Peter White Linguagem Em Discurso

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177 Peter White Linguagem em (Dis)curso - LemD, Tubarão, v. 4, n.esp, p. 178-205, 2004 1 INTRODUÇÃO A valoração é uma abordagem utilizada para analisar a avaliação e a perspectiva em textos. Essa abordagem surgiu a partir da lingüística sistêmica funcional (veja, por exemplo, HALLIDAY, 1985/1994; MARTIN, 1992; e MATTHIESSEN, 1995), e foi estimulada, num primeiro momento, por trabalhos no campo da lingüística educacional e pelo desenvolvimento dos programas australianos de letramento baseados em gêneros textuais (veja, por exemplo, IEDEMA, FEEZ e WHITE, 1994; CHRISTIE e MARTIN, 1997; MARTIN, 2000). A valoração apresenta técnicas para analisar, de forma sistemática, como a avaliação e a perspectiva operam em textos completos e em grupos de textos de qualquer registro. A abordagem está interessada nas funções sociais desses recursos, não simplesmente como formas através das quais falantes/escritores individuais expressam seus sentimentos e posições, mas como meios que permitem que os indivíduos adotem posições de valor determinadas socialmente, e assim se filiem, ou se distanciem, das comunidades de interesse associadas ao contexto comunicacional em questão. VALORAÇÃO – A LINGUAGEM DA AVALIAÇÃO E DA PERSPECTIVA * Peter White ** Resumo: Este artigo apresenta um esboço do modelo proposto pela abordagem da valoração de alguns dos recursos-chave da avaliação e da perspectiva. Em sua taxonomia dos valores da Atitude, o modelo fornece uma descrição das opções disponíveis para construirmos diferentes tipos de avaliações positivas e negativas. Em sua noção de Atitude direta versus Atitude implícita, o modelo descreve as opções disponíveis para ativarmos essas avaliações. Através de sua descrição dos recursos de Engajamento, o modelo oferece uma abordagem que permite explorar as formas como a voz textual se posiciona em relação a essas avaliações, numa abordagem que permite caracterizar as diferentes perspectivas intersubjetivas disponíveis para a voz textual. Devo enfatizar que a abordagem descrita neste artigo é resultado de um projeto de pesquisa em andamento, e é quase certo que sofrerá mudanças nos anos futuros. Palavras-chave: valoração; avaliação; atitude; julgamento; engajamento. * N. das Orgs: Este artigo foi originalmente publicado em inglês In: VERSCHUEREN, J.; ÖSTMAN, J.; BLOMMAERT, J.; BULCAEN, C. (Eds.). The handbook of pragmatics. Amsterdan; Filadelphfia: John Benjamins Publishing Co, 2002. p. 1-27. [Tradução de Débora de Carvalho Figueiredo]

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Este texto fala sobre a avaliação na perspectiva da Análise do Discurso Critica, que é consistida de Afeto, Apreciação e Julgamento.

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    Linguagem em (Dis)curso - LemD, Tubaro, v. 4, n.esp, p. 178-205, 2004

    1 INTRODUO

    A valorao uma abordagem utilizada para analisar a avaliao e aperspectiva em textos. Essa abordagem surgiu a partir da lingstica sistmicafuncional (veja, por exemplo, HALLIDAY, 1985/1994; MARTIN, 1992; e MATTHIESSEN,1995), e foi estimulada, num primeiro momento, por trabalhos no campo dalingstica educacional e pelo desenvolvimento dos programas australianos deletramento baseados em gneros textuais (veja, por exemplo, IEDEMA, FEEZ e WHITE,1994; CHRISTIE e MARTIN, 1997; MARTIN, 2000).

    A valorao apresenta tcnicas para analisar, de forma sistemtica, como aavaliao e a perspectiva operam em textos completos e em grupos de textos dequalquer registro. A abordagem est interessada nas funes sociais desses recursos,no simplesmente como formas atravs das quais falantes/escritores individuaisexpressam seus sentimentos e posies, mas como meios que permitem que osindivduos adotem posies de valor determinadas socialmente, e assim se filiem,ou se distanciem, das comunidades de interesse associadas ao contextocomunicacional em questo.

    VALORAO A LINGUAGEM DA AVALIAO E DA

    PERSPECTIVA*

    Peter White**

    Resumo: Este artigo apresenta um esboo do modelo proposto pela abordagem da valorao dealguns dos recursos-chave da avaliao e da perspectiva. Em sua taxonomia dos valores da Atitude,o modelo fornece uma descrio das opes disponveis para construirmos diferentes tipos deavaliaes positivas e negativas. Em sua noo de Atitude direta versus Atitude implcita, o modelodescreve as opes disponveis para ativarmos essas avaliaes. Atravs de sua descrio dos recursosde Engajamento, o modelo oferece uma abordagem que permite explorar as formas como a voztextual se posiciona em relao a essas avaliaes, numa abordagem que permite caracterizar asdiferentes perspectivas intersubjetivas disponveis para a voz textual. Devo enfatizar que a abordagemdescrita neste artigo resultado de um projeto de pesquisa em andamento, e quase certo quesofrer mudanas nos anos futuros.Palavras-chave: valorao; avaliao; atitude; julgamento; engajamento.

    * N. das Orgs: Este artigo foi originalmente publicado em ingls In: VERSCHUEREN, J.; STMAN,J.; BLOMMAERT, J.; BULCAEN, C. (Eds.). The handbook of pragmatics. Amsterdan;Filadelphfia: John Benjamins Publishing Co, 2002. p. 1-27. [Traduo de Dbora de CarvalhoFigueiredo]

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    Uma gama de interesses e questes analticas tem moldado o desenvolvimentoda valorao na ltima dcada. Entretanto, podemos destacar trs ou quatro dessasquestes como as de maior influncia.

    No final dos anos 1980, um grupo de lingistas funcionais na Austrlia estavainvestigando modos de narrativa, em busca de critrios que permitissem articular umataxonomia de sub-tipos narrativos. Eles notaram, por exemplo, que aquilo quechamavam de anedota (PLUM, 1988; MARTIN e PLUM, 1997) apresentava umaorientao distintamente avaliativa, uma vez que procurava evocar uma reaoemocional compartilhada entre narrador e pblico. Isso diferia do que eles chamavamde Exemplum, um sub-tipo que envolve avaliaes de agentes humanos em termosde moralidade, valor social e aceitabilidade social. Ao mesmo tempo, o grupo estavainteressado em investigar uma disparidade observada entre a abordagem de produode ensaios sobre literatura inglesa adotada por muitos alunos do ensino mdio nasescolas de New South Wales (Austrlia), e o que os professores esperavam encontrarnesses ensaios. Os alunos se concentravam basicamente em descrever o que sentiamem relao aos personagens, ou aos argumentos, ou aos textos como um todo, enquantoque os professores esperam que os alunos discorressem sobre os insights que ostextos ofereciam a respeito da ordem moral e da condio humana (ROTHERY eSTENGLIN, 1997, 2000). No incio dos anos 1990, outros membros do grupo voltaramsua ateno para a forma como o estilo, no discurso jornalstico, variava de acordocom a posio do autor: reprter geral, correspondente ou comentarista. Eles notaramque os diferentes estilos ou vozes estavam associados a certas combinaes dediferentes tipos de valorao, e de escolhas de recursos existentes que expressamavaliao e perspectiva (IEDEMA et al., 1994; MARTIN, 2002). Isso gerou um interesseno papel mais amplo que essas escolhas desempenham na construo discursiva dapersona autoral/do falante, e na forma como os textos constroem um pblico leitorideal ou preferencial (por exemplo, FULLER, 1998; WHITE, 2000; KRNER, 2001;WHITE, 2003).

