Pi lpoesia11ºg

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*3 de Janeiro de 1942, Foz do Douro, Porto

* Nome central da literatura portuguesa do séc. XX

*Presidente do Centro Cultural de Belém, 2012

*27 de Abril de 2014, Lisboa, vítima de cancro

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*Modo Mundano (Poesia);

* Semana Inglesa (Poesia);

*Luís de Camões: Alguns Desafios (Ensaio);

*Camões e a Divina Proporção (Ensaio);

*Quatro Últimas Canções (Romance);

*A Morte de Ninguém (Romance);

*Circunstâncias Vividas (Diário).

*O suporte da música pode ser a relaçãoentre um homem e uma mulher, a pautados seus gestos tocando-se, ou dos seus olharesencontrando-se, ou das suas

Vogais adivinhando-se abertas e recíprocas, ou dos seus obscuros sinais de entendimento,crescendo como trepadeiras entre eles. O suporte da música pode ser

uma apetência

Dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se ramifica entre os timbres, os perfumes, mas é também um ritmo interior, uma parcela do cosmos, eles sabem-no,

perpassando

Por uns frágeis momentos, concentrado num ponto minúsculo, intensamente luminoso, que a música, desvendando-se, desdobra,entre o conhecimento e cúmplice harmonia.

Vasco Graça Moura, in “Antologia dos Sessenta Anos”

*quis-nos aos dois enlaçados meu amor ao lusco-fusco mas sem saber o que busco: há poentes desolados e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia a rebate nas marés na costa de lés a lés mais tempo nos duraria do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente fica assim num triste enleio entre melindre e receio de que a sombra se acrescente

e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce, sem deixar uma pegada por sobre a areia molhada, a ver o dia apagar-se e a noite feita de nada

por isso afinal não quero ir contigo ao lusco-fusco, meu amor, nem é sincero fingir eu que assim te espero, sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

*já ninguém morre de amor, eu uma vez

andei lá perto, estive mesmo quase,

era um tempo de humores bem sacudidos,

depressões sincopadas, bem graves, minha querida,

mas afinal não morri, como se vê, ah, não,

passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,

emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,

ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto

no coração, uma tensão no clarinete e

tão desgraçado o que senti, mas realmente,

mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,

eu nunca tive queda para kamikaze,

é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,

saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,

e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,

ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.

mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha

no lusco-fusco da canção parar à minha casa,

o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,

minha querida, toda a gente do bairro,

e então murmurarei, a ver fugir a escala

do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

*ATÉ AO FIM

intensamente, amorintensamenteponho na minha voz esta saudadeque é feita de futuro no presentee na ilusão é feita de verdade

intensamente, amorintensamente

desesperando, amordesesperandopor mesmo assim eu não te dizer tudomesmo ao lembrar-me de onde e como e quandoteu coração mudou

mas eu não mudo

desesperando, amordesesperando

até ao fim, amoraté ao fim do mundotal qual Pedro e Inêsaqui te esperoaqui me tens a mimneste mísero estado em que me vês

até ao fim, amoraté ao fim, amoraté ao fim.

*https://www.youtube.com/watch?v=aczqtCdHLL4

António Aleixo

António Fernandes Aleixo;Pastor de rebanhos:Nasce: Vila Real de Santo António (1899);Morre: Loulé (1949) devido à tuberculose;Simples, humilde, honesto, analfabeto;Vida com dificuldades;

Sobre:

Seu estilo:

Espontaneidade; Sentido filosófico;Ironia;Critica social;

Queremos ver sempre à distânciaO que não está descoberto,Sem ligarmos importânciaAo que está à vista e perto.

O mundo só pode serMelhor do que até aqui,- Quando consigas fazerMais p’los outros que por ti!

-Para não fazeres ofensasE teres dias felizes,Não digas tudo o que pensas,Mas pensa tudo o que dizes.

-O homem sonha acordado;

Sonhando a percorre...E desse sonhSó acorda, qmorre!

Ser doido-alegre, que maior ventura!Morrer vivendo p'ra além da verdade.É tão feliz quem goza tal loucuraQue nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,Sem ver na esmola, a falsa caridade,Que bem no fundo é só vaidade pura,Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como precA felicidade que esse doido temDe ver no purgatório um paraís

Direi, ao contemplar o seu sorriAi quem me dera ser doido tamP'ra suportar melhor quem tem

Ao ver um garotito esfarrapado Brincando numa rua da cidade, Senti a nostalgia do passado, Pensando que já fui daquela idade.

