PLANEJAMENTO DISSERTATIVO

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PLANEJAMENTO DISSERTATIVO A produção de texto é algo meticuloso e que depende de uma metodologia: ações inter-relacionadas e seqüentes, mas não mecânicas, porque sempre diferentes, com matizes, em geral, inusitadas de texto para texto, de tema para tema. E o aluno habituado à leitura constante e crítica sabe muito bem disso. Parafraseando o químico parisiense Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), um bom texto é a transformação de outros textos e não nasce do nada. Esse comentário pretende passar-lhe a importância que tem o planejamento do texto a ser produzido por você. Esse planejamento deve ser calcado numa sequência rigorosa de procedimentos, sejam quais forem a modalidade e o tema. A ele chamamos de PT (projeto de texto). Construindo a dissertação – um PT passo a passo. I – Lendo a coletânea, identificando o tema e anotando as idéias. O contato com o(s) texto(s) de apoio é um momento importante na produção de um texto dissertativo, pois é através dele que se tem a oportunidade de ampliação das informações que se possui sobre o tema a ser abordado. Portanto, acostume-se a fazer uso da coletânea para você ter uma melhora imediata nos seus textos. Tente sempre sublinhar e anotar alguma(s) ideia(s) da coletânea. II – Produzindo a introdução A introdução deve conter o seu posicionamento (tese) relativo à questão apresentada. III – Selecionando idéias Dentre as idéias anotadas anteriormente, selecione algumas, duas ou três, nas quais você identifica a sua posição adotada na tese e que lhe pareçam mais defensáveis. IV – Construindo a argumentação Agora você deve desenvolver as idéias selecionadas, em argumentos distribuídos por parágrafos, numa sequência lógica, natural. A reunião dos argumentos parece uma tarefa mecânica, quando não é assim tão simples. Para ela, é necessário domínio do assunto sobre o qual se trata e conhecimento de outros assuntos cujas bases contextuais se cruzam com o tema desenvolvido. V – Produzindo a conclusão Neste último parágrafo, você deve confirmar, de alguma maneira, a defesa que você fez em sua tese. Lembre-se de algo muito importante: sua tese e conclusão estão umbilicalmente ligadas e, por essa razão, são interdependentes. Não raro a conclusão pode ser fechada retomando a base da argumentação desenvolvida anteriormente, mas seria um erro grave terminar sua redação com um argumento novo, que não fez pare da discussão, do texto. Isto é, não conclua sua redação com idéias que não foram tratadas durante o desenvolvimento textual, pois pode parecer que sua redação não terminou.

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PLANEJAMENTO DISSERTATIVO

A produção de texto é algo meticuloso e que depende de uma metodologia: ações inter-relacionadas e seqüentes, mas não mecânicas, porque sempre diferentes, com matizes, em geral, inusitadas de texto para texto, de tema para tema. E o aluno habituado à leitura constante e crítica sabe muito bem disso. Parafraseando o químico parisiense Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), um bom texto é a transformação de outros textos e não nasce do nada.

Esse comentário pretende passar-lhe a importância que tem o planejamento do texto a ser produzido por você. Esse planejamento deve ser calcado numa sequência rigorosa de procedimentos, sejam quais forem a modalidade e o tema. A ele chamamos de PT (projeto de texto).

Construindo a dissertação – um PT passo a passo.I – Lendo a coletânea, identificando o tema e anotando as idéias.O contato com o(s) texto(s) de apoio é um momento importante na produção de um texto

dissertativo, pois é através dele que se tem a oportunidade de ampliação das informações que se possui sobre o tema a ser abordado. Portanto, acostume-se a fazer uso da coletânea para você ter uma melhora imediata nos seus textos. Tente sempre sublinhar e anotar alguma(s) ideia(s) da coletânea.

II – Produzindo a introduçãoA introdução deve conter o seu posicionamento (tese) relativo à questão apresentada.III – Selecionando idéiasDentre as idéias anotadas anteriormente, selecione algumas, duas ou três, nas quais você identifica

a sua posição adotada na tese e que lhe pareçam mais defensáveis.IV – Construindo a argumentaçãoAgora você deve desenvolver as idéias selecionadas, em argumentos distribuídos por parágrafos,

numa sequência lógica, natural. A reunião dos argumentos parece uma tarefa mecânica, quando não é assim tão simples. Para ela, é necessário domínio do assunto sobre o qual se trata e conhecimento de outros assuntos cujas bases contextuais se cruzam com o tema desenvolvido.

