cognitiva e Cognitivo-comportamental.

Os quadros dos critrios para diagnstico (DSM IV TR) dos transtornos supracitados

esto no ANEXO A.

1.4.1) Transtorno da Personalidade Esquiva

Pessoas com o transtorno evitativo de personalidade possuem o seguinte conflito: elas

querem se aproximar de outras pessoas mas temem ser magoadas, rejeitadas, ou fracassar.

Vem-se como vulnerveis depreciao e rejeio, como sendo socialmente incapazes e

incompetentes. A viso que tm dos outros que eles so potencialmente crticos,

depreciadores e superiores. Suas principais crenas so: terrvel ser rejeitado, rebaixado,

se as pessoas conhecerem meu verdadeiro eu, me rejeitaro, no consigo tolerar

sentimentos desagradveis (Beck & Davis, 2005).

As estratgias compensatrias hiperdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so:

evitar situaes sociais; evitar chamar a ateno sobre si mesmo; evitar revelar-se aos outros;

desconfiar dos outros e evitar emoes negativas. As estratgias compensatrias

subdesenvolvidas desse transtorno so aproximar-se dos outros; confiar na motivao positiva

dos outros; procurar intimidade; pensar sobre situaes e problemas perturbadores.

26

1.4.2) Transtorno da Personalidade Dependente

De acordo com Beck e Freeman (1993), as pessoas com transtorno dependente de

personalidade tm uma viso de si como carentes, fracas, indefesas e incompetentes e uma

viso idealizada dos outros como provedores, apoiadores e competentes. Suas principais

crenas so: necessito das pessoas para sobreviver, ser feliz, necessito de um fluxo

contnuo de apoio e de encorajamento; sua principal estratgia seria cultivar relacionamentos

de dependncia.

As estratgias compensatrias hiperdesenvolvidas so: confiar nos outros, evitar

decises, evitar resolver problemas com independncia, tentar fazer os outros felizes, ser

subjugadas por outros, ser tmida e submissa. Por outro lado as estratgias compensatrias

subdesenvolvidas envolvem resolver problemas com independncia, tomar decises, manter

seu ponto de vista perante os outros.

1.4.3) Transtorno da Personalidade Passivo-Agressiva

As pessoas com esse transtorno apresentam um estilo oposicional. O principal

problema um conflito entre seu desejo de obter benefcios por meio das autoridades e seu

desejo de manter a autonomia. Ento procuram manter o relacionamento, permanecendo

passivos e submissos, mas, medida que sentem a perda da autonomia, subvertem a

autoridade. Possuem uma viso de si como sendo auto-suficientes, vulnerveis ao controle e a

interferncia; veem os outros como intrusivos, exigentes, interferentes, controladores e

dominadores. Suas principais crenas so: os outros interferem em minha liberdade de ao,

o controle por outros intolervel, tenho de fazer as coisas a minha maneira (Beck &

Freeman).

27

De acordo com J. Beck (2007), as estratgias compensatrias tanto hiperdesenvolvidas

quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so: Estratgias compensatrias

hiperdesenvolvidas: fingir cooperao; evitar afirmaes, confronto e recusa direta; resistir ao

controle dos outros; resistir a assumir responsabilidades; resistir em atender s expectativas

dos outros.

Estratgias compensatrias subdesenvolvidas: cooperar assumir responsabilidades

razoveis para si e para os outros; fazer de maneira direta a soluo de problemas

interpessoais.

Os atuais critrios diagnsticos desse transtorno mudaram de um conglomerado de

comportamentos oposicionais para um constructo de personalidade mais dimensional, a

personalidade negativista. Atualmente, o diagnstico formalmente categorizado como

transtorno da personalidade, sem outra especificao (APA, 2002).

1.4.4) Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva

As palavras de ordem para esse transtorno so controle e dever. Os indivduos com

esse transtornos possuem uma viso de si como sendo pessoas responsveis, confiveis,

obstinadas, competentes; uma viso dos outros como irresponsveis, negligentes,

incompetentes e auto-indulgentes (Beck & Davis 2005). Suas principais crenas so: eu sei o

que melhor, os detalhes so cruciais, as pessoas deveriam fazer melhor, tentar com mais

afinco.

Para Caballo (2008), as estratgias compensatrias tanto hiperdenvolvidas quanto

subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so:

Estratgias compensatrias hiperdesenvolvidas: controlar rigidamente a si mesmo e

aos outros; criar expectativas exageradas; assumir muita responsabilidade; buscar a perfeio.

28

Estratgias compensatrias subdesenvolvidas: delegar autoridade; desenvolver

expectativas flexveis, exercitar controle somente quando apropriado; tolerar indecises; agir

espontaneamente e impulsivamente; procurar lazer e atividades agradveis.

1.4.5) Transtorno da Personalidade Paranide

A palavra-chave para esse transtorno a desconfiana. Indivduos paranides

adotam essa postura na maioria, ou em todas as situaes (Beck & Freeman, 1993). Eles

possuem uma viso de si mesmas como sendo indivduos corretos, inocentes, nobre e

vulnervel; uma viso das outras como pessoas como interferentes, maliciosas,

discriminadoras e abusivas. Suas principais crenas so: os motivos so suspeitos, esteja

em guarda, no confie.

Para J. Beck (2007), as estratgias compensatrias tanto hiperdesenvolvidas quanto

subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so: Estratgias compensatrias

hiperdesenvolvidas: ser hipervigilante ao perigo; no confiar em ningum; supor motivaes

obscuras; ter expectativas de ser manipulado, enganado e inferiorizado.

