Manual de Orientacoes Para Concepcao de Projetos Agroindustriais
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Pesquisas sobre gestão de organizações no agronegócio: uma análise no período de 2000
a 2009
Ewerton Alex Avelar – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Antônio Carlos dos Santos – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Resumo
Este artigo visa analisar as pesquisas realizadas no Brasil sobre o tema “gestão de
organizações no agronegócio” publicadas entre os anos de 2000 e 2009. Para atingir esse
objetivo, foram propostos os seguintes objetivos específicos: (a) descrever as características
principais das pesquisas reportadas sobre gestão de organizações no agronegócio; (b) realizar
uma análise bibliométrica das publicações analisadas; e (c) desenvolver uma análise
sociométrica dessas publicações. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva,
de análise bibliométrica e de análise das redes sociais dos pesquisadores envolvidos nas
publicações. Foram selecionados, no total, 56 artigos de alguns dos principais periódicos de
Administração do país e os principais resultados foram: (i) 43% de todas as publicações foram
realizadas nos últimos três anos analisados; (ii) 86% dos autores publicaram apenas uma vez
sobre o tema estudado; (iii) as redes de cooperação existentes entre os pesquisadores são
pouco extensas, dispersas e sem laços entre si (densidade de apenas 1,78%); e (iv) os
principais métodos de coleta de dados foram: entrevistas semi-estruturadas, pesquisa
documental e questionários. Acredita-se que uma interação maior entre os autores, o
desenvolvimento de linhas de pesquisa consolidadas sobre o tema e o uso de métodos de
pesquisa alternativos poderiam enriquecer os estudos sobre a gestão das organizações do
agronegócio.
Palavras-chave: Gestão de organizações no agronegócio. Análise bibliométrica. Análise
sociométrica.
Abstract
This article aims at analyzing the researches developed in Brazil about "management in
agribusiness organizations" published between 2000 and 2009. To achieve this goal, were
proposed the following specific objectives: (a) describe the main features of the researches
reported about management in agribusiness organizations, (b) conduct a bibliometrics analysis
of publications, and (c) develop a sociometrics analysis of these publications. The data were
analyzed using descriptive statistics, bibliometrics analysis and social networks analysis of the
researchers involved in the publications. Were selected 56 articles from some of the main
Brazilian journals of management and the main results were: (i) 43% of all publications
occurred during the past three years analyzed, (ii) 86% of authors published only once about
the studied subject, (iii) the cooperation networks between researchers are not very extensive,
scattered and without ties to each other (density of only 1.78%), and (iv) the main methods of
data collection were semi-structured interviews, documentary research and questionnaires.
One can say that a higher level of cooperation among the researchers, the development of
consolidated research lines on the topic and the using of other methodological approaches can
help the expansion and diffusion of knowledge about the topic in Brazil.
Keywords: Management in agribusiness organizations. Bibliometrics analysis. Social
networks analysis.
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1 Introdução
O agronegócio (agribusiness) pode ser entendido como a soma total das operações de
produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção na unidade de
produção, do armazenamento, do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas e
dos itens produzidos por meio deles (DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud REIS, 2001). Este
conceito é ratificado por Saab et al. (2009) dentre outros autores, que entendem o agronegócio
como um conceito que interliga os vários segmentos de uma cadeia agroindustrial.
O Brasil é um país que possui grande relevância no agronegócio em termos mundiais.
Segundo dados do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), em
2009, o Brasil foi o líder na produção e na comercialização de vários produtos relacionados ao
agronegócio, tais como o álcool, o café e a laranja, além de se destacar em outros aspectos
(CADERNO DE ESTATÍSTICAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, 2009). Ademais,
conforme dados projetados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o Brasil
provavelmente aumentará de forma significativa seu potencial de produção e sua inserção no
mercado mundial até o ano de 2020 (MAPA, 2010). Nesse sentido, Saab et al. (2009, p. 413)
ressaltam que a vantagem competitiva do país no agronegócio “é fruto da grande
disponibilidade de terras, mão-de-obra barata, elevada oferta de insumos, acesso às
tecnologias de produção, entre outros”.
Todavia, assim como há um grande potencial a ser explorado no agronegócio, seu
nível de competitividade tem aumentado substancialmente em âmbito global (FISCHER et
al., 2009). Tal situação exige dos gestores das organizações relacionadas ao agronegócio uma
administração mais eficiente, no intuito de alcançar maiores níveis de competitividade
(CALLADO; CALLADO, 2009). Todavia, deve-se ressaltar que a gestão de organizações no
agronegócio tem usualmente algumas peculiaridades em relação à gestão de organizações de
outros setores, tais como aspectos genéticos, de perecibilidade e climáticos, por exemplo
(MITCHELL et al. 2009; WILSON; THOMPSON, 2003; DI FALCO; CHAVAS, 2009).
Diante dessas idiossincrasias relacionadas à gestão de organizações no agronegócio, parece
relevante o desenvolvimento de pesquisas que visem analisar e aprimorar a gestão nessas
organizações.
Diante deste contexto, o presente artigo tem objetivo geral analisar as pesquisas
realizadas no Brasil sobre o tema “gestão de organizações no agronegócio” publicadas entre
os anos de 2000 e 2009. Para atingir esse objetivo geral, foram propostos os seguintes
objetivos específicos: (a) descrever as características principais das pesquisas reportadas sobre
gestão de organizações no agronegócio; (b) realizar uma análise bibliométrica das publicações
analisadas; e (c) desenvolver uma análise sociométrica dessas publicações.
