Caetano Casaretto: Arquitetura urbana em Pelotas-RS - Guilherme Daltoé
Planejamento urbano e regional: Temas selecionados - Guilherme Daltoé e Carlos Cassemiro Casaril
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Guilherme Daltoé
Carlos Cassemiro Casaril
Organizadores
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL:
TEMAS SELECIONADOS
Francisco Beltrão
2015
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL:
TEMAS SELECIONADOS
Projeto: Produção e disseminação do conhecimento urbano regional
Grupo de Estudos e Pesquisas Urbanas e Regionais
vinculado aos docentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da UNIPAR - Francisco Beltrão
2015
Copyright © 2015 Grupo de Estudos e Pesquisas Urbanas e Regionais Vinculado aos
Docentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIPAR - Francisco Beltrão
Esta obra possui Conselho Editorial indicada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas
Urbanas e Regionais Vinculado aos Docentes do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da UNIPAR - Francisco Beltrão:
Guilherme Daltoé – Presidente
Carlos Cassemiro Casaril
Fernando Caetano Durso Neves
Gislaine da Silva Fernandes
João Luciano Bandeira
Revisão: Conselho Editorial
Capa, Projeto gráfico e Diagramação: Guilherme Daltoé
Formatação digital: Guilherme Daltoé
Tiragem: 200
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
P712 Planejamento urbano e regional: temas selecionados. /
Guilherme Daltoé; Carlos Cassemiro Casaril (Orgs.). - Francisco
Beltrão: Grafisul, 2015. 250 p.
ISBN: 978-85-98799-89-6
1. Planejamento Urbano; 2. Planejamento Regional; 3.
Urbanismo. Propostas Urbanísticas. I. Daltoé, Guilherme. II.
Casaril, Carlos Cassemiro. III. Título
CDU: 720
Bibliotecário responsável: Nilson Tibúrcio - CRB9/1750
1ª edição: agosto de 2015
A responsabilidade dos conteúdos de cada texto é de seus respectivos autores.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sem a autorização dos autores.
Impresso por Grafisul Gráfica e Editora
Av. Luiz Antônio Faedo, 477 – CEP: 85601-275 – Francisco Beltrão – PR
Tel (46) 3055 5766 – (46) 3524 5766 – [email protected]
SUMÁRIO
Apresentação
Guilherme Daltoé e Carlos Cassemiro Casaril ............... 07
Capítulo 1 PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS SISTEMAS DE
INFRAESTRUTURA URBANA: UMA ANÁLISE
REFLEXIVA A PARTIR DA REVISÃO CONCEITUAL
Andrea Claudia de Oliveira; Ariadne Silvia de Farias.. 10
Capítulo 2 PROPOSTA DE MOBILIDADE REGIONAL PARA OS
MUNICÍPIOS DE FRANCISCO BELTRÃO,
MARMELEIRO E RENASCENÇA - PR
Rafael Wurlitzer Colla; Willian Marques Debacker;
César Augusto da Silva Hellmann; Guilherme
Daltoé..............................................................................
26
Capítulo 3 INTERVENÇÕES DE PLANEJAMENTO URBANO EM
BAIRROS SEGREGADOS DE FRANCISCO
BELTRÃO/PR
Emanuele De Costa Oldra; Vanessa Cristina Zapchau;
Lais Cristine Fischer; Gislaine da Silva Fernandes;
João Luciano Bandeira...................................................
41
Capítulo 4 ESTATUTO DA CIDADE: UMA PROPOSTA URBANA
PARA FRANCISCO BELTRÃO/PR
Cristiane Oliveira de Moura; Carlos Cassemiro
Casaril.............................................................................
65
Capítulo 5 INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS PARA A SOLUÇÃO
DOS ALAGAMENTOS NA CIDADE DE
CHOPINZINHO/PR
Edson Ricardo Poletto; Marcelo Somavila; Adriana
Kunen..............................................................................
86
Capítulo 6 VERTICALIZAÇÃO E ADENSAMENTO URBANO DE
FRANCISCO BELTRÃO/PR: ANÁLISE E PROPOSTA
Caroline Grison; Lucas Iser; Manoela Fernanda de
Luca Lima Oliveira; Monich Fernanda Osowski;
Carlos Cassemiro Casaril...............................................
110
Capítulo 7 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: DEBATE
SOBRE A DEMOCRACIA DO ESPAÇO PÚBLICO E
ANÁLISE DOS FLUXOS CENTRAIS DE FRANCISCO
BELTRÃO/PR
Vinicius André; Mônica Aparecida Gonçalves............... 134
Capítulo 8 REVITALIZAÇÃO PAISAGISTICA EM FRANCISCO
BELTRÃO/PR: UMA PROPOSTA PARA A AVENIDA
JÚLIO ASSIS CAVALHEIRO
Eliane Aparecida Centenaro; Elizandra Castanheiro;
Samari Moreira; Daniele Pagno....................................
156
Capítulo 9 SUSTENTABILIDADE URBANA: NOVOS SISTEMAS
DE TRATAMENTO DOS EFLUENTES – WETLANDS
Danielly Leticia Rebelato; Fernanda Mombach
Goncalves; Jean Carlos Ravanelli Appel; Rodney
Rebelato; Ariadne Silvia de Farias.................................
170
Capítulo 10 OCUPAÇÃO DESORDENADA DO SOLO E
ENCHENTES: ESTUDO DE FRANCISCO BELTRÃO/PR
Maicon de Oliveira; Monique Capoani; Telmo
Cioatto; Guilherme Daltoé.............................................
195
Capítulo 11 PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM
PINHALZINHO/SC
Elissandra Duarte; Mônica Aparecida Gonçalves ........ 217
Capítulo 12 USO DE NOVAS TECNOLOGIAS EM PROL DA VIDA
URBANA
Degiani Zamboni; Fernando Henrique Faquinello
Medeiros; Henrique Bubniak de Mello; Daniele
Pagno..............................................................................
232
Capítulo 13 GESTÃO AMBIENTAL E O GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM
DOIS VIZINHOS/PR
Gabriela Jaiana Três; Priscila Vanin Renosto; Carlos
Cassemiro Casaril; Guilherme Daltoé ..........................
245
7
APRESENTAÇÃO
Este livro é resultado do trabalho conjunto de discente e
docentes do curso de Arquitetura é Urbanismo da UNIPAR, unidade de
Francisco Beltrão, Paraná. Mais especificamente, fruto de artigos
produzidos, como um dos requisitos finais da disciplina de
Planejamento Urbano e Regional, ministrada para a turma do 4º Ano do
curso, em 2014.
Após esta materialização a sequência ocorreu com os docentes
do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unipar, que juntos elencaram
os melhores trabalhos e se responsabilizaram pelo andamento final na
transformação dos artigos em capítulos que integram o presente livro.
Vale destacar que a temática planejamento urbano e regional é
ampla e contempla inúmeras possibilidades de se pensar o urbano e o
regional.
Para tanto, basta verificarmos os capítulos que integram este
livro que veremos as múltiplas possibilidades e determinações de se
analisar e/ou abordar o tema.
A contribuição do primeiro capítulo intitulada Planejamento e
gestão dos sistemas de infraestrutura urbana: uma análise reflexiva a
partir da revisão conceitual tem autoria de Andrea C. de Oliveira e da
Profa. Ms. Ariadne S. de Farias.
O segundo capítulo nos apresenta a Proposta de mobilidade
regional para os municípios de Francisco Beltrão, Marmeleiro e
Renascença – PR e, tem como autores Rafael W. Colla, Willian M.
Debacker, César A. da Silva Hellmann e o Prof. Ms. Guilherme Daltoé.
8
O terceiro capítulo Intervenções de planejamento urbano em
bairros segregados de Francisco Beltrão/PR, tem como autores
Emanuele de Costa Olda, Vanessa C. Zapchau, Lais C. Fischer, a Profa.
Ms. Gislaine da Silva Fernandes e o Prof. Ms. João Luciano Bandeira.
No quarto capítulo, Cristiane Oliveira de Moura e o Prof. Dr.
Carlos Cassemiro Casaril produzem uma contribuição sobre Estatuto da
Cidade: uma proposta urbana para Francisco Beltrão/PR.
No quinto capítulo, Edson R. Poletto, Marcelo Somavila e a
Profa. Esp. Adriana Kunen apresentam a contribuição Intervenções
urbanísticas para a solução dos alagamentos na cidade de
Chopinzinho/PR.
O sexto capítulo Verticalização e adensamento urbano de
Francisco Beltrão/PR: análise e proposta tem autoria de Caroline
Grison, Lucas Iser, Manoela F. de L. Lima Oliveira, Monich F.
Osowski e do Prof. Dr. Carlos Cassemiro Casaril.
O sétimo capítulo Mobilidade urbana sustentável: debate sobre
a democracia do espaço público e análise dos fluxos centrais de
Francisco Beltrão/PR é assinado por Vinicius André e pela profa.
Mestranda Mônica Aparecida Gonçalves.
O oitavo capítulo Revitalização paisagística em Francisco
Beltrão/PR: uma proposta para a Avenida Júlio Assis Cavalheiro é
assinado por Eliane A. Centenaro, Elizandra Castanheiro, Samari
Moreira e pela Profa. Esp. Daniele Pagno.
O nono capítulo Sustentabilidade urbana: novos sistemas de
tratamento dos efluentes – Wetlands é assinado por Danielly L.
Rebelato, Fernanda M. Gonçalves, Jean C. R. Appel, Rodney Rebelato
e pela Profa. Ms. Ariadne S de Farias.
No décimo capítulo Maicon de Oliveira, Monique Capoani,
Telmo Cioatto e o Prof. Ms. Guilherme Daltoé apresentam a
contribuição Ocupação desordenada do solo e enchentes: estudo de
Francisco Beltrão/PR.
9
O décimo primeiro capítulo Processo de verticalização em
Pinhalzinho/SC é assinado por Elissandra Duarte e pela Profa.
Mestranda Mônica Aparecida Gonçalves.
No décimo segundo capítulo Degiani Zamboni, Fernando H. F.
Medeiros, Henrique B. de Mello e a Profa. Esp. Daniele Pagno
apresentam a contribuição Uso de novas tecnologias em prol da vida
urbana.
Na última contribuição do livro, décimo terceiro capítulo, os
autores Gabriela J. Tres, Priscila V. Renosto, Prof. Dr. Carlos
Cassemiro Casaril e o Prof. Ms. Guilherme Daltoé abordam o tema
Gestão ambiental e gerenciamento de resíduos sólidos da construção
civil em Dois Vizinhos/PR: breve abordagem.
Deste modo, percebe-se, que a discussão em torno da temática
do planejamento urbano e regional é muito complexa, pois contempla
várias dimensões e vertentes teóricas de análise. Nesse sentido, o livro
Planejamento urbano e regional: temas selecionados trata-se de uma
coletânea de contribuições que abordam esta temática. É
“multidisciplinar”, pois pretende (re)visitar este tema com diferentes
olhares de autores com formação em Arquitetura e Urbanismo,
Engenharias e Geografia, com especializações em diversas áreas do
conhecimento. É uma “contribuição”, pois de maneira alguma,
pretende-se esgotar o tema, mas apenas, participar da discussão que se
apresenta sempre em voga no cenário político e acadêmico brasileiro.
Francisco Beltrão, 05 de agosto de 2015.
Carlos Cassemiro Casaril
Guilherme Daltoé
Os Organizadores
10
CAPÍTULO 1
PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS SISTEMAS DE
INFRAESTRUTURA URBANA: UMA ANÁLISE
REFLEXIVA A PARTIR DA REVISÃO CONCEITUAL
Andrea Claudia de Oliveira
Ariadne Silvia de Farias
Introdução
O espaço urbano não se constitui simplesmente pela
combinação de área edificadas e áreas livres, interligadas através dos
sistemas viários (ZMITROWICS; ANGELIS NETO, 1997). Ele está
inserido em um ambiente e estruturado por sistemas específicos, os
quais permitem o desenvolvimento das atividades urbanas. Para a
realização destas atividades é necessário um conjunto de sistemas
técnicos, denominado “infraestrutura urbana”, a qual é composta de
subsistemas que refletem diretamente no funcionamento e no
crescimento da malha urbana.
Para o perfeito funcionamento de uma cidade são necessários
investimentos públicos em sistemas de infraestrutura. Segundo Couto
(1981 apud OLIVEIRA; BENADUCE, 2011, p. 3), “os equipamentos
11
urbanos comunitários desempenham importante função para o
equilíbrio social, político, cultural e psicológico de uma população”,
funcionando como escape das tensões geradas pela vida em
comunidade.
O crescimento urbano gera entre outros fatores, o aumento da
população, e consequentemente uma maior demanda por infraestrutura
urbana. Segundo Mota (1999 apud SANTOS; PACHECO, 2013, p.8),
“o aumento da população e a ampliação das cidades deveria ser sempre
acompanhado do crescimento de toda a infraestrutura urbana,” de modo
a proporcionar aos habitantes o atendimento das necessidades básicas
sociais. Porém geralmente a urbanização dos espaços nunca vem
acompanhada da infraestrutura necessária para aquele momento.
Muitos estudiosos apontam a ocupação desequilibrada do
espaço urbano como um dos graves problemas existentes nas cidades
brasileiras, na maioria das vezes, decorrentes da falta de planejamento
urbano, da inexistência de legislações específicas e da dificuldade dos
órgãos públicos em gerir seus recursos. Para Del Rio (1990), o
planejamento deve ser entendido como um processo permanente, e uma
atividade indispensável para a tomada de decisões.
A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 182, atribuiu ao
município a responsabilidade de executar a política de desenvolvimento
urbano, seguindo as diretrizes legais fixadas por meio de planos
diretores. No entanto, na grande maioria dos municípios brasileiros,
existe uma dificuldade dos gestores públicos em promover esse
desenvolvimento de maneira adequada. Geralmente causada pela falta
12
de técnicos habilitados, especialmente de arquitetos e urbanistas, para
planejar e gerir questões inerentes a essa problemática. Fato apontado
por Infraguide quando afirma que os órgãos responsáveis pela gestão
municipal, muitas vezes, não possuem condições técnicas para atender,
muito menos para prever as necessidades da população (2003 apud
MICHEL; BRANDLI; LOPES, 2013, p.13),
Dentro deste contexto, percebe-se como o meio urbano precisa
de uma infraestrutura proporcional à demanda do seu crescimento, e
como os órgãos públicos necessitam aprimorar o seu corpo técnico, para
poder regular e minimizar com eficiência os problemas causados pelo
crescimento urbano. Partindo desses pressupostos, o presente trabalho
objetiva discutir e averiguar a atuação do profissional arquiteto e
urbanista perante a gestão e o planejamento dos sistemas de
infraestrutura urbana.
Sendo assim, para o melhor entendimento da capacidade deste
profissional quanto à resolução dos problemas apontados, o artigo será
organizado em três seções. Inicialmente será apresentada a conceituação
e a importância dos sistemas de infraestrutura urbana. Na segunda parte
será abordada a urbanização no Brasil e a sua relação com a
infraestrutura urbana. Por fim, na terceira parte será discutida a
responsabilidade do poder publico quanto ao planejamento e quanto à
gestão urbana, especificamente quanto aos sistemas de infraestrutura
urbana, e como o profissional arquiteto e urbanista pode contribuir neste
contexto.
13
Sistemas de infraestrutura urbana: conceituação
A infraestrutura urbana, segundo Zmitrowics (1997) é
conhecida como o conjunto de sistemas técnicos de equipamentos e
serviços necessários ao desenvolvimento das funções do meio urbano.
Zmitrowics (1997) definem estas funções sob os seguintes
aspectos:
− Aspecto social: visa promover adequadas
condições de moradia, trabalho, saúde, educação,
lazer e segurança.
− Aspecto econômico: deve propiciar o
desenvolvimento de atividades de produção e
comercialização de bens e serviços.
− Aspecto institucional: deve oferecer os meios
necessários ao desenvolvimento das atividades
político-administrativas da própria cidade.
Pode-se classificar o sistema de infraestrutura urbana, segundo
Zmitrowics (1997), como o conjunto dos seguintes subsistemas técnicos
setoriais:
a) Subsistema Viário: é composto de uma ou mais
redes de circulação, de acordo com o tipo de
espaço urbano, sendo complementado pelo
subsistema de drenagem de águas pluviais, que
assegura o uso sob quaisquer condições climáticas.
b) Subsistema de Drenagem Pluvial: tem como
função promover o adequado escoamento da água
das chuvas que caem nas áreas urbanas,
assegurando o trânsito público e a proteção das
edificações, bem como evitando os efeitos das
inundações.
c) Subsistema de Abastecimento de Água: tem
como função prover toda a população de água
14
potável suficiente para todos os usos. Sendo assim,
a qualidade e a quantidade da água são, pois, as
duas condições primordiais a serem observadas.
d) Subsistema de Esgotos Sanitários: tem a função
de afastar a água distribuída à população após o
seu uso, sem comprometer o meio ambiente.
Sendo assim, este subsistema constitui-se no
complemento necessário do subsistema de
abastecimento de água e cada trecho da rede de
distribuição de água deve corresponder ao da rede
coletora de água servida.
e) Subsistema Energético: fundamentalmente tem
a função de prover a população com dois tipos de
energia: elétrica e de gás. Basicamente, para ter-se
o fornecimento de energia elétrica é necessário um
conjunto de elementos interligados com a função
de captar energia primária, convertê-la em elétrica,
transportá-la até os centros consumidores e
distribuí-la neles, onde é consumida por usuários
residenciais, industriais, serviços públicos, entre
outros.
f) Subsistema de Comunicações: compreende a
rede telefônica e a rede de televisão a cabo, sendo
as conexões feitas por condutores metálicos. As
redes de infraestrutura que compõem este
subsistema (cabeamento e fios) seguem
especificações similares às do sistema energético.
A classificação desse sistema pode ser vista também, sobre
outro aspecto. Segundo Mascaró e Yoshinaga (2005), os serviços de
infraestruturas estão divididos em dois grandes grupos: o primeiro
abrange todos os serviços essenciais para qualquer cidade, enquanto que
o segundo abrange as infraestruturas de grande porte, abundantes nos
grandes centros urbanos. Ainda divide esses grupos em subsistemas, de
acordo com vários critérios. O primeiro grupo pode se classificar
segundo a sua função, a sua localização no espaço urbano ou o seu
15
princípio de funcionamento. Já o segundo grupo, que é considerado de
grande porte, apenas se encontra nas grandes cidades. São elas as redes
metropolitanas e os anéis rodoviários.
A relação entre a urbanização e a infraestrutura urbana
O processo de urbanização nada mais é do que a construção da
cidade, pois nela são estabelecidos os espaços que atendem às
necessidades da população, os quais devem proporcionar bem estar e
qualidade de vida (MARICATO, 2001 apud NOGUEIRA; BIDARRA,
2012, p.4). No Brasil este processo se intensificou, especialmente, a
partir da década de 50, tendo influência direta do desenvolvimento da
industrialização no país. Deste modo, as cidades se constituíram no
modo capitalista de produção, que se caracteriza por uma intensa
desigualdade social.
Neste contexto, temos a exclusão social, segundo Nascente e
Ferreira (2007) como um dos principais marcos do processo de
urbanização. O desenvolvimento urbano dentro de um sistema
capitalista se comporta de tal maneira, que acaba deixando de lado as
classes mais pobres, que são segregados, viverem em áreas de menor
valor econômico, sem acesso a serviços urbanos e infraestrutura
adequada.
Segundo Mascaró e Yoshinaga (2005, p.21), “um dos maiores
desafios do crescimento equilibrado e duradouro das populações é
provê-las de serviços urbanos em quantidade e qualidade suficientes.”
Para Nogueira e Bidarra (2012) o crescimento territorial de uma cidade
16
deve vir acompanhado da implantação de infraestrutura e de
equipamentos urbanos, pois à medida que o espaço urbano cresce, o que
anteriormente era satisfatório, pode, então, tornar-se ineficaz.
Desde modo, percebe-se como a infraestrutura urbana é de
fundamental importância para uma cidade, uma vez que forma parte
indissolúvel dela (ZMITROWICS; ANGELIS NETO, 1997). É
importante ressaltar que o desenvolvimento e a implantação de redes de
infraestrutura são tão antigos quanto a evolução das cidades, pois, desde
a antiguidade até hoje, as redes têm acompanhado as diferentes etapas
pelas quais as cidades passaram até a atualidade (MASCARÓ E
YOSHINAGA, 2005).
Gestão e planejamento dos sistemas de infraestrutura urbana
A gestão pública é uma consequência da administração de
recursos disponíveis, levando em consideração as necessidades
imediatas. Esta gestão estará presente durante todas as fases do
planejamento. Dessa forma, o planejamento urbano sempre antecederá a
gestão (MICHEL; BRANDLI; LOPES, 2013).
Cada administração desenvolve um modelo de gestão apoiados
em padrões de planejamento, integração territorial, estratégias e
participação, envolvendo opiniões e anseios da população (MICHEL;
BRANDLI; LOPES, 2013).
Segundo Silva (2010 apud NOGUEIRA; BIDARRA, 2012, p.4)
o planejamento urbano pode ser visto como um conjunto de ações que
auxiliam na ordenação da cidade, tendo metas a serem atingidas e
17
sofrendo modificações periódicas. Ainda na perspectiva do autor citado,
tem-se o cenário brasileiro, onde o planejamento urbano efetiva-se
através de quatro tipos diferentes de ações, sendo elas: strictu sensu,
zoneamento, planejamento de novas cidades e urbanismo sanitarista.
Quando fala-se em planejamento e gestão urbana é
indispensável a discussão das questões inerentes aos sistemas de
infraestrutura urbana, pois estas estruturam o meio urbano, além de
interferirem diretamente no desenvolvimento urbano.
No espaço urbano a combinação de aumento populacional e
planejamento urbano ineficiente são responsáveis pela geração de
inúmeros impactos socioambientais, dentre eles merece destaque o
padrão de crescimento periférico das cidades (COMITRE e
ANDRADE, 2011). Crescimento que, segundo Bolaffi (1975, p.58 apud
COMITRE e ANDRADE, 2011, p.8), “aumenta as distâncias, encarece
os investimentos para a implantação de serviços públicos, eleva os
custos de operação e de manutenção e reduz o aproveitamento per
capita dos equipamentos existentes”.
Neste contexto a cidade se desenvolve apresentando um caráter
contraditório, sendo sua estrutura um produto de crescentes
desigualdades, o que permite, deste modo, a constatação da
fragmentação do território, composto de um lado por grupos de alta
renda com áreas que possuem qualidade e quantidade em infraestrutura
e serviços, e por outro pela escassez destes equipamentos para os grupos
de renda menor (COMITRE e ANDRADE, 2011).
18
Essas condicionantes são responsáveis por interferir diretamente
no preço do solo urbano. De acordo com Pereira (2012), o Estado,
através da implantação de benfeitorias financiadas com recursos
públicos, contribui diretamente para a valorização das propriedades
localizadas próximas das mesmas.
O Estado atua de forma direta na produção do
espaço urbano quando realiza obra de
infraestrutura, sistema viário, equipamentos
públicos e ainda quando constrói habitações de
interesse social (SILVA; OLIVEIRA; SOARES,
2011).
Existem também as formas de participação indireta, como por
exemplo, no caso da regularização fundiária. Porém as formas mais
frequentes de participação indireta do Estado neste contexto se realizam
por meio da criação de normas técnicas e jurídicas de ordenação e
condicionamento das cidades (SILVA; OLIVEIRA; SOARES, 2011).
Segundo Pereira (2012), a atuação do estado ocorre de modo
associado ao setor privado, atendendo os interesses deste setor,
justificando a sua atuação com o argumento de que o crescimento da
cidade irá beneficiar a todos os grupos sociais, gerando empregos,
fortalecendo a base tributária municipal e produzindo recursos para a
ampliação das políticas sociais.
Na óptica desse autor, tem-se através do desejo de
desenvolvimento, a criação de um consenso onde cobrem-se de
legalidade as concessões feitas a empreendedores, a permissividade da
legislação de uso do solo e a facilitação dos processos de licenciamento
19
ambiental. “Desta forma, consegue-se convencer a sociedade de que o
objetivo da política urbana é viabilizar o crescimento através do
favorecimento das elites capitalistas.” (PEREIRA, 2012).
Neste contexto, percebe-se quanto a implantação de
infraestrutura pode tornar atrativo o solo urbano, e como é de
fundamental importância o planejamento e a gestão adequada destas
questões, para que os interesses dos proprietários não se sobreponham
sobre os interesses da coletividade.
De acordo com o artigo 24 da Constituição da República,
compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre o
direito urbanístico. Entretanto, no artigo 30 da Constituição Federal de
1988, menciona ainda que compete ao município legislar sobre assuntos
de interesse local e promover o ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso do solo, do parcelamento e da ocupação
do solo. Cabe, portanto, ao Governo, em todas as suas esferas,
promover o desenvolvimento urbano igualitário.
Entretanto, na maioria das vezes, o mercado imobiliário
apropria-se do espaço e direciona o crescimento das cidades.
“Historicamente, o Estado sempre esteve associado às elites e
representa os interesses dos proprietários de terras, empreendedores e
empresários” (PEREIRA, 2012). Neste contexto, a legislação é utilizada
como moeda de troca e como instrumento de dominação.
Dentre as ferramentas utilizadas pelo poder público para a
promoção do desenvolvimento urbano, destaca-se o plano diretor
municipal, por conseguir atender cada cidade de acordo com as suas
20
particularidades. A existência de planos diretores, para as maiores
cidades brasileiras, remonta às primeiras décadas do século XX
(SILVA; OLIVEIRA; SOARES, 2011). Mas a sua obrigatoriedade foi
consolidada apenas em 1988 com a Constituição federal e seu artigo
182, que exigiu que todas as cidades com mais de vinte mil habitantes
tivessem um plano diretor. Porém a regulamentação deste artigo só
ocorreu em 2001, através do Estatuto da Cidade, que reforçou a
condição do município como protagonista na condução da politica de
desenvolvimento urbano.
O plano diretor, segundo o Estatuto das Cidades (2001), pode
determinar questões inerentes ao parcelamento do solo, código de obras,
utilização de compulsórios urbanos, do direito de preempção, da
outorga onerosa do direito de construir, dentre outros fatores que
interferem na execução da política urbana.
Dentro deste contexto, Pereira (2012), alerta sobre a formulação
dos planos diretores, observando que geralmente, o resultado final nem
sempre é um projeto comum para o bem-estar de todo o município, mas
o somatório dos interesses de três grandes grupos: o mercado
imobiliário, o setor popular e a classe média. Deste modo, “no cômputo
final, o mercado imobiliário e as classes médias conseguem assegurar
maior parcela de benefícios” (PEREIRA, 2012).
Apesar de toda responsabilidade estabelecida em lei, na maioria
das vezes os municípios não possuem capacidade para atender todas
essas atribuições. Há uma dificuldade dos gestores municipais em
promover o desenvolvimento urbano de forma adequada. Além do
21
interesse particular sobre essa política, têm-se outros impeditivos dentre
eles, a falta de corpo técnico habilitado é considerada uma das
principais problemáticas neste contexto.
O arquiteto e urbanista atuante na área urbanística têm papel
fundamental neste contexto, pois detém conhecimento técnico sobre o
assunto, podendo planejar e propor estratégias adequadas para o
desenvolvimento urbano igualitário. Sua habilitação está prevista na Lei
nº 12.378/2010, a qual estabelece em seu artigo 2º:
As atribuições profissionais do arquiteto e
urbanista a que se refere o artigo anterior são as
seguintes:
I - supervisão, coordenação, gestão e orientação
técnica;
II - coleta de dados, estudo, planejamento, projeto
e especificação;
III - estudo de viabilidade técnica e ambiental;
IV - assistência técnica, assessoria e consultoria;
V - direção de obras e de serviço técnico;
VI - vistoria, perícia, avaliação, monitoramento,
laudo, parecer técnico, auditoria e arbitragem;
VII - desempenho de cargo e função técnica;
VIII - treinamento, ensino, pesquisa e extensão
universitária;
IX - desenvolvimento, análise, experimentação,
ensaio, padronização, mensuração e controle de
qualidade;
X - elaboração de orçamento;
XI - produção e divulgação técnica especializada;
e
XII - execução, fiscalização e condução de obra,
instalação e serviço técnico.
Parágrafo único. As atribuições de que trata este
artigo aplicam-se aos seguintes campos de atuação:
[...]
22
V - do Planejamento Urbano e Regional,
planejamento físico-territorial, planos de
intervenção no espaço urbano, metropolitano e
regional fundamentados nos sistemas de
infraestrutura, saneamento básico e ambiental,
sistema viário, sinalização, tráfego e trânsito
urbano e rural, acessibilidade, gestão territorial e
ambiental, parcelamento do solo, loteamento,
desmembramento, remembramento, arruamento,
planejamento urbano, plano diretor, traçado de
cidades, desenho urbano, inventário urbano e
regional, assentamentos humanos e requalificação
em áreas urbanas e rurais.
Portanto, embasado nas atribuições estabelecidas acima,
considera-se de fundamental importância a inclusão permanente deste
profissional no corpo técnico de todos os municípios. Entretanto, no
Brasil, são poucos profissionais que trabalham com planejamento
urbano, devido à carência de cargos criados pelo setor publico. O
gráfico, a seguir, demonstra melhor essa questão:
35% - arquitetura e urbanismo - concepção
16% - arquitetura e urbanismo – execução
15% - arquitetura de interiores 5% - serviço/funcionário público
4% - planejamento urbano e regional
23
3% - ensino 3% - arquitetura paisagística
9% - patrimônio histórico, sistemas construtivos, entre outros
10% - outros (resposta aberta)
Gráfico 1: Área de atuação do profissional Arquiteto e
Urbanista em 2011 e 2012.
Fonte: Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (2015).
De acordo com o gráfico 1 acima, nota-se que apenas três por
cento dos arquitetos e urbanistas brasileiros atuam no planejamento
urbano e regional. Esses dados evidenciam a insuficiência de corpo
técnico na grande maioria dos municípios brasileiros.
Considerações finais
O crescimento urbano, aliado a políticas públicas inadequadas é
responsável pela geração de uma cidade ineficiente, composta por
espaços sem infraestrutura urbana apropriada e, consequentemente, que
compromete a qualidade de vida para a população. É evidente que a
grande maioria das cidades brasileiras possui problemas urbanos,
existindo diferença apenas com relação à escala dos mesmos. Tal fato,
solidifica a necessidade de analisar e questionar as políticas públicas
realizadas no espaço urbano, já que são elas que possuem significativo
poder para atenuar estas problemáticas.
Assim, uma das propostas evocadas neste trabalho remeteu-se à
discussão sobre as possíveis contribuições do profissional arquiteto e
urbanista para o planeamento e a gestão urbana, através de estudos
técnicos e de diagnósticos eficientes. Deste modo, cabe ao poder
24
público, reconhecer a importância desse profissional no quadro
funcional do setor de planejamento e gestão urbanística, buscando
garantir a efetividade das políticas públicas em prol ao desenvolvimento
urbano, à sustentabilidade e à melhoria da qualidade de vida nas
cidades.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
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26
CAPÍTULO 2
PROPOSTA DE MOBILIDADE REGIONAL PARA OS
MUNICÍPIOS DE FRANCISCO BELTRÃO,
MARMELEIRO E RENASÇENÇA - PR
Rafael Wurlitzer Colla
Willian Marques Debacker
César Hellmann
Guilherme Daltoé
Introdução
Cada vez mais as cidades enfrentam problemas relacionados à
mobilidade. Fato este que vem comprometendo a qualidade de vida das
pessoas, principalmente em áreas urbanas. O aumento excessivo do
número de automóveis particulares, somado ao transporte público
precário e com baixos investimentos, tornou-se um dos principais
problemas em grandes centros urbanos.
Segundo o relatório Estado das Cidades da América Latina e
Caribe, 80% da população latino-americana vive em centros urbanos e
14% (cerca de 65 milhões) habitam metrópoles como São Paulo e
Cidade do México. Entretanto, as políticas de infraestrutura e
urbanização não acompanharam esse exagerado crescimento de forma
27
satisfatória para a resolução do problema de transporte público e
mobilidade urbana (ONU, 2012).
O autor Fábio Duarte afirma que:
Para o bom planejamento das cidades, as leis de
uso de ocupação do solo e a mobilidade urbana
devem estar integradas, criando o maior número de
possibilidades de locomoção, mas reduzindo os
deslocamentos motorizados. Nesse sentido, os
planos diretores municipais podem adotar medidas
concretas (DUARTE, 2007, p. 161).
Para frequentar locais cotidianos como ir à escola, ao trabalho,
ou até mesmo a lugares para praticar atividades relacionadas ao lazer, é
necessário que haja qualidade e eficiência no transporte público.
O transporte coletivo motorizado é um dos principais meios que
o cidadão possui de direitos básicos, já que, o mesmo permite acessos
ao mercado de trabalho, serviços públicos e equipamentos urbanos.
Entretanto, o número crescente de veículos particulares faz com que se
tenha uma reflexão sobre os transportes urbanos, não restringindo em
apenas um modelo, mas possibilitando outros meios de transporte
(DUARTE et al., 2007).
Para proporcionar diversidade modal devem-se planejar
articulações entre os diferentes modos a serem empregados. O sistema
modal utiliza uma única modalidade, isto é, o transporte pode ser
terrestre, (pedestres, bicicleta, motocicleta, automóvel e ônibus),
aquáticos (barco, lancha, entre outros), aéreos (helicóptero, avião) ou
ainda ferroviários (trem, metrô e aero móvel).
28
Dessa forma, pensar nas diferentes modalidades de locomoção é
a alternativa mais adequada, pois possibilita o deslocamento cotidiano
entre as cidades e seu interior. Duarte (2007) descreve que a
multimodalidade nos transportes urbanos pode promover o equilíbrio
social, ambiental e econômico.
O presente estudo relaciona a mobilidade entre os municípios
de Francisco Beltrão, Marmeleiro e Renascença localizados na região
sudoeste do Paraná e propõe alternativas para amenizar a situação atual
desta região que utiliza apenas a modalidade terrestre para o
deslocamento de pessoas e cargas os veículos mais usados são
motocicletas, automóveis, ônibus e caminhão, podendo ser estes
veículos públicos ou privados.
A mobilidade nesta região busca atender os usuários
classificados como: a comunidade em geral, estudantes, universitários e
trabalhadores, sendo esses conduzidos pelo transporte público e
privado. O transporte privado compreende a modalidade de
deslocamento em que os passageiros podem ser ou não proprietários do
veículo, ou até mesmo sendo de um terceiro (passageiro pagante ou não
ou ainda um locatário).
Por transporte público designamos um meio de transporte em
que os passageiros não são os proprietários do veículo, podendo esses
serem servidos por terceiros, como empresas públicas ou até mesmo
privadas.
Na busca de consolidar a mobilidade regional entre os municípios desta
região foram levantadas problemáticas e o público a ser atendido,
29
através de um diagnóstico. Em busca da melhoria da mobilidade
regional propõem-se algumas intervenções como um novo contorno
viário integrando as três cidades, o uso da ciclofaixa, a duplicação dos
trechos e a criação de pontos turísticos, sendo um deles o zoobotânico
valorizando assim as áreas rurais.
A origem do planejamento regional
De acordo com as referências demonstradas por Hall (2002), o
planejamento regional nasceu com Patrick Geddes1, mas foi através do
encontro com Lewis Mumford2em 1903 que sua teoria foi desenvolvida.
O encontro entre os autores propiciou que as ideias de Geddes
ganhassem coerência mais tarde, vindo a fundar a RPAA (Regional
Planning Association of America), traduzida para o português como
"Associação de Planejamento Regional da América", e a partir daí
difundindo sua mensagem para o mundo (Hall, 2002).
Segundo Geddes o estudo regional propiciava o conhecimento
de um ambiente ativo e vivenciado, que era a força motriz do
desenvolvimento humano. Para o autor, é essencial partir de um
levantamento dos recursos da região natural para elaborar o
planejamento. Trata-se de um levantamento geográfico, histórico e
1Patrick Geddes (1854–1932) foi um biólogo e filósofo escocês, também conhecido
por seu pensamento inovador nos campos do planejamento urbano e da educação.
Responsável pela introdução do conceito de região no urbanismo e pela criação dos
termos "conurbação" e "megalópole", é considerado o "pai" do planejamento regional. 2Lewis Mumford (1895 - 1990) foi um historiador norte americano que realizou
pesquisas nas áreas da arte, ciência e tecnologia e saúde. Foi também escritor, crítico
literário e professor.
30
social, em que relaciona as características culturais dos povos às
características naturais presentes em seus locais de origem. (HALL,
2002)
Em seu livro “Cidades em Evolução”, publicado em 1915,
Geddes divulga um esclarecimento mais coerente de suas ideias. As
novas tecnologias neotécnicas (energia elétrica e motor de combustão
interna) causaram a dispersão das cidades de forma desordenada,
desperdiçando recursos e energia, consequentemente, fazendo com que
se conglomerassem. A esses “agregados-cidade” o autor denominou de
"conurbações". E como solução, ele propunha trazer o campo para a
cidade, defendendo a ideia de que o levantamento regional estava
destinado a tornar-se pensamento-chave para as próximas gerações.
Difundindo a teoria do planejamento regional baseada nos
trabalhos de Geddes
De acordo com Hall (2002), no início do século XX é formada
Regional Planning Association of America (a RPAA), e seus membros
principais eram Mumford, Stein, Mackaye, Ackerman e Wright. Visto a
entãoa tendência do automóvel, do telefone, do rádio e da eletricidade
causou a dispersão da população e da malha urbana, cabia a eles
planejar essa nova migração para evitar erros cometidos no passado por
falta de planejamento.