    Duas questes centrais perpassam todos esses projetos. A primeira dizrespeito natureza da atitude, forma como os textos ativam avaliaes positivas enegativas. A segunda diz respeito forma como os textos assumem uma posio emrelao a essas avaliaes e a significados avaliativos similares, forma como essasavaliaes e significados so negociados intersubjetivamente. As respostas que osmembros do grupo australiano ofereceram para essas questes deram abordagemda valorao sua forma atual. De modo semelhante, minhas consideraes abaixoesto organizados em torno dessas duas questes principais.

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    2 VISO PANORMICA

    2.1 Atitude a ativao de posicionamentos positivos e negativos

    Em seus trabalhos iniciais sobre avaliao em narrativas e em textos escritos poralunos, o grupo utilizou a j bem estabelecida tradio de pesquisa sobre a linguagem deafeto, uma tradio que foi exemplificada por uma edio especial (1989) do Text,dedicada ao potencial da linguagem para expressar diferentes emoes e graus deintensidade emocional (OCHS, 1989, p. 1). O grupo compartilhava com essa tradio anoo de que a emoo est ligada, de forma fundamental, avaliao de atitudes e ativao, pelos textos, de pontos de vista positivos e negativos. Entretanto, o grupodistanciou-se dessa tradio uma vez que considera que o afeto, em seu significado maisgeral, no deve ser ligado de forma to prxima emoo, e que necessrio identificarformas adicionais de expressar significados afetivos ou atitudinais. (Veja, por exemplo,MARTIN, 1997 e MARTIN, 2000). A abordagem da valorao, em particular, prope queos significados atitudinais (avaliaes positivas e negativas) podem ser agrupados emtrs grandes campos semnticos.

    2.1.1 Afeto

    Primeiro, existem certos significados fundamentalmente atitudinais associados emoo os textos indicam vises positivas ou negativas atravs de relatos dasrespostas emocionais do falante/escritor, ou relatos das respostas emocionais deterceiros. Por exemplo (os valores de afeto esto sublinhados):

    Estou desapontado e envergonhado com o fato de que dois de nossos maisadmirados e respeitados esportistas tenham se comportado dessa maneira.Jogar pelo seu pas uma honra e um privilgio, no um direito.

    O tradicional termo Afeto tem sido usado como um rtulo para taissignificados.

    2.1.2 Julgamento

    Segundo, existem significados que indicam uma viso da aceitabilidade socialdo comportamento de agentes humanos, uma avaliao feita atravs de refernciasa algum sistema de normas sociais. Por exemplo,

    Os escolhidos para representar a Austrlia deveriam no s ser talentosos,mas deveriam estar acima da crtica. Espera-se que a prtica do esporte

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    ensine honra, fair play, trabalho em equipe, liderana e habilidades sociais.O esporte no deve criar ou apoiar a ganncia e os egos.

    O termo Julgamento foi adotado como forma de referir-se a esse tipo designificados.

    2.1.3 Apreciao

    Terceiro, existem significados utilizados para fazer avaliaes de fenmenossemiticos e naturais atravs de referncias a seu valor num determinado campo,talvez de forma mais tpica referindo-se s suas qualidades estticas.

    Ele [o Jaguar tipo-E] uma obra prima do estilo, com propores dramticas,porm perfeitamente calculadas e bem-elaboradas; seus detalhesaerodinmicos esto em perfeita harmonia com os contornos de seu fabulosoarranjo geral...

    O termo Apreciao foi adotado para referir-se a esse tipo de significados.

    2.1.4 Modos de ativao direto e implcito

    A abordagem faz uma distino em termos de como esses significados soativados nos textos. Da forma mais simples, eles podem ser ativados atravs determos atitudinais explcitos, termos que geralmente carregam um significado negativoou positivo. Por exemplo,

    Sem a interveno de uma Suprema Corte parcial, de direita, para garantira eleio de um Republicano, o sr. Bush seria hoje um perdedor esquecido.[O jornal] the Observer considera essa eleio uma afronta ao princpiodemocrtico, com conseqncias incalculveis para a Amrica e para omundo. (The Observer, Jan 21, 2001 editorial)

    Mais problemticas, so as ativaes que dependem de implicaes einferncias, nas quais espera-se que o leitor/ouvinte interprete os eventos descritosou o estado de coisas como positivo ou negativo, de acordo com o sistema de valoresque eles trazem para o texto. Por exemplo,

    George W. Bush fez seu discurso de posse como o presidente dos EstadosUnidos que recebeu 537.000 votos a menos que seu oponente. (TheObserver, Jan 21, 2001 editorial)

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    Aqui, uma descrio essencialmente factual posiciona o leitor para umaavaliao negativa de Bush e/ou do processo eleitoral americano, e obviamente temo potencial de ativar essa avaliao, dependendo, claro, do ponto de vista quecada leitor traz para o texto. A sentena, entretanto, no contm valores avaliativosexplcitos, nem significados que transmitam, em si, avaliaes negativas.

    Est claro que essas valoraes implcitas levantam srios problemas tericose analticos. Ao passarmos da ativao direta para a indireta, samos do que certastradies anglo-americanas vem como semntica para entrar no que elasconsideram pragmtica, ou seja, passamos de significados vistos como inscritosno texto para significados vistos como operando apenas no contexto. Dessa forma,aqueles que trabalham com noes analticas filosficas da semntica podem quererexcluir essas formulaes de tratamentos da linguagem avaliativa, argumentandoque no h nada na linguagem em si que seja atitudinal. Embora essa interpretaopossa parecer atraente na medida em que evitaria complicaes e produziria anlisestextuais mais facilmente replicveis, isso significaria que grande parte do trabalhoavaliativo feito pelos textos seria simplesmente ignorado. Esse tipo de anlise nosomente seria incapaz de lidar com o papel da avaliao implcita em geral, comotambm no levaria em conta a interao, muitas vezes crucial em termos retricos,entre avaliaes diretas e indiretas. (Para uma demonstrao de como a anlise davalorao pode ser usada para investigar essa interao, veja COFFIN, 1997.) Naabordagem da valorao, portanto, consideramos que essas formulaes se encaixamperfeitamente no escopo das anlises lingsticas dos efeitos avaliativos.

    Nesse sentido, a abordagem se alinha com o trabalho de autores como Gruber(1993) e Malrieu. (1999). Gruber, por exemplo, inclui em sua taxonomia deUnidades Avaliativas o uso de citaes diretas que provavelmente sero vistas peloleitor como evidncias das limitaes ticas da fonte citada. Embora a fonte citadapossa no ser avaliada de forma direta, ainda assim o uso de suas prprias palavrasdesempenha uma clara funo avaliativa. Malrieu fornece, talvez, argumentos aindamais fortes, alegando que quando as expresses so consideradas em seu prpriocontexto textual, difcil pensar em qualquer frase que no contenha avaliao.Dentro de um contexto, at mesmo advrbios e complementos como sempre ecom uma faca so avaliativos (op. cit., p. 134).