A pesquisa desenvolvida pode ser classificada como exploratória e descritiva, com um
caráter inerentemente quantitativo. Os dados foram coletados nos artigos sobre a gestão de
organizações no agronegócio, selecionados por meio das ferramentas de busca presente nos
sítios de quatorze dos principais periódicos da grande área “Administração, Contabilidade e
Turismo” do país conforme a classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES). Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, de
análise bibliométrica e de análise das redes sociais (sociométrica) dos pesquisadores
envolvidos nas publicações. Para as duas primeiras análises, utilizou-se o software
Microsoft® Excel 2007 (MS-Excel). Por sua vez, para operacionalizar a análise de redes
sociais, foi utilizado o software UCINET versão 6.288.
Salienta-se que pesquisas que utilizam metodologias semelhantes vêm sendo
recentemente utilizadas nas pesquisas em ciências sociais aplicadas, tais como Machado-da-
Silva e Coser (2006) e Espejo et al. (2009). Todavia, no que tange ao agronegócio,
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especificamente a gestão de organizações desse setor, não há estudos semelhantes. Assim,
além de visar preencher essa lacuna existente na literatura, a pesquisa apresentada neste artigo
se justifica diante da importância do tópico gestão de organizações no agronegócio e de sua
influência sobre a economia nacional, como destacam Lourenço (2009), Saab et al. (2009) e o
MAPA (2010), dentre outros. Ademais, esse estudo possibilita uma compreensão da dinâmica
do desenvolvimento das pesquisas sobre o tema no Brasil. Ademais, Macedo et al. (2009, p.
92) destacam que estudos bibliométricos, tal como o apresentado neste trabalho, “são
importantes para conhecer o estágio em que a pesquisa se encontra em uma determinada
área”.
Este artigo está segregado em seis seções (contando com esta introdução). Nas seções
2 e 3, apresentam-se conceitos importantes para a compreensão do tema gestão de
organizações no agronegócio. Em seguida, na seção 4, a metodologia utilizada no
desenvolvimento da pesquisa é descrita. Posteriormente, os resultados obtidos são destacados
e discutidos (seção 5). Por fim, na seção 6, as considerações finais do estudo são apresentadas,
seguidas das referências bibliográficas.
2 O agronegócio no Brasil
Conforme Saab et al. (2009), o termo agronegócio (agribusiness em inglês) teve sua
origem na Universidade de Harvard e propõe uma visão sistêmica do funcionamento das
atividades ligadas à agropecuária. Ainda conforme esses autores, em seu conjunto, o
agronegócio é formado por vários sistemas agroindustriais associados aos principais produtos,
incluindo todas as fases de produção até o consumidor final. Reis (2007) segrega o os
sistemas agroindustriais em três segmentos: (i) setor a montante – responsável por insumos e
por bens de capital para a agropecuária; (ii) agropecuária – responsável pela produção dos
produtos; e (iii) setor a jusante – responsável pela industrialização e pela distribuição.
O agronegócio, em termos mundiais, parece ser muito importante, tanto econômica
quanto socialmente no atual contexto. Conforme a Food And Agriculture Organization Of
The United Nations (FAO), cerca de 1,02 bilhões de pessoas sofrem com a fome crônica no
mundo atualmente (FAO, 2009). Essa organização ainda destaca que um dos grandes desafios
do agronegócio no futuro será o de alimentar uma população projetada de 9,2 bilhões de
pessoas em 2050. A FAO (2009) ainda destaca que os principais desafios da produção do
agronegócio poderiam ser segregados em: (a) mudanças nos hábitos alimentares da
população; (b) mudanças climáticas; (c) desenvolvimento da bioenergia; e (d) restrições
(escassez) dos recursos naturais.
Apesar das dificuldades advindas e dos desafios no agronegócio para os produtores,
algumas informações ao redor do mundo indicam números favoráveis e que podem ser
exploradas pelos gestores nas cadeias agroindustriais. Normalmente, esses números estão
relacionados a países em desenvolvimento, tais como Brasil, Índia, Rússia e China. No que
tange a este último país, por exemplo, Fuller et al. (2006) destacam que, após a China se abrir
mais ao mercado internacional a partir da década de 1990, a demanda por produtos
relacionados ao agronegócio cresceu bastante. Conforme os autores, considerando o nível de
renda da população chinesa, a demanda por grãos, alguns tipos de carne, frutas e vegetais
excederam as expectativas de consumo (caso sejam considerados as médias consumidas pelos
países da região).
As perspectivas referentes ao agronegócio no Brasil em geral também são boas. A
grande potencialidade do Brasil na produção e na distribuição de produtos relacionados ao
agronegócio lhe garantem um local de destaque no relatório The State of Food and
Agriculture da FAO (FAO, 2009). A Figura 1 apresenta a participação do Brasil no comércio
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mundial dos principais produtos relacionados ao agronegócio. Verifica-se a expressiva
participação percentual média do Brasil na comercialização dos produtos (cerca de 17%).
Figura 1: Participação percentual do Brasil no comércio dos principais produtos relacionados ao agronegócio
Fonte: Adaptado de Caderno de Estatísticas do Agronegócio Brasileiro 2009
Lourenço (2009) destaca a importância do agronegócio para a economia nacional em
diversos aspectos. Nesse sentido, esse autor afirma que o “Agronegócio Brasileiro é um dos
principais setores da economia nacional, conseguindo atingir posição de destaque mesmo em
condições desiguais de competição” (p. 1). Deve-se salientar que, em 2009, o agronegócio
brasileiro foi responsável por compensar o déficit em outros setores devido à crise financeira
mundial em 2008, sendo que no referido ano, o PIB do agronegócio brasileiro avançou cerca
de 5,1% (CADERNO DE ESTATÍSTICAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, 2010).