Que feliz eu era então e que alegria... Que loucura a brincar, santo delírio!... Embora fosse mártir, não sabia Que o mundo me criava p'ra o martírio!

Já quando um homenzinho, é que senti O dilema terrível que me impôs A torpe sociedade onde nasci: — De ser vítima humilde ou ser algoz...

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

Tuberculoso!... Mas que triste sorte! Podia suicidar-me, mas não quero Que o mundo diga que me desespero E que me mato por ter medo à morte... 

A torpe sociedade onde Nasci

Ao ver um garotito esfarrapado Brincando numa rua da cidade, Senti a nostalgia do passado, Pensando que já fui daquela idade.

Que feliz eu era então e que alegria... Que loucura a brincar, santo delírio!... Embora fosse mártir, não sabia Que o mundo me criava p'ra o martírio!

• Nostalgia;• Reflexão sobre o passado;

Já quando um homenzinho, é que senti O dilema terrível que me impôs A torpe sociedade onde nasci: — De ser vítima humilde ou ser algoz...

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

• Critica à sociedade;• Tem de haver uma 

escolha;

• Caracterização do seu estado de espirito;

• Indiferença;• Critica à sociedade;

Tuberculoso!... Mas que triste sorte! Podia suicidar-me, mas não quero Que o mundo diga que me desespero E que me mato por ter medo à morte... 

• Oposição à sociedade;• Critica à sociedade;

Ao ver um garotito esfarrapado aBrincando numa rua da cidade, bSenti a nostalgia do passado, aPensando que já fui daquela idade. b

Que feliz eu era então e que alegria... cQue loucura a brincar, santo delírio!... dEmbora fosse mártir, não sabia cQue o mundo me criava p'ra o martírio! d

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A torpe sociedade onde Nasci

POEMAS DE EUGÉNIO DE ANDRADE Isa Ramos | 11ºG

EUGÉNIO DE ANDRADE

Pseudónimo de José Fontinhas

Nasceu em 1923 

Morreu em 2005

A sua infância é passada com a mãe

Escreve os primeiros poemas em 1936

Narciso

As Mãos e os Frutos

Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia

Poeta português mais divulgado no mundo

É urgente o amorÉ urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,ódio, solidão e crueldade,alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luzimpura, até doer.É urgente o amor, é urgentepermanecer.

URGENTEMENTE

Os amigos ameidespido de ternurafatigada;uns iam, outros vinham,a nenhum perguntavaporque partia,porque ficava;era pouco o que tinha,pouco o que dava,mas também só queriapartilhara sede de alegria —por mais amarga.

É Natal, nunca estive tão só.Nem sequer neva como nos versosdo Pessoa ou nos bosquesda Nova Inglaterra.Deixo os olhos correrentre o fulgor dos cravose os dióspiros ardendo na sombra.Quem assim tem o verãodentro de casanão devia queixar‐se de estar só,não devia.

OS AMIGOS ÚLTIMO POEMA

PEQUENA ELEGIA DE SETEMBRO

Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte. 

Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro. 

Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? 

Queria falar contigo, Dizer‐te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. 

Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras? 

Deixa‐te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim. 

POEMA À MÃE

No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe 

Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos. 

Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais. 

Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz. 

Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura. 

Se soubesses como ainda amo as 

rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos. 

Mas tu esqueceste muita coisa; esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração ficou enorme, mãe! 

Olha —queres ouvir‐me? —às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos; 

ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura; 

ainda oiço a tua voz: Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal... 

Mas — tu sabes —a noite é enorme, e todo o meu corpo cresceu. Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber, 

Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo‐te as rosas. 

Boa noite. Eu vou com as aves. 

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. 

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. 

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. 

Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. 

Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. 

Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. 

Adeus.

