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PERSPECTIVA PEDAGÓGICA DA SAÚDE COMO ELEMENTO ARTICULADOR DOS CONTEÚDOS ESTRUTURANTES DO ENSINO MÉDIO André Nogaroto 1 RESUMO Discutir a temática saúde enquanto elemento articulador dos conteúdos estruturantes do ensino médio, por meio de conceitos teóricos, vivências e práticas reflexivas, buscando superar o conceito da Educação Física no âmbito escolar como mera atividade e/ou aquisição de aptidão física, para a categoria de conhecimento relevante, possível de ser apropriado pelos estudantes, foi o principal objetivo deste trabalho. O trabalho pedagógico consistiu do estudo de conceitos relacionados à temática, do estabelecimento de um protocolo de avaliação física e de uma tabela de critérios comparativos, os quais serviram para aprofundar o conhecimento dos estudantes em relação as suas aptidões físicas, possibilidades e limites do próprio corpo, além de reconhecerem o valor da aptidão física como um meio de usufruírem das práticas da cultura corporal. Durante toda a implementação do projeto, buscou- se a integração entre teoria e vivências práticas, com o intuito de facilitar a aprendizagem dos estudantes. Todas as etapas da implementação foram precedidas e orientadas por avaliações, as quais nortearam o trabalho didático e permitiram maior reflexão por parte dos estudantes. As avaliações e resultados obtidos, bem como o relato dos estudantes demonstram que os objetivos propostos inicialmente, foram atingidos, reforçando um dos importantes aspectos da Educação Física, qual seja, que o ser humano se constrói e reconstrói a partir dos conhecimentos que possui sobre o seu movimentar-se. Palavras chave: Educação Física. Saúde. Ensino Médio. Conteúdos Estruturantes. Elementos Articuladores. Aptidão Física. 1 Graduado em Educação Física em 1990 pela FAFICLA. Especialista em Treinamento Desportivo pela UEL – 1997. Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná desde 1994. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007. ABSTRACT Teaching Perspectives of Health as an Articulating Element of the Structuring Contents of a High School Curriculum Taking into account that health is Articulating Element of the Structuring Contents of a high school curriculum, through its theoretical concepts, practical experiences and reflective practice, one which goes beyond the concept of Physical Education as a

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PERSPECTIVA PEDAGÓGICA DA SAÚDE COMO ELEMENTO ARTICULADOR

DOS CONTEÚDOS ESTRUTURANTES DO ENSINO MÉDIO

André Nogaroto1

RESUMO

Discutir a temática saúde enquanto elemento articulador dos conteúdos estruturantes do ensino médio, por meio de conceitos teóricos, vivências e práticas reflexivas, buscando superar o conceito da Educação Física no âmbito escolar como mera atividade e/ou aquisição de aptidão física, para a categoria de conhecimento relevante, possível de ser apropriado pelos estudantes, foi o principal objetivo deste trabalho. O trabalho pedagógico consistiu do estudo de conceitos relacionados à temática, do estabelecimento de um protocolo de avaliação física e de uma tabela de critérios comparativos, os quais serviram para aprofundar o conhecimento dos estudantes em relação as suas aptidões físicas, possibilidades e limites do próprio corpo, além de reconhecerem o valor da aptidão física como um meio de usufruírem das práticas da cultura corporal. Durante toda a implementação do projeto, buscou-se a integração entre teoria e vivências práticas, com o intuito de facilitar a aprendizagem dos estudantes. Todas as etapas da implementação foram precedidas e orientadas por avaliações, as quais nortearam o trabalho didático e permitiram maior reflexão por parte dos estudantes. As avaliações e resultados obtidos, bem como o relato dos estudantes demonstram que os objetivos propostos inicialmente, foram atingidos, reforçando um dos importantes aspectos da Educação Física, qual seja, que o ser humano se constrói e reconstrói a partir dos conhecimentos que possui sobre o seu movimentar-se.

Palavras chave: Educação Física. Saúde. Ensino Médio. Conteúdos Estruturantes. Elementos Articuladores. Aptidão Física.

1 Graduado em Educação Física em 1990 pela FAFICLA. Especialista em Treinamento Desportivo

pela UEL – 1997. Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná desde 1994. Participante do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007.

ABSTRACT

Teaching Perspectives of Health as an Articulating Element of the Structuring Contents of a High School Curriculum

Taking into account that health is Articulating Element of the Structuring Contents of a high school curriculum, through its theoretical concepts, practical experiences and reflective practice, one which goes beyond the concept of Physical Education as a

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mere activity for the acquisition of physical fitness to be seen as of relevant knowledge which may be appropriate for students, was the main objective of this academic work. It consisted of the study of educational concepts related to the theme, the establishment of a protocol for assessing physical fitness and the building of a table of comparative criteria, which served to deepen the knowledge students have of their physical aptitudes, possibilities and limits of their own body, as well as to allow them to recognize the value of physical fitness as a way to enjoy the practices of body culture. Throughout the implementation of this project, the aim was to integrate theory and practice in order to facilitate students’ learning. All stages of implementation were preceded and guided by assessments, which guided the teaching work and allowed greater reflection on the part of students. The evaluations and results obtained, as well as the reports of students show that the proposed objectives have been achieved by strengthening one of the important aspects of the of Physical Education, that is, human beings are built and rebuilt according to the awareness they have of their movements

Keywords: Physical Education. Health. High School. Structuring Content. Articulating Elements. Physical Fitness.

1 INTRODUÇÃO

Nas Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica,

propostas pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, diversos conteúdos

foram categorizados como conteúdos estruturantes, sendo eles; os jogos, as

danças, as lutas, o esporte e a ginástica. Foram estabelecidos também os chamados

“elementos articuladores” que devem integrar e articular as práticas corporais,

permitindo um aprofundamento e diálogo entre elas (PARANÁ, 2006).

No presente artigo são apresentados os objetivos, fundamentações teóricas,

procedimentos e encaminhamentos pedagógicos, bem como os resultados

alcançados pelos alunos e conclusões emitidas pelo professor, durante o

desenvolvimento dos conteúdos relacionados à temática “saúde” enquanto elemento

articulador dos conteúdos estruturantes da Educação Física no ensino médio.

O projeto iniciou-se pela percepção de que dentre os elementos

articuladores, um deles, a saúde, esteve ligada em diversos momentos históricos

aos conteúdos da educação física escolar e presente, também, em várias vertentes

da educação física, como nos períodos higienista, militarista e tecnicista

(GUIRALDELLI JUNIOR, 1991), em que saúde era encarada apenas como

conseqüência da aptidão física obtida durante as aulas, fato que deu origem a

muitas críticas, pois o necessário suporte teórico e crítico que poderia subsidiar o

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conhecimento acerca da “cultura corporal” e elevar a temática ao nível de

conhecimento relevante, nunca foi ofertado aos estudantes nestes períodos.

Atualmente, a relação entre a aptidão física e um melhor estado de saúde é

propalada pela mídia, as academias estão repletas de praticantes que se atiram às

atividades sem refletir minimamente sobre elas e seus efeitos, e, até mesmo, o

neologismo “malhar” se tornou usual entre as pessoas, uma verdadeira mistificação

do “culto ao corpo”.

A par disso, a educação física escolar, não tem dado conta de subsidiar os

estudantes com conhecimentos técnicos e científicos que possam colaborar na

formação de cidadãos dotados de conhecimentos necessários a um entendimento,

amplo e aprofundado, acerca da aptidão física da saúde e dos elementos que

compõem a cultura corporal de movimentos.

