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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
Planeta Terra, Cidade Porto Alegre:
uma etnografia entre internautas.
Dissertao de Mestrado
Jonatas Dornelles
Orientador: Dra. Cornelia Eckert
Porto Alegre, dezembro de 2003.
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Planeta Terra, Cidade Porto Alegre...
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Resumo
Estudo de Antropologia Social elaborado a partir de uma pesquisa feita com
um grupo que utiliza um chat de Internet como forma de sociabilidade. Reflete sobre
a relao entre o homem e as Novas Tecnologias, assim como a cultura local e a
Globalizao. A sociabilidade virtual vista em constante relao com a cidade de
Porto Alegre. investigada a relao da imagem digital com a interao social. A
pesquisa tambm procura contribuir reflexo sobre o papel da Antropologia diante
de fenmenos sociais contemporneos.
Palavras-chave: antropologia urbana, sociabilidade virtual, novas tecnologias, chat,
Internet e globalizao.
Abstract
Study of Social Anthropology elaborated from a research done with a group
that uses a Internet chat as a sociability form. It contemplates about the relationship
between the man and the New Technologies, as well as the local culture and global
involvement. The virtual sociability is seen in constant relationship with the city of
Porto Alegre. The relationship of the digital image is investigated with the social
interaction. The research also tries to contribute to the reflection on the paper of the
Anthropology before contemporary social phenomenons.
Word-key: urban anthropology, sociability virtual, new technologies, Internet chat and
global involvement.
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Agradecimentos
Agradeo aos professores do
Programa de Ps-Graduao em
Antropologia Social da UFRGS por
acreditarem na minha capacidade
acadmica. Agradeo Professora Doutora
Cornelia Eckert, Chica, por me conduzir no
processo de maturidade acadmica. Assim
como a Professora Doutora Ana Luiza
Carvalho da Rocha, que muito me
aconselhou. Tambm agradeo previamente
aos membros da banca de avaliao, pelo
compromisso assumido em mostrar meus
erros e acertos.
Agradeo aos colegas do curso,
lembrando especialmente dos momentos de
sociabilidade cultivados. Agradeo ao colega
Iosvaldir, por compartilhar sua biblioteca, e
ao amigo Valcir, pelo companheirismo.
Agradeo especialmente aos internautas
conhecidos em trabalho de campo, j que
possibilitaram pensar a respeito de suas
experincias.
Agradeo pessoa que a primavera
do meu inverno: minha eterna namorada,
Ana. E agradeo pessoa que a luz que
me ilumina, a brisa que me inspira e a rocha
que me apia:
Dona Elaci, minha me.
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ndice Planeta Terra, Cidade Tquio... ...............................................................................................................6 Introduo.................................................................................................................................................7 Navegando nos conceitos e estudos tericos........................................................................................10
Breve panorama.................................................................................................................................10 Cibercultura, modernidade, ps-modernidade e globalizao ..........................................................12 Sociabilidade......................................................................................................................................17 Tcnica e virtualidade ........................................................................................................................21 Plos distintos ....................................................................................................................................22 Sincronia e assincronia......................................................................................................................23 Sociabilidade virtual ...........................................................................................................................25 Para pensar as novas tecnologias, o virtual e o ciberespao ...........................................................28 A importncia da tela do monitor .......................................................................................................32 O poder da imagem ...........................................................................................................................33 Quando a cidade o campo..............................................................................................................35 Sobre o "Ficar" ...................................................................................................................................39
Metodologia ............................................................................................................................................41
O que j tinha sido acumulado ..........................................................................................................42 A continuao ....................................................................................................................................44 Alguns objetivos .................................................................................................................................46
CD-ROM.................................................................................................................................................48 Onde estaremos.....................................................................................................................................49
Origem ...............................................................................................................................................49 O mapa atual......................................................................................................................................50 O incio do progresso e os primeiros anos do sculo XX..................................................................55 Dcadas de 30, 40 e 50.....................................................................................................................58 Dcadas de 60 e 70...........................................................................................................................60 Dcadas de 80 e 90...........................................................................................................................61
Cartografia do espao utilizado pelo grupo estudado............................................................................67
Os elementos presentes no ambiente de chat ..................................................................................68 Sobre a identificao..........................................................................................................................69 Dentro do chat....................................................................................................................................69 Formas de teclar ................................................................................................................................70 Formas de aproximao ....................................................................................................................71 Criando, interpretando e imaginando.................................................................................................72
O surgimento do freqentador de chat ..................................................................................................74
Organizao em rede.........................................................................................................................79 Vivncia cotidiana on-line.......................................................................................................................86
Linguagem escrita - chatons............................................................................................................86 Nicknames (nick)................................................................................................................................88 As descries pessoais .....................................................................................................................92 A busca de "fotos"..............................................................................................................................94 Tipos de procura ................................................................................................................................96 Questo de gnero ............................................................................................................................98 A busca de afinidades e identificaes comuns, enturmar-se ........................................................102 A turma, um lugar de troca de confidncias ....................................................................................104 Os encontros....................................................................................................................................107 A relao entre os modos aberto e reservado.................................................................................112 Popularidade como um valor buscado no chat................................................................................115 As declaraes amorosas, os romances, o sexo ............................................................................117 Conflitos e disputas dentro do chat..................................................................................................119 Estar no chat, estar se divertindo ....................................................................................................122 Os anti-sociais do chat.....................................................................................................................123