Mumford retorna ao tema do advento da era neotécnica e afirma
que através do planejamento regional pode haver cidades super
crescidas que cresçam ainda mais, estimulando uma vida intensa e
31
criativa para a sociedade, sem destruir as vantagens naturais do lugar.
Pois “o planejamento regional vê o povo, a indústria e a terra com uma
única unidade”. (HALL, 2002).
Porém, em meio a teoria do planejamento regional baseada nos
trabalhos de Geddes, surgiram na década de 1920 as ideias de Thomas
Adams, um dos fundadores do planejamento urbano britânico foi
contratado para fazer um levantamento e plano para toda a região de
Nova York. Adams enfatizava a importância de considerar o
desenvolvimento regional que circunda o município para um esquema
de planejamento urbano satisfatório, pois é neste local que as novas
indústrias estão se estabelecendo. (HALL, 2002)
A metodologia de Adams entrava em conflito com a os ideais
da RPAA, uma vez que para ele o Plano Regional não deveria ter um
teor revolucionário, e sim “[...] um conjunto de controles brandos sobre
os abusos do mercado, em favor da eficiência” (HALL, 2002, p. 182),
incluindo também novas estradas e parques. Portanto, a visão de
Adams, que era um planejador para homens de negócios, era muito
mais comercial do que as ideias da RPAA.
O que estava errado era a filosofia partilhada por Adams e seu
grupo, que via região como fixado em definitivo, que admitia apenas
modificações incrementais e marginais, rejeitando o planejamento de
uma região inteira. Essas manifestações se manifestavam de várias
formas, como acrescentar alguns desvios ou anéis viários em um plano
rodoviário.
32
Hall (2002) afirma que o verdadeiro impacto das ideias da
RPAA não se deu em seu próprio país, mas nas capitais da Europa. Ao
longo dos anos 20 e 30, ideias norte-americanas de planejamento
estavam sendo aplicadas em vários contextos britânicos. Então, em
1943, surge o Plano do Condado de Londres elaborado por
Abercrombie e Forshaw que se revela como o mais amplo planejamento
elaborado até então. O Plano do Condado possuía “qualidades
excepcionais que por si só bastariam para recomendá-lo junto ao mais
purista dos membros da RPAA" (HALL, 2002, p.196).
Abercrombie utilizou os métodos de levantamento geddesiano,
a implantação de uma hierarquia viária que resolvia o problema do
congestionamento e dava forma às comunidades reconstruídas com
espaços livres tão necessários, além de cumprir a função de aproximar a
natureza da cidade.
O Plano do Condado utilizou o novo sistema viário para criar
uma Londres celular, com estrutura orgânica, que permanece ao passar
do Plano do Condado para o Plano da Grande Londres. A base feita em
círculos concêntricos, que indicam a intensidade decrescente da
população e atividade: o Interno, com o centro de Londres como anel
nuclear; o Externo ou suburbano; o Cinturão Verde, preservado para
áreas de lazer; e Periferia Rural, para uso agrícola e para população
proveniente da descentralização de Londres. Cada círculo aparece
definido por um anel viário, como parte do sistema hierárquico.
Mobilidade e interconexão regional
33
A mobilidade em termos gerais pode ser considerada um dos
grandes problemas enfrentados pelas cidades do mundo inteiro, pois
atinge diretamente o setor econômico do município, seja pela demora
no transporte de mercadorias ou então pelo difícil acesso a pontos
comerciais.
Trazendo a discussão para a escala regional, podemos constatar
que o problema se agrava, pois acaba interferindo nos interesses de
várias cidades, que na maioria das vezes diferem muito umas das outras.
Para tentar amenizar as problemáticas deve-se pensar no
conjunto como um todo, entretanto, é aconselhável que se coloque em
prática a solução em uma escala menor, começando por uma
microrregião, e então, expandindo-a para toda a região.
Levando isso em consideração, foram escolhidas três cidades
que formam uma microrregião (Francisco Beltrão, Marmeleiro e
Renascença) que, além de sua proximidade, tem interesses comerciais
semelhantes, e assim, foram elaboradas propostas com a intenção de
beneficiá-las de maneira uniforme.
A primeira proposta seria criar um sistema de transporte que
integrasse essas três cidades, tornando o trajeto mais seguro, pelo fato
de haver uma diminuição de automóveis percorrendo esse trajeto, e
mais barato, pois seria cobrado um valor reduzido por conta do grande
volume de passageiros.
Essa escolha foi feita porque hoje se tem um volume muito
grande de moradores em Marmeleiro e Renascença que fazem esse
percurso diariamente para a cidade de Francisco Beltrão. Na sua
34
maioria são trabalhadores com carteira assinada e estudantes
universitários. Outra parcela é de pessoas que estão a passeio ou
influenciados pelo comércio que é mais forte em Francisco Beltrão,
estes fazem visitas com menos frequências a cidade. Há ainda pacientes
da área da saúde, que buscam em Francisco Beltrão especialidades
médicas que não encontram em suas cidades. Também há muitos
moradores de Francisco Beltrão que trabalham ou por outro motivo
visitam diariamente as cidades vizinhas.
Por conta da inexistência de um sistema de transporte público
que percorra esse trajeto, praticamente todos que fazem essa rota
diariamente utilizam um veículo particular, o que aumenta
drasticamente o número de veículos em circulação. Pensando que nem
todos gostam de utilizar o transporte público, uma das propostas a ser
implantada seria a chamada „‟carona solidaria‟‟, que consiste na criação
de um cadastro de pessoas que se interessem pela ideia e a partir dele
são apresentadas outras pessoas que fazem o mesmo trajeto diariamente
para que haja um rodízio de veículos, assim, cada veículo pode levar de
três a quatro pessoas, diferente do que ocorre hoje.
Outra melhoria seria a duplicação dos trechos Francisco Beltrão
– Marmeleiro e Marmeleiro – Renascença, que juntamente com a
implantação do sistema de transporte público conjunto, deixaria o
trajeto mais rápido, sendo que hoje as partes já duplicadas não são o
suficiente para atender a demanda dos veículos.
Outro motivo existente é pelo uso da estrada para transporte de
materiais diversos, como por exemplo, os frangos produzidos para a
35
empresa Brasil Foods (BRF). Essa região tem uma zona industrial
muito forte, assim como a agricultura, e o comércio gerado dessa
origem exige que seja feito o transporte do material proveniente dessa
produção diariamente, o que aumenta muito o número de caminhões e
carretas nas estradas que interligam os municípios. O uso desse
caminho por caminhões e carretas acaba deixando o trânsito mais lento,
aumentando o número de ultrapassagens em locais não permitidos e
assim fazendo com que aumente as chances de acidentes graves e com
vítimas fatais.
O forte crescimento das três cidades também faz com que se
vise seguir as ideias para a duplicação dessa estrada, pois se pensando
em longo prazo, algum dia elas acabarão se encontrando e esse trecho
ficara dentro da área urbana e habitada da “cidade” (futura conurbação),
dificultando possíveis ampliações.
A segunda medida adotada, seria a criação de uma estrada
secundaria (Figura 1), que faria o trajeto entre os municípios de
Renascença e Francisco Beltrão.
36
Figura 1: Trajeto Renascença - Francisco Beltrão.
Fonte: Google Maps, adaptado pelos autores 2014.
Um dos motivos existentes por trás da criação desse “contorno”
seria a de agilizar o trajeto Francisco Beltrão – Renascença, eliminando
a passagem por dentro do perímetro urbano de Marmeleiro, situação
que hoje acontece e acrescenta alguns minutos na viajem de quem faz
esse caminho.
Aproveitando-se das obras originadas pelas ampliações feitas
nas pistas poderia se propor a implantação de uma ciclovia que percorra
todo o trajeto entre as três cidades e também acompanhe a nova via
criada. Essa iniciativa se justifica, pois apesar da grande distância entre
Francisco Beltrão e Renascença, pode ser utilizada para caminhos
menores, como residências que se localizam entre as zonas urbanas e
37
também incentivar o uso da bicicleta, sem que o ciclista sinta medo de
usá-la por falta de um lugar seguro para trafegar.
Analisando a Figura 1 acima é possível perceber que as cidades
de Marmeleiro e Renascença estão crescendo em sentido contrario a
Francisco Beltrão, atitude que é adequada até certo ponto, pois assim
expande o território das cidades sem se aproximar demais da cidade
vizinha e não desenvolvendo uma urbanização muito grande.
Entretanto, chegará um momento em que as cidades não terão mais para
onde crescer e começarão a ocupar esse espaço.
O crescimento acontecendo na direção dessa área central pode
não ser o mais indicado, pois acabaria criando um aglomerado
populacional como ocorre nas grandes cidades, entretanto precisamos
entender desde já que isso é algo possível e provável de acontecer,
sendo o mais indicado implantar medidas que controlem o crescimento
desordenado, prevendo a criação de novos centros comerciais e
trabalhando com o posicionamento de vias coletoras e arteriais,
diferente do que ocorre hoje na maioria dos loteamentos que são
aprovados no entorno das três cidades, pois além de fazer com que as
cidades tenham maior interação entre si, proporciona uma facilidade
maior de locomoção entre elas.
Com a criação dessa via, outro fator que poderia ser trabalhado
na região é o turismo rural, que trabalhado de maneira certa pode ser
algo muito lucrativo para a região.
38
Mas, a criação desses pontos turísticos não seria algo imediato
na região do contorno, pois sendo ali uma área rural em quase toda sua
totalidade, teria um impacto grande demais em relação aos agricultores.
Por conta disso, até mesmo o traçado da via foi pensado, não utilizando
uma área aleatória para sua criação, optamos por procurar uma estrada
já existente, e dentre as muitas encontradas havia uma que seu trajeto
saia de Renascença, passava por toda região rural e quase chegava a
Francisco Beltrão. Com certeza seu trajeto passaria por modificações,
para deixá-lo mais retilíneo e eliminar a maioria das curvas não
necessárias, deixando o percurso mais confortável e seguro.
O que foi levado em consideração ao utilizar uma estrada já
existente foi tentar diminuir ao máximo as áreas de desapropriação de
propriedade, pois isso aumentaria os custos da construção e criaria certa
rejeição por parte dos agricultores, que teriam suas terras diminuídas e
até mesmo cortadas ao meio.
Considerações finais
Após a análise geral do entorno dos municípios de Francisco
Beltrão, Marmeleiro e Renascença, localizados no Sudoeste do Paraná
constata-se que é necessário a intervenção de novos recursos viários
junto a melhorias de infraestrutura.
Portanto, para um bom planejamento de transporte ocasiona
benefícios socioeconômicos – como a diminuição de
congestionamentos, o que garante melhor qualidade de tráfego e
39
diminuição dos custos com combustíveis – bem como benefícios
ambientais, pela diminuição da poluição atmosférica.
Pata tal foi proposto: implantação da “carona solidária”;
Investimento em transporte público de qualidade; duplicação da estrada
existente entre as cidades; pavimentação da estrada rural como uma
segunda opção; implantação de ciclo faixas nas laterais de ambas as
estradas.
Quando atingido os esforços propostos, acreditasse que
ocorrerão melhorias nos espaços das cidades, com a diminuição de
automóveis, pelo incentivo do uso de outras modalidades, aumentando
assim os espaços para o transporte não motorizado intervindo também
em áreas de convívio.
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41
CAPÍTULO 3
INTERVENÇÕES DE PLANEJAMENTO URBANO EM
BAIRROS SEGREGADOS DE FRANCISCO BELTRÃO –
PARANÁ
Emanuele de Costa Oldra
Laís Cristine Fischer
Vanessa Cristina Zapchau
Gislaine da Silva Fernandes
João Luciano Bandeira
Introdução
O tema escolhido para a elaboração dessa pesquisa visa mostrar
a má distribuição do espaço urbano das nossas cidades e as
desigualdades (socioeconômicas, politicas, culturais) nelas encontradas.
Relevando as precariedades e ausências que a grande parte da
população é submetida.
Deste modo o presente trabalho, busca levantar dados
geográficos e históricos da região e do território ocupado por parte da
população (que vivem nas áreas periféricas pobres), de forma a
apresentar a compreensão do problema.
42
A pesquisa se justifica pelo fato da cidade de Francisco Beltrão
– PR e especificamente o bairro Padre Ulrico vem sendo alvo de
degradação e de baixa infraestrutura, sofrendo assim, uma segregação
sócio espacial. Contudo deve-se atentar que, apesar de periferia, o
bairro faz parte da cidade como um todo e deve ser melhor inserido na
dinâmica urbana da cidade, dessa forma coloca-se propostas para a boa
qualidade de vida da população atingida.
O principal objetivo deste trabalho é analisar e propor
intervenções urbanísticas de forma que essas possam integrar o bairro
segregado Padre Ulrico ao restante da cidade de Francisco Beltrão – PR,
assim como trazer aos moradores dessa área, locais de lazer e
infraestrutura adequada.
Os objetivos específicos são: analisar a área em questão e
levantar dados que indiquem os motivos da segregação; propor
intervenções que solucionem os problemas sociais e urbanos desses
locais segregados; dotar esses locais de infraestrutura e áreas de lazer
adequadas; trazer melhor qualidade de vida aos moradores do bairro;
integrar o Bairro Padre Ulrico a toda cidade de Francisco Beltrão, PR.
Contudo, a importância de conhecer os termos utilizados, no
presente trabalho, é de suma importância para a compreensão do
mesmo. Dessa forma, será apresentado o que é a segregação sócio
espacial, como considera um bairro segregado e favelas, o problema
desta segregação, a situação do local analisado (bairro Padre Ulrico,
Francisco Beltrão – PR), aspectos críticos do desenho para a preparação
de projetos futuros e, a partir daí, propor intervenções adequadas e
43
cabíveis para o local, buscando atingir o objetivo do trabalho através da
justificativa do mesmo.
Segregação sócio espacial
A segregação sócio espacial é um fenômeno complexo que se
desenvolve na cidade capitalista, com destaque para a consolidação e
evolução deste processo no espaço intra-urbano.
Segundo Villaça (1998, p. 142) “segregação é um processo
segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se
concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de
bairros da metrópole”.
Pela falta de alternativas habitacionais para a população de
menor renda, a cidade ilegal assume proporções sempre crescentes. Na
maioria dos principais centros metropolitanos – cidades como São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador – de 20% a
40% da população total reside em favelas (MARICATO, 2001). A
totalidade das grandes cidades brasileiras (com mais de quinhentos mil
habitantes) apresenta favelas, assim como cerca de 80% das cidades
com população entre cem e quinhentos mil habitantes (BREMAKER,
2001).
O quadro crescente das desigualdades sociais e da pobreza nas
grandes cidades brasileiras e a emergência de um novo padrão de
segregação sócio espacial expresso em novos fenômenos sociais, como
a violência urbana, os lugares auto segregados sob a forma de enclaves
44
fortificados (CALDEIRA, 1997), têm sido uma preocupação constante
para população em geral.
O primeiro, dotado da maioria dos serviços
urbanos, públicos e privados, é ocupado pelas
classes de mais alta renda. A segunda, subequipada
e longínqua, é ocupada predominantemente pelos
excluídos. O espaço atua [assim] como um
mecanismo de exclusão (VILLAÇA, 1998, p. 143).
Segundo Dias e Lima (2012) a segregação muda em
terminologia, de acordo com o momento histórico, e as realidades
espaciais, podendo ser conceituada como residencial, urbana, espacial,
ou sócio espacial.
Porém, muito mais que ter respeitado o seu direito
à cidade, essa parcela da população residente em
áreas periféricas pobres deve ter o real acesso à
uma vida urbana digna e usufruir de todos os
elementos que a integram, exceto aqueles que,
nesses tempos, a torna cruel - a desigualdade; essa
que se exprime em todas as dimensões da vida
urbana (MARES, 2013, p.02).
A desigualdade social é um problema que vem crescendo com o
decorrer dos anos e com isso aumenta o número de pessoas
desabrigadas, desempregadas ou então moradores desprovidos de
infraestrutura básica, os quais vão se unindo, assim formando um
número considerável de pessoas com baixa renda, existindo assim os
bairros segregados.
Sabe-se que o surgimento e a formação das periferias se deram
pelo intenso processo de urbanização e expansão da malha urbana, ou
45
seja, a ocupação intensa de pessoas em uma cidade, precisando ser
ocupada áreas até então afastadas do centro por serem longe, áreas de
riscos, morros, encostas de rios, dentre outras, denominadas
“periferias”.
“Ao se observar a estrutura da sociedade atual, vê-se que é,
antes de tudo, uma estrutura desigual e contraditória, mediante as ações
sofridas advindas de processos sócio espaciais e por um sistema
econômico que visa exploração e dominação”. (MARES, 2013, p. 2-3).
Os moradores dessas áreas são submetidos pelo
desenvolvimento desigual a viverem sem mudanças, evitando que
consigam se auto proporcionar um padrão de vida melhor em um bairro
de classe média ou alta. Essa diferença da periferia versus centro sofre
problemas sociais, entrando então a questão da violência (tráfico,
homicídios, roubos e etc.).
O espaço de reprodução desses moradores passa a ser o próprio
bairro, que é onde se sentem bem, são bem acolhidos, por vizinhos,
amigos, dentre outros, e que não se sentem excluídos pela sociedade,
pelo fato de todos que ali se encontram na mesma situação.
O governo criou vários programas para retirada das pessoas
dessas periferias, como: Habitação de Interesse Social – PLHIS,
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-
H, Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social – PSH, Minha
Casa Minha Vida – PMCMV (LUCENA, p.02).
A partir da definição de segregação sócio espacial, o presente
trabalho visa proporcionar soluções de planejamento urbanístico para
46
estes locais segregados, e de qual forma pode melhorar tais áreas
prejudicadas pela desigualdade social.
Levando-se em considerações todos os problemas que podem
ser encontrados durante o percurso, desde a reelaboração da malha
urbana, prevendo futuros aumentos das áreas segregadas, ou ao avanço
da desigualdade social, até mesmo a desapropriação de famílias de
lugares de riscos e o deslocamento das mesmas para lugares mais
adequados.
Na maioria das vezes as famílias não aceitam sair das suas
moradias, do local onde nasceram e cresceram, porém para que haja
uma boa reurbanização é necessário fornecer a essas famílias um local
mais adequado. Tendo como base leis que gerem áreas de protação ao
lado de rios, canalização dos mesmos, área de reflorestamento, entre
outros.
Existe então a necessidade de cada cidade intervir de forma com
que traga para os moradores desse locais segregados soluções
urbanísticas para assim lhes oferecer uma melhor qualidade de vida.
Como considerar um bairro segregado e o que são favelas
A concentração de uma determinada classe no espaço urbano,
não impede a presença nem o crescimento de outras classes no mesmo
espaço. Pois o que determina, em uma região, a segregação de uma
classe é a concentração significativa dela, em mais do que em qualquer
outra região da metrópole.
47
A segregação é uma manifestação da renda fundiária urbana,
um fenômeno produzido pelos mecanismos de formação dos preços do
solo, determinados pela nova divisão social e espacial do trabalho.
(LOJIKINE, 1981, p. 166 apud VILLAÇA, 2001).
Ainda para Lojkine, existem três tipos de segregação urbana: 1)
uma oposição entre o centro, onde o preço do solo é mais alto, e a
periferia; 2) uma separação crescente entre as zonas e moradias
reservadas ás camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia
popular; 3) um esfacelamento generalizado das funções urbanas
disseminadas em zonas geograficamente distintas e cada vez mais
especializadas: zonas de escritórios, zona industrial, zona de moradia,
etc. O nosso caso se encaixa na segunda opção, na qual as zonas
residências e industriais que fazem a caracterização de um espaço
metropolitano, estão afastadas das zonas residências nobres da cidade.
Nesse sentido a segregação é um processo fundamental para a
compreensão da estrutura espacial intra-urbano.
Para Santos (1993, p. 96 apud VILLAÇA, 2001), sítio social é
conforme a especulação imobiliária, onde há a conjugação de dois
movimentos convergentes: a disputa de um sítio social, natural e, a
disputa entre atividades e pessoas pela dada localização do imóvel ou
terreno.
Ainda para Santos é dessa maneira que alguns pontos se tornam
mais acessíveis, atrativos e valiosos. Principalmente os lugares
residenciais, a lógica é a mesma, pessoas de maiores recursos buscando
alojarem-se onde lhes pareça mais conveniente, segundo os parâmetros
48
de cada época, o que inclui também a moda. É desse modo que várias
parcelas da cidade ganham ou perdem valores ao longo do tempo.
Um bairro, para ser segregado, deve ser de baixa especulação
imobiliária, conciliando fatores sociais, econômicos e políticos, onde
grandes partes da população da mesma classe social estão agrupadas.
Outrora as favelas formaram-se e cresceram em muitas partes
diferentes do mundo e por razões distintas. Entre as causas para o
surgimento delas estão o rápido êxodo do campo rumo as áreas urbanas,
a estagnação ou a depressão econômica, o elevado nível de desemprego,
a pobreza, a economia informal, a falta de planejamento urbano, os
desastres naturais e os conflitos sócio-políticos.
Historicamente a favela é a ausência. Caracterizada e definida
como um espaço destituído de infraestrutura urbana, água, luz, esgoto,
coleta de lixo, sem arruamento, miserável, sem ordem, sem lei, sem
moral. Expressão do caos. Outros elementos característicos de favelas
são os morros, as margens de rios, casas ou apartamentos precários,
com altos níveis e incidências de violências.
Problemática da segregação sócio espacial
O problema da segregação sócio espacial está crescendo
rapidamente, pois as cidades estão evoluindo desenfreadamente devido
à tecnologia e, a periferia, a pobreza e, consequentemente a
desigualdade social, acompanham essa evolução, assim transformando
o problema de segregação cada vez maior.
49
O processo de modernização capitalista tinha em vista o
processo de desenvolvimento econômico, porém houve o "mito do
desenvolvimento", "o qual se apoia na ideia de que desenvolvimento
econômico significaria desenvolvimento social segurando a todos nos
revela atualmente que não significou aumento de justiça social"
(GONÇALVES, p.1).
Segundo Lima (2008), a desigualdade social teve como
principal autor o Estado, que favorece o interesse do capital imobiliário,
dessa forma atingindo a população das classes média e alta, da mesma
forma, não enfrentam o problema da moradia popular, onde criou-se o
BNH (Banco Nacional de Habitação), que só fez crescer a desigualdade
social, locando essas pessoas em lugares sem a mínima condição de
moradia e, que até hoje as cidades constam com espaço para este tipo de
habitação.
Com o avanço das cidades, o centro, como o próprio nome já
diz, foi expandindo, surgindo prédios comerciais e, a aglomeração de
poder aquisitivo, foi "empurrando" as pessoas de baixa renda o mais
longe possível do centro, por não possuírem renda o suficiente para um
espaço no centro. Pessoas vindas de outros estados, que já moravam em
lugares precários e, na falta de emprego, vêm para cidades maiores em
busca de "uma vida melhor", porém o que encontram é uma vida difícil,
devido ao fato de que mesmo conseguindo emprego, o custo de vida é
mais alto, fazendo assim com que morem em periferias da mesma forma
e, esse número de pessoas tem aumentado nas grandes cidades
50
significativamente, um grande alvo desse fato no Brasil, são pessoas do
nordeste migrando para São Paulo.
O processo de segregação atinge diretamente os moradores,
incluindo vários fatores: falta de saneamento básico, falta de acesso
(vias), moradias em risco, falta de canalização dos rios e poluiçãalém
disso, a população ainda sofre com os ambientes públicos e
administrativos, acesso a parques, áreas verdes, hospitais, praças,
creches, escolas, entre outros.
Situação atual do bairro Padre Ulrico
Os dados a seguir são fornecidos através do site da Prefeitura de
Francisco Beltrão – Paraná com base no Censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2011.
Aspectos demográficos:
População total de Francisco Beltrão: 79.850 habitantes.
Densidade Populacional:
A densidade populacional por domicílio é bastante equilibrada
tanto na área urbana como na área rural. Os bairros Padre Ulrico e
Antônio de Paiva Cantelmo são as áreas urbanas que concentram a
maior densidade, 3,93 e 3,83 pessoas por domicílios, respectivamente.
Dados do Bairro Padre Ulrico:
51
Tabela 1: Situação da população do bairro Padre Ulrico, Francisco Beltrão.
População
residente
Número de
domicílios
Densidade por domicilio
(hab/dom):
3127 796 3,93
Fonte: Trabalho de campo.
Tabela 2: População de Francisco Beltrão: dados demográficos.
(2) Pessoas em situação de pobreza é a população calculada em função da
renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo. Os dados referentes a
Situação de Pobreza são provenientes dos microdados do Censo Demográfico
(IBGE) e das Tabulações especiais feitas pelo Ipardes.
Fonte: IPARDES; IBGE, 2011.
No ano de 2013 foi realizada uma pesquisa por alunos do curso
de Arquitetura e Urbanismo com auxilio de professores orientadores
através do Programa de Iniciação Cientifica (PIC) da Universidade
Paranaense – UNIPAR. A pesquisa foi realizada em 150 unidades
habitacionais das quais foram doadas pelo município a moradores
retirados de áreas de risco e relocados para esse local, deve-se levar em
52
consideração ainda que estes moradores possuem perfil de baixa renda
(0 a 3 salários mínimos), o conjunto habitacional faz parte do Bairro
Padre Ulrico.
O artigo analisado mostra a satisfação dos moradores quanto
aos aspectos funcionais e construtivos, os dados são importantes para
nos mostrar a qualidade de vida e avaliação e visão que estes moradores
tem quanto o bairro aonde vivem. Foram aplicados questionários com a
presença dos avaliadores onde os ocupantes das residências respondiam
perguntas que tinham valores de 1 a 4, sendo 1 para menor e 4 para
maior. Os dados foram tabulados e a seguir serão repassados os
resultados e conclusões obtidas.
Das 150 unidades habitacionais que fazem parte do loteamento,
foram aplicados 123 questionários, representando 82% do total. Em
contrapartida, 18% dos usuários não responderam aos questionamentos
em razão de residências vazias, residências com moradores ausentes e
outros que não quiseram participar, totalizando 27 famílias.
Quanto à categoria construtiva foram analisados o tamanho e a
quantidade de ambientes em relação aos usuários; o funcionamento das
instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias; qualidade dos
revestimentos, pisos e torneiras. Na categoria funcional foram
analisados: temperatura, ventilação e iluminação natural, segurança e
área externa. A privacidade foi analisada conforme a localização das
aberturas e proximidade com os vizinhos; e a segurança através das
aberturas e muros. Em relação ao conjunto habitacional foram
53
analisadas áreas externas, áreas de lazer, acessos, iluminação pública,
infraestrutura mínima, assim como escolas, mercados e farmácia.
Gráfico 1: Avaliação de satisfação dos usuários em relação a habitação
MCMV.
Gráfico 2: Avaliação técnica em relação a habitação MCMV.
Em relação à categoria funcional, é possível perceber que, a
maior parte dos moradores estão satisfeitos com a sua moradia. Mais de
50% dos entrevistados atribuíram a nota máxima às questões
relacionadas a esta classe. Menos de 10% foram os que deram a nota
mínima neste quesito, representando o menor índice.
54
Como na categoria funcional, na construtiva também a maioria
dos questionados conferiram a nota 4 para estas perguntas, somando
mais de 40% dos pesquisados. Diferentemente da categoria anterior, a
nota 1 não foi a menos atribuída às questões, visto que quase 20% dos
respondentes optaram por este peso.
Além da pesquisa de opinião dos usuários, realizou-se uma
avaliação técnica sobre as mesmas questões e a partir desta análise é
possível constatar uma opinião bem diferenciada da dos moradores
sobre os mesmos aspectos, funcionais e construtivos.
A avaliação técnica, mostra que foram atribuídas notas
diferenciadas das dos usuários, sendo que o maior percentual obtido foi
da nota 3 para as duas categorias. Já a menor nota na categoria
funcional foi a 1 e na categoria construtiva as notas 1 e 4, que estão
praticamente empatadas. É importante salientar que de modo geral, as
pessoas estão satisfeitas, mas cruzando a opinião do ponto de vista
técnico com a do usuário, percebe-se a necessidade de melhorias neste
tipo de edificação principalmente nos aspectos de: segurança contra
terceiros, instalações elétricas e quantidade de ambientes; este último
aspecto depende muito da necessidade e da quantidade de indivíduos
residentes no local, as casas são projetadas para 3 ou 4 pessoas e muitas
delas estão ocupadas por até 7 pessoas. Estes resultados devem ser
considerados informações importantes no desenvolvimento de projetos
similares futuros.
A partir desses dados podem-se tirar algumas conclusões sobre
a forma com que os moradores desse bairro vivem. Não há apenas esses
55
conjuntos habitacionais, existem também casas em situações precárias
em terrenos irregulares, muitas vezes até 3 unidades ocupam um mesmo
lote, os moradores desses locais não tem uma segurança, infraestrutura e
locais de lazer adequados, fazendo com que a qualidade de vida seja
cada vez menor e mais deficiente.
Aspectos críticos do desenho para preparação de projetos futuros
Os programas de desenvolvimento em geral e em particular, os
de urbanização de favelas, dedicam atenção maior ao tratamento de
problemas de caráter físico-urbanístico e arquitetônico por meio de
componentes urbanos e habitacionais.
Vários fatores técnicos interferem de maneira direta na
qualidade das opções de projeto, como por exemplo: infraestrutura
urbana (água, luz, esgoto, acesso viário, pavimentação...), de integração
urbanística e acessibilidade, implantação de unidades e as opções
tecnológicas de projeto arquitetônico (qualidade e adequação dos
sistemas construtivos e os materiais utilizados, funcionalidade das
unidades, ente outros).
A alternativa tomada para a reurbanização das favelas deve
levar em conta se pode oferecer não só a moradia em boa qualidade,
mas outras facilidades inclusas como transporte público, infraestrutura,
equipamentos sociais, saneamento, comércio, saúde, educação, etc. Essa
decisão de qual programa usar está diretamente ligado a decisões
políticas.
56
Existem ainda os fatores gerais e estruturantes, estes afetam na
qualidade arquitetônica, perenidade, fluidez, coerência, a escolha
correta da área, equilíbrio entre custo e qualidade dos projetos
arquitetônicos e a eficácia da operação e manutenção dos investimentos
físicos realizados.
A qualidade dos aspectos específicos dos projetos aplica-se a
duas escalas: a da intervenção urbana e do projeto arquitetônico da
unidade.
A dimensão local das decisões técnicas de projeto também é
importante, pois permite que haja mudança da área determinada para a
mudança, devido a imprevistos como por exemplo, número maior que o
esperado de moradores por unidade, disputa locais e internas às
comunidades.
Existe ainda um último fator que diz respeito ao equilíbrio entre
a viabilidade financeira e a qualidade dos projetos urbanos e
arquitetônicos. Que significa que a falta de qualidade não é decorrente
apenas do desenho da planta, ou da escolha dos materiais. Em geral a
má qualidade vem pelo uso inadequado de materiais para determinado
uso e local como escolha errada de materiais que possam gerar boas
condições térmicas e acústicas, conforto ambiental, e menor
necessidade de manutenção. As “escolhas de materiais errados” se dão
pelo menor preço.
Como regra geral os projetos urbanos para assentamento
precários devem ser adequados a cada caso. Por exemplo, uma área com
grande risco de inundação não pode ser levado em conta os mesmos
57
parâmetros que uma área construída em baixo de um viaduto sob risco
de incêndio.
Segundo Denaldi (2004), as áreas para reurbanização e
relocação das famílias precisam ser de preferência uma área estruturada,
com boa acessibilidade, transporte público, saneamento adequado,
dentre outros fatores.
É sabido que em projetos habitacionais a tipologia das
edificações deve ser adequada, as condições do terreno, conforto
ambiental do local, topografia, forma do terreno, tudo isso incide
diretamente e indiretamente nos custos da obra.
Propostas de intervenção
Como já mencionada a situação atual do bairro Padre Ulrico
está precária, havendo uma segregação sócio espacial negativa, sendo
um bairro precário e sem condições de infraestrutura urbana. Dessa
forma propõe-se propostas de intervenções que podem ajudar a resolver
os problemas encontrados no local.
É inegável que, para enfrentar o problema da
proliferação das favelas, é necessário ampliar o
mercado residencial legal e promover a gestão
urbana inclusiva, no entanto não se pode deixar de
intervir nas favelas existente, buscando-se integrá-
las à cidade formal (DENALDI, 2004, p.8).
Seguindo as propostas de intervenção do governo nas favelas de
Teresina, pode-se levar em consideração:
58
A infraestrutura física (pavimentação,
abastecimento de água, energia elétrica,
regularização fundiária, melhoria habitacional e
unidade sanitária); infraestrutura comunitária (à
atenção integral a criança e ao adolescente,
instalação de creche, de unidade de saúde, de
escola, de praça, de campo de futebol e de quadra
poliesportiva); Ação educativa (educação
ambiental, arborização e distribuição de filtros);
Geração de emprego e renda (instalação de centro
comunitário de treinamento e produção, de
lavanderias comunitárias, de hortas comunitárias e
de quitais urbanos de produção) (LIMA, 2008,
p.7).
Os tópicos irão abranger todos assuntos necessários para
transformar o bairro Padre Ulrico em um local, habitável, desejado
pelos moradores, reconhecido não mais como um bairro segregado em
relação ao restante da cidade, e sim, como parte enriquecedora do
município.
A urbanização de favelas não se limita à
construção de casas ou à reabilitação das
construções existentes. O componente social é a
chave de todo o processo. Em última instância, o
objetivo final é garantir acesso à qualificação e a
melhores condições de vida (Urbanização de
Favelas em Foco: Experiências de Seis Cidades;
2008; p.57).
Qual o resultado a curto e longo prazo da intervenção
As intervenções se tratam principalmente de: rede de
abastecimento de água nos locais que não a possuem; esgotamento
59
sanitário; drenagem; pavimentação; coleta de lixo; iluminação pública e
energia elétrica; áreas de lazer e serviços públicos.
O verdadeiro desafio é lidar com a situação de
precariedade na posse da terra da moradia daqueles
que estão física e socialmente excluídos. Para
enfrentar este desafio, é necessária uma mudança
de paradigmas. Uma abordagem orientada por
projetos, focada na produção de novas moradias e
na extensão de redes de infraestrutura urbana,
idealizada e implementada separadamente pelas
diferentes secretarias da administração municipal,
tem que ser substituída por uma abordagem
programática e integrada (Urbanização de Favelas
em Foco: Experiências de Seis Cidades; 2008;
p.02).
A partir de estudos já realizados em bairros segregados e
favelas afirma-se que as melhorias são significativas. Ao analisar os
impactos sobre as condições de vida da população desses locais após
intervenções realizadas no Rio de Janeiro e sobre as possibilidades de
integração da área pela criação de acessos, praças e espaços públicos
apurou-se na pesquisa amostral que, na visão da população, esses
melhoraram:
- 68,3% dos entrevistados não sentem falta de outros espaços livres na
comunidade;
- 98,3% dos que moravam na favela antes das obras de urbanização
consideram que melhoraram os espaços para as crianças brincarem;
- 75,0% afirmam que depois das obras ficou mais fácil chegar em casa,
apontando com maior frequência a pavimentação e os novos acessos,
60
não deixando de enumerar com pesos equitativos a iluminação, a
construção de escadarias e o acesso de veículos.
Temos então que a participação dos moradores
cumpre um papel importante para a produção de
programas adequados, portanto com maiores
chances de serem sustentáveis e assim este
componente deve ser replicado. Não tivemos
registro de que a participação dos moradores de
modo interativo tenha provocado retardos ou
entraves aos programas. Por outro lado, onde ela
não ocorreu, verificamos inadequações. Assim,
argumento de que a participação pode atrapalhar o
desenvolvimento de programas deste tipo, pelo
menos nos casos pesquisados, não se confirmou
(“Parâmetros Técnicos para Urbanização de
Favelas” FUPAM/LABHAB/FAUUSP –
FINEP/CEF 1998/1999; p. 172).
Esta é apenas uma parte do que foi analisado quanto as
melhorias realizadas após as intervenções urbanísticas nessas locais.
Existe a necessidade que os moradores colaborem ajudando na
execução dessas melhorias assim como cuidem desses locais após as
mesmas serem realizadas. As intervenções realizadas trarão aos
moradores maior segurança, qualidade de vida, lazer, saúde,
mobilidade, entre outras melhorias a curto e longo prazo. Com a
manutenção e cuidado esses locais deixarão se ser bairros considerados
segregados atraindo atenção e trazendo novas classes sociais que irão
interagir e usufruir das melhorias ali realizadas, integrando-o com toda
cidade.
Considerações finais
61
Este trabalho teve como proposta principal levantar dados
geográficos e históricos da região e do território ocupado por parte da
população (que vivem nas áreas periféricas pobres), de forma a
apresentar a compreensão do problema. Analisou-se e foram propostas
intervenções urbanísticas de forma que essas possam integrar o bairro
segregado Padre Ulrico ao restante da cidade de Francisco Beltrão – PR,
assim como trazer aos moradores dessa área locais de lazer e
infraestrutura adequada.
Após o entendimento do que se trata a segregação sócio
espacial, como surgem as áreas segregadas e da forma que são tratadas
e vistas pelo restante da cidade, realizou-se uma pesquisa com base em
dados encontrados no IBGE e outros fornecidos por um artigo que
continha dados sobre uma pequena área do Bairro Padre Ulrico. Os
dados do IBGE nos mostram que o bairro estudado é o que possui maior
densidade populacional por domicilio da cidade de Francisco Beltrão –
Paraná, chegando a quase 4 habitantes por domicilio; segundo o artigo
seus moradores se encaixam no perfil de baixa renda (0 a 3 salários
mínimos), podendo assim ser considerado um bairro de população
carente.