Diante desses fatos, com a implementação do projeto, buscou-se atingir

alguns objetivos como; elaborar e aplicar um rol de conteúdos significativos que

contribuíssem na superação da aptidão física vista como mero resultado de

atividade, para a categoria de conhecimentos relevantes, que possibilitassem aos

estudantes a releitura e melhor entendimento das práticas corporais, expressas

pelos conteúdos estruturantes; por meio do conteúdo estruturante ginástica,

possibilitar aos estudantes, vivenciarem a prática de cada um dos componentes da

aptidão física relacionada à saúde; implementar um protocolo de avaliação física,

composto de testes motores que envolvessem conceitos teórico-práticos,

possibilitando aos estudantes interagirem com os componentes da aptidão física

relacionados à saúde, presentes nos elementos da cultura corporal de movimentos.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A educação física escolar ao longo das últimas décadas apoiou-se em

diversas vertentes ou movimentos pedagógicos em busca de sua legitimação dentro

da escola. Algumas dessas vertentes criaram raízes profundas na “cultura” da

educação física escolar, enraizando-se fortemente nas práticas desenvolvidas até

hoje dentro das escolas.

Dentre algumas vertentes que balizaram ou tiveram elementos fortemente

enraizados na educação física escolar, podemos destacar, a educação física de

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cunho higienista, a militarista e a educação física tecnicista que buscou enfatizar o

ensino dos desportos de rendimento nas escolas, período em que se consolidou a

implantação da desportivização na Educação Física Escolar (GUIRALDELLI

JUNIOR, 991). Em todas estas vertentes, a aptidão física sempre foi tratada como

objetivo a ser atingido durante atividades realizadas nas aulas, reduzindo as práticas

corporais a meras atividades destituídas de reflexão crítica.

A partir dos anos 1980, algumas tendências nas áreas pedagógicas

começaram a ganhar destaque entre os profissionais, como foi o caso da

psicomotricidade que surgiu contrapondo-se as perspectivas metodológicas de

automação e rendimento motor, expressos no modelo didático da desportivização da

Educação Física Escolar.

Em meados da década de 1980 um movimento buscando a renovação da

Educação Física e que se denominou “progressista” desenvolveu algumas

abordagens em que se destacam a pedagogia desenvolvimentista e a pedagogia

construtivista.

Vinculadas às discussões da pedagogia crítica brasileira e às análises das

ciências humanas, sobretudo da Filosofia da Educação e da Sociologia estão às

pedagogias crítico-emancipatória, e a pedagogia crítico-superadora – cujo objeto de

estudo da Educação Física é a “cultura corporal”, formada por conteúdos, tais como:

o esporte, a ginástica, a dança, as lutas e os jogos (PARANÁ, 2006).

Na década de 1990 foram elaborados os PCN – Parâmetros Curriculares

Nacionais – que continham elementos da pedagogia construtivista piagetiana,

elementos da abordagem tecnicista, sob a idéia de eficiência e eficácia, e, também,

defendiam o conceito de saúde e qualidade de vida do aluno pautado na aptidão

física. Verificou-se também, uma desvalorização da teoria, em nome de questões

imediatistas e abstratas, presentes na pedagogia das competências (PARANÁ,

2006).

Em alguns momentos da trajetória da Educação Física na escola, algumas

propostas descaracterizavam o caráter educativo da disciplina, vinculando a mesma

a momentos de lazer e recreação, conforme podemos observar nas palavras de

Guedes e Guedes (1993, p. 16):

Dentro desta realidade, varias propostas tem sido advogadas, entretanto, a maioria delas, a nosso ver, colocando o Professor de Educação Física como um simples coadjuvante do processo educacional, responsável, simplesmente por entreter e recrear as crianças e jovens através das chamadas atividades esportivas,

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organizar e acompanhar atividades comemorativas, ensinar habilidades relacionadas ao esporte, orientar atividades lúdicas, orientar atividades ginásticas, etc, ao invés de desenvolver um conjunto de conteúdos que possa, verdadeiramente, contribuir na formação, em termos educacionais do indivíduo, assim como o fazem qualquer outra disciplina pertencente ao currículo de I e II graus.

As Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica

ancorada na pedagogia crítico-superadora e que adota como objeto de estudo a

“cultura corporal” propõe como ‘conteúdos estruturantes’ para o ensino médio: Os

jogos, as danças, as lutas, o esporte e a ginástica, estabelecem também “elementos

articuladores” que devem integrar e articular as práticas corporais permitindo um

aprofundamento e diálogo entre elas. Os elementos articulares propostos são: O

corpo, a saúde, a desportivização, a tática e técnica, o lazer, a mídia e a diversidade

étnico-racial, de gênero e de pessoas com necessidades educacionais especiais

(PARANÁ, 2006).

Em todas as fases históricas da Educação Física Escolar em praticamente

todas as vertentes adotadas a cada tempo, percebemos que a aptidão física sempre

foi um tema valorado ou criticado como conteúdo, na maioria das vezes as críticas

foram procedentes, pois nos períodos higienista, militarista e tecnicista a aptidão

física foi tratada como meta a ser atingida e desenvolvida em sala de aula sem o

necessário suporte teórico e crítico da “cultura corporal” tão presente em nossa

sociedade.

Nas novas Diretrizes Curriculares para a Educação Física, um dos

elementos articuladores dos conteúdos de ensino médio é o tema saúde:

A saúde pode ser abordada tanto em seu aspecto individual, como bem de um sujeito singular, quanto em seu aspecto social, ou seja, no âmbito das relações socioambientais. Eis alguns elementos a serem considerados como constitutivos da saúde, na perspectiva destas Diretrizes Curriculares de Educação Física: - Nutrição: trata-se da abordagem das necessidades diárias de ingestão de carboidratos, de lipídios, de proteínas, de vitaminas e de aminoácidos, e também de seu aproveitamento pelo organismo, no processo metabólico que ocorre durante uma determinada prática corporal; - Aspectos anatomo-fisiológicos da prática corporal: trata-se de conhecer o funcionamento do próprio corpo; identificar seus limites na relação entre prática corporal e condicionamento físico, e propor avaliação física e seus protocolos; - Lesões e primeiros socorros: abordam informações sobre as lesões mais freqüentes ocorridas nas práticas corporais e como tratá-las a

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partir das noções de primeiros socorros. Trata-se, ainda, de discutir as conseqüências ou seqüelas do treinamento de alto nível no corpo dos atletas; - Doping: discutem-se as influências das condições econômicas, sociais, políticas e históricas no uso de substâncias ilícitas por atletas e não-atletas, numa sociedade pautada na competição exacerbada; os motivos, os valores determinantes no uso de esteróides anabolizantes e seus efeitos. (PARANÁ, 2006, p. 37).

Apontados estes elementos articuladores e após uma breve análise,

percebe-se que o tema saúde deve ser abordado tanto em seu aspecto individual,

como bem de um sujeito singular, quanto em seu aspecto social, ou seja, no âmbito

das relações sociais e nas relações com o ambiente.

Mais um aspecto a ser redimensionado na Educação Física Escolar são os

protocolos de avaliação física, que apesar de já terem superado os “exames

biométricos”, realizados durante décadas burocraticamente, com seus resultados

abandonados em arquivos e gavetas, sem cumprir nenhum papel de relevância para

o processo de ensino-aprendizagem, continuam sendo aplicados em muitas escolas,

sem contextualização, significação e valorização dos conhecimentos que podem

estar entrelaçados, aos resultados obtidos, a um nível de aptidão e saúde e aos

conteúdos estruturantes.

Diante disto, para desenvolver a temática saúde enquanto elemento

articulador dos conteúdos estruturantes do Ensino Médio, optou-se pela elaboração

de um material didático específico, bem como pela implementação do mesmo na

escola e acompanhamento dos resultados por meio de avaliação.

