QUEM É MANUEL ANTÓNIO PINA? Clicando Manuel António Pina em criança.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CINCIAS EXATAS E DA NATUREZAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA
PAULA PRISCILA GOMES DO NASCIMENTO PINA
A RELAO ENTRE O ENSINO E O USO DO LIVRO
DIDTICO DE GEOGRAFIA
JOO PESSOA PB
2009
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PAULA PRISCILA GOMES DO NASCIMENTO PINA
A RELAO ENTRE O ENSINO E O USO DO LIVRO
DIDTICO DE GEOGRAFIA
Dissertao apresentada coordenao do Programa dePs-Graduao em Geografia - PPGG, da UniversidadeFederal da Paraba - UFPB, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre.
Orientao: Prof. Dr. Maria Adailza Martins de Albuquerque.
rea de Concentrao: Territrio, Trabalho e Ambiente.
Joo Pessoa PB
2009
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P645r Pina, Paula Priscila Gomes do Nascimento.A relao entre o ensino e o uso do livro didtico de Geografia/
Paula Priscila Gomes do Nascimento Pina. Joo Pessoa, 2009.104 f.
Orientadora: Maria Adailza Martins de Albuquerque.Dissertao (Mestrado) UFPB - CCEN
1. Geografia - Ensino. 2. Livro didtico Geografia. 3. EscolasPblicas.
UFPB/BC CDU: 911:37(043)
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PAULA PRISCILA GOMES DO NASCIMENTO PINA
A RELAO ENTRE O ENSINO E O USO DO LIVRO
DIDTICO DE GEOGRAFIA
Dissertao apresentada coordenao do Programa dePs-Graduao em Geografia - PPGG, da UniversidadeFederal da Paraba - UFPB, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre.
Aprovada em: 28/ 08/ 2009.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________Prof. Dr. Maria Adailza Martins de Albuquerque
Orientadora - UFPB
____________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Eduardo OliveiraExaminador - UFS - Membro externo
____________________________________________________Prof. Dr. Carlos Augusto de Amorim CardosoExaminador - PPGG - UFPB - Membro interno
Joo Pessoa PB2009
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Ao meu amado Deus, meus pais e meu esposo.
Dedico
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AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, pela graa e misericrdia recebida;
Ao meu amado esposo Jos, por estar sempre me apoiando e me trazendo amemria aquilo que me d esperana;
Aos meus pais Paulo e Ftima, pela disposio em estar sempre me apoiando eme ajudando em tudo;
A minha famlia em geral, pelos estmulos para que eu seguisse em frente;
Professora Dr. Adailza Martins de Albuquerque (Dad), pelo exemplo deprofessora, pela dedicao na orientao desta pesquisa e pelos ensinamentosque me tornaram uma professora melhor;
Aos meus amigos queridos: Edinete, Joseane, Lenigya, Andr, Ericson, Elida,Leila e Marco, pela disposio em ajudar;
A minha me geogrfica Emlia de Rodat, pelos estmulos e pelo exemplo deuma tima professora;
A todos os professoresdo programa de Ps-Graduao em Geografia PPGG,da Universidade Federal da Paraba - UFPB, pela contribuio para o meu
progresso acadmico;
A secretria do programa de Ps-Graduao em Geografia PPGG, daUniversidade Federal da Paraba UFPB Snia Maria do Nascimento, peladisposio em ajudar;
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contriburam para a concluso destapesquisa.
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D instruo ao sbio,e ele se far mais sbio ainda;
ensina ao justo,e ele crescer em prudncia.
O temor do SENHOR o princpio da sabedoria,
e o conhecimento do Santo prudncia.
Sl. 9: 9 e 10
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RESUMO
Um dos materiais didticos que est intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da Geografiana escola o livro didtico, em muitos casos este recurso foi e o orientador das aulas deGeografia, restringindo o conhecimento a tal recurso. Para realizao dessa pesquisalevantamos a seguinte questo: Qual a relao existente entre o ensino e o uso do livrodidtico de Geografia? A partir desse questionamento objetivo geral da pesquisa foi analisar ouso do livro didtico nas prticas escolares dos professores de Geografia, tendo como objetode investigao a prtica de dois professores de Geografia em turmas do 6 ao 9 ano doensino fundamental, selecionadas em duas escolas pblicas: a Escola de Ensino FundamentalVirgnius da Gama e Melo e Escola de Ensino Fundamental David Trindade, ambas
localizadas no municpio de Joo Pessoa, estado da Paraba. Como resultados essa dissertaotraz uma discusso sobre o conceito e o histrico do livro didtico no Brasil, assim comotambm os debates trazidos por outras pesquisas sobre o tema, dando destaque a um brevehistrico da publicao e produo do livro didtico de Geografia do/no Brasil, mostra asnovas perspectivas de uso e influncia do livro didtico na prtica didtica e pedaggica dos
professores de Geografia e por ltimo traz uma apresentao das escolas selecionadas,mostrando o perfil dos professores acompanhados e a forma como esses docentes tmutilizado o livro didtico de Geografia em sala de aula, apresenta uma anlise dos livrosdidticos de Geografia adotados pelas escolas objeto de investigao e mostra asconsideraes feitas pelo guia do PNLD 2008 para os livros didticos analisados. Podemosconcluir que o livro didtico est to entrelaado com o ensino da Geografia que chega a ser
utilizado antes, durante e depois da aula. Em ambas as escolas o livro didtico de Geografia o recurso didtico mais importante e norteia toda a prtica pedaggica dos professores e aaprendizagem dos estudantes, a ponto de se tornar um recurso indispensvel para o ensino deGeografia.
Palavras-chave: Livro didtico. Ensino de Geografia. Usos do livro didtico.
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RESUMEN
Uno de los materiales didcticos que estn intriseco encendido desarrollado de Geografia enla escuela son el libro didctico, en muchos casos este recurso era y es la persona que orientade las lecciones de la Geografia, restringiendo el conocimiento a tal recurso. Para larealizacin de esta investigacin planteamos la pregunta siguiente: cul la relacin existenteentre la educacin y el uso del libro didctico de la Geografia? De esto perguntar el objetivogeneral de la investigacion era analizar el uso del libro didctico en el prtico referente a laescuela de los professores de la Geografia en grupos de 6 al ao 9 de la educacin bsica,seleccionado en dos escuelas pblica: a Escuela de Ensino Fundamental Virginius da Gama eMelo e a Escuela de Ensino Fundamental David Trindade, ambas situadas en la ciudad de laJoo Pessoa, en el Estado de la Paraba. Pues los resultados este disertacin traen una pelea en
el concepto histrico del libro didctico en el Brasil, tan bien como los discusiones tradospara la otra investigacin sobre el tema, el dar tambin ha separado a un informe historico dela publicacin y de la produccin del libro didctico de la Geogafia de l/en el Brasil,demuestra las nuevas perspectivas del uso y de la influncia del libro didctico en la didctica
pedaggica prctica y de los profesores de la Geografia y finalmente trae una presentacion delas escuelas selecionadas, la demosntacin al perfil del profesores y la forma como estos
professores han utilizado el libro didctico de la Geografia en sala de clase, presenta unanlisis de los libros didcticos de la Geografia adaptados por el objeto y las demostracionesle la investigagin de las escuelas los consideracin hechos para la guia de PNLD 2008 paralos libros analizados. Podemos concluir que el libro didctico as que est entrelazado con laeducacin de la Geografia antes de la cual llega para ser utilizado, durante y despus de la
leccin. En las escuelas el libro didctico de la Geografia es el recurso didctico msimportante y dirige to pedaggico prctico de los profesores y el aprender de los estudiantes,el punto de si se convirte en un recurso imprescindible para la educacin de la Geografia.
Palabra-llaves: Libro didctico. Educacin de la Geografia. Aplicaciones del libro didctico.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Folha de rosto do livro Compendio de Geographia Elementar, de Jos
Saturnino da Costa Pereira
31
Figura 2 Folha de rosto do livro Compndio de Geografia Elementar, de
Manuel Said Ali Ida
34
Figura 3 Folha de rosto do primeiro livro didtico de Aroldo de Azevedo. 38
Figura 4 Mapa dos Plos das escolas municipais de Joo Pessoa 56
Figura 5 Entrada principal da Escola Virgnius da Gama e Melo 57
Figura 6 Muro da entrada principal da Escola Virgnius da Gama e Melo 58
Figura 7 Sala de informtica da Escola Virgnius da Gama e Melo 59
Figura 8 Biblioteca da escola Virgnius da Gama e Melo 60
Figura 9 Sala do SOE da Escola Virgnius da Gama e Melo 60
Figura 10 Cantina da Escola Virgnius da Gama e Melo 61
Figura 11 Jardim da Escola Virgnius da Gama e Melo 61
Figura 12 Horta da Escola Virgnius da Gama e Melo 62
Figura 13 Quadra de esportes da Escola Virgnius da Gama e Melo 62
Figura 14 Parede grafitada pelos estudantes da escola Virgnius da Gama e Melo 63
Figura 15 Ptio de entrada da Escola David Trindade 64
Figura 16 Sala para proteo dentria da Escola David Trindade 65
Figura 17 Ginsio da Escola David Trindade 66
Figura 18 Cantina da Escola David Trindade 66
Figura 19Refeitrio da escola David Trindade 67
Figura 20 Ambiente dos Professores da Escola David Trindade 67
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Figura 21 Biblioteca da Escola David Trindade 68
Figura 22 Biblioteca da Escola David Trindade 68
Figura 23 Biblioteca da Escola David Trindade 68
Figura 24 Biblioteca da Escola David Trindade 68
Figura 25 Acervo de trofus da Escola David Trindade 69
Figura 26 A Seo glossrio do livro didtico Projeto Ararib 73
Figura 27 Capas do livro didtico do Projeto Ararib 77
Figura 28 Seo Saiba Mais do livro didtico Projeto Ararib 80
Figura 29 Seo Lugares Interessantes do livro didtico Projeto Ararib 81
Figura 30 Capas do livro didtico Geografia Crtica 82
Figura 31
Figura 32
Sugestes de atividades trazidas no livro Geografia Crtica
Sugestes de atividades trazidas no livro Geografia Crtica
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Programas Institucionais do livro didtico a partir de 1930 26
Tabela 2 Livros didticos escritos por Mrio da Veiga Cabral 36
Tabela 3 Livros didticos escritos por Aroldo de Azevedo 38
Tabela 4 Plo 1 - Virgnius da Gama e Melo - Escolas e Endereos 54
Tabela 5 Perodos, Sries e Turmas e da Escola Virgnius da Gama e Melo 58
Tabela 6 Perodos, Sries e Turmas e da Escola David Trindade 65
Tabela 7 Contedos proposto no livro didtico Projeto Ararib 78
Tabela 8 Contedos propostos no livro didtico Geografia Crtica 87
Tabela 9 Caractersticas estruturais das colees: Projeto Ararib e Geografia
Crtica
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PNLD Programa Nacional do Livro Didtico
CNLD Comisso Nacional do Livro Didtico
INL Instituto Nacional do Livro
COLTED Comisso do Livro Tcnico e Livro Didtico
FENAME Fundao Nacional do Material Escolar
INLD Instituto Nacional do Livro didtico
PLIDEF Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
PNLEM Programa Nacional do Livro Didtico para o Ensino Mdio
PNLA Programa Nacional do Livro Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos
AGB Associao de Gegrafos Brasileiros
SME Secretria Municipal de Educao
EJA Educao de Jovens e Adultos
PCNs Parmetros Curriculares Nacionais
UFPB Universidade Federal da Paraba
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SUMRIO
INTRODUO 15
CAP TULO 1: LIVRO DID TICO: HIST RIA E PRODUO 19
1.1. O livro didtico 20
1.2. Livros didticos de Geografia do/no Brasil: autores e contedos 30
CAP TULO 2: O USO DO LIVRO DID TICO DE GEOGRAFIA 46
2.1. Anlise do uso do livro didtico de Geografia 49
CAP TULO 3: AS ESCOLAS, OS PROFESSORES E A AN LISE DO LIVRO
DIDTICO
54
3.1. Escola Municipal de Ensino Fundamental Virgnius da Gama e Melo 57
3.2. Escola Municipal de Ensino Fundamental David Trindade 64
3.3. Perfil dos Professores 693.3.1. O ensino de Geografia 71
3.3.2. O uso do livro didtico pelos professores 71
3.3.3. Consideraes sobre os professores 75
3.4. Anlise dos livros didticos 75
3.4.1. Livro didtico: Projeto Ararib 77
3.4.2. Livro didtico: Geografia Crtica 82
3.5. Consideraes do Guia do PNLD 2008 sobre as colees: Projeto Ararib e
Geografia Crtica
88
CONSIDERAES FINAIS 92
REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS 95
AP NDICE 100
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INTRODUO
Na atualidade o ensino de Geografia tem passado por processos de transformaes que
leva em conta a percepo dos alunos no que se refere aos fundamentos geogrficos.