Assim, percebeu-se que os moradores do Bairro Padre Ulrico,
apesar das diferenças que existem ali, tendem a um perfil
socioeconômico marcado por um baixo poder aquisitivo, fruto das
atividades que desenvolvem para obtenção de renda, ou seja, das
oportunidades de trabalhos que lhes são ofertadas, de seu papel na
divisão social do trabalho.
62
São pessoas que conseguiram encontrar um local próprio para
reproduzirem as suas vidas. Entretanto, essa reprodução se dá sem que
essa função seja realizada com êxito, dadas as condições de
infraestrutura, de serviços e bens de consumo ofertados naquele local.
As áreas segregadas funcionam como abrigos para aqueles que são
excluídos do processo de crescimento da cidade. Essa população sofre
um desenvolvimento desigual (espacial, econômico etc.) e passam a
lidar com alguns problemas sociais, que afligem mais duramente a
população pobre e socialmente vista como periférica, a exemplo, a
questão da violência.
O espaço de reprodução da vida para esses
moradores passa a ser o próprio bairro que é o
espaço consumido no qual criam uma identidade, e
que, pelo uso cotidiano, se apropriam para a
realização da vida, da vida em família, do lazer,
das brincadeiras na rua com os vizinhos, das
visitas, ida à igreja, reuniões de bairro, do
trabalho (MARES, 2013, p.17).
Esse desenvolvimento desigual pode ser visto nas diferentes
condições de moradia e acesso à residência as quais a maioria da
população está sujeita, em relação à infraestrutura urbana básica e na
situação em termos de renda e escolaridade da população. Observamos
que, em termos espaciais, embora haja uma clara relação centro áreas
segregadas, é observado que algumas áreas da cidade já apresentam
diferenças marcantes, tanto em termos de riqueza quanto em termos de
pobreza: é o caso dos assentamentos precários.
63
Aos moradores dessas áreas segregados como o Bairro Padre
Ulrico, o que se prevê é que dificuldades estarão ainda presentes em seu
dia a dia e que cabe ao Estado o papel de minimizar as desigualdades
sociais através da formulação de políticas públicas eficazes e que sejam
capazes de reduzir as desigualdades de maneira integrada e
democrática, trazendo para os moradores desses locais lazer,
infraestrutura adequada e qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BEDIN, M. V; NASCIMENTO, E. Urbanização e segregação socioespacial
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uma análise das desigualdades intraurbanas no município de São Gonçalo no
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pequenas cidades: um estudo de caso na cidade de Anadia Alagoas. 2010.
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64
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usuário da habitação minha casa minha vida em Francisco Beltrão-Pr.
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cidades. 2008. 68p.
VILLAÇA, F. Espaço Intra-urbano no Brasil. São Paulo. Câmara Brasileira
do Livro, 2001. 363p.
65
CAPÍTULO 4
ESTATUTO DA CIDADE: UMA PROPOSTA DE
REFORMA URBANA PARA FRANCISCO BELTRÃO,
PARANÁ
Cristiane Oliveira de Moura
Carlos Cassemiro Casaril
Introdução
O objetivo deste texto é apresentar uma breve análise do
que seria a reforma urbana e sua materialização com o Estatuto da
Cidade que traz vários instrumentos para elaboração de planos
diretores participativos, buscando a função social da propriedade
e o direito a cidade. Além de apresentar propostas para a
realização de uma pequena reforma urbana em Francisco Beltrão.
Iniciaremos expondo o histórico do rápido crescimento
urbano no país, citando o êxodo rural, mencionando também o
caso de Brasília e as cidades-satélites. Seguindo para o tópico que
tratará sobre o processo gradativo de ações para a criação do
Estatuto da Cidade.
66
Posteriormente, abordaremos o caso de Francisco Beltrão,
Paraná. No qual será manifestado sugestões que possivelmente
beneficiarão uma maior parcela da população, incluindo famílias
de classe social que hoje muitas vezes estão excluídas
politicamente e desfavorecidas socialmente. Além disto, buscar-
se-á demostrar a influência exercida pela especulação imobiliária
frente, a questão dos divisores topográficos, da preservação
ambiental e do avanço da expansão urbana horizontal.
Compreendendo Melhor a Proposta
Este trabalho tem como principal objetivo analisar a
discussão sobre a Reforma Urbana e, a partir dela tecer algumas
propostas, no sentido de, alcançar uma pequena Reforma Urbana
em Francisco Beltrão, Paraná. Ajustando e aperfeiçoando
determinados serviços e sistemas, estes, essenciais para a
população e para o desenvolvimento local e regional.
Para alcançarmos o objetivo principal, elencamos alguns
objetivos específicos, a) propor uma cidade para todos de maneira
justa, equilibrada e mais igualitária; b) recuperação de áreas em
desuso para fins sociais e comunitários; c) implantação do IPTU
progressivo para amenizar a segregação social, a especulação
imobiliária e a expansão horizontal desordenada; d)
67
reaperfeiçoamento de espaços e serviços públicos, tais como:
infraestruturas básicas, praças, passeios, etc.;
O referido trabalho se justifica pelo fato de não haver
neste município aplicações que abranjam estas ordens. E por
encontrarmos desequilíbrios sócios espaciais, segregação social e,
uma porção de negligências na gestão de alguns bairros.
Sobre o Crescimento Urbano Acelerado
O êxodo rural ocorrido no Brasil, sobretudo, entre as
décadas de 1950 e 1980, fez com que milhares de trabalhadores
rurais e pequenos proprietários rurais (expropriados) migrassem
para as cidades, atraídos por novas fontes de trabalhos, ofertas de
emprego, muitas em grandes indústrias da época, modelos de vida
urbano-industrial, ou seja, nosso país deixava de ser agrário-
exportador para se tornar urbano-industrial.
[...] nosso processo de urbanização elevou
drasticamente a demanda por empregos, moradia e
serviços públicos nas áreas urbanas, que já
abrigam quatro em cada cinco brasileiros. A partir
da crise mundial de 1929, que alcançou o ciclo do
café paulista e empurrou grandes contingentes de
desempregados em direção às cidades, passando
pelos efeitos da 2ª Guerra Mundial no estímulo à
produção fabril, até o final da década de 70 do
século XX, caracterizada por grandes
investimentos públicos em infra-estrutura de
transportes e comunicações, o Brasil foi marcado
por um processo de concentração progressiva e
68
acentuada da população em núcleos urbanos
(CHAFFUN, 1996 Apud BASSUL, 2002).
Tamanha movimentação de pessoas resultou na expansão
urbana desordenada, que transformou as cidades muito
rapidamente e assim, trouxe consigo inúmeras patologias. Que se
apresentam até a atualidade, algumas delas ligadas a deficiência
na mobilidade urbana, incompatibilidade das infraestruturas
municipais com o número de habitantes, isso quando há alguma
rede de saneamento básico, energético, drenagem urbana,
distribuição de água potável, sistema viário, gestão de resíduos
sólidos e meios de comunicação, além da falta de espaços
públicos bem planejados que atendam a população, dentre outros
serviços à sociedade.
Requisitos essenciais para preservar a saúde, mantendo a
população saudável e controlar a expansão territorial. Bem como
observou Ferreira (2005):
A insalubridade, as epidemias, decorrentes da
ausência de infraestrutura, como por exemplo o
saneamento básico, a violência, a alta densidade
urbana, eram marcas de uma parte da cidade, e já
mostravam a tônica do que viria a ser a cidade
brasileira do século XX (FERREIRA, 2005, p.5).
Em alguns casos, a migração foi tão densa que originou
novas cidades, como no caso da Capital Federal, Brasília é uma
das poucas cidades brasileiras que nasceu com um planejamento
69
urbano bem definido, atraindo ainda mais emigrantes, talvez por
isso, tenha como consequência as chamadas “cidades-satélites”,
sendo elas também chamadas em sua fase embrionária de
“cidades dormitório”, as quais não tinham autonomia política,
criadas inicialmente com o objetivo básico de acolher os cidadãos
que apenas trabalhavam em Brasília, elas contam ainda com
serviços básicos do ramo da saúde, educação, comércios locais e
espaços de lazer.
Estatuto da Cidade
A luta para que o poder público e político voltassem sua
atenção ao meio urbano, aconteceu em várias etapas. Inicialmente
não ocorreu de maneira fácil, nada tão simples.
Uma primeira discussão ocorreu em 1963, no Congresso
Nacional de Arquitetura e Urbanismo, realizado no Hotel
Quitandinha em Petrópolis, Rio de Janeiro. Neste Congresso,
uniram-se Urbanistas, Geógrafos, Economistas, Servidores
Sociais, dentre outras categorias e produziu-se um primeiro
esboço do que seria a Reforma Urbana. Esse era um tempo de
efervescência em nosso país, um momento que se pensava na
possibilidade concreta da realização das mais variadas
“Reformas”, como a Reforma Social, Sanitária, Econômica,
Política, Agrária, Urbana, dentre outras. Porém, em abril de 1964
70
veio à tona o Golpe Civil Militar no Brasil, o que por sua vez,
revogou com qualquer possibilidade de realização de Reformas.
O Movimento Nacional pela reforma urbana fortaleceu-se,
somente, na década de 1980, com organizações de movimentos
sociais voltados às melhorias urbanas, à função social da
propriedade e ao direito a cidade. Na construção da Constituição
de 1988, foi solicitado à implementação de medidas desta ordem.
Incluindo, portanto, na Constituição Federal, os artigos no 182 e
no 183 no Capítulo de Política Urbana. Em 10 de Julho de 2001
estes artigos da Constituição Federal, foram aprovados no
Congresso, a partir da lei 10.257/2001, cuja denominação ficou
conhecida como Estatuto da Cidade.
Aprovado após doze anos de tramitação no Congresso
Nacional, o Estatuto da Cidade traz para a sociedade em geral e
para gestores municipais uma gama de instrumentos urbanísticos
que, na realidade, procuram concretizar o “direito à cidade”.
Como informado na própria lei, busca-se materializar o “direito à
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao
lazer, para as presentes e futuras gerações” (Brasil, 2001).
Não se pode deixar de mencionar que o Estatuto da
Cidade, traz a obrigatoriedade para municípios acima de 20 mil
habitantes, da realização e implantação de Planos Diretores
71
Participativos, neste devem estar presentes os vários instrumentos
urbanísticos do Estatuto da Cidade.
A Materialização da Reforma Urbana em Francisco Beltrão,
PR: uma proposta!
Baseando-se em instruções legais, ou seja, fundamentos
do Estatuto da Cidade, buscar-se-á soluções viáveis para executar
um plano de Reforma Urbana em Francisco Beltrão, PR, que nada
mais é do que uma política de planejamento e gestão social, com
objetivos de democratizar o direito à cidade.
Tornando assim o munícipio com maior homogeneidade
social. Distribuindo benefícios de maneira justa a todos os
extratos sociais.
Através destas políticas fundamentais, dispor-se-á a cidade
de maneira mais organizada, afinal, terrenos vazios (que não
estejam cumprindo uma função social da propriedade, em áreas
servidas de boa infraestrutura urbana) terão utilidades de modo a
oferecer cidadania, lazer, educação e cultura, somando-se a estas
dimensões, outras de fundamentais importâncias à população, tais
como, segurança, acessibilidade e conforto.
Ou ainda, concentrar a expansão populacional em áreas
onde já há toda infraestrutura essencial instalada, impedindo o
crescimento horizontal desordenado e ainda mais distante de
72
pontos centrais. Também, na tentativa de instruir o trafego de
veículos, mercadorias e produtos, evitando grandes e caóticos
deslocamentos.
Consequentemente, uma boa parte do meio ambiente local
será poupado, principalmente os divisores topográficos, no caso,
os “topos” de morros que cercam a cidade, onde atualmente
observa-se cortes e intervenções que os degradam, com o intuito
de expandir a cidade formando novos loteamentos, o que por sua
vez, traz a tona o agravamento das enchentes na área urbana de
Francisco Beltrão.
Diante disso, a seguir referenciar-se-á tópicos de medidas
urbanísticas iniciais, para desenvolver a proposta de maneira mais
organizada.
a) Propor uma cidade para todos de maneira mais justa,
equilibrada e igualitária:
Observa-se que em vários bairros desta cidade, a situação
social e de infraestrutura é precária. Escassez de serviços básicos,
como rede de esgoto sanitário atinge um relevante número de
moradores em bairros periféricos ao centro, em diagnóstico
realizado in loco, constou-se que no caso da Cidade Norte, onde
os bairros iniciaram sua formação por volta da década de 80 –
segundo informação verbal de funcionários da secretaria de
73
urbanismo do município, apenas no início de 2015 iniciaram-se as
obras de implantação da tubulação para coleta de esgoto. Estima-
se que a conclusão geral da obra será de 600 dias, iniciada em
30/09/2014 até 22/05/2016. Podendo ser prorrogado conforme
tramitação legal jurídica. Além de parte de domicílios em bairros
como: São Miguel, Novo Mundo, São Francisco e São Cristóvão.
74
Figura 1: À esquerda mapa da cidade com numerações (1-3) e linhas de chamadas com nome dos bairros.
75
À direita, quadro explicativo das numerações.
Fonte: SANEPAR, 2014. Org.: MOURA, C. O. 2015.
76
Índices de violência, segundo noticiários locais, são mais
comuns nas periferias, locais estes onde se concentra alta
densidade populacional de baixa renda, e menor nível de
escolaridade. Para estes, sobretudo, para o bairro Padre Ulrico,
defende-se a reivindicação da população, ou seja, a implantação
de uma “base física” da Polícia Militar e uma maior integração
desta com a comunidade local.
Objetivando uma cidade para todos de maneira mais justa
na distribuição de recursos, serviços, benefícios,
acompanhamentos e manutenção de tais em todo o território
municipal, equilibrando assim uma melhor condição de vida a
todos os munícipes, com segurança e dignidade.
b) Recuperação de áreas em desuso para fins sociais e
comunitários:
Ao se percorrer a área urbana de Francisco Beltrão, pode-
se encontrar uma infinidade de terrenos em ociosos (se valendo da
especulação imobiliária), portanto, terrenos que não cumprem
uma função social da propriedade urbana, principalmente no
centro principal e bairros vizinhos, alguns apresentam vegetações
densas, características gerais que dão a impressão de abandono já
há vários anos.
77
Figura 2: À esquerda, terreno baldio R. Florianópolis B. Centro. À direita,
terreno baldio R. Palmas B. Nossa Senhora Aparecida.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
Figura 3: À esquerda, terrenos baldios R. Giocondo Felipe B. Vila Nova. À
direita, terrenos baldios R. Niterói B. Nossa. Senhora. Aparecida.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
Dentro da lei (Estatuto da Cidade) espaços ociosos com
estes atributos, que não cumprem uma função social da
propriedade urbana, e estejam localizados em áreas dotadas de
boa infraestrutura urbana, devem seguir determinadas ordens:
Edificação/Parcelamento compulsório – Obriga o
proprietário a edificar ou parcelar o terreno, enfim
utilizar a área (dar uma função social a propriedade);
IPTU progressivo no tempo – O proprietário do
terreno subutilizado será notificado, caso não cumpra o
78
que está estabelecido no Plano Diretor, o poder
municipal pode aplicar um aumento da alíquota do
IPTU, até no máximo de 15% do valor do imóvel. Após
cinco anos de cobrança do IPTU progressivo (se o
proprietário não der uma função social à propriedade),
o município irá desapropriar o local, pagando ao
proprietário o valor venal da propriedade (e não o valor
de mercado) com títulos da dívida pública resgatáveis
em dez anos.
Diante da desapropriação, propõem-se a instalação de artifícios
voltados à interação e desenvolvimento social, dentro das áreas
culturais, esportivas, recreativas, capacitação, e educação, visto que no
próprio município há bons exemplos, vejamos as imagens abaixo, ou
ainda locais de produção orgânica, como por exemplo, hortas urbanas
comunitárias.
Figura 4: Fotografias do Parque Marrecas no bairro Alvorada. Com pista de
caminhada, áreas para descanso, contemplação e espaço para prática de esporte
ao ar livre. Desenvolvendo recreações e interação social.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
79
Figura 5: À esquerda, pista de atletismo e campo de futebol no bairro São
Cristóvão. À direita, pista de skate, em frente ao campo e a pista de atletismo
no bairro São Cristóvão.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
Figura 6: Imagens de uma praça bem estruturada no município, localizada no
bairro Vila Nova, acima, playground; centralizada, observa-se a arborização,
postes de iluminação e pavimentação adequada; abaixo, espaço para prática de
esportes ao ar livre, no caso, uma tabela e cesta de basquete, além da caixa de
areia para divertimento infantil.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
80
Além desses bons exemplos que já se demonstraram
possíveis de se implantar na cidade, podemos somar como
proposta mais inovadora, as hortas urbanas comunitárias, onde
nada mais são que, espaços organizados como canteiros de
legumes, hortaliças e verduras, criados pela própria população
daquela área, que preparará a terra com adubação, covas,
irrigação, semeadura, e cultivará estes alimentos, para o consumo
coletivo. Visto que o Governo Federal incentiva com recursos
financeiros à criação destas hortas, como é o caso do município
de Maringá, no Paraná.
Figura 7: À esquerda publicação no site da prefeitura de Maringá, divulgando
a fotografia de uma horta comunitária periurbana e a contemplação de R$2
milhões de vindos do Governo Federal para o programa das hortas
comunitárias. À direita, fotografia de uma horta urbana em São Paulo,
organizada pela ONG “Cidade Sem Fome”.
Fonte: https://catracalivre.com.br/geral/sustentavel/indicacao/ong-cidades-
sem-fome-desenvolve-projetos-de-hortas-urbanas-em-sao-paulo/ São Paulo,
2014.
81
c) Implantação do IPTU progressivo para amenizar a segregação
social, a especulação imobiliária e a expansão horizontal
desordenada:
Como já citado no tópico anterior, referente ao IPTU
progressivo, Raquel Rolnik (2001), apenas reforça que:
[...] áreas vazias ou subutilizadas situadas em áreas
dotadas de infraestrutura estão sujeitas ao
pagamento de IPTU progressivo no tempo e a
edificação e parcelamento compulsórios, de acordo
com a destinação prevista para a região pelo Plano
Diretor. A adoção deste instrumento pode
representar uma luz no fim do túnel para as
cidades que em vão tentam enfrentar a expansão
horizontal ilimitada, avançando vorazmente sobre
áreas frágeis ou de preservação ambiental, que
caracterizam nosso urbanismo selvagem e de alto
risco (ROLNIK, 2001, p.01).
O IPTU progressivo obriga os proprietários de terrenos a
utilizá-los, mais do que isto, impede o avanço da especulação
imobiliária, tornando a cidade mais adensada verticalmente e
espaços com valores (teoricamente) mais acessíveis.
d) Reaperfeiçoamento de espaços e serviços públicos, tais
como: infraestruturas básicas, praças, passeios, etc.
Juntamente com o que já fora exposto sobre a
precariedade de determinadas áreas da cidade, tem-se ainda outros
pontos que merecem atenção. São praças, passeios/calçadas,
82
Academias da Terceira Idade (ATI), campos de futebol, pistas de
skate e atletismo, ginásios de esportes, centros comunitários,
dentre outros.
Observa-se que na grande maioria dos bairros, pelo menos
cinco destes itens anteriores, constam – praças, passeios, ATI,
campos e centro comunitários. Porém não basta apenas implantá-
los, é necessário acompanhamento, manutenção e agora,
recuperação de certos pontos, onde não há pavimentação
adequada tanto em calçadas quanto em praças, onde nem se quer
há iluminação suficiente.
83
Figura 8: À esquerda: ATI bairro São Cristóvão – escassez de iluminação
pública e, à direita: Rua Ardelino Martini esquina com a Rua Francisco
Comunello, bairro Sadia – sem acessibilidade adequada à calçada.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
Figura 9: Rua Ardelino Martini, bairro Sadia – mal estado de calçada em outro
trecho, à esquerda e, à direita verifica-se o mal estado da pavimentação
asfáltica.
Fonte: MOURA, C. O. 2014.
Considerações Finais
Para conquistarmos uma sociedade fraterna, integrada,
saudável e rica, precisamos atentar fielmente ao trabalho com
seriedade, objetivando o progresso de maneira justa e ampla. Sem
exclusões populacionais.
É necessário sensibilização e transparência política dos
poderes governantes.
É fundamental a voz do povo (participação popular),
cobrando e exigindo a aplicação da lei. Conhecer nossos direitos e
usufruir deles. E, nisso os urbanistas, geógrafos, sociólogos,
economistas, advogados, dentre outros profissionais teriam um
papel imprescindível, de tornar a legislação urbanística e social
84
clara ao senso comum como um todo e, estes profissionais ao lado
da população tem o dever de exigir e fiscalizar a aplicação da lei e
da elaboração de planos diretores participativos.
Considerando todo o exposto e visando melhorias,
propomos que além das manutenções necessárias as áreas
precárias, os espaços subutilizados podem receber estruturação
para o desenvolvimento de hortas comunitárias, pavilhões para
prática de esportes olímpicos, muitos ainda desconhecidos aqui,
como esgrima, tiro com arco, etc., espaços públicos
aconchegantes para prática de meditação, yoga, leitura ao ar livre,
convívio, etc., pracinhas com diferenciais especiais, como:
playground às crianças, atrativo aos jovens, assentos e
estruturação aos adultos, segurança e acessibilidade aos idosos.
Dentre infinitas outras intervenções (sempre levando em conta a
cultura local), que além de embelezar a cidade proporcionam bem
estar e qualidade de vida a todos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASSUL, José Roberto. Reforma urbana e Estatuto da Cidade. EURE
(Santiago), Santiago, v. 28, n. 84, sept. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0250-
71612002008400008>. Acesso em 10 de Outubro de 2014.
BRASIL. Lei Nº 257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade). Diário
Oficial da União, Seção I (Atos do Poder Legislativo). Edição Nº 133, de
11/7/2001. Brasília, 2001.
85
FERREIRA, J. S. W. A cidade para poucos: breve história da propriedade
urbana no Brasil, “Interfaces das representações urbanas em tempos de
globalização”, UNESP Bauru e SESC Bauru, 21 a 26 de agosto de 2005.
MARICATO, E. 2013, O direito à cidade depende da democratização do
uso e a ocupação do solo, Rede Mobilizadores COEP. (Entrevista). Disponível
em: <http://erminiamaricato.net/2014/04/08/o-direito-a-cidade-depende-da-
democratizacao-do-uso-e-a-ocupacao-do-solo/>. Acesso em 22 de Outubro de
2014.
MARINGÁ, 2013. Programa Hortas Comunitárias será contemplado com
R$ 2 milhões do Governo Federal. Disponível em:
<http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=466057b5e85546&id=
18428> Acesso em 30 de Maio de 2015.
ROLNIK, R. Estatuto da Cidade - instrumento para as cidades que
sonham crescer com justiça e beleza, 2001. Disponível em:
<http://200.169.104.5/uploads/814/814.pdf>. Acesso em 22 de Outubro de
2014.
REDAÇÃO CATRACA LIVRE, 2014. ONG Cidade Sem Fome desenvolve
projetos de hortas urbanas em SP. Disponível em:
<https://catracalivre.com.br/geral/sustentavel/indicacao/ong-cidades-sem-
fome-desenvolve-projetos-de-hortas-urbanas-em-sao-paulo/> Acesso em 30 de
Maio de 2015.
SOUZA, M. L. de, ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003.
86
CAPÍTULO 5
INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS PARA A SOLUÇÃO
DAS ENCHENTES NA CIDADE DE CHOPINZINHO – PR
Edson Ricardo Poletto
Marcelo Somavila
Adriana Kunen
Introdução
Com o aumento populacional nos espaços urbanos, muitas
vezes desordenados, em regiões com pouca análise e planejamento,
fazendo com que alguns fatores influenciam diretamente na qualidade
de vida dos usuários nesses espaços urbanos, as enchentes causadas por
falta de permeabilidade do solo, chuvas intensas, pouco afastamento da
urbanização dos leitos dos rios que cruzam as cidades, lixo obstruindo o
deslocamento do rio, entre outros fatores.
A cidade abordada para análise é Chopinzinho, localizada no
sudoeste do estado do Paraná com aproximadamente 19.752 habitantes
(IPARDES, 2013), clima subtropical semiúmido e índice pluviométrico
anual que varia de 1400 a 1800 milímetros, vem enfrentando em épocas
de chuvas intensas, problemas de enchentes em pontos específicos no
87
espaço urbano, causando sérios danos ambientais e socioeconômicos à
população.
Este artigo apresentará dados, históricos nacionais e municipais,
análises e intervenções para minimização do problema gerado pelas
enchentes. Para contemplação destes dados foram coletadas
informações de fontes bibliográficas referentes à temática abordada,
também algumas entrevistas junto a Prefeitura Municipal de
Chopinzinho, mais especificamente na Secretaria de Agricultura e Meio
Ambiente.
O objetivo principal deste trabalho foi desenvolver e levantar
informações referentes à problemas e consequências geradas pelas
enchentes, para alcançarmos nosso objetivo principal, elencamos alguns
objetivos específicos, a) levantamentos de bibliografias, dados e
históricos referente a enchentes; b) estudos relativos aos pontos
específicos da cidade de Chopinzinho com problemas de enchentes; c)
análise das intervenções para a minimização dos problemas gerados
pelas enchentes.
Esse trabalho se justifica pela falta de estudos relacionados ao
tema, sobretudo em se tratando da cidade abordada.
Histórico de enchentes, inundações e alagamentos
O processo de urbanização brasileira, fez com que muitas
famílias deixassem a zona rural para morar nas cidades, o chamado
êxodo rural provocou uma grande aglomeração de pessoas, atraídas por
expectativas de melhores condições de vida.
88
Com o desenvolvimento urbano, ocorre a impermeabilização do
solo através de telhados, ruas, calçadas e pátios, entre outros. Dessa
forma, a parcela da água que infiltrava passa a escoar pelos condutos,
aumentando o escoamento superficial. O volume que escoava
lentamente pela superfície do solo e ficava retido pelas plantas, com a
urbanização, passa a escoar no canal, exigindo maior capacidade de
escoamento das seções.
Partindo do princípio natural, quando há ocorrência de chuvas
intensas, o leito de um rio ou córrego recebe uma quantidade muito
grande de água e não tem a capacidade de suportá-la, acaba
transbordando e causando as inundações. Esse processo é natural e todo
rio precisa ter uma área chamada de “área de inundação” para a qual a
água irá escoar.
Como não há um controle e nem uma fiscalização, um dos
grandes problemas que causam as enchentes, inundações e alagamentos
nas cidades, são a ocupação desordenada dessas áreas ribeirinhas,
fazendo com que em épocas de chuvas, essas casas que estão muito
próximas dos rios sejam invadidas pelas águas.
Conforme a ilustração da Figura 1 abaixo se pode identificar a
diferença entre enchente, inundação e alagamento.
89
Figura 1: Ilustração da diferença entre enchente, inundação e alagamento.
Fonte: Defesa Civil de São Bernardo do Campo, SP.
Outro fator muito importante, no que diz respeito às
inundações, é que junto com a grande urbanização que começou a
ocorrer depois da revolução industrial, em sua maior parte o processo
foi feito sem nenhum tipo de planejamento, não pensando no
dimensionamento de galerias pluviais e principalmente na grande área
de impermeabilização do solo que nos grandes centros é uma das
principais causas das enchentes, aliada ao grande acumulo de lixo que
se concentra trancando as galerias, não deixando a água escoar.
Um dos primeiros casos de enchentes registrados no Brasil é
datado de 1855, o fato foi registrado através de uma carta de Bruno Otto
Blumenau, fundador da colônia onde hoje é a cidade de Blumenau-SC,
no documento ele relata que em menos de 36 horas o Rio Itajaí-Açu
subiu algo em torno de 15 metros do seu leito normal. (RIBEIRO,
2014).
90
No ano de 1941 ocorre uma das maiores enchentes da cidade de
Porto Alegre/RS (Figura 2), o lago Guaíba alcançou a cota de 4,75
metros, entre os meses de abril e maio, somando 791mm, deixando 70
mil pessoas desabrigadas. (RIBEIRO, 2014).
Figura 2: Enchente de Porto Alegre-RS, 1941.
Fonte: Acervo do Museu Joaquim José Felizardo.
Com o passar dos anos os casos de enchentes foram se tornando
mais frequentes, a região Sudeste é uma das mais afetadas por este
fenômeno, pois ali concentram-se os principais estados que tiveram sua
urbanização acelerada e desorganizada, São Paulo e Rio de Janeiro,
além do estado de Minas Gerais (Figura 3) e, também o Espírito Santo
têm um histórico muito grande de enchentes. (RIBEIRO, 2014).
91
Figura 03: Enchente de Ipatinga, localizada no Vale do Aço-MG, 1979.
Fonte: Acervo do historiador José Augusto Moraes.
Segundo Ribeiro (2014), em 2009 o estado do Amazonas
(Figura 4) teve 40 dos 62 municípios em estado de calamidade pública.
As fortes chuvas atingiram uma enorme região entre os estados do
Norte e Nordeste do País deixando 186 mil pessoas desabrigadas.
Figura 4: Enchente de Trizidela do Vale-MA tem quase 90% da população
atingida, 2009.
Fonte: Acervo de Antônio Cruz/ABr.
92
Como não poderia ser diferente o estado do Paraná também
entra nas estatísticas com problemas relacionados às enchentes,
municípios como Francisco Beltrão (Figura 5) que nos últimos anos tem
sofrido com várias catástrofes, destruindo várias casas e trazendo
prejuízos para as famílias e para a administração pública.
Figura 5: Enchente de Francisco Beltrão-PR, 2014. O rio Marrecas chegou a
5,9 metros acima do nível normal.
Fonte: Leandro Czemiaski/Imprensa Prefeitura Municipal de Francisco
Beltrão.
No município de Chopinzinho (Figura 6 e 7), objeto de estudo
deste trabalho, os anos de 2013 e 2014 foram um marco negativo na
história, pois registrou-se várias enchentes em diferentes pontos da
cidade.
93
Figura 6: Enchente de Chopinzinho-PR, junho 2014. Mais de 30 famílias
desabrigadas.
Fonte: Francione Pruch/RBJ Chopinzinho.
Figura 7: Enchente de Chopinzinho-PR, junho 2014.
Fonte: Francione Pruch/RBJ Chopinzinho.
94
O município conta com cerca de 20 mil habitantes, destes
12.508 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2014) moram na área urbana. Ao longo dos últimos 30 anos a
população aumentou muito na área urbana, acompanhando o que
aconteceu em nível nacional, a desenfreada e desordenada ocupação por
parte principalmente da população mais carente, que procurou locais pra
se instalarem irregularmente próximas aos leitos dos rios, ajudou a
provocar os prejuízos a elas mesmas, pois com o acúmulo de água suas
residências são invadidas e acabam por perderem seus bens.
Caracterização da área de estudo
Localização no estado e limites
O Município de Chopinzinho está situado na Mesorregião
Sudoeste Paranaense, que está localizada no Terceiro Planalto
Paranaense. A Mesorregião Sudoeste faz fronteira a oeste com a
Argentina, através da foz do rio Iguaçu e ao sul com o Estado de Santa
Catarina. Possui como principal divisa ao norte o rio Iguaçu.
O município (Figura 8) faz limite com oito municípios, nas
seguintes direções: Coronel Vivida ao Sul, Mangueirinha, Foz do
Jordão à Leste, Candói, Porto Barreiro, Saudade do Iguaçu e Rio Bonito
do Iguaçu ao Norte e Sulina e São João à Oeste.
95
Figura 8: A esquerda visualizamos a Localização do Município no Estado e a
Direita visualizamos os Limites do Município de Chopinzinho
Fonte: Wikipedia, 2013; Base Cartográfica da SEMA, 2013.
Clima
O clima predominante na região é o clima subtropical
semiúmido. Apresenta verões quentes e, geadas pouco frequentes, as
quais costumam ocorrer, quase sempre após os dias de chuva, devido ao
vento sul, com ar frio da frente polar. Temperatura Média 19° Celsius.
A temperatura máxima registrada até o presente momento foi de 38º
Celsius e a mínima de 2º Celsius. (IAPAR, 2012).
No que se refere à precipitação, o índice pluviométrico anual
varia de 1400 a 1800 milímetros, com boa distribuição durante o ano
todo, sendo que os meses de maior precipitação para a região são:
março, abril e maio. O vento predominante é o da direção nordeste.
Estes dados historicamente comprovados por medições feitas
diariamente, são de extrema importância, para qualquer
dimensionamento que se venha a fazer para as tubulações de galerias
pluviais, porém, ultimamente o índice de precipitação em curto espaço
de tempo é muito alto, aumentando repentinamente o volume de água,
como o dimensionamento, muitas vezes antigo, das galerias pluviais,
96
não suportam a quantidade de água e com a ajuda do lixo que se
acumulam, causam o entupimento de bueiros contribuindo com as
enchentes e inundações.
Relevo
O relevo apresenta a cota máxima de 919 metros no extremo
sudeste do território, junto à divisa com o município de Mangueirinha.
A cota mais baixa está na barra do rio Luciano com o Iguaçu, no
extremo nordeste do município, com cotas em torno de 500 metros. O
relevo municipal é fortemente ondulado, com desníveis de até 200
metros ao longo dos vales escavados nos derrames de basalto. (Plano
Diretor Chopinzinho, 2007).
No que se refere ao relevo dos rios que atravessam a área
urbana do município, deve ser levado em consideração o fraco desnível
que os rios apresentam, facilitando assim o acúmulo de lixo pela fraca
vazão que possui.
Hidrografia
O município de Chopinzinho apresenta em seu território quinze
bacias hidrográficas, sendo elas compreendidas, bacia do córrego São
Pedro, bacia do rio Mirim, bacia do rio Capivara, bacia do rio Fartura,
bacia do rio Pedrosa (onde se encontra o corpo do manancial de
abastecimento público), bacia do lajeado Grande, bacia do rio Campina,
bacia do rio Chopinzinho, sendo essa bacia a de maior extensão
territorial, bacia do córrego Água Branca, bacia do rio Bugre, bacia do
97
rio Barra Grande, bacia do Rio Iguaçu, bacia do Rio Luciano, bacia do
Rio Palmeirinha e bacia do Rio Lajeado Grande dos Índios.
Histórico de alagamentos na cidade de Chopinzinho-PR
Conforme informações da secretaria de Agricultura e Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal de Chopinzinho constatou-se que
uma das primeiras enchentes que se tem registro na área urbana é datada
da década de 1980, mais precisamente no ano de 1982, onde o leito do
Rio Pedrosa transbordou e a água invadiu 5 casas que na época tinham
sido construídas muito próximas ao leito natural do rio, não respeitando
o seu leito maior.
Da década de 1980 aos dias atuais a cidade cresceu, como
consequência desse crescimento a urbanização acompanhou o ritmo
acelerado pela busca de moradia, as pessoas continuaram construindo
suas casas próximas ao leito dos rios e pela falta de fiscalização
acabaram por serem regularizadas nestes locais.
Porém a bacia hidrográfica do Rio Pedrosa, principal Rio que
do meio urbano do município tem pouca vazão em virtude de sua
declividade muito baixa, por consequência disso quando há ocorrência
de chuvas intensas o rio transborda, agravando ainda mais a situação
das famílias.
O manancial de captação de água no Município de Chopinzinho
está incluso na Bacia Hidrográfica do Rio Pedrosa (Figura 9), onde a
captação de água da Sanepar é realizada ao final da formação da bacia.
98
A figura 09 mostra a bacia do Rio Pedrosa desde a nascente até a
captação da água pela SANEPAR.
Figura 9: Visualização da Bacia de Captação do Rio Pedrosa levantada no
Programa Track Maker.
Fonte: Prefeitura Municipal – Departamento de Meio Ambiente, 2013.
Observando a figura, e ainda de acordo com informações da
mesma secretaria da prefeitura, notamos que a nascente do Rio Pedrosa
fica em torno de 15km da estação de captação de água, na localidade de
Linha Santo Antônio. Situa-se no divisor de águas com o município de
Coronel Vivida.
Ao longo do seu percurso o Rio Pedrosa vai recebendo
ramificações de rios menores, sangas e córregos. Um ponto muito
99
importante no que diz respeito ás enchentes causadas na área urbana,
são a conservação do solo nesta área da bacia com cerca de 2.374,17
hectares ou 23,74 Km². (KURPEL, 2013).
Considerando o uso do solo, destaca-se a maior parte do
parcelamento, usado por agriculturas temporárias (soja, milho, trigo,
etc), demais áreas usadas para criação de animais, como bovinos de
leite e de corte. O percentual de cada uso do solo não tem levantamento,
sendo que nas áreas de preservação permanente tem um múltiplo-uso,
agricultura temporária e pastagens. (KURPEL, 2013).
Contribuições para erosão e assoreamento do leito do rio são
evidentes devido a má pratica empregada na cobertura de solo, em
determinadas regiões da bacia, potencializando o problema devido o
rebaixamento de murundus em lavouras. Causa essa vista, em
problemas relacionadas as enchentes já ocorridas.
A figura 10 a seguir nos mostra os principais pontos de
alagamentos na cidade de Chopinzinho – PR, estes locais
principalmente no ano de 2013 e 2014 sofreram com enchentes.
100
Figura 10: Pontos de alagamentos na área urbana de Chopinzinho.
Fonte: Prefeitura Municipal de Chopinzinho: Editado pelo autor
Ao observarmos o mapa acima verificamos que os pontos de
alagamentos são isolados, isso se deve muito pelo fato de nesses pontos
não ter sido respeitado as margens dos rios, onde a população acabou
construindo sem projetos e a época não existia fiscalização para coibir
tais construções.
Mais um fato que chama a atenção para a contribuição das
enchentes diz respeito à canalização das águas pluviais que
praticamente em sua totalidade são lançadas diretamente nos rios
aumentando significativamente o volume de água em épocas de chuvas
intensas.