Algumas reflexões e questionamentos serviram como base na elaboração do

material didático bem como na implementação do projeto, sendo elas;

• Quais conteúdos devem ser desenvolvidos em sala de aula, relacionados

à aptidão física e a saúde, que venham superar o caráter de mera

atividade e aquisição de aptidão física nas aulas, para a categoria de

“conhecimento” relevante e que possa ser apropriado pelos alunos de

forma a torná-los autônomos em relação à prática de atividades

corporais?

• Quais conceitos teóricos são fundamentais para que o aluno possa balizar

as atividades corporais de forma a possibilitar um entendimento

aprofundado em relação ao funcionamento e aos limites do corpo?

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• Qual o protocolo de avaliação física deve ser implementado e quais

conceitos teórico-práticos devem ser ministrados de forma a tornar esta

prática parte de um conhecimento com importância social, e que permita

uma leitura e um aprofundamento das possibilidades e necessidades

corporais dentro da cultura de movimentos?

Na busca por respostas para esses questionamentos, foram consultados

autores e literaturas, os quais apontaram alguns caminhos.

Atualmente entende-se a Educação Física Escolar como uma área que trata

da “cultura corporal” e que tem como finalidade introduzir e integrar o aluno nesta

esfera, auxiliando na formação de quem vai produzi-la, reproduzi-la e também

transformá-la. Nesse sentido, o aluno deverá ser instrumentalizado para usufruir dos

jogos, danças, lutas, ginástica e esporte em benefício do exercício crítico da

cidadania e da melhoria da qualidade de vida (BETTI, 1992).

Ao analisarmos o fenômeno do culto ao corpo, da cultura das academias de

ginástica, da criação do neologismo “malhar”, do surgimento do personal trainner, e

do consumo ligado às atividades físicas, notaremos claramente que existe toda uma

mistificação em relação à atividade física e sua relação com a saúde.

A Educação Física Escolar deve sob este contexto ser capaz de propiciar

condições de dotar os alunos de autonomia em relação à prática de atividades

corporais, desmistificando o “culto ao corpo”, buscando durante o período de

escolarização, promover uma formação sólida em relação à prática de atividades

físicas, com conhecimentos teóricos e vivências práticas de maneira que eles

possam manter uma atividade física regular, sem o auxílio de especialistas se assim

desejarem.

Um aspecto que deve ser considerado neste caso é o domínio cognitivo, ou

seja, o conhecimento e o reconhecimento da importância da atividade física, que

significa, entender, compreender o porquê realizar atividade física, como realizá-la,

quais os efeitos, além de outros, (DARIDO, RANGEL-BETTI, RAMOS, GALVÃO,

FERREIRA, SILVA, RODRIGUES, SANCHEZ, PONTES e CUNHA, 2001).

Para possibilitar a integração dos conteúdos estruturantes através do tema

articulador saúde, com aquisição significativa de conhecimentos, fez-se necessário

dominar conceitos básicos relativos ao tema.

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Sendo abordada inicialmente em seu aspecto individual e com isso

possibilitar o avanço do conhecimento em relação ao seu aspecto social, permitindo

a reflexão e crítica de condicionantes históricas em relação às práticas corporais.

Dentre os conceitos que devem ser levados em consideração destacamos:

Saúde; Com alguma freqüência o termo saúde tem sido caracterizado como

ausência de doença, uma concepção vaga e difusa, pois a saúde não pode ser algo

de apreensão empírica, ou um fenômeno objetivo e diretamente observável. Pelo

contrário, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, saúde se identifica com

uma multiplicidade de aspectos do comportamento humano, voltados a um estado

de completo bem-estar físico, mental e social (GUEDES e GUEDES, 1995).

Graças a essa conceituação, assumimos uma posição de mudança em

relação à dicotomia saúde e doença, apontando para uma visão mais abrangente

em que essas duas noções antagônicas devam ser analisadas como fenômeno de

um processo multifatorial e contínuo.

Nessa perspectiva fica evidente que o estado de ser saudável não é algo

estático, pelo contrário, é necessário adquiri-lo, construí-lo e reconstruí-lo

constantemente ao longo da vida, oferecendo claros indícios de que a saúde além

de ser fruto do ambiente social é também de domínio educacional, e, que não deva

ser tratada apenas com base em referenciais de natureza biológica e higienista,

mas, sobretudo num contexto didático-pedagógico.

Atividade física; É definida como qualquer movimento corporal, produzido

pelos músculos esqueléticos, que resultem em gasto energético maior do que os

níveis de repouso (GUEDES e GUEDES, 1995).

Exercício Físico; Por definição, exercício físico é toda atividade física

planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manutenção

de um ou mais componentes da aptidão física (GUEDES e GUEDES, 1995).

Aptidão Física: Apesar da sua importância para a saúde e para a realização

de atividades corporais, uma definição exata não tem sido aceita universalmente,

porém duas definições serão consideradas segundo a Organização Mundial da

Saúde (WHO, 1978), a aptidão física deve ser entendida como “a capacidade de

realizar trabalho muscular de maneira satisfatória”, o que nos parece um tanto

restrito em relação a uma definição bem mais ampla e abrangente proposta por

Bouchard e colaboradores (1990) e reproduzida por Guedes e Guedes (1995, p.15):

[...] um estado dinâmico de energia e vitalidade que permita a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações

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ativas das horas de lazer, mas também evitar o aparecimento das disfunções hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria em viver.

Outro ponto importante que pode influenciar no conhecimento do próprio

corpo, bem como identificar limites na relação entre prática corporal e

condicionamento físico, é o estabelecimento de um protocolo de avaliação física

para os alunos do ensino médio, não como apenas um instrumento de medida, mas

correlacionado com conceitos teóricos e análise crítica dos resultados observados.

Utilizado como estratégia para atingir um conhecimento amplo a respeito do

“culto ao corpo” presente em nossa sociedade e permitir uma tomada de posição

autônoma em relação às práticas corporais e aos mecanismos sociais circundantes.

Em relação à adoção de um protocolo de avaliação física, parece-nos

interessante que este protocolo seja composto de testes que mantenham relação

com componentes da aptidão física relacionados à saúde, em detrimento de

componentes com relação à prática esportiva, em que predominam a competição e

níveis máximos de esforço.

Neste sentido, Barbanti (1991), relaciona alguns componentes da aptidão

física relacionada à saúde que são: resistência aeróbica, força muscular, resistência

muscular, flexibilidade e composição corporal. Já Gallahue e Ozmun (2002),

relacionam um conjunto de testes mais comumente utilizados em pesquisas de

aptidão física relativa a saúde em crianças, bem como uma síntese das descobertas

apuradas por estas pesquisas, tornando-se um referencial bastante importante na

adoção de um protocolo de avaliação física para os alunos do ensino médio.

Os Componentes descritos por Gallahue e Ozmun (2002), para os quais eles

apresentam alguns testes comuns realizados são: Resistência cardiovascular, força

muscular, resistência muscular, flexibilidade e composição corporal.

Na maioria dos estudos realizados em escolares os componentes testados e

os testes realizados não diferem muito, tornando-se um bom referencial em relação

a qual teste usar, cabendo ressaltar que é possível e desejável criar adaptações

para uma realização com ênfase pedagógica quando pensarmos em um protocolo

de avaliação física que deva ser utilizado como estratégia de aprendizagem sobre a

saúde e as práticas corporais, na Educação Física Escolar.

