Pesquisa Partido Alto

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UNIVERCIDADE DO CONTESTADO – UnC LICENCIATURA EM MÚSICA ANDERSON FABRICIO PEREIRA LEANDRO HENRIQUE KOGUT DE SOUZA SAMBA PARTIDO-ALTO

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trabalho academico

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UNIVERCIDADE DO CONTESTADO – UnC

LICENCIATURA EM MÚSICA

ANDERSON FABRICIO PEREIRA

LEANDRO HENRIQUE KOGUT DE SOUZA

SAMBA PARTIDO-ALTO

PORTO UNIÃO

2015

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ANDERSON FABRICIO PEREIRA

LEANDRO HENRIQUE KOGUT DE SOUZA

SAMBA DE PARTIDO ALTO

Trabalho acadêmico do Curso de Licenciatura em

Música apresentado como exigência para a

obtenção parcial de nota da matéria Historia da

musica brasileira, ministrado pela Universidade do

Contestado – UnC, sob orientação do(a)

professor(a) Neusa

PORTO UNIÃO

2015

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ORIGENS

Africanas

No século XVII, depois de fracassarem na colonização do Congo, os conquistadores portugueses voltaram-se para a bacia do rio Cuanza, onde o Ndongo (berço da futura Angola) se localizava. Durante os séculos XVII e XVIII, a política portuguesa em Angola foi dirigida diretamente do Brasil. As ligações políticas e econômicas entre os dois países eram tão fortes que, baseada na escravidão, vai levar ao Brasil, embarcados nas praias de Luanda e Benguela, milhões de indivíduos dos ambundos, ovimbundos, lundas, quiocos e outros povos bantos de Angola para o trabalho escravo em terras brasileiras, da mesma forma que seus aparentados do Congo, o que ocasionou também o embarque de milhões de congos cativos, com suas angomas (de ngoma, tambor) principalmente de Cabinda, com destino ao Brasil. Segundo o etnólogo português José Redinha, os primeiros estudiosos que efetivamente se debruçaram sobre a música africana perceberam que "as canções bantas, mesmo que insistindo num determinado tema, eram todas de improvisação" (1984). Conforme Redinha, esses cantos "têm necessidade, além de instrumentos, dum solista que desempenha a tarefa do chefe de coro ou de orquestra europeu". Desses batuques dos povos bantos de Angola e Congo foi que se originaram os principais traços definidores da diáspora africana nas Américas, como o samba e, naturalmente, a modalidade partido-alto.

Raízes mineiras e baianas

Ao longo do século XVIII e do século XIX, atividades econômicas na colônia portuguesa na América - como a mineração do ouro e, posteriormente, o cultivo do café - ajudaram a determinar o fluxo das migrações internas de escravos negros no Brasil. Com a cultura do café se iniciando na região do Vale do Paraíba fluminense, a demanda por cativos aumentou, em uma época em que cresceriam as restrições ao tráfico internacional de escravos vindos da África. A região também atrairia mão-de-obra originária das lavouras de cana-de-açúcar situadas no Recôncavo Baiano, que passava por um processo de decadência econômica. E estes escravos levaram junto sua cultura afro-originária.

Colaborou também para uma maciça imigração de escravos para a cidade do Rio de Janeiro e arredores o fato desta ter se transformado em capital da colônia e, depois, do Império brasileiro, o que a levou a atrair enormes contingentes de negros.

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"A Pequena África"

Durante a virada do século, todo o centro do Rio concentrava um grande número de residentes negros e mestiços, delimitados em uma região nos arredores da atual Praça Quinze e ao porto da cidade - Gamboa, Santo Cristo e Saúde - e que se estendia até a Cidade Nova e a Praça Onze, enfim, em uma comunidade que seria mais tarde denominada Pequena África, berço do samba urbano. Muitos baianos haviam chegado ao Rio na segunda metade do século XIX e constituiria uma colônia na capital do país, responsável pela manutenção da cultura de raízes africanas. A residência de alguns destes se tornou polo difusor dessa cultura, como era o caso da casa de Hilária Batista de Almeida, mais conhecida como Tia Ciata.