Ademais, segundo o MAPA, o Brasil tem condições de expandir ainda mais sua
produção e participação no mercado externo, devido à disponibilidade de terras para
ampliação da produção de alimentos e biocombustíveis (MAPA, 2009). A referida entidade
divulgou uma projeção positiva do agronegócio brasileiro para a próxima década (conforme a
Tabela 1).
Tabela 1: Projeção da produção no agronegócio brasileiro para 2010/2020
Produto Unidade 2008/2009 2019/2020 Variação (%)
Milho Milhões de toneladas 50,97 70,12 37,57
Soja/grão Milhões de toneladas 57,09 81,95 43,55
Trigo Milhões de toneladas 5,67 7,07 24,69
Laranja Milhões de toneladas 18,54 21,06 13,59
Carne de Frango Milhões t equiv. carcaça 11,13 16,63 49,42
Carne bovina Milhões t equiv. carcaça 7,83 9,92 26,69
Carne suína Milhões t equiv. carcaça 3,19 3,95 23,82
Cana-de-açúcar Milhões de toneladas 696,44 893,00 28,22
Açúcar Milhões de toneladas 31,50 46,70 48,25
Etanol Bilhões de litros 27,67 62,91 127,36 Algodão Milhões de toneladas 1,19 2,01 68,91
Arroz Milhões de toneladas 12,63 14,12 11,80
Feijão Milhões de toneladas 3,48 4,27 22,70
Leite Bilhões de litros 30,34 37,75 24,42
Farelo de soja Milhões de toneladas 22,48 28,17 25,31
Óleo de soja Milhões de toneladas 5,69 7,92 39,19
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Batata-inglesa Milhões de toneladas 3,39 4,17 23,01
Mandioca Milhões de toneladas 26,42 30,19 14,27
Fumo Milhões de toneladas 0,83 1,08 30,12
Papel Milhões de toneladas 9,41 12,24 30,07
Celulose Milhões de toneladas 12,70 18,10 42,52
Fonte: Adaptado de MAPA (2010)
Pela análise da Tabela 1, verifica-se um aumento médio de 35,98% na produção
agropecuária brasileira até o ano de 2020. No caso do Etanol, por exemplo, esse aumento será
de mais de 120%. O MAPA, todavia, ressalta a importância de se considerar algumas
incertezas no que tange a essas projeções, quais sejam: recessão mundial, aumento do
protecionismo nos países importadores e mudanças climáticas severas (MAPA, 2010).
Considerando todos os fatores apresentados, parece importante que os gestores do
agronegócio tenham a capacidade de gerir seus negócios de forma adequada, obtendo os
benefícios dessa provável expansão brasileira, assim como minimizando os riscos de suas
atividades. A seção seguinte explora em maior profundidade esse tema.
3 Gestão de organizações no agronegócio
De modo geral, pode-se dizer que atualmente há um aumento da competitividade nos
vários segmentos do agronegócio em nível mundial (REARDON et al., 2001). Nesse sentido,
Fischer et al. (2009) destacam que a maioria dos consumidores ao redor do mundo pode
escolher entre uma grande variedade de produtos relacionados às cadeias agroindustriais,
sendo que milhares de novos produtos são inseridos no mercado todos os anos, fazendo com
que a competitividade dos negócios se torne cada vez mais forte. Nesse sentido, Callado e
Callado (2009, p. 66) destacam que
No atual contexto econômico, os segmentos mais dinâmicos do agronegócio são
constantemente desafiados a aprimorar seus conhecimentos sobre a administração,
procurando, não só, alcançar elevados níveis de produtividade, mas também saber
como gerenciar a produtividade obtida. [...] O ambiente econômico e social onde o
agronegócio está inserido se tornou cada vez mais complexo e diversificado. O que anteriormente era entendido como exploração econômica de propriedades rurais
isoladas é parte de um amplo espectro de inter-relações e interdependências
produtivas, tecnológicas e mercadológicas.
A competitividade supracitada normalmente impele os gestores das organizações
relacionadas ao agronegócio, especialmente das unidades de produção que fazem parte das
cadeias agroindustriais, a aprimorarem sua gestão no intuito de se manterem/aumentarem seu
nível de eficiência. Pode-se dizer que, de maneira geral, boa parte dessa competitividade está
relacionada à maior exigência dos clientes, que além do preço e de aspectos físicos
relacionados à qualidade do produto, têm dado cada vez mais preferência a outros artributos
como a animais que são bem cuidados e a responsabilidade ambiental (FISCHER et al.,
2009).
Esse aumento da competitividade pode ser ilustrado por meio de números,
especialmente, no que tange a pequenos produtores. Conforme Tauer e Mishra (2006),
durante a década de 1990, os produtores de leite nos Estados Unidos foram drasticamente
reduzidos (um descréscimo de 42%), sendo que tal redução está relacionada apena ao estrato
das pequenas unidades de produção (os grandes produtores se mantiveram em um número
quase que constante no período). Marsh (2003), por sua vez, destaca os problemas
enfrentados pela queda nos preços, dentre outros fatores (inclusive uma redução da demanda
no longo prazo) dos produtores de carne bovina norte-americanos. Resultados parecidos têm
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sido reportados por pesquisadores brasileiros, tais como Reis et al. (2001) e Fassio (2004),
que verificaram a importância da escala de produção para o aumento da competitividade nas
cadeias agroindustriais cafeeira e leiteira, respectivamente.
Assim, verifica-se a importância da adequada gestão de organizações no agronegócio
para que as mesmas sobrevivam em um ambiente cada vez mais competitivo. Conforme
Callado e Callado (2009), no âmbito das organizações agroindustriais, a gestão administrativa
pode ser segregada em dois aspectos principais: os processos produtivos, que se desenvolvem
no âmbito da organização e os aspectos comerciais, que se desenvolvem ente as organizações
e o ambiente externo. As ações inerentes aos dois aspectos parecem relevantes para manter a
competitividade das organizações no agronegócio, que, em grande parte, são muito diferentes
de organizações em outros setores da economia.
