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1 Leis ambientais, dinâmicas internas e conflitos socioambientais: relações entre pescadores artesanais e agentes externos no Parque Nacional do Superagui 1 Karina da Silva Coelho (PPGA/UFPR - Universidade Federal do Paraná) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir as relações envolvidas nos processos de apropriação e atualização das leis ambientais pelos moradores das “ilhas” localizadas dentro e no entorno do Parque Nacional do Superagui (Guaraqueçaba/PR) em seu cotidiano. Pretendo pensar o conflito socioambiental gerado na criação do Parque a partir de dois pontos. Primeiro, em como as leis ambientais são internamente manejadas pelos moradores. E, segundo, descrever de que forma os moradores da região se organizam politicamente frente às restrições de manejo através das Associações de Moradores das “ilhas” e do Movimento dos Pescadores Artesanais do Paraná (MOPEAR), cuja principal pauta política é a mobilização da identidade de pescador artesanal em relação aos órgãos responsáveis pela execução das leis ambientais. Discuto essa questão à luz da mobilização dos pescadores frente à elaboração do Plano de Manejo do Parque Nacional do Superagui, para o qual o MOPEAR conta com o apoio de diversos agentes externos. A proposta deste trabalho, portanto, é descrever e complexificar os conflitos socioambientais estabelecidos na região a partir da legislação ambiental, considerando o contexto interno vivenciado pelos moradores e as constantes relações com agentes externos, principalmente na autoidentificação enquanto população tradicional. Palavras-chave: conflitos socioambientais; populações tradicionais; leis ambientais. Introdução O Parque Nacional do Superagui é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral criada no ano de 1989 em Guaraqueçaba. O município está localizado ao norte da baía de Paranaguá e sua particular geografia compõe um território divido entre áreas continentais e insulares, nas quais há uma extensa área de mangue, as enseadas de Saquinho, Itaqui e Benito, as baías de Pinheiros e Laranjeiras, e quatro ilhas: Ilha Rasa, Ilha das Peças, Ilha de Pinheiros e Ilha do Superagui 2 . Segundo dados do Censo 2010 3 , o município possui um total de 7.871 moradores, dos quais 34,09% (2.683 habitantes) habitam a sede do município, e 65,91% (5.188 habitantes) habitam as áreas rurais, 1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. 2 A ilha do Superagui era uma península de Guaraqueçaba que separava a baía de Paranaguá no Paraná, da baía de Cananéia em São Paulo. Em 1844 foi iniciada a abertura do canal do Varadouro com o objetivo de ligar as duas baías a fim de facilitar a comunicação e os trânsitos comerciais entre os dois estados. O Canal do Varadouro foi inaugurado em 1955 e desde então Superagui virou ilha. 3 Dados do IBGE disponíveis no site Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, disponível em: http://atlabrasil.org.br/2013/perfil/guaraquecaba_pr. Visualizado em 20/05/2014.

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Leis ambientais, dinâmicas internas e conflitos socioambientais: relações entre

pescadores artesanais e agentes externos no Parque Nacional do Superagui1

Karina da Silva Coelho (PPGA/UFPR - Universidade Federal do Paraná)

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir as relações envolvidas nos

processos de apropriação e atualização das leis ambientais pelos moradores das “ilhas”

localizadas dentro e no entorno do Parque Nacional do Superagui (Guaraqueçaba/PR)

em seu cotidiano. Pretendo pensar o conflito socioambiental gerado na criação do

Parque a partir de dois pontos. Primeiro, em como as leis ambientais são internamente

manejadas pelos moradores. E, segundo, descrever de que forma os moradores da região

se organizam politicamente frente às restrições de manejo através das Associações de

Moradores das “ilhas” e do Movimento dos Pescadores Artesanais do Paraná

(MOPEAR), cuja principal pauta política é a mobilização da identidade de pescador

artesanal em relação aos órgãos responsáveis pela execução das leis ambientais. Discuto

essa questão à luz da mobilização dos pescadores frente à elaboração do Plano de

Manejo do Parque Nacional do Superagui, para o qual o MOPEAR conta com o apoio

de diversos agentes externos. A proposta deste trabalho, portanto, é descrever e

complexificar os conflitos socioambientais estabelecidos na região a partir da legislação

ambiental, considerando o contexto interno vivenciado pelos moradores e as constantes

relações com agentes externos, principalmente na autoidentificação enquanto população

tradicional.

Palavras-chave: conflitos socioambientais; populações tradicionais; leis ambientais.

Introdução

O Parque Nacional do Superagui é uma Unidade de Conservação de Proteção

Integral criada no ano de 1989 em Guaraqueçaba. O município está localizado ao norte

da baía de Paranaguá e sua particular geografia compõe um território divido entre áreas

continentais e insulares, nas quais há uma extensa área de mangue, as enseadas de

Saquinho, Itaqui e Benito, as baías de Pinheiros e Laranjeiras, e quatro ilhas: Ilha Rasa,

Ilha das Peças, Ilha de Pinheiros e Ilha do Superagui2. Segundo dados do Censo 2010

3,

o município possui um total de 7.871 moradores, dos quais 34,09% (2.683 habitantes)

habitam a sede do município, e 65,91% (5.188 habitantes) habitam as áreas rurais,

1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de

agosto de 2014, Natal/RN. 2 A ilha do Superagui era uma península de Guaraqueçaba que separava a baía de Paranaguá no Paraná,

da baía de Cananéia em São Paulo. Em 1844 foi iniciada a abertura do canal do Varadouro com o

objetivo de ligar as duas baías a fim de facilitar a comunicação e os trânsitos comerciais entre os dois

estados. O Canal do Varadouro foi inaugurado em 1955 e desde então Superagui virou ilha. 3 Dados do IBGE disponíveis no site Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, disponível em:

http://atlabrasil.org.br/2013/perfil/guaraquecaba_pr. Visualizado em 20/05/2014.

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residentes em mais de 20 vilas localizadas nas ilhas e áreas continentais banhadas pelas

baías de Laranjeiras e Pinheiros.