Aliado a isso, ainda temos a grande quantidade de lixo que se
acumula ao longo do percurso dos rios muito devido aos cursos d‟agua
serem meandrados, isto é, o rio procura seu equilíbrio dinâmico, se
101
tornando cheio de curvas, possibilitando mais facilmente o acumulo de
sedimentos, facilitando às enchentes.
Intervenções para minimização do problema de enchentes e
alagamentos na área urbana no município de Chopinzinho-PR
No início do ano de 2013, fortes chuvas, típicas desta época do
ano, porém com maior intensidade, castigaram toda a região, e em
Chopinzinho não foi diferente, um grande volume de água atingiu a
cidade, cerca de 140 mm em quatro horas. Como a superfície está
bastante impermeabilizada, o escoamento superficial aumenta e
consequentemente o leito natural e o leito maior do rio acabam por
transbordar causando catástrofes naturais.
Muitas destas catástrofes poderiam ser evitadas, se no decorrer
dos anos medidas contingentes tivessem sido tomadas, no caso
específico respeitar os limites de ocupação nas áreas de APP‟s (Área de
Preservação Permanente), acúmulo de lixo no leito dos rios entre outros.
No ano de 2013, no sentido de minimizar os impactos causados
pelas chuvas torrenciais, o município de Chopinzinho, através da
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente desenvolveu um estudo de
levantamento de dados sobre as principais causas de alagamentos. Com
o estudo viabilizou algumas medidas, juntamente com órgãos federais e
estaduais, no sentido de poder resolver os problemas causados pelas
fortes chuvas que castigaram as cidades em dois períodos: início de
janeiro de 2013 e no mês de julho de 2014.
102
Desassoreamento e limpeza dos rios
O desassoreamento de um rio nada mais é do que a retirada de
terra do fundo dos rios para que a água tenha mais espaço para o
escoamento pelo seu leito natural, esse trabalho é feito em muitas
regiões para que se evite transbordamentos em épocas de precipitações
pluviométricas de grandes intensidades que possam vir a trazer
prejuízos aos cidadãos, tanto social quanto economicamente.
O principal trabalho da administração pública de Chopinzinho
no que diz respeito aos alagamentos ocorridos no município, está ligada
à limpeza da calha dos rios que naturalmente atravessam a cidade.
Esses problemas começam bem longe da área urbana, no início
da bacia do Rio Pedrosa o mesmo vai recebendo, ao longo de seu
percurso, vários corpos estranhos, por vários motivos, sejam eles de
causas naturais ou por intervenções humanas. Em entrevista junto a
Prefeitura, constatamos que na última atividade feita para a limpeza da
calha dos rios, inúmeros foram os objetos encontrados e retirados, tais
como: pneus, plásticos, galhos de árvore, carcaça de automóveis e
muitos outros.
O assoreamento, advindo da má conservação do solo agrícola
ao longo do rio, a falta de Áreas de Preservação Permanentes que
ajudam a conter a terra que pode chegar ao leito através de enxurradas,
o próprio lixo acumulado ao longo do percurso, são fatores que ajudam
e muito no aumento das águas na calha natural dos rios propiciando
103
assim, que em fortes chuvas, as águas desviem o seu percurso invadindo
espaços públicos e particulares trazendo prejuízos consideráveis.
Juntamente com o desassoreamento e limpeza dos rios, será
feita intervenções no sentido de alargamento da calha natural dos rios,
nos pontos que mais sofrem em épocas de enchentes. Esse alargamento
consiste numa espécie de margem superior à calha natural também
chamada de margem do leito maior, onde a água irá escoar quando o
volume do rio não for suportado pela margem do leito menor.
Isso permite que o acúmulo de água que possa transbordar a
calha natural do rio, antes de chegar às casas tenha esse espaço como
opção de escoamento, diminuindo consideravelmente os prejuízos.
Esse trabalho será realizado pela prefeitura de Chopinzinho,
acompanhado pelo engenheiro ambiental Kennithy Kurpel.
Substituição de pontes e tubos
Ainda no sentido de minimizar os impactos causados pelas
precipitações repentinas e de grande intensidade, a administração
pública do município interviu de maneira ampla e intensiva nos pontos
mais fortes de alagamentos da área urbano no que diz respeito a
substituição de postes e tubos.
Relatos de moradores destacam que, a substituição de pontes e
tubos foi um dos principais fatores que contribuíram de forma
104
significativa na diminuição da grande quantidade de água que
transbordava em épocas de chuvas.
Os tubos eram subdimensionados, e não suportavam a
quantidade de água que por eles passavam, em vários pontos já nem
existiam mais tubos inteiros, estavam quebrados e muito velhos. Foram
feitos cálculos de vazão para que sua substituição fosse feita de maneira
a não subdimensionar a tubulação desses pontos.
Intervenções com o apoio do Estado, possibilitaram a
substituição de pontes em dois locais de extrema necessidade, vias de
grande fluxo de veículos e pessoas que em épocas de chuvas não tão
intensas acabavam transbordando e impossibilitando a trafegabilidade.
Com a sua substituição a ligação entre os bairros e o centro ficou mais
acessível e menos perigoso em épocas de chuvas torrenciais.
Retificação do leito do rio
No ano de 2014, após os alagamentos no mês de junho, a
prefeitura propôs que uma parte do rio Pedrosa fosse retificado,
diminuindo assim as várias curvas naquele ponto específico facilitando
o escoamento da água.
Devido à importância da obra a ser realizada e a ação antrópica
prevista, no intuito de estancar problemas relacionados com enchentes
105
no rio Pedrosa, que ocasionaram alagamentos em áreas residenciais,
buscou-se alternativas para tal problema. Depois de tomados os
conhecimentos sobre todos os aspectos relevantes, foram desenvolvidas
medidas para que o processo de retificação do Rio Pedrosa fosse
realizado. Essa análise foi realizada pelo perito e engenheiro ambiental
da prefeitura de Chopinzinho, Kennithy Kurpel.
A obra em questão, busca, no sentido social, a minimização do
impacto sobre as famílias que já sofreram com os sinistros já ocorridos,
bem como a questão da saúde pública, que por contato com a água suja
dos alagamentos, cheia de lixos acabam por poderem contrair alguma
doença e ainda na questão de segurança dessas famílias.
Quando se fala em retificar um rio vemos que além da mudança
do traçado do curso d`agua, teremos a melhora no escoamento da
mesma, recuperação de sua marginal e até mesmo possibilidade de
navegação em casos de rios maiores.
Dentre vários aspectos relevantes no que tange a retificação de
um rio vale ressaltar alguns aspectos, tais quais: dimensionamentos,
métodos a serem empregados como: escavações, nivelamento,
compactação, escoramento entre outros.
Todos esses aspectos têm o seu grau de importância e
complexidade dentro do contexto de retificação do rio, portanto devem
ser feitos estudos específicos para cada caso. No Rio Pedrosa, esses
aspectos foram estudos e tabelados para que fossem seguidos
rigorosamente todas as etapas, a seguir segue a tabela com as
considerações:
106
Tabela 1: Atividades para Retificação do Rio Pedrosa
Ordem de
Execução Manejo Descrição
Primeira Escavação
- Local inicial, abaixo da Rua Frei Everaldo;
- Retirada de toda a camada vegetal;
- Dimensionamento dos cortes no solo;
- Abertura e retirada de solo;
Segunda
Nivelamento e
Dimensionamento do
Canal
- Locar o eixo do canal retificado no escavo;
- Dimensionar as áreas de aterramento;
- Fazer o levantamento altimétrico do fundo
do canal retificado, deixando nas mesmas
proporções com o fundo do leito do rio
Pedrosa.
Terceira Compactação
- Realizar a compactação, o cascalhamento e
novamente a compactação do fundo do canal
retificado;
- Transpor o solo novamente a área de
aterramento, realizando a compactação de
cada camada depositada.
Quarta Encoramento
- Realizar o sistema de encoramento em
todas as margens do canal retificado,
apresentando uma largura de 60 centímetros
e altura de 3,60 metros, utilizando pedra
rachão, realizando a compactação.
Quinta Recomposição
Florestal
- Realizar a Recomposição e a restauração da
área afetada, buscando o equilíbrio ecológico
do local e a estabilidade da área.
Fonte: Prefeitura Municipal de Chopinzinho
A figura 11 a seguir mostra na fase de estudo como que ficará o
Rio Pedrosa depois da retificação, onde temos: linhas azuis claras em
curva – Percurso Natural do Rio Pedrosa, linhas amarelas próxima a
mata – Locais de Retificação, construção do Novo Leito do Rio
Pedrosa; e linhas vermelhas, linhas próxima as casas – Rua Frei
Everaldo com a Rua das Pitangueiras (Bairro São José). (KURPEL,
2013).
107
Figura 11: Localização das áreas de retificação.
Fonte: Prefeitura Municipal de Chopinzinho.
Notadamente percebeu-se uma significativa melhora no que diz
respeito ao nível d`agua que passa pelo percurso delimitado na pesquisa
e posteriormente executado o serviço de retificação do Rio Pedrosa.
Este serviço trouxe um pouco de alívio aos moradores do bairro
São José de uma maneira geral e em específico aos mais próximos das
margens do Rio. O efeito positivo trazido pela execução do serviço de
retificação do rio, aliado aos outros serviços executados amenizou
notoriamente o efeito trazido pelas fortes chuvas.
Considerações finais
Ao finalizar os estudos sobre este trabalho, notoriamente
percebe-se alguns problemas em potencial causados pelas enchentes e
alagamentos na cidade de Chopinzinho, constata-se que há a extrema
108
necessidade de intervenções urbanísticas na reestruturação da cidade,
como forma de minimizar os impactos alarmantes que estão
acontecendo.
Os trabalhos já realizados para a minimização dos prejuízos
causados pelas devastadoras chuvas que precipitam em poucas horas,
têm solucionado os problemas temporariamente, pois com o acúmulo de
lixo que ainda acontece, a precariedade das tubulações pluviais, a falta
de manutenção de todos os sistemas, ainda é notória, por isso os
trabalhos e estudos neste contexto são de grande importância para
resolver a situação e não deixá-la se alastrar e trazer mais prejuízos de
ordem social e econômica, tanto para a administração pública quanto
para os moradores de modo geral, mas principalmente por aqueles
afetados diretamente com as catástrofes.
Porém, algumas soluções para estes problemas dependem de
questões financeiras do município, outras soluções mais fáceis de
compreender, como o planejamento urbano juntamente com seu
crescimento, aumento da capacidade de permeabilidade urbanística,
conscientização da população e principalmente trabalhar a malha urbana
integrada ao plano diretor da cidade onde contém informações sobre
diretrizes de expansão urbana, são fatores que devem ser analisados
com um olhar mais atencioso por parte de toda a sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IAPAR. Disponível em:
http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=856. Acesso
em maio de 2015.
109
IBGE - Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/. Acesso em maio de
2015.
IPARDES - Disponível em: http://www.ipardes.gov.br/. Acesso de maio de
2015.
KURPEL, K.. Levantamento e avaliação ambiental da bacia de captação de
água do município de Chopinzinho. 2013.45 f. Monografia (Especialização)
– Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Francisco Beltrão, 2013.
MENDES, H.C.; Mediondo M.E.. Histórico da expansão urbana e
Incidência de inundações. O Caso da Bacia do Gregório, São Paulo, v. 12, p.
27, 2007.
MUNICÍPIO DE CHOPINZINHO - Disponível em:
http://www.chopinzinho.pr.gov.br/portal/. Acesso em maio de 2015.
Plano Diretor de Chopinzinho – PDM-CH. Prefeitura Municipal de
Chopinzinho. Fevereiro de 2007.
RIBEIRO, L.; Histórico de enchentes no Brasil. 2014. Disponível em:
http://aquafluxus.com.br/?p=5711. Acesso em abril de 2015.
SANEPAR. Disponível em: http://site.sanepar.com.br/a-sanepar/servicos/.
Acesso em maio de 2015.
TUCCI. M. E C.; Plano diretor de Drenagem Urbana, Princípios e
Concepção, Porto Alegre, v. 2 n. 2, p. 12, 1997.
TEODORO. P. H. M.; NUNES, J. O. R.; Os Alagamentos em Presidente
Prudente -SP, Um trabalho interdisciplinar embasado no mapeamento
geomorfológico, Presidente Prudente, v. 2 n. 2, p. 81-102, 2007.
110
CAPÍTULO 6
VERTICALIZAÇÃO E ADENSAMENTO URBANO DE
FRANCISCO BELTRÃO: ANÁLISE E PROPOSTA
Caroline Grison
Lucas Iser
Manoela Fernanda de Luca Lima Oliveira
Monich Fernanda Osowski
Carlos Cassemiro Casaril
Introdução
Os processos desordenados de expansão urbana, que
iniciaram após a Revolução Industrial, têm gerado inúmeros
problemas de infraestrutura que perduram até os dias de hoje. Nos
últimos tempos, discute-se muito sobre as práticas que podem ser
aplicadas para amenizar as consequências desses problemas, além
de propostas que priorizem as pessoas e não veículos.
A verticalização urbana é uma das soluções defendidas por
urbanistas e outros profissionais da área, e trata do adensamento,
formando cidades mais compactas, onde a mobilidade é
repensada, diminuindo-se os gastos com combustíveis e
111
possibilitando o acesso às atividades de lazer, trabalho e moradia
próximos.
O objetivo do presente trabalho é apresentar o conceito de
verticalização e adensamento urbano, verificando esse processo
em Francisco Beltrão, e desta forma, apresentar uma proposta
coerente para a cidade em questão, contribuindo para o seu
crescimento e desenvolvimento urbano.
Para isso, a metodologia a ser utilizada, é a pesquisa
bibliográfica, para obter as informações necessárias para elaborar
uma proposta voltada para a verticalização urbana em Francisco
Beltrão, tendo como base também, alguns estudos de caso
referentes a outras cidades do Brasil.
Com este trabalho, pode-se ampliar a visão e as vantagens
da verticalização urbana, que poderão contribuir com o
desenvolvimento de Francisco Beltrão em questões de
mobilidade, garantia de infraestrutura adequada, e qualidade de
vida para a população, já que a cidade tem crescido de maneira
rápida e desordenada e, já mostra sinais de sua incapacidade no
suporte de infraestrutura urbana e social a população.
O adensamento aplicado à expansão horizontal urbana dá
origem a segregação sócio espacial, que divide a sociedade
limitando o desenvolvimento de uma região pelas características à
ela atribuídas segundo, principalmente, fatores econômicos, sendo
112
isso visível em Francisco Beltrão. Pode-se perceber a clara
concentração de um núcleo de maior renda nas proximidades do
Centro e quanto mais distante, a concentração da população de
menor renda.
Além disso, essa expansão horizontal gera maiores gastos
com infraestrutura urbana, e no caso específico da cidade
analisada, tem permitido a ocorrência de ocupações irregulares
em topos de morros e próximos aos cursos d‟água.
Verticalização e adensamento urbano
O processo de urbanização brasileiro desenvolveu-se
muito apressadamente no início do século XX, e como
consequência, vem ocasionando grande déficit habitacional e
carência de infraestrutura urbana, além de problemas ambientais.
Com isso, é possível perceber significativos problemas de acesso
à habitação digna no país (BONDUKI, 2004).
Mello (2002), afirma que, de acordo com interesses
políticos e econômicos da época, a formação e o crescimento das
cidades brasileiras se deu de forma desordenada.
Consequentemente, esse aumento populacional nas cidades,
desencadeou vários problemas sociais, ambientais e econômicos
nos centros urbanos, comprometendo áreas que deveriam ser de
113
preservação ambiental, gerando, ocasionalmente, um conjunto de
eventos trágicos a cada período de chuvas.
Benévolo (1983) também salienta que a maioria da
população mundial vive nos centros urbanos. Sendo assim, o
acelerado processo de urbanização gerou sérios problemas
sociais, impulsionando a periferização e a segregação urbana.
Muitos autores discorrem sobre as possíveis soluções para
melhorar a condição das cidades, e a qualidade de vida das
pessoas no meio urbano. A verticalização parece ser um ponto de
concordância entre vários autores, como se pode ver:
[...] verticalizar significa criar novos solos
sobrepostos que abriguem um grande contingente
populacional. Ou seja, a partir da reprodução do
solo, dá-se condições para a multiplicação do
número pessoas e de famílias que habitarão no
mesmo terreno, gerando um grande aumento da
densidade demográfica (MACEDO, 1987, p.9).
Já Somekh (1997, p. 20), relaciona a cidade vertical à
noção de edifício alto, de arranha-céu e define verticalização “(...)
como a multiplicação efetiva do solo urbano, possibilitada pelo
uso do elevador”. A partir do elevador, tem-se a possibilidade de
intensificar o processo.
Costa (2000, p. 33), por sua vez, ao estabelecer análise da
relação verticalização com as transformações do espaço urbano,
explica que “[...] a verticalização tem se caracterizado como
114
elemento responsável pelas modificações morfológicas e
funcionais da paisagem urbana, uma vez que ela produz solos
adicionais superpostos” (TWÖS; MENDES, 2011 apud. COSTA,
2000 p. 33).
A verticalização não é nem boa, nem má (SCUSSEL;
SATTLER, 2010). Em cada caso, é necessário analisar qual a
melhor forma para essa prática, considerando o suporte da
infraestrutura oferecida, e da que é possível de ser executada.
Nem sempre a verticalização precisa ser acentuada, ao contrário,
devem ser evitados os extremos, para que haja economia de
custos.
Para que um planejamento que propõe o adensamento seja
adequado, deve-se considerar também a diversidade de serviços
prestados, em uma determinada área, possibilitando atividades de
trabalho, lazer e moradia que sejam próximos. Ou seja, não
somente a habitação deve ser condensada, mas também os
serviços.
Aí então, vem à tona a questão da mobilidade.
Atualmente, se veem cidades dependentes dos combustíveis
fósseis, através da matéria-prima para a locomoção dos veículos,
ou seja, as cidades não foram projetadas para os pedestres, e hoje,
necessitam de uma reforma urbana, para transformar essa
consciência e melhorar a qualidade de vida dos moradores.
115
Através da verticalização, podem ser obtidos resultados
satisfatórios quanto a mobilidade, com a formação de zonas com
maior adensamento, que diminuirá o deslocamento.
Segundo Roaf, Crichton e Nicol (2009) existem outros
fatores que podem ser gerados pela verticalização, como a
alteração do clima local – devido ao efeito de sombreamento e
aumento da velocidade dos ventos, prejuízo ao conforto térmico,
lumínico e acústico, do entorno e do próprio edifício, conforme a
altura e o posicionamento de determinada unidade habitacional.
Essas interferências na qualidade de vida dos moradores locais
devem ser analisadas, já que o que se procura é um
desenvolvimento sustentável, e uma das premissas da
sustentabilidade é justamente a qualidade de vida das pessoas.
Ainda outro fator a ser considerado, que é indicado por
Campos Filho (1992), é que a super-verticalização faz com que os
preços dos imóveis nas áreas centrais aumentem, já que mais
serviços terão que ser oferecidos, e assim, ocupam-se os lotes das
periferias, mais baratos, deixando lotes vagos nas áreas mais
internas.
O Estado tem grande participação nas ações de
verticalização. Através da legislação, como leis de zoneamento e
de uso do solo, o Estado define os espaços urbanos.
116
Francisco Beltrão
Francisco Beltrão localiza-se na mesorregião Sudoeste
paranaense (Figura 1). O território municipal abrange uma área de
731,731 km² e apresenta uma população de 78.943 habitantes
(IBGE, 2010).
Figura 1: Mapa de localização de Francisco Beltrão – Paraná
Fonte: IBGE, 2000. Org: Casaril, C. C., 2015.
Observando o crescente desenvolvimento da cidade,
percebe-se que este se deve a implantação das instituições de
ensino superior, que trazem muitos moradores e movimentam os
negócios, além dos vários loteamentos que têm sido aprovados, e
117
contribuindo para a expansão urbana de Francisco Beltrão. As
Informações obtidas da Secretaria da Saúde apontam que o
município possui instituições de saúde que atendem outros 26
municípios da região e possui Lei de incentivos à instalação de
empresas através da doação de terrenos. Por essas razões,
Francisco Beltrão pode ser considerada uma cidade de porte
médio, independentemente do número de habitantes, já que
exerce um papel de comando e de principal área de influência de
sua rede urbana.
O plano diretor de Francisco Beltrão (Lei nº 3300/2006)
serve como instrumento dirigente e normativo dos processos de
transformações do ambiente urbano e rural do Município nos
aspectos político, sociais, econômicos, físicos ambientais e
administrativos. O Plano Diretor de Francisco Beltrão tem por
finalidade, orientar a atuação do poder público e da iniciativa
privada, bem como assegurar o “direito à cidade para todos,
compreendendo: o direito à terra urbana; à moradia digna; ao
saneamento ambiental com a preservação e recuperação do
ambiente natural; à infra-estrutura urbana; a mobilidade, a
acessibilidade priorizando o transporte coletivo público; aos
serviços públicos; ao trabalho e ao lazer” (Art 6º, inciso III).
Além disso, o Plano Diretor ainda considera: “consolidar a
conformação de crescimento e adensamento da cidade com a
118
integração do uso do solo, sistema viário e transportes,
respeitando as restrições ambientais e estimulando os aspectos
sociais e econômicos” (Art. 38°, inciso II). Além de promover o:
“(...) adensamento construtivo e populacional em áreas de
urbanização em desenvolvimento com capacidade de suporte da
infra-estrutura instalada” (Art. 39°, inciso II).
Analisando o Zoneamento, percebe-se que as Zonas
Central, de Comércio e Serviços e de Eixo de Comércio,
permitem número de pavimentos acima de quatro, enquanto que
as outras zonas, predominantemente residenciais, permitem
construção de edifícios em até 4 pavimentos. Essas últimas zonas
citadas, podem ser exploradas para a criação de subcentros, após
análise de adequação da infraestrutura.
Análise e proposta
Em 1940 a maioria da população brasileira morava no
meio rural. Esse quadro mudou quando, na década de 1950,
iniciou-se um grande desenvolvimento industrial, o que trouxe
essa população para as cidades em busca de novas oportunidades
de emprego (PEREIRA, 2005).
A concentração urbana de atividades econômicas é o
motivo de atração de migrantes, porém, ao mesmo tempo em que
facilita a vida do cidadão ao acesso a serviços, pode trazer-lhe,
119
senão existir um controle apropriado, sérios problemas. Pois, o
crescimento populacional, juntamente com o crescimento do nível
de atividade econômicas urbanas, leva a uma crescente demanda
por serviços públicos, tais como: água, luz, escolas, saúde
pública, saneamento, o que gera maior gasto com infraestrutura.
É nesse ponto que a verticalização se torna interessante,
pois esta, quando bem planejada e executada, pode acarretar
diversos benefícios ao meio urbano, visto que a verticalização
ajuda a concentrar população e serviços em espaços menores,
auxiliando a formação de novos centros urbanos e gerando
melhoria na mobilidade urbana. Além disso, também é benéfico
ao meio ambiente, uma vez que a expansão horizontal é um dos
motivos pela diminuição da vegetação nativa.
Um exemplo de bairro vertical é o “Quartier”, projetado
pelo escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados para ser
executado na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Será o
primeiro bairro vertical que visa a sustentabilidade e mobilidade
no Brasil e terá capacidade para 10 mil habitantes.
Em Francisco Beltrão os edifícios com 4 ou mais
pavimentos estão praticamente todos localizados na área central
da cidade (como pode-se notar na figura 2) e segundo o
Zoneamento é nessa área que são permitidos prédios com
gabaritos mais altos. Nesse caso, tem-se um problema de
120
mobilidade, pois o sistema viário não suporta a demanda do
adensamento que foi criado na área central da cidade. Quem por
ali transita diariamente lida com a falta de estacionamentos,
trânsito tumultuado nos horários de pico, transporte público que
não consegue oferecer um serviço de qualidade, pois são muitas
as pessoas que moram nos bairros e precisam se deslocar ao
centro para o trabalho, entre outros.
Figura 2: Situação atual de edifícios em Francisco Beltrão – PR.
Fonte: Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão, 2013.
Org.: GRISON, C.; ISER, L.; LUCA, M. F. de; OSOWSKI, M. F., 2015.
Desse modo, entende-se o porquê de as áreas centrais
serem tão adensadas enquanto os bairros e áreas periféricas o
gabarito das edificações permanece basicamente térreo ou dois
pavimentos. A criação de subcentros é interessante pelo fato de
121
desafogar o fluxo no centro e trazer aos moradores do bairro
opções de serviços cotidianos sem necessidade de um
deslocamento via veículo automotor. O subcentro “[...] é
caracterizado por uma atividade ou por conjuntos de atividades
que conferem características de centralidade ao espaço urbano”
(PALLHARES, 2008, p. 16).
Como confirma Pallhares (2008) a seguir:
[...] o desenvolvimento de subcentros em cidades
brasileiras de porte médio distribui o fluxo de
veículos no espaço urbano total, melhorando o
trânsito na região central. Os centros urbanos estão
cada vez mais sobrecarregados de pessoas e de
veículos; com os subcentros muitas pessoas
reduzirão o número de viagens até o centro da
cidade, já que encontrarão o que precisam perto de
suas residências, como consequência o fluxo de
veículos motorizados na região central será
amenizado (PALLHARES, 2008, p. 16).
Nesse caso, entende-se que para a cidade de Francisco
Beltrão, descentralizar e criar políticas que norteiem esse processo
é a melhor solução. Com a cidade descentralizada, os habitantes
terão uma melhoria na qualidade de vida, pois a poluição sonora e
a poluição do ar na região central da cidade irão diminuir, as
pessoas terão também a vantagem de economia de tempo, já que
seus deslocamentos serão menores.
Com a criação dos chamados “subcentros”, os bairros
passariam a ser mais verticalizados, e consequentemente
122
abastecidos com comércio de uso cotidiano como farmácias,
panificadoras, mercados, entre outros. Além de gerar empregos
para quem reside, oferece serviços básicos do cotidiano sem que
seja necessário um deslocamento até a área central.
O subcentro consiste, portanto, numa réplica em
tamanho menor do centro principal, com o qual
concorre em parte sem, entretanto, a ele se igualar.
Atende aos mesmos requisitos apenas para uma
parte da cidade, e o centro principal cumpre-os
para toda a cidade (VILLAÇA, 1998, p. 194).
Segundo Pallhares (2008, p.14), “com o desenvolvimento
de subcentros, com atividades de comércio e de serviços que
atendam a área de entorno, em diferentes bairros da cidade, o
número de viagens ao centro da cidade será reduzido e com ele o
uso do transporte motorizado”. E quanto maior for a variedade de
comércio e serviços oferecidos menor será o número de viagens
que um consumidor precisará fazer ao centro da cidade para ter
todas suas necessidades atendidas, haverá um equilíbrio do fluxo
de veículos no espaço urbano.
A verticalização pode contribuir muito no município de
Francisco Beltrão, já que muitos loteamentos são aprovados, por
vezes em locais de topografia acentuada - topos de morros - e essa
rápida expansão urbana horizontal, gera dificuldades para o
provimento qualitativo de serviços de infraestrutura.
123
No decorrer de 2014, a população vivenciou a falta de
abastecimento de água potável em Francisco Beltrão, já que a
concessionária responsável pelo abastecimento não conseguiu
atender a demanda. O principal fator que ocasionou este problema
foi o calor ocorrido no período, que consequentemente aumentou
a demanda de captação e tratamento da água. A estrutura da
concessionária de água Sanepar, não era suficiente para atender
esse demasiado consumo, ou seja, a capacidade de armazenagem
e tratamento era inferior a consumida pela população, para
procurar resolver esse problema, a estação de tratamento está
sendo ampliada, e após conclusão das obras possibilitará um
aumento de 50% de água tratada, a previsão de término da obra é
para o segundo semestre de 2015. A expansão horizontal leva a
gastos com infraestrutura, como o abastecimento de água e outros
serviços.
Outro fator que é muito perceptível no município estudado
é o não cumprimento das leis de uso e ocupação do solo,
edificando-se em locais de Área de Preservação Permanente
(APP), e topos de morros, como loteamentos no bairro Cristo Rei
e Prolongamento da Av. Julio Assis Cavalheiro, além das
margens do Rio Marrecas, onde se encontram casas e
estabelecimentos comerciais que não respeitam a devida faixa a
ser preservada. Se houver verticalização, não é necessário
124
expandir-se os bairros para áreas que podem e devem ser
preservadas. Porém, para que isso se estabeleça, é importante que
se proponham leis punitivas e uma rigorosa fiscalização da
legislação municipal vigente, bem como, elementos jurídicos que
punam com a desoneração do cargo e obrigação de devolução dos
recursos desviados e/ou da propina aceita (leia-se corrupção) por
servidores municipais, estaduais e federais, que aprovaram
loteamentos e edificações em áreas de APP, designadas no Plano
Diretor Municipal.
Os espaços urbanos devem ser pensados como um todo,
para que desta forma, evitem-se os transtornos que a má ocupação
traz, como os alagamentos e outras catástrofes.
Como resposta a atual situação urbana de Francisco
Beltrão e procurando contribuir para o crescimento da cidade de
forma consciente, a proposta sugerida é implantar a verticalização
(trazendo a obrigatoriedade da verticalização via legislação
adequada, as futuras edificações), principalmente junto a Avenida
Júlio Assis Cavalheiro, seu Prolongamento e Rua Curitiba que se
situa perpendicularmente à Avenida. A região do Prolongamento
da Avenida é uma área de expansão urbana, enquanto que a Rua
Curitiba tem grande potencial para a verticalização e para o
adensamento comercial, pelas suas vias mais largas, existência de
ciclo-faixa e fazer parte de um sistema binário com a Rua Tenente
125
Camargo. Além disso, a Rua Curitiba, possui terrenos ociosos nas
áreas mais distantes ao centro, e junto com a Avenida Júlio Assis,
pode criar um eixo em cruz de crescimento gradual, através de
avenidas, vias coletoras e vias locais, criando assim um espaço
onde a população possa residir, trabalhar e ter acesso a serviços
próximos a suas casas (conforme figura 3).
Contudo, existem outras regiões que mostram potencial
para adensamento vertical por já possuírem características
importantes para a formação de subcentros.
Na região Norte da cidade, com a implantação de
indústrias como a Brasil Foods (BRF), houve um crescimento da
ocupação residencial e então, pela necessidade da realização de
atividades cotidianas, um subcentro esta sendo formado,
conhecido como Cidade Norte. Essa região possui bancos,
supermercado, edificações comerciais, industriais e de prestação
de serviços. Isso contribuiu com os moradores locais diminuindo
a necessidade de deslocamento até o núcleo central da cidade para
vários serviços. O que se propõe para essa área é o adensamento,
utilizando dos artifícios existentes e impulsionando o crescimento
com práticas sustentáveis, através de legislações e ações de
infraestrutura.
A Av. União da Vitória é uma via importante para a
cidade, sendo praticamente toda ela comercial. Inclusive, é
126
importante destacar que existe o projeto de um shopping de
containers que será implantado nessa Avenida3. No entanto,
apesar de oferecer diferentes tipos de comércio, como
supermercados, farmácias, panificadoras, opções de ensino
fundamental e superior e, até mesmo, prestadores de serviços
como o de bancos através de correspondentes, existem alguns
outros pontos que podem ser explorados, visando transformar o
espaço entre as Ruas Antônio Marcelo e Guanabara, um
subcentro. Por exemplo, a implantação de instituições da área da
saúde, bancos etc. Contudo, os enfoques do presente artigo são a
verticalização e adensamento, que nesse caso especificamente,
podem ser aplicados no melhor aproveitamento de lotes ociosos e
que apresentam baixo gabarito (menos de quatro pavimentos),
tanto na Av. União da Vitória, como em algumas de suas
transversais.
3 Informação do dia 25 de maio de 2015, obtida no site do Jornal de
Beltrão.
127
Figura 3: Terrenos ociosos.
Fonte: Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão, 2013.
Org.: GRISON, C.; ISER, L.; LUCA, M. F. de; OSOWSKI, M., 2015.
Ainda, outro bairro que demonstra grande potencial para
desenvolvimento é o Cristo Rei, próximo ao Centro. Nessa área
propõe-se adensar a Rua Santo Antônio, uma das principais vias
do bairro, que é pouco explorada, sendo predominantemente
residencial. Pode-se se citar algumas instituições presentes na Rua
Santo Antônio, como a Paróquia Cristo Rei, em frente a unidade
128
de saúde da família Cristro Rei, e equipamentos urbanos como
academia do idoso.
Essas ações resultariam em uma mudança da mobilidade.
Desta forma, propõe-se uma nova ciclo-faixa na Avenida Luiz
Antônio Faedo, que seja ligada a ciclo-faixa já existente na Rua
Curitiba (conforme mapa 3).
Para ser efetivamente verticalizado, o poder público teria
de investir em leis, que sejam devidamente fiscalizadas. Essas leis
de uso do solo trariam para essa região, a obrigatoriedade de
construções com não menos de quatro pavimentos, adequando o
limite de pavimentos à hierarquia viária.
Ainda outra política aplicada, seria a redução de taxa do
IPTU para os proprietários de imóveis que disponibilizarem
estacionamento para clientes em edifícios comerciais, isso
auxiliaria no bom funcionamento da ciclo-faixa que, atualmente,
possui funcionamento permanente, após várias tentativas da
Associação Comercial e Empresarial de Francisco Beltrão
(ACEFB), de mantê-la em funcionamento no contra turno do
horário comercial.
Além disso, nos edifícios a partir de quatro pavimentos,
também se torna obrigatória a implantação de salas comerciais no
pavimento térreo, ainda prevendo estacionamento interno, com
número de vagas delimitado conforme área construída e
129
finalidade da edificação, trazendo assim, uma solução para a
grande demanda desses espaços, existente hoje no município.
Para evitar as ilhas de calor, os lotes teriam suas taxas de
ocupação ajustadas. Atualmente, a taxa de ocupação nas Zonas
Centrais e de Comércio e Serviços chega a 80%. Em um bairro
verticalizado, como o proposto, essa taxa de ocupação seria
reduzida, aumentando-se o coeficiente de aproveitamento, para
desta forma, melhorar aspectos de ventilação e iluminação. Além
disso, é interessante a criação de coberturas verdes que podem ser
implantadas através de legislações que obriguem o plantio de pelo
menos uma árvore por propriedade, por exemplo, já que somente
o aumento da taxa de permeabilidade não significa a presença de
árvores.
A tabela 1 apresenta dados do zoneamento vigente no
município de Francisco Beltrão. O município é dividido em
quinze zonas em que a taxa de ocupação máxima é de 80%. O que
a proposta indica é a alteração desses valores e no coeficiente de
aproveitamento nas Zonas de Comércio e Serviços e Central,
além das Zonas de Uso Misto onde o potencial de crescimento e
verticalização poderá ser mais explorado.
Tabela 1: Parâmetros de Ocupação do Solo Urbano de Francisco Beltrão.
Zonas
Taxa
de
Coeficien
te de
Altura
Máxim
Áre
a
Test
ada
Rec
uo
Afasta
mentos
Taxa de
Permeab
130
Ocup
ação
Máxi
ma
(%)
Aproveit
amento
Máximo
a (nº
de
pavim
entos)
Mín
ima
(m²)
Mín
ima
(m)
Fro
ntal
(Latera
is e
Fundo)
ilidade
(%)
ZC
Zona
Centra
l
80 8 (*3) (*10)
LIVRE 300,00
10,00
(*1) (*5)
1,5 (*2) 10,00
ZCS
Zona
de
Comércio e
Serviç
os
80
6 (*3)
(*4) (*10)
(*13)
10 300,00
10,00
5
(*1)
(*5)
1,5 (*2) 10,00
ZSI
Zona
de
Serviç
o e
Indúst
ria
60 2 (*3) 4 1000
,00
20,0
0
10,0
0
(*5)
2,00 20,00
ZI1
Zona Indust
rial 1
(*6) (*12)
50 2 4 2000,00
20,00
15,00
Soma = 7,0
25,00
ZI2
Zona
Industrial 2
(*7)
(*12)
50 2 4 2000
,00
20,0
0
15,0
0
Soma =
7,0 25,00
ZE
CS2
Zona
de
Eixo
de Comé
rcio 2
60 2 10 300,
00
10,0
0
5,00 (*14
)
1,5 (*2) 20,00
SA
Setor Aerov
iário
X X X X X X X X
ZU
M1
Zona de
Uso
Misto 1
60 4 (*3)
(*4) (*10) 10
300,00
10,00
5,00 (*5)
1,5 (*11)
20,00
ZU
M2
Zona
de
Uso Misto
2
50 2(*4) 4 240,
00
10,0
0
5,00
(*5)
1,5
(*11) 20,00
ZP
A
Zona do
X X X X X X X X
131
Parque do
Aerop
orto (*12)
ZP
AV
Zona
de
Proteção de
áreas
Verdes
(*12)
20 0,2 2 2000
,00
20,0
0 5,00
Soma =
5,0 30,00
ZPP
Zona de
Preser
vação
Perma
nente
(*12)
X X X X X X X X
SPQ
Setor
de
Parque
(*12)
X X X X X X X X
ZR
O
Zona
de Restri
ção à
Ocupação
(*12)
10 0,2 2 2000,00
20,00
5,00 Soma =
5,0 30,00
ZEI
S
Zona Especi
al de
Interesse
Social
(*9)
X X X X X X X X
Fonte: Lei Nº 3384/2007 – Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo Urbano
de Francisco Beltrão.