No intuito de auxiliar na gestão dessas organizações peculiares, muitos autores
apresentam alguns tópicos importantes para os gestores agroindustriais enfrentarem a
crescente competição no agronegócio. Boland et al. (2007), por exemplo, indicam a
possibilidade do desenvolvimento de cooperativas como forma de se enfrentar a competição
crescente já ressaltada. Mitchell et al. (2009), por sua vez, ressaltam a importância da adoção
do melhoramento genético para aumentar a produtividade nas unidades de produção. Esses
autores salientam que os economistas já vêm mensurando a melhoria da produtividade
relacionadas aos vários elos das cadeias agroindustriais com base nesses melhoramentos
genéticos.
Por sua vez, Diekmann et al. (2009) e Saab et al. (2009) destacam a relevância do
acesso cada vez mais frequente dos gestores a informações relacionados ao agronegócio.
Conforme esses autores, a informação é cada vez mais crucial para o sucesso financeiro das
unidades de produção, pois os sistemas agroindustriais têm se tornado cada vez mais
complexos e com grande intensidade de informações, demandando dos tomadores de decisões
das unidades de produção, uma capacidade para procurarem, avaliarem e processarem um
número cada vez maior de informações. Todavia, tem-se que, apesar da necessidade de um
grande volume de informações, seu custo de provisão tem se reduzido, aumentando o número
de informações disponíveis assim como a relevância do processo de avaliação de quais são
efetivamente relevantes (DIEKMANN et al., 2009).
Alguns autores como Fischer et al. (2009) e Wilson e Thompson (2003), por sua vez,
ressaltam a importância de se considerar a cadeia agroindustrial como um todo e não cada
organização como isolada das demais para se manter a competitividade nas atividades
relacionadas ao agronegócio. Conforme aqueles primeiros autores, de modo geral, o sucesso
mercadológico dos produtos produzidos nas cadeias agroindustriais não está relacionado a um
elo específico da cadeia, mas, sim, cada vez mais vem sendo determinado por estratégias
coletivas entre as várias organizações envolvendo relações que perpassam toda à cadeia.
Nesse sentido, Saab et al. (2009, p. 413) destacam que “além da competição com outros
países pelo mercado, há também a competição entre cadeias tanto no âmbito nacional como
internacional”.
Wilson e Thompson (2003), por sua vez, destacam a importância de os gestores
tentarem melhorar sua competitividade por meio de estratégias para evitar a perecibilidade de
produtos. Conforme os referidos autores, ao contrário das demais indústrias típicas, a
produção de alimentos está normalmente relacionada a um período do ano, devido à sua
perecibilidade. Apesar disso ainda ser uma realidade constante em boa parte do mundo, tal
como destacado, Wilson e Thompson (2003) ressaltam que algumas medidas na produção, no
processo, no empacotamento e no estoque refrigerado têm auxiliado alguns produtores a
manterem seus produtos disponíveis boa parte do ano. Dessa forma, conforme os autores
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supracitados, os gestores das unidades de produção usualmente devem entender as
implicações de processos como esses para manter/aumentar sua competitividade.
Pode-se dizer, ainda, que um outro fator que pode auxiliar os gestores das unidades de
produção a tomarem suas decisões de forma mais eficiente é a educação especializada. Tal
idéia é defendida por vários autores, tais como Boland e Akridge (2004), que afirmam que
programas de graduação em gestão no agronegócio têm se tornado cada vez mais importantes
nos departamentos de Economia Agrícola das universidades. Contudo, conforme os referidos
autores, para lograr êxito, de modo geral, esses programas têm que ter mais que uma coleção
de cursos relacionados à gestão no agronegócio, eles tem que coordenar e integrar
experiências que fomentem o pensamento crítico e habilidades de comunicação, além de
desenvolver conhecimentos específicos ao setor e cultivar a diversidade de pensamento.
Por fim, alguns autores destacam as várias ferramentas de gestão que podem ser
utilizadas para auxiliar os gestores a manterem a competitividade no agronegócio. Dentre
esses autores, podem ser citados Chambers e Quiggin (2002), Barros e Aguiar (2005) e Höfer
et al. (2006). Os primeiros autores destacam a importância de algumas ferramentas
econométricas, além de destacarem a necessidade de se avaliar a incerteza ao se utilizar tais
ferramentas. Por sua vez, Barros e Aguiar (2005), destacam o uso do mercado de derivativos
para operacionalizar estratégias de hedge para a produção. Por fim, Höfer et al. (2006)
salientam a importância de se considerar ferramentas relacionadas à Contabilidade de Custos
para manter a competitividade das organizações no agronegócio.
Entretanto, a despeito da competitividade no agronegócio, deve-se destacar que há
vários assuntos polêmicos que merecem atenção dos pesquisadores. O primeiro deles (e,
talvez) um dos mais ressaltados é a escala de produção. Muitos autores têm discorrido sobre o
tema, tais como Fassio (2004), Sartorius e Kirsten (2007) e Tauer e Mishra (2006). Além das
questões polêmicas próprias do agronegócio, outras podem ser consideradas limitações
inerentes a ele. Dentre os mesmos, pode ser citado o clima, que é destacado por diversos
autores, tais como Di Falco e Chavas (2009) e Lentes et al. (2010). Outra limitação que pode
ser elencada é a questão das políticas públicas, tal como destacado por Reis et al. (2001) e
Guo e Jolly (2008). Por fim, uma outra grande limitação com a qual se defrontam os gestores
responsáveis pelas organizações em uma cadeia agroindustrial é a existência de uma série de
doenças que podem afetar a produção e prejudicar a cadeia como um todo (ITTY, 1996).