Teoricamente a Geografia escolar, ao longo da sua estruturao, passou por diversas fases
indo de uma Geografia Tradicional, com destaque para a Geografia Clssica e para a
Geografia Moderna (ROCHA, 1996) apoiadas ora na Pedagogia Tradicional ora na Escola
Nova, s abordagens crticas que chegam contemporaneidade influenciada pelos aportes
tericos Marxistas, Fenomenolgicos, Humanistas, entre outros, apoiadas em diferentes
vertentes de construtivismo. Entretanto, na sala de aula, costuma-se encontrar prticas
escolares que se apiam em propostas pedaggicas tradicionais e recorrem a abordagens
crticas da Geografia, vivendo uma contradio entre as propostas tericas para o ensino de
Geografia e sua prtica em sala de aula.
Sabe-se que um dos materiais didticos que est intrinsecamente ligado ao
desenvolvimento da Geografia na escola o livro didtico, que em muitos casos foi e o
orientador das aulas de Geografia, restringindo o conhecimento a tal recurso. Vrias so as
crticas levantadas s relaes de ensino e aprendizagem direcionadas utilizao restrita do
livro didtico na escola.
As preocupaes acerca dos livros escolares no so recentes, embora as pesquisas
que os tm como objeto de estudo sejam relativamente recentes na Geografia, o que justifica o
pequeno nmero de publicaes no mercado sobre o tema e um nmero reduzido de pesquisas
sobre essa questo (ALBUQUERQUE, 2007b), encontram-se no campo da histria da
educao. Encontramos vrios estudos sobre os livros didticos relatando as problemticasrelacionadas abordagem dos contedos, da sua influncia como artefato cultural e no
apenas como um suposto reprodutor da ideologia dominante (GALVO, 2005), das
relaes burocrticas da sua publicao, divulgao e circulao, dos seus enfoques
cientficos distantes da realidade dos educandos, entre outros. No entanto, verifica-se que
existe uma carncia muito grande de pesquisas que discuta o uso do livro didtico, ou seja, de
pesquisas que visam analisar como se d a interao entre contedo livresco, o saber do
professor e o saber do estudante.
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Diante dessas observaes levantamos a seguinte questo: Qual a relao existente
entre o ensino e o uso do livro didtico de Geografia? Partindo desse questionamento
buscamos analisar o ensino de Geografia a partir da utilizao dos livros didticos em sala de
aula, tendo como objeto de investigao turmas do 6 ao 9 ano do ensino fundamental,
selecionadas em duas escolas pblicas: a Escola de Ensino Fundamental Virgnius da Gama e
Melo e Escola de Ensino Fundamental David Trindade, ambas localizadas no municpio de
Joo Pessoa, estado da Paraba.
Assim sendo, estabelecemos como agente balizador da pesquisa as seguintes
afirmativas:
- Em geral, as prticas escolares de Geografia destinadas ao ensino fundamental esto
estreitamente associadas ao uso do livro didtico, sendo este utilizado como currculopr-ativo.
- As propostas metodolgicas trazidas nos livros didticos nem sempre se coadunam
com as metodologias utilizadas pelos professores em suas prticas em sala de aula.
- A precariedade de outros recursos didticos na escola pblica restringiu o livro
didtico nica fonte de conhecimento.
- A forma de exposio dos contedos nos manuais escolares dificulta a compreenso
dos educandos.Enquanto disciplina escolar, a Geografia est institucionalizada no Brasil desde o
inicio do sculo XIX (VESENTINI, 2004), passando por perodos de declnio e de
aprimoramento, Atualmente a Geografia disciplina do 1 ao 9 ano do ensino fundamental e
do 1 ao 3 ano do ensino mdio, totalizando na vida escolar doze anos de estudos
geogrficos. Durante todo esse percurso, a cada ano, novos contedos foram apresentados e
difundidos pelos professores a partir e por meio dos livros didticos.
Observando a importncia e o papel que os livros didticos tm na sala de aula, aPedagogia contempornea prope que os professores os utilizem como um apoio e no como
um guia de suas prticas didtico-pedaggicas, sugerindo o uso de outros recursos didticos
para facilitar a aprendizagem dos alunos, como tambm, novas metodologias de uso dos livros
didticos.
A proposta desta pesquisa vem no sentido de verificar qual a relao existente entre a
prtica escolar do professor de Geografia e o uso do livro didtico em sala de aula, sabendo
que indiscutvel a credibilidade que este recurso tem para o educando. Colaborando para
uma maior reflexo sobre o ensino de Geografia e a utilizao dos manuais escolares,
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mostramos como esta relao acontece nas duas escolas pblicas que foram objeto de estudo
e, por meio bibliogrfico discutimos as tendncias de uso dos livros didticos.
Dessa forma a nossa problemtica se apresenta da seguinte maneira: quais so as
metodologias de ensino e aprendizagem a que recorrem os professores em sala de aula quando
utilizam o livro didtico de Geografia?
Essa problemtica e os questionamentos nos levaram a estabelecer os seguintes
objetivos para esta dissertao. O objetivo geral foi analisar o uso do livro didtico nas
prticas escolares dos professores de Geografia, enquanto que, os objetivos especficos
buscam: resgatar historicamente a utilizao de livros didticos no ensino de Geografia;
identificar as influncias metodolgicas de autores e dos seus respectivos livros didticos na
prtica de professores de Geografia em sala de aula; relacionar a abordagem didtica doslivros escolares com o desenvolvimento da Geografia cientifica e com a escolar; caracterizar
as metodologias utilizadas pelos professores de Geografia e verificar a relao delas com os
livros didticos e analisar a adequao dos manuais escolares adotados pelas turmas em
observao para a sua realidade.
A fundamentao terica dessa pesquisa se estruturou em textos e obras dos seguintes
autores: Galvo e Batista (2003), Magalhes (S/D), Vesentinni (1992/2004), Pereira (1999),
Albuquerque (2005), Rocha (1996), Bittencourt (1993/2005), Schffer (1998), Chartier(1990), Chervel (1990), Choppin (2004) e outros. Estes autores esto relacionados aos temas:
histria e conceitos no livro didtico; cultura escolar, saber cientifico e saber escolar;
publicao e produo do livro didtico de Geografia; anlise de livros didticos e usos do
livro didtico, temas tratados na dissertao.
Como procedimentos metodolgicos para realizao dessa pesquisa foram utilizados
uma srie de procedimentos, a saber: primeiramente um levantamento bibliogrfico, buscando
oferecer um suporte terico consistente para a elaborao da dissertao, seguido de pesquisade campo, realizada em duas escolas de ensino fundamental selecionadas para anlise, onde
foi realizado o acompanhamento de dois professores de Geografia e por ltimo a produo do
texto da dissertao, dedicado organizao das informaes obtidas nas etapas anteriores e
na anlise dos livros didticos de Geografia utilizados pelos professores acompanhados.
Dessa forma, os resultados dessa pesquisa foram estruturados em trs captulos:
O primeiro captulo traz uma discusso sobre o conceito e o histrico do livro didtico
no Brasil, assim como tambm, os debates trazidos por outras pesquisas sobre o tema, dando
destaque a um breve histrico da publicao e produo do livro didtico de Geografia do/no
Brasil. Assim, mostramos a influncia de autores como Manuel Said Ali Ida, Delgado de
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Carvalho, Aroldo de Azevedo e outros que tem publicaes contemporneas, como Jos
Willian Vesentini e Vnia Vlach.
O segundo captulo dessa pesquisa est voltado para uso do livro didtico de
Geografia, mostrando as novas perspectivas de utilizao e analisando a influncia do livro
didtico na prtica pedaggica dos professores de Geografia.
O terceiro captulo mostra os resultados da pesquisa emprica luz dos debates
terico-metodolgicos apresentados nos dois primeiros captulos apresentados. Esse captulo
traz uma apresentao das escolas selecionadas, o perfil dos professores acompanhados e a
forma como esses docentes tm utilizado o livro didtico de Geografia em sala de aula, como
tambm apresenta uma anlise dos livros didticos de Geografia adotados pelas escolas da
pesquisa mostrando as consideraes feitas pelo guia do PNLD 2008 para os livros didticosanalisados.
E por fim, nas consideraes finais fizemos algumas colocaes apresentando a
estreita relao que o uso do livro didtico tem com o ensino de Geografia. Deixando algumas
reflexes que nos fazem repensar a nossa prtica pedaggica enquanto professores de
Geografia.