V – Produzindo a conclusãoNeste último parágrafo, você deve confirmar, de alguma maneira, a defesa que você fez em sua

tese. Lembre-se de algo muito importante: sua tese e conclusão estão umbilicalmente ligadas e, por essa razão, são interdependentes. Não raro a conclusão pode ser fechada retomando a base da argumentação desenvolvida anteriormente, mas seria um erro grave terminar sua redação com um argumento novo, que não fez pare da discussão, do texto. Isto é, não conclua sua redação com idéias que não foram tratadas durante o desenvolvimento textual, pois pode parecer que sua redação não terminou.

VI – Análise do rascunhoA análise meticulosa sobre o seu rascunho é a última oportunidade que você tem para melhorar o

seu texto.PRATICA DE REDAÇÃOLeia o texto a seguir como subsídio para a produção de sua redação. Aproveite-se das idéias, mas

não o copie.Os caracóis são moluscos lerdos. Andam muito, muito devagar. Ninguém tomaria os caracóis

como exemplos. Embora suas conchas sejam belas e construídas com precisão matemática, o que chama a atenção de quem os observa é sua pachorra. Caracóis não têm pressa. Falta-lhes dinamismo, virtude essência àqueles que vivem no mundo moderno. Quem anda devagar fica para trás. Quem iria imaginar que um educador ao observar um caracol, tivesse uma inspiração pedagógica? Pois foi o que encontrei numa revista italiana, Cem Mondialità. A fotografia que ilustra o referido artigo é a de um menino, rosto apoiado na carteira, a observar tranquilamente um caracol que se arrasta sobre a tampa da madeira. E o título do artigo é A pedagogia do caracol.

Caracol tem pedagogia? O autor conta o sucedido com uma menininha que, ao voltar para casa, queixou-se: “Mamãe, os professores dizem ‘É preciso andar rápido, nada de vagareza, para frente, para frente’. Mamãe, onde é a frente?”. E aí ele passa a falar sobre a virtude pedagógica da vagareza. Pode ser que “chegar na frente” não seja tão importante assim! Quem sabe o “estar indo” seja mais educativo que chegar! No “estar indo” aprende-se um jeito de ser. Nietzsche se ria dos turistas que subiam as montanhas como animais, estúpidos e suados. Não haviam aprendido que há vistas maravilhosas no caminho que sobe... Riobaldo acrescentaria: “O real não está nem na saída e nem na

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chegada; ele se dispõe para gente é no meio da travessia.” O adágio da Sonata ao luar tocado “presto” seria um horror. As notas seriam as mesmas. Mas a beleza não se encontra no presto; ela está é na vagareza do “adágio”. Ele aconselha os professores a estarem com seus alunos no ritmo “adágio”. Sem pressa.

A lentidão é virtude a ser aprendida num mundo em que a vida corre ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos. Saber sobre as suas vidas, os seus sonhos. Que importa que o programa fique atrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa é porque algo não vai bem. Adrenalina no sangue, o coração disparado em fibrilação, diarréia. Observar as nuvens. Conversar sobre as suas formas. A observação das nuvens faz os pensamentos ficarem tranqüilos. As notícias dos jornais são escritas depressa. Por isso têm curta duração. Mas a poesia se escreve bem devagar. Por isso ela não envelhece. Inventaram essa monstruosidade chamada leitura dinâmica. Ela pressupõe que um texto é feito com poucas idéias centrais, tudo o mais sendo encheção de lingüiça. A técnica de leitura dinâmica é ir direto às idéias centrais, desprezando o resto com lixo.

Já imaginaram sexo dinâmico, que dispensa os “entretantos” e vai direto ao “finalmente”? essa é uma maneira canina de fazer amor. Mas não é isso a que os jovens são obrigados quando, ao se preparar para o vestibular, se põem a ler “resumos” de obras literárias? Um resumo é o resultado escrito de uma leitura dinâmica. É preciso ler tendo a lesma como modelo... Devagar. Por causa do prazer. O prazer anda devagar. Você leu esse artigo dinamicamente ou lesmicamente?