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2.2 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Durante o desenvolvimento do projeto, buscou-se elaborar e re-elaborar

conteúdos que pudessem facilitar o entendimento dos alunos em relação à saúde

enquanto elemento articulador dos conteúdos estruturantes da Educação Física

Escolar, bem como se buscou estabelecer uma padronização mínima no

desenvolvimento e abordagem dos conteúdos, facilitando o trabalho docente e

respeitando as diferenças locais e equipamentos disponíveis.

O conteúdo estruturante com o qual se trabalhou durante o desenvolvimento

do projeto foi à ginástica. Optou-se por este conteúdo pela facilidade de aplicar

diretamente atividades ginásticas que se relacionam com os componentes da

aptidão relacionada à saúde.

O material didático teórico foi produzido com base nos conceitos de saúde,

aptidão física, componentes da aptidão física relacionados à saúde e critérios de

avaliações físicas.

Estabeleceu-se ainda um protocolo de avaliação física, que está descrito

detalhadamente no tópico sobre material didático, o qual foi implementado com os

estudantes e que em sala de aula, tiveram seus resultados classificados, discutidos

e analisados, o que contribuiu significativamente para aprimorar o nível de

conhecimentos sobre o próprio corpo, sobre suas limitações e possibilidades e sobre

os componentes da aptidão física, colaborando para desmistificar as práticas ligadas

ao “culto ao corpo”.

Procurou-se constantemente reforçar o caráter pedagógico desses

conteúdos e procedimentos, entrelaçando-os com os conteúdos estruturantes,

cientes da importância da abordagem dessas informações que podem e devem ser

transformadas em conhecimentos úteis e necessários dentro de um entendimento

amplo e aprofundado da cultura corporal de movimentos.

Durante todo o desenvolvimento do projeto, bem como na sua finalização,

foram realizadas avaliações (APÊNDICES A e B), para apurar os níveis de

apreensão dos conteúdos, como também para direcionar o encaminhamento

pedagógico e oferecer subsídios ao professor quanto aos resultados dos

procedimentos adotados e analisar a efetividade e necessidade de possíveis

modificações nos conteúdos e protocolos propostos.

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2.2.1 Implementação do projeto na escola

A implementação do projeto na escola se deu durante um semestre e foi

realizado em 36 aulas, em seis ações distintas, porém interligadas e

complementares que foram planejadas e executadas a fim de possibilitar o

desenvolvimento da proposta de intervenção na escola.

O que se propôs foi explorar o elemento articulador saúde numa perspectiva

de interligação das atividades corporais por meio de conteúdos teórico-práticos que

subsidiassem a prática pedagógica no desenvolvimento da temática proposta.

Como estratégia foi proposta a implementação de uma bateria de testes

motores, junto com análises dos resultados e completo entendimento dos conceitos

acerca dos componentes da aptidão física, com o objetivo de oferecer aos

estudantes subsídios para chegarem a um melhor entendimento das práticas

corporais e maior conhecimento dos limites e capacidades do seu próprio corpo,

reforçando o caráter pedagógico dessa atividade.

A apresentação, discussão e análise dos conceitos sobre aptidão,

componentes da aptidão e saúde, precederam a aplicação da bateria de testes

motores, subsidiando todas as ações e conclusões resultantes do processo.

A primeira ação implementada, com base no material didático desenvolvido,

foi à apresentação, discussão e análise de conceitos teóricos relacionados com os

componentes da aptidão física e saúde. Neste primeiro momento, cada conceito foi

trabalhado de forma teórica, porém, buscando sempre adequar o conteúdo à

realidade dos estudantes, valendo-se de exemplificações que puderam facilitar o

entendimento e apreensão do conteúdo.

Os temas e conceitos que foram estudados foram:

• Saúde;

• Aptidão física;

• Componentes da aptidão física;

• Força muscular;

• Resistência muscular;

• Flexibilidade;

• Resistência Cardiorrespiratória.

A segunda ação implementada consistiu na apresentação de um protocolo

de avaliação da aptidão motora, uma tabela de critérios e de uma bateria de testes,

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tendo como base a proposta Physical Best (AAHPERD, 1988), os quais foram

utilizados com o objetivo de avaliar os componentes da aptidão física dos estudantes

e subsidiar a discussão de suas implicações e aplicações no cotidiano e nas

relações com os conteúdos estruturantes da Educação Física no Ensino Médio.

Optou-se por uma bateria de testes que pudesse ser facilmente aplicada e

com resultados referenciados por critérios compatíveis com a população escolar,

facilitando com isso que cada jovem individualmente pudesse saber se é capaz de

alcançar os padrões previamente estabelecidos.

Cada teste foi apresentado, analisando o que se procurar medir com ele e

quais os critérios estabelecidos e sua significação enquanto resultado. Durante toda

a análise, buscou-se não perder o enfoque pedagógico dado a esta bateria de

testes, deixando bastante claro que os padrões a que esta bateria de testes se

refere, mede uma situação em que se pode inferir que a pessoa se encontra em um

melhor estado de aptidão física e que estar "fora do padrão", não significa demérito

algum, apenas a constatação de um estado corporal que inspire novas atitudes por

parte do estudante.

A terceira ação consistiu-se na aplicação das avaliações de peso, estatura e

desenvolvimento do cálculo de índice de massa corporal para jovens (IMC), com os

estudantes, os quais realizaram uma auto-avaliação através da comparação com

critérios estabelecidos pela tabela Physical Best estudada anteriormente

(AAHPERD, 1988).

Os testes de peso e estatura, bem como a aprendizagem do cálculo do

índice de massa corporal, foram precedidos de uma devida explicação quanto aos

seus significados e implicações, buscando-se assim abordar o tema sob um enfoque

pedagógico.

Atividades como realizar a medida de estatura corporal deitado e comparar

com o resultado alcançado pelo protocolo em pé, conduziu os estudantes a

questionamentos bastante interessantes, garantindo-se dessa maneira uma melhor

apreensão dos conteúdos e uma aprendizagem mais significativa.

Outra estratégia adota foi, como tarefa de casa, realizar a medida de

estatura na parte da manha e à noite, o que também possibilitou aprofundar a

reflexão sobre a dinâmica corporal e as variações decorrentes dessa dinâmica.

Após aprendizagem do cálculo, e da realização da auto-avaliação, os

estudantes puderam desenvolver atividades complementares, tais como; avaliar o

índice de massa corporal dos pais, familiares e ou conhecidos, como forma de

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reforço do conteúdo e para perceberem a variedade da condição física da população

da qual fazem parte.

Nesta ocasião foram ainda abordadas como conteúdo complementar por

meio de artigos e pesquisa na Internet as conseqüências do sobrepeso no

comprometimento da saúde e as possíveis estratégias de manutenção ou de

redução do peso corporal.

A quarta ação realizada foi a aplicação dos testes de flexibilidade, flexões

abdominais, flexões de braço e corrida/caminhada de 12 minutos, analisando cada

teste e possibilitando por meio da reflexão e análise dos estudantes a percepção das

suas capacidades e limitações.

A aplicação de cada um dos testes segundo o protocolo proposto no material

didático permitiu aos estudantes coletar os resultados, anotá-los e fazer sua auto-

avaliação no momento da apresentação dos critérios pré-estabelecidos (tabela de

critérios estabelecidos pela proposta Physical Best – Adaptada por sugestões do

autor).

Durante a aplicação de cada um dos testes buscou-se a fidedignidade na

realização, porém o enfoque mais importante sempre foi o pedagógico, que

explicitava claramente qual o componente mensurado bem como a sua relação com

a aptidão física, com um melhor estado de saúde e com os elementos presentes na

cultura corporal de movimento.