A partir da década de 1960 o batalhão da Polícia Ambiental Força Verde,

unidade da polícia militar do estado, passa a atuar em todo o litoral paranaense em

cumprimento à legislação ambiental brasileira. Na década de 1970 são criadas as

primeiras unidades de conservação da região, que junto à chegada das primeiras OnG’s

marcam o início dos “anos verdes”, descritos por Von Behr (1998) como o período em

que os ideais preservacionistas prevalecem em todo o litoral4. Atualmente

Guaraqueçaba é composta por um mosaico de unidades de conservação que integram

uma das maiores áreas remanescentes de Mata Atlântica brasileira: a Área de Proteção

Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, o Parque Nacional do Superagui, a Estação

Ecológica de Guaraqueçaba, a Reserva Biológica Bom Jesus e três Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), Serra do Itaqui (pertencente à Sociedade de

Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS), Salto Morato (pertencente

ao Grupo Boticário de Proteção à Natureza) e Sebuí (propriedade de Gaia Operadora de

Ecoturismo S/C Ltda).

A distribuição populacional e o mosaico de unidades de conservação em

Guaraqueçaba ilustram a presença de populações tradicionais5 nessas áreas protegidas.

O Parque Nacional do Superagui abrange toda a Ilha do Superagui e a Ilha de Pinheiros,

algumas áreas de Ilha das Peças, e uma parte continental do município de

Guaraqueçaba, estando dentro e no entorno imediato da unidade de conservação 23

vilas de pescadores, das quais oito foram incluídas dentro de seus limites territoriais

entre 1989 (ano de criação do Parque – decreto nº 97.688) e 1997 (ano de ampliação do

Parque – lei federal nº 9.513).

A proliferação de unidades de conservação, a consequente presença de gestores

das leis ambientais e a atuação intensa de OnGs foram determinantes para a

configuração atual das vilas, uma vez que as redes de relações6 estabelecidas entre os

4 Segundo Denardin et al (2009), até o ano de 2006 82,48% do território litorâneo paranaense estava

protegido a partir de ações preservacionistas , contabilizando 31 Unidades de Conservação (4 unidades

federais e 27 unidades estaduais). Entre os municípios com maior percentual de territórios litorâneos

protegidos estão Guaraqueçaba (98,76%), Guaratuba (98,47%) e Antonina (85,32%). 5 Ao falar sobre populações tradicionais faço uso da perspectiva de Manuela Carneiro da Cunha e Mauro

W. B. Almeida (2009:300), como uma categoria que trata de um processo de autoconstituição, apenas

possibilitado por sujeitos políticos em luta “para conquistar (prática e simbolicamente) uma identidade

pública conservacionista”. 6 No contexto da etnologia indígena, Gallois (2009) e colaboradores abordam, a partir de suas pesquisas

na região das Guianas, a noção de rede que me orienta aqui.

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moradores foram adequadas a um novo contexto: a presença permanente de um órgão

gestor da unidade de conservação – além da Força Verde e do Instituto Ambiental do

Paraná (IAP) – fiscalizando o seu cotidiano e exercendo poder sobre seu território. No

contexto ao qual se refere essa pesquisa, o Parque Nacional do Superagui é

determinante na organização social das ilhas, pois embora já existissem leis ambientais

em execução na região, é a partir da criação do Parque que elas são oficializadas. Aos

olhos dos moradores de Barbados – vila em que se concentrou a maior parte do meu

trabalho de campo – foi a partir da “chegada do IBAMA” ou com “a chegada do

Parque” que a vida nas vilas mudou7. Portanto, é a partir do Parque ou, em relação a

ele, que se constituem regras relacionadas ao trabalho e às relações entre famílias e

vizinhos – dentro de cada vila e entre as vilas. Cotidianamente os moradores

estabelecem entre si leis internas e códigos de conduta sobre o manejo do território, no

caso, o mar, através de uma adequação local das leis ambientais. Nesse sentido, é

possível afirmar que há um agenciamento8 dessas leis por parte da população local,

demonstrando que, neste contexto, o conflito socioambiental é mais complexo que a

suposição de uma disputa entre dois lados antagônicos (população tradicional X unidade

de conservação).

Os chamados “anos verdes” também impulsionaram o interesse acadêmico na

região, que junto das OnGs ambientalistas aumentaram o número de pesquisas9 e

pesquisadores em atuação e em redes de relações com os moradores das vilas do

município. A partir da formação do Movimento dos Pescadores Artesanais do Paraná

(MOPEAR), e internamente nas vilas pela formalização das Associações de Moradores,

os moradores passaram a atuar politicamente, mobilizando a identidade de pescador

artesanal enquanto sujeitos de direito10

, através das leis e decretos relativos aos direitos

das populações tradicionais. Portanto, o contexto atual das vilas situadas dentro e no

entorno do Parque é permeado por redes de relações dos moradores entre si e dos

7 Ao se referirem à unidade de conservação ou às restrições impostas por ela, os moradores com muita

frequência se referenciam ao IBAMA, órgão responsável pela gestão das unidades de conservação até o

ano de 2007, quando por uma reestruturação interna no órgão, foi criado o Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atual responsável. 8 No sentido proposto por Sherry Ortner (2007), no qual a agência está relacionada à intencionalidade e

consciência do sujeito. 9 Segundo Kasseboehmer e Silva (2008), no período entre 1979 e 2005, foram realizadas 109 pesquisas

sobre a região, entre artigos, relatórios técnico-científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Segundo os autores, tais pesquisas se concentram nas seguintes áreas: Fauna e Flora (40 pesquisas),

Socioeconomia, produção e sustentabilidade (19), Conflitos em áreas protegidas (12), Multidisciplinar

(12), Projetos e relatórios (9), Antropologia (7), Meio Físico (6), História e cultura (2) e Tecnologia (2). 10

ARRUTI (1997).

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moradores com agentes externos (pesquisadores, agentes do Ministério Público e das

Defensorias Públicas da União e do Estado, representantes de Organizações não

Governamentais e deputados estaduais representantes da comissão de direitos humanos

da Assembleia Legislativa do Paraná). A fim de analisar essa ampla rede de relações,

damos destaque às negociações em torno da elaboração do Plano de Manejo, processo

em execução que se tornou a principal reivindicação do MOPEAR.