T R A B A L H O R E A L I Z A D O P O R :

J O S É M A R I A S E R R Ã O

( N º 1 5 , 1 1 º G )

PIL Poesia

Laureano Silveira

Laureano Silveira

•1957, Porto – 2008, Porto (52 anos)

•Foi, numa primeira fase, professor do ensino primário, durante sete

anos;

•Sobretudo poeta, publicando também contos e alguma crítica em

revistas literárias e jornais;

•Após concluir a licenciatura em História da Arte, pela Faculdade de

Letras do Porto, partiu, em 1985, para os Estados Unidos, passando a

viver na cidade de Nashville (Tennessee), onde ensinou espanhol na

Universidade de Vanderbilt, regressando a Portugal em 1987.

•Integrou a revista “Quebra-Noz” (com Manuel António Pina, Manuel

Resende, Leopoldino Serrão, António Faria, Regina Guimarães, Álvaro

Lapa, J.M.S. Martins, João Gesta, entre outros), e a revista “Orfeu 4”;

•Co-dirigiu, com o também poeta Egito Gonçalves, a revista “Limiar”

(Porto,

•Está representado em “Os Poetas do Café” e na antologia “Os Outros –

Poesia Portuguesa: Anos 80 e Depois”.

“Os Caprichos”

Prémio Revelação de Poesia, ex-aequo, da APE, em 1984.O livro encontra-se dividido em duas partes: a 1ª, “ilustrando” poeticamente alguns dos desenhos do pintor espanhol Francisco Goya (com o subtítulo “Metamorfoses da Máscara”), intitulados “Os Caprichos”; e a 2ª (subintitulada “Sombra Rebelde”), as 24 peças musicais homónimas do violinista Nicolo Paganini.Para ambos os casos, o pintor e o músico, escolhe o poeta uma “ilustração” violenta, radical, porque “expõe às forças obscuras com que se defronta” (no dizer avisado do poeta e ensaísta António Ramos Rosa) a confrontação da arte pictórica de Goya e da arte musical de Paganini com aquilo que nelas ambas é mais profundo: o arrancar das máscaras da vida convencional, para (se) “atingir o fundo abissal do homem, em ordem afinal à recuperação total do rosto e ao restabelecimento de uma unidade que não separe o informe e a forma, a luz e a sombra, a razão e a loucura” (ibidem) enfim, todos os contrários que constituem a realidade humana.Dito de outro modo: a intensa tensão da poesia de Laureano Silveira, sendo extrema, não recusa por outro lado as formas possíveis de apaziguamento da violência – atente-se nos seus sinais, sempre presentes em cada poema – quer através do lirismo como da sua redução conceptual.Diz o próprio poeta no prefácio ao seu livro que “as emoções e as ideias” que o estudo “obsessivo” de Goya e Paganini lhe despertaram foram enfim codificadas num corolário de versos perseguindo uma quase exclusiva finalidade: aportar à discursividade da poesia a corrente de inquietações “de um homem ocupado com a representação das coisas e dos outros homens no seio de um mundo torturado pela dúplice fantasmagoria da vida e da morte” – e isto através de uma poesia em que as gravuras do pintor e as peças do músico serviriam de pretexto sem que o discurso (poético) se esgotasse nas suas figurações imediatas.Leia-se (poema “Elogio da Máscara”)

“Elogio da Máscara”

Onde a cegueira me fascinaé nos lentos punhaisda máscara.

Escrita obscura de vozes flutuantesonde o perigocaminha pela mão da memóriaentre o riso transfiguradodo amore a sombra larvar, silenciosada morte.

A mãoa magra mão que searrasta pela nudez induzà fatalidade e ao crime

mas a alegria é humilde e cheiade inocência!

Oh, quanta mentiranas línguas alagadasquantos rumoresfingidos…

e a magia, terna claridadeesquecida das fogueiras, entra de olhos postos na terrae naveganavegaCom aquela silenciosa majestosidade da morte…

METÁFORA

antítese

metáfora

o elogio da máscara

aliteração

assonância

anáfora

… Vê-se, pois, como a realidade está sujeita ao ritual da ameaça e do risco, numa espécie de quase irrealismo, na capacidade de metamorfosear toda a (nossa) relação com o real, uma quase insuportável tensão entre emoções e razão.

(à memória do poeta Laureano Silveira, meu padrinho de baptismo)

Mário de Sá-Carneiro

(O “Esfinge Gorda”)

• 1890 (Lisboa) – 1916 (Paris), de suicídio (25

anos)

•Poeta, contista e romancista

•Uma das figuras mais importantes do

Modernismo, e da revista Orpheu.