Formação das favelas

Desde o final do século XIX, a composição da força de trabalho no Rio de Janeiro refletiu a política de "branqueamento", quando se procurou substituir a mão-de-obra escrava pela do imigrante europeu. Esse reflexo seria notado quando a maior parte dos trabalhadores estrangeiros em atividade na capital possuía empregos mais bem-remunerados que os ex-escravos. A mesma ideologia do branqueamento delimitaria o espaço físico a ser ocupado pela população negra em terras cariocas. A reforma urbana da cidade promovida durante os governos do presidente Rodrigues Alves e do prefeito Pereira Passos resultou na expulsão das classes menos favorecidas do centro carioca.

O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de casarões e cortiços - o consequente despejo de seus moradores pobres e negros - para a construção de novas edificações e o alargamento de ruas. A população apelidou o movimento de o "bota-abaixo", um capítulo à parte dentro do que se convencionou a chamar de Revolta da Vacina. Com o "bota-abaixo", a população de baixa renda migrou para moradias no subúrbio da cidade ou para os morros que circundam o centro carioca, o que também ajudaria a definir geograficamente o universo do samba e do partido-alto.

Subúrbios e morros

Além da expulsão da cidade em direção aos morros, o samba não era visto naquela época com bons olhos e a polícia costumava reprimir as rodas no centro. Muitos iam até os morros e aos subúrbios ainda em formação para poder sambar em paz. Os principais redutos estavam nas regiões do Estácio, da Tijuca e da Mangueira. Atraídos para o Rio, na busca de melhores condições de vida, muitos migrantes - especialmente do interior fluminense e mineiro - somavam-se a massa de populares expulsos do centro e ajudariam a germinar as sementes do samba e do partido-alto.

Também a região da zona portuária concentrava um grande número de trabalhadores do cais do Rio de Janeiro, entre os quais estivadores, arrumadores e

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operários. Dentre eles, alguns fundariam na década de 1940 a escola de samba Império Serrano. Próximo do porto carioca estava os morros da Providência e do Pinto redutos de sambistas. Na zona portuária, haviam os primeiros pioneiros na arte de "tirar" versos no improviso. Segundo Donga, Oscar do 24 e seus companheiros Hilário Jovino, Dudu e João Câncio eram considerados "reis-do-partido-alto", "raiadores afamados, isto é, cantadores de chula". O repertório deles devia ser constituído de peças da tradição oral e recriação delas, recheadas de improvisos - e isto se observaria tanto na produção de partideiros (o termo é um neologismo popularizado na década de 1960) anônimos quanto daqueles que alcançariam sucesso comercial, via indústria fonográfica.

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CARACTERISTICAS

O que hoje se conhece como partido-alto é uma modalidade de cantoria. E cantoria

é a arte de criar versos, em geral de improviso, e cantá-los sobre uma linha melódica

preexistente ou também improvisada, praticada, em diversas modalidades, por

poetas cantadores populares, em todo o Brasil. Improvisação repentina, muito

tocado e aplaudido em bares e botecos, cantada em feitio de contenda, numa

espécie de duelo verbal, como outras modalidades de cantoria, o partido-alto tem a

distingui-lo a circunstância de que se realiza e completa na roda do samba, e

sempre de forma bem-humorada e brincalhona. Menos complexo e rico, por

exemplo, que o amplo leque de variações da cantoria nordestina, de regras

absolutamente rígidas, porém mais diversificado que outras expressões

semelhantes, o partido-alto sempre foi visto, sem contestação, como um samba de

estatuto superior, apanágio dos sambistas não só mais inspirados como

mentalmente mais ágeis. O que distingue, pois, o "partideiro" do mero sambista,

compositor ou cantor. E o gradativo desaparecimento, no seio do samba, desse tipo