A proposta deste trabalho, portanto, é descrever e complexificar os conflitos

socioambientais estabelecidos na região a partir da legislação ambiental, considerando o

contexto interno vivenciado pelos moradores, e descrevendo, através das negociações

em torno da elaboração do Plano de Manejo, as relações com agentes externos. Essas

questões são procedentes da minha pesquisa de mestrado, ainda em fase de finalização,

portanto, apresento algumas reflexões suscitadas durante o trabalho de campo que estão

sendo aprofundadas na dissertação.

Dinâmicas internas nas “ilhas”

Realizei trabalho de campo mais intenso em Barbados, uma das vilas que está

dentro do Parque Nacional do Superagui e é a partir dela que faço considerações acerca

das dinâmicas internas na região. A história de formação das vilas da baía de Pinheiros

está diretamente ligada ao suíço Charles Perret-Gentil, que no ano de 1852 comprou um

terreno de 35.000ha, a Fazenda Superagui, de um casal de ingleses. O terreno abrangia

grande parte das vilas rurais do atual município de Guaraqueçaba banhadas pela baía de

Pinheiros: a península do Superagui, parte da Ilha das Peças e uma parte continental do

município, onde Perret-Gentil investiu na criação de uma colônia suíça particular,

chamada Colônia Superagui.

Foi durante o período da Colônia que se estabeleceu um intenso vínculo entre as

atuais vilas da região. A partir da compra de lotes de terra em diferentes lugares da baía

de Pinheiros, os colonos europeus e brasileiros constituíram suas famílias e pequenos

povoados. Em uma carta de William Michaud11

do ano de 1886 destinada à sua irmã

11

Willian Michaud foi um colono suíço que se mudou para a região de Superagui durante o período da

Colônia. Ele morou até o fim da sua vida na região que hoje compreende a ilha de Barbados e Saco do

Morro, e tem bastante destaque na bibliografia sobre a região por ter sido um importante articulador local.

Além de ser pintor, Michaud construiu a primeira escola da região onde lecionou por bastante tempo e

também foi quem ficou à frente da administração da Colônia junto com João Sigwalt. É bastante

lembrado por empreender inúmeras atividades relacionadas a carpintaria e conhecimentos de medicina

alternativa. Casou-se com uma nativa e ainda hoje é lembrado com muito orgulho por seus descendentes.

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Nancy, que morava na Suíça, e publicada no trabalho de Lichtsteiner (2008), o pintor

define Superagui:

Superaguy, 20 de fevereiro 1886, Cara irmã [Nancy]

[...] Superaguy é uma região e não uma povoação ou aldeia, cada um habita

sobre o seu terreno, deveria antes dizer que Superaguy é uma aldeia de duas

milhas de comprimento. [...] Tradução livre da autora (LICHTSTEINER,

2008:55).

Portanto, as famílias foram se estabelecendo nesses diferentes lugares e

constituindo pequenos povoados que hoje correspondem as 23 “ilhas” ou

“comunidades” que circundam as baías de Laranjeiras e Pinheiros. Descrever Barbados

como “comunidade” possui um sentido político, sendo a categoria oficial no que diz

respeito à forma como os moradores se afirmam em relação aos turistas, pesquisadores e

ao órgão gestor do Parque Nacional do Superagui. Foi somente depois da criação do

Parque que as vilas formalizaram as Associações de Moradores, pois precisavam deste

registro para viabilizar reivindicações. Uma vez que a categoria “comunidade” está

relacionada ao processo de criação do Parque, podemos afirmar que seu uso está

relacionado a praticas e demandas sociais do grupo a partir da inserção do mesmo na

esfera política, ao propor atos de demanda pelo reconhecimento territorial12

.

A categoria “ilha” indica a maneira pela qual a população local – ou filhos13

da

região – se referem, entre si, ao seu território. Cada vila, insular ou continental, é

chamada pelos locais como “ilha”. Nesse sentido, ao fazer referência às dinâmicas

internas faço uso deste termo para indicar a territorialidade14

do grupo neste contexto

específico, não deixando de considerar que o sentido dado ao território pelos moradores

da região implica em territorialidades múltiplas, pela fluidez com que essas categorias

são mobilizadas nas diferentes redes de relações.

Barbados mantém relações cotidianas muito próximas com as outras ilhas, pois é

através das águas calmas do mar de dentro da Baía de Pinheiros que os moradores

transitam diariamente em suas embarcações para pescar, visitar parentes nas ilhas ou ir

até a sede do município. Antes das restrições ambientais, os moradores alternavam a

pesca e com as roças, fazendo uso do mar ou da terra em épocas específicas do ano e

segundo regras internamente estabelecidas. Com a interdição das roças, a pesca se

12

OLIVEIRA (1998). 13

Ao falar em filhos da região, me refiro à maneira como a população local define quem é nascido nas

vilas das baías de Pinheiros e Laranjeiras. Quem nasce em Barbados, por exemplo, é “filho de Barbados”. 14

Uso o termo territorialidade pensado por Little (2002:03), como um “esforço coletivo de um grupo para

ocupar, usar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente biofísico, convertendo-o assim

em seu ‘território’ ou homeland”.

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tornou a única prática permitida aos moradores, mas com muitas restrições. A

fiscalização nas baías é feita pelo IAP e pela Polícia Ambiental Força Verde.

Frente às interdições os moradores estabeleceram novas regras quanto ao uso do

mar entre as famílias, pelo fato de existirem cada vez menos “bons pesqueiros” nas

baías da região. Segundo meus interlocutores, um pesqueiro é um local apropriado

principalmente para a pesca com linha, mas não exclusivamente. São seções do mar de

dentro em que a profundidade é maior e por esse motivo, os botos que se alimentam de

uma grande quantidade de peixes não se aproximam destas áreas, o que lhes rende mais

pescado. Na região da baía de Pinheiros existem atualmente três bons pesqueiros,

“Alagado”, “Chumbinho” e “Pedrinha”, que são reconhecidos pelo pescador através da

paisagem. Para identificar o local do Alagado, por exemplo, o pescador guia o barco até

uma área do mar de onde se vê logo a frente uma grande árvore branca que se destaca

na mata fechada. O local onde o barco deve estar faz um ângulo com o trapiche de

Barbados e com outro morro localizado próximo ao Saco do Morro – que junto à ilha de

Pinheiros, é representada politicamente pela associação de moradores de Barbados. É a

partir desses pontos específicos em terra que se reconhece um pesqueiro.