•Integrou, com Fernando Pessoa e Almada

Negreiros, o primeiro Modernismo, e a revista

do movimento Orpheu (1918).

•Escreveu e publicou dois volumes de poesia:

“Dispersão” (1914) e “Indícios de Oiro” (inédito

à sua morte); e a peça teatral “Amizade” (1912),

as novelas de “Princípio” (mesmo ano), a

narrativa “A Confissão de Lúcio” (1914) e as

novelas de “Céu em Fogo” (1915)

Poema “Escavação”

Numa ânsia de ter alguma cousa,Divago por mim mesmo a procurar,Desço-me todo, em vão, sem nada achar,E minh'alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:Brando a espada: sou luz harmoniosaE chama genial que tudo ousaUnicamente à força de sonhar…

Mas a vitória fulva esvai-se logo…E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...– Onde existo que não existo em mim?...… … … … … … … … … … … … … … …… … … … … … … … … … … … … … …

Um cemitério falso sem ossadas, Noites d’amor sem bocas esmagadas –Tudo outro espasmo que princípio ou fim…

Existe “na poesia portuguesa um franco pendor para o subjectivismo” (João Gaspar Simões). Como, por outro lado, uma certa discursividade, um dado carácter “prosaico”, têm vindo a marcar muita da melhor poesia contemporânea portuguesa – sobretudo após as gerações de Orpheu e da Presença; a obra poética de Mário de Sá-Carneiro situa-se entre os melhores exemplos de um tal registo.O tema fundamental da poesia de Mário de Sá-Carneiro (o “Esfinge Gorda”, como a si mesmo o autor, num gesto duplo de ironia e algum “masoquismo”, viria a alcunhar-se) vem a ser, em rigor, a sua própria pessoa, falando de si mesmo como o fez também António Nobre. Camões falava, ao exprimir-se liricamente, também de si próprio – mas como se já não fosse ele mesmo; Sá-Carneiro, quando fala de si, é numa espécie de “movimento pendular” que o faz, querendo eu com isto dizer que ora atrai o homem para si mesmo, ora o projecta para fora de si; e assim a temática poética do autor oscila entre o filósofo, o místico, o poeta – e o guerreiro, o político, o homem de acção, numa palavra.A poesia de Mário de Sá-Carneiro assume frequentemente um carácter quase desconcertante, como se nela não existisse muita vez sequer propriamente sujeito, mas antes e apenas objecto, somente objecto. Disto mesmo é bem exemplo o poema apresentado, “Escavação”, em que a sua leitura nos mostra a quase “impessoalidade” do sujeito lírico, nesse movimento “para fora de si” do poeta: “(…) – Onde existo que não existo em mim?”… Uma outra característica da poética do autor é a sua “dispersão”, título aliás que entregou a um seu poema. E uma tal característica, resolve-se afinal na obra do autor em estados de espírito que são “testemunhados” pelos alter-egos de ocasião, circunstanciais, aplicados pelo autor ao sujeito de um poema ou ao narrador de um conto ou novela. O resto, que seria ainda muito para aqui referir, são características como a voluptuosidade, o homossexualismo esboçado em alguns textos, e/ou a exacerbada heterossexualidade ultra-romântica e decadentista, de outros (e entre estes, o decadentismo assumido e gritado do seu poema final “O Fim”…).

Trabalho realizado por : Ana Catarina Sousa ,11ºG

“Lutei para escapar da infância o mais cedo possível. Assim que consegui,

voltei a correr para ela.”

Álvaro de Campos

Heterónimo de Fernando Pessoa;

13 de junho de 1888 – 30 de novembro de 1935 (Lisboa);

Poeta, escritor e tradutor;

Mensagem, Livro do Desassossego; 

Depus a MáscaraDepus a máscara e vi‐me ao espelho.

Era a criança de há quantos anos.

Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.

É‐se sempre a criança, 

O passado que foi

A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô‐la.

Assim é melhor,

Assim sem a máscara. 

E volto à personalidade como a um términus de linha.

António Manuel Couto Viana

24 de janeiro de 1923 (Viana do Castelo) – 8 de junho de 2010 (Lisboa);

Encenador, tradutor, poetam dramaturgo e ensaísta;

O Avestruz Lírico, No Sossego da Hora, O Caminho é por Aqui;

Dezasseis Anos, TalvezDezasseis anos, talvez.Vejo‐a, no café, cada manhã,A folhear, atenta, um compêndio* de inglês,Com um perfume a Escola e a maçã.

