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Produto: EST_SUPL1 - INFORMATICA - 8 - 23/02/09 L8 - CYANMAGENTAAMARELOPRETO INFLUÊNCIAS ELES POR ELES MESMOS CLÁSSICOS IMPROVÁVEIS O troca-troca virtual dos Barbixas :LUCAS PRETTI ELIDIO SANNA - 24 anos. “Estudou Física na USP e foi professor. Mas todo mundo sabe que isso é mentira. Ele estudou um professor e foi físi- co. O do Elidio é menorzinho porque de fato ele não fez muita coisa...” DANIEL NASCIMENTO - 26 anos. “É formado em Rádio e TV. Já traba- lhou e não trabalhou muitas vezes em diversos locais. Pega metrô desde 1989, quando foi para o Poupa Tempo fazer seu RG. JOGANDO - Márcio Ballas (dir.) na estreia de Improvável no Tuca (SP) ■■■ Grupo aposta no improviso lógico espalhado via YouTube , em que é líder de audiência, para atrair público ao teatro VIDA DIGITAL: CIA. BARBIXAS DE HUMOR, comediantes CONTO DE FADAS IMPROVÁVEL ONDE - tinyurl.com/contodefadas O QUE - A plateia sugere um título de conto de fadas, e os atores en- cenam, sempre rimando as falas. SÓ PERGUNTAS ONDE - tinyurl.com/soperguntas O QUE - Só é permitido fazer per- guntas em cena. Perde quem er- rar. Com Cristiane Wersom GATO FEDORENTO ONDE - tinyurl.com/fedorento O QUE - Grupo de atores portu- gueses que faz esquetes tipo Monty Phyton na televisão ANDERSON BIZZOCCHI - 25 anos. “É formado em Rádio e TV pela Cás- per Líbero. Já trabalhou em emissoras de TV e produtoras. Desde 1990 é corcunda profissional e já ganhou até um Grammy por isso.” JOGO DA TROCA ONDE - tinyurl.com/936krf O QUE - Quando o apresentador diz ‘Troca’, os atores devem mu- dar a última fala. Com Oscar Filho JOGANDO NO QUINTAL ONDE - tinyurl.com/cevlty O QUE - Peça em cartaz em São Paulo com jogos de improviso en- tre palhaços, com Márcio Ballas WHOSE LINE IS THIS? ONDE - tinyurl.com/acb5cq O QUE - Programa de TV britâni- co de improviso. É exibido tam- bém nos EUA pela ABC. FOTOS: DIVULGAÇÃO Três atores sem texto decorado, sem direção e sem saber o tema da peça sobem ao palco. O públi- co define um lugar para a ação. A cena começa, com o risco imi- nente de o mestre de cerimônias falar “Troca”. Então o ator deve mudar o sentido da última fala ou movimento na hora, quase sem pensar. Este texto também vai brincar disso. Troca. Mais de 34 milhões de pes- soas (34 milhões!) já assistiram aos vídeos do espetáculo Impro- vável no YouTube, que alçou a Cia. Barbixas de Humor ao pos- to de quinto canal mais acessado da história do site no Brasil, che- gando aosegundo lugar em algu- mas semanas. São jogos teatrais baseados em improviso. Eles comprovamatesedequeainter- net fortalece o teatro: não há mais ingressos para Improvável, em cartaz em São Paulo, no Tu- ca, até o meio de abril. Troca. A pedaço de barba na cara inspirou o nome do grupo da zo- na norte paulistana, que se for- mou sem querer a partir de brin- cadeiras no colégio. Anderson Bizzocchi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna falavam tanta bes- teira que compraram a ideia de viver daquilo. Ainda não vivem. Mas apostam no caminho “im- provável”. O fenômeno Barbixas tem an- tecedentes. Brasileiros têm par- ticular interesse por humor des- de Martins Pena, no século 19. Na internet, esquetes rápidos e potencialmente virais estouram fácil. Vide o stand-up comedy (tinyurl.com/link-standup). Tro- ca. O Tapa na Pantera (tinyurl. com/3dzdor). Troca. O mendigo Awey,aquelelouco do programa Hermes