A maior importncia desse trabalho consiste em trazer um debate que parte da prtica
do professor e busca a teoria para analis-la de modo a discutir a nossa afirmao inicial deque se vive uma contradio entre a prtica efetiva do ensino de Geografia e as propostas que
lhes poderiam dar sustentao.
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CAPTULO I
LIVRO DIDTICO:HISTRIA E PRODUO
Algumas publicaes sobre o processo de desenvolvimento do sistema escolar
brasileiro destacam-se pela preocupao com a utilizao e a importncia que os livros
didticos tm para o ensino de todas as disciplinas escolares.
Sabe-se que, mesmo diante das transformaes metodolgicas implantadas a partir dos
avanos tecnolgicos, vivenciados na atualidade, o livro escolar continua a ser o material
didtico mais utilizado nas salas de aula do Brasil. Podemos mesmo afirmar que o histrico
do livro didtico vem ao longo dos anos entrelaado com a histria das prprias disciplinas
escolares.
O livro didtico esteve presente em praticamente todo o desenvolvimento da
Geografia escolar brasileira, segundo Bittencourt (1993) sua origem est vinculada ao poder
institudo. A articulao entre a produo didtica e o nascimento do sistema educacional,
estabelecido pelo estado, distingue o livro didtico dos demais livros, nos quais h menor
nitidez da interferncia de agentes externos em sua elaborao.
Entendendo a importncia e estreita relao desse material didtico para a constituio
da escola e da sua interferncia no ensino, buscaremos neste captulo fazer, por meio de uma
anlise bibliogrfica, uma retrospectiva histrica sobre o livro didtico no Brasil, dando
nfase a produo e publicao do livro didtico de Geografia, associada a uma analise dos
manuais escolares adotados nas escolas que serviram de objeto de estudo para esta pesquisa.
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1.1. O Livro Didtico
Fazendo uma historiografia do manual escolar em Portugal, Justino Magalhes (2006)
coloca que esta histria tem-se desenvolvido a partir de trs linhas de orientao,
correspondendo s perspectivas disciplinares diferenciadas: uma etno-histria (o livro escolar
como meio didtico e pedaggico privilegiado na estruturao da cultura escolar), uma
abordagem na rea da histria econmica e social e uma abordagem no quadro da histria
cultural. Para esse autor:
Fazer a histria do manual escolar indagar da gnese, natureza,simbolizao e significao mais profundas do saber e do conhecimento; indagar da materialidade e da significao do(s) livro (s) como texto,enquanto ordem (suporte e unidade) do saber e do conhecimento; indagar,ainda, do livro como discurso (configurao, forma/estruturao,especializao, autoria); por fim, indagar do saber como conhecimento edo conhecimento como informao. (MAGALHES, 2006, p.6).
As linhas de orientao descritas por Magalhes para o estudo da histria dos livros
didticos e a sua prpria concepo de como fazer a histria do manual escolar so de muita
relevncia para o estudo que pretendemos realizar. Partindo de uma abordagem embasada na
histria cultural, buscaremos fazer um resgate da importncia do livro didtico no Brasil,
como recurso didticopedaggico que so utilizados pelos professores na orientao do
processo de ensino e aprendizagem.
Outras anlises se evidenciam no debate sobre o livro didtico. Para Alain Choppin a
natureza da literatura escolar est ligada a um complexo entrecruzamento de trs gneros que
participam do processo educativo:
De inicio, a literatura religiosa onde se origina a literatura escolar, da qual
so exemplos, no Ocidente Cristo, os livros escolares laicos por perguntase respostas, que retornam o mtodo e a estrutura familiar de catecismos;em seguida, a literatura didtica, tcnica ou profissional que se apossouprogressivamente da instituio escolar, em pocas variadas entre os anosde 1760 e 1830, na Europa-, de acordo com o lugar e o tipo de ensino;enfim, a literatura de lazer, tanto de carter moral quanto de recreao oude vulgarizao, que inicialmente se manteve separada do universo escolar,mas qual os livros didticos mais recentes e em vrios pasesincorporaram seu dinamismo e caractersticas essenciais. (2004, p.552).
Dos trs gneros de literatura escolar referenciados por Choppin, o primeiro a
literatura religiosa, de livros escolares que apresentam uma estrutura de catecismo com
perguntas e respostas, foi difundida no Brasil, pela misso dos jesutas (1549), que perdurou
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por mais de dois sculos, tendo como objetivo inicialmente a catequizao e instruo dos
gentios e posteriormente, a partir de 1599, quando foi estabelecido o primeiro currculo para
as escolas brasileiras, o Ratio Studiorum e a fundao dos Colgios Jesutas, a formao da
elite colonial, como afirma Saviani: eram elitistas, porque acabou destinando-se aos filhos
dos colonos e excluindo os indgenas, com o que os colgios jesutas se converteram no
instrumento de formao da elite colonial. (2008, p. 56).
O segundo gnero, a literatura didtica, tcnica e profissional teve ou tem pouca
expressividade no Brasil. J o terceiro gnero, o da literatura do lazer, sem dvida uma
tendncia dos livros didticos atuais, que esto sempre procurando incorporar nova dinmica
ao ensino, associando o ldico, a recreao e a vulgarizao de novos mtodos e metodologias
de ensino realidade do educando, tornando a aprendizagem mais significativa e formadorade uma conscincia cidad.
Choppin diz ainda que os livros didticos ao longo do seu desenvolvimento histrico
exercem quatro funes essenciais, podendo variar de acordo com o ambiente sociocultural, a
poca, as disciplinas, os nveis de ensino, os mtodos e as formas de utilizao:
1. Funo referencial, tambm chamada de curricular ou programtica,desde que existam programas de ensino: o livro didtico ento apenas a
fiel tradio do programa ou, quando se exerce o livre jogo da concorrncia,uma de suas possveis interpretaes. Mas, em todo o caso, ele constitui osuporte privilegiado dos contedos educativos, o depositrio dosconhecimentos, tcnicas ou habilidades, que um grupo social acredita queseja necessrio transmitir s novas geraes.2. Funo instrumental: o livro didtico pe em prtica mtodos deaprendizagem, prope exerccios ou atividades que, segundo o contexto,visam a facilitar a memorizao dos conhecimentos, favorecer a aquisiode competncias disciplinares ou transversais, a apropriao de habilidades,de mtodos de anlise ou de resoluo de problemas, etc.3. Funo ideolgica e cultural: a funo mais antiga. A partir do sculoXIX, com a constituio dos estados nacionais e com o desenvolvimento,nesse contexto, dos principais sistemas educativos, o livro didtico seafirmou como um dos vetores essenciais da lngua, da cultura e dos valoresdas classes dirigentes. Instrumento privilegiado de construo deidentidade, geralmente ele reconhecido, assim como a moeda e a bandeira,como um smbolo da soberania nacional e, nesse sentido, assume umimportante papel poltico. Essa funo, que tende a aculturar - e, em certoscasos, a doutrinar - as jovens geraes, pode se exercer de maneiraexplcita, at mesmo sistemtica e ostensiva, ou, ainda de maneiradissimulada, sub-reptcia, implcita, mas no menos eficaz.4. Funo documental: acredita-se que o livro didtico pode fornecer, semque sua leitura seja dirigida, um conjunto de documentos, textuais ou
icnicos, cuja observao ou confrontao podem vir a desenvolver oesprito crtico do aluno. Essa funo surgiu muito recentemente naliteratura escolar e no universal: s encontrada afirmao que podeser feita com muitas reservas em ambientes pedaggicos que privilegiam
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a iniciativa pessoal da criana e visam a favorecer sua autonomia; supe,tambm, um nvel de formao elevado dos professores. (CHOPPIN, 2004,p.553)
Utilizando como referencial essas funes descritas por Choppin tentaremos destac-las no desenvolvimento histrico do livro didtico no Brasil.
A funo referencial constitui o manual escolar como um privilegiado suporte terico
de contedos programticos, institudos por um determinado grupo social que seleciona o que
deve ser transmitido s futuras geraes. No Brasil esta funo pode ser observada desde
meados do sculo XVIII, quando de acordo com Bittencourt o livro escolar aparecia, como
principal instrumento de formao do professor, garantindo, ao mesmo tempo, a veiculao de
contedo e mtodo de acordo com as prescries do poder estabelecido (1993, p.24). Nessesentido o manual escolar era utilizado como guia para o trabalho do professor, subsidiando a
sua m formao terica e direcionando a sua prtica pedaggica de acordo com o que estava
proposto. Para a substituio dos jesutas no Brasil foi instituda a reforma pombalina, que
dentre outras diretrizes determinava como proposta de produo de livros escolares, a
elaborao de textos didticos para uso exclusivo do professor, portanto, o livro didtico,
segundo Bittencourt visava,
nos seus primrdios, prioritariamente atender ao professor. No decorrer dosculo XIX, embora o manual mantivesse esse carter intrnseco em suaelaborao, ele passou a ser considerado tambm como obra a serconsumida diretamente por crianas e adolescentes, passando estes a terdireito de posse sobre ele. (1993, p.26)
No Brasil a carncia de formao docente qualificada favoreceu consideravelmente
essa concepo de livro escolar que visava atender prioritariamente o Professor. Muito
embora, ele tenha passado, a partir do sculo XIX, a ser considerado uma obra para uso dos
estudantes, este recurso didtico manteve e ainda mantm a sua funo referencial para
muitos docentes que constituem a sua prtica didtico-pedaggica alicerada pelas diretrizes
propostas nos livros didticos.
Os livros didticos ainda em relao funo referencial, trazem propostas de
contedos referendados em documentos curriculares oficiais. Assim comum encontrar livros
escolares que trazem em suas capas, referncias aos currculos ou programas de ensino
estabelecidos para os diversos perodos histricos no Brasil. assim que encontramos
comumente livros de Geografia com referncia aos programas do Colgio Pedro II, desde os
anos de 1838 (VECHIA; LORENZ, 1998) quando este colgio se tornou referencial para todo
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o pas. Outros livros so encontrados com referncias a programas determinados por
legislao, em especial a partir da dcada de 1930. Em casos mais recentes encontramos
livros de acordo com os guias curriculares, estabelecidos na dcada de 1970 e, atualmente,
muitos livros didticos de Geografia trazem nas capas referncias aos Parmetros Curriculares
Nacionais (PCN s) estabelecidos na dcada de 1990.
Com isso, se pode observar que os documentos curriculares so historicamente
referenciais para os livros escolares e que devido tradio desses programas se mostram
como interpretaes deles.