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    2.1.5 Critrios tipolgicos

    O critrio exato que sustenta essa taxonomia de trs partes continua sendo umaquesto central para o atual projeto de anlise da valorao. A distino entre Afeto e asduas outras categorias (Julgamento e Apreciao) relativamente problemtica. Asemntica do Afeto envolve significados que so tipicamente construdos atravs de umprocesso verbal realizado ou vivenciado por um participante humano consciente osProcessos Mentais reacionais da lingstica sistmica funcional (HALLIDAY 1994) Suaatitude me incomoda, eu abomino violncia. Mas esse modo cannico de realizaono se aplica ao Julgamento e Apreciao, e o quadro se torna ainda mais problemticopelo fato de que todas as trs categorias apresentam realizaes diversas como, porexemplo, adjetivos (lder adorado [afeto], lder corrupto [julgamento], belo homem[apreciao]), advrbios (apaixonadamente; lindamente; de forma corrupta),substantivos (seu amor por; tirano; obra prima), e verbos (eu adoro msica de gaitade foles; ele corrompeu o processo poltico).

    Nesse ponto surgem evidncias sugerindo que as distines so refletidas nospadres de estruturas de colocao1. Sabemos, por exemplo, que a estrutura Foi X-valor de Julgamento da parte de Y fazer... expressa valores de Julgamento, mas novalores de Apreciao. Assim, Foi uma desconsiderao de sua parte deixar o gato nachuva possvel, mas no Foi elegante de sua parte usar aquela roupa. De formasimilar, quando termos como bonito funcionam como Apreciao, a estrutura Foi Xda parte de Y fazer no aceitvel (Foi bonito de sua parte usar seu cabelo daquelejeito), mas quando eles assumem a funo de Julgamento a estrutura se torna possvel(Foi bonito de sua parte ajudar aqueles meninos de rua.) Entretanto, precisamos demais investigaes nessa rea. Neste estgio a taxonomia de trs partes est sendo propostacomo uma hiptese sobre a organizao dos significados relevantes, e est sendoapresentada como um ponto de comparao para outros pesquisadores que tenhamclassificaes alternativas, como um recurso para aqueles que necessitam de algo quelhes ajude a lidar com a avaliao no discurso, e como um desafio para quem estinteressado no desenvolvimento de raciocnios apropriados.

    2.1.6 A inter-relao entre os modos atitudinais

    Devemos enfatizar, entretanto, que embora essa abordagem procure expandiras noes estabelecidas do afetivo, ela ainda considera as trs categorias comofundamentalmente interligadas na medida em que todas tem a ver com a expresso

    1 Hunston e Sinclair (2000) apresentam um trabalho mais geral sobre avaliao e estruturas decolocao.

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    de sentimentos. A diferena que a fundamentao desses sentimentos varia aolongo dos trs modos. No Afeto, a ao da emoo indicada de forma direta ossentimentos so apresentados como reaes incidentais e personalizadas de sujeitoshumanos a algum estmulo. Mas no que diz respeito tanto ao Julgamento quanto Apreciao, esses sentimentos so de alguma forma institucionalizados ereapresentados como qualidades inerentes ao fenmeno avaliado em si. Assim, Eugosto daquele quadro ancora a avaliao nas reaes momentneas e individuaisdo falante, enquanto que Aquele um belo quadro ancora a avaliao naspropriedades objetivas do fenmeno avaliado em si. No caso do Julgamento, ossentimentos so reconstrudos como propostas sobre a forma correta decomportamento como deveramos ou como no deveramos nos comportar. Assim,em Ele foi cruel ao deixar o gato na chuva, o sentimento negativo em relao aoagente deste ato reconstrudo como uma proposta sobre quais so as formascorretas e incorretas de se tratar um gato. No caso da Apreciao, os sentimentosso reconstrudos como proposies sobre o valor das coisas. Assim, em Aquele um belo quadro, o sentimento positivo em relao ao quadro reapresentadocomo uma proposta sobre o valor esttico da obra. (Para uma discusso sobre amudana evolutiva nas crianas do Afeto para o Julgamento e a Apreciao, vejaPAINTER, 2003. Para uma discusso mais ampla sobre o Julgamento e a Apreciaocomo formas institucionalizadas de sentimentos, veja MARTIN, 2000). O papel centraldo Afeto em formas institucionalizadas de sentimentos demonstrado de formadiagramtica abaixo.

    Figura Julgamento e apreciao como afetoinstitucionalizado (MARTIN, 2000).

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    2.2 Perspectiva intersubjetiva

    Em sua descrio dos recursos utilizados para expressar a perspectivaintersubjetiva, a abordagem est interessada em formulaes que tradicionalmenteforam analisadas dentro de categorias como modalidade (veja, por exemplo, PALMER,1986), polaridade (veja, por exemplo, PAGANO, 1994), evidencialidade (CHAFE eNICHOLS, 1986), atenuadores/intensificadores (MARKKANEN e SCHRDER, 1997;HYLAND, 1996; MYERS, 1989; MEYER, 1997), linguagem vaga (CHANNELL, 1994),intensificao (LABOV, 1984), e meta-discurso (CRISMORE, 1989). Na abordagem davalorao, esses termos lxico-gramaticais diversos foram unificados com base napremissa de que todos eles so recursos que alteram o grau de engajamento do falantecom suas propostas e proposies, e que modificam o que est em jogo em termosinterpessoais, tanto em enunciados individuais quanto no texto como um todo. Essesrecursos de perspectiva intersubjetiva so divididos em duas categorias gerais - (a)recursos atravs dos quais a voz textual posiciona a proposio em curso em relaoa alternativas reais ou potenciais (rotulados Engajamento), e (b) recursos que criamgradaes ou escalas (rotulados Gradao), tanto em termos do grau de investimentopessoal da voz textual na proposio (intensificadores/minimizadores), quanto emtermos das escolhas que a voz textual faz com relao preciso do foco de suasformulaes. Devido a limitaes de espao, neste trabalho considerarei somente oEngajamento. (Para uma descrio completa do Engajamento e da Gradao, vejaMartin eWhite, no prelo).

    A explicao da funcionalidade intersubjetiva desses valores de Engajamento baseada na influente noo bakhtiniana de dialogismo e heteroglossia, segundo a qualtoda forma de comunicao verbal, seja ela escrita ou falada, dialgica na medidaem que falar ou escrever significa referir-se a, ou retomar de alguma forma, o que jfoi dito/escrito, e simultaneamente antecipar as respostas de leitores/ouvintes reais,potenciais ou imaginados. Como afirma Voloshinov,

    A realidade presente da linguagem-fala no o sistema abstrato de formaslingsticas, nem o enunciado monolgico isolado, nem o ato psicolgicode sua implementao, mas o evento social da interao verbal implementadanum enunciado ou enunciados.Assim, a interao verbal a realidade bsica da linguagem.O dilogo tambm pode ser entendido num sentido mais amplo,significando no s a comunicao direta, face a face, vocalizada, entre

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    pessoas, mas tambm toda comunicao verbal de qualquer natureza. Umlivro, i.e. uma performance verbal impressa, tambm um elemento decomunicao verbal. ... [Ele] inevitavelmente se orienta em relao aperformances anteriores na mesma esfera Assim, a performance verbalimpressa provoca, de certa forma, um colquio ideolgico de larga escala:ela responde a algo, afirma algo, antecipa possveis respostas e objees,busca apoio, e assim por diante. (VOLOSHINOV, 1995, p. 139)

    A linha adotada pela abordagem da valorao afirma que a funcionalidadedesses recursos s pode ser adequadamente explicada quando os efeitos dialgicosso levados em considerao. Isto , acreditamos que atravs do uso de palavras/expresses como possivelmente, Afirmo que..., naturalmente, supostamente,Penso que..., a voz textual age, antes de mais nada, no sentido de engajar-se ealinhar-se em relao a outras vozes e posies que so, de certa forma, alternativas posio que est sendo defendida pelo texto.