Estratgias compensatrias subdesenvolvidas: confiar nos outros; relaxar; cooperar;

acreditar em boas intenes.

1.4.6) Transtorno da Personalidade Anti-Social

Este o transtorno dos chamados sociopatas. De acordo com Beck e Davis (2005) a

personalidade antissocial pode assumir variadas formas desde ser conivente, manipular e

explorar, at o ataque direto. Suas crenas de auto-imagem so de serem solitrios, autnomos

e fortes. A viso que possuem dos outros que eles so vulnerveis e explorveis. Suas

principais crenas so: tenho direito de infringir as regras, os outros devem ser

explorados.

29

As estratgias compensatrias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais

utilizadas nesse transtorno so: mentir; manipular ou levar vantagem sobre os outros; ameaar

ou atacar os outros; resistir ao controle dos outros; agir impulsivamente. Por sua vez as

estratgias compensatrias subdesenvolvidas so: cooperar com os outros; seguir regras

sociais; pensar sobre as consequncias (Beck 2007).

1.4.7) Transtorno da Personalidade Narcisista

Eis o transtorno que leva o indivduo a se considerar especial. Pessoas com essa

personalidade possuem uma viso de si como se fossem nicas, merecedoras de regras

especiais, superiores; uma viso dos outros como inferiores e admiradores dela. Suas

principais crenas so: visto que sou especial, eu mereo regras especiais, eu estou acima

das regras, eu sou melhor que os outros (Beck & Davis 2005).

Exigir tratamento especial; ser hipervigilante ao tratamento comum (ou normal); punir

os outros quando se sentirem insultados, diminudos, disfricos. Criticar, inferiorizar as

pessoas, tentar competir e control-las; tentar impressionar as pessoas com posses materiais,

conquistas e amizades com pessoas de alto nvel social so algumas das estratgias

compensatrias hiperdesenvolvidas desses indivduos. Por outro lado, cooperar com os outros

para alcanar um objetivo comum; trabalhar assiduamente, passo a passo, para alcanar as

metas pessoais; tolerar inconvenincias, frustraes, no reconhecimento; satisfazer as

expectativas dos outros sem grande benefcio para si prprio caracterizam as estratgias

compensatrias subdesenvolvidas (Beck 2007).

1.4.8) Transtorno da Personalidade Histrinica

De acordo com Beck e Freeman (1993) a palavra-chave para esse transtorno a

expressividade; a pessoa que o possui incorpora a tendncia a se emocionar ou a romancear

30

todas as situaes e tentar impressionar e cativar os outros. Considera-se glamurosa,

impressionante e capazes de seduzir os outros. Vem ainda as outras pessoas como receptivas

e admiradoras. Suas principais crenas so: as pessoas esto a para me servir ou admirar,

elas no tm o direito de negar meus justos direitos, eu posso seguir meus sentimentos.

Segundo J. Beck (2007), as estratgias compensatrias tanto hiperdenvolvidas quanto

subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so:

Estratgias compensatrias hiperdesenvolvidas: ser extremamente dramtico; vestir,

agir e falar de modo sedutor; divertir os outros, buscar elogios.

Estratgias compensatrias subdesenvolvidas: ser quieto, obediente; concordar com os

outros; estabelecer padres razoveis de comportamento em relao aos outros pacientes; agir

dentro dos limites normais.

1.4.9) Transtorno da Personalidade Esquizide

As pessoas com esse transtorno buscam o isolamento e a autonomia. Apresentam uma

viso de si como auto-suficientes e solitrias; e uma viso dos outros como intrusivos. Suas

principais crenas: os outros no so gratificantes, relacionamentos so confusos e

indesejveis (Beck & Freeman, 1993).

De acordo com J. Beck (2007), as estratgias compensatrias tanto hiperdesenvolvidas

quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno so:

Estratgias compensatrias hiperdesenvolvidas: evitar contato com os outros; evitar

intimidade com as pessoas; envolver-se em atividades solitrias.

Estratgias compensatrias subdesenvolvidas: possuir habilidades sociais comuns;

confiar nos outros.

31

Vale lembrar que os transtornos da personalidade esquizotpica e borderline no tm

caractersticas descritivas bem delimitadas. Muitas caractersticas desses dois transtornos

esto presentes nas descries dos outros supracitados. E por essa razo, no sero citados

como os demais. O primeiro assemelha-se muito ao transtorno esquizide nas suas

caractersticas de evitao de relacionamentos interpessoais, mas tendem tambm a apresentar

sintomas paranides e psicticos. Os indivduos borderline por sua vez, apresentam

instabilidade na maioria dos aspectos do funcionamento, incluindo relacionamento, auto-

imagem, afeto e comportamento.

32

2. Transtornos de Ansiedade

Assim como acontece com todos os outros transtornos mentais, os chamados

transtornos de ansiedade no tm uma causa nica. preciso considerar em sua etiologia as

dimenses biolgica, social e psicolgica.

A vulnerabilidade gentica ansiedade pode ajudar a explicar parte do

desenvolvimento de um transtorno de ansiedade. De acordo com Barlow e Durand (2008)

mtodos sofisticados de estudos de gentica, chamados caracteres quantitativos QTL

(quantitative trait loci) tm permitido aos pesquisadores identificarem pequenos grupos de

genes que desempenhariam papel importante na vulnerabilidade depresso e ansiedade.