Enquanto sua funo instrumental, o livro escolar no Brasil adquiriu algumas
caractersticas que o fizeram, em muitos casos, o mais importante e imprescindvel para o
desenvolvimento da prtica didtico-pedaggica de alguns docentes, propondo mtodos deaprendizagem e favorecendo, segundo contexto, memorizao, resoluo de problemas e
outros. Esses livros j vinham desde o inicio do sculo XIX, influenciando e direcionando
mtodos de ensino para a escola. Nessa perspectiva, vejamos como eram estes livros
didticos:
Os livros a serem utilizados pelos professores foram pensados em doisnveis. Inicialmente, pelo custo e raridade de obras propriamente didticas,
impunha-se aos professores o uso de livros de autores consagrados, sobretudo as obras religiosas. Os professores fariam ditados e os alunoscopiariam trechos ou ouviriam as prelees em sala de aula. Tal era omtodo imaginado para as primeiras dcadas do sculo XIX.(BITTENCOURT, 1993, p.25).
Essas caractersticas metodolgicas nortearam por muito tempo as prticas dos
professores, embora muito contestada por contribuir para uma forma de aprendizagem
baseada unicamente no livro, favorecendo as afirmaes de Magalhes quando afirma:
O livro escolar no apenas contm um critrio de verdade como ele prprio interpretado como sendo a verdade. [...]O manual escolar tornou-se o meio pedaggico central do processotradicional de escolarizao... uma, seno a principal porta de entrada navida e na cultura. (s/d,p.283/p. 285)
Com uma concepo bem parecida com a de Magalhes, Freitag, Motta e Costa (1987)
afirmam que o livro didtico no visto como um instrumento de trabalho auxiliar na sala de
aula, mas sim como a autoridade, a ltima instncia, o critrio de verdade, o padro de
excelncia a ser adotado na aula. Concordando com estes autores podemos dizer que muitos
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professores usam o livro escolar como nico recurso didtico e os contedos contidos neles
so tidos pelos educandos e, em alguns casos, pelos prprios professores, como uma verdade
absoluta que no deve ser contestada, mas sim apenas aprendida. Entretanto, essa no uma
prtica unnime entre os professores, pois parte deles trabalha em uma perspectiva diferente
dessa, usam os livros didticos como um recurso didtico pedaggico, mas no como a
verdade absoluta, inclusive discute as verdades ali postas.
Esta noo de que os livros didticos trazem uma verdade absoluta j faz parte da
cultura escolar, segundo Silva:
... a escola uma instituio da sociedade, que possui suas prprias formasde ao e de razo, construdas no decorrer da sua histria, tomando porbase os confrontos e conflitos oriundos do choque entre as determinaesexternas a ela e as suas tradies, as quais se refletem na sua organizao egesto, nas suas prticas mais elementares e cotidianas, nas salas de aula enos ptios e corredores, em todo e qualquer tempo, segmentado, fracionadoou no. (2006, p.206).
Diante do contexto do que se entende por escola e a dinmica de suas relaes
culturais, o livro didtico embora recurso didtico, exerce um papel de importncia e
influncia na sala de aula, onde o seu uso j tem se tornado tradio. Muito embora a falta de
conscincia de parte dos professores de que nenhum livro est acima de contestaes s vem a
contribuir para reproduo de uma determinada forma de aprendizagem dos contedos,
geralmente pautada pela memorizao de nomenclaturas e de dados numricos. No entanto,
acreditamos que diante da realidade atual a perspectiva de ver o livro didtico como uma
verdade absoluta, tende a ser abolida ou minimizada.
Sobre a funo ideolgica, o livro didtico visto como um smbolo de soberania
nacional, sendo o principal disseminador de lngua, cultura e valores das classes dirigentes.
No caso brasileiro esta funo foi a mais analisada, visto que existem trabalhos com estasperspectivas desde a dcada de 1940 (BEISEGEL, 2000). Nessa perspectiva autores como
Galvo e Batista, conceituam os livros didticos, dizendo:
Eles so, com efeito, em maior ou menor grau, desde o sculo XIX, objetosde controle do Estado e, desde a Idade Moderna, instrumentos, porexcelncia, de proselitismo religioso..., objetos por meio dos quais podebuscar construir a histria dos modos de conceber, pelo Estado, a formaoideolgica da criana, bem como dos processos pelos quais a escola
constri sua cultura, seus saberes, suas prticas. (2003, p.166)
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Para alguns autores, os livros escolares foram concebidos para que o Estado pudesse
controlar o saber a ser divulgado pela escola. Brbara Freitag, Valria Motta e Vanderley
Costa afirmam que o livro didtico no tem uma a histria prpria no Brasil, segundo esses
autores:
Sua histria no passa de uma sequncia de decretos, leis e medidasgovernamentais que se sucedem, a partir de 1930, de forma aparentementedesordenada, e sem a correo e a crtica de outros setores da sociedade(partidos, sindicatos, associaes de pais e mestres, associaes de alunos,equipes cientificas, etc.). (FREITAG, MOTTA e COSTA, 1987, p.5).
Essa sequncia de decretos, leis e medidas governamentais que os referidos autores
fazem meno, como diretrizes para a histria do livro didtico no Brasil passam a se
efetivarem por meio das mudanas ocorridas na sociedade a partir da ditadura do Estado
Novo. Sabe-se que foi justamente depois da Revoluo de 1930, que o livro didtico nacional
passa a ter mais importncia para o estado como um artefato de domnio cultural e poltico
das classes subordinadas. Assim, os contedos dos materiais escolares propriamente ditos
foram objetos da ao do Ministrio, rgo que ocupava espao privilegiado no projeto
cultural da Era Vargas (BEZERRA E LUCA, 2006, p.29). Nesse perodo por meio do
decreto Lei n. 1.006 de 30/12/1938, o livro didtico recebeu o seu primeiro conceito formal
no Brasil, determinando o seguinte:
O decreto Lei 1.006 de 30/12/1938, define pela primeira vez, o que deve serentendido por livro didtico. Art. 2, 1 - Compndios so livros queexponham total ou parcialmente a matria das disciplinas constantes dosprogramas escolares; 2 - Livros de leitura de classe so os livros usadospara a leitura dos alunos em aula; tais livros tambm so chamados de livrosde texto, livro-texto, compndio escolar, livro escolar, livro de classe,manual, livro didtico. (OLIVEIRA, A.L., 1980, p.13 apud FREITAG,MOTTA e COSTA, 1987, p.6).
Nesse mesmo decreto foi criada a Comisso Nacional do Livro Didtico (CNLD),
dando inicio a sequncia de programas institucionais implantados no Brasil depois de 1930
(tabela 1).
No entanto, no podemos deixar de nos referir a questo do livro didtico como
recurso pedaggico de grande importncia para o processo de ensino-aprendizagem, no caso
brasileiro esse material didtico j estava presente na escola desde o sculo XIX, tendo por
tanto uma historicidade independente que aconteceu antes de 1930 e contrapondo o que
afirmam os autores supracitados.
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Analisar a histria do livro didtico apenas a partir da dcada de 1930, nos levaria a
desconsiderar a introduo desse material didtico na escola brasileira, como j foi colocado
anteriormente, desde o sculo XIX. Por exemplo, este recurso servia de referncia para o
professor (BITTENCOURT, 2003), embora em sua maioria, at incio do sculo XX, os
livros didticos eram estrangeiros, ou seja, eram elaborados em pases europeus e importados
para uso nas escolas no Brasil.
Concordamos que s depois da implantao dos programas e da formao de
instituies para o livro didtico, aps a terceira dcada do sculo passado, que o livro
didtico ganhou espao e qualidade no Brasil, se tornando oficialmente at os dias de hoje o
material didtico mais utilizado nas escolas brasileiras.
Elaboramos um quadro para melhor compreender a normalizao sobre o livrodidtico no Brasil, a partir da terceira dcada do sculo XX, no qual mostramos a seguir que
existe um grande nmero de programas, normas e diretrizes sobre os livros didticos que
devem ser consideradas quando se pretende historiar esse recurso didtico no Brasil.
TABELA 1: PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DO LIVRO DIDTICO A PARTIR
DE 1930
ANO PROGRAMAS/ INSTITUIES DIRETRIZES / OBJETIVOS
1937 INL (Instituto Nacional do Livro) - Coordenao do livro didtico.
1938 CNLD (Comisso Nacional do Livrodidtico)
- Caberia a essa comisso examinar ejulgar os livros didticos, indicar livrosde valor para a traduo e sugerirabertura de concurso para a produo dedeterminadas espcies de livrosdidticos ainda no existentes no pas.
- Caberia zelar pelo contedo dos
materiais utilizados pelos alunos.1966 COLTED (Comisso do Livro Tcnico e
Livro Didtico)- Coordenar a produo, edio edistribuio do livro didtico, paraassegurar os recursos governamentais,contou-se com financiamentoproveniente do acordo MEC-USAID(United States Agency for InternationalDevelopmente).
1968
1976
FENAME (Fundao Nacional doMaterial Escolar) criada em 1968sofreu modificaes por decreto
presidencial em 1976.
- Definir as diretrizes para a produo dematerial escolar e didtico e assegurarsua distribuio em todo o territrio
nacional.- Formular programa editorial.
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- Executar os programas do livrodidtico.
- Cooperar com instituieseducacionais, cientficas e culturais,
pblicas e privadas, na execuo deobjetivos comuns.
1971 INLD (Instituto Nacional do Livrodidtico)
- Administrao e gerenciamento dosrecursos financeiros destinados polticaeducacional.
Dcadade 1980
PLIDEF (Programa do Livro Didticopara o Ensino Fundamental)
- Colaborar no desempenho da polticagovernamental e cultural do pas, dandoassistncia ao alunado carente derecursos financeiros.
1985 PNLD (Programa Nacional do Livro
Didtico)
Introduziu as seguintes modificaes:
- Controle de deciso pela FAE(Fundao de Assistncia ao Estudante),em mbito Nacional, a quem cabiarealizar o planejamento, compradistribuio do livro didtico comrecursos federais.
- No interferncia do Ministrio daEducao no campo da produoeditorial, que ficava a cargo da iniciativaprivada.
- Escolha dos livros pelos professores.
- Reutilizao dos livros por alunos deanos subseqentes.
- Especificaes tcnicas rigorosas,visando o aumento da durabilidade dolivro.
- Inicio da organizao de bancos delivros didticos.
- Oferta restrita aos alunos de 1 e 2sries das escolas pblicas e
comunitrias.- Avaliaes de livros didticos.
1993 Plano Decenal de Educao para Todos - Enfatizava a necessidade da melhoriaqualitativa dos livros didticos, aimportncia da capacitao adequada doprofessor para avaliar e selecionar oslivros a serem por ele utilizados e aimplementao de uma nova polticapara o livro didtico no Brasil.