    Nesse sentido, a abordagem da valorao se distancia de grande parte daliteratura sobre modalidade e evidencialidade (veja, por exemplo, LYONS, 1977;PALMER, 1986; ou CHAFE e NICHOLS, 1986), e de pelo menos parte da literaturasobre atenuadores (veja MARKKANEN e SCHRDER, 1997), nas quais a descriode marcadores de modalidade epistmica e de recursos similares, por exemplo,freqentemente parte do princpio que a nica funo dessas palavras/expresses revelar o estado mental ou o conhecimento do escritor/falante, ou indicar que oescritor/falante est indeciso, e no se compromete com o valor de verdade daproposio apresentada.

    3 AVALIAO ATITUDINAL UM BREVE ESBOO

    3.1 Afeto

    A abordagem da valorao preocupa-se em mapear os domnios semnticosque operam no discurso. Dessa forma, as categorizaes utilizadas freqentementerenem estruturas gramaticais diversas dentro um nico grupo semntico discursivo.O Afeto tpico nesse sentido seus valores algumas vezes so expressos na formade qualidades (adjetivos Estou feliz com isso), outras na forma de processos(verbos Isso me agrada), e outras ainda na forma de comentrios adjuntos.Eles tambm podem ser realizados como entidades virtuais (substantivos) atravsde nominalizaes e.g. felicidade.

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    Seguindo Martin 1997 e Martin 2000, a abordagem da valorao classificaos diferentes exemplos de afeto de acordo com os seguintes 6 fatores:

    i. Os sentimentos so construdos pela cultura popular como positivos(agradveis) ou negativos (desagradveis)?

    ii. Os sentimentos so representados como uma onda de emoo envolvendoalgum tipo de manifestao paralingustica ou extralingstica (por exemplo,choro ou tremores), ou so representados como experincias internas, naforma de um estado emotivo ou de um processo mental em andamento?

    * onda comportamental Ela rompeu em choro.

    * processo/estado mental Ela estava desesperada.

    iii. Os sentimentos so representados como voltados para, ou resultado de,algo especfico, como direcionados a, ou como resultado de, algum estmuloemocional especfico, ou como um estado de esprito geral?

    * reao a um estmulo A ausncia da me a est deixando triste.

    * estado de esprito indireto Ela est triste.

    iv. Onde colocaramos os sentimentos, numa escala de baixa a alta intensidade?

    * baixa Eu no gosto de msica de gaita de foles.

    * mdia Eu detesto msica de gaita de foles.

    * alta Eu abomino msica de gaita de foles.

    v. Os sentimentos envolvem inteno (ao invs de reao) com relao a umestmulo ainda no realizado (irrealis), em oposio a um estmulo jrealizado (realis)?

    * realis Estou chateado com o que ela disse.

    * irrealis Tenho medo do que ela possa dizer.

    vi. Por fim, as emoes podem ser reunidas em trs grandes grupos ligados in/felicidade, in/segurana e in/satisfao. A varivel in/felicidade cobre asemoes ligadas aos assuntos do corao tristeza, raiva, felicidade e amor;a varivel in/segurana cobre as emoes ligadas ao bem-estar eco-social ansiedade, medo, e confiana; a varivel in/satisfao cobre as emoes

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    ligadas ao telos (a busca de objetivos) tdio, desprazer, curiosidade,respeito.

    * in/felicidade Estou triste.

    * in/segurana Estou ansiosa.

    3.2 Julgamento: um esboo

    O julgamento o campo de significados atravs dos quais construmos nossasposies em relao ao comportamento humano aprovao/condenao docomportamento humano atravs de referncias aceitabilidade e s normas sociais;avaliaes do carter de algum, ou do quanto essa pessoa se aproxima dasexpectativas e exigncias sociais. A abordagem divide esses Julgamentos em doisgrupos: aqueles que lidam com a estima social, e aqueles orientados para as sanessociais. Os Julgamentos de sano social envolvem a afirmao de que algunsconjuntos de regras ou regulamentos, codificados de forma mais ou menos explcitapela cultura, esto em jogo. Essas regras podem ser morais ou legais, portanto osjulgamentos de sano social envolvem questes de legalidade e moralidade. Daperspectiva religiosa, as quebras de sanes sociais so vistas como pecados, e natradio crist ocidental, como pecados mortais. Da perspectiva jurdica, elas sovistas como crimes. Assim, romper uma sano social significa correr o risco dereceber punies legais ou religiosas, da o termo sano. Os Julgamentos de estimasocial envolvem avaliaes que podem levar o indivduo a ser elevado ou rebaixadona estima de sua comunidade, mas que no possuem implicaes legais ou morais.Dessa forma, valores negativos em termos de estima social so vistos comodisfuncionais ou inapropriados, ou algo que deve ser desencorajado, mas no soavaliados como pecados ou crimes. (Se voc desrespeitar sanes sociais, vocpode precisar de um advogado ou de um confessor, mas se voc desrespeitar aestima social, talvez voc tenha que fazer um esforo maior, ou praticar mais, ouconsultar um terapeuta, ou possivelmente um livro de auto-ajuda.)

    Os Julgamentos de estima social podem estar ligados normalidade (atque ponto algum estranho ou pouco usual), capacidade (quo capaz esse algum) e tenacidade (quo determinado ele ). Os Julgamentos de sano social tm aver com a veracidade (quo sincero algum ) e a propriedade (quo tico ele ).Por exemplo:

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    Na abordagem da valorao, a taxonomia de cinco partes descrita acima(normalidade, capacidade, tenacidade, veracidade, propriedade) est calcada nasemntica da modalizao, articulada por Halliday (1994). Isto , cada uma das sub-categorias de Julgamento pode ser entendida como uma lexicalizao de uma das categorias

    Figura Julgamento (baseado em IEDEMA,FEEZ e WHITE, 1994)2.

    Tipicamente, a estima social corre mais riscos na cultura oral, onde seusvalores so policiados atravs de tipos discursivos como a fofoca, as piadas, e vriossub-tipos de narrativa. (Sobre o papel da estima social na fofoca, veja EGGINS eSLADE, 1997). atravs dos valores compartilhados da estima social que as redessociais do dia-a-dia, como a famlia e a amizade, so formadas. Em contraste, assanes sociais so codificadas atravs de leis, regulamentos e normas produzidaspor instituies de grande poder social, como o governo, o sistema jurdico e aigreja. As sanes sociais so implementadas atravs de penalidades e puniesinstitucionalizadas, e so naturalizadas atravs das noes de moralidade, honra ereligiosidade. Os valores compartilhados das sanes sociais sustentam o dever cvicoe a obedincia religiosa.