Foram poucos os momentos em que tive oportunidade de pescar, pois a pesca é

uma atividade majoritariamente masculina e as mulheres apenas pescam quando vão

junto com seus maridos. Em uma manhã fui convidada por uma família para pescar no

Alagado com linha. Levamos certo tempo para encontrar um lugar bom para parar o

barco, pois próximo ao pesqueiro estavam muitas redes de outros pescadores. O

descontentamento do pescador que nos guiava frente às redes deixadas por moradores

me chamou a atenção, as mesmas estavam muito próximas ao pesqueiro e muito

próximas umas das outras. Ele dizia “Tá vendo essas redes? A gente identifica cada

uma aqui, sabe de quem é. Essa aqui é de fulano, aquela é de cicrano15

. E aqui é assim,

se um pescador acha que sua rede não tem que estar aqui ou por outros

desentendimentos, tem pescador que vem aqui e corta a rede mesmo, não tá nem aí”.

Em seguida perguntei a ele, “mas corta por que?”. Ao que o pescador respondeu, “corta

pra mostrar que morador também manda aqui, não é só o IBAMA”. Essa fala

demonstra que os moradores também formulam e põem em prática determinadas leis.

Leis criadas a partir das leis ambientais e muitas vezes em acordo com elas, porém

adaptadas a seu modo de pensar as relações entre si e como são divididos os espaços

15

Por se tratar de um assunto delicado para os moradores, optei por não identificar seus nomes.

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7

marítimos entre as famílias. Assim como enfatiza Duarte (2013:99) em sua pesquisa

sobre a região,

O mar, da mesma maneira que a mata, possui uma lógica de uso

compartilhado com regras sociais já incorporadas pelos moradores (sem a

necessidade de serem ainda hoje verbalizadas ou oficializadas em acordos)

para a otimização destes usos. Existem pontos familiares tradicionais de

pesca, sem haver, no entanto, quaisquer marcações físicas para defini-los. Os

pescadores da região respeitam tais regras não formalizadas como os antigos

pontos tradicionais de cerco de cada família dentro da baía.

Cada família sempre teve seus pontos de pesca e roça no território, que

abrangem o terreno onde fica sua casa, uma área na terra e uma área no mar, como se

esta fosse uma extensão daquela. São pontos tradicionais das famílias, como apontado

por Duarte (2013), estabelecidos entre os moradores ao longo de sua permanência na

ilha. Falo em “permanência” para apontar que deslocamentos entre as ilhas próximas

são comuns entre os moradores, motivados geralmente por casamento. Algumas pessoas

de outras ilhas se mudaram para Barbados porque casaram com algum filho de lá ou

porque os pais de seu/sua companheiro(a) se mudaram para lá.

Essa divisão de sessões do mar por família é decorrente da prática de pesca

através do cerco, atividade proibida no estado do Paraná através de portaria do

IBAMA16

. O cerco, também conhecido como cerco flutuante ou fixo é uma armadilha

de pesca que foi muito utilizada na região. Segundo moradores de Barbados, o cerco era

feito de ripas de taquara amarradas umas às outras formando um círculo que era fixado

no mar através de âncoras improvisadas. Tecnicamente o cerco funciona como uma

armadilha, pois os peixes entram através das taquaras e delas não conseguem sair, pois

contém redes que impedem sua saída17

. Por se tratar de uma armadilha fixa, o ideal é

que ela seja colocada em águas calmas, sem muita correnteza e em lugares profundos,

características da baía de Pinheiros. O cerco podia ficar na água no máximo três ou

quatro meses e possibilitava ao pescador escolher os peixes de maior tamanho. Os

menores eram devolvidos ao mar em uma atitude consciente dos moradores de que “se

pegássemos os peixes pequenos não íamos ter o que comer no próximo ano”.

16

A proibição do cerco, entre outros tipos de pesca e uso de apetrechos, foi estabelecida pela Portaria nº

12 do IBAMA, em 20 de março de 2003. Trata-se de uma portaria estadual e causa bastante

descontentamento entre os moradores, primeiro pela pesca com cerco possibilitar ao pescador coletar um

número maior de peixes e de uma forma mais fácil, e, segundo, pelo fato de ser permitida no estado de

São Paulo. Como Guaraqueçaba faz divisa com o Cananéia-SP, os paranaenses ficam indignados por

saber que seus vizinhos podem continuar essa prática ali, logo ao lado. 17

Trata-se de uma explicação bastante simplificada do cerco, que é minuciosamente descrita no trabalho

de Mussolini (1980), que estudou essa técnica de pesca trazida por japoneses ao litoral paulista.

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8

A necessidade de fixar a armadilha demandou a divisão de seções do mar entre

as famílias. Portanto, a eficácia da pesca através do cerco dependia do acordo e respeito

mútuo entre as famílias, e segundo meu interlocutor os cercos deveriam ficar distantes

no mínimo 50 metros uns dos outros. Portanto, assim como os moradores delimitam

terrenos em terra, delimitaram espaços no mar e apesar da interdição desta técnica

específica de pesca, alguns acordos foram mantidos entre as famílias. A regra da

distância entre os cercos ainda é respeitada hoje, porém em relação às redes que são

fixadas no mar por algumas horas. Embora para essa técnica os pescadores não possuam

uma única possibilidade de local, pois dependem do fluxo das marés, meu interlocutor

afirmou, “não tem nem sentido eu não respeitar a rede do próximo, pois se eu coloco

uma rede minha perto da dele nós dois saímos prejudicados”.