1996 PNLD 1997 - iniciado o processo de avaliaopedaggica dos livros inscritos para oPNLD 1997. Esse procedimento foiaperfeioado, sendo aplicado at hoje.Os livros que apresentam erros
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conceituais, induo a erros,desatualizao, preconceito oudiscriminao de qualquer tipo soexcludos do Guia do Livro Didtico.
1997 Fundo Nacional de Desenvolvimento daEducao (FNDE)
- Com a extino, em fevereiro, daFundao de Assistncia ao Estudante(FAE), a responsabilidade pela polticade execuo do PNLD transferidaintegralmente para o Fundo Nacional deDesenvolvimento da Educao (FNDE).O programa ampliado e o Ministrioda Educao passa a adquirir, de formacontinuada, livros didticos dealfabetizao, lngua portuguesa,matemtica, cincias, estudos sociais,histria e geografia para todos os alunos
de 1 a 8 srie do ensino fundamentalpblico.2004 PNLEM pela Resoluo n. 38 do FNDE, o
programa prev a universalizao delivros didticos para os alunos do ensinomdio pblico de todo o pas.Inicialmente, atendeu 1,3 milhes dealunos da 1 srie do ensino mdio de5.392 escolas das regies Norte eNordeste, que receberam at o incio de2005, 2,7 milhes de livros dasdisciplinas de portugus e de
matemtica. Em 2005, as demais sriese regies brasileiras tambm foramatendidas com livros de portugus ematemtica.
2007 O Programa Nacional do Livro Didticopara a Alfabetizao de Jovens eAdultos (PNLA)
criado pela Resoluo n. 18, de 24 deabril de 2007, para distribuio, a ttulode doao, de obras didticas sentidades parceiras, com vistas alfabetizao e escolarizao depessoas com idade de 15 anos ou mais.
Fonte: Produo Prpria1
Observando a tabela 1, podemos dizer que foram sucessivos os programas
institucionais implantados no Brasil, todos com objetivo-diretrizes diferenciadas, mas que se
assemelham em algumas questes como a de coordenao e administrao de programas de
livros didticos, gerenciamento em termos de produo, distribuio e melhoria da qualidade
1Tabela organizada a partir dos textos de: FREITAG, Brbara, MOTTA, Valria Rodrigues, COSTA, WanderlyFerreira. O histrico do livro didtico no Brasil. In. O Estado da Arte do livro didtico no Brasil. Braslia:INEP, 1987. p. 5 35 e BEZERRA, Holien Gonalves e LUCA, Tnia Regina de. Em busca da qualidade PNLD
Histria- 1996-2004. In. SPOSITO, Maria Encarnao B. (org.). Livros didticos de Geografia e Histria:avaliao e pesquisa. So Paulo: cultura acadmica, 2006. p. 27 53 e das informaes contidas no site doMinistrio da Educao (MEC) -www.fnde.gov.br/home/index.jsp? arquivo=livro_didatico.html
http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?%20arquivo=livro_didatico.htmlhttp://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?%20arquivo=livro_didatico.html -
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do livro escolar e outras com o interesse em comum de ampliao e organizao de uma
poltica pblica para o livro didtico no Brasil.
Atualmente, o governo federal executa trs programas voltados ao livro didtico: o
Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD), o Programa Nacional do Livro Didtico para
o Ensino Mdio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didtico para a Alfabetizao de
Jovens e Adultos (PNLA) que apresentam como objetivo prover as escolas das redes federal,
estadual, municipal e as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado com obras
didticas de qualidade para todos os alunos matriculados. Os livros didticos so distribudos
gratuitamente, para os alunos de todas as sries da educao bsica da rede pblica e para os
matriculados em classes do programa Brasil Alfabetizado. Tambm so beneficiados, por
meio do programa do livro didtico em Braille, os estudantes com deficincia visual, os
alunos das escolas de educao especial pblica e das instituies privadas definidas pelo
censo escolar como comunitrias e filantrpicas.
Sobre a funo documental do manual escolar, pode-se dizer que se trata de uma
recente renovao metodolgica em termos de sua prpria utilizao. O educando e o
professor buscam a construo do conhecimento e propem uma socializao de informaes
sobre os contedos, e nesse contexto, o livro didtico visto como um documento a mais e
no como uma verdade nica e absoluta que no pode ser contestada. Nessa perspectiva, o
livro pode ser tambm fonte de documentao, acervo em que o aluno possa acessar
documentos necessrios ao desenvolvimento dos contedos, assim como recorre a imagens
(fotografias, mapas, imagens de satlites, etc.) que para o ensino e aprendizagem de Geografia
so documentos imprescindveis. Essa funo pode desenvolver nos estudantes um esprito
crtico, no entanto, assim como afirma Choppin (2004) ela ainda muito pouco difundida e
requer um nvel elevado de formao dos professores. Embora recente essa perspectiva seja
inovadora e possivelmente alguns professores j tm utilizado o livro didtico de forma
documental, a fim de que este recurso seja um ponto de apoio para o desenvolvimento do seu
trabalho e no a principal base de sua atividade docente.
Diante de todo esse debate terico acerca das funes do livro didtico, pode-se dizer
que este material escolar constituiu-se em um instrumento privilegiado do controle estatal
sobre o ensino e aprendizado dos diferentes nveis escolares (BITTENCOURT, 1993, p.18).
O uso e a posse do livro didtico inserem-se em uma complexa teia de relaes e de
representaes sociais (BITTENCOURT, 1993, p.02), essas vo da sua concepo como um
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dos principais produtos do mercado editorial sua relao com a aprendizagem do educando
e a prtica docente.
1.2. Livros didticos de Geografia do/no Brasil: autores e contedos
Em busca pelo banco de dados de livros escolares brasileiros (1810-2005) LIVRES
encontramos diante das dataes, o provvel primeiro livro didtico de Geografia, publicado
no Brasil em 1840, escrito por Pedro d'Alcantara Bellegarde, que tinha como ttulo
Introduco corographica Historia do Brasile destinava-se ao ensino primrio. De acordo
com Bittencourt (1993) esse livro foi o primeiro compndio de Geografia que se tem notcia.
O seu autor era Major Imperial do corpo de engenheiros e lente da academia militar. Ainda
segundo a mesma autora a Escola Militar do Rio de Janeiro foi o lugar institucional
responsvel pelo aparecimento dos primeiros compndios nacionais de Geografia e Histria.
Corroborando com a afirmao de que essa escola era o lugar de onde saram os primeiros
livros didticos de Geografia e Histria do Brasil. Em pesquisa recente, Albuquerque (2009)
encontrou na Biblioteca do Exrcito, no Rio de Janeiro, o livro Compendio de Geographia
Elementar, de Jos Saturnino da Costa Pereira (figura 1), do ano de 1836. Este livro
destinava-se s escolas brasileiras. Seu autor era oficial engenheiro e senador do Imprio.
Esse dado demonstra que as publicaes de Geografia podem ainda ser encontradas com datas
anteriores quela apontada como marco inicial por Bittencourt (1993).
Sabe-se que entre as dcadas de 1830 e 1840 a Geografia na escola brasileira estava
dando os seus primeiros passos, diante do contexto histrico de independncia do Brasil
(1822), promovendo vrios avanos na estruturao da educao no pas. Destaca-se a
fundao do Colgio Pedro II em 1837, na Provncia do Rio de Janeiro, criado para servir de
modelo para o ensino secundrio e a criao de Liceus em diversas provncias, tais como o da
Paraba, em 1831, o do Cear 1844, o de Pernambuco em 1871. Em todas essas escolas o
ensino de Geografia compunha o currculo, faltam pesquisas ainda para saber se esta
disciplina passou a ser efetivamente lecionada nessas instituies.
http://www2.fe.usp.br:8080/FE/detalhe.jsp?ck=9844&TipoPesq=combinada&TipoDoc=Livro%20&tipoBibli=-1http://www2.fe.usp.br:8080/FE/detalhe.jsp?ck=9844&TipoPesq=combinada&TipoDoc=Livro%20&tipoBibli=-1http://www2.fe.usp.br:8080/FE/detalhe.jsp?ck=9844&TipoPesq=combinada&TipoDoc=Livro%20&tipoBibli=-1 -
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Figura 1:Folha de rosto do livro Compndio de Geographia Elementar, de Jos Saturnino da CostaPereira. Foto: Registrada por Maria Adailza Martins de Albuquerque
At ento, a Geografia ensinada nas escolas primrias superiores ou complementares,
nas escolas secundrias e nas escolas normais era
muito semelhante quela inspirada pela pena do padre Manoel Aires deCasal, que publicara, em 1817, sob o patrocnio oficial, a CorografiaBraslica, bem como quela registrada pelas pginas daRevista do Instituto
Histrico e Geogrfico Brasileiro. Em outras palavras, uma Geografia que,muitas vezes, no poderia ser, sequer, classificada como descritiva, dadoque Aires de Casal no acompanhava os debates cientficos da poca, aos
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quais seus contemporneos, Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, ospais da Geografia Moderna, no eram alheios. (VLACH, 2004, p.190).
Segundo Vlach o livro Corografia Braslica, de Aires de Casal era referncia para os
autores de livros didticos. E, por essa razo esses autores repassavam s suas obras as graves
deficincias conceituais e metodolgicas, apontadas por Casal; entre as quais podemos citar
o uso excessivo de nomenclaturas, a descrio exagerada de fatos, a ausncia de explicaes e
a inexistncia completa de mapas (PESSOA, 2007, p. 32). De acordo com Pessoa:
[...] a profunda influncia que teve a Chorographia Brasilica sobre autoresde livros didticos de geografia no Brasil foi to negativo e retrocesso queserviu como poderosa barreira penetrao das renovaes metodolgicaspresentes na Geografia moderna. A Geografia ensinada e produzida emterras brasileiras, por longos anos, ficaria reduzida e limitada ao carterenciclopdico, enumerativo e descritivo, sem nenhum esprito crtico.(2007, p.33).
Por nem mesmo alcanar um carter de descrio que Vlach afirma:
O ensino de geografia no integrava diretamente os contedos das escolas deprimeiras letras. Isso no impediu, porm, que se fizesse presente de maneiradireta nessas escolas. Sua presena ocorria por meio da histria do Brasil e
da lngua nacional, cujos textos enfatizavam a descrio do territrio, suadimenso, suas belezas naturais (2004, p.189).