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O chat como um local de divulgao ou onde se busca informaes.............................................125 O chat como um espao ..................................................................................................................126 O chat e a cidade de Porto Alegre...................................................................................................127 Estreitamento das dimenses on e off-line......................................................................................128 O estranhamento do chat ................................................................................................................129
Vivncia cotidiana off-line.....................................................................................................................131
Encontros das redes ........................................................................................................................131 Rixas e pequenas redes ..................................................................................................................145
O perfil da "POA B" ..............................................................................................................................148
Antigos e novos................................................................................................................................150 A importncia do perfil .....................................................................................................................151 Qualitativo e quantitativo, questionrio e universo ..........................................................................152 A turma da sala B.............................................................................................................................154 Idade ................................................................................................................................................154 O que faz da vida (se trabalha, estuda)...........................................................................................155 De onde "tecla" ................................................................................................................................155 Bebida preferida...............................................................................................................................156 Tipo de msica preferida, banda... ..................................................................................................158 Onde costuma ir em Porto Alegre....................................................................................................159 Onde est se no est no chat ........................................................................................................163 Momento de acesso ao chat............................................................................................................163 Quantos dedos usa para "teclar" .....................................................................................................164 Mora com quem ...............................................................................................................................166 Primeira pessoa que conheceu na sala "B".....................................................................................167 Como ingressou na rede..................................................................................................................168 Chat que freqentava antes de ingressar na rede ..........................................................................169 O que mudou na vida.......................................................................................................................170 Momento inesquecvel na "POA B" .................................................................................................171 Imagem do grupo.............................................................................................................................176
A apropriao do chat como lugar de sociabilidade e ponto de encontro da turma............................177
O problema ......................................................................................................................................177 A soluo .........................................................................................................................................178 Territrio e identificao...................................................................................................................182
A apropriao de circuitos e trajetos da cidade como lugares de sociabilidade e pontos de encontro da turma ...............................................................................................................................................183 O ciberespao como uma ampliao/continuao do espao da cidade e ponto de encontro para o cultivo da sociabilidade ........................................................................................................................185 O ciberespao como um lugar de sociabilidade que proporciona pessoa uma experincia prazerosa..............................................................................................................................................186 O ciberespao como um lugar de manifestao do "eu" e encontro com o "outro" ............................187 Desejo de descoberta ..........................................................................................................................188 Agora ....................................................................................................................................................190 Antropologia "na" e "da" internet ..........................................................................................................192
Na Internet .......................................................................................................................................192 Da Internet .......................................................................................................................................195 O antroplogo na Internet ................................................................................................................196
Concluso.............................................................................................................................................198
Sobre sociabilidade virtual ...............................................................................................................199 Virtual e real .....................................................................................................................................199 Simulao ........................................................................................................................................200 Origem do chat.................................................................................................................................202
Bibliografia............................................................................................................................................204
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Planeta Terra, Cidade Tquio...
"...como todas as metrpoles, Tquio se acha hoje em desvantagem na sua luta contra o maior inimigo do homem - a
poluio. Apesar dos esforos das autoridades de todo o mundo,
pode acontecer um dia que a terra, o ar as guas venham a se tornar
letais para toda e qualquer forma de vida .Quem poder interferir??
S P E C T R O M A N !"
Era assim que iniciava um seriado japons de televiso chamado de
Spectroman. Uma voz em off narrava essa passagem. O seriado foi produzido na
dcada de setenta. Ele retratava a antiga luta entre o bem e o mal. O mal era
encarnado na figura do Dr. Gori. Ele era um macaco-mutante que ficava em uma
espaonave. Freqentemente ele enviava ao Planeta Terra monstros gigantes. A
sua inteno era dominar o planeta, ou talvez destrui-lo. Nunca entendi muito bem
os seus propsitos.
Quando o monstro comeava a destruir a cidade de Tquio, o super-heri
entrava em ao. O Spectroman era um homem que se transformava em um rob
gigante. A transformao se processava quando ele levantava seu brao direito e
proferia: Dominantes, s ordens! O seriado foi produzido em uma poca que
borbulhavam produes mostrando a convivncia entre homens, robs e cyborgs.
Em alguns casos, como o do Spectroman, mostrava-se a existncia de um
homem-mquina.
Trinta anos depois o "homem-mquina" aparece com outras formas. O
aspecto humanide deixou de existir. Ao invs disso so organismos formados por
uma mistura entre braos, teclado, cabea, monitor, crebro, cpu... Todos
interconectados e podendo trocar informaes em fraes de segundo, mesmo
estando em lados opostos do planeta.
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Introduo
O mundo contemporneo nos trouxe uma srie de transformaes. So
tantas que no haveria aqui espao para enumer-las, talvez nem metade.
Buscando o epicentro das transformaes, talvez encontrssemos um elemento
comum, que o avano macio da tecnologia. Para boa parte dos seres humanos a
tecnologia tomou conta de vrias dimenses da vida. Com o avano dos meios de
comunicao, o prprio contato interpessoal se modificou. Interaes que antes
necessitavam de um contato face a face, atualmente podem ser feitas a quilmetros
de distncia. Nesse processo se insere o fenmeno de sociabilidade via computador,
que hoje em dia cada vez mais se torna algo comum e praticado por um nmero
crescente de pessoas.
Classicamente, a Antropologia se interessou pelo estudo de diferentes
culturas e fenmenos sociais envolvidos. No conjunto de temas de interesse da
antropologia sempre esteve presente o estudo das formas de associao humana.
Estudando a sociabilidade humana, a antropologia se preocupou em responder o
que une os indivduos e de que maneira a unio se processa. At pouco tempo atrs
a sociabilidade privilegiadamente era praticada no encontro face a face entre
indivduos. Emergiu, na ltima dcada, uma forma de interao inusitada, onde o
contato se processa via mquinas/computadores. No somente uma nova forma
de comunicao, mas sim a possibilidade de se sociabilizar a partir de um contato
face a tela (de computador).