Algumas regiões da baía de Pinheiros que possuem ótimos pesqueiros ficam

próximas aos antigos espaços de instalação do cerco de algumas famílias. Um

informante em Barbados me relatou algumas histórias envolvendo dois pontos de pesca

muito bons, que segundo ele pertencem exclusivamente a duas famílias distintas. As

famílias moram no mesmo lugar há muitos anos sem nunca terem se deslocado para

outras ilhas, o que aos olhos dos moradores, torna esse sentimento de posse ainda mais

legítimo, uma vez que costuma ser respeitado por todos. Apesar dos casais continuarem

morando no mesmo lugar, seus filhos partiram para outras ilhas e com frequência vão

até os pesqueiros de suas famílias para pescar. Parentes mais distantes também tem

permissão para pescar nessas áreas, porém há uma regra clara, na qual não familiares

não são bem vindos aos olhos dos “donos”, a menos quando convidados. Por se

tratarem de bons pesqueiros, todos querem pescar lá e em vários momentos durante o

trabalho de campo vi pescadores convidando alguns parentes dessa família para os

acompanharem até lá. Os convites eram sempre acompanhados de brincadeiras dos

pescadores que davam risada da situação embora sempre respeitassem esse acordo – o

que assinala um aspecto moral em respeitar esses acordos. Porém, um de meus

interlocutores relatou diversas brigas dessas famílias com pescadores que insistiram em

pescar nesses lugares mesmo sem estar acompanhados daqueles que têm permissão.

Algumas dessas brigas resultaram inclusive em denúncias aos órgãos gestores, que

segundo meu interlocutor, “foi um aviso pra mostrar que ele é o dono mesmo”.

Relatos como esse demonstram que as leis ambientais são internamente

manejadas pelos moradores para a criação de leis locais. Embora o embate principal se

dê entre os pescadores e os órgãos fiscalizadores – a respeito de onde e como é

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permitido pescar; é relevante perceber que existem momentos em que os próprios

moradores ativam as fiscalizações quando motivados por desentendimentos internos, e

em casos extremos são responsáveis por denunciar práticas. Não afirmo com isso que

não há um senso de coletividade local contra os órgãos fiscalizadores, pelo contrário, o

mais comum durante o trabalho de campo foi presenciar e ouvir relatos de casos em que

os pescadores avisaram uns aos outros quando estavam ocorrendo fiscalizações, sempre

no sentido de um proteger o outro contra uma ameaça a que todos estão sujeitos. Além

das regras criadas pelos moradores quanto aos pesqueiros, existem também outras

regras que se referem ao uso da terra, definidas pelos moradores em articulação com a

legislação ambiental e causadoras de conflitos tão eloquentes como o que foi citado

anteriormente. A principal questão aqui é menos a adequação das leis ambientais ao

contexto local, mas apontar que há um ordenamento social pautado na moralidade entre

as famílias e entre vizinhos. Uma vez que há um descontentamento entre os moradores

por desobediência a essa ordem moral e que a situação não é resolvida a partir do

diálogo, as pessoas optam por articular a ameaça que as leis ambientais representam.

O contexto político nas “comunidades”

Na década de 1980 foram criadas as três principais unidades de conservação da

região, em 1982 a Estação Ecológica de Guaraqueçaba (decreto nº 87.222), em 1985 a

Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba (decreto nº 90.833) e em 1989 o

Parque Nacional do Superagui (decreto nº 97.688). A criação e gestão das unidades de

conservação no Brasil estavam a cargo de diferentes órgãos até 1989 – o Instituto

Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), a Superintendência da Pesca

(SUDEPE), a Superintendência da Borracha (SUDHEVEA) e a Secretaria Especial de

Meio Ambiente (SEMA) – ano de criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis, o IBAMA. Atualmente o órgão gestor é o Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão de

310 unidades de conservação (nível federal) em todos os biomas brasileiros, das quais

137 são Unidades de Conservação de Proteção Integral e 173 são Unidades de

Conservação de Uso Sustentável18

.

18

Informações retiradas do site oficial do ICMBio (www.icmbio.gov.br). Apesar de constar a informação

detalhada de 137 UC de proteção integral e 173 UC de uso sustentável o que dá a soma de 310 unidades

de conservação, há no site a referência de que atualmente são 313 unidades.

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10

No ano de 2000 o país sancionou a lei nº 9.985 instituindo o Sistema Nacional

de Unidades de Conservação (SNUC), com normas e critérios para a “criação,

implantação e gestão das unidades de conservação”. O SNUC se constitui de todas as

unidades de conservação brasileiras a nível federal, estadual e municipal. A lei do

SNUC é composta por 60 artigos que definem conceitos e as bases para a criação das

unidades e avança no sentido de definir a pesquisa sobre as regiões em que elas serão

implantadas e a consulta prévia à população a ser afetada. Porém, apesar de ser

considerada um avanço no que diz respeito aos direitos das populações tradicionais, a

lei do SNUC tem pontos fracos19

. Segundo Clayton Ferreira Lino (2004:10), ainda que

o Decreto de 2002 exija a consulta pública antes da criação de qualquer UC, há “falta de

clareza no tratamento de questões centrais de uma forma mais operativa, especialmente

no que envolve as questões fundiárias e sociais (em particular no que toca as populações

tradicionais e indígenas)”.

Uma importante definição da lei do SNUC é o plano de manejo, documento que

está em processo de elaboração no Parque Nacional do Superagui e sobre o qual damos

destaque para compreender a organização política dos moradores da região. Como

dispõe a lei em seu artigo 2º, parágrafo XVII, o plano de manejo é um

documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de

uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas

que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive

a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade

(BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000).

Na prática um plano de manejo representa um compêndio das leis internas de

cada unidade de conservação. O documento prevê uma série de estudos, pois é a partir

dele que se estabelecem as normas que definem o uso da área, o manejo dos recursos

naturais e o zoneamento, cujo objetivo, segundo o artigo 2º, parágrafo XVI, é a

“definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de

manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições

para que todos os objetivos da UC possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz”.

Ou seja, sem essas definições a tarefa do órgão gestor se torna difícil, principalmente na

relação com os moradores. Talvez por isso a lei do SNUC defina que o plano de manejo

19

Inclusive destacados por Clayton Ferreira Lino, na época presidente do Conselho Nacional da Reserva

da Biosfera da Mata Atlântica e coordenador da rede Brasileira de Reservas da Biosfera, no Caderno nº

18 da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

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deve ser elaborado em um prazo máximo de cinco anos a partir da data de criação da

unidade de conservação.