Entretanto, com base em pesquisas mais recentes possvel comprovar que alguns
autores de livros didticos de Geografia trabalhavam em outras perspectivas, visto que
apontavam bibliografias distintas da de Casal. o caso do Compndio Elementar de
Geographia Geral e Especial do Brasil, de Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1859), que
recorre, para elaborao do seu livro didtico, s seguintes publicaes:
Anurio de Garnier,Almanak de Gotha, Revista dos Dous Mundos, JornaesLiterrios e Scientficos para a parte poltica do mundo. Para explicar osfenmenos astronmicos e fsicos, acrescentou notas ilustrativas tiradas dasobras de Humboldt, Ganot, Lecoq, Moureau de Jones, Malte Brun,Bouvillet e outros. Sobre o Brasil, recorreu s revistas do IHGB, mastambm fez levantamentos junto aos presidentes das provncias e a pessoasimportantes, em virtude da impreciso dos dados existentes.(ALBUQUERQUE, 2007, p. 4 e 5)
Como se pode observar at mesmo revistas e jornais eram utilizados como fonte para a
elaborao do livro didtico. No queremos aqui dizer que a obra de Casal no foi referencial
para o perodo, entretanto, ela e as revistas do IHGB no eram as nicas fontes de consultas.
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Segundo Rocha (1996) a partir da fundao do colgio Pedro II que a Geografia
escolar tem impulso no pas. Naquela poca os contedos relacionados Geografia faziam
parte dos exames de ingresso nas faculdades de Direito, o que facilitou a incluso dos
princpios geogrficos na estrutura curricular do Pedro II. Logo aps houve um grande avano
na estruturao de um sistema escolar brasileiro, por conseguinte, da Geografia escolar,
possibilitando a ampliao de publicaes de livros didticos para essa disciplina.
Outra importante obra refere-se ao livro Compndio de Geografia Elementar, de
Manuel Said Ali Ida2
Brasil Central ou Ocidental, compreendendo as cabeceiras dostributrios amaznicos (e Tocantins-Araguaia): Mato Grosso e Gois.
(figura 2) de 1905, essa obra foi uma das primeiras a destacar, a diviso
territorial do Brasil em cinco regies, utilizando critrios de afinidades econmicas dos
estados entre si e sua relao com as condies naturais, expressando o debate que ocorria em
nvel nacional e as influncias das proposies da Geografia cientfica francesa como se podeconstatar na regionalizao proposta pelo autor:
Brasil Setentrional, ou Estados da Amaznia: Amazonas e Par. Brasil Nordeste. Zona a leste das duas precedentes limitada ao sul pelorio S. Francisco (trecho inferior), e caracterizada pela falta de riosnavegveis, secas mais ou menos peridicas e pela produo de algodo,acar e gado no interior. Compreende: Maranho, Piau, Cear, RioGrande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas. Brasil Oriental. Regio dos estados produtores de caf e fumo (almdo acar) e situada a leste da linha que assinala a fronteira de Gois(divisor dguas entre o Tocantins e a bacia do rio S. Francisco), e cujoprolongamento ao sul o rio Paran at a sua influncia com oParanapanema. Compreende os Estados: Sergipe, Bahia, Esprito Santo,Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo. Brasil Meridional ou regio produtora de mate, araucrias e cereais:Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (ALI apud VLACH, 2004,p.191)
Esta diviso foi pioneira nos livros escolares do Brasil e a obra de Said Ali Idarepresentou o marco inicial de discusses de ordem terico-metodolgica, buscando
inaugurar a Geografia cientfica no Brasil (VLACH, 2004, p.192), embora tenha passado
despercebida por autores contemporneos de livros didticos de Geografia.
2Ele destacou-se como pesquisador da lngua portuguesa; era professor de alemo, francs e ingls e tambmprofessor de Geografia.
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Figura 2:Folha de rosto do livro Compndio de Geografia Elementar, de Manuel Said Ali Ida.Foto: Registrada por Maria Adailza Martins de Albuquerque.
Carlos Miguel Delgado de Carvalho3
3 Tinha formao em Letras e Cincia Poltica na Frana, Direito na Sua e Economia e Poltica na Gr-Bretanha, publicou no incio do sculo XX, a obra Geografia do Brasil. Ele considerado por alguns o pai daGeografia Moderna no Brasil.
deu continuidade aos estudos sobre o Brasil,
realizados por Manuel Said Ali Ida, sendo ntido o seu avano em relao clareza acerca das
limitaes que caracterizavam a Geografia no Brasil no incio do sculo XX. Ele era um
crtico das concepes geogrficas tradicionais. Um de seus principais interesses enquanto
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autor de livro didtico foi divulgao da Geografia Ptria, aquela voltada para a valorizao
da Ptria brasileira e para a realidade local do aluno. Segundo Delgado de Carvalho:
O ensino da Geografia (...) um dever de inteligncia e de patriotismo. Aos
nossos jovens patrcios no devemos apresentar a geografia do Brasil comouma austera e ingrata ao estudo. Por meio de bons mapas, de grficos, deperfis, de diagramas, de fotografias, se for possvel, preciso torn-la fcil ecativante. pelo conhecimento do pas, pela conscincia de suas forasvivas podemos chegar a apreci-lo ao seu justo valor. (CARVALHO apudVLACH, 2004, p. 194)
Do ponto de vista ideolgico, a Geografia Ptria serviu para apoiar a construo do
Estado Nacional, que vinha se formando vagarosamente desde a Independncia do Brasil em
1822, estendendo-se da Proclamao da Repblica (1889) at meados da dcada de 1950, coma construo do Estado-Novo. Independente de suas concepes e projetos polticos, os
lderes polticos e os intelectuais entendiam que a melhor forma de dissimular a ideia de
construo da nao de cima para baixo na consolidao do Estado brasileiro seria atravs
da educao. Sendo assim, a Geografia era vista como uma ferramenta poderosa para a
educao do povo na dissimulao do autoritarismo, em que o manual escolar de Geografia
exercia o papel de mensageiro dos ideais que deveriam ser estudados na escola.
Com base nas pesquisas e anlises que vem desenvolvendo, Albuquerque (2007)afirmou:
o nacionalismo passou a compor o contedo do ensino dessa disciplinasomente quando a geografia do Brasil foi institucionalizada como disciplinae os livros didticos passaram a tratar das questes relativas ao pas. Ouseja, esse debate foi introduzido na escola pelas publicaes didticasbrasileiras. Pois, enquanto importvamos os livros didticos de quenecessitvamos esses, em geral, no traziam contedos sobre o Brasil equando o faziam era de forma muito superficial. (p. 5 e 6)
A autora apia-se na afirmao de Jos Verssimo (1985), quando diz que a cincia
geogrfica de nomenclatura e, em geral, cifra-se nomenclatura geogrfica da Europa,
levando-a a entender que os livros didticos no final do sculo XIX ainda valorizavam
significativamente um conhecimento geogrfico sobre a Europa. A nomenclatura recitada era
referente s provncias europias, aos aspectos fsicos e aos dados populacionais dos pases
daquele continente.
Delgado de Carvalho com seu papel inovador na Geografia e no ensino de Geografia,enquanto autor de livro didtico conquistou uma pequena parcela do mercado nacional de
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livros entre as dcadas de 1920 a 1940, quando sua obra foi suplantada pelos manuais
escolares de Aroldo de Azevedo.
Antes de nos determos s contribuies e influncias dos livros didticos de Aroldo de
Azevedo, abrimos um parntese para falar de um autor de livros de didticos chamado Mrio
da Veiga Cabral4
, tambm contemporneo de Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo, foi
autor de diversos livros didticos de Geografia entre os anos de 1920 e 1967 (tabela 2).
Tabela 2: LIVROS DIDTICOS ESCRITOS POR MRIO DA VEIGA CABRAL
Lista de Livros didticos do autor Mrio da Veiga CabralNs Ttulo Autoria Data Nvel de ensino
1. Compendio de Chorographiado Brasil
Cabral, Mrio da Veiga 1920 5.ed.Secundrio
2. Compendio de chorografado Brasil.
Veiga Cabral, M da. 1922Secundrio
3. Geographia primaria Cabral, Mrio da Veiga 1925 1.ed. Primrio4. Compndio de chorographia
do BrasilCabral, Mrio da Veiga
192510.ed.
Secundrio
5. Curso de Geographia geral. Veiga Cabral, M da. 1929 Secundrio6. Compendio de Chorografa
do Brasil.Veiga Cabral, M da. 1932
Secundrio
7.
Compndio de chorographia
do Brasil
Cabral, Mrio da Veiga1933
20.ed.
Secundrio
8. Terceiro ano de geographia Cabral, Mrio da Veiga 1933 3.ed. Secundrio9. Quinto ano de geographia Cabral, Mrio da Veiga 1935? Secundrio10. Quarto ano de Geografia Cabral, Mrio da Veiga 1941 6.ed. Secundrio11. Geografia secundria: 1
srieCabral, Mrio da Veiga 1943 1.ed.
Secundrio
12. Geografia do Brasil: 3 srie Cabral, Mrio da Veiga 1945 1.ed. Secundrio13. Corografia do Distrito
FederalCabral, Mrio da Veiga 1949 8.ed.
Secundrio
14. Geografia secundria: 1srie
Cabral, Mrio da Veiga 1954 7.ed.Secundrio
15. Geografia da Amrica Cabral, Mrio da Veiga 1957 5.ed. Secundrio16. Lies de cosmografia Cabral, Mrio da Veiga 1959 6.ed. Secundrio
17.
Geografia da Amrica Cabral, Mrio da Veiga 1961 6.ed. Secundrio18. Novo atlas de geografia:
destinado aos cursosprimrios, admisso,secundrio, normal ecomercial
Cabral, Mrio da Veiga(Colaborador ) ; Monteiro,J. (Autor ) ; D'Oliveira, F.(Autor )
196-
Secundrio
19. Geografia: introduo Cabral, Mrio da Veiga 1964 Mdio20. Geografia do Brasil. Veiga Cabral, M. 1965 -
4 Era Engenheiro agrimensor, gegrafo e professor. Estudou no Colgio Militar e na Escola de Guerra doRealengo. Dedicou-se educao: docente da cadeira de Geografia na Escola Normal ao longo da dcada de1920, professor assistente no agora Instituto de Educao durante a dcada de 1930 e posteriormente, diretor da
instituio. Lecionou ainda na Escola de Engenharia do Rio de Janeiro e na Universidade do Distrito Federal. FoiDiretor do Departamento de Educao Tcnico Profissional da Prefeitura na gesto Dodsworth e Diretor doDepartamento de Educao Primria.
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21. Geografia do Estado daGuanabara
Cabral, Mrio da Veiga 1967 3.ed.Secundrio
Fonte: Produo Prpria5
A efetiva contribuio de Mrio da Veiga Cabral na produo de livros didtico de
Geografia se d pela suas inmeras produes de obras didticas, nos detendo a anlise dos
dados dessa tabela conclumos que de acordo com os anos de publicao dos citados livros,
como autor, Veiga produziu livros para a escola por mais de quarenta anos, alcanou os nveis
primrio e secundrio de ensino, chegando at ao nvel Mdio com publicao do livro
Geografia: introduo,no ano de 1965. Uma outra informao importante a do nmero de
edies de seus livros, o ttulo Compndio de chorographia do Brasil para o ensino
secundrio, no ano de 1933 estava em sua vigsima edio. Ele tambm trazia umaperspectiva da Geografia Moderna e j apontava para os estudos das regies naturais,
entretanto, ainda sofria influncias da obra de Aires de Casal, pois apresentava cada estado
separadamente, como o fazia seus predecessores, menos o Delgado de Carvalho.