Verifica-se pelo exposto, vários fatores a serem considerados pelos gestores das
organizações no agronegócio, que tornam a sua atividade bastante arriscada. Conforme a
classificação de Callado e Callado (2009), verificam-se aspectos tanto internos à organização
quanto externos. O Quadro 1 apresenta um resumo dos aspectos analisados conforme a
classificação dos referidos autores.
Quadro 1: Alguns fatores que influenciam a gestão de organizações no agronegócio conforme a classificação de
Callado e Callado (2009)
Origem do fator Fatores identificados
Interno (Produtivo)
Informações internas, melhoramento genético, perecibilidade dos produtos,
Educação gerencial, ferramentas de gestão (econometria, derivativos e getão de custos) e escala de produção.
Externo (Comercial) Cooperativismo, Informações externas, cadeia agroindustrial, políticas
públicas e doenças.
Fonte: Elaborado pelos autores
4 Metodologia
A pesquisa, cujos resultados são destacados neste artigo, pode ser classificada como
exploratória, descritiva e de natureza quantitativa. Pode-se dizer que a pesquisa exploratória
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visa elucidar um tópico ainda pouco abordado na literatura, tal como a análise realizada na
pesquisa apresentada neste trabalho (CASSEL; SYMON, 1994). Por sua vez, conforme Gil
(1996), a pesquisa descritiva tem como objetivo principal descrever as características de
determinada população ou fenômeno ou, o estabelecimento de relação entre dadas variáveis.
Por fim, Oliveira (1988) destaca que a pesquisa quantitativa pode ser entendida como a que
utiliza um instrumental estatístico para análise de um problema, ou seja, atém-se a medir
unidades ou categorias.
Para o desenvolvimento da pesquisa, primeiramente, identificou-se, no sítio da
CAPES (www.capes.gov.br), os principais periódicos da grande área “Administração,
Contabilidade e Turismo” do país conforme o “Qualis”. Este é “o conjunto de procedimentos
utilizados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas
de pós-graduação [...] [o Qualis] afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a
partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos”
(CAPES, 2010).
Foram selecionados periódicos, pois, segundo Dellagnelo e Machado-da-Silva (2000),
os critérios utilizados pelos editores dos mesmos são normalmente bastante rigorosos e
incluem perspectivas tanto teóricas quanto práticas, garantindo a confiabilidade e a qualidade
do material pesquisado. Ademais, os periódicos usualmente tornam a produção científica mais
disseminada e de fácil acesso aos demais pesquisadores, contribuindo para o avanço da
ciência (BEUREN et al., 2009). Os periódicos selecionados são destacados no Quadro 2.
Foram selecionados 14 periódicos dos estratos A1, A2, B1 e B2 (principais estratos)
conforme a Classificação Qualis da CAPES. A seleção se deu por serem artigos publicados
em português, possuírem as melhores classificações no Qualis da grande área “Administração,
Contabilidade e Turismo”, apresentarem em seu sítio na internet ferramentas de busca de
artigos por meio de palavras-chave e possuírem, no mínimo, um artigo sobre o tema gestão de
organizações no agronegócio publicado no período analisado (2000 a 2009).
Quadro 2: Periódicos de Administração e Contabilidade selecionados e estudados na pesquisa
Revista ISSN Sigla
Economia Aplicada 1413-8050 EA
Estudos Econômicos 0101-4161 EE
Gestão & Produção 0104-530X G&P
Produção 1980-5411 PROD
RAC Eletrônica 1981-5200 RAC-e
RAE Eletrônica 1676-5648 RAE-e
Revista Brasileira de Finanças 1984-5146 RBFin
Revista de Administração Contemporânea 1415-6555 RAC
Revista de Administração da USP 0080-2107 RAUSP
Revista de Administração Mackenzie 1678-6971 RAM
Revista de Administração Pública 0034-7612 RAP
Revista de Economia Contemporânea 1415-9848 REC
Revista de Economia e Sociologia Rural 0103-2003 RER
Revista Eletrônica de Administração 1413-2311 REAd
Fonte: CAPES (2010) – Área: Administração, Contabilidade e Turismo
Posteriormente à identificação dos periódicos, verificou-se as ferramentas de busca de
artigos disponíveis no sítio de cada um deles. Utilizaram-se as seguintes palavras-chave nos
campos de busca por título, resumo e palavras-chave: “agronegócio”, “agribusiness”,
“agroindustrial”, “agroindústria” e “agroindustry”. Quando não existentes todos os três
campos para busca, utilizaram-se as mesmas palavras-chave apenas nos campos disponíveis.
No total, foram identificados 56 artigos.
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Em seguida, os principais dados coletados sobre os artigos selecionados foram
tabulados no software MS-Excel, para facilitar a análise. Tal análise foi realizada,
inicialmente, por meio de estatística descritiva (apresentada na seção 5.1 deste artigo). Pode-
se dizer que a estatística descritiva consiste na elaboração de tabelas, gráficos e medidas que
são exploradas no intuito de facilitar o entendimento das informações (CARLOS, 2004).
Ademais, realizou-se uma análise bibliométrica dos artigos selecionados. Macias-
Chapula (1998) destaca que este tipo de análise se refere a um conjunto de métodos
quantitativos que desenvolve padrões e modelos matemáticos para mensurar os processos da
produção e da disseminação, além do uso, da informação registrada, utilizando os resultados
provenientes dessa análise para elaborar previsões e apoiar decisões. Além disso, pode-se
considerar que a importância dos estudos bibliométricos para se conhecer o estágio em que a
pesquisa se encontra em uma determinada área (MACEDO et al., 2009).