A resolução dos conflitos socioambientais na região do Superagui é ainda mais

complexa pelo fato de que, em 24 anos de gestão da UC, nenhum plano de manejo foi

elaborado. A falta de normas que definam o uso da área, o manejo dos recursos naturais

e o zoneamento dificultam a relação dos moradores com o órgão gestor. Com a

implantação das unidades de conservação, os moradores da região precisaram se

organizar politicamente frente às restrições de manejo e à indefinição do zoneamento,

formalizando em cartório Associações de Moradores nas ilhas. E assim, dando

condições para as mesmas se organizarem politicamente em comunidades, o que

auxiliou a articulação interna das ilhas a partir da representatividade que as associações

de moradores exercem em relação a assuntos externos.

Outra forma de organização é o Movimento dos Pescadores Artesanais do

Paraná (MOPEAR) formado no ano de 2008 por alguns de pescadores do Superagui e

do município de Pontal do Paraná. A formação do movimento teve o apoio da Rede

Puxirão dos Povos e Comunidades Tradicionais, uma articulação entre segmentos de

populações tradicionais do Paraná que atua junto a grupos que passam por conflitos

semelhantes – territoriais, socioambientais e privação de direitos. A Rede promove

fóruns e seminários para que os grupos fortaleçam uns aos outros e participem dos

encontros ajudando na formação política de novos movimentos. Foi através do apoio de

outros segmentos já consolidados – como os faxinalenses – que o MOPEAR se

constituiu. Na cartilha do movimento, elaborada através do Fundo Brasil de Direitos

Humanos (FBDH), os representantes afirmam que as discussões que orientam suas lutas

e o conhecimento acerca das leis que amparam seus direitos foram conhecidas através

das oficinas de Operadores de Direito, propostas pela equipe deste projeto do FBDH.

Segundo a cartilha, o Movimento atua em duas linhas principais. Uma delas é a defesa

dos direitos das populações que se autoidentificam como povos tradicionais, cujo

território foi “transformado em unidades de conservação”. E a outra se concentra em

estimular as comunidades para “a luta pela recuperação dos territórios tradicionalmente

ocupados, hoje situados dentro do Parque”.

Apesar de recente, o MOPEAR está bastante articulado com vários órgãos

públicos, OnGs, projetos acadêmicos e sociais. Em dezembro de 2013 o Movimento

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convocou uma audiência pública intitulada “Encontro sobre a violação de direitos

humanos provocados pelos Parques Nacionais em territórios de comunidades caiçaras e

pescadores e pescadoras artesanais no Paraná”, realizada na Barra do Superagui,

comunidade em que está localizada a sede do ICMBio no Parque. O objetivo era

apresentar ao ICMBio sua apreciação sobre os estudos preliminares do Plano de Manejo

– que está sendo elaborado por uma empresa de consultoria contratada – que foram

enviados às comunidades no mês de setembro de 2013.

Junto ao ofício nº 050/2013 – PARNA Superagui/DIREP/ICMBio, direcionada

“aos comunitários do entorno e de dentro” foram entregues dois “produtos” do

Diagnóstico do Plano de Manejo do Parque Nacional do Superagui (PNS): o “Relatório

Técnico Preliminar Socioeconômico e Histórico-Cultural do PNS” e o “Relatório

Técnico contendo o diagnóstico da situação e proposições do Uso Público para o PNS”.

Segundo o ofício, as comunidades teriam 30 dias para analisar e fazer considerações

acerca dos estudos20

. A partir daí que os pescadores, mobilizados através do Movimento

dos Pescadores Artesanais no Paraná (MOPEAR) e do Movimento dos Pescadores e

Pescadoras do Brasil (MPP) procuraram pesquisadores com quem já tinham contato

para ajudá-los na leitura e análise dos produtos, pois os mesmos possuem um

vocabulário técnico de difícil compreensão para quem não está adaptado a termos

acadêmicos e jurídicos21

.

Os representantes do MOPEAR solicitaram a estes pesquisadores um parecer

técnico para entregar ao ICMBio, confiando nas considerações elaboradas pelos

mesmos, uma vez que todos têm experiência em campo na região. É necessário dar

ênfase à confiança que o movimento deposita nesses pesquisadores, demonstrando a

efetividade da rede de relações entre moradores das ilhas e agentes externos. Motivados

por diferentes lideranças políticas da região (todas integrantes do MOPEAR), 19

pesquisadores de diversas áreas do conhecimento entraram em contato uns com os

outros para elaborar um documento técnico que auxiliasse os pescadores em sua luta

20

Contextualizando brevemente, o Relatório Técnico Preliminar Socioeconômico e Histórico Cultural do

PNS traz um diagnóstico das comunidades situadas dentro e no entorno do Parque com o objetivo de

revelar aspectos do histórico de ocupação, patrimônio cultural, aspectos demográficos e econômicos,

infraestrutura, domicílios, organização social e especulação imobiliária – elaborado por uma engenheira

agrônoma e um economista. E o Estudo para o Uso Público e Turismo no PNS traz um diagnóstico do uso

público, das ofertas turísticas, das potencialidades de cada comunidade, informações sobre visitantes do

Parque e da região e propostas de uso e turismo – elaborado por três turismólogos. 21

Pude perceber durante a reunião que os representantes de ambos os movimentos não tem apenas

compreensão do vocabulário jurídico, mas total domínio das leis e decretos que dizem respeito a sua

pauta política. Nesse sentido cabe pensar que o movimento apesar de possuir um domínio das leis nas

suas falas, não o possui no âmbito textual.

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política. Também fui convidada a elaborar o parecer e participei da escrita do

documento. Com o parecer pronto e apreciado pelo Movimento, as lideranças

organizaram a audiência pública dividindo-a em dois momentos. O primeiro foi

destinado à exposição dos problemas enfrentados pela população local desde a criação

das unidades de conservação na região, na mesa “Conflitos Territoriais e Direitos

Étnicos: Olhar das comunidades tradicionais pesqueiras atingidas pelo Parque Nacional

de Superagui e Parque da Ilha dos Currais”. O segundo, destinado ao debate entre

MOPEAR e MPP com o ICMBio, na mesa “A posição do ICMBio face os direitos

territoriais de povos e comunidades tradicionais no PNS”. Foram convidados a

participar do encontro, além dos gestores do Parque, o Coordenador da regional Sul do

ICMBio, movimentos sociais, Instituto e Universidade Federal do Paraná, Comissão de

Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná, Comissão de Direitos

Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública, Ministério Público

Estadual, Secretaria da Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, Rede

Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais.