de maestria dever-se-ia, à ação do moderno capitalismo, o qual promove a extinção

da produção cultural tradicional e o silêncio de seus atores para, em lugar deles,

formar consumidores para os produtos da cultura industrialmente massificada. A

expressão "partido-alto", vamos ver que sua exata conceituação ainda hoje é objeto

de controvérsias. Entretanto, o estabelecimento da linguagem desse importante

subgênero musical do samba pode nos trazer alguma luz. Inicialmente, que o canto

solista improvisado sobre uma base coral não é um traço exclusivo de culturas

africanas. O extremamente elaborado repente do Nordeste brasileiro, por exemplo -

e até mesmo por não se apoiar em base coral -, tem origem claramente ibérica, da

mesma forma que a paya hispano-americana e até mesmo o punto cubano.

Mas, já no século XIX, observadores portugueses chamavam a atenção para esse

traço nas canções do batuque angolano. Estabelecendo a linhagem descendente do

partido-alto, desde os batuques dos povos bantos de Angola e do Congo, viria:

primeiro, o lundu bailado, dando origem ao lundu puramente canção dos salões

imperiais, aos sambas rurais da Bahia e de São Paulo, a um lundu campestre ainda

dançado, e a outras manifestações; depois, todas essas expressões (como a chula

do samba baiano ganhando status de manifestação autônoma) confluindo para o

que chamaremos de samba da "Pequena África da Praça Onze", onde o núcleo

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irradiador foram as festas da comunidade baiana; depois ainda, o samba amaxixado

da "Pequena África", dando origem ao samba de morro; e, finalmente, esse samba

de morro se dicotomizando em samba urbano (a partir do bairro do Estácio), próprio

para ser dançado e cantado em cortejo, e em partido-alto, próprio para ser cantado e

dançado em roda.

Nas festas ou nos pagodes da comunidade baiana, a diversão era quase sempre

distribuída espacialmente: na sala tocava o "choro", o conjunto musical à base de

flauta, cavaquinho e violão; no fundo, fluía o samba, batido na palma da mão, no

pandeiro, no prato-e-faca. recebendo interpretação instrumental, então, tocado nas

salas - visto assim como um samba de mais status - é que o estilo recebia, entre os

antigos, a denominação de "Samba-de-partido-alto", ou seja, para os antigos, "o

verdadeiro partido-alto não era cantado. Era só no ritmo mesmo do samba". A

denominação "samba de (ou do) partido-alto" nasceu para intitular o samba

praticado por um "partido - união de homens que participem das mesmas ideias",

conforme o Dicionário de Sinônimos, de Antenor Nascentes -, que se presume alto,

de elite. Mas a denominação e sua origem são muito controvertidas. João da

Baiana, por exemplo, (…) dizia que "o samba de partido-alto, o samba raiado. É a

mesma coisa. Pode-se dar o nome de samba raiado ou samba de partido-alto."

Contemporâneo de João Baiana, Oscar José Luís de Moraes, o Caninha, declarava

em 1932, segundo Jota Efegê, em Figuras e coisas da música popular brasileira,

que "partido-alto" não significava samba de elite, samba de alta categoria, parece-

nos, de forma ambígua, que essa era uma denominação baiana para o que aqui se

chamava "chula".

Aniceto do Império classificava o partido-alto de hoje como "samba menor", não

sabendo exatamente a razão dessa classificação, a qual, se não envolvia nenhum

juízo de valor, pelo menos apontava para uma deformação em relação às matrizes

jongueiras, se onde ele acreditava ter a modalidade se originado. Edison Carneiro

diz que partido-alto é "o samba cantado e dançado à moda antiga", que consiste

num estribilho tradicional sobre o qual o cantador versa ou improvisa.

