PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS XLI O CAMINHAR DA HUMANIDADE.

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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS XLI O CAMINHAR DA HUMANIDADE

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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS XLI

O CAMINHAR DA HUMANIDADE

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O DONO DO HOMEM

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Certa manhã, chegando ao posto de saúde Paraíso dos Pássaros para proclamar a Palavra do dia, algumas pessoas conversavam animadamente à entrada. Ao passarmos por elas, desejaram-nos também um bom dia, mas um homem, além do bom dia, exclamou: Diga pra eles que Jesus está chegando!...

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Quando terminamos  de fazer a proclamação e já nos retirando do posto, passamos novamente diante daquelas pessoas, aquele mesmo homem perguntou-nos: O senhor disse pra eles que Jesus está chegando e que quem fez mal vai pagar?... Nada respondi, sorri apenas.

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Refleti sobre a atitude desse homem e lembrei um fato que presenciei faz tempo. Estava numa loja monopolista fazendo compras. Geralmente, costumo pagar com cartão de débito ou crédito, mas naquele momento precisava de dinheiro em espécie.

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Deixei minha esposa no supermercado e subi para sacar o dito no eletrônico. No andar de cima, um monte desses banquinhos enfileirados um ao lado do outro, imponentes, cada qual apresentando a melhor performance de atendimento. Diante deles, filas de pessoas naturalmente organizadas aguardavam a vez de chegar até um dos benditos (ou malditos?).

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Era final de mês, possivelmente dia de pagamento, por isso, tanta gente. Uns esperavam a vez de sacar; outros que o “sistema” retornasse, pois tinha saído do ar; mais outros esperando pelo reabastecimento. Ao todo, umas cinqüenta pessoas, caladas e contraídas. Pairava no ambiente um ar de desconfiança, temor...

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Nestes momentos, acontecem casos hilários diante do banquinho. Chegada a vez, as pessoas praticamente debruçam-se sobre o visor da máquina para que a senha ao ser digitada não seja vista por quem está detrás ou ao lado, é segredo; outras, dão um jeito incômodo no corpo para contar as cédulas só para si e ninguém saber quanto foi sacado; outras ainda, de cabeça baixa e apressadas, saem segurando o bolso assim como a proteger um tesouro para ninguém tirá-lo de dentro.

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Em dado momento, chegou uma equipe de soldados. Ao silêncio reinante no ambiente somou-se uma expectativa apavorante. Zoada e descontração somente lá embaixo, no supermercado. A equipe de soldados chegou afrontosamente como dona de tudo, sem qualquer gesto de hospitalidade, como uma máquina transformer. Quatro soldados fardados de negro, brutamontes e caras de poucos amigos, medonhas! Três com metralhadoras protegendo a bolsa que um outro carregava. Um deles ficou em posição estratégica varrendo o lugar com o olhar, sempre de arma em punho, como se procurasse ou esperasse algo acontecer; dois outros ficaram de prontidão, também de armas em punho, confronte ao pessoal das filas, um de cada lado do banquinho específico para o recarrego e o da sacola de dinheiro se dirigiu para trás do carente...

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Hoje, esses banquinhos sofrem de mal súbito. Muitos são arrancados de onde estão por empilhadeiras, guindastes, sabe-se lá que outro tipo artifício arrancador de máquina, e colocados em vans ou caminhões e tomam rumo ignorado para atender clientela exigente de última hora; muitos são explodidos no próprio lugar onde atendem à clientela oficial; outros sofrem todo tipo de adulteração em seu mecanismo para enganar os clientes incautos... Tudo por causa da preciosidade do seu conteúdo! Aliás, esses banquinhos são as únicas testemunhas de todo tipo de vigarice, assaltos, assassinatos, enfim, violência em seu sentido amplo, que acontecem com eles e diante deles. Portanto, sabem quem são os autores dessas façanhas negativas, mas não podem denunciar porque são mudos e assentimenais. Suspeita-se que seja a miséria que se alastra no mundo a mentora de toda essa violência!...

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Queres ser feliz? Queres mesmo de todo o coração? Então ama a Deus acima de tudo e a teu próximo como a ti mesmo(Mt 22,34-40).

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A VIOLÊNCIA

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Enquanto esperava a vez de chegar ao eletrônico para sacar dinheiro, dei uma espiada para o andar de baixo e vi minha esposa empurrando o carrinho de compras entre as prateleiras. Filas e filas de carrinhos cheios de produtos diante dos boxes das caixas registradoras e as funcionárias passando-os diante do aparelho decodificador de preço, e a conta aumentando sucessivamente no vídeo... Muito dinheiro sendo recapturado para retornar em maior quantia ao banquinho!...

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Um dos homens que sacou dinheiro no banquinho, chegou quase correndo lá embaixo numa das caixas onde, possivelmente, a esposa ou a filha o esperava já com a compra registrada, tirou do bolso um maço de dinheiro e pagou R$30,00... Sim, 30 reais!... Deu para ver de cima, uma nota de 20 e outra de 10, sem troco!...