    2 importante lembrar que as listas de termos na coluna da direita servem apenas como guia para os tiposde significados envolvidos aqui, e no como uma espcie de dicionrio de sub-tipos de Julgamento.

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    gramaticais da modalidade. Essa relao opera nas seguintes propores: a normalidadeest para a usualidade; a capacidade est para a habilidade; a tenacidade est para ainclinao; a veracidade est para a probabilidade; e a propriedade est para a obrigao.Nos primeiros trabalhos sobre Julgamento (IEDEMA et al., 1994), os rtulos dos cincosub-tipos eram mais prximos desses opostos modais, como podemos ver na figuraabaixo (destino para normalidade; resoluo para tenacidade; verdade para veracidade;tica para propriedade).

    A ponte entre as opes modais subjacentes e as categorias lexicais deJulgamento fornecida pela noo hallidayana de metfora interpessoal (HALLIDAY,1994). No modelo de Halliday, os valores modais podem ser realizados de formacongruente (no-metafrica) atravs de auxiliares modais (pode, deve, poderia,etc) e adjuntos modais (talvez, possivelmente, certamente), e metaforicamenteatravs de formulaes mais lexicais como possvel que, necessrio que,Eu acho que, etc. possvel construir uma srie de realizaes para os valoresmodais epistmicos de probabilidade, usualidade e capacidade comeando de formacongruente (atravs de formulaes gramaticais), passando por formulaesmetafricas (mais lexicalizadas), at chegar a um lxico de natureza claramentevalorativa. Dessa forma, modalizaes de probabilidade podem ser relacionadas aJulgamentos lexicalizados de veracidade:

    Ele levado.Certamente ele levado. certo que ele levado. verdade que ele levado. verdade, mentira, fato, etc. que ele levado. [julgamento: veracidade]

    De forma similar, a modalidade de usualidade pode ser relacionada aosjulgamentos de normalidade:

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    Ele levado.Ele levado com freqncia. comum que ele seja levado. normal que ele seja levado. normal, elegante, peculiar, estranho, etc. que ele seja levado. [julgamento:normalidade]

    O mesmo se aplica habilidade e capacidade:

    Ele pode ir.Ele capaz de ir.Ele forte o suficiente para ir.Ele saudvel, maduro, inteligente, etc. o suficiente para ir. [julgamento:capacidade]

    Uma relao similar de proporcionalidade pode ser apontada entre aosvalores modais denticos (obrigao, inclinao) e os valores de Julgamento depropriedade e tenacidade. Assim, a inclinao pode ser relacionada tenacidadeexpressa na forma lexical:

    Eu vou.Estou determinada a ir.Estou decidida a ir.Estou decidida.Estou firme, certa, convencida, etc. da minha deciso de ir. [julgamento:tenacidade]

    E a obrigao pode ser relacionada a julgamentos lexicalizados sobrepropriedade:

    V.Voc deveria ir.Espera-se que voc v.Seria injusto voc ir.Seria insensvel, arrogante,egosta, grosseiro, etc. de sua parte ir. [julgamento: propriedade]

    (Para uma descrio mais detalhada, veja MARTIN eWHITE no prelo)

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    3.3 Apreciao

    Como foi indicado acima, a Apreciao o campo dos significados usados paraconstruir avaliaes dos produtos do trabalho humano, tais como artefatos, edificaes,textos e obras de arte, e tambm de fenmenos naturais e estados de coisas. Em termossemnticos, atribui-se a esses objetos um valor (negativo ou positivo) num dado discursoou campo de atividade. Um dos principais sistemas utilizados para atribuir esse valor aesttica. Os sujeitos humanos tambm podem ser apreciados ao invs de julgados,mas somente naqueles casos nos quais suas qualidades estticas esto sendo discutidas,e no a aceitabilidade social de seus comportamentos.

    A abordagem da valorao sub-divide a Apreciao em trs tipos: avaliaes quese referem a como reagimos s coisas (elas chamam nossa ateno? elas nos agradam?),sua composio (equilbrio e complexidade), e seu valor (se elas so inovadoras,autnticas, eficazes, saudveis, relevantes, importantes, significativas, etc.).

    Apresento abaixo alguns exemplos ilustrativos.

    O fato de que valores afetivos subjazem todas as trs sub-categorias da Atitude(Afeto, Julgamento, Apreciao) pode ser demonstrado de forma mais bvia nosvalores reacionais da Apreciao, tais como em um livro fascinante, uma msicacansativa. Esses exemplos, claro, envolvem um lxico que poderia ser tambm

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    utilizado para expressar Afeto esse livro me fascina, essa msica me cansa. Aabordagem da valorao mantm esses exemplos separados com base na noo de queh uma diferena retrica significativa em jogo na escolha entre uma avaliao ancoradanas reaes emocionais de um sujeito humano especfico (Esse livro me cansa.) e umaexternalizao desse sentimento representando-o como uma caracterstica inerente daentidade avaliada em si. Em outras palavras, consideramos importante fazer uma distinoentre construir as emoes de um sujeito humano (Afeto) e atribuir a coisas o poder degerar essas emoes (Apreciao).

    4 ENGAJAMENTO: UMA VISO PANORMICA

    Como indiquei anteriormente, o tratamento dado aos recursos deposicionamento subjetivo dentro da abordagem da valorao tem como base a noode que todos os enunciados verbais so, em ltima anlise, dialgicos. Para ilustrareste estilo, considerarei de forma breve a funcionalidade da orao h umadiscusso, no h, retirada do seguinte extrato de uma entrevista de rdio. Oentrevistador questiona o ento Primeiro Ministro conservador australiano, JohnHoward, sobre o comportamento dos bancos australianos ao aumentarem as taxasde juros num perodo em que estavam tendo lucros recordes.

    H uma discusso, no h, de que os bancos foram meio gananciosos,quero dizer, os lucros esto altos e isso bom para eles, eles tm o direitode ter altos lucros, mas ao mesmo tempo as taxas esto se aproximando deum nvel insuportvel no momento.

    H, claro, um aspecto dialgico retrospectivo no uso dessa orao. Oentrevistador se apresenta como algum que est simplesmente utilizando as palavrasde um outro grupo anterior e no-especificado de falantes. Mas h outras coisasacontecendo aqui em relao forma como o texto reconhece, e assim se engajacom, alternativas potenciais para a proposio que est sendo apresentada. Atravsdessa estratgia, o entrevistador indica que essa uma avaliao contestada equestionada do comportamento dos bancos ele reconhece que essa apenas umadas posies correntes sobre o tema dentro da comunidade. Assim, ele indica, ouantecipa, que pelo menos alguns elementos da comunidade iro fazer objees edesafiar a sugesto apresentada. Ao apresentar a proposio como algo discutvel,ele indica que no est comprometido pessoalmente com ela, e assim sinaliza sua

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    disposio para debater o assunto. Nesse sentido, portanto, a formulao pode servista como um exemplo de antecipao dialgica.

    Segundo a abordagem da valorao, as seguintes opes (que podem estarpresentes de forma mltipla num nico enunciado) permitem que a voz textualvarie os termos de seu engajamento com vozes e posies alternativas.