A ansiedade tambm est associada a circuitos cerebrais e neurotransmissores

especficos. Os nveis esgotados de Gaba esto relacionados com a ansiedade elevada. Os

sistemas noradrenrgico e serotoninrgico tambm tm sido associados ansiedade. (Deakin

e Graeff, 1991).

O sistema lmbico, que age como mediador entre tronco enceflico e crtex, a rea

do crebro mais associada ansiedade. O tronco enceflico monitora e percebe as mudanas

nas funes corporais e retransmite esses sinais de perigo potencial para processos corticais

mais elevados atravs do sistema lmbico. Barlow e Durand (2008), chamou de sistema de

inibio comportamental (SIC) o circuito ativado por sinais de acontecimentos inesperados

vindo do tronco enceflico, como mudanas no funcionamento corporal que poderiam

sinalizar perigo. Os sinais de perigo em resposta ameaa descem pelo crtex para o sistema

septo-hipocampal. O SIC tambm recebe um grande impulso da amgdala (Barlow & Durand,

2008). Quando o SIC est ativado por sinais que surgem do tronco enceflico ou descem do

crtex, nossa tendncia arrepiar, experimentar ansiedade e avaliar apreensivamente a

situao para confirmar se o perigo est presente (Barlow & Durand, 2008).

33

Alm da dimenso biolgica, variveis sociais tambm contribuem para o

desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Acontecimentos estressantes desencadeiam

vulnerabilidades psicolgicas e biolgicas. Problemas no trabalho, dificuldades financeiras,

demandas acadmicas e profissionais, casamento, divrcio, morte de entes queridos so

fatores socais comuns que podem ser estressores potenciais para desencadear um transtorno

de ansiedade.

A dimenso psicolgica integra s duas primeiras fornecendo assim uma viso mais

ampla da etiologia de um transtorno de ansiedade. O modelo Cognitivo da Ansiedade

preconiza que as pessoas que sentem uma ansiedade desproporcionalmente maior do que a

estimulao que a gerou, tm a crena de estarem em perigo que possa gerar dano fsico e/ou

social. Obviamente que tal ameaa exagerada pelo indivduo, e mesmo que seja inexistente

por completo, o sujeito tem uma experincia de ansiedade como se a ameaa fosse real e

significativamente grande.

Segundo Salkovskis (2004), os fatores envolvidos na ocorrncia de ansiedade mais

severa e persistente podem ser divididos em duas categorias: (1) fatores que levam as pessoas

a experimentarem nveis de ansiedade relativamente maiores e (2) fatores envolvidos na

manuteno de altos nveis de ansiedade.

Na primeira categoria estariam contidos a probabilidade percebida da ameaa, o grau

de averso ao perigo, a capacidade percebida de enfrentamento e os chamados fatores de

resgate percebidos que incluem uma ajuda externa diante da estimulao aversiva. Esses

elementos da categoria podem ser organizados na seguinte frmula (Salkovskis, 2004):

Ansiedade = Probabilidade percebida da ameaa x Grau de averso ao perigo

Capacidade percebida de enfrentamento + Fatores de resgate

Por sua vez, os elementos que contribuiriam para a manuteno da ansiedade so:

34

1. Ateno seletiva. Pessoas que acreditam estar diante de um perigo potencial tendem

a se tornar sensveis percepo dos estmulos consistentes com o perigo. Desse modo, a

pessoa ansiosa que percebe mais sinais de perigo pode, erroneamente, interpreta-los como

sinal de que o perigo tornou-se realmente maior (Salkovskis, 2004).

2. Alterao Fisiolgica. Uma vez que a ansiedade tem efeitos fisiolgicos, as pessoas

que se percebem em perigo, podem sentir os efeitos da liberao de substncias como a

adrenalina e relacionar as reaes medida real do perigo, o que caracteriza um erro de

interpretao. Isso geraria ainda mais ansiedade, fechando um crculo vicioso que resultaria

novamente na percepo aumentada do perigo (Salkovskis, 2004)

3. Mudanas no comportamento. De acordo com Salkovskis (2004) a percepo do

perigo aumenta o comportamento de evitao. O comportamento de evitao aumenta a

preocupao com a ameaa, constituindo assim mais um crculo vicioso envolvido na

manuteno da ansiedade.

O Manual Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Mentais, o DSM-IV-TR, traz no

grupo dos transtornos de ansiedade, os seguintes transtornos:

O Transtorno de Pnico Sem Agorafobia caracterizado por Ataques de Pnico

inesperados e recorrentes acerca dos quais o indivduo se sente persistentemente preocupado.

O Transtorno de Pnico Com Agorafobia caracteriza-se por Ataques de Pnico

recorrentes e inesperados e Agorafobia.

A Agorafobia Sem Histria de Transtorno de Pnico caracteriza-se pela presena

de Agorafobia e sintomas tipo pnico sem uma histria de Ataques de Pnico inesperados.

A Fobia Especfica caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada

pela exposio a um objeto ou situao especficos e temidos, freqentemente levando ao

comportamento de esquiva.

35

A Fobia Social caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada pela

exposio a certos tipos de situaes sociais ou de desempenho, freqentemente levando ao

comportamento de esquiva.

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo caracteriza-se por obsesses (que causam

acentuada ansiedade ou sofrimento) e/ou compulses (que servem para neutralizar a

ansiedade).

O Transtorno de Estresse Ps-Traumtico caracteriza-se pela revivncia de um

evento extremamente traumtico, acompanhada por sintomas de excitao aumentada e

esquiva de estmulos associados com o trauma.