Considerações finais
Neste artigo verificaram-se os benefícios da verticalização
e a forma como ela pode ser aplicada. Após uma análise realizada
132
em Francisco Beltrão, conclui-se que esta é uma boa solução e
trará benefícios a cidade, uma vez que concentrará parte da
população e serviços em espaços menores, criando novos
subcentros que, consequentemente, auxiliará na questão da
mobilidade na cidade.
Aliado a isso, a ocupação dessa área pode, além de
diminuir (ou retardar) a expansão periférica, reduzir impactos
ambientais, o que seria de grande valia, visto que há na cidade
grandes problemas relacionados a ocupação irregular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 1983.
BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura
moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. 4ª edição, São Paulo,
Estação Liberdade, 2004.
MACEDO, S. São Paulo: paisagem e habitação verticalizada. Tese de
Doutorado. São Paulo: FAUUSP, 1988.
MELLO, F. A. O. Análise do Processo de Formação da Paisagem Urbana
do Município de Viçosa, Mina Gerais. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Florestal) – Departamento de Engenharia Florestal. Viçosa: UFV, 2002.
PALLHARES, C. R. C. Desenvolvimento de subcentros como forma de
planejamento urbano e de transportes em cidades de médio porte. 2008,
113 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia – MG.
PEREIRA, S. H. F. et al. Impactos sócio-ambientais do adensamento
urbano em Viçosa (MG). Trabalho apresentado no X Encontro de Geógrafos
da América Latina, Universidade de São Paulo, 2005.
SATTLER, M. A.; SCUSSEL, M. C. B. Cidades em (trans)formação: impacto
da verticalização e densificação na qualidade do espaço residencial. Ambiente
Construído. Porto Alegre, v. 10, n. 3, p. 137-150, jul./set. 2010
133
SITES CONSULTADOS
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Pelotas, no Rio Grande do Sul. Disponível em
<http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/urbanismo/jaime-lerner-assina-
projeto-de-bairro-de-30-hectares-em-324044-1.aspx> Acessado em 8 nov 2014
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br>. Acessado em 27 out 2014.
Prefeitura de Francisco Beltrão (PR). Disponível em: <
http://franciscobeltrao.pr.gov.br/>. Acessado em 27 out 2014.
Jornal de Beltrão. Calor é a principal causa da falta de abastecimento em
muitos bairros. Disponível em:
<http://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/192257/calor-e-a-principal-causa-
da-falta-de-abastecimento-em-muitos-bairros>. Acessado em 27 mai 2015
LEGISLAÇÃO
Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão. Lei municipal n° 3300/2006, Plano
Diretor de Francisco Beltrão. [lei na internet]. [acesso em 27 out 2014].
Disponível em: <http://franciscobeltrao.pr.gov.br/o-municipio/plano-diretor/>
134
CAPÍTULO 7
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: DEBATE
SOBRE A DEMOCRACIA DO ESPAÇO PÚBLICO E
ANÁLISE DOS FLUXOS CENTRAIS DE FRANCISCO
BELTRÃO – PR
Vinicius André
Mônica Aparecida Gonçalves
Introdução
A história da humanidade sempre foi marcada por diversos
fatores que facilitaram e mudaram o cotidiano do ser humano gerando
maior comodidade e conforto, desenvolvendo e beneficiando diversas
atividades e deslocamentos que se faziam necessários. Toda esta
mudança ocorreu em um espaço, tempo e lugar. O espaço inicial era
configurado como um conjunto de complexos naturais, que ao longo da
história foi sendo marcado por estradas, plantações, moradias,
comércios, indústrias, que descaracterizaram o natural para a
transformação de um complexo humanizado de funções (SANTOS,
2006).
135
Ainda segundo Santos (2006) o espaço é formado por um
conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de
objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como
o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza
selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão
sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos,
mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza
artificial tenda a funcionar como uma máquina.
Segundo Corrêa (1999), este espaço transformado pelo homem
se consolida como um “[...] conjunto de diferentes usos da terra
justapostos entre si”. Esta justaposição irá definir as demais áreas da
cidade: central (concentrando atividades comerciais, de serviços e
bens), industriais, residenciais, locais sociais e de lazer e áreas de
possíveis expansões. Nesta visão pode-se acrescentar ainda, segundo o
mesmo autor, que o espaço urbano é fragmentado, mas possui relações
espaciais que caracterizam este cenário, como uma complexa
organização de fluxos (veículos, pessoas e bens). Este mesmo espaço
materializado fisicamente pode ser fragmentado, mas é articulado, é
transformado por diversas classes sociais e é constituidor de símbolos e
marcos de lutas (CORREA). Ainda se acordo com a ideia, Wilheim
(2008) cita que toda estrutura física materializada sobre um espaço, só é
permitida pelo relacionamento dos “sistemas de vidas” com as
atividades que eles desempenham de uma forma sistêmica. Ou seja,
toda estrutura física deve estar interligada com as estruturas já
existentes articulando-se por um conjunto de sistemas urbanos.
136
Os conjuntos de sistemas urbanos infraestruturais diferenciam-
se pelas suas necessidades de implantação, desenvolvimento ou gestão,
e pelas eventuais funções ou usos. Podem realizar a circulação diária de
pessoas e bens, esgotamentos sanitários, abastecimento elétrico e de
água potável, telecomunicações, estruturando toda a rede fragmentada
de uma cidade. Assim como o espaço, estes sistemas estruturais
articulam-se entre si e não desempenham um papel de forma isolada.
O sistema viário pode ser considerado uma infraestrutura de
grande importância no cenário urbano, pois por ele passam os fluxos
primordiais de articulação e localizam-se a maioria dos outros
subsistemas de infraestruturas urbanas. Segundo Mascaró (1987) apud
Zmitrowics e Angelis Neto (1997), é o sistema que apresenta maior
custo, chegando a abranger 50% do custo total de projeto; pode ocupar
até ¼ do parcelamento do solo; depois de implantado apresenta alto
grau de dificuldade para aumentar a sua capacidade (envolvendo
dificuldades de operação e custos); é o subsistema mais vinculado aos
seus usuários, pois é nele que se apresentam tráfegos de meios de
transporte e de pessoas. Nele estão presentes as pistas de rolamento de
veículos motorizados ou não, as calçadas, os mobiliários urbanos, a
arborização urbana, o sistema de abastecimento de água, esgoto, elétrico
e de telecomunicações, o transporte coletivo e a drenagem pluvial.
Após esta contextualização sobre infraestruturas urbanas e sua
importância no processo do fluxo e articulação dentro do cenário
urbano, pode-se estabelecer o conceito sobre a mobilidade urbana como
a capacidade de se locomover de um espaço a outro com eficiência e
137
rapidez, surgindo assim à necessidade de rotas alternativas para
deslocamentos expressivos em áreas como as centrais.
No ano de 2003 com a criação do Ministério das Cidades, foi
criada a SeMob – Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade
Urbana, representando um grande avanço para a política de
desenvolvimento dos sistemas de transportes alternativos brasileiros
(BOARETO, 2008). No ano de 2012 foi promulgada a lei da
Mobilidade Urbana Nacional, com o objetivo de estabelecer diretrizes
para o desenvolvimento das áreas urbanas integradas com os diferentes
modais de transporte, garantindo acessibilidade e mobilidade as pessoas
e mercadorias dentro dos municípios.
A política de mobilidade urbana surgiu da necessidade da
superação dos atuais problemas que as cidades enfrentam como
congestionamentos, ineficiência dos transportes coletivos, e da falta de
acessibilidade aos espaços e equipamentos públicos que inviabilizam o
direito à cidade. Apesar da promulgação de políticas públicas para o
setor, a realidade continua a mesma, faltando planejamentos eficientes
para os meios alternativos como a bicicleta e o transporte coletivo e a
exclusão das calçadas e pedestres dentro da democratização do solo.
Na cidade de Francisco Beltrão – PR, com uma população
estimada pelo IBGE em 2014 em 85.486 habitantes, considerada o polo
de sua microrregião dentro do estado, a estrutura de ciclovias e o
transporte coletivo ainda são ineficientes. A frota de automóveis do
município em Junho de 2014, segundo o DENATRAN – Departamento
Nacional de Trânsito, era de 53.357 veículos, representando
138
aproximadamente 1,60 veículo/habitante, sendo a maior frota da
mesorregião sudoeste do Paraná. O transporte coletivo ainda não
consegue suprir toda a sua demanda e as ciclovias quando existentes
não apresentam representatividade dentro do espaço urbano.
A estrutura viária responsável pelo ir e vir cotidiano deve
abrigar veículos, vias, ciclovias e pedestres. O fato de sermos todos
pedestres nos faz repensar a utopia de que o espaço viário deve ser
pensado apenas para os veículos. Também não deve ser pensado apenas
para o transporte público, tendo em vista que atualmente é considerado
o único meio alternativo de planejamento para o deslocamento nas
cidades brasileiras (DUARTE, 2011).
Observando a falta de um planejamento preventivo nas
principais vias localizadas na zona central de Francisco Beltrão, a
precariedade de um sistema de transporte coletivo que se apresenta
falho a muitas áreas da cidade e a inexistência de um sistema de
ciclovias interligadas que promovam deslocamentos expressivos,
observa-se a necessidade de uma análise mais ampla da mobilidade na
cidade de Francisco Beltrão. Para isto este trabalho possui como
objetivo geral explicitar os principais elementos constituidores deste
espaço público democrático, e analisar os fluxos de mobilidade da área
central. Como objetivos específicos o trabalho visa desenvolver mapas
representativos das vias centrais segundo sua classificação e aspectos
notórios, e mapear os principais fluxos do sentido Bairros – área
Central.
139
Breve histórico da mobilidade no Brasil e no mundo
Segundo Silva (2009), a primeira forma de locomoção vista na
história da humanidade passa a ser a pé, seguida pela utilização de
animais de carga, que ajudaram o deslocamento de mercadorias e
pessoas por grandes distâncias, e passaram a ser o principal meio de
transporte das cidades em seu contexto mundial. Neste processo,
podemos observar o advento das charretes, carroças e lombos de
animais como meios de transportes públicos predominantes dentro do
cenário urbano. No Brasil, a utilização da força animal esteve
predominantemente presente do período colonial até o advento das
estradas de ferro.
Com a Revolução Industrial observamos o surgimento da
ferrovia e da locomotiva, que beneficiaram o escoamento da produção
de forma eficiente, e fizeram com que o homem passasse a possuir um
deslocamento mais rápido, unindo economias, povos, culturas e espaços
urbanos que até então eram desconhecidos pela grande maioria das
pessoas (SILVA, 2009).
No século XIX os espaços públicos das vias passaram por um
processo de remodulação e distinção entre pedestres e veículos de
propulsão animal, remodulando as principais capitais da época. Esta
nova modulação das infraestruturas possibilitou a implantação dos
automóveis dentro do espaço das cidades, que por seus diversos pontos
favoráveis foram se tornando cada vez mais protagonistas das paisagens
das cidades do século XX. No Brasil diversas políticas públicas
140
passaram a estimular o uso intensivo dos automóveis no espaço urbano
(SILVA, 2009).
Com relação aos transportes públicos brasileiros, Brasileiro
(1996) apud Azambuja (2002) afirma que até o ano de 1955 os
transportes urbanos de passageiros eram feitos por diversos
profissionais que em suas horas vagas dirigiam ônibus, micro-ônibus,
pick-ups, caminhonetes, furgões e kombis. O autor ressalta ainda que a
partir de 1955 a responsabilidade do transporte público passou a ser dos
municípios, pois até então eram administrados pelos estados da
federação brasileira. Em um primeiro momento o transporte público
municipal das cidades brasileiras passou a existir através de critérios
políticos, amizades, parentescos ou favores eleitorais, já que as cidades
não possuíam recursos suficientes para operar um sistema de transporte
rígido e eficiente. As cidades construíam as suas redes de vias para
facilitar o uso do automóvel, deixando o transporte coletivo em um
segundo plano (AZAMBUJA, 2002).
Para uma comparação plausível da falta de incentivo à
democratização do espaço público urbano, podemos observar no caso
do Brasil que o primeiro automóvel passou a circular em 1893, 15 anos
antes do primeiro ônibus e 82 anos antes do primeiro metrô (BALBIM,
2003).
Elementos constituidores de um espaço público democrático
O Automóvel e os Veículos Motorizados
141
As décadas de 30 e 40 do século XX representaram uma
mudança de comportamento do ser humano em relação à via pública.
Com a expansão das áreas urbanas sem um transporte coletivo eficiente,
passa-se a valorizar o automóvel e os veículos motorizados como um
bem de consumo necessário, construindo-se cada vez mais
infraestruturas desprovidas de qualidade pelo sacrifício da necessidade
de fluidez urbana (COSTA, 2008). Esta ideia é reforçada com Seixas
(2010), dizendo que “[...] garantir a sobrevivência das cidades era
assegurar o automóvel como modo de transporte”.
Mas, a garantia da mobilidade nas cidades atuais, conta com
uma grande diversidade de modais favoráveis do ponto de vista técnico
e econômico. Os modelos de políticas públicas que privilegiam os
veículos motorizados individuais necessitam de grandes vias em
comprimento e largura, ajudando a gerar a segregação urbana, os
congestionamentos, os altos níveis de poluição sonora, visual e
ambiental, a desigualdade social, e demais consequências diretas ou
indiretas (MANCINI, 2011).
Segundos os autores OLIVEIRA, M. F. S. de; OLIVEIRA, O. J.
R. de; OLIVEIRA, J. F. S. de. (2010), este bem de consumo motorizado
(automóvel) está cada vez mais atrelado ao sonho e desejo das pessoas.
Os autores enfatizam ainda que a perspectiva atual onde não são
investidos recursos suficientes para o desenvolvimento de
infraestruturas qualificadas que atendam à demanda, faz com que o
142
transporte coletivo seja visto como um “[...] símbolo de pobreza,
exposição ao desconforto e à violência”.
As políticas públicas da União estão estruturadas no modelo da
gestão e provisão da ampliação da malha urbana ou de ações voltadas
para a fluidez do tráfego motorizado das cidades. Os sistemas viários
são planejados pela visão de que todas as pessoas poderão possuir
automóveis, não beneficiando o bem estar coletivo, mas sim, os
modelos de pensamento e determinações do mercado. O direito de ir e
vir, garantido pela constituição, acaba sendo usado de forma
indiscriminada atrelando-se apenas aos motoristas e não aos pedestres
(OLIVEIRA, M. F. S. de; OLIVEIRA, O. J. R. de; OLIVEIRA, J. F. S.
de., 2010).
As Calçadas e os Pedestres
As calçadas assim como as vias podem ser consideradas vitais
para o funcionamento da cidade. São nelas que um indivíduo deposita
confiança no lugar em que frequenta ou mora. As calçadas ainda são
tradicionalmente vistas como espaços destinados aos fluxos de
pedestres e acessos aos prédios, e continuam sendo desprezadas como
elementos imprescindíveis para a segurança, para a interação da vida
pública e da multiplicidade funcional urbana. Calçadas largas podem
comportar árvores, circulações de pessoas, mobiliários públicos, e
diversos tipos de interações sociais e recreativas, mas suas larguras são
comprometidas pelo espaço destinado aos veículos, contudo, não se
143
podem ignorar as funções das vias públicas dentro do espaço urbano
(JACOBS, 2011).
Segundo Del Rio (1990) apud Melo (2005), as calçadas em bom
estado de conservação possuem duas funções principais. A primeira está
atrelada ao tráfego de pedestres segregados dos automóveis, diminuindo
os riscos de acidentes de trânsito, causados pelo desvio dos pedestres
dentro da via. A segunda relaciona-se ao ato de caminhar, pois com
calçadas preservadas os espaços passam a ser mais convidativos.
Os pedestres podem ser considerados os usuários mais
fragilizados dentro do sistema de transportes e merecem atenção
especial durante o planejamento e a sua gestão (OGDEN, 1996 apud
MELO, 2005). Os pedestres podem ser caracterizados como todos
aqueles que se deslocam com força própria dentro do espaço público,
com exceção dos ciclistas que utilizam a bicicleta para o deslocamento.
O principal erro dos planejadores de transportes é considerar o modo a
pé menos importante do que o transporte mecanizado, sabendo que o
modelo mais básico de deslocamento se dá por esta forma e não
complementar a ela, como acaba sendo tratado (MELO, 2005).
As Bicicletas e as Ciclovias
Desde que surgiu no Brasil a bicicleta passou a ser o meio de
transporte mais popular entre os trabalhadores das grandes áreas
urbanas. Isto mudou com o advento da indústria automobilística na
cadeia de produção nacional durante a década de 50, quando surgem
144
também as primeiras indústrias de produção de ônibus e transporte
coletivo urbano (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2001).
A bicicleta pode ser considerada um meio alternativo para as
viagens de curto percurso, substituindo o automóvel com uma grande
vantagem tanto para o ciclista tanto para o espaço público urbano. Esta
redução da participação dos automóveis nas cidades é vital para o
desenvolvimento da mobilidade urbana sustentável. Além de “não
poluente, silenciosa, econômica, discreta e acessível” ela ajuda a
melhorar o condicionamento físico e a garantir uma melhor qualidade
de vida (SILVEIRA, 2010).
As políticas públicas devem incentivar o processo de mudança
da cultura da supervalorização do automóvel como principal meio de
transporte nas cidades. O planejamento e implantação de infraestruturas
eficientes, acessíveis e adequadas aos pedestres e ciclistas deve buscar
uma melhora significativa nas calçadas e nas rotas de deslocamentos
urbanos. As ciclovias e/ou ciclofaixas devem apresentar segurança,
equipamentos urbanos como bicicletários, conexões com o transporte
público e interligações com os principais fluxos e destinos das cidades
(CREA – PR, 2011).
Segundo o Ministério das Cidades (2007a), nas cidades médias
e grandes brasileiras, com raras exceções, o uso de bicicletas não
aproveita todo o seu potencial, utilizadas apenas pela classe média alta
como um equipamento de prática esportiva, e pela classe de renda mais
baixa como o meio principal de transporte, onde se encontram os
números mais expressivos de usuários.
145
O uso e ocupação do solo urbano
Mitchell (2008) apud Boareto (2008) destaca dois pontos
fundamentais para um bom funcionamento das metrópoles, que podem
ser considerados fundamentais a todas as cidades: o primeiro, a boa
gestação do uso e da ocupação do solo, seguido de um bom sistema de
transporte público. O autor ressalta ainda que no Brasil e na maioria dos
países, a análise fragmentada do problema de mobilidade das cidades
desassocia o sistema de transporte coletivo, a circulação de veículos
motorizados e o uso e a ocupação do solo. Este processo fragmentado
de análise faz com que:
O uso e a ocupação do solo [...] sejam analisados
dentro de uma relação de mercado, em que a
função social da terra urbana precisa ser
efetivamente garantida, apesar de previsto no
Estatuto da Cidade e dos instrumentos urbanísticos
disponíveis (BOARETO, 2008, p.02).
A SeMob representou um grande avanço no aspecto das
políticas públicas urbanas pois estabeleceu a superação destas análises
fragmentadas entre o trânsito e o transporte e o parcelamento, uso e
ocupação do solo, que no Brasil historicamente se mostraram
inadequadas para resolver os problemas dos congestionamentos,
transporte público, a acessibilidade e a democratização do espaço
urbano (BOARETO, 2008).
Mas, de acordo com Litman (2006) apud Magagnin e Silva
(2008) as cidades brasileiras passam, apesar das políticas públicas
146
adequadas, por um processo onde a localização de novas residências e
serviços nas áreas periféricas das cidades, está afetando diretamente a
mobilidade urbana das mesmas. As cidades não estão preparadas para
oferecer serviços necessários e em muitos casos observa-se a falta do
planejamento urbano atrelado com o planejamento de transportes, não
prevendo questões importantes como o uso e a ocupação do solo
urbano.
Os autores OLIVEIRA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, (2010),
destacam os dois principais modelos de cidades do mundo: o modelo
americano e o modelo europeu. O modelo americano está baseado na
dispersão de moradias dentro do espaço urbano sem conexões com os
usos do solo, o que representa uma maior demanda pelo veículo
automotor e pouca integração social, já que o espaço público passa a ser
planejado para os automóveis e não para os pedestres. No modelo
europeu, existe proximidade dos usos do solo, lugares mais sociais e o
pertencimento comunitário, com práticas de incentivo a não utilização
dos veículos motorizados.
Dentro deste processo o planejador urbano pode nortear
diferentes formas de estruturação urbana e utilização do solo,
privilegiando como no caso americano o transporte particular ou como
no caso europeu o transporte coletivo. Assim, a falta de planejamento
histórico da urbanização das cidades brasileiras, não pode ser uma
desculpa para a falta de planejamento e de transformação do espaço das
cidades. O planejamento urbano não pode ser visto como um “produto
acabado”. Ele apenas é norteador das futuras decisões que serão
147
tomadas, a respeito de uma precariedade observada, que se pretende
superar. Um bom planejamento envolve agentes do campo físico,
econômico, social e administrativo. Pode ser responsabilidade de
arquitetos, paisagistas, geógrafos, engenheiros, economistas,
sociólogos, psicólogos, políticos, administradores, mas é principalmente
responsabilidade de todos os cidadãos (WILHEIM, 2008).
As cidades e a mobilidade sustentável
A mobilidade urbana para a elaboração de cidades mais
sustentáveis é resultado de políticas que beneficiem a democratização
do espaço urbano, priorizem os meios de transporte coletivos e não
motorizados, que reduzam a segregação espacial contribuindo para a
inclusão social e favoreçam a sustentabilidade (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2007b).
Boareto (2008) divide as cidades brasileiras em dois grupos de
ações com relação à mobilidade urbana. No primeiro grupo encontram-
se as cidades com uma visão mais tradicional dos problemas e preferem
investir nas soluções que priorizem a fluidez dos veículos motorizados,
representando um planejamento de atraso. O segundo grupo pertence às
cidades que buscam eficiência em um modelo de mobilidade,
incorporando soluções de melhoria dos fluxos para as pessoas que não
utilizam carros, com a criação de corredores exclusivos de ônibus e
ciclovias. Mas o autor afirma que deve ser criado um terceiro grupo,
formado pelas cidades que buscam o desenvolvimento sustentável, com
mobilidade e criação de uma nova concepção do espaço urbano.
148
Promover a mobilidade sustentável dentro das cidades depende
de vários fatores dentre eles a conscientização dos gestores públicos
para a importância destes conceitos, e da aceitação do público em geral
da necessidade de equidade do espaço público. Este processo necessita
de uma mudança de cultura para que as análises técnicas passem a ser
introduzidas dentro do espaço urbano. Depois de introduzidas devem
ser utilizadas, minimizando a utilização de veículos motores e
introduzindo os transportes não poluentes ou coletivos, que garantam
segurança, comodidade e deslocamentos expressivos, dividindo o
mesmo sistema viário (AZEVEDO FILHO, 2012).
Resultados parciais
A pesquisa que se encontra em processo de desenvolvimento,
analisa a área do bairro Centro, onde se localizam os principais e
primordiais fluxos de bens, veículos e pessoas na cidade de Francisco
Beltrão. Em um primeiro momento a pesquisa trabalhará com a
quantificação dos fluxos externos ao bairro, que adentram na área
devido a sua característica comercial e de prestação de serviços.
Posteriormente, serão observados os principais fluxos internos do
mesmo (Figura 1).
149
Figura 1: Área do bairro Centro – Situação do Perímetro
Fonte: Mapa Guia Paraná Sudoeste. Perímetro Urbano de Fco. Beltrão – 2012,
adaptado pelo o autor em 2014.
Ainda dentro desta análise foi necessária a observação da
hierarquização das vias baseando-se na lei do sistema viário municipal
que as classifica conforme o mapa 2.
Apesar de preliminar foram estabelecidos 22 cruzamentos na
área (Mapa 3). Destes 22, foram analisados 15 cruzamentos,
representando aproximadamente 70% da pesquisa. A pesquisa levou em
consideração um período de análise de 30 minutos nos cruzamentos,
quantificando a quantidade de veículos, a existência do transporte
público, a utilização de bicicletas e observações analisadas durante o
processo.
150
Figura 2: Hierarquização das Vias na Área Central
Fonte: Mapa Guia Paraná Sudoeste. Perímetro Urbano de Fco. Beltrão – 2012,
adaptado pelo o autor em 2014.
Figura 3: Cruzamentos de Fluxos Externos do Bairro Centro de Fco.Beltrão
Fonte: Mapa Guia Paraná Sudoeste. Perímetro Urbano de Fco. Beltrão – 2012,
adaptado pelo o autor em 2014.
Anel Central
Vias Centrais
Vias Arteriais
Vias Coletoras
Hierarquização
151
A partir destas análises poderá haver uma compreensão das
rotas principais e secundárias de fluxos dos bairros adjacentes ao centro,
e analisar os principais cruzamentos de “vazão” do trânsito. O intuito da
primeira parte da pesquisa é observar o comportamento do tráfego e
veículos na cidade para propor metas para a democratização do espaço
público central de Francisco Beltrão – PR.
Tabela 1: Cruzamentos, Sentidos de Fluxos, Quantificação de Veículos.
Cruzam. Sentido do Fluxo
Hora Analisada
Segunda-feira
Dia 10/11
Qnt.
Veículos
7 R. Guaporê - R. Maranhão 14:00hs as 14:30hs 56
8 R. Tenente Camargo - Centro - R. Maranhão 14:35hs as 15:05hs 264
9 R. Curitiba - R. Maranhão 15:10hs as 15:40hs 233
10 Av. Santo Fregonesi - Centro - R. Maranhão 15:45hs as 15:15hs 78
11 R. União da Vitória - Centro - R. União da Vitória 15:20hs as 16:50hs 275
12.1 R. Antônio de Paiva Cantelmo - Centro - R. União
da Vitória
16:55hs as 17:25hs 12
12.2 Av. Luiz Antônio Faedo - Centro - R. União da Vitória
17:30hs as 18:00hs 247
13 Av. Julio Assis Cavalheiro - Centro - R. União da
Vitória
18:05hs as 18:35hs 147
14 R. São Paulo - Centro - R. União da Vitória 8:00hs as 8:30hs 25
15 R. Romeu Lauro Werlang - Centro - R. União da
Vitória
8:35hs as 9:05hs 190
16.1 R. Otaviano Teixeira dos Santos - Centro - União
da Vitória
9:10hs as 9:40hs 6
16.2 R. Paula Freitas - R. Otaviano Teixeira dos Santos 9:45hs as 10:15 hs 11
17 R. Palmas - Centro - R. Otaviano Teixeira dos
Santos
10:20hs as 10:50hs 85
18 R. Curitiba - Centro - R. Otaviano Teixeira dos Santos
10:55hs as 11:25hs 121
19 R. Tenente Camargo - R. Otaviano Teixeira dos
Santos
11:30hs as 12:00hs 178
Fonte: Autor, 2014.
152
Foram totalizados 1928 veículos que transitavam dentro destes
cruzamentos. Devem ser decrescidos 357 veículos por representarem
um fluxo contraditório ao centro, indo em direção aos bairros, por
serem vias de mãos únicas. Do total geral parcial foram contabilizados
1571 veículos, 8 cruzamentos onde deslocavam-se transportes coletivos,
e 12 cruzamentos onde deslocavam-se bicicletas (31 no total).
Além da quantificação puderam ser observados aspectos como:
a quantidade de fluxos e sentidos onde trafegavam, características de
desvios de trânsito, fluxo de motocicletas ou caminhões de cargas,
largura das vias, existência de transportes alternativos, potenciais de
equipamentos urbanos construídos, falta de acessibilidade, auto índice
de tráfego de veículos motorizados nos cruzamentos, conflitos de
trânsito, cruzamentos perigosos, potencialidades gerais e interferências.
Considerações finais
Apesar de preliminar, a pesquisa pode fornecer dados que
extrapolam a quantificação de números. Os fluxos existentes dentro da
área analisada podem prever ou até mesmo diagnosticar problemas
futuros, que acarretariam no acréscimo ou decréscimo da qualidade de
vida urbana. As rotas utilizadas por modais diversificados podem servir
como base para a criação de uma cidade sustentável e democrática.
Observando a vocação das vias e indo muito mais além de sua
hierarquização pode-se prover um espaço dotado de qualidade, e
sustentável social e economicamente. O papel ambiental também não
153
deve ser deixado de lado, promovendo a inserção da arborização
adequada e da readequação de infraestruturas subutilizadas.
A quantificação não é tão necessária quanto a análise dos
resultados observados. Os números podem variar de acordo com as
condições do tempo, fatores climáticos, horários ou até mesmo
comemorações municipais, mas os problemas observados ainda estarão
presentes no espaço.
Ao elevar, no âmbito do espaço público, os interesses próprios e
de setores predominantes, se passa a tratar o espaço que assim deveria
ser denominado- público- transformando-o em um espaço privado e
para poucos. Ao mesmo tempo, se historicamente o país e a gestão
pública sofreram pelo descaso aos métodos e meios adequados para dar
a equidade necessária ao espaço público das cidades, atualmente
amparado por políticas de leis nacionais, meios alternativos
econômicos, esta não deve mais ser uma desculpa plausível de beneficio
para um modal em detrimento aos outros. O pedestre acima de tudo será
pedestre sem um meio de locomoção motor. Democratizar o espaço é
garantir que ele seja sustentável, optativo e eficiente para todas as
classes, opiniões e setores.
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156
CAPÍTULO 8
REVITALIZAÇÃO PAISAGÍSTICA EM FRANCISCO
BELTRÃO – PR: UMA PROPOSTA PARA A AVENIDA JÚLIO
ASSIS CAVALHEIRO
Eliane Centenaro
Elizandra Castanheiro
Samari Moreira
Daniele Pagno
Introdução
Antes da existência dos centros urbanos, onde hoje eles se
erguem o ambiente era composto por florestas, campos e cursos d'água,
que em conjunto, convivem harmoniosamente com os demais elementos
naturais. Atualmente, a maioria da população mora em cidades,
obedecendo a uma tendência de concentração que tende a crescer. Isto
acarretou algumas modificações ao sistema natural, como a
impermeabilização do solo por pavimentação e construções, a utilização
maciça de materiais como concreto, vidro, ferro, asfalto e cerâmica, a
redução drástica da cobertura vegetal e o aumento da poluição
atmosférica, hídrica, visual e sonora. Como consequência, o padrão do
ambiente urbano tornou-se muito inferior àquele necessário para dar
157
condições de vida humana mais adequada. Entretanto, se o processo de
urbanização é irreversível, o que se deve buscar é tornar este ambiente
urbano o mais próximo possível do ambiente natural, compatibilizando
o desenvolvimento com a preservação ambiental e proporcionando uma
melhor qualidade de vida à população do município.
De acordo com Pedrosa, (1983) arborizar uma cidade não
significa apenas plantar árvores em ruas, jardins e praças ou criar áreas
verdes de recreação, a arborização deve atingir objetivos de
ornamentação, melhoria microclimática e diminuição da poluição,
atribuindo às arvores um valor sentimental, cultural ou histórico. As
alterações que as árvores sofrem em função das estações do ano fazem
com que estas se apresentem ora com flores, ora com folhas ou sem
folhas. Estas modificações são importantes pela renovação da paisagem
urbana. Elementos como textura, estrutura, forma e cor, inerentes às
arvores, alteram o aspecto da cidade, quebrando a monotonia e a frieza
típica das cidades.
Este trabalho justifica-se pelos aspectos positivos que a
arborização proporciona a cidade e aos munícipes, destacando as
contribuições sociais, que podem ser definidas como a saúde física e
mental do homem. As arvores no meio urbano proporcionam relevantes
benefícios ambientais às comunidades, tais como: Sombreamento;
absorção do CO2; melhoria do clima urbano, com redução da
temperatura e liberação de umidade para o ar; maior equilíbrio
ecológico; amenização da poluição sonora; prevenção contra
inundações, pois retém agua nas copas e auxiliam sua infiltração no
158
solo, reduzindo o fluxo superficial da agua. Outra qualidade que podem
ser atribuída às árvores urbanas é seu poder de interferir em
microclimas (PEDROSA, 1983).
A paisagem está disponível à integridade do ser humano. Diz-se
do auditivo, do olfativo, do táctil e do gustativo, mas ainda há mais: o
psicológico, o emocional, o histórico e, por que não, o espiritual.
Arborização urbana atua sobre o
conforto no ambiente por meio das
características naturais das
espécies, sendo desta maneira, em
tema que vem se destacando nas
discussões sobre os problemas das
cidades, na busca de maior
qualidade de vida para a população
(WESTPHAL).
Baseado nas estatísticas do Instituto Brasileiro de geografia e
estatística (IBGE), em 2014 a população de Francisco Beltrão esta
estimada em 85.486 habitantes. É também considerada como o coração
do Sudoeste, pela localização mais centralizada, e a grande procura dos
habitantes dos municípios vizinhos pelo comércio, serviços
especializados e hospitalares.
A partir desse contexto, o objetivo deste trabalho é propor um
projeto de revitalização paisagística planejado para a Avenida Júlio
Assis Cavalheiro, na cidade de Francisco Beltrão, visualizando a
possibilidade de diversos resultados positivos, visto que essa avenida é
a principal da cidade e não possui uma arborização adequada. Tem-se
um grande um aumento na população que vive nos centros das cidades
159
brasileiras que se montam em estruturas como asfalto, edificações, pisos
de concreto, telhas cerâmicas, amiantos, vidros e estruturas metálicas,
elementos com alta capacidade de refletora, que geram microclimas
quentes denominados ilhas de calor, além de compatibilização do solo.
Surgindo assim a necessidade de planejar a arborização que e são
indispensáveis para o desenvolvimento urbano para que não tragam
prejuízos futuros ao meio ambiente. Em virtude a tal necessidade
propõem–se um projeto paisagístico que seja analisado as
condicionantes do local como: Elementos arquitetônicos, ritmos
naturais e humanos, efeitos sensoriais, materiais disponíveis, tecnologia
disponível e manutenção.
Estudo de caso
Com base no estudo de caso realizado na Avenida Júlio Assis
Cavalheiro na cidade de Francisco Beltrão realizado em outubro de
2014, observa-se o uso de vários vasos de concreto para o plantio de
vegetações decorativas, porem com ausência de irrigação e manutenção
adequada.
160
Figura 1: Avenida Júlio Assis Cavalheiro – Francisco com vegetação
Angiquinho (floração o ano todo) e Buxos, Fênix e Cica
Fonte: Fotos dos autores.
Nota-se também, a utilização de blocos intertravados de
concreto como revestimento dos canteiros, contribuindo para formação
de ilhas de calor. Quanto à análise das árvores já existentes foram
avaliadas espécies, estado de conservação, formas de plantio.
Figura 2: Avenida Júlio Assis Cavalheiro - Francisco Beltrão com vegetação:
Mini azaleias e árvores Pata de Vaca – Floração: outubro/janeiro
Fonte: Fotos dos autores.
Metodologia
O tratamento do espaço livre é de suma importância, tanto no
jardim da pequena casa, seja ele um milionário ou um trabalhador
comum, como nos espaços coletivos, públicos e privados, clubes, pátios
de edifícios, calçadões, vias – parques, praças, etc., e sua existência está
vinculada à ideia de qualidade de vida urbana.
Surgiram pesquisas importantes que tratavam das modificações
climáticas em áreas urbanas provocadas pelo efeito da urbanização,
161
destacando-se o trabalho de Landsberg (1956), The Climate of towns (O
clima das cidades). Este, por sua vez, representou um marco histórico
nos estudos climatológicos, pois, é a primeira síntese que trata sobre os
estudos dos climas urbanos em cidades de latitudes médias, assinalando
os atributos que particularizam os estados atmosféricos que, em
contraste com o circundante, são observados devido à interferência
urbana. Monteiro (1976, p. 57), descreve os aspectos fundamentais que
caracterizam o clima urbano nesta síntese:
O clima urbano é a modificação substancial
de um clima local;
O desenvolvimento urbano tende a
acentuar ou eliminar as diferenças causadas pela
posição do sítio;
A cidade modifica o clima através de
alterações em superfície;
A cidade produz um aumento de calor
devido às modificações na ventilação, na umidade
e até nas precipitações, que tendem a ser mais
acentuadas;
A poluição atmosférica representa o
problema básico da climatologia das modernas
cidades industrializadas (MONTEIRO, 1976, p.
57).
No Brasil, as pesquisas envolvendo o clima urbano surgiram em
meados da década de 1970 com o trabalho de Monteiro, que procurava
enfocar o comportamento climático das cidades sob uma perspectiva
conjuntiva e integradora. Monteiro, em 1976, ao aplicar as noções da
funcionalidade sistêmica aos estudos sobre o clima urbano apresentou
uma hipótese para o seu estudo, denominado Sistema Clima Urbano,
designado pela sigla S.C.U. O autor considera o clima urbano como um
162
sistema aberto, dinâmico e adaptativo, visando compreender a
organização climática de uma cidade, centrando essencialmente sobre
os impactos da área urbana na atmosfera. A análise do Sistema Clima
Urbano é feita a partir dos campos de percepção humana e os resultados
visam, acima de tudo, o planejamento da cidade (MENDONÇA, 1994).
As alterações no clima local variam de uma cidade para outra
em função do processo de crescimento urbano, da intensidade e da
morfologia do uso do solo, além das características geoecológicas do
lugar. A ação ecológica natural associada aos fenômenos urbanos
constitui um conjunto complexo de inter-relações que caracterizam o
clima do ambiente urbano, o que podemos chamar de “clima urbano”
(LOMBARDO, 1985).
O foco da pesquisa é a ação de projeto sobre tais espaços, isto é,
a adaptação formal desses espaços para o uso cotidiano. No caso,
interessa aquele “projeto” elaborado para um espaço existente,
reservado e estruturado previamente para essa ou aquela atividade,
como um pátio, jardim, vias ou parque. Entende-se projeto como uma
ação formal de construção e, portanto, de adaptação e qualificação de
um espaço para uma ou mais atividades simultâneas, dentro de padrões
estéticos preestabelecidos.