Salienta-se, ainda, uma análise sob a perspectiva de redes sociais (sociometria), com o
suporte do software UCINET versão 6.288. Normalmente, é essencial observar que as redes
sociais podem gerar novos conhecimentos com o objetivo de resolver problemas nas diversas
áreas das Ciências Sociais, trabalhando com ações estruturadas, especificamente, explorando
a geração quantitativa da informação (PINTO et al., 2007). Galaskiewicz e Wasserman
(1994) apud Walter et al. (2009) complementam, destacando que os estudos sociométricos
voltam-se à exploração da matriz de relacionamentos estabelecida entre os atores sociais (no
caso, pesquisadores).
Por fim, desenvolveu-se uma medida bibliométrica para classificação dos autores com
base no número de publicações e o número de laços diferentes nas redes sociais. Esta medida
foi calculada com base na multiplicação do número de artigos de cada autor pelo número de
laços estabelecidos com diferentes autores na produção de seus trabalhos. Essa medida visa
destacar pontos importantes tanto da análise bibliométrica (número de publicações) quanto da
análise sociométrica (relações/laços entre os autores).
5 Apresentação e discussão dos resultados
5.1 Estatística descritiva dos estudos analisados
O número de artigos analisados na pesquisa é destacado na Tabela 2. Por sua vez, a
Figura 1 apresenta os mesmos dados graficamente. Não é possível verifica-se uma tendência
clara de aumento do número de artigos ao longo do tempo. Deve-se salientar, no entanto, que
apenas nos últimos três anos, foi publicado cerca de 43% dos artigos analisados na pesquisa.
Salienta-se que apenas três dos periódicos estudados (G&P, RAUSP e REAd)
apresentam mais de 51% da produção sobre a gestão de organizações no agronegócio dentre
os periódicos analisados (29 artigos, no total). Tal situação parece indicar uma centralização
nas publicações, todavia, não é possível inferir sobre os fatores que contribuem para isso.
Ademais, seis dos periódicos (EA, EE, RAC-e, RAC, RAM e RBFin) analisados apresentam
apenas um artigo sobre a referida temática publicado nos anos analisados.
Tabela 2: Número de artigos analisados por ano e por periódico selecionado
Sigla
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Total %
EA 1 1 1,79
EE 1 1 1,79
G&P 1 1 2 3 1 1 9 16,07
PROD 1 2 3 5,36
RAC-e 1 1 1,79
RAE-e 1 1 2 3,57
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RBFin 1 1 1,79
RAC 1 1 1 2 1 1 7 12,50
RAUSP 1 1 4 1 1 1 1 10 17,86
RAM 1 1 1,79
RAP 1 1 1,79
REC 1 1 2 3,57
RER 1 3 2 1 7 12,50
REAd 1 3 2 2 1 1 10 17,86
Total 2 2 4 4 9 5 6 12 7 5 56 100,00
Fonte: Os autores
Figura 1: Número de artigos analisados por ano e por periódico selecionado
Fonte: Os autores
A Tabela 3, por sua vez, apresenta a classificação dos estudos em empíricos ou
teóricos. Verifica-se a forte predominância dos primeiros sobre os últimos. Assim, verifica-se
que a grande maioria das pesquisas tem um enfoque empírico, ou seja, desenvolvimentos
teóricos não são muito comuns nesta área. A maioria dos estudos apresentados nos artigos
visou analisar evidências teóricas com base em estudos de casos conduzidos em diversos elos
da cadeia agroindustrial.
Tabela 3: Tipo de estudo apresentado nos artigos analisados
Tipo do artigo N. De artigos %
Empírico 52 92,86
Teórico 4 7,14
Total 56 100,00
Fonte: Os autores
Por sua vez, a Tabela 4 e a Figura 3 apresentam um resumo das abordagens
normalmente utilizadas pelos pesquisadores nas pesquisas apresentadas nos artigos empíricos
analisados: qualitativa, quantitativa ou qualitativa e quantitativa. Percebe-se um equilíbrio
entre os estudos que adotaram a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa a em quase todo
o período estudado. Salienta-se um aumento proporcional no número de pesquisas
quantitativas nos últimos períodos, assim como o uso de estudos que utilizam as duas
abordagens de pesquisa simultaneamente (que começaram a surgir a partir de 2004). Todavia,
esta última tipologia apresenta uma importante metodologia e a ser utilizada.
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Tabela 4: Abordagens de pesquisa utilizada nos estudos empíricos
Ano
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Total %
Qualitativa 2 1 1 2 5 2 2 7 1 1 24 46,15
Quantitativa 0 0 2 2 3 1 3 4 4 3 22 42,31
Quali-quanti 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 6 11,54
Total 2 1 3 4 9 4 6 12 6 5 52 100,00
Fonte: Os autores
Figura 3: Abordagens de pesquisa utilizada nos estudos empíricos
Fonte: Os autores
Quanto aos métodos utilizados na pesquisas analisadas, a Tabela 5 indica os métodos
utilizados nas pesquisas empíricas, assim como o número de estudos que deles utilizaram.
Ressalta-se a média de número de métodos por estudo empírico foi de 1,54. Constata-se que o
principal método utilizado para a coleta de dados é a entrevista semi-estruturada. Tal método
se destaca por ser inerente à pesquisa qualitativa, sendo utilizado para a coleta de dados em
quase 30% dos artigos analisados.