O Transtorno de Estresse Agudo caracteriza-se por sintomas similares queles do

Transtorno de Estresse Ps-Traumtico, ocorrendo logo aps um evento extremamente

traumtico.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada caracteriza-se por pelo menos 6 meses de

ansiedade e preocupao excessivas e persistentes.

O Transtorno de Ansiedade Devido a Uma Condio Mdica Geral caracteriza-se

por sintomas proeminentes de ansiedade considerados como sendo a conseqncia fisiolgica

direta de uma condio mdica geral.

O Transtorno de Ansiedade Induzido por Substncia caracteriza-se por sintomas

proeminentes de ansiedade, considerados como sendo a conseqncia fisiolgica direta de

uma droga de abuso, um medicamento ou exposio a uma toxina.

O Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificao includo para a codificao

de transtornos com ansiedade proeminente ou esquiva fbica que no satisfazem os critrios

para qualquer um dos transtornos de ansiedade especficos definidos nesta seo (ou sintomas

de ansiedade acerca dos quais existem informaes inadequadas ou contraditrias).

36

Abaixo, seguem-se os quatro transtornos de ansiedade que sero foco de ateno nesse

trabalho: Transtorno de Pnico Com e Sem Agorafobia, Fobia Social, Transtorno Obsessivo-

Compulsivo e Transtorno de Ansiedade Generalizada.

2.1 Transtorno de Pnico com e sem Agorafobia

Primeiramente preciso diferenciar Ataque de Pnico de Transtorno de Pnico.

Segundo o DSM IV TR (APA, 2002) o ataque representado por um perodo distinto no qual

h o incio de intensa apreenso, temor ou terror. Esto presentes sintomas como falta de ar,

palpitaes, dor ou desconforto torcico, sensao de sufocamento e medo de enlouquecer ou

perder o controle. O ataque de pnico est presente no transtorno de pnico, porm no

exclusivo deste, podendo aparecer em qualquer outro transtorno de ansiedade e mesmo em

transtornos de humor ou relacionados a substncias.

Ainda segundo o DSM IV, estudos epidemiolgicos no mundo inteiro indicam

consistentemente que a prevalncia do transtorno de pnico durante toda a vida (com ou sem

Agorafobia) situa-se entre 1,5 e 3,5%. O transtorno caracterizado pela presena de Ataques

de Pnico recorrentes e inesperados, seguidos por pelo menos 1 ms de preocupao

persistente acerca de ter um outro Ataque de Pnico, preocupao acerca das possveis

implicaes ou conseqncias dos ataques, ou uma alterao comportamental significativa

relacionada a eles.

Geralmente manifesta-se no final da adolescncia ou incio da vida adulta, quando

definies e escolhas se processam. Um pequeno nmero de casos comea na infncia, e o

incio aps os 45 anos incomum, mas pode ocorrer. Uma vez que os indivduos com

transtorno de pnico apresentam baixa produtividade e recorrem frequentemente aos servios

de sade pblica, pode-se dizer que um transtorno associado a um alto custo social.

37

De acordo com Clark (1986) as interpretaes catastrficas de manifestaes corporais

dariam origem aos ataques. A interpretao de perigo iminente dispararia ou intensificaria as

sensaes corporais que por sua vez aumentariam as interpretaes catastrficas fechando o

ciclo vicioso do pnico.

Para Barlow (1988) a vulnerabilidade gentica e a aprendizagem de crenas

disfuncionais somadas situaes estressoras explicariam o aparecimento de respostas

autonmicas inesperadas. Tais repostas passam por um condicionamento interoceptivo sendo

associadas a qualquer mudana percebida no funcionamento do organismo. A apreenso

crnica e a hipervigilncia so produtos da interpretao desses sinais corporais como sendo

perigosos. Diante disso, sem repertrio adequado para lidar com essa aversiva experincia, o

indivduo engaja-se em evitaes.

No entanto, com nem todas as pessoas trazem consigo todos esses fatores citados e

encadeados acima, preciso identificar variveis de vulnerabilidade psicolgica como perfis

de personalidade. A tendncia a responder s demandas do meio de maneira dependente,

passiva ou mesmo histrinica, pode ajudar a avaliar e conceitualizar melhor o caso.

2.2 Fobia Social

O transtorno de ansiedade social, tambm conhecido como Fobia Social caracteriza-se

por um medo marcante de uma ou mais situaes sociais ou de desempenho, em que a pessoa

sente-se exposta a desconhecidos. Teme agir de maneira que lhe seja humilhante e

vergonhosa. A esquiva, a antecipao ansiosa e o sofrimento na situao social ou de

desempenho temida interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional

(acadmico), em atividades sociais ou relacionamentos do indivduo (APA, 2002).

Estima-se que 2,4 a 13,3% da populao geral sofrem de fobia social em algum

momento de suas vidas (Barlow & Durand, 2008). Isso torna a fobia social o transtorno

38

psicolgico mais comum. mais freqente em mulheres (1,5:1), apesar de ser mais comum

em homens (2:1) na populao clnica. Presume-se que os homens tenham maior prejuzo

com o transtorno, o que os fazem buscar tratamento com mais freqncia. O transtorno

tambm mais prevalente em indivduos com baixo poder aquisitivo e tem incio precoce, com

50% dos casos iniciando na adolescncia e 50% em torno dos 20 anos de idade (Regier,

1988).