O desenvolvimento de um circuito de ginástica calistênica como estratégia

para vivenciar e melhorar os índices obtidos na avaliação física foi a quinta ação

implementada, a qual contou ainda com uma outra estratégia de ensino, a saber, o

desenvolvimento de um circuito de exercícios ginásticos, que permitiu aos alunos

vivenciar a aplicação e formas de se alcançar melhorias nos níveis de cada um dos

componentes da aptidão física estudados, avaliados, mensurados e classificados

anteriormente.

O circuito de exercícios foi composto de seis “estações” com diferentes

atividades, em cada estação. A realização de cada uma das atividades (exercícios)

variou entre 30 segundos e um minuto, em cada uma das passagens pelo circuito.

Ao comando do professor, que controlava o tempo, os estudantes mudavam de

“estação” e realizavam outro exercício.

Em cada uma das estações os exercícios realizados abordavam

prioritariamente um dos componentes da aptidão física estudados, num primeiro

momento foi adotada a seguinte seqüência;

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• Sobe e desce da arquibancada ou escada ou ainda “step” (força muscular

localizada);

• Corrida suave em torno de cones (resistência cardiorrespiratória);

• Alongamentos dos membros inferiores – podendo realizá-los sentados na

postura do teste de flexibilidade ou ainda de pé (flexibilidade);

• Flexão de braços com apoio (força/resistência muscular localizada);

• Pular corda ou pequeno obstáculo repetidamente (atividade

cardiorrespiratória);

• Alongamentos dos membros superiores e do tronco, realizados de forma

dinâmica (flexibilidade).

Num segundo momento os estudantes foram divididos em grupos e com

auxílio do material didático disponibilizado pelo professor elaboraram diferentes

circuitos contemplando os diversos componentes da aptidão física relacionada à

saúde.

Nas aulas subseqüentes os circuitos desenvolvidos pelos estudantes foram

executados por todos, sempre seguidos por discussão e análise acerca das

atividades realizadas. Todas as atividades realizadas foram anotadas através de

relatórios e comparadas em sala de aula, com o objetivo de estabelecer quais

circuitos foram mais efetivos, contemplando os principais componentes da aptidão

física relacionada com a saúde.

A sexta e última ação do projeto consistiu nas avaliações dos conteúdos

estudados através da aplicação de questionamentos a serem respondidos pelos

estudantes pautados nos resultados pessoais apurados e nas vivências realizadas.

Como reforço das atividades desenvolvidas, durante a implementação da

proposta de intervenção, para cada uma das ações, houve sempre a realização de

uma tarefa avaliativa, como se segue:

• Na ação referente à apuração de peso e estatura e cálculo do índice de

massa corporal, a tarefa de avaliar os familiares, foi levada em

consideração como instrumento que demonstrou a aprendizagem.

• Após a realização de cada teste da bateria avaliativa, uma auto-avaliação

foi realizada e os conceitos estudados retomados, reforçando o processo

de aprendizagem.

• Na ação referente ao circuito de exercícios de ginástica, a elaboração

pelos próprios estudantes de um novo circuito que buscou contemplar os

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componentes da aptidão física voltada à saúde foi indicativo do nível de

aprendizagem, constituindo-se num importante instrumento avaliativo.

Ao final das ações propostas, foram realizadas duas últimas avaliações, num

primeiro momento, os estudantes transcreveram os resultados obtidos nos testes

avaliativos e procederam a uma análise pessoal dos resultados e de suas

expectativas em relação à melhoria ou manutenção dos níveis alcançados, bem

como possíveis estratégias de prática motora a serem adotadas que envolvessem os

componentes estudados; num segundo momento os estudantes foram submetidos a

uma prova de múltipla escolha que buscou verificar o nível de conhecimento

adquirido sobre os conceitos aprendidos, as vivências realizadas e as

interdependências dos componentes da aptidão física relacionada à saúde com os

elementos da cultura corporal.

2.2.2 Material didático desenvolvido

O material didático desenvolvido foi apresentado em forma de um OAC –

Objeto de Aprendizagem Colaborativo e disponibilizado no Portal Dia-a-Dia

Educação. Dentre os principais elementos do OAC que embasam o material didático

produzido e que descrevem todos os procedimentos teóricos e protocolos de da

bateria de testes implementada, destacam-se a contextualização e a investigação

disciplinar, reproduzidos a seguir:

• Contextualização: Ginástica Escolar e Avaliação Física Como Proposta

Educacional no Combate ao Sedentarismo.

Os diversos meios de comunicação constantemente apresentam pesquisas

que atestam altos percentuais de sedentarismo, bem como doenças e complicações

decorrentes do mesmo entre a população brasileira (FOLHA ONLINE, 2007;

SANT’ANNA, 2008).

Algumas das notícias informam que os níveis de sedentarismo e doenças

relacionadas atingem uma parcela significativa de adultos e estão se intensificando

entre os mais jovens.

Conhecimentos mais aprofundados e significativos em relação à

manutenção da saúde, por meio de exercícios físicos, podem vir a se tornar um dos

aspectos de relevância na Educação Física Escolar. A avaliação física e a ginástica

escolar quando trabalhadas sob uma perspectiva pedagógica e com sólido

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embasamento teórico deve propiciar se não a reversão dos níveis de sedentarismo,

ao menos o suporte para que os educandos adquiram clareza quanto à necessidade

e importância das práticas de atividades físicas constantes na vida do cidadão.

Comumente observa-se que pautadas na mídia e na questão estética

(CORPOPERFEITOVIDEOS, 2007), as academias de ginástica conseguem um

expressivo número de alunas e alunos (clientes), os quais geralmente buscam

resultados imediatos geralmente estéticos, sendo apenas orientados durante sua

prática, abdicando de conhecimentos mais aprofundados em relação aos benefícios

da prática regular de exercícios físicos. Via de regra os mesmos não se mantém

praticando as atividades físicas por um longo período, geralmente o fazem em

períodos que se restringem aos meses que antecedem o verão.

Enquanto conteúdo da Educação Física Escolar, a ginástica pode romper

com o paradigma estético, sendo abordada pedagogicamente em suas mais

diversas formas, quer seja como modalidade esportiva ou uma das variadas formas

não competitivas (localizada, natural, laboral ou mesmo recreativa).

Fundamentalmente o enfoque sobre a aptidão decorrente das práticas de ginástica,

deve ser pedagógico e estar focado no sólido embasamento dos educandos acerca

dos conceitos e entendimentos dos componentes da aptidão física.

A ginástica e a avaliação física na escola quando trabalhadas com o objetivo

de conscientizar os educandos sobre suas possibilidades e limitações, serão fortes

aliadas na construção da consciência corporal e na apropriação pelos educandos da

cultura de movimento corporal, os quais por sua vez poderão optar como sujeitos

pela prática corporal e motora de sua preferência, aprendendo a decidir e fazer

escolhas, exercícios esses fundamentais no aprendizado da autonomia e na

formação da cidadania.

• Investigação Disciplinar: Avaliação e Conceituação dos Componentes

da Aptidão Física, Relacionados à Saúde.

Como se apresenta a condição física de nossos alunos? Nossos alunos têm

conhecimento e ou percepção dos níveis de sua aptidão física? Conhecem algum

parâmetro para auto-avaliação em relação aos componentes da aptidão física?

Reconhecem quais são os componentes de aptidão física que se relacionam com a

saúde e sabem como aprimorar sua condição física em relação a esses

componentes? Qual protocolo de avaliação poderia ser implementado nas aulas de

Educação Física para compor uma prática pedagógica significativa e integradora dos

conteúdos?