Em seguida, dois outros métodos se destacam: pesquisa documental e questionários. O
primeiro é um método que é usualmente utilizado tanto em pesquisas de caráter quantitativo
quanto qualitativo. O segundo método, por outro lado, é geralmente relacionado a estudos
empírico-analíticos e surveys, ou seja, inerentemente quantitativas (apesar de os questionários
também serem utilizados em alguns estudos de casos de natureza qualitativa). Alguns
métodos de coleta de dados, tais como entrevistas não-estruturadas, grupos de foco e
observação (usuais em estudos qualitativos) se mantém em segundo plano, não se destacando
em nenhum dos anos analisados. Outros métodos de coleta de dados utilizados em pesquisas
em ciências sociais, tais como a história de vida e o método Delphi, sequer foram citados nos
artigos estudados.
Tabela 5: Métodos de coleta de dados utilizados nos estudos empíricos
Método de coleta de dados Frequência %
Dados secundários (base de dados) 12 15,00
Entrevistas não-estruturadas 4 5,00
Entrevistas semi-estruturadas 23 28,75
Grupo de foco 1 1,25 Observação não-participante 3 3,75
Observação participante 2 2,50
Pesquisa documental 20 25,00
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Questionários 15 18,75
Total 80 100,00
Fonte: Os autores
Por fim, a Tabela 6 destaca os principais produtos relacionados às organizações
estudadas em cada um dos trabalhos analisados (que focaram organizações que trabalhavam
com apenas um produto). Classificou-se como “Geral”, os estudos que apresentam
organizações que davam suporte ao agronegócio como um todo (tais como institutos de
pesquisa) ou que se relacionavam à gestão de organizações relacionadas a mais de um
produto. Verifica-se uma maior atenção dos estudos no que tange a frutas e leite (10,71%),
seguida da carne bovina (8,93%) e da soja (7,14%). A gestão de organizações que
trabalhavam com alguns produtos específicos, como as carne suína e de frangos e feijão,
sequer foram citados.
Tabela 6: Produtos relacionados às organizações estudadas nos artigos analisados
Produtos Frequência %
Geral 18 32,14
Frutas 6 10,71
Leite 6 10,71
Carne bovina 5 8,93
Soja 4 7,14
Cana 3 5,36
Celulose 3 5,36
Café 2 3,57
Carne suína 2 3,57 Arroz 1 1,79
Flores 1 1,79
Fumo 1 1,79
Milho 1 1,79
Outros 3 5,36
Total 56 100,00
Fonte: Os autores
Por fim, verificou-se uma certa relação entre os estudos realizados sobre determinados
produtos e a representatividade desses produtos brasileiros no mercado internacional (Figura
1). O Brasil, por exemplo, é líder mundial na produção de laranjas e as frutas (especialmente a
laranja) e frutas (10,71% dos estudos). Tal situação parece implicar que os estudos são
normalmente direcionados pela maior representatividade dos produtos na produção nacional.
Todavia, parece merecer atenção, o fato de que algumas organizações do agronegócio que
demandem pesquisas ficarem à margem dos estudos acadêmicos.
5.2 Análises bibliométrica e de redes sociais (sociométrica)
Esta subseção apresenta uma análise bibliométrica dos estudos sobre gestão de
organizações no agronegócio com base nos artigos selecionados e uma análise sob a
perspectiva de redes sociais (sociométrica). A Tabela 7 destaca os autores que mais
publicaram sobre o tema (com dois ou mais artigos publicados no período analisado),
considerando os parâmetros estabelecidos na pesquisa (vide seção 4 deste trabalho).
Pode-se verificar o destaque evidente de apenas um autor: Décio Zylbersztajn, com
quatro trabalhos publicados, sendo, assim, responsável direto por cerca de 3,08% dos artigos
publicados no período. Os demais autores da Tabela 7 não se destacam tanto, publicando,
cada um dois artigos sobre o tema no período.
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Tabela 7: Principais autores segundo os estudos utilizados
Autores Frequência %
ZYLBERSZTAJN, D. 4 3,08
BRAGA, M. J. 2 1,54
ESTIVALETE, V. F. B. 2 1,54
MACEDO-SOARES, T. D. L. V. A. 2 1,54
MARTINS, P. C. 2 1,54
MARTINS, R. S. 2 1,54
MIELE, M. 2 1,54 MORABITO, R. 2 1,54
NEVES, M. F. 2 1,54
PADULA, A. D. 2 1,54
PAULILLO, L. F. 2 1,54
RÉVILLION, J. P. P. 2 1,54
ROCHA JR., W. F. 2 1,54
SPERS, E. E. 2 1,54
TROCCOLI, I. R. 2 1,54
Fonte: Os autores
Por sua vez, a Tabela 8 destaca uma medida bibliométrica desenvolvida, que considera
o número de publicações dos autores e o número de laços estabelecidos por eles (vide Figura
3) para a elaboração de suas publicações (consideraram-se os autores que possuem valores
para a referida medida bibliométrica igual ou superior a cinco para apresentação na tabela).
Considerando a medida supracitada, cinco autores entram em evidência com valores
superiores a 10 (dez): Weimar F. da Rocha Júnior, Décio Zylbersztajn, Ricardo Silveira
Martins, Jean P. P. Révillion e Paulo C. Martins. Salienta-se que Décio Zylbersztajn, apesar
de possuir um maior número de publicações, elaborou todas com a cooperação de apenas
outro pesquisador, o que contribuiu negativamente para o cálculo da sua medida
bibliométrica.