Existem dois subtipos para a fobia social: 1) fobia social circunscrita ou restrita: que

o medo de uma nica situao social como assinar cheques, comer ou falar em pblico; e 2)

fobia social generalizada: onde ao contrrio da circunscrita o indivduo teme a maioria das

situaes sociais.

Tambm no transtorno de fobia social deve-se considerar a influncia da

personalidade. O transtorno comrbido mais comum o transtorno da personalidade esquiva.

Herbert (1992) supe que a personalidade esquiva nada mais que o ponto extremo da fobia

social generalizada tamanha a sobreposio entre os transtornos. Tran (1995) afirma que os

fbicos sociais com personalidade esquiva tm a mais grave ansiedade social e so os mais

propensos a ser depressivos.

2.3 Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Para Barlow e Durand (2008) o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) o mais

devastador dos transtornos de ansiedade. Internao e at mesmo psicocirurgia so indicados

para alguns pacientes com TOC. Inicia-se em geral na adolescncia ou no inicio da idade

adulta, podendo aparecer tambm na infncia. Caracteriza-se por obsesses e compulses. As

obsesses so pensamentos, frases, palavras, cenas ou impulsos que invadem a conscincia,

involuntrios ou imprprios, persistentes e recorrentes. Por sua vez, as compulses

39

representam pensamentos ou atos repetitivos e estereotipados usados para suprimir as

obsesses e oferecer alvio.

As obsesses mais comuns so pensamentos repetidos acerca de contaminao,

dvidas repetidas, necessidade de organizar as coisas em determinada ordem, impulsos

agressivos ou horrorizantes e imagens sexuais. Tais obsesses no esto relacionadas a

problemas da vida real (APA, 2002).

Como as compulses objetivam reduzir o sofrimento das obsesses elas esto

relacionadas obsesso especifica. Os indivduos podem lavar as mos para neutralizar o

medo de contaminao. Podem verificar vrias vezes uma fechadura para diminurem a

aflio de obsesses de terem deixado uma porta aberta. Podem contar at 10, em ordem

crescente, 100 vezes a cada pensamento para suprimirem pensamentos blasfemos (APA,

2002).

Um extenso estudo epidemiolgico estabeleceu a prevalncia do TOC em 2,6%

(Barlow & Durand, 2008). Normalmente o incio gradual, mas uma vez estabelecido o

transtorno, a maioria dos indivduos tm um curso crnico de vaivm dos sintomas, com piora

deles relacionada ao estresse. Cerca de 15% apresentam deteriorao progressiva no

funcionamento profissional e social e 5% tem um curso episdico, com sintomas mnimos ou

ausentes entre os episdios (APA, 2002).

O TOC pode estar associado com transtorno depressivo maior, outros transtornos de

ansiedade (Fobia Especfica, Fobia Social, Transtorno de Pnico, Transtorno de Ansiedade

Generalizada), transtornos da alimentao e por fim, alguns transtornos de personalidade

(transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, transtorno da personalidade esquiva e

transtorno da personalidade dependente).

40

2.4 Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O indivduo diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada se estiver

experimentando uma ansiedade ou preocupao excessiva, ocorrendo na maioria dos dias por

um perodo de pelo menos 6 meses, acerca de diversos eventos ou atividades. Tal

preocupao acompanhada de pelo menos trs sintomas de uma lista que inclui inquietao,

fatigabilidade, dificuldade em concentrar-se, irritabilidade, tenso muscular e perturbao do

sono (APA, 2002).

Embora a preocupao excessiva seja uma marca da modernidade e que cada vez mais

indivduos se queixem de ansiedade, a taxa de prevalncia para esse transtorno, segundo o

DSM IV, no passa de 5%. No entanto, em clnicas especficas para tratamento de transtornos

de ansiedade, 25% tem o TAG como diagnstico principal.

Os pacientes diagnosticados com TAG frequentemente apresentam histria de

ansiedade ao longo de toda vida. Grande parte deles nem sabe informar quando os sintomas

comearam. Algumas pessoas alm de poderem ter herdado a tendncia de serem tensas

ainda podem ter passado por experincias estressantes anteriores, com as quais foi aprendido

que o mundo era perigoso e fora de controle e que no seria possvel enfrenta-lo.

O transtorno de ansiedade generalizada co-ocorre com outros transtornos de

ansiedade, transtornos de humor e relacionados s substncias.

3. Transtornos de Humor

Estima-se que 5% da populao mundial sofra de depresso maior unipolar. Quadros

severos de depresso podem ser profundamente debilitantes. Em casos extremos, os pacientes

deixam de comer e de manter cuidados pessoais bsicos. Embora alguns indivduos

apresentem um nico episdio, comum a recorrncia da patologia. Em torno de 70% dos

41

pacientes que tiveram um episdio depressivo em algum momento ter outro episdio na vida

(Kandel, 2000).

Por outro lado, cerca de 25% dos pacientes com depresso maior apresentam um

episdio manaco como comorbidade. Esses casos so categorizados como transtornos

bipolares e afetam homens e mulheres igualmente (Kandel, 2000).

Uma teoria integrada das causas dos transtornos de humor considera a interao de

fatores bio-psico-sociais. Evidncias apontam a contribuio de fatores genticos nos

transtornos de humor.