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Um primeiro momento fundamental é compreender que a aptidão física

permeia todos os conteúdos da Educação Física, facilitando ou limitando as práticas

corporais, dentro e fora das aulas. A relação entre exercícios físicos, aptidão física e

melhores níveis de saúde também precisa ser entendida, pois muitos estudos já

estabeleceram a complexa relação os níveis de prática de exercícios físicos, os

índices da chamada aptidão física e o estado de saúde das pessoas (SKINNER e

OJA, 1994; SHARKEY, 1984; CLAUSEN, 1973; SHEPHARD, 1987;

PAFFENBARGER et alii, 1983; apud GUEDES, 1995).

Uma abordagem quanto à aceitação e convivência com as diferenças

individuais de estatura, peso e aspectos relacionados à aparência, pode e deve ser

realizada neste momento, fortalecendo o enfoque pedagógico e atendendo o

proposto nas Diretrizes Curriculares para a Escola Pública do Paraná.

Em seguida é necessário e fundamental para o aluno conhecer e

compreender alguns conceitos básicos:

Saúde; Deve ser entendida como um estado de “bem estar físico, mental e

social”. Não bastando não estar doente para se ter saúde, mas apresentando

evidências ou atitudes que afastem ao máximo os fatores que possam desencadear

as doenças (GUEDES e GUEDES, 1995).

Aptidão Física: Apesar da definição proposta pela Organização Mundial da

Saúde (W.H.O.) que afirma ser a aptidão física “a capacidade de realizar trabalho

muscular de maneira satisfatória”, outra definição apesar de mais complexa, permite

um entendimento mais aprofundado do termo, reforçando a idéia de funcionamento

integrado dos sistemas de nosso organismo; “um estado dinâmico de energia e

vitalidade que permita a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano,

as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem

fadiga excessiva, mas também evitar o aparecimento das disfunções hipocinéticas,

enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentindo uma alegria em

viver” (BOUCHARD et alii, 1990 apud GUEDES 1995, p.15).

Componentes da aptidão física voltados à saúde e à prática esportiva:

Apesar de ser bastante comum nas aulas de educação física a realização de

atividades em que estão presentes os componentes velocidade e agilidade, os

autores de maneira geral dividem os componentes da aptidão física voltados à

saúde em força e resistência muscular localizada, flexibilidade e resistência

cardiorrespiratória (componente cardiorrespiratório), além de uma composição

corporal adequada (peso adequado à altura).

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Os componentes da aptidão física voltados à prática esportiva são definidos

como, velocidade, potência muscular, agilidade, equilíbrio, tempo de reação e

resistência anaeróbia. Além de separarem os componentes de maneira semelhante,

também são unânimes em afirmar que os componentes voltados à prática esportiva

devem ser perseguidos pelos atletas já os componentes voltados à saúde, deveriam

ser objetivo de busca constante por todas as pessoas em razão da adquirirem

juntamente melhores níveis de saúde.

Força/Resistência Muscular: Pode ser definida fisiologicamente como a

capacidade de exercer tensão muscular contra uma determinada resistência.

Portanto, todas as vezes que desenvolvemos tensão onde exista uma resistência

oposta estaremos realizando um trabalho de força. Já a resistência muscular refere-

se ao tempo máximo em que um indivíduo é capaz de manter a força isométrica ou

dinâmica em um determinado exercício ou capacidade de manter a capacidade

contrátil do músculo.

Flexibilidade: É definida como amplitude máxima de movimento voluntário

em uma ou mais articulações sem lesioná-las.

Resistência Cardiorrespiratória: Definida como a capacidade de suprir com

oxigênio todo o organismo humano durante trabalho muscular, associada à

capacidade dos tecidos de utilizar o oxigênio na sustentação do esforço físico

intenso e de duração mais ou menos prolongada.

Após o completo domínio pelos alunos dos conceitos estudados, o passo

seguinte será a aplicação de uma bateria de testes motores, o que possibilitará a

vivência prática de cada componente da aptidão física especificamente, além da

obtenção de resultados individuais, e uma efetiva avaliação e auto-avaliação dos

resultados.

A literatura disponível apresenta alguns protocolos de avaliações

antropométricas e motoras para os componentes relacionados à saúde (BARBANTI

e FREITAS JÚNIOR, 1993; MARINS e GIANNICHI, 1996) e cada protocolo

apresentado trás para avaliação de resultados obtidos, parâmetros ou critérios

próprios estabelecidos com base em achados clínicos e às vezes por comparação

entre populações e ainda algumas vezes por valores médios de populações, o que

pode resultar em parâmetros muitas vezes inadequados para serem utilizados com

escolares.

Diante disso optamos por uma bateria que possa ser facilmente aplicada e

com resultados referenciados por critérios compatíveis com a população escolar,

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facilitando com isso que cada jovem individualmente possa saber se é capaz de

alcançar os padrões previamente estabelecidos, adaptando os resultados e

propondo substituição de testes buscando simplificar sem perder, porém, o enfoque

pedagógico dado a está bateria de testes.

Neste ponto, novamente devemos atentar para o enfoque pedagógico,

explicitando claramente que os padrões a que este esta bateria de testes se refere,

mede uma situação em que se pode inferir que a pessoa se encontra em um melhor

estado de aptidão física e que estar "fora do padrão", não significa demérito algum,

apenas a constatação de um estado corporal que inspire novas atitudes por parte do

aluno.

Um dos protocolos mais utilizados para avaliação em escolares, por utilizar

padrões específicos para cada sexo e grupo etário e interpretar as informações

concernentes com o modelo de aptidão física relacionada à saúde, e que tem

recebido maior aceitação em todo o mundo e também muito utilizado no Brasil é o

“Physical Best” (AAHPERD, 1988). Diante de muitos protocolos que não foram

estabelecidos para escolares estes é o que se apresenta como a melhor alternativa

para se utilizar como instrumento pedagógico.

Os testes que compõe a proposta Physical Best e que facilmente podem ser

realizados e podem compor uma bateria avaliativa, permitindo uma clara explicitação

dos componentes da aptidão física e suas relações com a saúde são: Teste de

“sentar e alcançar” (flexibilidade), Flexões abdominais (força/resistência muscular

localizada) e corrida/caminhada de longa distância (resistência cardiorrespiratória),

além da determinação do índice de massa corporal por meio da aferição de peso e

estatura e aplicação de fórmula de cálculo apropriada.

Além dos testes constantes na bateria proposta, seria adequada a aplicação

de mais um teste de força/resistência muscular localizada, que pode ser a tradicional

flexão de braços, pela sua simplicidade de aplicação e avaliação de resultados pela

média da turma, separados por sexo.

Os resultados propostos pelo Physical Best – adaptado em metros de

corrida por minuto, com o teste de flexão de braços e resultados avaliados por média

da turma são apresentados na TABELA 1 (feminino) e TABELA 2 (masculino).

TABELA 1 – Critérios específicos de aptidão física e saúde para o sexo feminino e

faixa etária estabelecidos pela proposta Physical Best (AAHPERD,

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1988) – adaptada em metros por minuto e flexões de braço conforme

os objetivos pedagógicos propostos para o Ensino Médio.

Idade IMC Corrida/Caminhada

Metros/Minuto

Sentar e

Alcançar

Flexões

Abdominais

*Flexões

de Braço

10 14–21 146,27 25 30 Valor

médio da

turma

11 14–21 146,27 25 33 Valor

médio da

turma

12 15–22 146,27 25 33 Valor

médio da

turma

13 15–23 153,23 25 33 Valor

médio da

turma

14 17–24 153,23 25 35 Valor

médio da

turma

15 17–24 153,23 25 35 Valor

médio da

turma

16 17–24 153,23 25 35 Valor

médio da

turma

17 17–25 153,23 25 35 Valor

médio da

turma

18 18–26 153,23 25 35 Valor

médio da

turma

TABELA 2 – Critérios específicos de aptidão física e saúde para o sexo masculino e

faixa etária estabelecidos pela proposta Physical Best (AAHPERD,

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21

1988) – adaptada em metros por minuto e flexões de braço conforme

os objetivos pedagógicos propostos para o Ensino Médio.