O objetivo da reunião foi fazer com que o ICMBio ouvisse as reivindicações dos

pescadores por um plano de manejo efetivamente participativo, com respaldo em

bibliografias sobre a região e conhecimento acerca das leis ambientais mas,

principalmente, das leis que reconhecem os direitos dos moradores enquanto população

tradicional.

Antes de iniciar a reunião – no dia seis de dezembro de 2013 – na Barra do

Superagui, os moradores de uma das comunidades organizou uma passeata onde cerca

de 30 pessoas carregavam faixas e bradavam o grito de luta do Movimento, “Na terra e

no mar nós vamos lutar!” 22

. As faixas e cartazes faziam referência às restrições

impostas pela unidade de conservação e à maneira como o Plano de Manejo vem sendo

elaborado, como podemos ver em algumas: “Comunidade tradicional de Tibicanga.

Como vamos pescar no asfalto? Precisamos de Terra... Precisamos de Mar... O Plano de

Manejo tem que mudar!”; “Chega de repressão. Só queremos JUSTIÇA! Por uma

verdadeira participação dos pescadores (as) artesanais no plano de manejo de

Superagui”; “Opressão: até quando?”; “Fora plano de manejo. Queremos o nosso,

queremos participar!”; “Mais uma cultura que tiraram de nós (roça)”.

22

A reunião foi filmada e editada a pedidos do Mopear e está disponível para visualização em:

https://www.youtube.com/watch?v=XHHN0e6SHCI.

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O evento teve apoio da população local, mas pela dificuldade no deslocamento

até a Barra do Superagui, o público teve quase em mesma quantidade moradores e

agentes externos. A reunião começou com uma “mística” – inspirada no Movimento

sem Terra - na qual foi encenada a vida dos pescadores antes e depois da criação do

PNS. A encenação deu ênfase ao ponto de vista da população local sobre a criação do

Parque Nacional do Superagui como algo totalmente imposto e sem consulta,

enfatizando também a ação violenta dos órgãos fiscalizadores.

A mesa destinada ao olhar das comunidades sobre os conflitos territoriais e

direitos étnicos teve o relato de alguns moradores, de representantes de outros

segmentos dos povos tradicionais, de um dos pesquisadores responsáveis pelo parecer

técnico e de um advogado popular que exerce sua função junto à Rede Puxirão. Na fala

do representante faxinalense fica clara a proposta de articulação em rede (através da

Rede Puxirão) quando ele afirma que “quando é momento de luta eu não levo apenas a

pauta do meu segmento, mas a pauta de todos os povos tradicionais!”. Apresento

também a fala de uma representante dos Ilhéus do Rio Paraná em apoio à causa dos

pescadores artesanais:

Aonde tá o direitos humanos, aonde tá o direito de comunidades

tradicionais? Será que alguém competente tem conhecimento da

OIT 169? Por favor, vocês autoridades competentes, eu acho

que tá faltando conhecimento da OIT 169, porque nós já temos

o conhecimento. [...] Eu vou deixar aqui um pedido como

brasileira, como patriota que sou: direitos humanos, se é que

existe, se manifestem a nosso favor, porque aqui a coisa tá

abusiva e nós não queremos participar daquela selva de pedra

que a gente vê em São Paulo. [...] Deixem-nos viver. Eu só peço

os nossos direitos como seres humanos. [...] hoje criam parques

nacionais como se não existissem famílias lá dentro [...] Nós só

queremos um pedaço de terra, com um pouco de água para nós

viver.

A segunda mesa foi destinada a resposta do ICMBio frente às falas em defesa

dos pescadores. O chefe do Parque e o coordenador da regional Sul do órgão gestor

apresentaram falas negativas em relação às demandas apresentadas pelo MOPEAR, e

apesar da insistência das lideranças em não terminar o encontro até que o órgão gestor

acatasse todas as suas reivindicações, isso não aconteceu. Entraram para o debate

somando forças a causa dos pescadores, outros órgãos públicos, pesquisadores e dois

deputados federais membros da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia

Legislativa do Paraná. A Defensoria Pública da União afirmou que se fosse preciso

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viabilizaria uma medida judicial para que as violações aos direitos humanos que

ocorrem na região cessassem imediatamente. E assim como a Defensoria, os

representantes das outras instituições apontaram o não cumprimento, por parte do

ICMBio, das leis do SNUC, da Lei da Mata Atlântica, do Decreto nº 6.040 e da

Convenção 169 da OIT. Por parte do coordenador regional do órgão gestor foi firmado

o compromisso de que o parecer técnico seria entregue aos seus superiores dentro do

ICMBio e que os gestores locais do órgão se responsabilizariam em dar continuidade ao

diálogo.

Em vias de terminar o encontro e sem uma resposta positiva do órgão gestor, foi

proposto que se criasse um grupo de trabalho para acompanhar toda a elaboração do

plano de manejo com representantes dessas diferentes esferas, e principalmente

representantes do ICMBio. Em fevereiro de 2014 foi realizada a primeira reunião do

grupo de discussão. Dentre os integrantes estavam as lideranças do MOPEAR, alguns

dos pesquisadores que assinaram o parecer técnico, os deputados ligados à Comissão de

Direitos Humanos da ALEP, representantes do CAOPDH do MP estadual e da

defensoria pública estadual e da união. Apesar de firmado o compromisso, nenhum dos

gestores do Parque compareceu à reunião que foi marcada com bastante antecedência.

O grupo já se encontrou duas vezes para fazer um balanço da atuação do

ICMBio após a entrega do parecer técnico e propôs alguns objetivos a curto, médio e

longo prazo, estabelecendo aos diferentes grupos (pesquisadores, MPE, DPE, DPU,

deputados) diferentes tarefas. Aos pesquisadores foi incumbida a tarefa de aprofundar

os estudos sobre as práticas que o grupo assinala como tradicionais. Foi também

proposta uma parceria entre as Defensorias Públicas para questionar as autuações do

ICMBio, do IBAMA, do IAP e da Polícia Ambiental. Para ambas as defensorias e para

o MPE ficou combinado o questionamento da Instrução Normativa nº 29 – lei que

define algumas regras sobre a pesca industrial e a pesca artesanal; e o MOPEAR ficou

responsável pelo “trabalho de base”, ou seja, mobilizar os moradores da região quanto

à importância de sua participação nas discussões e na luta em relação à elaboração do

Plano de Manejo.