Os estudos de Klein et al. (2002) citados por Barlow e Durand (2008) indicam que

para familiares de sujeitos com um transtorno de humor, a taxa de ocorrncia de um

transtorno duas a trs vezes maior que em relao a familiares de pessoas que no possuem

esses transtorno. Alm disso, estudos com gmeos sugerem que os transtornos de humor so

hereditrios (McGuffin et al., 2003). A probabilidade de um gmeo idntico apresentar um

transtorno de humor de 66,7% se o primeiro gmeo desenvolver um transtorno de humor do

tipo bipolar, enquanto que um gmeo fraterno tem a probabilidade de 18,9% de ter a patologia

nesse mesmo caso. As taxas se alteram para 45,6% versus 20,2% se o primeiro gmeo tiver

um transtorno unipolar. McGuffin et al. (2003) do suporte idia de que as contribuies

genticas da depresso, tanto em casos de transtorno unipolares como em casos de transtornos

bipolares, so as mesmas ou semelhantes. Entretanto, a gentica da mania diferente da

gentica da depresso. Considerando isso, esses autores afirmam que indivduos com

transtorno bipolar so geneticamente suscetveis depresso e, de maneira independente,

geneticamente suscetveis tambm mania.

Segundo Barlow e Durand (2008) permanecem ainda muitas questes sobre as

contribuies dos fatores psquicos e genticos para os transtornos de humor. Algumas

42

evidncias sugerem que esses transtornos so familiares e bastante provvel que reflitam

uma vulnerabilidade gentica subjacente, particularmente nas mulheres.

Alguns pesquisadores, como Caspi & Shiner (2005) comeam a apontar um pequeno

grupo e genes que conferem essa vulnerabilidade, ao menos para alguns tipos de depresso.

Os transtornos de humor sempre foram o assunto de uma grande parte de estudos

neurobiolgicos. A maioria das teorias atuais sobre as bases biolgicas da depresso e do

transtorno bipolar so fundamentadas no conhecimento dos mecanismos de ao das drogas

antidepressivas e estabilizadores do humor (Kandel, 2000). Novas constataes e pesquisas

tentando desvendar os mecanismos fisiolgicos dessas patologias surgem quase que

mensalmente e so pontuadas como avanos no meio (Barlow & Durand, 2008). Nessa rea, a

maioria dos avanos mostram-se ilusrios, entretanto, contribuem para a compreenso da

enorme complexidade dos mecanismos neurobiolgicos dos transtornos de humor.

A primeira grande teoria abordando a etiologia biolgica da depresso hipotetizava

que a depresso seria resultado de uma deficincia de neurotransmissores monoaminrgicos,

mais especificamente de serotonina e noradrenalina (Stahl, 2000). As evidncias que

corroboravam essa teoria vinham de estudos com drogas que conhecidamente aumentavam

ou diminuam a disponibilidade de serotonina e noradrenalina disponvel na fenda sinptica.

Apesar de simplista, essa teoria representa as estratgias atuais nos estudos dos

neurotransmissores e da psicopatologia (Barlow & Durand, 2008).

Algumas das dificuldades para as pesquisas se devem heterogeneidade dos

transtornos depressivos e de suas etiologias diversas. Alm disso, um obstculo tem sido a

impossibilidade de reproduzir em modelos animais alguns sintomas comuns dos episdios

depressivos como o sentimento de culpa e o desejo de cometer suicdio. No obstante, alguns

estudos que combinam tcnicas comportamentais, moleculares e eletrofisiolgicas. (Krishnan

& Nestler, 2008) revelam que alguns aspectos da depresso resultam de mudanas

43

neuroplstica sem circuitos neurais especficos induzidas por estresse mal-adaptativo. De

fato, as pesquisas mais recentes tm relacionado o estresse e a resilincia como fatores

importantes na neurobiologia da depresso.

No que diz respeito aos episdios manacos, h um interesse continuado em desvendar

o papel da dopamina. Em estudos conduzidos com administrao de drogas agonistas de

dopamina, como L-dopa, em pacientes bipolares foi observada a produo de sintomas

hipomanacos (Garlow e Nemeroff, 2003 In: Barlow e Durand, 2008). No entanto, como em

outras pesquisas desse campo, difcil ainda identificar quaisquer relaes com segurana.

Dentro da dimenso psicolgica, a depresso ser abordada neste trabalho sob o

escopo da abordagem cognitva. A compreenso da Depresso segundo o Modelo Cognitivo

da Depresso proposto por Beck et al. (1997) postula trs conceitos especficos para explicar

o substrato psicolgico da depresso: a trade cognitiva, esquemas e erros cognitivos

(processamento de informaes falho).

O conceito de trade cognitiva est relacionado a trs padres cognitivos maiores que

induzem o sujeito a considerar a si mesmo, seu futuro e suas experincias de uma maneira

negativista em uma condio psicopatolgica como na depresso (Beck et al., 1997).

Um segundo componente desse modelo cognitivo o conceito de esquemas, definido

como uma forma de organizao estrutural do pensamento depressivo. Em outros termos, os

esquemas so padres cognitivos relativamente estveis que formam a base da regularidade

das interpretaes de um conjunto especfico de situaes (Beck et al., 1997). Os esquemas

servem, portanto, como um molde para transformar as informaes do ambiente em

cognies.

Constituem assim uma base para extrair, diferenciar e codificar os estmulos com que

o indivduo se depara. Algumas vezes os esquemas permanecem inativos por longos perodos,

entretanto, eles podem ser ativados por situaes especficas e passam a determinar

44

diretamente o modo como a pessoa responde ao evento. Em estados depressivos, os

indivduos perdem a preciso no teste de realidade e os conceitos do sujeito sobre o que

seriam essas situaes disparadoras de esquemas so distorcidos. Eles mantm suas crenas

na validade de seus conceitos negativistas apesar da presena de evidncias contraditrias.