Idade IMC Corrida/Caminhada

Metros/Minuto

Sentar e

Alcançar

Flexões

Abdominais

*Flexões

de Braço

10 14–20 169,37 25 34 Valor

médio da

turma

11 15–21 178,78 25 36 Valor

médio da

turma

12 15–22 178,78 25 38 Valor

médio da

turma

13 16–23 201,13 25 40 Valor

médio da

turma

14 16–24 207,61 25 40 Valor

médio da

turma

15 17–24 214,53 25 42 Valor

médio da

turma

16 18–24 214,53 25 44 Valor

médio da

turma

17 18–25 214,53 25 44 Valor

médio da

turma

18 18–25 214,53 25 44 Valor

médio da

turma

Os procedimentos para a aplicação dos testes devem ser precedidos de

uma clara explicação aos alunos quanto aos objetivos e procedimentos em cada

situação. Lembrando sempre que o objetivo dos testes é antes de tudo pedagógico e

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que a fidedignidade dos testes deve sempre ser buscada, porém a ênfase deve ser

dada nos testes e na avaliação como estratégia pedagógica.

Algumas estratégias podem ser adotadas neste ponto, possibilitando o

surgimento de diversos questionamentos e visando melhorar o nível de

aprendizagem. Atividades como realizar a medida de estatura deitado e comparar

com o resultado alcançado pelo protocolo em pé, pode levar a questionamentos

bastante interessantes, ou ainda, como tarefa de casa, realizar a medida de estatura

na parte da manha e à noite, o que também pode aprofundar a reflexão sobre a

dinâmica corporal e as variações decorrentes dessa dinâmica.

Para a medida de estatura recomenda-se a utilização de um estadiômetro de

madeira ou balança antropométrica, como material alternativo, também se pode

utilizar uma fita métrica fixada na presa à parede. O protocolo para esta avaliação

implica em que o avaliado esteja sem calçado, posicionado de maneira ereta, com

os membros superiores pendentes ao longo do corpo, pés unidos, procurando

colocar em contato com a escala de medida as superfícies posteriores do calcanhar,

a cintura pélvica, a cintura escapular e a região occipital, durante a determinação da

medida o avaliado deverá permanecer em apnéia respiratória, olhar voltado a frente

e com a cabeça paralela ao solo.

Para a medida de peso corporal o avaliado deve estar com o mínimo de

roupa possível e sem calçados, deve permanecer no centro da plataforma da

balança, ereto, braços ao longo do corpo, com olhar fixo a frente buscando evitar

oscilações durante a leitura da medida.

O índice de massa corporal deverá ser calculado de preferência pelos

próprios alunos, cada qual com suas próprias medidas antropométricas, mediante a

fórmula IMC= Peso Corporal (Kg)/Estatura (m2), o que permitirá realizar uma auto-

avaliação, ocasião em que o professor deverá aproveitar para explanar sobre as

conseqüências do sobrepeso no comprometimento da saúde, bem como

desenvolver conteúdo adequado que aborde estratégias de manutenção ou de

redução do peso corporal.

O teste de “sentar e alcançar” para medir a flexibilidade foi proposto por ser

de fácil aplicação e execução e por envolver um grande grupo de articulações com

ênfase na região posterior da coxa e na região lombossacra. Este teste foi proposto

inicialmente por Wells e utiliza-se de um equipamento que apesar de não se ajustar

de indivíduo para indivíduo é relativamente simples e de fácil construção. O

equipamento é uma caixa de madeira conhecida como “Banco de Wells”,

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apresentando dimensões de 30,5 x 30,5 x 30,5 centímetros, tendo a parte superior

plana com 56,5 centímetros de comprimento, na qual é fixada a escala de medida

sendo que o valor 23 coincide com a linha onde o avaliado deverá acomodar seus

pés e o limite da escala é de 50 centímetros.

O protocolo determina que o avaliado deva estar descalço e assumir uma

posição sentada de frente para o aparelho e com os pés em baixo da caixa, joelhos

completamente estendidos e com os pés encostados contra a caixa. O avaliador

(professor) deverá apoiar os joelhos do avaliado, garantindo que os mesmos

permaneçam estendidos durante o movimento de extensibilidade. Para a realização

o avaliado deverá estender-se à frente com as palmas das mãos voltadas para

baixo, uma sobre a outra e em contato com a caixa, procurando alcançar a maior

distância possível, realizando o movimento de modo lento e sem solavancos. Devem

ser realizadas três tentativas, com manutenção da posição por aproximadamente um

segundo, sendo considerado o melhor valor alcançado.

O teste de flexões abdominais por utilizar um grande grupo muscular será

realizado durante 60 segundos, preferencialmente com a utilização de colchonetes

para maior conforto durante a aplicação do teste. O procedimento inicia-se com o

avaliado deitado de costas, joelhos flexionados, plantas dos pés no chão, com os

calcanhares afastados das nádegas aproximadamente 30 a 45 centímetros, os

braços cruzados sobre a face anterior do tórax, com a palma das mãos voltada para

este na altura dos ombros opostos, com o terceiro dedo em direção ao acrômio. Os

pés deverão ser seguros pelo avaliador, que deverá mantê-los em contato

permanente com o solo. O avaliado deverá elevar o troco até o nível em que ocorreu

o contato da face anterior dos antebraços com as coxas, retornando em seguida a

posição inicial até encostar toda as costas no solo. É permitido o descanso entre

uma repetição e outra, mas a finalidade do teste é realizar o maior número possível

de execuções completas.

O teste de corrida/caminhada de 12 minutos deverá ser realizado em uma

quadra de esportes ou pátio em um retângulo com dimensões de 15x25 metros,

totalizando 80 metros de periferia, demarcada a cada cinco metros para facilitar o

controle no final do teste.

O teste consiste em percorrer correndo e ou caminhando a maior distância

possível em 12 minutos, e ao final do tempo o avaliador emitirá um sinal sonoro para

que os avaliados deixem de se locomover, esperando pelo avaliador que registrará a

distância percorrida.

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Levando-se em conta o enfoque pedagógico, o professor poderá utilizar-se

de estratégias diversas como colocar alunos monitores para contar as voltas dos

avaliados, desde que com a seriedade exigida pelo teste. Um número máximo de

alunos deve ser cuidadosamente estipulado pelo avaliador em cada avaliação para

que não ocorram congestionamentos durante a realização do teste.

O teste de flexões de braço é bastante eficaz para mensurar a força de

membros superiores, pois é de fácil execução e não demanda equipamentos

sofisticados, devendo-se fazer uso de colchonetes como material de auxílio, para

maior conforto do avaliado. O procedimento será a execução da flexão de braço

tradicional, sem o apoio dos joelhos, palmas da mão abertas e espalmadas, dedos

voltados para frente, olhar em direção ao solo e braços abertos na largura dos

ombros, flexionando os cotovelos junto à região lateral do tronco, vale o maior

número de repetições sem tempo estipulado. Quanto à classificação dos avaliados

em dentro ou fora dos critérios, na falta de critérios estabelecidos com validação

deverá ser adotada a média matemática de todas as realizações dividida pelos

alunos da turma como critério mínimo. Apesar de não ser do conhecimento de

ninguém na primeira vez, este é um número aleatório que pode incentivar um bom

número de repetições, lembrando sempre que o enfoque será pedagógico sobre

força/resistência muscular localizada e aptidão física e não prática competitiva.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da realização deste projeto, que teve como objetivo trabalhar a

temática saúde enquanto elemento articulador dos conteúdos do ensino médio,

percebemos que os objetivos propostos inicialmente foram amplamente

contemplados, propiciando aos estudantes, aquisição de novos conhecimentos em

cada fase da implementação do projeto.