e Renato (tinyurl. com/4kpug6). Paraaplateia,umdosdiferen- ciais da experiência teatral é o risco, o fato de haver um ser hu- mano numa situação desconfor- tável, inesperada, ali no palco – e o improviso levaessa caracterís- tica ao extremo. Improvável parte de diversos jogos (veja os “clássicos” abai- xo) que costumam ser usados na preparação de atores para espe- táculos tradicionais ou em aulas de interpretação. Desinibem, afiam o raciocínio, trazem no- ções de dramaturgia, criam rela- ções entre os membros do elen- co. Anderson, Daniel e Elidio di- zemnãoensaiarparaoespetácu- lo. Eles “treinam” lógica para en- frentar as situações desconheci- das. “As pessoas não acreditam, mas a gente realmente não sabe o que vai acontecer”, diz Daniel. A estratégia da companhia é colocar no You Tube um clipe por semanade shows apresenta- dospeloPaís(www.youtube.com/ user/videosimprovaveis), sem- pre às quintas-feiras. Troca. Além disso, o grupo mantém o www.barbixas.com.br, com blog, e o site do espetáculo, www.im- provavel.com.br. Eles convidam amigos queficaram famosos (co- mo Rafinha Bastos, Marco Lu- que e Márcio Ballas) para facili- tar a identificação do público. Troca. O sucesso do espetáculo é bem-vindo, claro, mas trouxe também uma crise de identida- de. Troca. Um surto esquizofrê- nico. Troca. Problemas de rela- cionamento com o público. Todo mundo pensa que o no- me da companhia é Os Imprová- veis e os desconectam de ou- tros trabalhos de criação . A Cia. Barbixas faz esquetes à Monty Python e Os Melhores do Mundo. A última aparição na ce- na teatral paulistana foi em de- zembro, no projeto Farsas de Natal, do Grupo Parlapatões. Eles encenaram de maneira inusual o apedrejamento de Ma- ria Madalena. No YouTube, é possível ver a versão Barbixas para a Santa Ceia. Troca. Chegar à televisão e ser um tipo de Casseta & Planeta moder- no é a aspiração inóspita do gru- po, num momento em que a TV busca justamente obter um su- cesso semelhante ao deles na in- ternet. Mas, diz Elidio, não seria como o “enlatado” de hoje da Re- de Globo e sim algo com o espíri- to crítico infame e engajado dos primordiais Casseta Popular e O Planeta Diário. “Gostamos de fa- zer esquetes, mas a produção é muito cara. Ferrou, por exem- plo, se a gente precisar de um tribunal.” O grupo defende uma tese di- ferente das triviais sobre o fato de, em São Paulo, os teatros tra- dicionais – exclua aqui alguns al- ternativos da praça Roosevelt, festivais e circuitos culturais – estarem inundados de comédias às vezes discutíveis. “É o efeito Zorra Total de programas ruins da televisão. Não temos mais Chico Anysio, Jô Soares, Os Tra- palhões, TV Pirata, Família Tra- po. É no teatro que as pessoas suprem a carência por comé- dias de verdade”, diz Elidio. Faz sentido, ainda mais da bo- ca de pessoas que estudam técni- cas de interpretação para fazer rir – e que mesclam arte com tec- nologia para serem vistos. Troca. Para encerrar este texto, va- mosbrincarde“contodefadasim- provável”: Num mundo em que a inter- net domina / Parece não ter lu- gar para o teatro / Até que veio o YouTube, que sina / E levou as pessoas de volta ao palco. Os versinhos acima são pro- duto da mais pura vergonha alheia. É justamente a graça des- ses três caras com pedaços de barba no rosto. ESCALAPB PB ESCALACOR COR %HermesFileInfo:L-8:20090223: L8 LINK SEGUNDA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO

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Produto: EST_SUPL1 - INFORMATICA - 8 - 23/02/09 L8 - CYANMAGENTAAMARELOPRETO

INFLUÊNCIAS

ELES POR ELES MESMOS

CLÁSSICOS IMPROVÁVEIS

O troca-troca virtual dos Barbixas:LUCASPRETTI

ELIDIO SANNA - 24 anos. “Estudou Física na USP e foi professor. Mastodo mundo sabe que isso é mentira. Ele estudou um professor e foi físi-co. O do Elidio é menorzinho porque de fato ele não fez muita coisa...”

DANIEL NASCIMENTO - 26 anos. “É formado em Rádio e TV. Já traba-lhou e não trabalhou muitas vezes em diversos locais. Pega metrô desde1989, quando foi para o Poupa Tempo fazer seu RG.”

JOGANDO-MárcioBallas(dir.)naestreiade ImprovávelnoTuca(SP)

■■■Grupoapostano improvisológicoespalhadoviaYouTube,emqueélíderdeaudiência,paraatrairpúblicoaoteatro

VIDADIGITAL:CIA.BARBIXASDEHUMOR,comediantes

CONTO DE FADAS IMPROVÁVELONDE - tinyurl.com/contodefadasO QUE - A plateia sugere um títulode conto de fadas, e os atores en-cenam, sempre rimando as falas.

SÓ PERGUNTASONDE - tinyurl.com/soperguntasO QUE - Só é permitido fazer per-guntas em cena. Perde quem er-rar. Com Cristiane Wersom

GATO FEDORENTOONDE - tinyurl.com/fedorentoO QUE - Grupo de atores portu-gueses que faz esquetes tipoMonty Phyton na televisão

ANDERSON BIZZOCCHI - 25 anos. “É formado em Rádio e TV pela Cás-per Líbero. Já trabalhou em emissoras de TV e produtoras. Desde 1990é corcunda profissional e já ganhou até um Grammy por isso.”

JOGO DA TROCAONDE - tinyurl.com/936krfO QUE - Quando o apresentadordiz ‘Troca’, os atores devem mu-dar a última fala. Com Oscar Filho

JOGANDO NO QUINTALONDE - tinyurl.com/cevltyO QUE - Peça em cartaz em SãoPaulo com jogos de improviso en-tre palhaços, com Márcio Ballas

WHOSE LINE IS THIS?ONDE - tinyurl.com/acb5cqO QUE - Programa de TV britâni-co de improviso. É exibido tam-bém nos EUA pela ABC.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Trêsatoressemtextodecorado,sem direção e sem saber o temadapeça sobem ao palco. O públi-co define um lugar para a ação.A cena começa, com o risco imi-nentedeomestredecerimôniasfalar “Troca”. Então o ator devemudar o sentido da última falaou movimento na hora, quasesem pensar. Este texto tambémvai brincar disso.

Troca.Mais de 34 milhões de pes-

soas (34 milhões!) já assistiramaos vídeos do espetáculo Impro-vável no YouTube, que alçou aCia. Barbixas de Humor ao pos-todequintocanalmaisacessadodahistóriadosite no Brasil, che-gandoaosegundolugaremalgu-massemanas.Sãojogosteatraisbaseados em improviso. Elescomprovamatesedequeainter-net fortalece o teatro: não hámais ingressos para Improvável,em cartaz em São Paulo, no Tu-ca, até o meio de abril.

Troca.A pedaço de barba na cara

inspirou o nome do grupo da zo-na norte paulistana, que se for-mousemquererapartirdebrin-cadeiras no colégio. AndersonBizzocchi, Daniel Nascimento eElidio Sanna falavam tanta bes-

teira que compraram a ideia deviver daquilo. Ainda não vivem.Mas apostam no caminho “im-provável”.

OfenômenoBarbixasteman-tecedentes. Brasileiros têm par-ticular interesse por humor des-de Martins Pena, no século 19.Na internet, esquetes rápidos epotencialmente virais estouramfácil. Vide o stand-up comedy(tinyurl.com/link-standup). Tro-ca. O Tapa na Pantera (tinyurl.com/3dzdor). Troca. O mendigoAwey,aqueleloucodoprogramaHermes e Renato (tinyurl.com/4kpug6).