Aroldo Edgard de Azevedo6
contribuiu efetivamente para a institucionalizao da
Geografia cientfica do Brasil, para ele o marco inaugural foi fundao da Universidade de
So Paulo, em 1934. Entre outros autores de livros didticos de Geografia, a
representatividade de Aroldo de Azevedo foi bastante significativa (tabela 3), ele liderou
isoladamente o mercado editorial durante duas ou trs dcadas. Seu primeiro livro didtico foi
publicado em 1934 com o ttulo Geografia para a primeira srie secundria editado pela
Companhia Editora Nacional (figura 3), no mesmo ano em que o autor ingressa no curso de
Geografia.
5Baseada no Banco de dados Biblioteca Virtual MANES - Manuales Escolares Espaoles e Banco de dados delivros escolares brasileiros (1810-2005) Livres.6Era advogado, matriculou-se em 1936 no curso de Geografia e Histria da Faculdade de Filosofia, Cincias eLetras da Universidade de So Paulo, o primeiro curso superior de Geografia do pas.
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Figura 3:Folha de rosto do primeiro livro didtico de Aroldo de Azevedo.Foto: Registrada por Leila Barbosa Costa
Tabela 3: Livros didticos escritos por Aroldo de Azevedo
Ns Ttulo Autoria Data1. Geografia para a primeira srie
secundriaAzevedo, Aroldo de 1936
2. Geografia: para a quinta sriesecundria
Azevedo, Aroldo de19384.ed.
3. Geografia: para a quarta sriesecundria
Azevedo, Aroldo de19386.ed.
4. Geografia: para a terceira sriesecundria
Azevedo, Aroldo de19396.ed.
5. Geografia: para a primeira srie
secundria Azevedo, Aroldo de
1941
17.ed.6. Geografia: para a segunda srie
secundriaAzevedo, Aroldo de
194212.ed.
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7. Geografia Geral: segunda srieginasial
Azevedo, Aroldo de 19459ed.
8. Estado de So Paulo: pequenageografia para uso das escolas
primrias
Azevedo, Aroldo de 1947
9. Geografia Fsica: primeiro anocolegial
Azevedo, Aroldo de 195211 ed.
10. Geografia do Brasil: terceira srieginasial
Azevedo, Aroldo de 195884 ed.
11. Geografia Humana do Brasil:terceiro ano do curso colegial
Azevedo, Aroldo de 195922 ed.
12. Geografia Geral: segunda srieginasial
Azevedo, Aroldo de 1961150 ed.
13. Geografia Fsica: primeiro anocolegial
Azevedo, Aroldo de 196139 ed.
14. Geografia Geral: primeira srie
ginasial
Azevedo, Aroldo de 1961
176 ed.15. Terra brasileira: nossa terra, nossa
gente, nossa economiaAzevedo, Aroldo de
19635 ed.
16. O mundo em que vivemos: primeirasrie ginasial
Azevedo, Aroldo de 19652 ed.
17. Terra brasileira: nossa terra, nossagente, nossa economia
Azevedo, Aroldo de196539 ed.
18. Brasil e o mundo, 4: os continentes- curso mdio
Azevedo, Aroldo de1966177 ed.
19. Terra brasileira: nossa terra, nossagente, nossa economia
Azevedo, Aroldo de196841 ed.
20.
Terra brasileira: nossa terra, nossagente, nossa economia Azevedo, Aroldo de 196842 ed.21.
As Regies Brasileiras Azevedo, Aroldo de19695ed.
22. O Brasil no Mundo: cursoginasial/colegial
Azevedo, Aroldo de 1969
23. O Brasil e suas regies: cursoginasial
Azevedo, Aroldo de 1971
24. Os continentes: curso ginasial Azevedo, Aroldo de 19725 ed.
25. Geografia do Brasil: ciclo colegial Azevedo, Aroldo de 19778 ed.
Fonte: Produo prpria.7
Conforme a tabela 3 percebemos a grande quantidade de ttulos de livros didticos
produzidos por Aroldo de Azevedo, alguns de seus livros passaram da centsima edio como
o livro didtico: Brasil e o mundo, 4: os continentes - curso mdio que chegou em 1966 a
177 edio. A pesquisadora Marlene Maria da Silva em palestra sobre os livros didticos de
Aroldo de Azevedo, fez as seguintes consideraes:
7Baseada no Banco de dados Biblioteca Virtual MANES - Manuales Escolares Espaoles / Banco de dados delivros escolares brasileiros (1810-2005) Livres e pesquisa realizada por Leila Barbosa Costa em algumasbibliotecas do Brasil.
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[...] Os livros didticos do professor Aroldo de Azevedo refletem aGeografia acadmica, a Geografia cientfica que se fazia naquela poca. Eleseram sub utilizados ou mal utilizados nas escolas pela falta de conhecimento,de formao, de pensar geogrfico dos professores encarregados de ministraresta disciplina nessas escolas.[...] Os livros do professor Aroldo de Azevedomostram e atestam esta fuso entre o professor e o pesquisador que ele era,porque ele tem obras importantes. Ele sempre estava pesquisando epublicando periodicamente.[...] Outra caracterstica de seus livros era o incentivo a pesquisa, porquequando se folheia um destes livros, a exemplo da Geografia Fsica ou daGeografia do Brasil encontra-se no final de cada captulo uma indicaobibliogrfica contendo nmeras referncias de livros que o professor Aroldode Azevedo indicava pra leitura queles que utilizavam seus livros.[...] Nose pode tratar colocar no mesmo nvel os livros didticos do professorAroldo de Azevedo e o ensino da Geografia da poca em que estes livros
foram amplamente utilizados, ou seja, as dcadas de 1950, 1960 e talvezainda 1970. (Marlene Maria da Silva -Palestra realizada em novembro de2006 na UFPE durante o III Seminrio Nacional Redescobrindo o Brasil:Pensar Modernizao, Crise social e Pobreza apud COSTA, 2007, p.43 e44).
Azevedo era supostamente alheio s questes relacionadas Geografia poltica. Seu
pensamento autoritrio e a produo de uma Geografia a servio do Estado e das empresas
privadas ganharam relevo e foram colocadas em segundo plano as discusses realizadas por
Delgado de Carvalho e outros autores contemporneos. A valorizao da obra de Aroldo
Azevedo est intrinsecamente relacionada sua postura acrtica, ao fato de que o saber
geogrfico por ele produzido legitimava e garantia o poder institudo e difundia a ideologia
dominante sobre a mscara de uma Geografia Neutra, sendo, portanto, por este poder,
valorizada, utilizada e difundida.
Ainda sobre os livros didticos de Azevedo, Vlach afirma:
por meio de seus livros didticos (do antigo ensino primrio ao antigo
colgio), Aroldo de Azevedo implantou um modelo de Geografia quecompartimentou a realidade sob o paradigma a terra e o homem, que noincentivou discusses metodolgicas, que elidiu as classes sociais e osconflitos polticos, que mascarou a ideologia liberal, enfim, aquilo que, maistarde seria apontado como traos caractersticos da geografia tradicional(VLACH, 2004, p.215).
Azevedo contribuiu com a sua forma de fazer e pensar a Geografia para isol-la
cada vez mais das cincias humanas e para isolar os gegrafos das discusses sobre as
grandes questes nacionais, exceto quando se tratava de induzir o gegrafo a participar do
planejamento tcnico do Estado e das empresas privadas, de se colocar a seu servio.
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Muitos importantes gegrafos estudaram com os livros de Aroldo de Azevedo, entre
eles, Manuel Correia de Andrade, que se tornou, depois da dcada de 1950, tambm um autor
de livros didticos. Andrade afirma que lembra dos manuais escolares de Aroldo de Azevedo
com grande significncia e afirma ter se interessado pela Geografia, a partir dos livros deste
inesquecvel autor (COSTA, 2007, p.59). Em uma de suas palestras o autor disse:
[...] estudei com o livro didtico de Gaspar de Lemos, na primeira e segundasrie do ginsio, na terceira srie peguei Aroldo de Azevedo e eu sinti umarevoluo, no estou querendo acusar o Gaspar de Lemos, no sei nem quem, melhorou muito, eu me interessei por Geografia com os livros de Aroldode Azevedo e depois o concorrente de Aroldo de Azevedo era MoisisGicovate [...]e depois vem o meu com Hilton Sette, etc, e hoje eu tenhosaudade de no ter continuado [...] porque d um trabalho danado [...].(Manuel Correia de Andrade-Palestra realizada em novembro de 2006 naUFPE durante o III Seminrio Nacional Redescobrindo o Brasil: PensarModernizao, Crise social e Pobreza apud COSTA, 2007, p.59).
Leila da Costa explica que essa revoluo a qual Manuel de Andrade se refere
preciso ser entendida:
Visto que os seus contedos no apontam para uma denncia da situao
poltica e econmica dos anos cinquenta e sessenta. J do ponto de vistadidtico e metodolgico, podemos observar uma grande diferena nos seusmanuais escolares em comparao com a simplicidade grfica que eracomum na poca, uma revoluo. Seus livros so bastante atrativos comcapas duras e coloridas, fotografias de diversos lugares do mundo, mapastemticos, textos complementares, vocabulrio geogrfico e ainda umresumo, em forma de esquema, no final de cada captulo. (COSTA, 2007,p.59)
notvel a grande influncia de Aroldo de azevedo para a Geografia escolar,
acreditamos que seus livros didticos influenciaram consideravelmente a construo dos
conhecimentos geogrficos dos estudantes entre mais ou menos as dcadas de 1930 1970,
no entanto, desde as ltimas dcadas do sculo XX, so notveis os debates contestando as
concepes da chamada Geografia Tradicional que a nosso ver, apesar da influncia
metodolgica da prpria Pedagogia Tradicional, est muito enraizada nas contribuies
trazidas por Aroldo de Azevedo para o ensino de Geografia.
Entre as dcadas de 1960 e 1970, o Brasil estava enfrentando a instabilidade poltica
da ditadura militar, nesse mesmo perodo a Geografia escolar passa por uma crise, causada
por fatores no mbito de sua estruturao interna e por estar perdendo espao para uma nova
disciplina escolar que estava sendo introduzida na escola brasileira: os Estudos Sociais, que
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seria a unificao das disciplinas de Histria e de Geografia. Mas foi no final desse perodo
que comeam a despontar na escola a(s) chamada(s) Geografia(s) Crtica(s) que tem exercido
at os dias de hoje uma grande influncia na elaborao dos livros didticos.