Acreditamos que a escolha dos conteúdos trabalhados teoricamente, foram

fundamentais para embasar um melhor entendimento da relação que se estabelece

entre a vivência prática dos elementos da cultura corporal, a aptidão física e um

melhor estado de saúde das pessoas, contribuindo também para superar o caráter

de mera aquisição de aptidão física em sala de aula, para uma categoria de

“conhecimento” relevante em relação aos elementos da cultura corporal.

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Quanto ao protocolo de avaliação física implementado, bem como a tabela

de critérios que foi estabelecida para possibilitar à existência de parâmetros

comparativos, consideramos que foi uma estratégia que se mostrou bastante efetiva

para aprimorar e reforçar o conhecimento quanto aos limites e funcionamento do

próprio corpo por parte dos estudantes.

Ter trabalhado com o conteúdo estruturante “ginástica” durante o

desenvolvimento do projeto, parece ter sido uma escolha bastante adequada, pois

favoreceu aos estudantes vivenciarem cada um dos elementos da aptidão física

direcionada a saúde, conceituados teoricamente, estudados e mensurados durante

a bateria de testes aplicada.

Outro aspecto que nos pareceu relevante foi o de ter realizado práticas

avaliativas constantes, estabelecendo diferentes metodologias – trabalhos,

apresentações e avaliações escritas – que sempre contribuíram para reforçar a

aprendizagem dos conteúdos, ao mesmo tempo em que se buscava oferecer uma

retroalimentação para o professor.

Alguns aspectos do projeto que não dizem necessariamente à

implementação, também merecem citação: diante do número de estudantes que não

atingiram pelo menos um dos critérios estabelecidos pela proposta, em torno de

60%, podemos inferir que as práticas corporais das quais eles participam, sejam elas

nas aulas ou no tempo livre, aparentemente não tem sido efetivas em aprimorar a

condição física dos mesmos.

Relacionado ao mesmo aspecto, muitos estudantes demonstraram, através

de declarações em sala de aula e relatos na avaliação, certa “preocupação” em

aumentar sua participação nas práticas corporais, sejam elas; jogos, esporte,

danças, lutas ou ginástica, tanto nas aulas como também em seu tempo livre,

fazendo dessa uma estratégia para melhorar sua aptidão física relacionada a

melhores níveis de saúde. Acreditamos que esta seja uma das conseqüências

esperadas e desejáveis ao se conhecer de maneira mais aprofundada os limites, o

funcionamento e as possibilidades do próprio corpo. Se após estas aulas este

quadro persistir, no ano de 2009 outros objetivos e estratégias de ensino deverão

ser implantados para o desenvolvimento não mais de conhecimentos sobre a

aptidão física, mas de atitudes pró-ativas na formação de grupos de interesses em

relação à cultura corporal de movimentos como grêmio esportivo, grupos de

caminhada e passeio ciclístico, técnicas orientais etc. Como sugestão complementar

para futuros trabalhos que sejam realizados, ou mesmo em aulas curriculares, a

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relação do elemento articulador saúde com outros conteúdos estruturantes pode ser

explorada e aprimorada, uma vez que priorizamos as aulas de ginástica durante o

desenvolvimento do projeto e, portanto a especificidade de outros conteúdos

estruturantes pode desenvolver novos encaminhamentos metodológicos ainda não

suficientemente elaborados.

REFERÊNCIAS

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BARBANTI, V. J. Aptidão física e saúde. Revista da Fundação de Esporte e Turismo, Curitiba, n.1, p.5-8, 1991.

BARBANTI, V. J. e FREITAS JÚNIOR, I. F. Comparação de índice de aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. Revista da APEF, Londrina, v.7, n.14, p.42-46, 1993.

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APÊNDICE A

Avaliação – 1º ANO ENSINO MÉDIO

Assinale a alternativa que melhor responda às questões seguintes: 1- O índice de massa corpóreo (IMC) é um índice que demonstra:

A) Qual é o nível de gordura do avaliado. B) Como o avaliado se alimenta diariamente. C) A relação entre peso e estatura do avaliado. D) O quanto à pessoa avaliada ainda vai crescer. E) Nenhuma das alternativas anteriores. 2- Uma pessoa adulta que tenha seu índice de massa corporal entre 20 e 25 é

classificada como: A) Abaixo do peso ideal. B) Acima do peso ideal. C) Obesidade mórbida. D) Peso ideal. E) Sobrepeso. 3- Dentre as diversas atitudes a serem tomadas por uma pessoa em estado de

obesidade, podemos relacionar: A) Fazer esportes, pois somente os esportes emagrecem. B) Fazer exercícios físicos extenuantes para emagrecer o mais rápido possível. C) Fazer regimes rígidos e dietas da moda, pois elas sempre garantem

resultados. D) Fazer exercícios físicos e dieta, com acompanhamento de profissional de

educação física e nutricionista. E) Todas as alternativas estão corretas. 4- O teste de abdominal (realizar abdominais por um minuto) testa

prioritariamente a seguinte qualidade física: A) Resistência cardíaca. B) Flexibilidade. C) Coordenação motora. D) Força muscular localizada. E) Todas as alternativas anteriores. 5- No teste de corrida/caminhada de 12 minutos em que a resistência geral do

organismo é avaliada, os órgãos que desempenham uma função primordial para o bom resultado neste teste avaliativo são:

NOME: Nº:

TURMA: DATA: DISCIPLINA: Educação Física

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A) Coração e rins. B) Rins e pâncreas. C) Pulmões e Pâncreas. D) Coração e pulmões. E) Pulmões e rins. 6- A flexibilidade dos músculos e articulações é melhorada de maneira mais

adequada com a prática de: A) Exercícios de força como, por exemplo, a musculação. B) Exercícios de alongamento. C) Atividades de resistência como corrida. D) Esportes de quadra. E) Esportes individuais.

7- O teste de flexibilidade (Banco de flexibilidade) é importante por ser preditivo

da seguinte disfunção (doença): A) Cardíaca. B) Osteoporose. C) Diabetes. D) Postural. E) Nenhuma das alternativas. 8- Sedentário é um adjetivo que usamos para nos referir a uma pessoa: A) Preguiçosa. B) Folgada. C) Que não realiza atividades físicas. D) Que pratica esportes regularmente. E) Que está acima do peso ideal. 9- Atividade física (exercício físico) recomendado em qualquer idade: A) Esporte. B) Musculação. C) Caminhada. D) Modalidades esportivas radicais. E) Todas as alternativas anteriores. 10- Esporte na escola deve ser entendido como: A) Competição extrema. B) Participação e colaboração. C) Treinamento. D) Esforço físico intenso. E) Nenhuma das anteriores.

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APÊNDICE B

Avaliação – resultados dos testes e análise pessoal

1º ANO ENSINO MÉDIO

Proceda à transcrição dos resultados obtidos em cada teste, compare com os critérios estabelecidos e a seguir elabore um parecer pessoal, indicando uma possível estratégia de melhoria ou manutenção dos níveis alcançados.

Peso:____________ Estatura:____________

IMC:____________

Parecer e estratégia:

Flexibilidade:____________

Parecer e estratégia:

Flexões abdominais:____________

Parecer e estratégia:

Flexões de braço:____________

Parecer e estratégia:

Corrida/caminhada de 12 minutos:____________

Parecer e estratégia:

NOME: Nº:

TURMA: DATA: DISCIPLINA: Educação Física