A audiência pública realizada na Barra do Superagui e a consolidação de um

grupo para discutir o processo de elaboração do plano de manejo estabilizam, e em

alguma medida, atualizam as redes de relações entre os moradores e os agentes

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externos. Nesse sentido, a presença de diversos agentes, além de movimentar o

cotidiano das comunidades, proporciona a incorporação de novo vocabulário, de novos

conceitos e categorias identitárias por parte dos moradores. A escrita do parecer técnico

pelos pesquisadores e a fala de representantes do Ministério Público, da Defensoria

Pública e dos deputados estaduais durante a audiência pública e todo apoio oferecido à

causa, fortaleceram as relações entre moradores e alguns agentes externos. A criação do

MOPEAR através do apoio da Rede Puxirão também traz questões e formas de atuação

diferenciadas. A maneira como a audiência foi estruturada através da mística, dos

cantos, a constante repetição da frase que representa a luta do movimento “Na terra e no

mar nós vamos lutar!”, diz muito sobre a forma de atuação dos segmentos que fazem

parte da Rede Puxirão. Não afirmo com isso que essas idéias são impostas aos

moradores e de que os mesmos não teriam condições de criar um movimento e atuar

politicamente frente ao órgão gestor. Pelo contrário. Essa relação com agentes externos

só é possível a partir da agência dos moradores, através das suas articulações entre si e

em relação a quem é de fora. Essas relações apenas possibilitam novas configurações,

não as definem.

Considerações finais

Ao longo do meu trabalho de campo em Barbados, duas questões sempre

chamaram a atenção. A primeira está relacionada às dinâmicas internas estabelecidas

entre os moradores em função das interdições ambientais. Por se tratar de uma região

com um contexto ambiental específico são muitas as pesquisas em diferentes áreas do

conhecimento que refletem uma relação antagônica entre as populações tradicionais e as

unidades de conservação. No entanto, o trabalho de campo demonstrou que diferente

das imagens criadas sobre a região, que refletem certo isolamento e uma vitimização das

populações residentes, a relação entre os moradores e o ICMBio é muito mais complexa

e permeada por inúmeros conflitos internos e anteriores entre os moradores. Há muito

mais agência que uma suposta vitimização. Apesar de a população ser refém de uma

ameaça constante ao seu modo de vida, protagonizada pelas leis ambientais, ou pelo

“Ibama”, ela tem intencionalidade e uma maneira local de viver frente às interdições.

Portanto, não podemos dizer que as leis ambientais vêm de fora e permanecem na

região sem nenhum agenciamento por parte da população local.

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A segunda questão é referente à constante presença de agentes externos nas

vilas. Em todas as minhas idas a Barbados ou às outras vilas sempre encontrei algum

pesquisador ou produtor cultural, ou soube de uma visita de representantes do

Ministério Público. O assédio por parte de pesquisadores aos moradores da região é

tanto, que algumas vilas têm se fechado à sua presença. Em Barbados encontrei

dificuldades para conversar com alguns moradores e muitas vezes fui questionada sobre

qual “projeto” iria desenvolver na comunidade. Ao mesmo tempo, muitos os aceitam e

estão sempre dispostos a ajudar. Nesse sentido vale pensar também nos agenciamentos

decorrentes dessas relações com agentes externos, pois ao mesmo tempo em que alguns

moradores estão fartos pelo fato dessas pessoas não acrescentarem às comunidades,

outros e, principalmente as lideranças, veem positivamente a presença destes agentes. A

audiência pública organizada pelo Movimento descreve algumas dessas relações

conectadas à mobilização da identidade de pescador artesanal. A formação do

MOPEAR e a elaboração do parecer técnico apresentado ao ICMBio refletem a

dinâmica dessas redes de relações. No entanto, além da mobilização da identidade de

pescador artesanal a presença de agentes externos na região também é permeada por

vários projetos assistencialistas que influem bastante sobre o cotidiano dos moradores.

Ao falar em agência me refiro ao conceito como é pensado por Sherry Ortner

(2007), como algo “sempre negociado interativamente” (2007:74). Ao destacar a

agência de indivíduos ou grupos a autora afirma que o conceito de agência tem duas

faces, uma voltada à intencionalidade e à ideia de perseguir projetos (que são definidos

culturalmente); e a outra, relacionada ao poder e ao fato de agir em relações de

desigualdade, assimetria e de forças sociais em jogo, ou seja, exercer poder sobre

(dominação) ou ser contra o poder (resistência). Ao refletir sobre o contexto aqui

apresentado, os moradores da região do Superagui possuem agência em ambos os

sentidos. Por estarem sujeitos às interdições das leis ambientais e ao mesmo tempo

articularem essas leis para ordenar o uso do seu território internamente – entre si – os

moradores estão em uma relação de poder (desigual) com os órgãos fiscalizadores, mas

não apenas. O seu ato de internamente manejar essas leis a um modo local indica, ao

mesmo tempo, uma forma de resistência, e também uma agência de projetos, no sentido

em que os indivíduos agem com intenção de perseguir objetivos e ir além “de suas

próprias estruturas de desigualdade” (:68). Segundo a autora essas duas faces da agência

se misturam, se entrelaçam em uma relação (:58). Do mesmo modo, na organização

política e na relação com agentes externos, a agência dos moradores está na articulação

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interna e também na articulação com pessoas de fora para mobilizar a identidade de

pescador artesanal.

Ao descrever as relações envolvidas nos conflitos socioambientais tivemos como

objetivo complexificar e dissolver as imagens que apenas vitimizam a região e não

levam em conta a agência dos moradores nesses conflitos. Existem outras questões

envolvidas no conflito que estão relacionadas à diversidade dos agentes externos em

atuação na região e que serão apresentadas na dissertação.

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