Não me canso de a olhar. Às vezes, olha(Um velho!), num desvio de atenção,E logo volta a folha,Enquanto molhao bolo no «galão».

Eu saio, com pesar, bebida a «bica».Ela é a minha manhã,Tão natural, tão clara... que ali fica.

‐ Que saudades da Escola! Que fome de maçã!

*Compêndio = resumo

Eugénio de Andrade

Pseudónimo de José Fontinhas;

19 de janeiro de 1923 (Póvoa de Atalaia) – 13 de junho de 2005 (Porto)

Poeta, escritor e tradutor.

Os Amantes sem Dinheiro, As Palavras Interditas, Escrita da Terra;

Juventude

Sim, eu conheço, eu amo aindaesse rumor abrindo, luz molhada,rosa branca. Não, não é solidão,nem frio, nem boca aprisionada.Não é pedra nem espessura.É juventude. Juventude ou claridade.É um azul puríssimo, propagado,isento de peso e crueldade.

Pedro Homem de Mello

6 de setembro de 1904 – 5 de março de 1984 (Porto);

Poeta, professor e folclorista*.

Danças de Portugal, Jardins Suspensos, Segredo

Folclore = conjunto de tradições de um povo (dança, música, 

AdolescentesExaustos, mudos, sempre que os vejo,Nos bancos tristes que há na cidade,Sobe em mim próprio como um desejoOu um remorso da mocidade...

E até a brisa, perfidamenteLhes roça os lábios pelos cabelosQuando a cidade, na sua frenteRindo e correndo, finge esquecê‐los!

Eles, no entanto, sentem‐na bela.(Deram‐lhe sangue, pranto e suor).Quantos, mais tarde se vingam delaPor tudo o que hoje sabem de cor!

E essas paragens nos bancos tristes(Aquela estranha meditação!)Traz‐lhes, meu Deus, só porque existes,A garantia do teu perdão!

Análise do PoemaE|xaus|tos,| mu|dos|, sem|pre| que| os|ve|jo,       ‐ 10Nos| ban|cos| tris|tes| que| há| na|ci|da|de, ‐ 10So|be| em| mim| pró|pri|o| co|mo| um|de|se|jo ‐ 12Ou| um| re|mor|so| da|mo|ci|da|de...                      ‐ 9

E| a|té| a| bri|sa|, per|fi|da|men|te ‐10Lhes| ro|ça| os| lá|bi|os| pe|los|ca|be|los ‐11Quan|do a| ci|da|de|, na| su|a|fren|te ‐ 9Rin|do e| cor|ren|do|, fin|ge es|que|cê|‐los! ‐9

E|les|, no| en|tan|to|, sem|tem|‐na|be|la. ‐10(De|ram|‐lhe| san|gue|, pran|to e|su|or).| ‐9Quan|tos|, mais| tar|de| se| vin|gam|de|la ‐9Por| tu|do o| que| ho|je| sa|bem| de| cor!|      ‐10

E| es|sas| pa|ra|gens| nos| ban|cos|tris|tes ‐10(A|que|la| es|tra|nha|me|di|ta|ção!) ‐9Traz|‐lhes|, meu| Deus|, só| por|que e|xis|tes,    ‐8A| ga|ran|ti|a| do| teu| per|dão!|                          ‐9

Rima consoante Rima rica

Rima pobre

http://videos.sapo.pt/i8D4SwaUabD6lSKNpL1f

https://www.youtube.com/watch?v=ekV_347MtPQ

Ana Raquel Santos Rodr11ºG Nº5

Inês Rocha Nº 12 11ºG

Pára-me de Repente o Pensamento

Pára-me de repente o pensamento Como que de repente refreado Na doida correria em que levado Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento, Como pára um cavalo alucinado Ante um abismo súbito rasgado... Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria... Pára à beira do abismo e se demora E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora... Mas a espora da dor seu flanco estria E ele galga e prossegue sob a espora.

O esquecimento é o caminho para a paz

personificação

gradação

Apesar de lhe provocar dor, o pensamento prossegue sob a espora- representa os obstáculos e aquilo que impossibilita algo

Como um relato da suadoença

Eu Ontem Ouvi-te...