O projeto será classificado em dois tipos, para sua forma de
concepção:
1. A primeira parte consistirá na formulação de um
inventário das plantas já existentes ao longo da Avenida
163
Júlio Assis Cavalheiro; e mobiliários existentes no
local.
2. Segunda parte será a proposta de revitalização
paisagística da Avenida Júlio Assis Cavalheiro, no
centro da cidade de Francisco Beltrão – PR; onde
caberá estudos, condicionantes e concepção do projeto.
O projeto é composto por várias fases importantes:
estudo preliminar, anteprojeto, projeto de pré-execução,
projeto executivo, divulgação e promoção, memorial
descritivo, relatórios justificativos, plano de trabalho ou
cronograma físico financeiro, orçamento, execução da
obra, instruções sobre manutenção, contrato de
manutenção e registro de projeto.
É muito importante para um projeto paisagístico que seja
analisado as condicionantes do local como: Elementos arquitetônicos,
ritmos naturais e humanos, efeitos sensoriais, materiais disponíveis,
tecnologia disponível e manutenção.
Concepção estética do projeto
São características pertinentes ao objeto – inclusive às plantas –
que influenciam, definem os efeitos, ou representam as bases para a
própria elaboração da composição. Determinada planta, revestimento ou
acessório é escolhido com base em sua forma, cor ou textura ou, ainda,
todos estes simultaneamente. A seleção das espécies deve considerar,
164
necessariamente, os seguintes itens: capacidade de adaptação,
sobrevivência e desenvolvimento no local do plantio, além de
características como porte, tipo de copa, folhas, flores, ausência de
frutos, hábito de crescimento das raízes, ausência de princípios tóxicos,
adaptabilidade climática, resistência a pragas e doenças, tolerância a
poluentes e a baixas condições de aeração do solo.
Mas podem ganhar variedade com diferenças de distância do
observador, iluminação, sombras e contrastes. Para o desenvolvimento
estético do projeto, avalia-se: os elementos estéticos e os princípios da
composição. O programa de arborização deve estabelecer para cada rua
ou padrão de rua a espécie e o porte de árvore a utilizar.
Figura 3: Detalhe da proposta de revitalização da Avenida Júlio Assis
Cavalheiro
Fonte: Elaborado pelos autores.
165
Figura 4: Imagens volumetrica da proposta de revitalizacao da Avenida Julio
Assis Cavalheiro - Francisco Beltrao – PR
Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 5: Imagens volumetrica da proposta de revitalizacao da Avenida Julio
Assis Cavalheiro - Francisco Beltrao – PR
Fonte: Elaborado pelos autores.
Elementos do projeto
São os elementos que efetivamente comporão a alteração
paisagística do local.
Espécies a utilizar para redução da poluição;
Espécies a utilizar em estacionamentos;
Espécies a utilizar em canteiros centrais;
Parâmetros para Implantação de Arborização em Calçadas.
Proposta de plantio dos seguintes tipos de árvores e vegetações:
Carambola;
166
Jerivá;
Acácia Mimosa;
Podocarpo;
Manacá da serra;
Gramíneas;
Flores das Estações.
Constituem-se na materialização das soluções e propostas
levantadas a partir dos problemas analisados nas fases anteriores e o
emprego dos princípios estéticos. Entre estes podem existir: piso,
modelagem do terreno, obstruções visuais, infraestrutura a acrescentar,
estruturas a construir, vegetação, mobiliário, iluminação, sinalização e
obras de arte e elementos decorativos.
Para a exposição das soluções propostas, devem existir recursos
visuais e explicativos que mostrem claramente: o proposto na
concepção global do projeto, todos os elementos nele contidos,
procedimentos e etapas de execução.
Legislação
De acordo com a Constituição Federal, toda cidade com mais de
20 mil habitantes deve, obrigatoriamente, contar com plano diretor
aprovado pela Câmara Municipal. Daí a existência de zoneamentos
urbanos identificando setores com vocações, destinações e regras de
ocupação específicas. Os zoneamentos determinam as regras de
167
ocupação específicas que, por sua vez, geram facilidades e/ou
dificuldades para a existência da arborização urbana.
A junção destas determinações legais básicas define as
possibilidades de efetivação da arborização urbana em seus diferentes
aspectos.
As Leis que atribuem às prefeituras a responsabilidade sobre a
realização da poda são o Art. 65 do Código Civil e o Art. 151 do
Código das Águas. Em áreas urbanas os cortes e as podas são
licenciados pelos municípios, normalmente pelas Secretarias de
Agricultura e de Meio Ambiente.
Considerações finais
A presente pesquisa acadêmica foi realizada com o objetivo de
expor as relações entre cidade e arborização e as confrontações dessa
compreensão e a realidade observada na Avenida Júlio Assis Cavalheiro
na cidade de Francisco Beltrão. Para se alcançar os objetivos
realizaram-se pesquisas bibliográficas e de observação, com emprego
de instrumento de coleta de dados in loco e através de pesquisa. Pôde-se
perceber, pela pesquisa, que os fatores que influenciam com uma
arborização adequada, dependem de múltiplas variáveis, as quais
extrapolam o escopo deste trabalho. Há necessidades que vão desde as
teorias sobre os espaços, planejadores até a necessidade de
conhecimentos amplos sobre planejamento e estruturação de
arborização por parte de todos os agentes envolvidos na urbanização.
Verificou-se que, embora haja normatização, orientações legais para o
168
planejamento, construção, uso e manutenção dos espaços e das arvores
e vegetações ali propostas. Embora pesem favoravelmente as iniciativas
e ações dos integrantes da instituição, e mesmo que o trabalho de
adequação dos ambientes tenha sido considerado “adequado” pelos que
estão no poder urbanístico hoje do município, é evidente a carência de
uma arborização planejada na avenida. No que se refere ao das arvores
para cada ser humano e a importância de cada espécie citada na
metodologia da pesquisa.
Existem dificuldades no que se refere à irrigação das vegetações
hoje plantadas. Constatou-se não haver essa compreensão,
principalmente por parte do serviço publico. Salienta-se que para se
chegar às presentes considerações foram essenciais os ensinamentos dos
autores pesquisados, que engrandeceram a fundamentação teórica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS, Lília et al. Manual para elaboração de projetos e relatórios de
pesquisa, teses, dissertações e monografias. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.
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municipal Código Florestal Unidades de Conservação. Disponível em:
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www.ibge.gov.br.
LANDSCAPE ARCHITECTURE MAGAZINE. The American Society of
Landscape Architects. Washington, 1997.
LOMBARDO, M. A. Ilha de Calor nas Metrópoles. São Paulo: Hucitec, 1985.
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Porte Médio e Pequeno: Proposições Metodológicas para Estudo e sua
Aplicação à Cidade de Londrina/PR. 300f. 1994. Tese (Doutorado) - Programa
169
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USP. www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/.../RDG18_095_111.
170
CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE URBANA: O SISTEMA WETLAND
PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES
Jean C. Appel
Fernanda Mombach Gonçalves
Danielly Leticia Rebelato
Rodney Rebelato
Ariadne Silvia de Farias
Introdução
O presente texto se propõe a tratar de um problema crescente e
muito preocupante em nossa sociedade. O crescimento desenfreado de
áreas urbanas e os problemas acarretados por esse crescimento sem
planejamento. O que se observa, atualmente, é um aumento
significativo no consumo de bens duráveis e não duráveis, sem a
preocupação com seu descarte, a expansão das grandes cidades, cada
vez mais povoadas e menos verdes, além da degradação da natureza via
a emissão de gases tóxicos e poluidores do meio ambiente, entre tantos
outros exemplos.
Faz-se necessário uma reflexão acerca do sistema que vem sendo
adotado nas grandes, médias e pequenas cidades. O rápido adensamento
dos centros urbanos demanda a adoção de medidas e intervenções
171
sustentáveis, na busca por um ambiente urbano construído de forma
mais eficiente, sob uma configuração sócio espacial, econômica,
ambiental e cultural menos individualista e mais coletivista. Segundo
Paula Raquel da Rocha Jorge Vendramini (2005), na obra “Limites e
possibilidades da sustentabilidade do meio urbano”, as cidades são
cheias de especificidades devido a concentração de pessoas, que
possuem necessidades culturais e sociais e aonde se misturam o meio
ambiente natural e o construído. Devido a estes problemas, surge a
emergência em adotar medidas que se proponham a transformar a atual
realidade urbana, buscando um ambiente urbano mais equilibrado, que
possa contar com o auxílio das novas tecnologias para a construção de
cidades mais verdes e sustentáveis.
O metabolismo das cidades
O metabolismo das cidades depende, além de seu ambiente
construído e natural, de seu funcionamento diário. Segundo Vendramini
et. al (2005), o funcionamento das cidades possui dois lados: de um lado
a cidade precisa de bens que a movimentem, energia, combustível,
alimentos, água, etc. De outro lado, a cidade gera resíduos poluentes
como a poluição do ar, da água através de resíduos líquidos e sólidos.
Segundo Vendramini (2005), a poluição do ar, os efluentes líquidos, os
resíduos sólidos e os produtos químicos precisam de uma área natural
capaz de assimilá-los ou simplesmente armazená-los. Essa área
impactada no processo de produção dos recursos somada a área
necessária para a deposição e a assimilação de seus resíduos chama-se
172
Pegada Ecológica. Segundo Girardet (apud Vendramini, 2005), o
metabolismo das cidades corre de forma unidirecional e se chama
metabolismo linear e é essa forma de metabolismo para a situação
ambiental insustentável que se vive hoje.
Este metabolismo, além de prejudicial, vem sendo alterado
devido ao crescimento acelerado das cidades, o aumento da população e
do uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis sem
discriminação, o que vem causando uma saturação no meio ambiente,
podendo ocasionar um colapso em nosso sistema. Por isso vem-se
falando em desenvolvimento sustentável. Mas a questão é o que seria o
desenvolvimento sustentável? Para se ter um desenvolvimento
sustentável devemos abranger diversas áreas, considerando os quesitos
ambiental, ecológico, social, político, econômico, cultural, espacial e
institucional.
Entre estes, o meio ambiente deve ser pensado abrangendo a fauna, a
flora, os rios, mares, matas, mas também o meio ambiente artificial,
abrangendo cidades, áreas agrícolas ou praças e parques onde houve
modificação de suas características naturais, e ainda o meio ambiente
cultural, ampliando a área de atuação para o patrimônio histórico,
arquitetura vernacular ou processos de manejo.
Dentre os diversos problemas apresentados pelas grandes e
pequenas cidades, um dos mais graves é a redução das áreas verdes. O
que se encontra é uma supervalorização do ambiente construído e as
áreas verdes naturais sendo deixadas em segundo plano, diminuindo a
qualidade de vida dos seus cidadãos. É o meio ambiente natural que
173
garante a sobrevivência do meio ambiente artificial, pois é o primeiro
que produz energia, alimento, oxigênio e que absorve os malefícios
causados pela poluição causada pelos humanos.
Antigamente pensava-se na natureza como sendo uma fonte
inesgotável de recursos, mas com o uso indiscriminado destes e o pouco
tempo para sua recuperação, o que presenciamos é um esgotamento dos
mesmos. O meio ambiente se encontra sobrecarregado e suas fontes
estão sendo cada vez mais poluídas. Segundo Vendramini e Martini
(2005), as cidades ocupam apenas 5% do território terrestre. Para Alva,
o funcionamento das cidades pode ser comparado à Segunda Lei da
Termodinâmica; assim, quanto mais intensa for a entropia, maior a
dependência por recursos externos e maior será o potencial de gerar
impactos negativos no seu entorno.
Para seu funcionamento, as cidades são compostas por diversos
elementos estruturais, divididas em diversos setores, que são
responsáveis por sua organização e funcionamento. Muitos desses
setores são apenas organizacionais ou de embelezamento, mas em sua
grande maioria, possuem funções estruturais, essenciais para o correto
funcionamento dessa complexa malha urbana. São cinco os principais
subsistemas da malha urbana: subsistema viário, de abastecimento de
água, de drenagem pluvial, de esgoto sanitário, de energia e subsistema
de comunicação. Um dos que mais causa problemas é o de esgoto
sanitário, causando poluição em nossas águas, devido à falta de
tratamento ou, ainda, ao tratamento inadequado.
174
Subsistema de recolhimento e tratamento de esgoto
O subsistema de esgotamento sanitário está intimamente ligado
ao sistema de abastecimento de água, já que uma vez fornecida, gera a
necessidade de coleta e disposição destas águas servidas, serviço
indispensável nos centros urbanos, como forma de manter o solo, os
lençóis freáticos, livres das impurezas das águas servidas. Segundo
Azevedo Netto et al (1998), define-se como sistema de esgoto sanitário
o conjunto de obras e instalações destinadas a propiciar a coleta,
afastamento, condicionamento (tratamento, quando necessário) e
disposição final do esgoto sanitário de uma comunidade, de forma
contínua e higienicamente segura (sem riscos para a saúde).
(AZEVEDO NETTO et al., 1998).
Conforme Azevedo Netto et al (1998), a instalação desse
sistema visa a melhoria das condições de higiene; a conservação dos
recursos naturais (especialmente da água); a coleta e afastamento do
esgoto sanitário; a disposição adequada dos efluentes; a eliminação dos
focos de poluição e contaminação, assim como de aspectos estáticos
desagradáveis; a proteção da comunidade e de estabelecimentos de
jusante; a preservação de áreas para lazer e práticas esportivas.
Contudo o sistema adotado atualmente, de tratamento biológico,
pode não ser o mais adequado a nossas necessidades atuais. Algumas
cidades sofrem com o tratamento inadequado e o despejo da água ainda
não tratada adequadamente aos cursos d´água. No Brasil menos de 40%
175
do tratamento urbano é tratado (RedeAcqua, 2011). Outro problema se
encontra no mau cheiro desses sistemas de tratamento e a má impressão
causada pela estrutura muitas vezes feia dessas estações de tratamento.
Por isso o estudo de novas tecnologias adotadas.
Busca por soluções inovadoras e sustentáveis: o sistema wetlands
Um novo sistema que vem sendo usado em países mais
desenvolvidos e já em algumas cidades brasileiras, e com grande
aprovação por parte dos cientistas e da população, é o sistema das
wetlands construídas.
Segundo Zanella, Nour e Roston (2009), conceitua-se wetland
como:
Wetland é a denominação inglesa genérica dada às
áreas úmidas naturais onde ocorre a transição entre
os ambientes aquáticos e terrestres, reconhecidas
como um rico habitat para diversas espécies e
capazes de melhorar a qualidade das águas. Os
pântanos, brejos, charcos, várzeas, lagos muito
rasos e manguezais são exemplos desse tipo de
terreno.
Já a wetland construída é definida como sistemas naturais de
tratamento de efluentes que tiram partido do conjunto solo-planta para o
pós-tratamento de efluentes. Os sistemas de wetlands-construídas, ao
contrário dos alagados naturais, são elaborados com a finalidade de
receber esgotos previamente tratados e proporcionar um incremento na
qualidade desse esgoto. Podem ser definidas como sistemas alagados ou
saturados, de matriz solo, planta e microrganismos, construídos
176
especificamente para o controle de poluição ou tratamento de efluentes.
São, portanto, sistemas controlados que simulam e aceleram as
condições naturais encontradas nos terrenos alagados naturais. (NOUR
e ROSTON, 2009).
Esse novo sistema além da melhoria no tratamento do esgoto,
tem o apelo estético, já que sua cobertura vegetal embeleza o ambiente,
o que acaba por atrair a população, que por vezes é contra a implantação
de sistemas de esgoto próximo a suas casas devido ao aspecto feio e ao
mau cheiro.
Basicamente, esses sistemas são constituídos de canais
preenchidos por meio poroso com alta condutividade hidráulica
(usualmente cascalho, areia grossa ou brita), o qual dá suporte ao
crescimento de macrófitas e de biofilme, além do fundamental papel de
atuar como filtro para alguns poluentes. Mas sofre algumas variações,
de acordo com as especificidades do local aonde será implantado. As
variantes são: o fluxo principal de escoamento; e, a posição da lâmina
d‟água em relação ao meio suporte e em relação ao tipo de vegetação
utilizado. A classificação dessas variantes ocorre da seguinte forma:
fluxo horizontal; fluxo superficial, por meio de: vegetação emergente,
vegetação flutuante, vegetação fixa de folhas flutuantes, e/ou, ainda,
vegetação submersa (fixa ou livre); fluxo sub superficial; fluxo
combinado; e, fluxo vertical.
As wetlands de fluxo sub superficial construídas para o
tratamento de efluentes são tanques rasos ou canais preenchidos com
meio suporte, sendo adicionada vegetação adaptada a este tipo de água
177
poluída e saturada. O esgoto deve escoar horizontalmente pelo leito,
com o nível da lâmina líquida abaixo da superfície do leito, evitando,
assim a geração de odores, a exposição dessas águas ao homem ou
animais e a proliferação de insetos. Esse esgoto deve sofrer ação de
microrganismos aderidos ao meio suporte e das plantas e de processos
físicos de filtração e decantação. Já o meio de suporte proporciona uma
superfície para a adesão de biofilme, funcionando, assim, como uma
área ativa nos tratamentos dos efluentes. Isso acarreta um melhor
aproveitamento da área, sendo necessária uma menor área no
tratamento.
Estudos de caso
1. Feagri
Foi realizado um experimento, utilizando um sistema que trata o
esgoto gerado pela Feagri e laboratórios adjacentes e conta com um
reator compartimentado anaeróbio de três câmaras, responsável pelo
tratamento secundário, e um conjunto de seis wetlands-construídas,
operando em paralelo, para o pós-tratamento. Cada uma das wetlands
tem dimensões de 2,7 m de comprimento por 1,7 m de largura por 0,50
m de profundidade e volume total de 2,3 m³. O volume útil teórico dos
tanques é função do índice de vazios do meio suporte utilizado: 44,7%
para brita e 73,4% para os anéis de bambu.
Três das wetlands têm como meio suporte pedra britada n°1
adquirida comercialmente, as demais são preenchidas com um meio
178
suporte inovador: anéis de bambu de cerca de 5 cm de altura por 5 cm
de diâmetro.
Embora ainda não corriqueiro, uma série de
espécies vegetais de interesse ornamental pode ser
adaptada ao sistema de pós-tratamento de esgotos.
Inicialmente duas espécies haviam sido escolhidas
como espécies principais para avaliação: Cyperus
papyrus (papiro), Zantedeschia aethiopica (copo
de leite). Após problemas de adaptação
apresentados pelo copo de leite, novas espécies
foram agregadas ao sistema, dentre elas mais duas
espécies consideradas principais: Canna x
Generalis (biri) e Cyperus isocladus (mini papiro);
e espécies secundárias: Alpinia purpurata
(alpínia), Alpinia zerumbet variegata (alpínia
concha listrada), Zingiber spectabile (gengibre
ornamental), Agapanthus africanus (agapanto),
Dietes bicolor (moréia), Heliconia psittacorum
(helicônia-papagaio), Neomarica caerulea (falso
íris), Nelumbo nucifera (flor de lótus).
Devido ao seu crescimento vigoroso, o papiro foi
utilizado como planta principal em dois tanques.
Outros dois, chamados de “plantas mistas”,
tiveram o copo de leite, o mini papiro e o biri
como plantas principais. Os últimos dois tanques
não foram vegetados.
O crescimento vegetal foi visivelmente superior
nas wetlands-construídas que utilizavam leito de
brita. Os valores médios de interesse para os
parâmetros de controle das wetlands-construídas
são apresentados na Tabela 1.
Os resultados referentes à eficiência de remoção
são apresentados tomando por base a concentração
do parâmetro no líquido, método tradicional de
verificação, embora a remoção real do sistema
deva ser verificada em termos de carga já que
muita água é perdida pela evapotranspiração da
vegetação utilizada, subestimando a capacidade do
sistema.
179
Tabela 1: Valores médios dos parâmetros de controle do sistema de wetlands-
construídas
Parâmetro brita + papiro
brita + mistas
brita sem vegetação
bambu + papiro
bambu + mistas
bambu sem vegetação
TDH (dias) 1,5 1,9 2,1 1,3 1,0 1,3
Remoção de DBO
(%) 49,4 61,6 58,4 30,9 20,1 45,4
Remoção de DQO
(%) 62,1 63,9 55,8 23,1 29,7 20,4
Remoção de SST (%)
71,6 76,2 74,8 60,8 52,0 62,5
Remoção de SSF
(%) 69,2 70,8 51,3 62,1 39,9 54,3
Remoção de SSV
(%) 71,5 82,4 77,9 56,0 64,0 64,1
OD (mg.L-1) 3,3 2,5 2,7 1,8 1,8 1,4
Cor (mgPt.L-1) 242,11 200,67 159,09 415,39 404,47 384,62
Turbidez (UT) 27,5 19,0 12,5 47,1 48,1 45,3
Remoção de Ptotal
(%) 31,9 7,9 5,1 6,7 8,3 3,4
Remoção de
nitrato (%) 21,1 29,5 38,5 31,1 17,3 13,0
Remoção de nitrito (%)
-89,5 -15,8 -27,3 -57,9 -79,2 -49,8
Remoção de
Namoniacal (%) 2,9 -17,0 -5,8 -23,2 -21,0 -32,3
Remoção de Norgânico (%)
5,3 -18,5 26,4 1,7 5,9 7,2
Remoção de Coliformes totais
(%)
86,0 75,1 51,1 92,0 50,3 40,1
Remoção de coliformes
termotolerantes
(%)
91,7 59,9 92,8 91,6 71,0 75,9
180
Fonte: http://www.cehop.se.gov.br/. Acesso em: maio/2015.
Segundo o experimento, esse sistema mostrou-se apto para ser
utilizado como pós-tratamento de reatores anaeróbios tratando esgotos
domésticos e apresentou as características paisagísticas buscadas, com
boa adaptação das espécies utilizadas às condições impostas pelo
sistema. As espécies que melhor se adaptaram foram o papiro, biri e
mini-papiro. Já os anéis de bambu surgem como possibilidade de
material suporte à vegetação e aos microrganismos em sistemas de
wetlands-construídas embora os resultados obtidos com leito de brita
tenham sido melhores.
2. Nanterre - França
Na França, o Rio Sena também sofre com a poluição. Em
Nanterre, foi construído um centro de tratamento que parece um parque,
aberto ao público, com a objetivo de purificar o Rio Sena. Este projeto é
obra do arquiteto Thierry Jacquet. O parque estoca água limpa para que
quando houver tempestade ou um tempo de crise, com muita poluição, a
água limpa é enviada ao rio para que os peixes não morram asfixiados.
O sistema funciona da seguinte maneira: a água do rio Sena é
levada à uma estação através do Parafuso de Arquimedes, um
equipamento mecânico que consome pouca energia, até os jardins aonde
será filtrada.
181
Figura 1: Parafuso de Arquimedes.
Fonte: Imagem retirada do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2d. Acesso em: out./2014.
No primeiro jardim é realizada a primeira etapa do tratamento, é
tirado o grosso, retira o que deixa a água mais turva, a gordura, os
hidrocarbonetos, os compostos e partículas orgânicas são filtradas
naturalmente e depositadas no fundo, no nível das raízes das plantas,
que vão decompor essa matéria. O objetivo desta primeira etapa é ter
uma água mais clara, para se passar à segunda etapa. Nesta segunda
etapa, no segundo jardim, o objetivo é o tratamento bacteriológico, com
a retirada dos germes patogênicos e dos organismos perigosos para a
saúde humana.
As plantas utilizadas não acumulam a sujeira. Os componentes
orgânicos são tratados nas raízes das plantas, não chegando às mesmas.
Dentre as plantas usadas, as ninféias são utilizadas porque elas são uma
bombinha de aeração de água, pequena bomba de ar que aumenta o
nível de oxigênio da água, principal fator para o funcionamento do
processo. Terminando a etapa de oxigenação da água, esta fica limpa,
182
quase potável, podendo ser ingerida sem o perigo de contaminação e
também é indicada para banho. Esta água tratada fica estocada em um
local grande, que o arquiteto chama de rio, com capacidade para
armazenar 30 mil metros cúbicos e essa água é enviada ao rio Sena
quando necessário.
O parque era um antigo lixão e os caminhos foram feitos de
concreto misturados com pets, vidros encontrados ali. Portanto é um
parque ecológico também. Fica localizado no bairro de Nanterre, no
subúrbio de Paris e foi valorizado com a implantação do parque, tendo
inclusive, um considerável aumento dos valores de seus lotes.
O sistema também tem a vantagem de ser mais barato do que o
sistema de tratamento de água tradicional, chegando a ser 30% mais
barato e sendo sua manutenção cerca de 10 a 20% do valor de custos de
uma unidade de tratamento tradicional, já que não usa produtos
químicos nem eletricidade.
Figura 2: Água no estado inicial
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
183
Figura 3: Jardins
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
Figura 4: Jardins
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
184
Figura 5: Blocos de concreto reciclados
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
Figura 6: Ninféias
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
185
Figura 7: Água limpa após o processo
Fonte: imagens retiradas do programa assistido em
http://www.youtube.com/watch?v=44xuoigQ2do. Acesso em: out./2014.
Cidades que adotam o sistema no Brasil: alguns exemplos
Novo Hamburgo - RS
A cidade de Novo Hamburgo no Rio Grande do Sul vem
adotando o sistema de wetland. O município tinha apenas 5% do seu
esgoto tratado e a expectativa é que com a implantação do sistema,
passe à 40%. Esse sistema foi implantado no município devido ao
estudo realizado pela Universidade Feevale – Federação de
Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo. O
município que gastava cerca de um milhão e meio de reais no
tratamento de esgoto, pode economizar até um terço do valor.
A cidade já destinou cerca de 11 hectares de terra para a
implantação do sistema, aonde serão construídas 9 lagoas. Segundo os
organizadores do projeto, esse será o maior local de tratamento com
plantas macrófitas flutuantes do mundo e a intenção é de que vire um
local de estudo e de visitação pública, motivo pelo qual está sendo
186
realizado um projeto urbanístico e paisagístico, visando atender as
excursões de escolas e de turistas.
Alagoinhas - BA
Na cidade de Alagoinhas, foi instalado o sistema Wetland e os
estudos realizados confirmam a eficiência do sistema na redução da
matéria orgânica, que chegou a 70%, o equivalente a uma unidade de
tratamento primária. Os valores encontrados indicaram uma redução de
DBO de 73% e de DQC. Já a redução de sólidos suspensos e da
turbidez da água foram de 71,8% e 54,7%, respectivamente.
Segundo os estudos, o emprego de sistemas semelhantes a este
em pontos de lançamento de esgoto doméstico em corpos d'água
atenuariam os impactos nos corpos hídricos, melhorando a qualidade de
suas águas e promovendo uma melhor qualidade para a vida aquática e
reduzindo o processo de assoreamento.
Ainda, foi constatado que o investimento para a implantação de
outras unidades, que funcionariam como pré e pós-tratamento e
custariam um total de aproximadamente R$ 15,00 por habitante,
trazendo uma redução de 70% na remoção de DBO do lançamento num
corpo receptor, conforme comprovam as tabelas apresentadas pelos
autores:
187
Tabela 2: Valores médios de Coliformes Fecais, Coliformes Totais, Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO),
Sólidos Suspensos (SS), e Turbidez no sistema Caixa de Areia/”Wetland”,
Alagoinhas, 2003.
Parâmetros
Eficiência de remoção (%)
Entrada da caixa de
areia
Entrada da
“wetland”
Saída da “wetland”
Coliforme fecal
(NMP)
4,5 x 105 4,3 x 105 2,6 x 105
Coliforme total
(NMP)
5,0 x 105 5,4 x 105 2,4 x 105
DBO (mg/1) 601,6 598,3 162,3
DQO (mg/1) 1.121,5 1.097,5 215,5
OD (mg/1) 0,8 1,1 1,7
pH 6,8 6,9 7,0
S. Suspenso (mg/1) 699,0 419,5 74,3
S. Totais (mg/1) 2.204,0 1.571,8 620,5
Turbidez (UNT) 232,8 205,0 105,6
Fonte: REIS et. al (2003, p. 5).
Tabela 3: Eficiência média de remoção de Coliformes Fecais, Coliformes
Totais, Demanda de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO),
Sólidos Suspensos (SS), e Turbidez no sistema Caixa de Areia/”Wetland”,
Alagoinhas, 2003.
Parâmetros Eficiência de remoção (%)
“wetland” Caixa de areia e “wetland”
Colifrme fecal 40,1 42,9
Coliforme total 55,5 51,5
DBO 72,9 73,0
DQO 80,4 80,8
S. Suspenso 60,5 71,8
Turbidez 48,4 54,7
Fonte: REIS et. al (2003, p. 5).
Proposta de intervenção
A proposta consiste na implantação de uma wetland na cidade
de Francisco Beltrão, nas proximidades do prolongamento da Avenida
Júlio Assis Cavalheiro, visando atender a demanda por tratamento de
esgoto dos loteamentos que estão surgindo e dos bairros próximos. O
188
sistema faria parte de complexo de parque urbano na extensão do novo
lago instalado próximo à Universidade Paranaense – UNIPAR, e tem
por objetivo, não apenas a adoção de um novo sistema de tratamento de
esgoto, mas também proporcionar aos moradores dos bairros próximos
e mesmo ao município, um local de passeio, agradável, aonde possam
praticar esportes, caminhar ou apenas passear com amigos e família.
O município de Francisco Beltrão possui uma estação de
tratamento de esgotos sanitários, mas esta já está defasada e devido a
sua localização, não possui mais meios de crescimento. Seu sistema,
também, interfere na qualidade de vida dos moradores vizinhos, que já
sentem o desconforto devido ao mau cheiro.
Esse sistema, sendo implantado, não traz qualquer desconforto
visual ou olfativo, além de reduzir os gastos com o tratamento,
podendo, após todo o processo, despejar a água já limpa nos lagos e rios
da cidade.
Figura 8: Localização da proposta
Fonte: Adaptado de Google Maps.
189
Figura 9: Mapa com localização segundo mapa de Francisco Beltrão
Fonte: Adaptado de http://franciscobeltrao.pr.gov.br
190
Figura 9: Áreas de abrangência da proposta
Fonte: Adaptado Google Maps
Figura 10: Implantação do parque ambiental
191
Fonte: Os autores (2014).
Figura 11: Representação gráfica da estação wetland
Fonte: Os autores (2014).
Figura 12: Representação do funcionamento
Fonte: http://www.phytorestore.com/en/la-bioferme.html. Acesso em:
out./2014.
192
Figura 13: Representação do funcionamento do sistema com as plantas
Fonte: http://projects.inweh.unu.edu/inweh/display.php?ID=2721. Acesso em:
out./2014.
Considerações finais
A gestão dos resíduos e efluentes humanos é umas das questões
mais problemáticas enfrentadas hoje pelos gestores do espaço urbano.
No Brasil, muitas casas, sejam em áreas urbanas ou rurais, não possuem
coleta e tratamento adequado de seus efluentes, que acabam sendo
lançados sem qualquer tratamento em rios, lagos, córregos e, por vezes,
diretamente no solo. Mais alguns agravantes, há muito tempo
anunciados, a escassez de água, a poluição dos rios e lagos e mesmo de
nossos aquíferos, são situações inaceitáveis.
Muitos estudos vêm procurando acabar com esses problemas
sociais, através de tratamentos novos e diferenciados. As wetlands se
configuram como um sistema natural menos dispendioso e que não
ocasiona grandes alterações no meio urbano, podendo fazer parte das
áreas comuns da população. Os sistemas de wetlands aqui apresentados,
são soluções modernas, mais baratas e muito eficientes, que além de
193
apresentarem uma solução para o tratamento de esgoto sanitário,
também possuem uma função paisagística para a área de sua
implantação.
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195
CAPÍTULO 10
OCUPAÇÃO DESORDENADA DO SOLO E ENCHENTES:
ESTUDO DE FRANCISCO BELTRÃO - PR
Maicon de Oliveira
Monique Capoani
Telmo Cioatto
Guilherme Daltoé
Introdução
O planeta está passando por alterações climáticas cada vez mais
graves, onde os fatores da natureza, como a chuva e a temperatura,
estão atípicos. Essas alterações trazem alguns dos fenômenos naturais
que não desejamos, sendo eles: as cheias, inundações, alagamentos e
enchentes.
De acordo com VALENTE (2009), cheias, enchentes e
inundações, são resultados de comportamentos de cursos d`água, já os
alagamentos, se define sendo o acúmulo de água formados pelas
enxurradas, ocorridas em áreas total ou parcialmente
impermeabilizadas.
Estes fenômenos citados são considerados fenômenos naturais,
no entanto estão cada vez mais graves por consequência das
196
interferências irregulares dos homens perante a natureza. Para TUCCI
(1995):
As enchentes urbanas são um problema crônico no
Brasil, devido principalmente à gerência
inadequada do planejamento de drenagem e à
filosofia errônea dos projetos de engenharia. A
gestão deficiente é resultado da falta de
mecanismos legais e administrativos, de controle
da ampliação das cheias devido à urbanização
(TUCCI, 2008, p.15).
Em Francisco Beltrão, esses fenômenos já se tornaram
realidade. De acordo com o jornal Gazeta do Povo em um dos
alagamentos ocorridos na cidade em Junho de 2014, um total de 200
famílias apresentaram-se desabrigadas, o que causou desordem na vida
das famílias atingidas, problemas de saúde decorrente da água em
contato com o lixo, perdas materiais, deixando um prejuízo ao
município de aproximadamente, R$ 4,5 milhões. (PEREIRA, 2014)
De acordo com MENDONÇA (1994), no município de
Francisco Beltrão, as inundações que ocorrem na área urbana de tempos
em tempos e que marcaram seu desenvolvimento e a vida de seus
moradores, estão vinculadas ao transbordamento das águas dos canais
naturais do rio Marrecas e seus afluentes, Urutago e Lonqueador,
situados na parte interna da cidade.
Dentro deste contexto, o objetivo da presente pesquisa é
analisar o histórico do processo de enchentes ocorridas na área urbana
de Francisco Beltrão – PR, buscando apresentar as causas e
consequências, além das possíveis soluções para amenizar esta
problemática na cidade.
197
Problemática
Francisco Beltrão localiza-se na região sudoeste do Paraná. Este
município, a exemplo do que aconteceu com muitas cidades durante
suas gêneses, teve a formação de sua área urbana nas margens de um
rio, o Rio Marrecas. Na época, da formação da cidade não houve o
planejamento com relação à expansão urbana, e com o crescimento
horizontal desordenado apareceram algumas problemáticas, entre elas
os alagamentos, ainda presentes nos dias atuais.
A falta de ações administrativas que possam oferecer soluções
para as áreas de risco traz ao longo tempo, registros de vários
alagamentos e perdas de bens por muitas famílias. Por outro lado,
mesmo com as indicações previstas na lei do uso do solo (Lei nº 6.766,
de 19 de dezembro de 1979) e no estatuto da cidade (Lei nº 10.257, de
10 de julho de 2001) a realidade que se encontra na cidade continua
dando prioridade para a especulação imobiliária, que continua a ocupar
áreas inadequadas.
Segundo PENA (2014), os rios intermitentes, aqueles que nunca
secam durante o ano, costumam ter dois tipos de leito: um menor e
principal, por onde a água corre durante a maior parte do tempo, e um
maior e complementar, que é inundado apenas em períodos de cheias.
Essa manifestação é mais comum em áreas planas, também chamadas
de planícies de inundação. Justamente as famílias mais afetadas são
aquelas que estão assentadas sobre o leito maior.
198
Levando-se em consideração todo o material de pesquisa
levantado, conversa com profissionais e sugestões populares,
questionamos se é possível controlar a inundação na cidade de
Francisco Beltrão, quais seria as medidas cabíveis para se viabilizar
uma nova solução para esse problema?
Histórico da expansão urbana e incidência de inundações em
Francisco Beltrão
Segundo o censo do IBGE do ano de 2010, a população total de
Francisco Beltrão é de 79.850 habitantes, sendo 63.880 habitantes da
área urbana, sendo a maior população no Sudoeste do Paraná.
Atualmente a taxa de crescimento demográfico é de 1,1% ao ano (2000-
2007), próxima a média estadual.
Ainda de acordo com o IBGE, o município atravessou a sua
fase de maior crescimento nas décadas de 60 e 70 quando grandes
contingentes de imigrantes gaúchos e catarinenses chegaram a região, se
fixando muitos no próprio município de Francisco Beltrão como
também em outros da região, período que muitos pequenos municípios
foram então emancipados.
Segundo informações publicadas no site da Prefeitura de
Francisco Beltrão, os primeiros imigrantes instalaram-se às margens do
rio Marrecas, construíram galpões provisórios, que se tornaram então,
definitivos. A partir deste local, formou-se o povoado, e então, a cidade
de Francisco Beltrão. E, é a partir do Rio Marrecas, e seus afluentes,
Urutago e Lonqueador, que em Francisco Beltrão ocorrem as
199
inundações. Em dias de grande volume pluviométrico, o nível do rio
cresce aceleradamente, não tendo para onde escoar transborda e acaba
por afetar as moradias mais próximas da bacia hidrográfica.
De acordo com SANTIS (2014) as enchentes e inundações
desse rio devido ao alto índice pluviométrico, datam dos anos 50 e 60,
já eram motivos de preocupação aos habitantes (Figura 1). Segundo a
mesma fonte, se tem o depoimento do pioneiro Roberto Grando em que
ele diz ''Houve uma grande enchente. O rio Marrecas subiu tanto que
suas águas chegaram ao moinho do lago, distante três quadras das
margens do rio. Em 1961, o leito do Marrecas transbordou a ponto de
interditar a ponte da CANGO (bairro local)''.