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Nesse instante, um alvoroço à direita com um ligeiro corre-corre. Um guarda de segurança do supermercado segura e arrasta prepotentemente alguém pelos braços. Uma mocinha morena, franzina, desguedelhada e maltrapilha, de uns 10 a 12 anos de idade. Chega outro homem apressado. O guarda mostra-lhe um pedaço de pano de onde tirou uma lata de sardinha. A prova. A mocinha fora flagrada apropriando-se da latinha enrolando-a num lenço de cabeça encardido. Os três seguiram para a saída da loja. Então alguém gritou: Solta ela, puxa saco! Ela está com fome! Já não basta o que vocês nos roubam no preço?... Algumas pessoas olharam atraídas pelo grito. Não vi quem gritava pois estava detrás das prateleiras abarrotadas.

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Retornei o olhar para os banquinhos. Os soldados continuavam de prontidão e as filas para sacar dinheiro aumentando. A mesma coisa no supermercado, mas em sentido inverso com dinheiro à beça entrando nas caixas registradoras. Pensei comigo, meu Deus, este fato não é sonho e nem pesadelo, mas real, reflete a caminhada da humanidade. Acontece aqui nesta casa, neste bairro, espraia-se pela cidade toda, pelo Estado, pelo País, enfim, pelo mundo inteiro. Isto é um dos focos geradores de miséria e violência no mundo!

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Violência!... A população mundial está em torno de 7 bilhões de almas e, conforme o Banco Credit Suisse, em seu relatório de 2010, 8% (560 milhões) desta população detêm 79,2% da riqueza do mundo e 20,8% (6,440 bilhões) fica com o resto.

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Que resto?... Como consequência dessa concentração de riqueza, 31% da população mundial está excluída da vida digna e, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a quantidade de famintos em todo o planeta já alcançou 1,02 bilhão de pessoas.

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Onde houver seres humanos insaciáveis este quadro estará presente. O egoísmo faz muitos homens viverem em função da acumulação de riqueza espalhando sofrimento ao derredor. A guerra é a sua mais lucrativa promoção, pois a matança de inocentes é generalizada e tem conotação de legal, além do domínio do vencedor sobre o vencido.

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Dizem, quem tem poder tudo pode, até mesmo matar ou mandar matar, portanto, quem tem dinheiro ri, quem não o tem sofre. Deduz-se, então, que só vive bem quem ama e serve o dinheiro. Para uns ele é o gerador da felicidade, fonte de poder, entretanto, a causa de sua proliferação está no excesso de ambição e na carência de amor no homem.

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Para satisfazer essa necessidade humana, cada banquinho funciona como tentáculo de um grande, que se liga a um outro ainda maior, a matriz, que se apoia no geral, o central nacional, que é o concentrador da matéria prima, o todo-poderoso, e que se encarrega de promover a infiltração dos seus tentáculos nos demais países e, assim, manter o intercâmbio pelo mundo com o intuito de aumentar a riqueza de poucos e a miséria da maioria. O dinheiro, que deveria ser o meio para se alcançar a Felicidade, o homem transformou-o no objetivo último de sua vida custe o que custar.

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Assim, muitos homens adotaram o dinheiro como o seu deus. Já pensou quanta desgraça espalha na terra ao não dar mesma oportunidade aos demais homens de viverem dignamente?... Aliás, qual a satisfação de alguém que tem milhares, milhões ou bilhões de reais em poupança ou aplicados em bens enquanto milhões e milhões de pessoas estão carentes?...

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Esses homens são felizes? Claro, são, à maneira deles. Mas que felicidade é esta diante da enorme massa de habitantes do globo terrestre gritando de fome, doentes, clamando ajuda? Já naquele tempo, Jesus Cristo sabia que isto não é Felicidade, tanto que falou a um jovem que o procurou: vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu, depois vem e segue-me (Mc 10,17-27 ).

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Qual é mesmo a felicidade que procuramos? Ser poderoso sendo rico ou ser rico para ser poderoso? Ora, para o homem ser verdadeiramente feliz é necessário que ele tenha a consciência do amor de Deus como Criador e Pai, pois foi criado à sua imagem e semelhança, portanto, deve amar seus semelhantes como irmãos, como a si mesmo, pois o Amor gera a Justiça e esta a Paz. A Paz é a própria Felicidade. Todos os homens precisam ter as mesmas chances de viver dignamente, nenhum sendo mais do que o outro!...

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Quando saí da loja, soube que haviam prendido uma “ladra que chorava como uma criança”. Possivelmente, a lata de sardinha voltou a prateleira para ser vendida. Jesus Cristo é taxativo quando nos exorta: Amai-vos uns aos outros como eu vos amo. O Deus de Jesus Cristo não é a riqueza material que deteriora e acaba, mas sim o amor, o amor a Deus acima de tudo, ao próximo e a nós mesmos, formando uma Família, que é riqueza eterna.

Eliezer de Oliveira Martins

Obs: O autor é diácono da Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Amazônia do Brasil. Esses fatos estão narrados em O Ninho da Natureza, link ARQUIVOS EM POWER POINT. Musical: Only A Memory, Yanni.