Andava a luz Do teu olhar, Que me seduz A divagar Em torno a mim. E então pedi-te, Não que me olhasses, Mas que afastasses, Um poucochinho, Do meu caminho, Um tal fulgor De medo,amor, Que me cegasse, Me deslumbrasse, Fulgor assim.

Estes Versos Antigos

Estes versos antigos que eu dizia Ao compasso que marca o coração Lembram ainda?... Lembrarão um dia... — Nas memórias dispersas recolhidas Sequer na piedosa devoção

De algum livro de cousas esquecidas? — Acaso o que ora canta... vive... existe Nunca mais lembrará — eternamente? E vindo do não ser, vai, finalmente, Dormir no nada... majestoso e triste?

https://www.youtube.com/watch?v=XaxFkLNvfnI

Nasceu a 29 de Abril de 1949 em Portimão (Mexilhoeira Grande)

Ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português.

Licenciado em Filosofia Romântico na Universidade de Lisboa.

Obteve o grau de Doutor pela Universidade Nova (Lisboa) onde é professor catedrático.

É Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Diretor do Instituto Camões em Paris.

Publicou antologias, edições de crítica literária, estudo sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa.

Prémio Literário Eça de Queiroz da cidade de Lisboa, (1995)

Antítese

Navego num largo mar de enganos,guiado pela estrela cega do horizonte.O meu destino está inscrito nestes anosem que o tempo nasce de uma futura fonte.

Assim, o que foi ontem está para ser,passado que vive num presente sem nós,como o rio que, para correr, nasce na foz;e tudo o que vi ainda está para se ver,

tal como o silêncio que fala nesta voz.O caminho faz‐se quando se está parado,barco que anda sem haver vento;

e só quem está certo pode ser enganadoquando, ao pensar, perde o pensamento,e em tudo o que sonha só vê o passado

Silêncio 

Pego num pedaço de silêncio. Parto‐o ao meio,e vejo saírem de dentro dele as palavras queficaram por dizer. Umas, meto‐as num frascocom o álcool da memória, para que setransformem num licor de remorso; outras,guardo‐as na cabeça para as dizer, um dia,a quem me perguntar o que significam.Mas o silêncio de onde as palavras sairamvolta a espalhar‐se sobre elas. Bebo o licordo remorso; e tiro da cabeça as outras palavrasque lá ficaram, até o ruído desaparecer, e sóo silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.

Passado Passou o vento, passou o dia,passou a noite e a manhã,passou o tempo, passou a gente,passou cada hora de amanhã;

passou um canto esquecidonos cantos de cada passo,passou ao dizer que passosem se lembrar do compasso;

passou a vida como se nadafosse,só passou e foi‐se embora,passou à pressa, sem demora,e passou tudo a quem ficou;

e se mais não passouno fim de tudo ter passado,foi porque algo se passouno último passo que foi dado.

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amorque se despeja no copo da vida, até meio, como seo pudéssemos beber de um trago. No fundo,como o vinho turvo, deixa um gosto amargo naboca. Pergunto onde está a transparência dovidro, a pureza do líquido inicial, a energiade quem procura esvaziar a garrafa; e a respostasão estes cacos que nos cortam as mãos, a mesada alma suja de restos, palavras espalhadasnum cansaço de sentidos. Volto, então, à primeirahipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,esperando que o tempo encha o copo até cima,para que o possa erguer à luz do teu corpoe veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Plano

MANUEL ANTÓNIO

PINAINÊS SILVA 11ºG Nº10

• Nasceu : 1943 em Sagubal (Portugal)• Morreu : 2012, no Porto• Licenciou-se em direito na Faculdade

de Direito da Universidade de Coimbra e foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas

• Poesia e literatura infanto-juvenil• A sua obra difundiu-se por vários países

tais como: França, Estados Unidos, Espanha e muitos mais.

• Prémio Camões (2011)• Escrita enigmática e filosófica

1. Amor como em casaRegresso devagar ao teusorriso como quem volta a casa. Faço de conta quenão é nada comigo. Distraído percorroo caminho familiar da saudade,pequeninas coisas me prendem,uma tarde num café, um livro. Devagarte amo e às vezes depressa,meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,regresso devagar a tua casa,compro um livro, entro noamor como em casa.