Estudos que contemplem a relao entre as pessoas e as novas tecnologias
so importantes de uma maneira geral e principalmente para a antropologia.
disciplina interessa investigar a relao dos indivduos com essa nova dimenso da
vivncia humana. Devemos buscar um entendimento sobre qual o sentido atribudo
a esse tipo de interao e em que medida isso se apresenta para as pessoas
envolvidas.
O Tema dessa dissertao de mestrado trata da sociabilidade que se forma e
se mantm mediante o contato de pessoas via Internet1 (on-line), atravs de
1 Nome dado rede mundial de computadores. On-line quando se est conectado Internet. Esse termo de origem inglesa, assim como outros aqui apresentados, no recebero formatao destacada pois j foram aportuguesados e so apresentados no "Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa" (Ferreira, 1999).
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computadores. A especificidade dessa forma de sociabilidade est nela ocorrer sem
o contato pessoal face a face (off-line) e em um espao virtual onde h o
deslocamento tempo-espacial, formando o Ciberespao2. Investiga-se a
sociabilidade que ocorre em ambiente virtual de chat3 (sala de bate-papo da
Internet). Constitudo no ciberespao, o chat comporta o encontro de pessoas
fisicamente distantes. Compartilhando de uma mesma imagem visualizada pela tela
do computador, as pessoas trocam mensagens escritas de modo sincrnico. Ocorre
nesse processo a construo de um convvio social cotidiano e regular. Diante desse
panorama cabem estudos que explorem de que maneira so afetadas a interao
social, a concepo de cotidiano, de tempo e de espao, as novas formas de
linguagem e as performances. A pesquisa est inserida na discusso sobre formas
contemporneas de interao social associadas s novas tecnologias miditicas.
Explorar esse tema a partir do ponto de vista antropolgico significa dar a ele
um trato qualitativo. Quantitativamente, as estatsticas mostram o avano da
utilizao da informtica e da Internet. Entretanto, no mostram como a tecnologia
diversamente re-significada e simbolicamente apropriada. A partir de uma
metodologia antropolgica e da construo de alteridade, investigo as
transformaes comportamentais as quais passam os indivduos envolvidos com
esse sistema de comunicao.
Cabe Antropologia responder de que maneira um grupo se forma e se
mantm modernamente com uma interao essencialmente feita por mquinas, com
uma comunicao sincrnica e visual, a partir de telas de monitores e
compartilhando de mensagens de texto. Pesquisar antropologicamente esse tema
significa relativizar sobre o mundo chamado de "moderno e globalizado" e a
presena das novas tecnologias nos cotidianos dos indivduos.
A pesquisa teve como objetivo central etnografar o ciberespao identificado
com a cidade de Porto Alegre. Procuro mostrar os valores que so negociados na
interao no ciberespao e interpretar de que maneira os indivduos organizam suas
vidas a partir de ento. Foi preciso relacionar as vivncias on e off-line do
freqentador de chat, refletindo sobre os seus mtuos impactos. Tambm foi preciso
2 Pierre Lvy desenvolve esse conceito em: Lvy, 1996. 3 Embora ser de origem inglesa, essa palavra no vir em itlico porque j foi aportuguesada e aparece em edies recentes de dicionrios da lngua portuguesa.
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explorar de que maneira o chat era arquitetado, vindo a se constituir em um espao
de trocas simblicas.
A importncia desse tipo de estudo est nele explorar uma das formas
contemporneas de interao social. Atualmente est havendo um fenmeno de
formao de redes sociais virtuais. As caractersticas desse tipo de interao
potencializao da autonomia, imediatismo, maior abrangncia do compartilhamento
da informao, desconexo entre tempo e espao, entre outras propiciam aos
indivduos condies inditas de organizao social. A pesquisa contribui no
processo de conhecimento sobre o mundo moderno, fortemente individualizado e
sofrendo, paradoxalmente, processos de globalizao e regionalizao.
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Navegando nos conceitos e estudos tericos
Atravs de um estranhamento sobre uma forma de sociabilidade composta de
elementos novos em relao queles classicamente identificados, esperamos
contribuir para a discusso sobre o fenmeno de sociabilidade. A reflexo trazida
nesse estudo baseia-se em teorias reconhecidas no mundo acadmico. Antes de
mais nada preciso rever brevemente os conceitos que estaro presentes nesse
esforo descritivo e interpretativo.
Breve panorama
A sociedade ocidental moderna est intimamente associada a avanos
tecnolgicos. Com eles tivemos transformaes marcantes na evoluo da
humanidade. Tivemos com a revoluo industrial uma transformao marcante nas
relaes sociais. Passando pela linha de tempo do sculo XX teramos ainda uma
srie de exemplos da associao estreita entre avanos tecnolgicos e
transformaes nas relaes sociais. Porm devemos avaliar com cuidado essa
relao. Cabe aqui a proposta de Dominique Wolton (2000). Ele questiona a
afirmativa de que a Internet mudar radicalmente as relaes humanas. Para este
autor, a relao entre sistema tcnico, modelo cultural e projeto de organizao
social permite compreender o papel da comunicao em uma dada poca histrica.
Ele questiona a relao entre o meio material da comunicao (tcnica), com o
projeto social e o modelo cultural. Para ele essas trs partes estiveram presentes na
histria de maneira relativamente autnoma.