A partir dos anos de 1950, com o fim da segunda Guerra Mundial, comeou a surgir
algumas proposies Geogrficas preocupadas em explicar a atual organizao espacial,
provocada pelo capitalismo com a nova diviso social e territorial do trabalho. Mais adiante
em meados da dcada de 1970 surge, na Europa, a denominao de Geografia Crtica, com a
edio do clssico de Yves Lacoste,A Geografia isso serve em primeiro lugar para fazer a
guerra,e em artigos da revista Herdote, ambos editados em 1976 na Frana. E praticamente
em perodo simultneo a Geografia Crtica surgiu na Espanha, Itlia, Brasil, Mxico,
Alemanha, Sua e inmeros outros pases. Pela repercusso e adoo dessa corrente tericacrtica nos livros didticos que analisaremos os seus propsitos para compreender os livros
publicados nesse perodo.
Pode-se dizer que embora sua denominao seja dos anos de 1970, a Geografia Crtica
tem razes antigas fundamentando-se no Materialismo Histrico e na Dialtica Marxista.
Como afirma SUERTEGARAY:
Fundamentava-se filosoficamente numa viso dialtica (contradio emovimento) e embasava suas anlises e interpretaes tomando comoreferncia o Materialismo Histrico como teoria crtica da sociedadecapitalista. Assumia o conceito de Prxis como instrumento decompreenso unificada do conhecimento e da ao. Concebia a explicaodo mundo a partir de uma meta teoria (o Marxismo). (SUERTEGARAY,2005, p.37).
Vesentini afirma que a Geografia Crtica se enraizou e floresceu nesse contexto de
reviso de ideias e valores:
O maio de 1968 na Frana, as lutas civis nos Estados Unidos, os reclamescontra a guerra do Vietn, a ecloso e a expanso do movimento feminista,do ecologismo e da crise do marxismo... E ela se alimentou de muito do quej havia sido feito anteriormente, tanto por parte de alguns poucosgegrafos quanto por outras correntes de pensamento que podem serclassificadas como crticas. Desde o seu nascedouro, a Geografia crticaencetou um dilogo com a Teoria crtica (isto , com os pensadores daEscola de Frankfurt), com o anarquismo (Rclus, Kropotkin), com MichelFoucault, com Marx e os marxismos (em particular os no dogmticos, talcomo Gramsci, que foi um dos raros marxistas a valorizar a questoterritorial), com os ps-modernistas e inmeras outras escolas depensamento inovadores. Mas ela principalmente representou uma abertura
para -- e um entrelaamento com -- os movimentos sociais: a luta pelaampliao dos direitos civis e principalmente sociais, pela moradia, peloacesso a terra ou educao de boa qualidade, pelo combate pobreza, aos
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preconceitos de gnero, de cultura/etnia e de orientao sexual, etc.(VESENTINI, http: //www.geocritica.com.br/geocritica.htm).
A Geografia Crtica est por trs de toda uma discusso sobre o papel do homem na
organizao do espao. O dilogo que ela abriu com a teoria crtica, com o anarquismo, com o
marxismo, com os ps-modernistas e com outras escolas de pensamento inovador foi o que
provavelmente provocou essa tendncia pluralidade da Geografia atual.
No caso do Brasil a Teoria Crtica foi a corrente que teve maior influncia na
Geografia Brasileira, ela surgiu de acordo com Vesentini paralelamente no mbito escolar e
na academia, enquanto na escola inicia-se com o esforo de:
Muitos professores de Geografia, em especial do ensino mdio - e o Brasiltalvez seja o grande exemplo disso -, j praticavam em suas aulas umageografia escolar diferente da tradicional, com novas estratgias (debatese/ou trabalhos dirigidos em vez de apenas aulas expositivas, trabalhos decampo em reas carentes, interpretao de bons textos crticos etc.) e comnovos contedos (distribuio social da renda, a pobreza no espao, ossistemas socioeconmicos, o subdesenvolvimento etc.)(VESENTINI, 2004,p.222).
No meio acadmico apesar de algumas contestaes teve seu marco inicial o 3
Encontro Nacional de Gegrafos Brasileiros, em Fortaleza (Cear) em 1978, realizado pela
Associao de Gegrafos Brasileiros (AGB). A AGB teve um papel muito importante na
divulgao da Geografia Crtica brasileira. Entre outros autores brasileiros destaca-se a
importncia do Gegrafo Milton Santos na difuso, de suas ideias, por meio da mdia no
Brasil.
Como incentivador de uma Geografia crtica para a escola, Vesentinni justifica um
ensino crtico da Geografia, dizendo que este
No se limita a uma renovao do contedo com a incorporao de novostemas/problemas, normalmente ligados s lutas sociais: relaes de gnero,nfase na participao do cidado/morador e no no planejamento,compreenso das desigualdades e das excluses, dos direitos sociais(inclusive os do consumidor), da questo ambiental e das lutas ecolgicasetc. (...) E para isso fundamental uma adoo de novos procedimentosdidticos: no mais apenas ou principalmente a aula expositiva, mas, sim,estudos do meio (isto , trabalhos fora da sala de aula), dinmicas de grupoe trabalhos dirigidos, debates, uso de computadores (e suas redes) e outrosrecursos tecnolgicos, preocupaes com atividades interdisciplinares ecom temas transversais etc. (2004, p.228).
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importante destacar que desde meados da dcada de 1970 a Geografia Crtica, em
especial, tem uma influncia muito grande na elaborao dos livros didticos e o que vem
sendo questionado hoje o fato desses livros elaborados numa concepo crtica estarem
sendo utilizados numa concepo tradicionalista, contradizendo a fundamentao de tais
livros. Discute-se, portanto, o fato de parte dos livros trazerem uma determinada concepo e
serem utilizados a partir de outra.
H uma produo significativa de livros crticos, porm ainda se encontra um grande
nmero de livros tradicionalistas, para Pereira os livros didticos de Geografia alicerados
numa concepo tradicional parecem ter uma parcela de responsabilidade bastante
significativa na problemtica situao, em que se encontra o ensino desta disciplina (1999,
p.34). Isso porque a forma como a Geografia Tradicional apresentada fatalmente considerao aluno como um ser neutro, sem vida, sem cultura, sem histria, sem espao (Ibidem idem,
p.34), ocultando o fato de que o espao dominado e omitindo o papel central exercido pelo
trabalho social na construo do espao geogrfico.
Marlia Peluso em depoimento sobre a sua experincia em avaliao de livros
didticos de Geografia, diz que estes apresentam algumas caractersticas, que nos interessam
de perto.
A primeira, e mais importante, seria definir os conhecimentos geogrficos,na grande maioria das vezes, para o restante da vida do educando. Assim eleclassificar os saberes como geogrficos ou no, como importantes ou no,de acordo com o que aprendeu nas sries iniciais da sua formao. Podemosafirmar sem medo de erro, que as incompreenses a respeito da Geografia,sua falta de utilidade no mundo concreto de vivncia cotidiana e sua poucaimportncia cientifica devem-se a maus livros didticos que propiciam umaprendizado ainda pior e o fixam. (PELUSO, 2006, p.127)
A autora faz meno a uma questo muito debatida entre os professores de Geografia,
ou seja, a falta de utilidade no mundo concreto de vivncia cotidiana que a Geografia tem para
os estudantes, ocasionada segundo Peluso pelos maus livros didticos de Geografia, onde
este para cumprir bem a sua funo deve-se: incorporar as renovaes terico-metodolgicas
da rea apresenta-se isento de erros conceituais e de informao e voltar os contedos e
atividades para a prtica da cidadania, por intermdio da leitura geogrfica da realidade.
(PELUSO, 2006, p.127)
Sabendo, no entanto, que o professor, de posse de um livro didtico de poucos
recursos, pode conseguir uma adequada explorao do mesmo, enquanto um bom livro
didtico no garante sozinho, o sucesso do processo de aprendizagem (SCHFFER 1998,
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p.139). Esta relao entre a prtica do professor e a ut ilizao do livro didtico um debate
que daremos continuidade no desenvolvimento dessa pesquisa.
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CAPTULO II
O USO DO LIVRO DIDTICODE GEOGRAFIA
Por vrios anos foram atribudos ao uso dos livros didticos de Geografia todos os
problemas relacionados ao ensino da disciplina. No entanto, tem de se considerar que essa
atribuio est ultrapassada, de certa forma a metodologia fechada que envolve leitura e
questes relacionadas ao texto do livro didtico vem aos poucos sendo deixadas de lado, j
com tempo, por inovaes metodolgicas incorporadas ao ensino de Geografia como debates
em sala de aula, aulas de campo, estudos do meio, seminrios temticos, assim como tambm
os recursos tecnolgicos que chegam escola do sculo XXI e tendem a auxiliar
consideravelmente o trabalho do professor dentro e fora da sala de aula, facilitando aaprendizagem dos estudantes, contribuem para a possibilidade de no ver e ter o livro didtico
de Geografia como nico recurso didtico em sala de aula.
De acordo com oGuia de livros didticos de Geografia, proposto pelo MEC, o livro
didtico de Geografia no deve se constituir no nico material de ensino em sala de aula,
mas pode ser uma referncia nos processos de ensino e aprendizagem que estimule a
curiosidade e o interesse para a discusso, a anlise e a crtica dos conhecimentos
geogrficos (2008, p. 09). Essa concepo do uso do livro didtico trazida pelo Guia doPrograma Nacional do Livro Didtico (PNLD) a que est sendo divulgada e aceita por
vrios profissionais da educao no Brasil.
Com esse mesmo pensamento Pontuschka, Paganelli e Cacete afirmam que o livro
didtico deveria configurar-se de modo que o professor pudesse t-lo como instrumento
auxiliar de sua reflexo geogrfica com seus alunos, mas existem fatores limitantes para tal.
(2007, p.343), esses fatores limitantes esto relacionados questo dos contedos que em
muitos casos o livro didtico no tem condies de abarcar com toda a sua complexidade, mas
que seriam ultrapassados com facilidade pelo professor bem formado, esse deve relacionar os
contedos e as imagens com as diferentes linguagens e com o cotidiano de seus alunos,
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7/21/2019 PINA Livro Didtico Dissertao
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abrindo dessa forma um espao de dilogo em sala de aula. Afastando assim aquela ideia de
verdade absoluta e completa que os livros didticos, muitas vezes, trazem ou que so
construdas na relao de ensino e aprendizagem.
certo que o sistema educacional tem favorecido o