(Beck & Davis, 2005).

De acordo com Barlow e Durand (2008) a depresso mais diagnosticada em geral e a

mais grave chamada Episdio Depressivo Maior, caracterizado pela ocorrncia por ao

menos duas semanas de sintomas cognitivos como sentimentos de menos valia e indeciso,

alm de humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. O

indivduo experimenta ainda perturbaes nas funes fsicas que podem incluir alteraes no

apetite ou peso, no padro de sono e atividade psicomotora; diminuio da energia;

sentimento de culpa ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decises;

ou pensamentos recorrentes sobre a morte ou ideao, planos ou tentativas suicidas (APA,

2002).

O segundo estado fundamental nos transtornos de humor a mania, relatada como

uma condio de alegria, entusiasmo e euforia exagerados (Barlow & Durand, 2008). Os

Episdios Manacos so definidos no DSM-IV TR como um perodo distinto durante o qual

existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansvel ou irritvel com durao de

pelo menos uma semana ou menos se for necessria internao do sujeito (APA, 2002).

Nessas ocasies os indivduos tornam-se bastante hiperativos, sentem-se capazes de realizar

projetos grandiosos, diminuem a necessidade de horas de sono e podem se envolver em

situaes autodestrutivas (Barlow & Durand, 2008).

O DSM-IV TR (APA, 2002) define tambm o Episdio Hipomanaco, consistindo este

em uma verso menos grave de um Episdio Manaco. definido como um perodo distinto

durante o qual existe um humor anormal, persistentemente elevado, expansivo ou irritvel,

45

com durao mnima de quatro dias. No considerado problemtico em si por no causar ao

sujeito prejuzos notveis no funcionamento social e ocupacional. Entretanto, o Episdio

Hipomanaco importante na definio de diversos transtornos de humor (Barlow & Durand,

2008).

Os transtornos de humor esto divididos segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002) em

Transtornos Depressivos, Transtornos Bipolares, Transtorno do Humor Devido a uma

Condio Mdica e Transtorno do Humor Induzido por Substncia. Fazem parte do grupo dos

Transtornos Depressivos o Transtorno Depressivo Maior, o Transtorno Distmico e o

Transtorno Depressivo Sem Outra Especificao. Essas desordens se diferenciam dos

Transtornos Bipolares por no serem relacionadas ocorrncia de episdios manacos, mistos

ou hipomanacos. Por sua vez, os Transtornos Bipolares so geralmente acompanhados pela

presena (ou histrico) de episdios depressivos maiores e compreendem os subtipos

Transtorno Bipolar I, Transtorno Bipolar II, Transtorno Ciclotmico e Transtorno Bipolar Sem

Outra Especificao (APA, 2002).

Para essa reviso, considerou-se dentro dos critrios de busca os transtornos

Depressivo Maior, Distmico e Bipolar.

3.1 Transtorno Depressivo Maior

O transtorno depressivo maior caracterizado por um ou mais Episdios Depressivos

Maiores, acompanhados de pelos menos quatro sintomas adicionais de que podem incluir

alteraes no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuio da energia;

sentimento de culpa ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decises;

ou pensamentos recorrentes sobre a morte ou ideao, planos ou tentativas suicidas (APA,

2002).

46

3.2 Transtorno Distmico

O transtorno distmico, por sua vez, tem como caracterstica essencial um humor

deprimido na maior parte do tempo durante pelo menos dois anos, acompanhado por outros

sintomas depressivos que no satisfazem os critrios para um Episdio Depressivo Maior.

Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), os transtornos com caractersticas depressivas

que no satisfazem os critrios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distmico,

Transtorno da Adaptao com Humor Deprimido ou Transtorno da Adaptao Misto de

Ansiedade e Depresso so includos na categoria de Transtorno Depressivo Sem Outra

Especificao.

4.3 Transtorno Bipolar

O transtorno bipolar I caracterizado pela ocorrncia de um ou mais Episdios

Manacos ou Mistos definidos por um perodo em que so preenchidos tanto os critrios

para Episdio Manaco quanto para Episdio Depressivo Maior num perodo de no mnimo

uma semana -, geralmente acompanhados por Episdios Depressivos Maiores. J o

Transtorno Bipolar II tem como caracterstica um ou mais Episdios Depressivos Maiores,

acompanhados por pelos menos um Episdio Hipomanaco. O Transtorno Ciclotmico

caracterizado por numerosos perodos de sintomas hipomanacos, que no satisfazem os

critrios para um Episdio Manaco, e de sintomas depressivos, que no satisfazem critrios

para um Episdio Depressivo Maior.

47

II. OBJETIVOS

Este trabalho objetivou, a partir de uma reviso na literatura brasileira de psicologia,

descrever como os pesquisadores, que utilizam os referenciais cognitivo, comportamental e

cognitivo-comportamental, tm abordado o tema personalidade em seus trabalhos.

1.1 Objetivos Especficos

Verificar a freqncia de publicaes sobre transtornos de personalidade na

literatura cientfica brasileira de psicologia.

Comparar a freqncia das publicaes sobre transtornos de personalidade com

as produes sobre os transtornos de ansiedade e de humor citados nesse trabalho.

Descrever como o constructo personalidade e mesmo os transtornos da

personalidade tem sido abordado nos trabalhos sobre os Transtornos de Ansiedade e

Humor escolhidos para essa reviso.