Os momentos em que h uma estreita relao so escassos. Dominique
Wolton no acredita que as revolues tecnolgicas levaro a uma "nova sociedade"
(achar que haver uma relao de causa e efeito entre as duas coisa do
determinismo tecnolgico). Ele separa tcnica, cultura e sociedade, e considera que
a inovao da estrutura tecnolgica, que sempre mais rpida que a inovao da
estrutura cultural e social, ir transformar a situao da sociedade como um todo. De
qualquer forma, partimos do pressuposto de que atualmente a sociedade ocidental
marcada pelo avano da "informao automtica" - informtica.
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A sociedade ocidental de agora se auto intitula como "sociedade da
informao". A definio de Jol de Rosnay (1999) sobre "sociedade informacional"
apropriada nesse momento:
"Com o advento do tratamento eletrnico das informaes, da digitalizao dos dados,
e com o desenvolvimento as redes interativas de comunicao, as referncias clssicas
despedaaram-se. s trs unidades (de lugar, de tempo e de funo), opem-se a
descentralizao das tarefas, a dessincronizao das atividades e a desmaterializao as
trocas." (Rosnay, 1999: 217)
A informao tornou-se uma moeda valiosa no mundo moderno. O acesso a
ela facilitado pela massificao dos computadores pessoais. Junto tambm temos
a formao de uma rede mundial interconectando esses computadores, o que faz a
informao percorrer grandes distncias em pequeno tempo. um panorama
caracterizado pela presena das novas tecnologias comunicacionais, incluindo a
Internet. Como ela um meio de comunicao potente, proporciona uma forte
aproximao entre os indivduos. Jol de Rosnay argumenta que na sociedade
informacional h uma emergncia das pessoas. Em cada n da rede, em cada
computador pessoal h uma pessoa criadora, produtora e consumidora dos atuais
instrumentos interativos (Rosnay, 1999).
Lcia Santaella defende que atualmente h um crescimento acelerado da
"semiosfera" (Santaella, 1996: 185). Ela chama de semiosfera algo como se fosse a
biosfera. Uma "esfera" onde h o predomnio da comunicao humana gerada pela
sua capacidade simblica. O crescimento da semiosfera est atrelado s novas
tecnologias, que favorecem a expanso dos canais de comunicao.
Conseqentemente, aumenta o trnsito de mensagens e a produo de linguagens
e signos (elementos componentes das mensagens).
Dominique Wolton cita as trs caractersticas das novas tecnologias
(materializadas na Internet): autonomia, organizao e velocidade. Com autonomia
ele se refere ao fato do indivduo sentir a liberdade de obter resultados
independentemente de outros. Se algum quer, por exemplo, "navegar" na Internet
em busca de alguma informao, o faz sem intermedirios. Todos "fazem o que
querem e quando querem" (Wolton, 2000: 96). E ainda por cima, fazem isso em
tempo real, o que d um sensao de liberdade indita. Existe uma possibilidade
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ampla e quase infinita de criao individual da informao buscada em bancos de
dados. As pessoas podem acessar, em tempo real, bancos de dados contendo
informaes que esto a quilmetros de distncia fsica e distantes tambm
culturalmente. Dessa forma criam, autonomamente, seu prprio conhecimento. Tudo
isso est atrelado a uma condio sine qua non propiciada pela extrema
organizao da informao. E ainda, a velocidade, que se traduz na expresso "em
tempo real".
A Internet possibilita a massificao da tecnologia de transmisso de
informaes. Aliada a esse processo de massificao existe um movimento social.
Esse movimento de associao entre tecnologia e sociabilidade passou a fazer parte
do cotidiano de milhes de pessoas nos ltimos anos, caracterstica prpria de uma
"cibercultura4".
Cibercultura, modernidade, ps-modernidade e globalizao
A cibercultura est intimamente ligada a uma era ps-moderna. Sua principal
caracterstica relacionar a universalidade sem a totalidade de sentido. uma
situao diferente da que caracterizava a era moderna, onde a crescente
globalizao sinalizava para uma unidade de sentido, ou seja, um universal
totalizador. preciso retomar aqui o processo que resultou no surgimento da
cibercultura. Mesmo sendo "ps-moderna" ela ainda carrega os princpios
"modernos", ao que Pierre Lvy justifica colocando que:
"Na era das mdias eletrnicas, a igualdade realizada enquanto possibilidade para que
cada um emita para todos; a liberdade objetivada por meio de programas de codificao e do
acesso transfronteirio a diversas comunidades virtuais; a fraternidade, enfim, transparece na
interconexo mundial." (Lvy, 1999: 245)
Para Anthony Giddens o perodo da modernidade, que iniciou a partir do
sculo XVII em territrio Europeu, trouxe transformaes inditas ao convvio social.
Extensionalmente houve a cobertura do globo por formas de interconexo social. Em
termos intencionais "elas vieram a alterar algumas das mais ntimas e pessoais
caractersticas de nossa existncia cotidiana" (Giddens, 1991: 14). As condies de
transformao na modernidade so mais dinmicas do que em situaes pr-
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modernas. "Se isto talvez mais bvio no que toca tecnologia, permeia tambm
todas as outras esferas" (Giddens, 1991: 15).
A idia de modernidade est associada a um sentido de descontinuidade do
tempo. Ela rompe com a tradio e se caracteriza pelo sentimento de novidade e
sensibilidade para com a natureza contingente, efmera e fugaz do presente. Como
resultado surge um homem moderno que constantemente tenta inventar a si prprio
(Featherstone, 1995: 21). Teoricamente, temos o avano de teorias que tentavam
dar conta da dimenso cotidiana da vida urbana, tais como as de Georg Simmel
(1939) e Walter Benjamin (1994). Os espaos urbanos eram os nichos onde se
desenvolvia a vida moderna.