    Refutar a voz textual se posiciona contrariamente a, ou rejeita, uma posiooposta:

    (negar) negao

    (contrapor) concesso/ contra expectativa

    Declarar ao apresentar a proposio como altamente plausvel (forte, vlida,crvel, bem-embasada, aceita por muitos, confivel, etc.), a voz textual se ope a,suprime ou descarta posies alternativas:

    (concordar) naturalmente, claro, obviamente, supostamente,etc.; alguns tipos de perguntas retricas

    (declarar) Eu afirmo, a verdade que, no h dvida que..., etc.

    (endossar) X demonstrou que; X convincentemente argumentou que...;etc.

    Considerar ao ancorar a proposio em uma posio subjetiva individual eincidental textual a apresenta como apenas uma dentre um leque de posiespossveis e assim considera ou invoca essas alternativas dialgicas:

    parece que; as evidncias sugerem que; aparentemente; ouvi dizer que

    talvez, provavelmente, pode ser, possvel, pode/deve; alguns tipos deperguntas retricas.

    Atribuir ao ancorar a proposio na subjetividade de uma voz externa, a voztextual a apresenta como apenas uma dentre um leque de posies possveis eassim supe ou invoca essas alternativas dialgicas:

    (reconhecer) X disse que; X acredita que; de acordo com X; na opinio de X

    (distanciar) X alega que; o mito que; correm rumores que

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    5 CONTRAO E EXPANSO DIALGICA

    Assim, considera-se que essas vrias opes permitem variaes deperspectiva elas permitem uma orientao diferente da diversidade heteroglssicana qual o texto opera. Alm disso, elas so divididas em duas categorias gerais, deacordo com um amplo eixo de variao em termos de funcionalidade retrica: socaracterizadas como geradoras ou de expanso dialgica ou de contraodialgica. A diferena est no grau no qual um enunciado, por meio de uma oumais palavras, levanta posies e vozes dialgicas alternativas (expanso dialgica),ou, ao contrrio, age no sentido de desafiar, dispersar ou restringir o escopo dessasposies ou vozes (contrao dialgica).

    Considere os seguintes exemplos como ilustrao dessa distino:

    1. (Endossar) Follain esvazia o mito romntico de que a Mfia teria comeadocomo grupos de homens que protegiam os pobres, no estilo Robin Hood.Ele mostra que a mfia surgiu no sculo XIX como grupos armados queprotegiam os interesses dos proprietrios de terras ou imveis, donos damaior parte da Siclia. Ele tambm demonstra como a mfia construiulaos com o partido italiano Democrata Cristo, de situao, a partir daguerra. (Cobuild Bank of English)

    2. (Distanciar) Tickner disse que, independente dos resultados, a comissoreal era um desperdcio de dinheiro, e que ele conduziria umainvestigao paralela sobre o tema, encabeada pela juza Jane Matthews.Seu ataque surgiu quando as mulheres aborgines envolvidas exigiramque uma ministra examinasse as crenas religiosas que alegam sereminerentes sua luta contra a construo de uma ponte para a ilha pertode Goolwa, no sul da Austrlia. (Cobuild)

    Ambos os excertos so obviamente dialgicos na medida em que fazemreferncia explcita a enunciados e pontos de vista de vozes externas. Entretanto, hmais em questo aqui do que uma simples atribuio, ou uma simples multiplicaode vozes. O excerto 1 um exemplo de formulao no qual um tipo especial deverbos de relato usado (mostrar, demonstrar) o que pressupe a confiabilidadeda proposio atribuda e a apresenta como verdadeira, plausvel ou justa. (Os verbosde relato desse tipo j foram, claro, largamente discutidos na literatura sobreatribuio e sobre discurso direto e indireto. Veja, por exemplo, HUNSTON, 2000

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    ou CALDAS-COULTHARD, 1994). Atravs dessas formulaes de endosso, a voztextual se alinha com uma voz externa que representada como correta, conhecedorado assunto, ou de algum modo convincente em termos argumentativos, pelo menosno que diz respeito a essa proposio em particular. Ao indicar, dessa forma, uminvestimento pessoal maior do autor, ao trazer para a causa retrica em questo aposio de algum grupo externo forte, essas formulaes se contrapem a, ou pelomenos distanciam, posies contrrias reais ou potenciais. Isto , elas aumentam ocusto interpessoal para qualquer um que queira defender tais alternativas. Assim,no exemplo acima, mostrar e demonstrar indicam que a voz textual se ope noo alternativa desacreditada de que os membros da Mfia se comportavam noestilo Robin Hood. Esses endossos, portanto, podem ser interpretados como umaforma de contrao dialgica eles fecham o espao para alternativas dialgicas.

    O excerto 2 tem o efeito oposto. Nele, claro, a voz textual se distancia daproposio enquadrada pelo verbo alegam, representando-a, seno como poucoconfivel, ao menos como questionvel, como potencialmente aberta ao debate3. O efeitoproduzido um convite, ou ao menos uma suposio, a alternativas dialgicas, o quediminui o custo interpessoal para algum que queira apresentar tais alternativas. Assim,essas formulaes de distanciamento podem ser vistas como capazes de produzir umaexpanso dialgica, de abrir o espao dialgico para posies alternativas.

    Dessa forma, na distino entre Endossar e Distanciar, vemos o contrastefundamental entre a contrao e a expanso dialgica.

    5.1 Outros recursos de expanso dialgica

    Dois outros modos dialgicos se alinham com as formulaes dedistanciamento ao abrirem espao para alternativas os valores de Reconhecer eConsiderar.

    Reconhecer

    A categoria Reconhecer envolve a atribuio atravs de estruturas neutrasutilizadas simplesmente para relatar as palavras e pontos de vista de vozes externas pelo, por exemplo, de verbos de relato como dizer, relatar, declarar, e

    3 Devo enfatizar que no estou propondo que um verbo como alegar necessariamente tenha essafuno em todos os casos. O potencial retrico de formulaes desse tipo pode variarsistematicamente em diferentes registros, gneros e domnios discursivos.

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    expresses como de acordo com, em seu ponto de vista. Assim como no caso dasoutras formas de atribuio (Distanciar, Endossar), essas formulaes so obviamentedialgicas na medida em que introduzem uma voz alternativa no texto. E, mais umavez, elas tambm so dialgicas porque, ao ligarem explicitamente a proposio aum sujeito especfico, elas a representam como individual e incidental, como apenasuma em um gama de proposies possveis. Nesse sentido, as alternativas para aproposio em questo so reconhecidas, e o contexto heteroglssico na qual otexto opera assim revelado.

    Considerar

    As formulaes que consideram de forma ativa as alternativas dialgicasincluem,

    formulaes evidenciais e dedutivas, como parece que, aparentemente, asevidncias sugerem, etc.

    formas que apresentam a proposio/proposta como mais ou menos provvel,incluindo os marcadores modais de probabilidade, assim como certos usos retricosde perguntas.

    Nesses contextos, a proposio ancorada na subjetividade da voz textual,uma vez que essa voz apresenta avaliaes da probabilidade ou da base evidencialda proposio. Assim ancorada, a proposio apresentada como incidental eassociada a um ponto de vista individual, e como apenas uma dentre um nmero deposies alternativas possveis. Dessa forma, as alternativas so consideradas oureconhecidas, e seu espao dialgico conseqentemente expandido.