48

III. JUSTIFICATIVA

Como um perfil de personalidade acaba, quase sempre, representando o que a pessoa

chama de jeito de ser de cada um, a evoluo para um transtorno de personalidade pode no

ser percebida pela pessoa at que sintomas caractersticos dos transtornos do Eixo I comecem

a aparecer. Ansiedade, insnia, tristeza, diminuio de libido, medos, mudana no apetite so

alguns dos sintomas que levam as pessoas a procurarem mdicos e psiclogos. Dessa forma,

um transtorno de personalidade nunca a queixa principal do indivduo. As pessoas que

procuram a clnica normalmente iro se queixar de sintomas que elas no atribuem ao

famigerado jeito de ser.

Certamente que nem todas as queixas dos pacientes em consultrios de psiclogos e

psiquiatras so decorrentes de transtornos de personalidade. No entanto, a maneira

estereotipada, inflexvel e persistente de pensar, sentir e agir no ambiente, to caracterstica

dos transtornos de personalidade, pode estar por trs de muitas sndromes sintomticas.

Com essa relao to estreita entre os perfis de personalidade ou mesmo os

transtornos com as sndromes sintomticas, faz-se necessrio identificar como est

aparecendo o tema da personalidade na produo cientfica brasileira sob o enfoque da

abordagem cognitivo-comportamental. Tal descrio contribuiria para uma viso mais

globalizada da produo brasileira sobre o assunto e poderia sugerir caminhos para pesquisas

posteriores.

A escolha da literatura brasileira se deu por considerar que os temas psicopatologia e

psicoterapia esto inexoravelmente ligados ao local, cultura, aos nveis scio-econmicos

especficos de uma regio ou pas e so inevitavelmente dependentes dessas variveis. Dessa

forma, no difcil imaginar que os rumos que a psicoterapia cognitivo-comportamental vem

49

tomando no Brasil so certamente diferentes de outros lugares, se no na essncia, pelo menos

na forma.

IV. MTODO

A pesquisa do tipo bibliogrfica buscou elucidar as questes colocadas nos objetivos.

Conforme Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa seguiu as seguintes etapas:

Localizao do material bibliogrfico

As fontes bibliogrficas deste trabalho foram cinqenta e trs revistas de duas bases do

portal de peridicos capes. So eles: PePSIC Peridicos Eletrnicos em Psicologia (Anexo

A) e SciELO.ORG - Scientific Electronic Library Online (Anexo B). Dentro dessas bases,

interessaram a esta pesquisa os peridicos brasileiros de psicologia. Foram excludos da busca

apenas os peridicos especficos de outras abordagens. Todos os nmeros dos peridicos

disponveis on line foram considerados, sem delimitao de tempo.

Dentro de cada revista, realizou-se uma busca sistemtica de publicaes sobre os

temas: Personalidade, Transtornos de Personalidade, Transtorno de Pnico, Fobia Social,

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada, Depresso

Maior, Transtorno Bipolar e Distimia. Interessaram para essa pesquisa todos os trabalhos

publicados no Brasil de orientao Cognitivo-Comportamental.

Na busca, em cada uma das bases e revista especfica, foram usadas as seguintes

palavras e termos-chave:

Personalidade

Transtornos de Personalidade

50

Separadamente, todos os termos que nomeiam os transtornos de personalidade:

Paranide, Esquizide, Esquizotpica(o), Anti-Social, Borderline,

Histrinica(o), Narcisista, Esquiva, Dependente, Obsessivo-Compulsivo(a) e

Passivo-Agressivo(a).

Transtorno de pnico, Fobia Social, Ansiedade Social, Transtorno

Obsessivo-Compulsivo, TOC, Ansiedade Generalizada, Depresso, Depresso

Maior, Transtorno de Humor, Bipolar, Transtorno Distmico Distimia.

Os termos acima foram cruzados com as seguintes palavras:

Cognitiva(o),Comportamental,Cognitivo(a)-comportamental,

Comportamental-cognitiva, TCC, Terapia, Psicoterapia, Tratamento,

Interveno

Compilao e fichamento do material bibliogrfico: reunio sistemtica do

material encontrado e resumo dos artigos de cada tema especfico.

Descrio, Anlise e discusso:

Realizou-se a anlise de todo o material encontrado e uma descrio detalhada da

produo cientfica brasileira nos campos da psicologia no que tange ao tema da

personalidade. Quando possvel, foi usado o Teste de Qui-Quadrado para comparar as

freqncias das publicaes.

Seguiu-se uma discusso de como o tema personalidade foi e est sendo abordado

pelos pesquisadores no Brasil que trabalham com a TCC, no s no mbito dos transtornos de

personalidade mas tambm sua relao com os transtornos de humor e ansiedade

supracitados. Tal discusso objetivou entre outras coisas, explanar como tem sido tratada a

interface entre os transtornos de ansiedade e humor e os transtornos do Eixo II. E por fim,

sugerir rumos para pesquisas posteriores.

51

Para elucidar como os trabalhos sobre Transtornos de Humor e Ansiedade tm

abordado o tema da personalidade, foram usadas as categorias descritas abaixo:

No cita a palavra personalidade: Em nenhum lugar do artigo aparece a palavra

Personalidade.

Apenas cita sem fazer relaes: Artigos que citam uma ou duas vezes a palavra

personalidade, sem estabelecer relao direta com o transtorno do eixo I relatado.

Cita como fator a ser considerado: Diz claramente, pelo menos uma vez, que as

caractersticas (ou transtorno) de personalidade devem ser consideradas como tendo

relao com o transtorno abordado.

Cita ressaltando como