A modernidade caracterizada por diferenas cruciais no lido humano com o
tempo e o espao. Em perodos pr-modernos o tempo era marcado e contato, mas
estava sempre condicionado ao espao ("quando" e "onde" estavam conectados). O
invento e, virtualmente, a difuso do relgio todos os seres humanos no final do
sculo XVIII foi a significao chave para a separao entre tempo e espao
(Giddens, 1991: 26). Como resultado, e ainda seguindo a proposta de Anthony
Giddens, houve um esvaziamento do tempo e do espao.
Anthony Giddens argumenta que no perodo pr-moderno tempo e espao
eram duas dimenses ligadas. A atividade humana era desenvolvida em um tempo e
o espao compunha todas as variveis envolvidas. Existia um espao fsico que
embasava a atividade social desenvolvida na sucesso temporal. O sentido de
espao, nesse caso, se aproxima do de lugar, local, j que estamos diante da
"presena" como condio para o desenrolar da vida social.
A modernidade arranca o tempo do espao. Com a modernidade cada vez
mais as relaes sociais se do entre "ausentes" que esto distantes de qualquer
interao face a face. Anthony Giddens defende que os pesquisadores deveriam
estudar no a sociedade como um sistema fechado, mas como a vida social
ordenada atravs da relao tempo e espao, refletindo sobre o distanciamento das
duas esferas. Essa relao se traduz na dicotomia entre interao local (co-
presena) e interao atravs de distncia (Giddens, 1991: 69). Como resultado
tem-se o "alongamento" da relao entre formas sociais e eventos locais.
4 Uma discusso extensa sobre o tema "cibercultura" est em: Lvy, 1999.
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Sobre esse "alongamento", Anthony Giddens se refere como sendo
caracterstico de um movimento de globalizao. Para ele esse fenmeno pode ser
definido como sendo "a intensificao das relaes sociais em escala mundial, que
ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais so modelados
por eventos ocorrendo a muitas milhas de distncia e vice-versa." (Giddens, 1991:
70)
A relao entre globalizao e cultura vista por Mike Featherstone (1997)
como gerando dois processos. Primeiramente h a formao de uma "cultura
dominante" que estendida sobre os vrios cantos do globo terrestre. As culturas
heterogneas so incorporadas por essa. Por outro lado h a compreenso de
culturas diferentes. Coisas antes separadas so agora colocadas em contato. Ele
acredita que, se houver uma sociedade global, o impulso provm dos avanos
tecnolgicos e da economia. Temos como exemplos os avanos dos meios de
transporte e de comunicao.
Ambos resultam na "unificao de maiores extenses de tempo-espao, no
apenas em nvel intrassocietrio, mas, cada vez mais, em nvel intersocietrio e
global" (Featherstone, 1997: 22). Mike Featherstone argumenta que hoje em dia os
meios de comunicao prezam pela dialogia. Os anteriores (televiso e rdio, por
exemplo) operavam um tipo de comunicao monolgica. Os meios de comunicao
contemporneos (telefone, fax, rede de computadores/Internet) possibilitam a
interatividade, o que faz com que pessoas distantes no globo terrestre entrem em
contato. O que nos remete proposta de Anthony Giddens, que v na relao entre
o local e o global um das caractersticas da ps-modernidade.
Para Mike Featherstone a ps-modernidade afeta epistemologicamente a
sociologia. A cincia social deixaria de lado a sua pretenso generalizante. A
ateno seria dada sobre o modo como as teorias so construdas, seus
pressupostos ocultos e a autoridade do pesquisador, que nesse caso se v
questionado sobre sua autoridade. Essa uma primeira dimenso afetada. As
outras duas so: a esfera cultural mais ampla e a vida cotidiana de grupos
especficos.
O ps-modernismo trs mudanas nos modos de produo, consumo e
circulao de bens simblicos, o que se aproxima da idia defendida por Baudrillard,
de um princpio de reproduo ao invs de produo: "Baudrillard (1983a) destaca
que novas formas de tecnologia e informao tornam-se fundamentais para a
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passagem de uma ordem social produtiva para uma reprodutiva, na qual as
simulaes e modelos cada vez mais constituem o mundo, de modo a apagar a
distino entre realidade e aparncia" (Featherstone 1995: 20).
Mike Featherstone aponta para as mudanas de experincias cotidianas de
diferentes grupos. Como resultado eles podem "estar desenvolvendo novos meios
de orientao e estruturas de identidade" (Featherstone, 1995: 30). Ainda sobre as
mudanas das prticas de vivncia temos a "estetizao da vida cotidiana". Nela
existe um apagamento entre o real e o imaginrio, entre o cotidiano e a arte. Antes
havia uma ntida separao entre ambos. Ele coloca que esse o panorama em que
se desenvolve a "cultura simulacional", contempornea a ns.
Para Pierre Lvy (1999), a relao entre universal e totalidade traduz as
transformaes na sociedade ocidental. Se levarmos em conta essas duas variveis
podemos estabelecer claramente a essncia de uma poca moderna e outra ps-
moderna. A base da diferena entre ambas est na relao dos seres humanos com
os sentidos culturalmente diversos. Segundo ele, a modernidade foi permeada por
uma crescente globalizao e uma busca de imposio de unidade de sentido. Ela
aspirava universalidade e totalidade. A ps-modernidade mostrou ser impossvel
essa unidade de sentido entre os seres humanos. Ela se constitui sobre os princpios
de universalidade sem totalidade. O que, para Pierre Lvy, ir constituir uma "cultura
do futuro", que atualmente materializada em uma cibercultura embasada em um
ciberespao.