2. EsplanadaNaquele tempo falavas muito de perfeição,da prosa dos versos irregularesonde cantam os sentimentos irregulares.Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assime eu já não fico a ouvir-te como antigamenteOlhando as tuas pernas que subiam lentamenteAté um sítio escuro de mim

O café agora é um banco, tu professora de liceu:Bob Dylan encheu-se de dinheiro, O che morreu.Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,e não caminhos por andar como dantes.

3.O Regresso Como quem, vindo de países distantes fora de

si, chega finalmente aonde sempre esteve

e encontra tudo no seu lugar,

o passado no passado, o presente no presente,

assim chega o viajante à tardia idade

em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa

e deita-se pela primeira vez na sua cama.

Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,

cidades, estações do ano.

E come agora por fim um pão primeiro

sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

4. Sétimo dia Voltámos, um a um, da tua mortepara a nossa vida como quem regressa a casade uma longa viagem. Para trás ficaram recordações, países,e agora é como se te tivéssemos sonhado.A voz que, diante da escuridão, suspendemosquando se desmoronou o mundo para o fundo de tierguemo-la de novo para os afazeres diurnose para as horas comuns.Ainda ontem estávamos sozinhos diante do Horrore já somos reais outra vez.A própria dor adormeceu no nosso colocomo um animal de companhia.

5. A Poesia vaiA poesia vai acabar, os poetasvão ser colocados em lugares mais úteis.Por exemplo, observadores de pássaros(enquanto os pássaros nãoacabarem). Esta certeza tive-a hoje aoentrar numa repartição pública.Um senhor míope atendia devagarao balcão; eu perguntei: «Que fez algumpoeta por este senhor?» E a perguntaafligiu-me tanto por dentro e porfora da cabeça que tive que voltar a lertoda a poesia desde o princípio do mundo.Uma pergunta numa cabeça.– Como uma coroa de espinhos:estão todos a ver onde o autor quer chegar? –

Catarina Oliveira nº3 11ºG

Nasceu em Vila Viçosa em 1894 e morreu em Matosinhos em 1930.

Foi uma das primeiras feministas de Portugal.

Estudou em Évora, concluindo o curso de Letras.

Em 1913, casa-se com Alberto Moutinho, seu colega de escola.

Florbela foi a primeira mulher a ingressar no curso de Direito da Universidade de Lisboa.

Parte da sua inspiração veio da sua vida inquieta pela rejeição do pai.

Sofre um aborto espontâneo, que a deixa doente por um longo período.

Em 1921, divorcia-se de Alberto e casa-se com o oficial de artilharia António Guimarães.

Nesse mesmo ano, sofre novo aborto e separa-se do marido. Em 1925, casa-se com o médico Mário Laje, em Matosinhos.

Em 1927, sua vida é marcada pela morte do irmão, num acidente de avião, facto que a levou a tentar o

i ídi

Desejos Vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porteQue ri e canta, a vastidão imensa!Eu queria ser a Pedra que não pensa,A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,O bem do que é humilde e não tem sorte!Eu queria ser a árvore tosca e densaQue ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...As árvores também, como quem reza,Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,Tem lágrimas de sangue na agonia!E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente...

Apresenta as suas aspirações, desejos, pretende fugir das suas limitações de ser humano e deseja ser vários elementos da natureza.

São a antítese das quadras.

Desejo de realização

Inutilidade desses desejos.

Inclinação do espírito humano para alguma coisa cuja realização lhe poderia causar prazer.

Realização inútil, ilusória.

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,Aquela que diz tudo e tudo sabe,Que tem a inspiração pura e perfeita,Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridadePara encher todo o mundo! E que deleitaMesmo aqueles que morrem de saudade!Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...Aquela de saber vasto e profundo,Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,E quando mais no alto ando voando,Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

Presença da subjetividade, da idealização e da fantasia da poetisa. Transmite-nos o desejo que o sujeito poético tem em atingir a plenitude da expressão escrita, tentando afirmar-se a partir do sonho.Sonha que os seus versos são sublimes, que têm claridade para encher todo o mundo e que emocionam e deleitam toda a gente, mesmos os mais melancólicos e tristes.

Surge o desejo de se sentir “alguém cá neste mundo”.

Constata a sua própria condição: o nada.