Tabela 8: Principais autores sobre gerenciamento de resultados considerando número de publicações e número
de laços (vínculo) com outros autores
Autores Frequência (A) Laços (B) Medida bibliométrica (A x B)
ROCHA JR., W. F. 2 8 16
ZYLBERSZTAJN, D. 4 4 16
MARTINS, R. S. 2 7 14
RÉVILLION, J. P. P. 2 6 12 MARTINS, P. C. 2 5 10
PADULA, A. D. 2 5 10
SPERS, E. E. 2 5 10
BRAGA, M. J. 2 4 8
ESTIVALETE, V. F. B. 2 3 6
LOBO, D. S. 1 5 5
OLIVEIRA, H. F. 1 5 5
YAMAGUCHI, L. C. T. 1 5 5
Fonte: Os autores
Salienta-se que os estudos analisados possuem uma média de 2,32 autores por artigo
publicado, o que parece evidenciar que os autores têm cooperado entre si para a realização das
pesquisas e a produção dos trabalhos. No intuito de entender melhor essas relações de
cooperação, realizou-se uma análise de redes (sociométrica) com o suporte do software
UCINET versão 6.288. A Figura 4 destaca a rede de cooperação entre os autores dos estudos
analisados sobre a gestão de organizações no agronegócio.
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O que se verifica pela análise da Figura 4, é a produção dispersa dos autores que
trabalham com o tópico gestão de organizações no agronegócio. A maioria dos autores que
realizaram apenas uma publicação sobre o tema (86% dos autores). Tal situação contribui
para o baixo valor de densidade da rede de cooperação: 0,0178. Tal índice relaciona o número
de laços existentes e os possíveis, ou seja, dos 12.640 laços possíveis, foram estabelecidos
apenas 225. Assim, no caso analisado, apenas 1,78% de todos os laços possíveis na rede
foram efetivados. Dessa forma, constata-se que há uma grande dispersão nas publicações. Tal
descentralização não parece “saudável” à ampliação do conhecimento na área, considerando
que não parecem existir linhas de pesquisas bem consolidadas a ponto de aprofundar os
estudos sobre o tema. Todavia, o aumento do número das pesquisas nos últimos anos, tal
como destacado anteriormente, pode evidenciar um aumento no número de pesquisadores na
área (além do número de publicações).
Figura 4: Redes de cooperação entre os autores dos artigos analisados
Fonte: Os autores
Verifica-se uma correlação positiva, apesar de pouco significativa (R2 de 0,43) entre o
número de laços e o número de publicações dos autores, ou seja, quando maior o número de
laços entre os autores, usualmente maior o número de publicações. Salienta-se que a
cooperação entre os autores poderia auxiliar os autores a melhorarem e aprimorarem seus
estudos, por meio da difusão de informações (de diversos tipos) ao longo da rede. O que se
observa (tal como destacado na Figura 4), contudo, é um isolamento dos autores, sem
comunicação entre as redes de cooperação. Assim, essa parece ser uma deficiência dos
estudos sobre gestão de organizações no agronegócio no país, ao mesmo tempo em que se
apresenta como um possível potencial de expansão.
Verifica-se que algumas redes de cooperação são formadas, contudo, apresentam um
número bastante limitado de membros. É importante ressaltar que a maioria as redes de
cooperação identificadas são usualmente bastante limitadas e não apresentam cooperação
entre si. Ademais, a grande maioria dos laços é considerada fraca (os autores se unem ao autor
principal da rede, mas não com outros autores).
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6 Considerações finais
Os resultados da pesquisa apresentada neste artigo indicaram um aumento de estudos
publicados sobre a gestão de organizações no agronegócio no país nos últimos três anos
analisados. Todavia, verificou-se, ainda, que há uma grande dispersão da produção entre
vários autores, sendo que a maioria publicou apenas um artigo sobre o tema. Em parte, tal
situação parece negativa para a produção do conhecimento na área, uma vez que a grande
maioria dos estudos é pontual e não parecem indicar a existência de linhas de pesquisas
consolidadas.
Ademais, as poucas redes sociais existentes de cooperações entre os autores são
normalmente pouco extensas e não possuem laços entre si. Uma vez que o aumento do
número de laços entre os pesquisadores normalmente auxilia na produção e na difusão do
conhecimento (por causa da colaboração e da transmissão de informações), uma maior
cooperação entre os autores poderia auxiliar na expansão da pesquisa sobre gestão de
organizações no agronegócio no país.
Constatou-se ainda que a maioria das pesquisas segue metodologias bastante similares
e convencionais. Poucos estudos têm tentado explorar outros aspectos sobre a gestão de
organizações no agronegócio utilizando metodologias de pesquisa distintas, que parecem ser
válidas para a pesquisa na área, dependendo do problema abordado pelo pesquisador. Um
exemplo de pesquisas neste sentido é o estudo de Binotto e Nakayama (2009), um dos artigos
analisados no estudo reportado neste trabalho.
Salienta-se que a pesquisa apresentada neste trabalho apresentou algumas limitações
que devem ser elucidadas. Primeiramente, deve-se considerar que os parâmetros estabelecidos
para a pesquisa nos sítios dos periódicos podem ter negligenciado algum(ns) artigo(s) sobre o
tema. Além disso, em certos aspectos, destaca-se que os pesquisadores tiveram que usar de
julgamentos inerentemente subjetivos para classificar os artigos segundo algumas categorias
de análise.
Por fim, acredita-se que a pesquisa reportada neste trabalho tenha contribuído para o
estudo sobre o tema gestão de organizações no agronegócio, ao destacar algumas das
características dos principais artigos sobre o mesmo, apresentar uma visão geral sobre a
pesquisa sobre o tema no Brasil entre 2000 e 2009 e aspectos que parecem necessitar de uma
maior atenção dos pesquisadores. Ademais, espera-se que os resultados do estudo possam
estimular outros pesquisadores a aprofundarem suas pesquisas sobre a gestão de organizações
no agronegócio brasileiro, que parece ter um grande potencial de expansão.
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