A cibercultura expressa uma mutao fundamental da prpria essncia da
cultura e est longe de ser uma subcultura dos fanticos pela rede. Com essa
definio bsica, Pierre Lvy (1999) defende seu posicionamento sobre a relao
entre cibercultura e ciberespao (a rede propriamente dita). Para ele, a "cultura do
futuro" ser caracterizada pela universalidade sem totalidade. Por universal deve-se
entender, segundo ele, a presena virtual da humanidade para si mesma.
Tanto religio quanto cincia aspiraram universalidade. A primeira atravs
de seus valores, a segunda atravs do conhecimento da humanidade. "Da mesma
forma, o horizonte de um ciberespao que temos como universalista o de
interconectar todos os bpedes falantes e faz-los participar da inteligncia coletiva
da espcie no seio de um meio ubiqitrio" (Lvy, 1999: 247). Longe do que
aparenta para o senso comum, o autor sustenta que o ciberespao rene as
pessoas de uma forma muito menos virtual do que a religio e a cincia. A primeira
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une os indivduos atravs da transcendncia espiritual, a segunda pela
transcendncia do conhecimento. J no ciberespao - e o conjunto de tecnologias
que o envolvem - a integrao real, palpvel e imanente.
Pierre Lvy (2001) argumenta que, historicamente, universalidade e totalidade
ocorreram de forma variada em trs etapas. Primeiramente quando ainda no existia
a escrita. As sociedades eram fechadas e pequenas. Havia uma totalidade sem
universalidade. Secundariamente, em sociedades imperialistas e usurias da
escrita. Nesse caso havia um universal totalizante. Atualmente h uma globalizao
concreta das sociedades e atravs da cibercultura existe um universal sem
totalidade. Embora unir vrios cantos do mundo e diversas culturas diferentes, o
ciberespao e a cibercultura no conseguem impor a unidade de sentido. O que nos
faz concluir que esse um fenmeno essencialmente ps-moderno, j que a
modernidade presenciou uma globalizao com objetivos totalizantes.
Com os avanos tecnolgicos e a gerao do ciberespao, atualmente h
uma comunidade virtual desigual e conflitante. "nica em seu gnero no reino
animal, a humanidade rene toda a sua espcie em uma nica sociedade. Mas, ao
mesmo tempo, e paradoxalmente, a unidade do sentido se quebra, talvez porque ela
comece a se realizar na prtica, pelo contato e a interao efetivos" (Lvy, 1999:
249). Algo que se aproxima da proposta de Dominique Wolton (2000) quando chama
a ateno para a necessidade de separarmos globalizao econmica de
comunicao.
Ele afirma que quanto maior e mais ampla a rede de comunicao mundial,
mais existe a necessidade de se respeitar as fronteiras culturais de cada sociedade.
Existe uma distncia que intransponvel mesmo com os diversos avanos
tecnolgicos no campo das comunicaes, que a distncia cultural. Alis, essa
distncia torna-se cada vez maior quando se coloca em contato, via meios de
comunicao, culturas diversas. "Isto requer trabalhar em duas direes de forma
simultnea: respeitar as identidades e desenvolver um projeto mais amplo que
transcenda as diferenas" (Wolton, 2000: 220).
As propostas desses dois pesquisadores podem ser visualizadas na vivncia
cotidiana das pessoas e suas relaes com o ciberespao. Materialmente essa
relao se concretiza no envolvimento com a informtica e a Internet. Esse
envolvimento pode gerar diversas dimenses. As novas tecnologias propiciaram o
surgimento de novas profisses, metodologias educacionais, busca de informaes,
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produo de conhecimento, integrao acadmica, enfim, onde h computadores e
Internet borbulham novos usos para a tecnologia. Entretanto, h uma dimenso que
est intimamente ligada ao cotidiano das pessoas que vivem esse processo de
informatizao: a sociabilidade virtual.
Sociabilidade
Trs sculos antes de Cristo, Aristteles j afirmava que o que diferenciava os
homens do resto dos animais a propenso socializao. Com August Comte
essa idia est presente na fundao de uma cincia social. A partir de ento temos
o surgimento, consolidao e desenvolvimento das cincias sociais. O ponto em
comum de todos os pensadores, antroplogos e socilogos, o estudo do homem.
No entanto, no do homem isolado, mas do homem em dinmica social, em
interao social.
O fenmeno da sociabilidade antigo. Estava presente tanto na sociedade de
Aristteles, quanto na de Comte. Tanto nas sociedades "simples", quanto nas
"complexas". Os avanos no conhecimento sobre as vrias formas de organizaes
sociais so amplos e no caberia aqui cit-los todos. Conhecimento que foi
construdo com o passar dos anos, acompanhando as transformaes sociais vindas
com o tempo. Acompanhando o processo de construo do conhecimento social,
cabe a ns estudarmos de que forma se d a interao social entre os indivduos
"ocidentais" do incio do sculo XXI.
Gilberto Velho, apoiando-se na obra do socilogo que inspirou os tericos da
Escola de Chicago, Georg Simmel, trata da sociabilidade do sculo passado como
no estando presa a interesses especficos: Mas acima e alm de seu contedo
especfico, todas essas associaes esto acompanhadas por um sentimento
positivo, por uma satisfao pelo prprio fato de se estar associado a outros e de a
solido do indivduo ser resolvida atravs da proximidade, da unio com outros
(Velho, 1986: 13)".
