*Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de...

23
*Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora doutora titular do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, PUC-SP Laís Piovesan* Maria Thereza Strôngoli**

Transcript of *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de...

Page 1: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

*Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP.**Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora doutora titular do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, PUC-SP

Laís Piovesan*Maria Thereza Strôngoli**

Page 2: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Esta comunicação visa distinguir os traços de identidade em figuras míticas da cultura brasileira e compará-los com os que caracterizam os mitos de outras culturas e objetiva focalizar um personagem de nosso folclore: o saci.

Page 3: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

As histórias de saci foram criadas no final do século XVIII na região sul do Brasil, nas terras povoadas pelos índios tupi-guaranis, de cujo idioma vem o nome saci.

Page 4: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

A figura do saci é muito especial: um menino negro, magro, com orelhas de morcego e está sempre nu. Fuma um cachimbo e usa um gorro vermelho que nunca abandona. Este lhe dá poderes mágicos, permitindo-lhe aumentar ou encolher de tamanho e até tornar-se invisível. O que se destaca em seu corpo é o fato de possuir uma única perna e, ao mesmo tempo, ser agilíssimo.

Page 5: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Vive no mato e gosta de fazer estripulias. Anuncia-se pelo apito ou assobio persistente, mas, não sendo localizável, torna-se assombrador.

Page 6: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Para se divertir, assusta os passantes à noite nos caminhos solitários, espanta o gado, trança as crinas dos animais ou extenua-os em correrias. Aproxima-se das casas para criar dificuldades para seus moradores, como apagar o fogo do preparo da comida, queimar os alimentos e azedar o leite.

Page 7: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Esse espírito brincalhão e as atividades maléficas aproximam-no de uma personagem muito conhecida no folclore europeu: o duende.

5

Page 8: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Do ponto de vista de sua figura, ambos têm a mesma pequena estatura e usam um capuz vermelho. Essa falta de tamanho é compensada pelo capuz que lhes dá poder mágico para se sobrepor ao homem comum.

Page 9: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O poder do capuz possibilita-lhes algumas semelhanças mas também apresentam algumas diferenças, resultado das particularidades de suas culturas.

Page 10: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Os duendes têm estatura baixa, mas não são crianças, são homens feitos e arianos.

Page 11: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Os duendes confirmam e preservam a estrutura e a cultura do grupo social: vestem-se tradicionalmente.

Page 12: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O saci, ao contrário, é sempre figurado como criança nua e negra, embora atualmente algumas ilustrações o apresentem vestindo um calção.

Page 13: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

A cor negra pode ter conotação étnica, porque a nacionalidade brasileira é multirracial, isto é, muitos brasileiros são negros; mas também ser o símbolo do inconsciente, do desconhecido e do mistério.

Page 14: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O simbolismo do saci caracteriza-se com duas outras imagens expressas pelos signos: nudez e cor e que se articulam com cachimbo e sua labareda, e a falta de uma perna.

Page 15: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O fogo no imaginário das tradições culturais simboliza, ao mesmo tempo, a criatividade do espírito (que distingue o homem do animal) e a força da natureza (que pode consumir e destruir esse mesmo homem). O mito mais significativo dessas tradições é Prometeu, cujo espírito foi capaz de criar o homem.

Prometeu acorrentado

Page 16: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O uso do cachimbo representa o domínio do fogo em um espaço (no qual se põe o fumo) e em um tempo (no qual se fuma). O fogo do cachimbo do saci atesta, a conquista da criatividade do espírito e, ao mesmo tempo, a força da natureza que consome e destrói, pois o saci personifica a criança que, seguindo o ciclo da natureza, desenvolve o espírito criativo que vai consumir a criatividade do adulto, pois vai sucedê-lo.

Page 17: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

A virtualidade do poder e da liberdade que o fogo dá encontra no corpo infantil do saci uma aparente limitação: a falta de uma perna. Esta ausência poderia indicar a impossibilidade da conquista do espaço e do tempo. No caso do saci, significam um outro tipo de deslocamento: o de pulos ou o de rodopios.

Page 18: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

A deficiência física do saci, simbolizada na falta de uma perna, não é negativa, mas positiva, indica conhecimento para buscar alternativas, dominar habilidades e vencer o outro.

Page 19: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O gorro vermelho simboliza a energia do espírito infantil, renova as velhas idéias do grupo social.

Page 20: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

No Brasil, país em que a maioria das crianças é pobre, o saci é um herói: ensina-as a ter confiança nos poderes mágicos da infância para adquirir conhecimento e habilidade para mudar o status quo e vencer a adversidade. Para o adulto, o saci é um anti-herói, apenas assegura que sua confiança no domínio do conhecimento só se realiza no passado, já que existe somente na memória e recitação de seus contos; ou no futuro, pois constitui um dos ciclos folclóricos.

Page 21: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

O fato importante desse processo está na raiz da verdade que o mito esconde: o adulto se afasta para que a criança cresça, continuando o ciclo irreversível da vida e da morte.

Page 22: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBRUNEL, P. (ed.) (1988). Dictionnaire des mythes littéraires. Monaco: Ed. du Rocher.CASCUDO, L. (1988). Dicionário do folclore brasileiro. Sào Paulo: Itatiaia/EDUSP.CHEVALIER, J. & GHEERBRANT, A. (1982). Dictionnaire des symboles. Paris: Laffont & Jupiter.DURAND, G. (1969). Les structures anthropologiques de l´imaginaire. Paris: Bordas.UYGEN, W & POORTVLIET, R. (1976). Leven en werken van de kabouter. Bussum: Unieboek B. V.LEACH, M. & FRIED, J. (1984). Funk & Wagnalls Standard Dictionary of Folklore, Mythology, and Legend. New York: Harper & Row.

Page 23: *Pesquisadora do NUPLIN, PUC-SP e doutoranda do CRP-ECA/USP. **Coordenadora do NUPLIN (Núcleo de Pesquisa: língua, imaginário e narratividade) e professora.

Formatação:José Oliveira de Paula

E-mail : [email protected]