Câmara Cascudo diz apenas tratar-se de uma espécie de samba, "um estribilho com

quadras repetidas ou improvisadas dos sambas cariocas". José & Araújo escrevem

que é uma forma de samba que tem como características uma estrofe-base ou

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estribilho que dá o tema e é levada em coro por todos e por cima da qual surgem

outras, improvisadas ad infinitum. Referem esses autores, ainda, a existência de

duas formas básicas de partido-alto: o "partido-alto em linha", em que a

improvisação se baseia no estribilho, "obedecendo ao espírito que gerou o partido";

e o "partido-alto avulso", onde a improvisação não precisa subordinar à ideia exposta

no estribilho. Candeia & Isnard também conceituam o partido-alto como "um tipo de

samba em que o refrão se repete e os versos que se seguem devem obedecer ao

mesmo tema proposto".

Lygia Santos, filha de Donga, diz que partido-alto do tempo do seu pai, era,segundo

ele, um samba "pastoso" em oposição ao "samba ligeiro (normal)" e ao "samba

corrido (excepcional)". Ralph Waddey, por sua vez, escreve que "samba de viola,

samba de chula, samba de parada, samba de partido-alto, samba santo-amarense,

samba amarrado, todos se referem a um mesmo fenômeno: variam as

denominações conforme diferentes aspectos que apresenta". "Na realidade - diz ele

- é o texto, a 'chula' que formalmente dissocia de outros tipos de samba".

Tempos moderno

Na década de 1980, o movimento musical do pagode deu alento ao samba carioca e

revelou, inicialmente para o grande público e mais tarde para a indústria cultural,

sambistas que também valorizavam a tradição do partido-alto, como eram os casos

de Almir de Souza Serra, o Almir Guineto, Arlindo Domingos da Cruz Filho, o Arlindo

Cruz, Jessé Gomes da Silva, o Zeca Pagodinho, Jovelina Faria Belfort, a Jovelina

Pérola Negra, e Montgomery Ferreira Nunis, o Sombrinha. Na década de 1990,

Dudu Nobre foi um dos poucos sambistas de sua geração a também utilizar a

técnica do partido-alto. Em turnês junto com Zeca Pagodinho, os dois chegavam "a

versar durante horas nos ônibus". Zeca, por sua vez, é considerado um grande

improvisador.

Influências

A gênese do chamado samba de morro e do partido-alto em particular se encontram

nas canções improvisadas dos diversos tipos de batuques angolanos. "A estrofe

solista improvisada, acompanhada de refrão coral fixo, e a disposição coro-solo são

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características estruturais de origem africana e correntes na música afro-brasileira.

Tanto elas quanto a coreografia revelam no samba urbano dos morros do Rio de

Janeiro a permanência de afinidades básicas com o samba rural brasileiro".

Além do batuque, há diversas outras manifestações musicais e coreografias

brasileiras que contribuíram para a formação do samba de morro e do partido-alto.

Entre elas estão o baiano (também chamado de "chorado"), a batucada (ou também

"pernada carioca"), o cateretê, o coco, o calango, a chula, a tirana, os cantos de

trabalho, as cantigas de capoeira e de roda, as cantorias de viola, o jogo de caipira,

os sambas rurais baiano e paulista e, principalmente, o lundu que da segunda

metade do século XIX em diante deixou de ser dança (salvo no interior da Bahia,

onde sobrevive até hoje um lundu dançado) para ser canção solada de caráter

principalmente cômico.

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Referncias Bibliograficas

http://aochiadobrasileiro.webs.com/AgradecimentosHistoriasEtc/HistoriadoSamba/

Historiadosamba.html Pequena história do SAMBA.

Centro Cultural Cartola. Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto,

Samba de Terreiro e Samba-Enredo http://portal.iphan.gov.br/

http://www.dicionariompb.com.br/samba/dados-artisticos

https://blogmusicdavida.wordpress.com/tag/samba-de-partido-alto/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido-alto