Paraaplateia,umdosdiferen-ciais da experiência teatral é orisco, o fato de haver um ser hu-manonuma situaçãodesconfor-tável, inesperada,alino palco–eoimprovisolevaessacaracterís-tica ao extremo.

Improvável parte de diversosjogos (veja os “clássicos” abai-xo)quecostumamserusadosnapreparaçãodeatoresparaespe-táculos tradicionais ou em aulasde interpretação. Desinibem,afiam o raciocínio, trazem no-çõesdedramaturgia,criamrela-ções entre os membros do elen-co. Anderson, Daniel e Elidio di-zemnãoensaiarparaoespetácu-lo.Eles“treinam”lógicaparaen-frentarassituaçõesdesconheci-das. “As pessoas não acreditam,mas a gente realmente não sabe

o que vai acontecer”, diz Daniel.A estratégia da companhia é

colocar no You Tube um clipeporsemanadeshowsapresenta-dospeloPaís(www.youtube.com/

user/videosimprovaveis), sem-pre às quintas-feiras. Troca.Além disso, o grupo mantém owww.barbixas.com.br, com blog,e o site do espetáculo, www.im-

provavel.com.br. Eles convidamamigosqueficaramfamosos(co-mo Rafinha Bastos, Marco Lu-que e Márcio Ballas) para facili-tar a identificação do público.

Troca.O sucesso do espetáculo é

bem-vindo, claro, mas trouxetambém uma crise de identida-de. Troca. Um surto esquizofrê-nico. Troca. Problemas de rela-cionamento com o público.

Todomundo pensa que o no-medacompanhiaéOsImprová-veis e os desconectam de ou-tros trabalhos de criação . ACia. Barbixas faz esquetes àMonty Python e Os Melhores doMundo.Aúltimaapariçãonace-na teatral paulistana foi em de-zembro, no projeto Farsas deNatal, do Grupo Parlapatões.Eles encenaram de maneirainusualoapedrejamentodeMa-ria Madalena. No YouTube, épossível ver a versão Barbixaspara a Santa Ceia.

Troca.Chegar à televisão e ser um

tipodeCasseta&Planetamoder-noéaaspiraçãoinóspitadogru-po, num momento em que a TVbusca justamente obter um su-cessosemelhanteaodelesnain-ternet.Mas,dizElidio,nãoseriacomoo“enlatado”dehojedaRe-deGloboesimalgocomoespíri-to crítico infame e engajado dosprimordiaisCasseta Popular eO

PlanetaDiário.“Gostamosdefa-zer esquetes, mas a produção émuito cara. Ferrou, por exem-plo, se a gente precisar de umtribunal.”

O grupo defende uma tese di-ferente das triviais sobre o fatode, em São Paulo, os teatros tra-dicionais–excluaaquialgunsal-ternativos da praça Roosevelt,festivais e circuitos culturais –estareminundadosdecomédiasàs vezes discutíveis. “É o efeitoZorra Total de programas ruinsda televisão. Não temos maisChicoAnysio,JôSoares,OsTra-palhões,TV Pirata, Família Tra-po. É no teatro que as pessoassuprem a carência por comé-dias de verdade”, diz Elidio.

Faz sentido, ainda mais da bo-ca de pessoasque estudamtécni-cas de interpretação para fazerrir – e que mesclam arte com tec-nologiapara serem vistos.

Troca.Para encerrar este texto, va-

mosbrincarde“contodefadasim-provável”:

Num mundo em que a inter-net domina / Parece não ter lu-garparaoteatro/AtéqueveiooYouTube, que sina / E levou aspessoas de volta ao palco.

Os versinhos acima são pro-duto da mais pura vergonhaalheia.Éjustamenteagraçades-ses três caras com pedaços debarba no rosto. ●

ESCALAPB PB ESCALACOR COR

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L8 LINK SEGUNDA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2009O ESTADO DE S.PAULO