Figura 1: Enchente do rio Marrecas, atingindo ponte de madeira de acesso a
cidade e. 19/06/1954.
Fonte: Antropologia Visual de Francisco Beltrão – 2012.
Os relatos de Grando indicam continuidade das enchentes, no
ano de 1963 houve uma enchente e em 1964, a enchente se deu por
200
conta da terraplanagem feita nas ruas. E no ano de 1965 ocorreram duas
enchentes, segundo ele, a década de sessenta foi uma época de muita
chuva em toda a região do Sudoeste. (SANTIS, 2014) E, em agosto de
1972, mais um alagamento (Figura 2).
Figura 2: Enchente Rio Marrecas entre as pontes da Av. Luiz Antônio Faedo e
Av. Júlio Assis Cavalheiro, alagamento das ruas Antonina, Porto Alegre,
Florianópolis e Guiomar Lopes, em agosto de 1972.
Fonte: Antropologia Visual de Francisco Beltrão – 2012.
Segundo SANTIS e MENDONÇA, foi no ano de 1983 (Figuras
3 e 4), que Francisco Beltrão, noticiou a sua maior enchente, atingindo
no total 4.500 pessoas.
O rio Marrecas subiu 10 m. acima de seu nível
normal, saindo da caixa, alagando bairros e até a
Avenida Júlio Assis Cavalheiro, além de represar
os rios Urutago e Lonqueador. Mais de 1000 casas
foram atingidas, desabrigando 4.500 pessoas (...)
Em 20/05, das 9 horas da manhã de Quarta-feira às
nove da manhã de Quinta feira, registrou-se um
recorde de 156,2mm de chuva e daquela hora até
às 20 horas da mesma Quinta feira, mais 70 mm,
totalizando 226,2mm em apenas 35 horas. O
marrecas começou a encher por volta das 17 horas
201
da Quinta-feira, dia 19 e atingiu o ápice às 10
horas do dia seguinte (Jornal O Estado do Paraná,
apud SANTIS; MENDONÇA, p.03).
Figura 3: Ponte da Av. Júlio Assis Cavalheiro coberta pelas águas do Rio
Marrecas, em maio de 1983.
Fonte: Antropologia Visual de Francisco Beltrão - 2012
Figura 4: Rua Porto Alegre, atingida pela enchente, entre as ruas Sergipe e
Antônio De Paiva Cantelmo, em maio de 1983.
Fonte: Antropologia Visual de Francisco Beltrão - 2012
202
No que diz respeito ao ano de 2014, ocorreram três enchentes
em Francisco Beltrão, a primeira, no dia 1o
de maio, a segunda, no dia
26 de junho, e a última, até então, no dia 29 de setembro. A primeira
enchente de 2014, fez com que o Rio Marrecas, atingisse 6,4 metros
acima do leito normal, com dificuldade de vazão, não apenas no rio,
mas também nos seus córregos, conforme informações do Diário do
Sudoeste. Com índice pluviométrico superior a 200 mm, foram
registrados o atendimento de aproximadamente 180 famílias, segundo o
Corpo de Bombeiros da cidade.
A segunda enchente de 2014, sendo essa e a anterior, ocorridas
em um prazo de 60 dias, fez com que Francisco Beltrão, pela segunda
vez reconhecesse situação de emergência, após uma chuva contínua de
mais de 200 mm fez com que, o Rio Marrecas atingisse 5,9 metros
acima do nível normal, deixando um rastro de 200 famílias
desabrigadas ou em situação grave, segundo informações do site da
Prefeitura de Francisco Beltrão.
A última enchente de 2014, até então, obteve um registro de
110 famílias desalojadas, decorrentes do acréscimo de 5 metros acima
do nível normal do rio, ocasionado pelo represamento de córregos
afluentes como os rios Lonqueador, Urutago e Progresso, durante e
após, aproximadamente 170 mm de chuva. Segundo informações do
Jornal Gazeta do Povo.
A cada enchente que acontece em Francisco Beltrão, novos
pontos são afetados, criando assim um fator surpresa para muitas
famílias, visto que até então nunca havia chegado até essas residências.
203
Tem-se como base, um mapa com as áreas afetadas pelas enchentes em
Francisco Beltrão (Figura 5).
Figura 5: Mapa dos pontos (manchas claras) de alagamentos de Francisco
Belrão em 2014.
Fonte: Imagem do Google Earth modificada pelos autores.
A cada dia que a chuva começa, em Francisco Beltrão,
moradores que de uma forma ou de outra foram afetados, ficam com um
sentimento de medo, aflitos com os acontecimentos, e na esperança, que
a chuva não provoque mais danos. Francisco Beltrão, precisa, e logo, de
projetos e atitudes que minimizem essa situação.
204
Enchentes devido à urbanização
Da forma desordenada como está acontecendo a ocupação do
solo urbano no Brasil, sem considerar as características principais e
deficiências do solo para certas implantações, muitas vezes, aliados à
falta de infraestrutura adequada, vem ocasionando inúmeros impactos
negativos para a qualidade do meio urbano. Apesar de atingirem o
ambiente como um todo, esses impactos se refletem de maneira
acentuada na qualidade de vida dos habitantes.
O espaço urbano é definido como consequência da
relação que o homem tem com o espaço construído
e a natureza, no instante em que surgem
aglomerados populacionais e as atividades
humanas se diversificam. Essa relação produz
mudanças no ambiente para adequação das
necessidades do homem para torná-lo apto a sua
habitação e atividades (MOREIRA,1999 apud
BISPO, 2011, p.02).
A ocupação inadequada dessas áreas, geram impactos
ambientais que passam pela impermeabilização do solo, alterações na
topografia, erosão das margens, aumento do escoamento superficial e a
modificação na quantidade e qualidade dos recursos hídricos, gerando,
assim, grandes perdas para a cidade, pois domicílios são atingidos.
De acordo com TUCCI (2008, p.19):
A tendência da urbanização, é ocorrer no sentido
de jusante para montante, por causa das
características do relevo. Quando se é projetado
um loteamento, os municípios exigem que o
projeto de esgoto pluvial, seja eficiente para drenar
a água de todo o loteamento, mas quando o
205
município não tem esse controle, a ocorrência de
problemas devido a chuva, aumenta, com isso
ocorrendo perdas sociais e econômicas (TUCCI,
2008, p.19).
De acordo com AMORIM e CORDEIRO, as cidades no
passado localizavam-se próximas a rios de médio e grande portes, fato
esse que aconteceu aqui em Francisco Beltrão. E a partir disso, a parcela
do leito maior que é ocupada pela população sempre dependeu da
memória dos habitantes e da frequência com que as enchentes ocorriam.
E para a maioria dos habitantes, uma sequência de anos sem
inundações, é motivo para que a sociedade pressione e que não haja
preocupação para a ocupação do leito maior do rio e suas margens.
A falta do planejamento sobre a ocupação do solo gera
consequências que são sentidas em praticamente, todas as cidades, tanto
de pequeno, médio e grande porte. Depois que o espaço está
praticamente todo ocupado, as soluções até mesmo para a amenização
do problema, se tornam extremamente onerosas. Então, o poder público
passa a investir parte significativa do orçamento para tentar revitalizar
uma parte da cidade, por falta do planejamento e mau ocupação do solo,
dinheiro este que poderia estar sendo empregado em outras diretrizes.
Parcelamento do solo
Conforme ARRUDA (1997), ao se parcelar o solo urbano pode
ser considerado um início para o desenvolvimento do planejamento. A
implantação de um loteamento apenas com a finalidade de criar lotes
para a população sem pensar em como o solo vai agir a esta situação,
206
como realizado antigamente, tem demonstrado que não foi executado da
maneira correta.
A dita cooperativa vendeu imóveis em um
loteamento a terceiros, omitindo a existência de
hipoteca em favor da Caixa Econômica Federal. E
o pior: que, em virtude de débitos entre a
cooperativa e o credor da hipoteca, esta já estava
sendo executada, estando penhorados os imóveis
alienados, diversas outras irregularidades foram
encontradas, desde irregularidades na natureza da
constituição da cooperativa, até a falta de obras de
infraestrutura no loteamento (ROSA et al., 2007).
A principal importância do parcelamento de solo pode ser
considerado como um mecanismo de estruturas dentro do espaço
urbano, sempre que foi executado a sua implantação o espaço destinado
para diversos fins fara parte de sua estrutura. Assim torna-se essencial
que seus projetistas dominem completamente a técnica de parcelamento
para todos os ambientes possíveis, gerando mais qualidade de vida.
Explorando a cidade como um organismo vivo,
REGISTER (2002) faz uma analogia da anatomia
da cidade com a anatomia humana. As ruas, redes
de água, esgoto drenagem e gás funcionam como o
Sistema Circulatório, a arquitetura com seus
elementos verticais funciona como apoio, similar
ao Sistema Esquelético, os alimentos e os
combustíveis funcionam como o Sistema
Digestivo, que transformam a energia armazenada.
Os sistemas de tratamento de agua ou
compostagem funcionam como um sistema de
filtragem e Reciclagem e, os lixo incineradores e
saídas de esgotos atuam como o Sistema de
Excreção. Esse tratamento pode ser interessante
para efeitos de educação ambiental da população,
207
mas para o urbanismo o desempenho das
atividades tem que estar associado a morfologia,
no lugar ou sitio em que cada cidade está
implantada (ANDRADE; ROMERO, 2007).
Ao comparar o corpo humano com uma cidade, é visível que é
necessário um entendimento de parcelamentos de solos para a
elaboração de intervenções urbanas. Sobre as atuais condições da cidade
de, os planejadores e empreendedores devem analisar o projeto de um
loteamento no espaço urbano como uma intervenção aplicada ao
contexto da cidade, pensando no desenvolvimento sustentável.
O parcelamento do solo urbano não deve ser visto apenas como
uma parte de uma gleba de terra dividida em várias partes
comercializáveis, e sim deve ser pensada e executada para torná-la um
espaço que apresente condições reais de uma moradia ou comércio
sustentável pensando no uso ideal de cada parcela de solo, tendo em
toda sua área redes de esgoto, água potável e drenagem de aguas
pluviais, para evitar enchentes.
Conforme exposto por Saule Jr. e Uzzo (2009), uma das
principais preocupações para os próximos anos é a defesa das terras
públicas para atender as necessidades das populações pobres e a
constituição de uma política nacional de preservação aos conflitos
fundiários. Nesse sentido, é importante ressaltar que as terras
alagadiças, além de impróprias para a ocupação residencial, deveriam
ser de posse do poder público. Além disso, é de extrema importância
que a política pública voltada para esta questão dos alagamentos,
208
amenizando o máximo possível os problemas daqueles que hoje
ocupam áreas inadequadas.
Vale lembrar que um planejamento adequado é mais econômico
a longo prazo do que os investimentos necessários para sanar o caos
causado após as épocas de chuvas da região, preservando, assim, os
cofres públicos e permitindo que se utilize estes recursos para outras
necessidades no ambiente urbano e garantindo o direito de todos à uma
cidade socialmente adequada.
Entrevista com arquiteto e urbanista Dalcy Salvati
O arquiteto e urbanista pioneiro de Francisco Beltrão, Dalcy
SALVATI, que desde a década de 1980 trabalhou junto a gestão pública
da prefeitura em várias administrações, na área de planejamento urbano,
arquitetura e infraestrutura, relata em entrevista falada algumas
deficiências e soluções para os casos de alagamentos em Francisco
Beltrão.
SALVATI que reside em Francisco Beltrão desde 9 de
setembro de 1952 recorda e comenta sobre as enchentes que
aconteceram nos anos de 1954, 1961 e 1972, as maiores ocorreram no
ano de 1983, sendo a primeira em maio e a segunda em junho.
Com relação às enchentes atuais, SALVATI afirma que elas
estão longe das de 1983, a diferença é que naquela época a cidade era
menos ocupada. “Aquela área da parte baixa das ruas São Paulo e
Vereador Romeu Lauro Werlang eram quase vazias nas enchentes de
1972, mas já nas de 1983 já estavam bem ocupadas. Nas atuais não
209
chegaram a serem atingidas. Um exemplo é o Hospital São Francisco
(antigo Dr. Kit Abdalla) que nas de 1983 chegou a ter mais de um metro
de água em seu interior.”.
Como urbanista já apresentou muitas propostas de planejamento
para Francisco Beltrão e quando questionado se as propostas eram
aceitas ou se havia resistência em se pensar no futuro da cidade,
SALVATI conta que em 1983 foi apresentado o primeiro Plano diretor
do Município. Já estava na proposta daquele plano a criação do Parque
Alvorada, nos dois lados da Rodovia PR 483. E a criação do Parque
Linear do Rio Marrecas em toda a sua extensão urbana. Este plano já
tinha a preocupação com as enchentes, recentemente acontecidas. À
administração municipal aceitou algumas das propostas e fez a retirada
de mais de 200 moradias das áreas de risco e transferindo estas famílias
para outro local. Tais áreas seriam integradas ao Parque Linear, porém
com a mudança do governo municipal voltaram a ser doadas para a sua
ocupação novamente.
Quando questionado se a prefeitura sabia dessas áreas de
inundações e mesmo assim fizeram doações de terrenos para obras
institucionais, SALVATI conta que as administrações sempre souberam
deste grande problema de nossa cidade, mas pouco fizeram, ou então se
tomaram alguma ação, a fizeram-na de modo equivocado e sem
planejamento. “A única administração que fez algo de concreto foi a do
o prefeito Guiomar Lopes, após as grandes enchentes de 1983.
Desapropriação de áreas de risco, dragagem e alargamento do leito do
210
Rio Marrecas, ampliação da ponte do bairro da Cango na Av. Luiz A.
Faedo, e indenização de terrenos.”
Com relação ao problema das enchentes SALVATI diz que o
problema está fora da cidade e não aqui dentro. “Como sempre digo, o
problema está fora da cidade e não aqui dentro. Aqui sofremos as
consequências.” A bacia do Rio Marrecas possui 859,53 km2, sendo
que, acima da ponte da Rodovia PR 483, ou seja, no montante da cidade
esta área é de 448,18 km2. Considerando-se ainda mais o Rio Erval /
Santa Rosa, o Córrego Lonqueador e o Córrego Urutago esta área
aumenta para 632,48 km2, sobrando apenas 227,05 km
2 a jusante ou
abaixo da cidade. A área do município é de 731,73 km2. Portando a
bacia toda do Rio Marrecas extrapola os limites do município.
“Desde a nascente do Rio Marrecas, no Município de Flor da
Serra do Sul, até a sua foz no Rio Santana, no Município de Itapejara
D‟Oeste, percorre 136,02 km, dos quais 72,17 km acima da cidade,
desde a nascente até a captação de água da Sanepar. Todos os canais
(sangas, córregos, rios) que formam a bacia do Rio Marrecas, num total
de 4.999, totalizam um comprimento de 3.210,33 km. A declividade do
Rio Marrecas é baixa, somente 0,33 %, na média. Nasce numa altitude
de 930 m e termina numa altitude de 480 m. No perímetro urbano tem a
sua parte mais plana.”, relata SALVATI.
Existem medidas e que podem ser adotadas para amenizar os
efeitos dos alagamentos, segundo SALVATI são medidas estruturais e
não estruturais tanto na área urbana como na área rural, as medidas
estruturais na parte rural consistem, basicamente em controle de águas
211
nas vertentes das bacias: terraceamento de áreas agrícolas – caixas de
retenção em finais de terraços; adequação das estradas com caixas de
retenção de enxurradas; proteção de fontes; recomposição florestal e
vegetal – matas ciliares e encostas; barragens, bacias de regularização,
contenção ou retenção de vazões. “Tem o efeito do retardamento e
regularização dos escoamentos. Redução do pico de enxurradas (na
superfície) e de ondas de cheias (cotas de rios). 55% da bacia do Rio
marrecas possuem condições para isso.”
As medidas estruturais na parte urbana consistem em:
desocupação das áreas baixas - mais sujeitas a inundações – e a sua
transformação em áreas de uso público – áreas verdes e parques de
lazer; Nas bacias do Rio Lonqueador, Urutago e outros córregos, a
implantação de bacias de contenção e parques de lazer; Construção de
reservatórios de amortecimento ou caixas de retenção de águas pluviais
nas vias públicas; Implantação de caixas de retenção de águas pluviais
nos lotes – com ou sem o reuso da água; Elaboração de planos e ou
projetos de macrodrenagem para o Rio Lonqueador, Córregos Urutago,
Progresso e outros canais; Mapeamento das tubulações existentes e seu
redimensionamento – levantamento das deficiências e problemas;
Incentivo ao uso de pavimentos permeáveis – ruas e calçadas.
As medidas não estruturais para a área rural consistem em:
Incentivo a piscicultura para o aproveitamento dos tanques – bacias de
contenção; Plano de adoção de práticas de conservação de solo e água;
Implantação de bacias de contenção com duplo propósito –
regularização de enxurradas e cheias e reservação de água para períodos
212
de estiagem. Há viabilidade técnica para a implantação de uma ou mais
usinas de geração de energia – PCHs – com reservatório de acumulação
e regularização (diária, semanal ou mensal).
As medidas não estruturais para a área urbana consistem em:
Zoneamento de áreas de risco – fundos de vales – determinando zonas
não edificáveis com cota de alto risco, zona edificável com restrições –
sob pilotis – cota de médio risco; Alteração ou adequação da legislação
visando a ocupação dentro dos critérios do Plano Diretor, atendimento
da área mínima de infiltração, ampliação das caixas de retenção –
compensação da área de impermeabilização; Desobstrução dos
caminhos das águas – cercas em lugar de muros, pilotis; Definição de
demarcação da cota máxima de cheias; Não ocupação das áreas
íngremes com loteamentos; Disposição adequada de resíduos e
entulhos; Monitoramento de cheias e sistema de alerta; Educação
ambiental com foco na disposição de resíduos e entulhos e não
ocupação de áreas de risco; Incentivos econômicos de crédito e isenções
fiscais pela adoção de medidas sinérgicas ao controle de cheias ou
atendimento da legislação municipal; Fiscalização direta e efetiva sobre
as intervenções urbanas.
Sobre a politica correta do uso do solo em Francisco Beltrão,
SALVATI afirma que existe plano Diretor, existe a Lei do Perímetro
Urbano, existe a Lei de Zoneamento e Uso do Solo, existe a Lei de
Parcelamento de Solo (loteamentos), porém, existem também falhas em
nossa legislação. Não existe uma política urbana clara e objetiva. “Não
se sabe para onde a cidade vai. Não se definiu se queremos uma cidade
213
linear ou radial. Não sabemos se queremos uma cidade mais
verticalizada ou com uma ocupação mais horizontal. O Município de
Francisco Beltrão precisa ter de volta o IPPUB – Instituto de Pesquisa e
Planejamento ou algo similar. Que seja uma autarquia, não afeta as
mudanças de governo ou de influência política. Só assim podemos ter
certeza que teremos uma cidade melhor e mais planejada.”
Com o crescimento do número de loteamentos em torno da
cidade SALVATI fala que quanto mais se ocupam as áreas com novos
loteamentos mais se agrava o problema. Para isto deve-se implantar nos
loteamento um sistema de captação e reservação das águas na própria
área do loteamento, evitando-se que elas corram para as galerias e
canais já saturados. “A legislação já prevê mas falta uma fórmula
matemática para a sua aplicação real e efetiva.”
Para finalizar, SALVATI afirma que a solução definitiva para o
problema das enchentes, seria ter um plano de ação e principalmente
vontade política para resolver o problema, o plano de ação compreende
a elaboração de um planejamento com único objetivo de desenvolver
ações que minimizem ou resolvam definitivamente as cheias em
Francisco Beltrão. “Faz-se necessária a cobrança – pelos políticos –
junto ao Governo Federal para que as verbas sejam liberadas. Foram
encaminhados planos e orçamentos desde 2012.”
SALVATI acredita que se houver vontade e se for criada uma
secretaria especial, ou um gerente de tarefa com uma equipe,
exclusivamente para tratar desta “ação”, em alguns anos poderemos ter
a solução definitiva.
214
Considerações finais
[...] O avanço da degradação mundial,
especialmente no Brasil, é resultado de mudanças
artificiais e perturbações no meio ambiente,
provocados pela ação humana (LEVINO;
MORAIS, 2009 apud BISPO; LEVINO, 2011).
As alterações no equilíbrio climático e ambiental, são
preocupações mundiais, que envolve, tanto os aspectos naturais, quanto
a estrutura que compõe essa modificação no ambiente.
De acordo com tudo o que foi analisado, e com a entrevista com
o pioneiro de Francisco Beltrão, Dalcy SALVATI, concluímos que,
Francisco Beltrão pode, ainda, ser solucionado, em relação à essas
enchentes, é preciso que tenha, primeiro, uma iniciativa do governo, que
o Plano diretor seja seguido rigorosamente para que construções não se
insiram em lugares inadequados.
Francisco Beltrão precisa passar por muitas análises e é preciso
que essa questão seja levada a sério, medidas tanto na parte urbana
quanto na rural precisam ser analisadas corretamente e postas em
prática, pois são famílias que a cada chuva prolongada passam por
tristeza e muitos prejuízos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, L. M. de. CORDEIRO, J. S. Impactos ambientais provocados
pela ocupação antrópica de fundos de vale. Universidade de São Carlos, São
Carlos.
215
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ARRUDA, Ângelo Marcos Vieira de. Parcelamento de Solo Urbano em
Campo Grande: visão crítica e roteiro legal. Campo Grande: UNIDERP,
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<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.109/1839> Acesso
em: 15 dez. 2015.
217
CAPÍTULO 11
PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM
PINHALZINHO-SC
Elissandra Duarte
Mônica Aparecida Gonçalves
Introdução
O processo de verticalização teve sua origem nos Estados
Unidos e esteve ligada à formação das cidades americanas e ao
desenvolvimento capitalista. A verticalização é entendida como um
processo de produção do espaço que vem se expandindo pelos
continentes (SOMECK, 1987).
A verticalização, ou seja, a construção de edifícios de quatro
pavimentos ou mais, começou a ser expandida no Brasil na década de
1920, tendo como destaque a cidade de São Paulo. Nas últimas décadas
houve um aumento expressivo na intensificação da construção de
edifícios devido a fatores como o aumento do crédito para aquisição de
imóveis, inovações técnicas na área de construção civil e imposições
culturais, como o êxodo rural, e a ascensão da classe média. Além de
um novo arranjo espacial, a verticalização representa as relações sociais
218
presentes em determinada sociedade, assim como também estabelece
novas relações. Desta forma, é a manifestação espacial do processo
social, alterando a paisagem, transformando o espaço urbano e criando
novas especialidades (TÖWS; MENDES, 2011).
O estado também tem grande importância no ordenamento da
verticalização e onde o processo pode se desenvolver.
Com o desenvolvimento do processo de verticalização surge
uma nova responsabilidade para o Poder Público, no sentido de
disciplinar o seu processo, através de zoneamentos, definição de
gabaritos dos prédios, estipulação das taxas de ocupação e índices de
aproveitamento dos lotes. Na grande maioria dos trabalhos a legislação
urbana assume um papel de destaque nas análises, evidenciando a
importância do Estado na gestão desse processo. Quando se relaciona
verticalização e legislação urbana a regra geral é a subordinação desta
última aos grupos de interesses [...] que produzem o espaço urbano
(RAMIRES, 1998, p.102).
Uma evolução das estruturas urbanas gera também impactos
negativos ao meio natural, resultando em problemas ambientais como:
maior concentração de poluentes no ar, água e degradação do subsolo,
comprometendo a qualidade do meio com inundações, movimentos de
massa e poluição (TONETTI, 2011).
A cidade é um espaço dinâmico que constantemente se
modifica. Cidades com densidades demográficas e características
regionais distintas das grandes metrópoles também estão sujeitas ao
processo de verticalização, e como exemplo se pode citar a cidade foco
219
deste estudo: Pinhalzinho-SC. Nesta cidade, se observa uma aceleração
no processo de verticalização, mais acentuado do que em outras cidades
de porte e características similares. Desta forma, o presente trabalho tem
como objetivo discutir e formular hipóteses para o processo de
verticalização na cidade de Pinhalzinho-SC.
A intensificação da verticalização não é decorrente apenas da
demanda por habitação, mas de uma série de fatores econômicos,
sociais e técnicos (SILVA, 2008). Portanto, para que se possa
compreender o processo de verticalização desta cidade, é necessário
uma compreensão dos fatores que afetam seu crescimento,
principalmente os de características econômicas.
A verticalização em médias e pequenas cidades
A verticalização do espaço urbano brasileiro não é mais um
processo que está restrito às metrópoles e grandes cidades, está presente
também nas cidades médias e pequenas.
As cidades médias e pequenas no Brasil desempenham o papel
de núcleo estratégico da rede urbana, pois tais cidades apresentam
destaques significativos nas dinâmicas econômicas, demográficas e
culturais.
Ao se denominar cidade como média e/ou pequena, faz-se
menção ao tamanho da cidade que, por sua vez, conduz ao estudo das
redes e hierarquia urbanas. Cidade pequena se contraporia a cidade
grande, e cidade média seria aquela de dimensão intermediária. Assim,
na classe de cidades pequenas inserem-se aquelas que possuem até 20
220
mil habitantes; acima deste número são classificadas como médias e
aquelas com mais de 500 mil habitantes são consideradas cidades
grandes (GOVERNO DA BAHIA, 2010).
No entanto, somente o contingente populacional não é
suficiente para adjetivar a dinâmica do conjunto de cidades, pois se
observa discrepâncias nestes espaços. Se pode afirmar, por exemplo,
que uma cidade com população de 100 mil habitantes no interior da
Bahia, é diferente de uma cidade com o mesmo contingente
populacional no estado de São Paulo, pois os fatores socioeconômicos,
culturais, geográficos e territoriais, e consequentemente a população
destas cidades, mesmo quantitativamente similar, são diferentes por
advirem dos fatores acima citados.
Neste contexto, as cidades médias passaram a exercer novos
papéis no cenário urbano brasileiro. Como consequência do crescimento
apresentado por essas cidades, as mesmas passam a vivenciar novas
formas de expansão urbana até então materializadas, sobretudo, nas
metrópoles. A expansão territorial das cidades faz parte de sua própria
lógica de desenvolvimento que cresce horizontalmente a partir da
formação de novos loteamentos em suas periferias, e, verticalmente, a
partir da produção ampliada do solo urbano.
No caso da produção de edifícios, fica evidente que a
penetração da técnica, associada ao surgimento de múltiplos agentes
interessados nessa produção, articula-se sob formas que se vão
diferenciando, aliada à característica geral de desenvolvimento da
sociedade no espaço ou dela resultante, que vai configurar os diferentes
221
períodos de produção do edifício, ou processo de verticalização.
(SOUZA, 1994, p.88).
Dinâmica do estado de Santa Catarina
O Estado de Santa Catarina possui um perfil diversificado,
apresentando uma agricultura representativa, baseada em minifúndios
rurais (SEBRAI/SC,2013). Além disso, divide espaço com um parque
industrial atuante, considerado o quarto maior do país. Indústrias de
grande porte e pequenas empresas espalham-se, fazendo do estado de
Santa Catarina a oitava maior economia brasileira (SEBRAE/SC,2013).
O dinamismo da economia catarinense reflete-se em índices elevados de
crescimento, alfabetização, emprego e renda per capita, sendo superior à
média nacional, garantindo assim uma melhor qualidade de vida aos
seus habitantes, mas, com contrastes quanto ao desenvolvimento
socioeconômico de seus municípios.
Como exemplo do crescimento econômico no estado de Santa
Catarina podemos citar o município de Pinhalzinho, o qual será
discutido neste artigo, pois com uma população de 16 mil habitantes
demonstra elevado crescimento econômico e social, devido às fábricas,
universidades, e ao comércio em expansão, refletindo nos índices de
verticalização urbana que vem aumentando com o passar dos anos.
Aspectos gerais e populacionais do município de Pinhalzinho-SC
222
Em 1914, segundo o IBGE (2012), as terras que hoje pertencem
ao município de Pinhalzinho-SC, foram habitadas por “caboclos”, isto
é, homens de origem brasileira, que se estabeleceram no Oeste de Santa
Catarina, porém ainda não constituindo núcleos povoados, pois eram
trabalhadores de empreitadas, que trabalhavam nas lavouras de milho.
Por volta de 1933, chegaram os primeiros moradores de origem alemã,
vindos do Rio Grande do Sul, estabelecendo-se e desenvolvendo as
primeiras atividades econômicas ligadas à indústria madeireira e
produção agrícola. Ao final dos anos 50, uma grande leva de
descendentes italianos se instalou no município, destacando-se pela
atividade comercial. Com a construção da BR 282, muitos imigrantes
vieram de todos os lugares do Brasil, possibilitando que se construísse
uma grande miscigenação que caracteriza, na atualidade, o povo e a
cultura de Pinhalzinho.
Pinhalzinho pertenceu ao município de Chapecó, cuja jurisdição
abrangia todo o Oeste do Estado. O município foi emancipado de
acordo com o artigo 22 da Constituição Estadual em 30 de dezembro de
1961 (SEBRAE/SC,2013). O Quadro 1 e 2 apresentam aspectos gerais e
populacionais do Município de Pinhalzinho.
Emancipação 07/12/1961
Instalação 30/12/1961
Altitude 660 m
Cidades próximas
Modelo, Sul Brasil, Nova Erechim,
Saudades, Águas Frias, União do Oeste,
Chapecó.
Colonização: Alemã e Italiana
Associação de município AMOSC
Território 128,159 km²
223
Estabelecimentos de Saúde SUS 3
Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal - 2010 (IDHM 2010):
0,783
Densidade demográfica (hab/km²) 127,44
Gentílico Pinhalense
População Residente (Senso 2010) 16.332,00
Quadro 1: Aspectos gerais e históricos do Município de Pinhalzinho.
Fonte: SEBRAE/SC, 2013
População N° de Habitantes
Residente (Senso 2010) 16.332
Estimada (IBGE-2014) 18.284
Homens 8.177
Mulheres 8.155
Alfabetizada 14.396
População residente que frequentava creche ou
Escola 5.487
Residente pertencente religião Católica Apostólica Romana 14.194
População Pertencente à religião Espírita 32
População pertencente à religião evangélica 1.693
Quadro 2: Índice Populacional
Fonte: SEBRAE/SC, 2013
A população de Pinhalzinho apresentou no ano de 2010,
crescimento de 32,18% desde o censo Demográfico realizado em 2000.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
em 2010 a população da cidade alcançou 16.332 habitantes, o
equivalente a 0,26% da população do Estado. O gráfico a seguir
demonstra a evolução populacional do município nos últimos Censos.
224
Gráfico 1: Evolução Populacional
Fonte: IBGE, 2012.
Já em relação à taxa de crescimento anual da população,
Pinhalzinho apresenta valores superiores à taxa anual estadual e
nacional, como demonstra o gráfico a seguir:
Gráfico 2: Taxa de crescimento populacional anual
Fonte: IBGE, 2012.
Pinhalzinho vem se destacando também na área industrial, pois,
de 2008 a 2011, a taxa de criação de empresas no município foi de
15,33% e a de empregos 30,40%. O Gráfico 3 apresenta o comparativo
com a taxa regional, estadual e nacional.
225
Gráfico 3: Taxa de crescimento de empresas.
Fonte: SEBRAE/SC, 2013.
Gráfico 4: Taxa de crescimento de empregos
Fonte: SEBRAE/SC, 2013.
Domicílios particulares e coletivos do município
Os domicílios são considerados locais de morada ou pouso,
separados e independentes, podendo abrigar uma ou mais pessoas. No
município de Pinhalzinho, se pode perceber a grande diferença entre
domicílios particulares e coletivos, pois, em 2010 Pinhalzinho possuía
5.560 domicílios registrados, sendo 5.552 particulares e 8 coletivos
226
(IBGE, 2012). Dentre as categorias de domicílios coletivos, se
encontram hotéis, pensões, hospitais, entre outros. Já os domicílios
particulares são residências familiares.
Dentre os domicílios presentes no município, se pode destacar
cinquenta e duas (52) unidades, as quais são representadas por edifícios
verticalizados. O mapa abaixo demonstra que o adensamento maior é no
centro da cidade onde estão localizados 27 unidades destas edificações,
sendo este dado característico, pois nesta área se encontra a zona
comercial da malha urbana do município (IBGE,2012).
Maior adensamento dos prédios. Sendo 27 localizados no Centro.
227
Mapa 1: Índices de Verticalização do Município.
Fonte: Prefeitura Municipal de Pinhalzinho-SC,2014, adaptado por Elissandra
Duarte em 2014.
No Quadro 3 podemos demonstrar como está a divisão dos
prédios na cidade por bairros.
Bairros Quantidades de Prédios
Centro 27
São José 1
Santo Antônio 7
Panorama 1
Bela Vista 0
Jardim MªTerezinha 1
Pioneiro 3
Nova Divineia 6
Efacip 5
Travessa Santa Catarina 1
Total de Prédios 52
Tabela 2: Número de prédios por bairros
Fonte: Prefeitura Municipal de Pinhalzinho –SC, 2014.
O Gráfico a seguir apresenta as unidades de edifícios com os
respectivos números de pavimentos:
Maior
adensamento
dos prédios.
Sendo 27
localizados no
Centro.
228
Gráfico 5: Relação de edifícios e numero de andares
Fonte: Prefeitura Municipal de Pinhalzinho- SC, 2014.
Como se pode observar de acordo com os demostrativos
apresentados, Pinhalzinho é uma cidade em crescente processo de
verticalização. Isso se deve à indústria e comércio fortalecidos,
principalmente através de atividades como a indústria e
eletrodomesticos e móveis, também a fatores que impulsionaram a
economia local, dentre os quais se pode citar o aporte estudantil, já que
o municipio apresenta três campus de universidades: Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC) sendo esta pública e estadual,
fazendo com que dessa maneira haja migração de estudantes de outros
municípios da região; Horus Faculdade de Pinhalzinho e Fundação
Universidade do Oeste de SC (UNOESC).
Conclusão
A verticalização não é um processo presente somente em
grandes cidades, como demonstra a análise dos dados deste estudo,
229
referentes ao município de Pinhalzinho-SC, o qual mesmo sendo
considerado de pequeno porte, e possuindo cerca de 16.000 habitantes
de acordo com dados fornecidos pelo IBGE/SC, apresenta significativo
processo de verticalização, o que se dá, sobretudo, de acordo com o
progresso socioeconômico da cidade, ligado à presença da indústria
fortalecida, principalmente nos setores de fabricação de moveis e
eletrodomésticos, ao comércio pujante, com destaque para a
comercialização de roupas e calçados, e a gastronomia, assim como
pelas três universidades instaladas no município, as quais, a partir do
ano de 2003, passaram a contribuir de maneira significativa para com o
desenvolvimento local, tendo como ponto culminante, no viés deste
estudo, a presença da verticalização do meio urbano, ocupando
principalmente a região central.
O estudo que trouxe como exemplo a cidade de Pinhalzinho-
SC, demonstra que a caracterização de fatores de desenvolvimento da
paisagem urbana de grandes centros, como é o caso da verticalização
dos edifícios, pode ocorrer também em cidades de pequeno porte. As
induções de um sistema econômico capitalista, possibilitam com que
pequenas cidades do interior possam também experimentar aspectos de
desenvolvimento do meio urbano baseado no adensamento e
aproveitamento dos sistemas urbanos e do território, algo ainda
característico de grandes cidades, de forma a legitimar a geração de
lucro e o capital. Desta forma, cidades como Pinhalzinho, a qual estaria
no hall de cidades mais caracterizadas como periferia ruralizada do que
como centro industrializado, passem por transformações
230
desenvolvimentistas capazes de caracteriza-las como novos centros
econômicos, à frente de muitas cidades da região, devido sobretudo à
crescente economia que impulsiona processos urbanos tal como a
verticalização das edificações.
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estudo de caso. Série Estudos e Pesquisa. Salvador ,2010.
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231
TOWS, L. R; MENDES, M. C. O estudo da verticalização urbana como objeto
da geografia: enfoques e perspectivas metodológicas. Simpósio de estudos
urbanos, 2011.
232
CAPÍTULO 12
USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS EM PROL DA VIDA
URBANA
Degiani Zamboni
Fernando Medeiros
Henrique B. de Mello
Daniele Pagno
Introdução
Mobilidade urbana pode ser definida como o deslocamento de
um indivíduo entre dois ou mais pontos para a realização das atividades
cotidianas de forma segura e confortável seja utilizando de veículos,
bicicletas ou a pé. Porém a expansão dos grandes centros urbanos vem
tornando cada vez mais complicado e inseguro esse deslocamento
devido ao aumento expressivo no número de veículos quer circulam
diariamente causando congestionamentos, stress e diminuindo a
qualidade de vida e segurança do cidadão.
O processo acelerado de urbanização, junto ao crescimento
populacional e as novas atividades que se instalam nos grandes centros,
provocam o que chamamos de “crises urbanas”. Para melhorarmos esse
problema devemos pensar sobre as formas como se organizam os fluxos
233
na cidade e as formas de acessos das pessoas aos locais e equipamentos
da cidade, para garantirmos a “facilidade” de deslocamento, e a
tranquilidade do cidadão dentro do espaço urbano.
Variadas são as problemáticas que envolvem a mobilidade
urbana, tanto um planejamento deficiente, questões
políticas/financeiras, malha urbana antiga, tornando impossível a
adequação as novas tendências e ainda a questão ambiental que muito
tem sofrido com o aumento da massa de veículos em circulação.
Na última década, aconteceu e ainda acontece uma disseminação
massiva de sensores, capazes de fornecer uma enorme quantidade de
informação, seja ela estatística, quantitativa, ou exata. Esses sensores
foram massificados através da telefonia celular, aparelhos GPS, câmeras
de monitoramento, e muitos outros aparatos eletrônicos.