Rubem Alves, Pedagogia dos Caracóis. Revista Educação, edição 100.PropostaA partir da leitura desse texto, desenvolva uma dissertação em que você analisará o caráter da

escola moderna capitalista de ter urgência, muita pressa mesmo, em dotar o aluno das condições ideais para “vencer na vida” e a necessidade de esse aluno, pouco tempo depois, profissionalmente, ter que proceder e produzir com perfeição (exigência, aliás, já presente nas provas de vestibular).

INTRODUÇÃO E TESEInicialmente é necessário, para o bom texto, como para as várias ações humanas, um prévio

planejamento intelectual, cujo intuito é o de prover-nos com idéias e ações mais precisas e eficazes. E quando tornarmos em prática tal procedimento, tudo passa a ser mais fácil graças ao hábito. Assim, o desenvolver de uma boa redação torna-se uma tarefa mais simples e rápida, fato deveras importante, visto que no dia do vestibular o tempo é o elemento mais fundamental e que, via de regra, mais desequilibra o vestibulando. Isso faz do projeto de texto o primeiro passo para o texto definitivo.

Ainda é bom lembrarmos de uma informação importante: a estrutura ortodoxa da dissertação pede que o primeiro parágrafo apresente a tese sobre a qual o redator versará por todo o corpo textual, porém não é de todo obrigatório seguir a ortodoxia. Portanto, a tese pode não estar no primeiro parágrafo de uma dissertação de estrutura heterodoxa. O que importa saber é o que é uma tese: é um posicionamento pessoal sobre o tema proposto, este que, muitas vezes, é resultado de um trabalho de interpretação de textos variados.

Mas como, afinal, relacionamos o pensamento e o transformamos em uma tese?1) Declaração inicialCorresponde a um pensamento qualquer que contenha um juízo exposto sobre um dado

acontecimento.É tão comum encontrarmos a arte exposta não somente nas grandes galerias, mas, também, nas

ruas das grandes cidades. É a arte popular, tão importante quanto a primeira.2) DivisãoQuando da apresentação de duas ou mais relações ou objetos a serem discutidos.No Brasil é evidente que a sociedade é remontada pela junção de forças distintas; ora a classe

detentora dos meios de produção e do acúmulo de capital, ora pela força trabalhadora que depende exclusivamente do trabalho para o seu sustento, ora pelos desvalidos que sobrevivem das formas que lhe são possíveis, muitas das quais totalmente ilícitas e desumanas.

3) CitaçãoCom a meta de solidificar o que se defende por meio de comparação/aceitação de idéias

divergentes ou não, traz a voz de alguém que é, geralmente, conhecido pelo público.

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“Os fins justificam os meios”, disse Maquiavel para mostrar que o pensamento do príncipe deve ser dirigido pelos resultados de suas ações. Apesar disso, e mesmo na época quando foi escrito tal raciocínio, é necessário pensarmos nas ações humanas, pois nenhuma delas tem papel individualizado e suas conseqüências, portanto, sempre são coletivas.

4) Alusão HistóricaRefere-se a um acontecimento passado ao qual pode se ligar um fato presente ou futuro, seja pelas

similaridades, seja pelo antagonismo.Em 1932 era publicado o livro “Admirável mundo novo” (Brave New World, original em inglês)

de Aldous Huxley, uma fábula futurista que narra um hipotético futuro, cujas pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viveram em harmonia com as leis e as regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade de Huxley não possui nem valores morais que regem a sociedade atual, nem ética religiosa, as crianças recebem educação sexual desde muito cedo e o conceito de família também inexiste. É um livro clássico, pois retrata o memento mais contemporâneo da história humana e mesmo assim o homem encontra dificuldade para entender o que tem feito sobre si e os outros durante esses anos todos.

5) InterrogaçãoPode conter uma pergunta de cunho real ou apenas com a intenção de usufruir a retórica como

introdução. Em ambos os casos a intenção é a de “trazer para dentro do texto” a mente do leitor com o fito de promover uma suposta interação.

Será que o futuro de todo jovem deva ser pautado pelo ingresso à universidade? Se tal pensamento fosse verdadeiro o que fariam os tantos desvalidos que mal foram alfabetizados e, por essa razão, não chegarão ao ensino superior de qualidade? São questões que merecem resposta, e rapidamente.

Aplicação

Observe com atenção a imagem ao lado e, em seguida, desenvolva teses para um parágrafo dissertativo, mas obedecendo às seguintes orientações:1) Tese por Declaração Inicial2) Tese por Alusão Histórica.3) Tese por Interrogação.