Uma das principais caractersticas das sociedades complexas a presena de
vrios estilos de vida e vises de mundo convivendo ao mesmo tempo (Velho,
1986). Nesse contexto, surge o conceito de Rede de Relaes: networks. Para
Gilberto Velho essas redes atravessam o mundo social na forma horizontal e
vertical. Nesse caso as categorias famlia, parentesco, bairro, vizinhana, origem
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tribal e tnica, status, classes sociais no so definidoras totais de grupos. Tambm
h uma fragmentao das relaes e dos papis sociais em nossa sociedade. Os
indivduos podem transitar por vrios domnios e variar o seu grau de adeso. Dessa
forma, na sociedade complexa, particularmente, a coexistncia de diferentes
mundos constitui a sua prpria dinmica (Velho, 1994: 27).
Para Georg Simmel os indivduos sempre procuram formar uma unidade -
sociedade - de acordo com seus impulsos. Esses impulsos formam o contedo.
Essa matria ainda no social. Somente quando toma a forma de uma sociao
pela qual os indivduos satisfazem seus interesses. Ele argumenta que: "Esses
interesses, quer sejam sensuais, ou ideais, temporrios ou duradouros, conscientes
ou inconscientes, causais ou teleolgicos, formam a base das sociedades humanas"
(Simmel, 1996: 166).
Segundo Georg Simmel, na sociabilidade h a reviravolta entre o contedo
gerador do encontro e a forma dele transcorrer. A forma passa a determinar o
contedo e torna-se um valor supremo. A sociedade, que significa uma agregao
de indivduos em embate uns com os outros gera os contedos ou interesses
materiais ou individuais. Por exemplo, os interesses econmicos fazem com que os
indivduos se agreguem em associaes, irmandades, etc. Mas tambm est
presente um impulso de agregao (forma). Ele pode, s vezes, sugerir os
contedos concretos da associao. A sociabilidade tambm est alm das
realidades objetivas da vida real. Ela um "impulso" (forma) e no est atrelada,
nem condicionada a motivaes concretas (contedo, matria). "Isso nos d uma
imagem abstrata, na qual todos os contedos se dissolvem no mero jogo da forma"
(Simmel, 1996: 169).
De maneira mais especfica cabe citar que:
"Visto que na pureza de suas manifestaes a sociabilidade no tem propsitos
objetivos, nem contedo, nem resultados exteriores, ela depende inteiramente das
personalidades entre as quais ocorre. Seu alvo no nada alm do sucesso do momento
socivel e, quando muito, da lembrana dele. Em conseqncia disso, as condies e os
resultados do processo de sociabilidade so exclusivamente as pessoas que se encontram
numa reunio social." (Simmel, 1996: 170)
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Georg Simmel defende que a sociabilidade como um jogo e escreve que: "A
sociabilidade o jogo no qual se 'faz de conta' que so todos iguais e, ao mesmo
tempo, se faz de conta que cada um reverenciado em particular; e 'fazer de conta'
no mentira mais do que o jogo ou a arte so mentiras devido ao seu desvio da
realidade" (Simmel, 1996: 173). Joga-se por mero prazer, despretenso. Existem
regras as quais os indivduos obedecem e tambm uma dinmica prpria, assim
como os jogos. um jogo social. Os indivduos, em sociabilidade, "jogam sociedade"
(Simmel, 1996: 174).
Para Alfred Schutz (1979) as pessoas agem em funo de experincias da vida
cotidiana. Mesmo havendo uma multiplicidade de "mundos" e "realidades", so
pessoas que buscam experincias significativamente comuns no envolvimento do
"ns" (face a face). O envolvimento est sempre como uma possibilidade objetiva,
sempre atrelado a um desejo de intersubjetividade. A partir do presente vivido um
indivduo percebe o seu semelhante, o Outro. A interao social pressupem a
existncia de uma simultaneidade vivida. Essa simultaneidade abrange tanto a
percepo do Outro enquanto pessoa, como a percepo de seu pensamento.
Existe um deslocamento no tempo compartilhado, ao que Alfred Schutz se refere
como sendo um "envelhecermos juntos". Isso significa que, da mesma forma que
experimento a conscincia do Outro no presente vivido, ele experimenta a minha
conscincia
A sociabilidade est condicionada atos comunicativos entre um Eu que se
volta aos Outros e os apreende como pessoas. Esse processo se d a partir da
percepo do Outro enquanto um corpo no espao que compartilha comigo um
ambiente comunicativo comum. "O ambiente comum de comunicao pressupe
que a mesma coisa que me dada "agora" (mais precisamente, num "agora"
intersubjetivo), com um determinado colorido, pode ser dada a Outro do mesmo
modo, "depois", no fluxo do tempo intersubjetivo, e vice-versa" (Schutz, 1979: 161-
2).