Esses sensores e tecnologias de monitoramento estão sendo
designadas para auxiliar a solução dos problemas de mobilidade, saúde
publica, segurança, monitoramento meteorológico, mapeamento,
acessibilidade, etc. Várias empresas estão se dedicando inteiramente a
questão, desde o auxilio no controle do tráfego, gerenciamento de dados
gerando estatísticas que auxiliam na compreensão e solução dos
problemas até aplicativos para dispositivos móveis que mostram vagas
de estacionamentos disponíveis e linhas de ônibus disponível para
diferentes rotas, até mapas de GPS interativos que trazem informações
ao vivo sobre condições de trânsito, acidentes, crimes, informações de
utilidade pública, etc. Essas empresas, que gerenciam e processam toda
essa infinidade de dados, retornam informações úteis ao indivíduo que
234
vive no ambiente urbano, por meio dos celulares, tablets, computadores,
ou ainda painéis interativos públicos, e auxiliam a vida deste indivíduo,
permitindo que ele chegue mais rápido a um destino, ou que evite uma
área perigosa, ou que permitam a ele saber se há tempo suficiente para
comprar um café antes do transporte público chegar, e através da
informação tenta compensar os efeitos colaterais da expansão massiva
urbana.
Desde o surgimento dos computadores na década de 50, seu uso
já era voltado para resolver problemas sociais e econômicos, e no inicio
da década de 60, surgiram os primeiros programas para resolver e
simular questões de uso do solo e transporte. Na sequência então
surgem os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), cujo objetivo é
gerenciar dados Geográficos. Tendo diversos usos tal como analises
ambientais, de topografia, os SIGs se mostraram muito úteis também
para gerenciamento de informações urbanas. Com o advento de
dispositivos de sensoriamento, tal como o GPS (Global position system)
a relevância desses softwares se tornaram cada vez maior para a análise
e monitoramento das áreas urbanas, especialmente das grandes
metrópoles. (Almeida et Al, 2007)
Bem mais recentemente houve uma massificação de
dispositivos de sensoriamento, devido as inovações tecnológicas que
permitiram que os equipamentos de monitoramento, e sensoriamento
ficassem bem mais acessíveis financeira e socialmente. Ou seja, ficaram
acessíveis a ponto que se tornou viável para quase qualquer um poder
adquirir tais equipamentos até para uso privado. Também houve uma
235
massificação dos SIGs, sendo eles hoje acessíveis a qualquer pessoa de
forma gratuita. Um dos sistemas mais famosos é o do Google
Earth/Google Maps, mas existem muitos outros com da Nokia (Here
Maps) ou ainda sistemas completamente abertos como
OpenStreetMaps, tudo por meio da internet.
O simples fato da massificação dos softwares SIGs por meio da
internet e dos dispositivos, sendo que muitos deles também estão
conectados a rede, trouxe uma nova possibilidade ao meio urbano, que é
a de analisar os dados das cidades em tempo real.
Hoje com o advento do Smartphone, que possui integrado uma
diversidade enorme de sensores, e a capacidade dele se conectar a
internet e enviar esses dados, a uma nuvem de dados similares, e
receber no mesmo aparelho, dados de centenas ou milhares de outros
dispositivos semelhantes a fim de oferecer alguma informação útil.
Antes dessa revolução da analise em tempo real, as SIGs
serviam muito mais para analise do espaço urbano para os planejadores
urbanos. Hoje ela vai muito mais além, e fornecer dados muito mais
variados e exatos, e ela também permite que os usuários da cidade
também possam tirar proveito dessas informações.
Mas nem todos os dados precisam ser fornecidos através de
smarphones. Tomando como exemplo, a prefeitura do Rio de Janeiro,
instalou dispositivos de monitoramento GPS em todos os ônibus da sua
frota urbana, e disponibilizaram essas informações aos fiscais da
prefeitura e a toda população, através da Internet, de dispositivos
móveis e até através de painéis nos pontos de ônibus. Dessa forma os
236
próprios usuários podem analisar os dados de transporte publico em
tempo real, e tomar decisões como, por exemplo, evitar pegar um
ônibus que demoraria chegar, em troca do metrô, ou sair 5 minutos mais
cedo para poder chegar no ponto a tempo de não perder um ônibus
(FREDERICO, 2013).
No caso do Rio de Janeiro a iniciativa é publica, mas em outros
casos ocorrem iniciativas privadas que tem o mesmo objetivo. São
Paulo é um bom exemplo, seguindo a mesma ideia de monitoramento
de ônibus em tempo real algumas empresas lançaram aplicativos para
celular que informam a localização dos trens, metros e ônibus na
cidade. Que é o caso dos aplicativos “Urbanoide”, “Onde está meu
ônibus”, “Moovit”, “Ônibus”, entre outros (SANTOS, 2013).
A interferência de sistemas de monitoramento urbano na vida
dos cidadãos, não se a resume a gerenciamento de transito, apesar de
este ter impacto mais direto. As possibilidades trazidas pelo uso das
SIGs por meio da internet possibilitaram a Secretaria de segurança
publica do estado de São Paulo, monitorar a criminalidade de 601 dos
645 municípios do estado em tempo real, a partir da possibilidade do
envio dos boletins de ocorrência, e com o georeferenciamento deles.
Com esses dados as policias podem alertar os cidadãos das áreas mais
perigosas, e tipos de crimes que costumam ocorrer com mais frequência
em determinadas áreas (SSPSP, 2010).
Ainda se tratando de segurança, algumas empresas
desenvolveram aplicativos mobiles justamente para que as pessoas
possam indicar aonde ocorrem crimes, paralelamente os sistemas de
237
segurança pública das policias, para uso da população em geral. Esse
tipo de aplicativo através de seus mapas tem mudado muito a rotina de
milhares de pessoas nos grandes centros urbanos, que mudaram suas
rotas, justamente para evitar as zonas perigosas e diminuir a
possibilidade de serem vitimas de um crime (ORTEGA, 2014).
Grande parte desses softwares tem feito uso de informações
colaborativas, do dito “movimento WIKI”, que parte do principio de
que cada pessoa ajuda a criar uma pequena parte do banco de dados
colaborando com uma pequena parcela, e em troca recebe a informação
de outras pessoas que usam o sistema similar. Nota-se que nem sempre
as pessoas precisam tomar alguma atitude para compartilhar as
informações, visto que apenas o ato de consultar o sistema requer que a
pessoa envie informações estatísticas e anônimas que ajudam a
construir o banco de dados, e a atualiza-lo.
Alguns softwares como é o caso da empresa Waze, além de
fazer uso das informações colaborativas para aliviar a vida dos
motoristas, fazendo com que eles evitem congestionamentos, ela
também faz um papel de rede social, que é bem frequente nesse tipo de
software, pois ajuda a manter uma base de usuários ativos no sistema, o
que reflete diretamente na qualidade das informações (WAZE, 2014).
Um caso interessante de ser estudado é o do Foursquare, um
aplicativo SIGs para celulares, que criou o maior banco de dados do
mundo no quesito comercial. O software permitia que os usuários
criassem estabelecimentos comerciais, classificassem conforme sua
função e dar notas de atendimento, e fazer “check-in” no
238
estabelecimento. Hoje diversas empresas compram esses dados para
fazer estudo de implantação de seus negócios em uma cidade. E ainda
as pessoas comuns recebem sugestões de onde ir, e podem ter uma ideia
da qualidade do serviço, ou ainda dicas e sugestões de consumo
(JUNIOR, 2014).
Metodologia
As informações obtidas nesta pesquisa partiram de análises
sobre casos já existentes do uso de tecnologia na mobilidade urbana e
de projetos em fase de estudos para implantação. Nesse caso nomeia-se
de estudo exploratório, pois é fundamental para identificar variáveis que
não sejam conhecidas ou não estejam totalmente definidas (COOPER;
SCHINDLER, 2003).
Revisão bibliográfica
Nesta revisão teórica serão apresentados casos e estudos
relacionados à influência da tecnologia na mobilidade urbana de modo a
facilitar o deslocamento. Além da tecnologia nos meios de
comunicação, serão citados casos de bairros inteligentes, a segurança
ofertada com essas propostas e a influência que os mapas, GPS e
aplicativos voltados aos deslocamentos urbanos trazem para os
municípios em avançado desenvolvimento.
A bibliografia existente hoje não chega a ser a melhor fonte de
consulta para estudar as novas formas de gerenciamento visto a
rapidez com a qual os sistemas vem surgindo e se integrando a outros
239
sistemas maiores e mais completos. Por conta disso boa parte de nossa
pesquisa se deu através da análise de empresas e softwares que provém
esse tipo de soluções.
Tecnologia móvel de informação e mobilidade
Com a evolução que a tecnologia no setor de comunicação e
informação vem tendo, vêm também propiciado muitas soluções aos
problemas de mobilidade urbana. A miniaturização dos aparelhos
possibilitou o lançamento de tecnologias móveis (notebooks,
smartphones, celulares, agendas eletrônicas, GPS) que tem como
característica a portabilidade, ou seja, pode ser carregado para qualquer
lugar um dispositivo desses. Tem também a tecnologia de informação
sem fio, conhecida do inglês como wireless, que são as que envolvem o
uso do dispositivo móvel à uma rede de comunicação via links sem fio.
Ambas tem se tornado cada vez mais populares nas mais diversas áreas
de atividades, pelo fato de ser simples, funcional e portátil.
O Reino Unido tem um dos maiores mercados de tecnologia
móvel do mundo, lá sete em cada dez britânicos possuem smartphone e
mais da metade também tem um tablet. Em apenas cinco anos o tráfego
móbile disparou de 0,02% para mais de 50% em 2014, significando que
o uso da internet está sendo mais frequente nos celulares e tablets do
que em computadores e notebooks, essa mudança influencia no
desenvolvimento massivo de aplicativos para smartphones.
The Train Line é um exemplo usado no Reino Unido, que
permite ao usuário planejar viagens de trem, chegar rotas, preços e
240
comprar passagens emitindo tickets sem precisar passar por um guichê
na estação.
Outro exemplo é o CityMapper, que acessa os bancos de dados
de todos os operadores e oferece um aplicativo de rotas generalizado e
com informações em tempo real, calcula emissões de poluentes, gasto
calórico e o preço da viagem para cada modal.
Stravel é outro aplicativo que tem foco no social das viagens,
onde os usuários são recompensados por escolherem modais
sustentáveis.
Comparável com o Brasil, o Reino Unido tem muito mais
acessibilidade completa para aplicativos de transportes, isso vem da
disponibilidade de dados por parte dos órgãos públicos e operadores de
transportes dos britânicos. A Transport for London, por exemplo,
disponibiliza todo seu banco de dados sem custos para desenvolvedores,
incentivando também a criar aplicativos a partir dos dados coletados nos
ônibus, trens, metrôs e bicicletas compartilhadas.
No Brasil existe apenas um aplicativo unificado de transportes
que engloba todos os modais disponíveis em um planejar próprio, no
caso o Moovit junta informações de ônibus, trens e metrôs, porém ele
não se mostra muito eficiente no planejamento de viagens não
motorizadas.
A dificuldade do desenvolvimento de aplicativos para
transporte no Brasil se encontra em obter dados econômicos e
geográficos das redes urbanas. Muitos órgãos públicos estão em fase de
digitalização, poucos estão em fase final para disponibilidade de dados
241
online. Porém o cenário pode mudar em pequeno prazo, as previsões
são de que a América Latina terá um mercado praticamente tão
desenvolvido quanto a Europa, subindo o potencial das tecnologias
móveis e atingindo a ubiquidade.
Bairros inteligentes
O conceito de bairro inteligente visa a estruturação de novos ou
já existentes bairros em tecidos urbanos consolidados de cidades com
bom desenvolvimento econômico. Seu desenho pare de uma visão
holística do ambiente urbano, levando em consideração os princípios de
sustentabilidade e os preceitos do novo urbanismo.
Compreende tanto áreas residenciais como áreas industriais,
comerciais, parques, serviços e pode ser tanto em verticalização quanto
horizontalizadas. Valoriza o uso misto e a integração das atividades
cotidianas: morar, trabalhar, estudar e lazer em áreas próximas para o
pedestre, valorizam também os espaços públicos e pontos de encontro.
Estes bairros tendem a tirar o foco da locomoção dos veículos e
transferir para as bicicletas e os pedestres e nas edificações o foco é a
eficiência energética que as mesmas devem gerar. São práticos devido
ao uso de chips para realizar os pagamentos, localização de lugares ou
vagas de estacionamento e seguros devido aos sistemas de vigilância
que garantem a prevenção de crimes e acidentes.
No Japão, uma cidade inteira foi e está sendo moldada nestes
quesitos de bairro inteligente. Mi nato Mirai 21, distrito de Yokohama,
conhecida como a primeira cidade inteligente do mundo.
242
Um sistema de calefação e ar condicionado central cuidam da
ventilação do local, que abriga cerca de 90 mil pessoas. Dispositivos
alugam bicicletas para os usuários, só se utilizam meios de pagamentos
eletrônicos e para os carros elétricos há tomadas nas ruas e lojas para
recarga grátis.
A cidade de Recife em Pernambuco receberá um modelo de
bairro inteligente inspirado em Minato Mirai, lá já foi confirmada a
instalação de um campus da Universidade Estadual de Pernambuco, de
um Hipermercado inteligente e um Shopping Center além de ter a
população inicial estimada em 18 mil habitantes. O bairro terá o mais
novo sistema de vigilância baseado no reconhecimento facial que
analisa faces e detecta pessoas procuradas pela justiça além de
comportamento duvidoso.
A dificuldade de se implantar um bairro inteligente no Brasil é
devido ao fato de ser muito custoso inicialmente, e por desfavorecer o
carro é visto com certa preocupação e desinteresse por parte da
população e das grandes fabricantes de veículos.
Segurança
A Secretaria de Segurança publica do estado de São Paulo tem
diversos documentos e matérias, que retratam a importância do uso das
novas tecnologias para fazer a manutenção da segurança nas nossas
cidades.
Desde meados do século XIX, novas tecnologias vêm sendo
desenvolvidas para aumentar a segurança de quem se utiliza dos meios
243
de locomoção urbanos, desde os simples semáforos, passando pelos
GPS e sistemas de controle de velocidade até os sistemas mais
modernos embutidos em carros e meios de transporte público.
A exemplo disso, temos a empresa SERTTEL do Recife em
Pernambuco que oferece sistemas de controle de estacionamento pelo
celular (Zona Azul Eletrônica) onde se paga o estacionamento através
do celular no aplicativo da empresa que desconta do cartão de crédito
(SERTTEL, 2014).
Considerações finais
São pequenas iniciativas que melhoram consideravelmente o
entendimento da vida urbana e servem tanto para as analises dos
profissionais do urbanismo quanto para um cidadão qualquer do meio
urbano.
Essas novas tecnologias que interagem com o cidadão devem
ser incentivadas tanto pelo poder público quanto por iniciativas
privadas, pois no final todos queremos um mundo melhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Miguel V. Geoinformação em urbanismo. Cidade real x cidade virtual. São
Paulo: Oficina de texto, 2007.
BEHR, Ariel. CORSO, Kathieane B. NASCIMENTO, Luís F. FREITAS,
Henrique. Mobilidade urbana sustentável e o uso de tecnologias de
informação móveis e sem fio: em busca de alternativas para a cidade de
Porto Alegre/RS. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 10, n. 14, p. 61-
90, jul./dez. 2013.
244
BLUMENFELD, Marcelo. A revolução dos smartphones e por que ela é
importante na mobilidade urbana. 2014. EMBARQ. The city fix Brasil.
Disponível em: <http://thecityfixbrasil.com/2014/10/07/a-revolucao-dos-
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09/11/2014.
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09-02/prefeitura-comeca-a-controlar-onibus-via-gps.html> Acesso em:
28/10/2014.
JUNIOR, Alessandro. Microsoft investe no Foursquare e usará dados do
aplicativo em seus serviços. 2014. Mobil expert. Disponível em: <
http://mobilexpert.com.br/apps/midia-social/materias/7413/microsoft-investe-
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09/11/2014.
ORTEGA; João. Fuja do perigo! Três apps mapeiam ocorrências de crimes
no Brasil. 2014. Blog info da Editora Abril. Disponível em:
<http://info.abril.com.br/noticias/blogs/download-da-hora/iphone/fuja-do-
perigo-tres-apps-mapeiam-ocorrencias-de-crimes-no-brasil/> Acesso em:
10/11/2014.
SANTOS, Daniel dos. Aplicativos mostram em tempo real onde está seu
ônibus em São Paulo. 2013. Do UOL. Disponível em: <
http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/08/aplicativos-mostram-
em-tempo-real-onde-esta-seu-onibus-em-sao-paulo.htm> Acesso em:
28/10/2014.
SERTTEL. Operação de Estacionamento Público (Zona Azul Eletrônica).
2014. Disponível em: <http://www.serttel.com.br/solucoes/transito-
inteligente/> Acesso em: 10/11/2014.
SSPSP. Secretaria de segurança pública de São Paulo. Sistemas de
inteligência criam o mapa da criminalidade. 2010. Disponível em:
<http://www.ssp.sp.gov.br/acoes/acoes_sistemas.aspx> Acesso em:
27/10/2014.
WAZE. 2014. Disponível em: <http://www.waze.com> Acesso em:
09/11/2014.
245
CAPÍTULO 13
GESTÃO AMBIENTAL E O GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM DOIS
VIZINHOS-PR: BREVE ABORDAGEM
Gabriela Jaiana Três
Priscila Vanin Renosto
Carlos Cassemiro Casaril
Guilherme Daltoé
Introdução
A presente contribuição tem por objetivo geral analisar a
geração e destinação de resíduos da construção civil no município de
Dois Vizinhos-PR e examinar se esse está de acordo com Resolução
307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de 05 de
julho de 2002.
Para atingir o objetivo principal, elencaram-se alguns objetivos
específicos, a) verificar o que pode ser realizado para mitigar a geração
de Resíduos Sólidos da Construção Civil (RSCC); b) apresentar dados e
informações dos resíduos gerados pelos empreendimentos; c) analisar se
246
ocorre aplicação de um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos de
construção civil no município.
Esse trabalho se justifica devido a preservação do meio
ambiente, que deve ser respeitada quando ocorre o desenvolvimento de
um município (sobretudo, em se tratando de sua área urbana) e a
construção civil deixa um imenso rastro negativo para o ambiente, além
disso o que nos chamou atenção é o fato que existem leis para a questão
em vigor, entretanto estas não são aplicadas e quando o são, carece-se
de fiscalização.
Diante dessa proposta, é necessária uma análise para o
desenvolvimento de formas para minimizar os problemas causados
pelos RSCC, como um plano de gerenciamento de resíduos sólidos da
construção civil, juntamente com métodos para a reciclagem,
reutilização em obra e armazenamento adequado.
Pois a grande problemática se caracteriza devido ao crescimento
da urbanização que gera uma demanda maior de investimentos na área
da construção civil e infraestrutura urbana, esse aumento excepcional
tem como resultado negativo os danos para o meio ambiente, os quais
são reparáveis a curto, médio e longo prazo.
O impacto ambiental que é causado pela geração de resíduos da
construção civil deve ser levado em consideração pelos efeitos que ele
causa ao meio ambiente, economia e sociedade. A reciclagem e
reutilização são maneiras para mitigar os impactos que os construtores
causam, contribuindo para a minimização dos problemas ambientais e
dos custos de remoção, tratamento e disposição final.
247
Entretanto, a imensa quantidade de resíduos provocados pelas
construções nem sempre tem uma destinação final adequada,
principalmente quando se trata de pequenas reformas, além disso, a
maioria das cidades brasileiras não possui um plano de gerenciamento
adequado, sendo assim toda a geração de RSCC que poderia ser
reciclada ou reutilizada são despejados em bueiros, terrenos baldios,
margens de córregos e em menor quantidade em aterros específicos para
esses resíduos.
Dois Vizinhos - PR não se encontra em situação diferente, o
desperdício de material, sua disposição final e outros fatores nem
sempre estão de acordo com as leis e normas que deveriam ser seguidas,
a prefeitura realiza ocasionalmente o recolhimento dos resíduos
depositados em lugares clandestinos levando esses para o aterro
sanitário, e essa forma incorreta de disposição final, também é realizada
pelas construtoras, bem como, pela empresa de “Disk Entulho” (a única
de Dois Vizinhos).
Independentemente do desenvolvimento de um dado município,
o ambiente precisa e necessita ser respeitada para desenvolver sua
função no universo.
Contudo, apresenta-se a problemática demonstrando através de
pesquisas bibliográficas a importância de mitigar os RSCC, através de
métodos simples e medidas a serem adotadas nas construções, sendo
que, os custos para o município e para as construtoras poderiam ser
minimizados, além disso, evitaria a extração de matéria prima e
deposições em lugares inadequados.
248
Os impactos gerados pela construção civil
Ao longo de séculos a sociedade vem evoluindo-se com
tecnologias, avanços e recursos. O cientista inglês Isaac Newton em
seus estudos defendeu a lei de ação e reação, aquela que para todo ato
há uma resposta imediata. O descompasso entre o homem e a natureza,
faz com que a natureza sofra os impactos gerados pelo homem.
Quando a sociedade começou a notar a degradação ambiental e
a sofrer as influências de tais, como por exemplo: na qualidade do ar, do
solo e dos recursos hídricos, isso serviu como um sinal de alerta sobre
essa forma de desenvolvimento (CASSA; CARNEIRO; BRUM, 2001).
O progresso traz para o meio ambiente vários fatores que o
destroem. Um dos principais foi a intensa urbanização iniciada no
período da metade do século XVIII com a revolução industrial. Sabe-se
que nessa época havia duas realidades divergentes: uma o grave
empobrecimento nas áreas rurais e a outra é que nas cidades, as
indústrias estavam a todo o vapor nos seus processos expansivos, isto,
levou-se ao um estado preocupante, acarretando a urgência da migração
dos camponeses às cidades para serem mão-de-obra às indústrias.
Após a segunda metade do século XX, os principais aspectos,
que levam a população a maior concentração nas áreas urbanas, de
acordo com Vilhena (2002, p.7) são a “migração interna, a mecanização
da agricultura, o processo de industrialização, a busca de melhores
oportunidades de empregos e a qualidade de vida”.
Quando determinada cidade evolui e não considera os danos
causados à natureza, ocorre desarmonia e o sofredor de tais danos é o
249
meio ambiente. Esta situação leva-se segundo Cavalcanti (1995), a
ampliação da tecnologia e aumento do poder econômico e tem como
decorrência o desequilíbrio, agravando a miséria, a deterioração
ambiental e a poluição.
Por isso, a questão ambiental deve ser levada em conta quando
uma cidade pretende implantar um sistema econômico que tenha como
meta o desenvolvimento. Assim sendo, deverá ser realizado um
planejamento no qual seja incorporado o uso adequado dos recursos
naturais, a melhoria do bem estar da sociedade e o progresso do
município.
Devido o acelerado processo da urbanização houve e há a
criação de novos materiais em grandes proporções. A problemática
diante dessa grande demanda é que natureza não consegue absorver os
mesmos na velocidade que esses são produzidos levando a graves
consequências locais, regionais e até mesmo globais.
Segundo Pinto (1999), a origem dos RCC se encontra entre
41% a 70% do total dos Resíduos Sólidos Urbanos, sendo que de
acordo com Motta (2004), as origens dos resíduos nas cidades
brasileiras são em média de 500 Kg/ano/pessoa.
A construção civil é símbolo do desenvolvimento de uma
cidade. Essa gera impactos visuais em função dos aspectos perceptivos
do ambiente que se encontra com RSCC. Esses impactos têm como
causa a degradação do meio ambiente na retirada dos Recursos Naturais
(RN) para a formulação dos materiais necessários nas obras.
250
Nas considerações de JOHN (2000), a construção civil é
responsável por até 50% do uso dos RN em nossa sociedade. Para o
autor, esse setor é o culpado por cerca de 50% do CO2 lançado na
atmosfera. Nada mais que do quase a metade da quantidade dos
resíduos sólidos gerados no mundo.
Como se não bastasse os danos que as construções geram para o
meio ambiente na retirada dos RN, ainda ocorre a disposição irregular
dos RSCC que tem como consequências diretas: “[...] a proliferação de
insetos e roedores, obstrução do escoamento (provoca inundações) e
deslizamento de encostas” (VILHENA, 2002, p. 179).
Os RSCC de acordo com a NBR 10.004/04 (Resíduos Sólidos -
Classificação) são classificados como resíduos inertes - classe II. Os
RSCC são formados de acordo com Vilhena (2002, p.179), “[...] por
resíduos de fragmentos e de restos, o primeiro compostos por elementos
pré-moldados e o segundo originados em obra”.
Segundo a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – os RCC são:
Os provenientes de construções, reformas, reparos
e demolições de obras de construção civil, e os
resultantes da preparação e da escavação de
terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos,
concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas,
colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico,
vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc.,
comumente chamados de entulhos de obras,
caliças ou metralha (CONAMA, 2002, p. 95).
251
Os geradores de acordo com a Resolução 307/2002 do
CONAMA são as “[...] pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou
privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem
os resíduos”. A resolução ainda cita que estes deverão ter como
“objetivo prioritário a não geração de resíduos e secundários, a redução,
a reutilização, a reciclagem e a destinação final” (CONAMA, 2002, p.
96).
Qualquer gerador tem como base para construir a necessidade
de um componente fundamental que é o cimento, esse material é
empregado de diversas maneiras, tais como: elementos estruturais
(pilar, viga, laje) argamassa de revestimento, assentamento de blocos,
tijolos, azulejos entre outras funções. Vilhena (2002) relata que no
documento Industrialização da Construção Habitacional (1994), foi-se
discriminado num dos relatórios, uma pesquisa de maneira indireta,
onde é afirmado que os consumidores particulares são os que possuem
maior mercado de consumo com 50,3%, isso indica que a maioria dos
RSCC são gerados provenientes de construções de pequeno porte, que
provavelmente são depositados de formas irregulares.
Os RSCC são muitos, porém tais resíduos devem ser
reaproveitados como novas matérias primas, desta forma gera-se
economia ambiental e social.
Na reutilização, deve-se evitar o descarte de materiais que
podem ser utilizados novamente com a mesma ou com outra finalidade.
"[...] É comum proceder ao tratamento de resíduos industriais com
252
vistas à sua reutilização ou, pelo menos, torná-los inertes"
(MONTEIRO, 2001, p.138).
A reciclagem/reutilização segundo Vilhena (2002, p. 81), “[...] é
o resultado de uma série de processos pelos quais os materiais são
atenuados sendo utilizados como matéria prima na manufatura de novos
produtos", ou seja, a utilização desse método diminui a retirada dos RN,
diminui os preços, evita que os resíduos sejam depositados de forma
incorreta em lugares desapropriados. Entre outras contribuições destaca-
se a “[...] redução de volume de extração de matérias-primas e a
correção dos problemas ambientais urbanos gerados pela disposição
final inadequada” (MONTEIRO, 2001, p.131).
A reciclagem já está sendo aplicada em muitos
empreendimentos e a capacidade de se desenvolver um gerenciamento
acessível e satisfatório já é possível. Segundo Silva (2006), constata-se
que estão sendo estudadas soluções para aplicação e uso dos RSCC
reciclado; algumas que estão sendo postas em prática em determinadas
cidades brasileiras, os resultados estão sendo satisfatórios e triunfais,
como as pavimentações, os agregados para concreto e agregado para
confecção de argamasseiras.
A partir da gestão dos resíduos da construção civil, observa-se
que com o desenvolvimento de um processo de reciclagem, a destinação
de resíduos para aterros poderá diminuir significantemente, mas, antes
que a prefeitura programe a implantação ou incentive outra empresa a
instalar esse sistema no município, deve ser analisado se ocorre a
demanda dos produtos que serão reciclados. Pois, a reciclagem é uma
253
"[...] atividade econômica que deve fazer parte de um conjunto de ações
integradas que visam um melhor gerenciamento dos resíduos"
(VILHENA, 2002, p. 81). Não podemos segregar materiais para a
reciclagem se não ocorrer uma demanda desses resíduos.
Segundo Vilhena (2002, p.188), "[...] deve ser realizado na
pesquisa a análise dos aspectos básicos do município", ou seja, a origem
dos materiais, a localização do empreendimento (neste aspecto deve-se
observar os pontos de coleta para economia de transporte), os
problemas ambientais causados pelas disposições irregulares e a origem
dos RN utilizados (normalmente são extraídos de rios e pedreiras).
Após verificar se os dados obtidos tiveram aspecto positivo,
cabe-se destacar que é fundamental ter o conhecimento das classes e
disposição correta para cada resíduo, que segundo CONAMA(2002) são
separados em quatro classes distintas conforme demonstra a tabela 1.
TABELA 1: Classificação dos resíduos da construção civil segundo a
Resolução 307/2002-CONAMA.
Classe Característica Destinação
A
Resíduos reutilizáveis ou recicláveis:
agregados, tijolos, blocos, telhas, placas de
revestimento, argamassas, concretos, tubos,
meio-fio, solos de terraplanagem.
Deverão ser reutilizados
ou reciclados na forma de
agregados, ou
encaminhados à áreas de
aterro de resíduos da
construção civil, sendo
dispostos de modo a
permitir a sua utilização ou
reciclagem futura.
B
Resíduos recicláveis para outras destinações.
Tais como plásticos, papel/papelão, metais,
madeiras.
Deverão ser reutilizados,
reciclados ou
encaminhados à áreas de
armazenamento
temporário, sendo
254
Fonte: CONAMA, 2002; CONAMA, 2004.
Além de analisar o mercado dos produtos que serão reciclados
deve-se haver também uma pesquisa sobre o mercado consumidor e não
se pode esquecer que ao implantar o sistema precisa ser também
apurado o controle de qualidade dos agregados com análises
laboratoriais de curto e longo prazo. A partir dos estudos comparativos
poder-se-á ser gerados materiais cada vez mais parecidos com os usados
normalmente, pois, produtos gerados da reciclagem nem sempre terão
composições que podem ser igualadas aos originais (VILHENA, 2002).
Nos últimos tempos tem sido elaboradas leis para a proteção do
meio ambiente, pois os impactos gerados pelos resíduos da construção
civil são extremos. Diante desse impasse A Resolução 307/2002
estabelece “diretrizes, critérios e procedimentos para disciplinar às
ações necessárias com o intuito de minimizar os impactos ambientais”
(CONAMA, 2002, p. 95). Entre as diretrizes a citada resolução
dispostos de modo a
permitir à sua utilização ou
reciclagem futura.
C
Resíduos ainda sem tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis para a sua
reciclagem/recuperação. Dentre outros
destacasse os oriundos do gesso (tratamento
pelo gerador);
Deverão ser armazenados,
transportados e destinados
em conformidade com as
normas técnicas
específicas.
D
São resíduos perigosos oriundos do processo de
construção. Destaca-se as tintas, os solventes,
os óleos e outros ou aqueles contaminados ou
prejudiciais à saúde oriundos de demolições,
reformas e reparos de clínicas radiológicas,
instalações industriais e outros, bem como
telhas e demais objetos e materiais que
contenham amianto ou outros produtos nocivos
à saúde. (nova redação dada pela Resolução n°
348/04).
Deverão ser armazenados,
transportados, reutilizados
e destinados em
conformidade com as
normas técnicas
específicas.
255
determina que os municípios e o Distrito Federal implantem o Plano
Integrado de Gerenciamento de RCC.
O Plano Integrado de Gerenciamento de RCC de acordo com a
Resolução 307 deve desenvolver soluções para os pequenos volumes
que são gerados. Entre as principais funções, está a de disciplinar os
grandes geradores; cabe ao município de acordo com seus critérios,
determinar quem é o grande ou pequeno gerador.
Para os pequenos geradores foi instituído pela resolução o prazo
de 12 meses para que os municípios e o Distrito Federal formulassem o
Plano (até Janeiro/2004) e para a implementação, o prazo de 18 meses
(até Julho/2004).
Para os grandes geradores a resolução deu o prazo de 24 meses
(até Janeiro/2005) para a formulação do plano (o qual deve considerar
todas as etapas de acordo com a classe dos resíduos, como pode ser
observado na tabela 1).
O projeto para o Plano Integrado de Gerenciamento de RCC
tem como função "destinar de forma correta os resíduos que são gerados
pelo município o qual deve considerar a caracterização, triagem,
acondicionamento, transporte e destinação" (CONAMA, 2002, p. 96) e
a função de cada setor é descrita por Júnior (2005) como mostra a tabela
02.
TABELA 2: Agentes envolvidos e suas responsabilidades
Agente Responsabilidades
Gerador de Resíduos Gerenciar os resíduos desde a geração até a destinação final,
com adoção de métodos e processos de manejo compatíveis,
com a sua destinação ambiental, sanitária e economicamente
desejáveis.
256
Cedente de área para
recebimento de
Inertes
Cumprir e fazer cumprir as determinações que disciplinam os
procedimentos e operações de aterros de inertes, em especial o
seu controle ambiental.
Prestador de
Serviços/
Transportador
Cumprir e fazer cumprir as determinações normativas que
disciplinam os procedimentos e operações do processo de
gerenciamento de RSCC.
Poder Publico Normalizar, orientar, controlar e fiscalizar a conformidade da
execução dos processos de gerenciamento do Plano Integrado
de gerenciamentos dos RCC.
Fonte: JÚNIOR, 2005.
Mesmo com prazos pré-estabelecidos muitas municipalidades e
empresas burlam e/ou mascaram até os dias atuais a legislação sobre a
deposição final dos RSCC.
Associação brasileira de normas técnicas (ABNT) noticiou em
2004, inúmeras normas as quais tratam dos RCC. Estas estão inclusas
nas propostas da Resolução 307/2002-CONAMA e tratam de uma série
de aspectos.
NBR15112/2004 – Resíduos da construção civil e
resíduos volumosos – Área de transbordo e triagem – Diretrizes para
projeto, implantação e operação;
NBR15113/2004 – Resíduos sólidos da construção civil
e resíduos inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e
operação;
NBR15114/2004 – Resíduos sólidos da construção civil
– Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e
operação;
NBR15115/2004 – Agregados reciclados de resíduos
sólidos da construção civil – Execução de camadas de pavimentação –
Procedimentos;
NBR15116/2004 – Agregados reciclados de resíduos
sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de
concreto sem função estrutural – Requisitos.
Vale destacar que, as Normas acima apresentadas pela ABNT,
somadas a Resolução CONAMA 307/2002 e a Política Nacional de
257
Resíduos Sólidos (PNRS) em vigor desde 2010 são destaques na
política nacional do setor ambiental, bem como, vêm movendo a cadeia
produtiva do setor da construção civil, pois estas legislações definem as
responsabilidades de cada setor.
Considerações Finais
Dois Vizinhos – PR a exemplo da maioria das municipalidades
brasileiras e empresas da cadeia produtiva da construção civil não
seguem a risca as disposições apresentadas na Resolução CONAMA
307/2002 e na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). E,
sobretudo, não seguem a legislação devido a falta de fiscalização de
órgãos competentes, basta verificar que, a deposição de RSCC em
lugares clandestinos e/ou irregulares como os aterros sanitários,
continuam ocorrendo com frequência.
Conforme é o desenvolvimento de uma cidade, esta necessita a
implantação de um sistema de gerenciamento para poder dar aos RSCC
uma coleta, transporte e destinação final de forma correta e sustentável.
Desta forma, o Plano Integrado de Gerenciamento de RSCC vêm como
forma de atingir tal objetivo.
Os RN que são utilizados pelo ramo da construção tornam-se
cada vez mais precários e custosos. Precários, pelo fato dos órgãos
ambientais estarem mais exigentes na retirada da matéria prima e nem
todos conseguem adequar-se as novas leis e normas. São custosos, pois
estão mais distantes dos grandes centros, isso faz com que ocorra um
aumento sob o material por conta do transporte.
258
Podemos notar que referente ao ramo da construção civil o
empenho em avaliar a quantia de resíduos gerados pelo setor da mesma
já não é novidade, mas o enfoque dos construtores está mais
direcionado e economia e redução dos desperdícios.
Com a redução do desperdício nas obras ocorre também
economia para os geradores, além da conservação do meio ambiente,
colocando a cadeia produtiva da indústria da construção civil no centro
das discussões na procura pelo desenvolvimento sustentável
(desperdício e impacto zero) nas suas diversas dimensões e soluciona os
principais problemas mencionados nesta contribuição.
O processo de redução, reciclagem e reutilização dos RSCC
aplicados de forma correta encaminhar-se-á a um sistema de vantagens,
pois as indústrias de construções irão além de diminuir a geração de
resíduos, pagar menos por um produto com qualidade relativamente
proporcional ao original, já no município irá diminuir as tantas
disposições incorretas e na natureza será mitigada a retirada das
matérias primas das jazidas.
Os gerenciamentos dos RSCC tornam o setor mais lucrativo e
competitivo e enquadram-se numas das soluções para evitar-se o
desperdício de materiais e a retirada dos RN. Proporcionando um
melhor equilíbrio entre o desenvolvimento e o meio ambiente.
Vale ressaltar que no Brasil já existem usinas de reciclagem que
desenvolvem um satisfatório trabalho e se tornaram exemplares com a
implantação do sistema de reciclagem, como a Estação de reciclagem
259
Estoril e a Estação de reciclagem Pampulha, as duas localizadas em
Belo Horizonte – MG.
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acadêmico. Osasco: ABNT, 2002.
________. NBR 15112. Resíduos da construção civil e resíduos volumosos –
Área de transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e
operação: Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
________. NBR 15113. Resíduos sólidos da construção civil e resíduos
inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e operação. Rio de
Janeiro: ABNT, 2004.
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Reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação. Junho 2004. Rio
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construção civil: Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos.
Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
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