    5.2 Outros recursos de contrao dialgica

    Afirmar

    Segundo a abordagem da valorao, as Afirmaes so formulaes queenvolvem certos tipos de intensificao, nfase autoral, ou intervenes ouinterpelaes autorais explcitas. Por exemplo: Eu afirmo, Os fatos em questoso, A verdade em questo , S podemos concluir que, Voc deveconcordar que, intensificadores com escopo oracional como de fato, na verdade,etc., e, na fala, a tonicidade empregada de forma apropriada (e.g. O nvel detolerncia resultado da interveno do governo.).

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    Por exemplo, a orao Est absolutamente claro para mim no seguinteexcerto desempenha essa funo,

    Est absolutamente claro para mim que o que Charlotte estava querendodizer era que O Tigre e o Drago era um filme ruim ao qual o pblicoliberal atribuiu uma significncia gerada por seus prprios preconceitossobre o cinema chins e sobre os chineses em geral.

    Essas intensificaes e interpelaes so motivadas pelo dialogismo. A voztextual no indica seu maior engajamento pessoal com a proposio num vcuocomunicativo. Pelo contrrio, esse engajamento construdo se contrapondo aalguma alternativa dialgica oposta no exemplo acima, contra uma viso opostado que Charlotte estava querendo dizer. Assim, esse tipo de formulao dialgicona medida em que reconhece uma alternativa, ao mesmo tempo em que tenta desafi-la ou descart-la. Ele causa uma contrao dialgica ao confrontar e descartar aposio contrria.

    Concordar

    A opo Concordar envolve expresses como claro, naturalmente eobviamente. Essas formulaes so similares aos Pronunciamentos na medidaem que tambm permitem que a voz textual transmita explicitamente seuengajamento com o ponto de vista defendido, e assim confronte ou descartepossveis alternativas. Entretanto, elas diferem dos Pronunciamentos na medidaem que representam a proposio/proposta como pacfica dentro da comunidadede fala em questo, como algo dado, como estando de acordo com aquilo quetodos sabem ou esperam. A voz textual representada como defensora de umponto de vista compartilhado pelo pblico em geral, e assim tambm pelo leitor/ouvinte. Considere, como exemplo, o uso de claro no excerto abaixo.

    Quando, tarde demais, seus organizadores escolheram Paul Adams, quecertamente teria garantido a vitria na segunda partida em Johannnesburgo,o ataque deles se tornou muito bom na opinio de Trevor Bailey, que tembastante experincia. Bailey, claro, era uma raridade, um jogador decrquete que, em seu auge, atingiu nvel internacional tanto com o bastoquanto com a bola. (do corpus de OzNews do Bank of English)

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    Aqui o escritor se representa como simplesmente concordando com o leitor,como simplesmente relatando uma opinio (de que Bailey era uma raridade nocenrio do crquete) que j compartilhada por seu parceiro dialgico, e pelopblico em geral. A localizao da proposio em questo dentro de uma trocadialgica , assim, empregada para aumentar o custo de qualquer tentativasubseqente de desafi-la ou rejeit-la.

    Refutar (negar e contrariar)

    A opo final de contrao dialgica produzida pelos significados queinvocam algum enunciado anterior, ou alguma posio alternativa, para entodiretamente rejeit-la, substitu-la, ou apresent-la como insustentvel. bvio quenegar ou rejeitar uma posio representa o mximo em termos de contrao umavez que, embora a posio alternativa esteja sendo reconhecida, ela apresentadacomo inaplicvel o que significa que ela confrontada de forma direta. Esse ocampo da negao e da concesso/contra-expectativa. O termo Refutar usadopara referir-se a formulaes que operam dessa forma, apresentando dois sub-tipos.

    1) Refutar: negar (negao)

    A partir da perspectiva dialgica da abordagem da valorao, a negao um recurso utilizado para introduzir uma posio alternativa positiva no dilogo,reconhec-la e engajar-se com ela, para ento rejeit-la. Dessa forma, em termosinterpessoais/dialgicos, o negativo no simplesmente o oposto lgico do positivo,uma vez que o negativo carrega em si o positivo, enquanto que o positivo no engloba,de forma recproca, o negativo. Esse aspecto do negativo, embora se contraponhaao senso comum, j foi bastante discutido na literatura veja, por exemplo, Leech1983, p. 101; Pagano 1994; ou Fairclough 1992, p. 121. Veja, por exemplo, o seguinteexcerto de um anncio publicado em vrias revistas pela British Heart Foundation(Fundao Britnica do Corao).

    Todos ns gostamos de algo substancioso. Mas s vezes ns abusamos dealgumas coisas boas. E uma pessoa cuja dieta consiste em cheeseburgersduplos e batatas-fritas pode terminar parecendo um balde de banha. Noh nada de errado com carne, po e batatas. Mas que tal carne magra, pointegral e batatas assadas?

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    Aqui a negao No h nada de errado com carne, po e batatas claramentedialgica uma vez que invoca, e se apresenta como uma resposta a alegaes/crenasde que H algo de errado com carne, po e batatas. Assim, ocorre um engajamentodialgico com uma posio anterior e alternativa.

    2) Refutar: contrariar

    Relacionadas a essas formulaes negativas, temos aquelas que representama proposio corrente como substituindo e suplantando uma proposio queesperaramos encontrar em seu lugar. Considere, por exemplo,

    Eles [Kevin e Ian Maxwell, filhos de Robert Maxwell] tm muito a provarnos prximos anos. A partir de agora eles tentaro no s construir suasprprias fortunas, mas tambm limpar o nome de seu pai. Os dois cresceramvendo o pai como o eterno outsider, um homem que lutou contra ospreconceitos do Establishment e da burocracia mesquinha para chegaraonde chegou. Certo, ele desrespeitou regras. Sim, ele era liso eescorregadio. sabido que ele se comportava mal. Mas veja o que eleconquistou. Do nada, ele se tornou um empresrio multinacional com umimprio que se estendia pelo mundo, o confidente de estadistas, e to famosoquanto eles. (Do corpus UKMags do Bank of English)

    O excerto acima (do jornal The Times) trata do famoso empresrio britnico,magnata da imprensa e ex-parlamentar trabalhista, Robert Maxwell (j falecido), ede seus dois filhos, Kevin e Ian. No texto, o autor procura explicar, at mesmo justificar,porque os dois filhos talvez tenham continuado a ver o pai sob uma luz favorvel,apesar da forma negativa com que Maxwell passou a ser visto em termos gerais.(Depois de sua morte, descobriu-se que Maxwell havia secretamente desviado milhesde dlares de duas de suas empresas e de fundos de penses de empregados, natentativa de impedir a quebra de seu imprio). Para os nossos fins analticos, estamosinteressados na parte final do texto, o enunciado que se segue ao Mas Mas vejao que ele conquistou. Do nada, ele se tornou um empresrio multinacional Aqui,a voz textual se ope ao que representado como uma opinio negativa geral sobreMaxwell. Atravs da formulao, a opinio negativa apresentada como inaplicvel,pelo menos no que diz respeito aos filhos de Maxwell. Assim, atravs de uma interaodialgica, uma certa posio reconhecida, e em seguida rejeitada.

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    6 RECURSOS DE ENGAJAMENTO RESUMO

    As seguintes tabelas fornecem uma panormica dos recursos de Engajamento.

    Contrao dialgica:Refutar:

    * Negar: e.g. uma crtica que no considera os sentimentos da comunidadechinesa.* Contrapor: e.g. O que surpreendente encontrar uma opinio to ofensivano the Guardian.

    Declarar:* Concordar: e.g. O Primeiro-Ministro, claro, quer que ns o vejamos comoum bom anti-racista.* Afirmar: e.g. Est absolutamente claro para mim que o que Charlotte estavaquerendo dizer era que O Tigre e o Drago era um filme ruim.* Endossar: O trabalho do Dr Ruffman mostrou que os pais ou cuidadoresque conversam com seus filhos sobre estados mentais pensamentos,crenas, desejos e sentimentos acabam criando crianas que conseguemsaber, mais cedo do que outras, o que os outros esto pensando.

    Expanso dialgica:Supor: e.g. Talvez o fato mais revelador da crtica de Charlotte Raven sobre OTigre e o Drago no esteja na crtica em si, mas no prembulo de uma linhaque se encontra no site do the Guardian.

    Atribuir* Atribuir/Reconhecer: e.g. O prembulo declara: uma grande chatice, umdrama engessado: Charlotte Raven ousa discordar da aclamao unnimerecebida pelo filme O Tigre e o Drago, de Ang Lee.* Atribuir/Distanciar: e.g. e algum at sugeriu que, ao usar a orao pareciaconter multides para descrever a performance do elenco, Charlotte estavafazendo aluso a imagens ocidentais das massas chinesas.

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    7 CONCLUSO

    Em resumo, esse um esboo do modelo proposto pela abordagem davalorao de alguns dos recursos-chave da avaliao e da perspectiva. Em suataxonomia dos valores da Atitude, o modelo fornece uma descrio das opesdisponveis para construirmos diferentes tipos de avaliaes positivas e negativas.Em sua noo de Atitude direta versus Atitude implcita, o modelo descreve as opesdisponveis para ativarmos essas avaliaes. Atravs de sua descrio dos recursosde Engajamento, o modelo oferece uma abordagem que permite explorar as formascomo a voz textual se posiciona em relao a essas avaliaes, numa abordagemque permite caracterizar as diferentes perspectivas intersubjetivas disponveis paraa voz textual.

    No possvel nem apropriado, dentro do presente contexto, ir alm desseesboo descritivo, e tentar demonstrar aplicaes do modelo a questes textuaisanalticas. (Para ver esse tipo de demonstrao, confira, por exemplo, CHRISTIE eMARTIN, 1997; MACKEN-HORARIK e MARTIN, 2003; WHITE, 2002; ou MARTIN eWHITE, no prelo). Como forma de concluso, entretanto, talvez seja interessantenotar que as aplicaes desenvolvidas at o momento voltaram-se para as seguintesquestes:

    diferenas em perfis Atitudinais (diferentes padres de ocorrncia de sub-tipos Atitudinais) atravs dos quais textos individuais, ou grupos de textos(por exemplo, os que representam determinado registro ou gnero),podem ser contrastados,

    padres intratextuais de ocorrncia de valores Atitudinais que permitem aidentificao de estgios funcionais,

    associaes entre certos atores sociais e tipos particulares de avaliaoAtitudinal,

    o papel da Atitude na criao da despersonalizao estratgica nos textos,

    a associao de padres particulares de recursos dialgicos com efeitosretricos, tais como a construo de personas autorais, ou a criao deum pblico preferencial,

    padres de integrao entre Atitude e Engajamento que revelam aspressuposies ideolgicas presentes no texto.

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    Devo enfatizar que a abordagem descrita aqui resultado de um projeto depesquisa em andamento, e quase certo que sofrer mudanas nos anos futuros. Aotentar desenvolver princpios semiticos para classificar os efeitos avaliativosassociados aos textos, aqueles que trabalham com a valorao precisaram procurarnovas formas de identificar e criar categorias lingsticas, e novas maneiras de explicaros efeitos comunicativos e retricos. Precisamos de mais trabalhos que nos permitamaprimorar esses princpios taxonmicos, e fortalecer essas linhas de argumentaolingstica.

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    (Artigo traduzido sem data de tramitao)

    Title: Appraisal the language of evaluation and stanceAuthor: Peter WhiteAbstract: This article presents, in outline, the model provided by the appraisal framework of someof the key resources of evaluation and stance. In its taxonomy of values of Attitude it provides an

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    Peter White

    Linguagem em (Dis)curso - LemD, Tubaro, v. 4, n.esp, p. 178-205, 2004

    account of the option available for construing different types of positive or negative assessment. Inits notion of direct versus implied Attitude, it provides an account of the options available for activatingthese assessments. By its account of the resources of Engagement, it offers a framework for exploringhow the textual voice positions itself with respect to such assessments, a framework for characterisingthe different intersubjective stances available to the textual voice. It must be stressed that the frameworkset out in this article is the product of a continuing research project and is almost certain to undergosome changes in future years.Keywords: appraisal; evaluation; attitude; judgment; engagement.

    Ttre: Valoration le langage de lvaluation et de la perspectiveAuteur: Peter WhiteRsum: Cet article prsente une bauche du modle propos par labordage de la valoration dequelques recours cls de lvaluation et de la perspective. Dans sa taxonomie des valeurs de lAttitude,le modle fournit une description des options disponibles pour quon puisse construire de diffrentstypes dvaluations positives et ngatives. Dans sa notion dAtitude directe versus Attitude implicite,le modle dcrit les options disponibles pour quon puisse mettre en uvre ces valuations. travers la description des recours de lEngagement, le modle offre un abordage qui permet dexploiterles formes selon lesquelles la voix textuelle se place par rapport ces valuations, dans un abordagequi permet de caractriser les diffrentes perspectives intersubjectives disponibles pour la voixtextuelle. Je dois accentuer que labordage dcrit dans cet article est le rsultat dun projet derecherche qui est en cours, et, encore, je dois avouer quil est presque certain quil sera soumis des changements dans les annes venir.Mots-cls: valoration; valuation; attitude; jugement; engagement.

    Ttulo: Valoracin el lenguaje de la evaluacin y de la perspectivaAutor: Peter WhiteResumen: Este artculo da a conocer un esbozo de modelo propuesto por el abordaje de la valoracinde algunos de los recursos-clave de la evaluacin y de la perspectiva. En su taxonoma de los valoresde la Actitud, el modelo proporciona una descripcin de las opciones disponibles para que podamosconstruir diferentes tipos de evaluaciones positivas y negativas. En su nocin de Actitud directaversus Actitud implcita, el modelo describe las opciones disponibles para la puesta en prctica deesas evaluaciones. A travs de su descripcin de los recursos de Comprometimiento, el modeloofrece un abordaje que permite examinar atentamente las formas de posicionarse la voz textual conrelacin a esas evaluaciones, un abordaje que permite caracterizar las diferentes perspectivasintersubjetivas disponibles para la voz textual. Debo enfatizar que el abordaje descrito en este artculoresulta de un proyecto de investigacin que se encuentra en marcha, el cual, seguramente, sufrircambios en los aos venideros.Palabras-clave: valoracin; evaluacin; actitud; juicio; comprometimiento.