A sociabilidade em Alfred Schutz se constitui em uma experincia vivenciada
no tempo e no espao. Essas duas variveis precisam ser compartilhadas em
comunho, ao que ele denomina de encontro "face a face". A experincia com o
Outro precisa ser direta. Cabe citar suas palavras para que fique claro em que
circunstncias se constitui o seu conceito de "face a face":
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"Digo que outra pessoa est ao alcance da minha experincia direta quando ela
compartilha comigo um tempo comum e um espao comum. Ela compartilha comigo um
espao comum quando est presente pessoalmente, e estou consciente dela como tal e,
alm disso, quando estou consciente dela como essa pessoa ela prpria, esse indivduo em
particular, e do seu corpo como o campo no qual esto em jogo os sintomas de sua
conscincia interior. Ela compartilha comigo um tempo comum quando sua experincia flui
lado a lado com a minha, quando posso, a qualquer momento, buscar e captar seus
pensamentos conforme eles passam a existir, em outras palavras, quando estamos
"envelhecendo" juntos." (Schutz, 1979: 180)
Alm do carter imediato da interao social, Alfred Schutz (1979) tambm
sustenta que para haver o Ns (como unidade prvia interao social) preciso
que haja a tomada de conscincia da presena do Outro. O que ele denomina como
sendo uma "orientao para o Tu". Entenda-se esse conceito como sendo um
estado em que se constata a presena do Outro como "estando l". Perceber a
presena do Outro no significa ter conscincia do que se passa pela mente do
Outro (motivos afim de), mas sim estar ciente de que outro ser humano (um corpo)
compartilha o mesmo ambiente comum.
O processo de "orientao para o Tu" pode ser unilateral ou recproco. Nada
assegura que tu me veja como semelhante, assim como eu o vejo. Somente
recproco quando um e outro esto conscientes da presena de ambos, ou seja,
quando h um relacionamento face a face, social e diretamente vivenciado. "O
relacionamento social diretamente vivenciado na vida real o relacionamento do
Ns puro concretizado e atualizado, em maior ou menor grau, e dotado de contedo"
(Schutz, 1979:182).
O relacionamento do Ns ocorre a partir da mtua orientao para o Tu.
Quando duas pessoas tm conscincia da presena uma da outra, da sim temos
um relacionamento do Ns. Entretanto, ainda no um relacionamento social. Esse
ocorre quando h um contato face a face. Ele existe quando duas pessoas
compartilham mesmos tempo e espao. Em relao ao tempo h uma mesma
vivncia caracterizada por um envelhecer junto. Em relao ao espao h um
mesmo ambiente (Schutz, 1979).
Por ambiente Alfred Schutz se refere ao mundo exterior que apreende
diretamente, tal como o ambiente fsico, a lngua e demais artefatos culturais. Alm
disso, o contato face a face composto pelo conhecimento que tenho da outra
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pessoa e o que ir por vir; os cdigos de interpretao; os motivos afim de e por que;
a mtua orientao (o Outro est orientado s minhas aes e eu s aes dele); os
efeitos dessas no desenrolar da comunicao e das aes futuras..."esse
cruzamento de olhares, esse espelhamento um do outro, de mil facetas, um dos
traos nicos da situao face a face" (Schutz, 1979:187).
A noo de interao social de Alfred Schutz atenta para a necessria
existncia de reciprocidade no contato face a face. Precisa haver a tomada de
conscincia de um parceiro em relao ao outro. A interao tambm pressupe a
existncia de motivos (afim de e por que) pelos quais ocorrem as aes. Eles so
interpretados a partir das experincias anteriores da pessoa. H uma troca, uma
descoberta mtua um do outro. Essa a prpria peculiaridade da interao face a
face. Os comportamentos da outra pessoa somente podem ser esperados enquanto
expectativa, fantasia (Schutz, 1979:190). Nada certo que ir acontecer, mas h
uma orientao mtua de aes. Isso recebe o nome de testemunho. Estar em
interao social tambm significa testemunhar como o Outro reage ao meu
comportamento.
Tcnica e virtualidade
Na poca de Georg Simmel (1858-1918) e de Alfred Schutz (1899-1959) no
haviam os chats para propiciarem uma interao social virtual. Com a informtica os
indivduos encontraram uma maneira diferente at ento vista de se relacionarem.
Ela se d a partir de um novo ambiente de comunicao, que est em concordncia
com um avano tcnico da humanidade.
Com relao tcnica, Pierre Lvy sustenta que ela no est em oposio
humanidade. Homem e tcnica esto unidos em um mesmo processo o qual se
desenvolve a humanidade. Para ele, assim como a economia, a filosofia e a religio,
por exemplo, a tcnica no uma fora real. Na verdade todas elas so dimenses
de anlise, abstraes. Nesse sentido entenda-se que elas so dimenses abstratas
e desprovidas de qualquer meio de ao. "Os agentes efetivos so os indivduos
situados no tempo e no espao" (Lvy, 2001: 13). A tcnica, segundo Pierre Lvy,
deve ser entendida como sendo um processo onde foras no humanas so
utilizadas a servio das estratgias variveis dos seres humanos. Essas estratgias
surgem na dinmica social de agregao/desagregao humana. A tcnica
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apenas a parte das estratgias humanas que passam por atores no humanos
(Lvy, 2001: 14).
Partindo dessa premissa bsica, Pierre Lvy considera como tcnicas tanto a
maneira de pensar, de comunicar e de pensar em Deus, quanto a informtica, a
impresso e a escrita. Todas essas "tcnicas" passam por processos materiais.
Inventos revolucionrios como a mquina a vapor e a mquina fotogrfica serviram
tanto para pensar o mundo, quanto atualmente o computador serve para o mesmo
fim. Pierre Lvy no dissocia os inventos tcnicos dos modos de pensar cultural e
historicamente localizados. Para ele h uma associao tamanha que coloca a
tcnica dentro do processo cognitivo humano: "o telgrafo e o telefone serviram para
pensar a comunicao em geral" (Lvy, 2001: 16). E ainda, a revoluo industrial
surgida no final do sculo XVIII gerou "um novo imaginrio do espao e do tempo
sob a influncia dos meios de transporte rpidos e da organizao industrial do
trabalho" (Lvy, 2001: 17).
Seguindo sua proposio, sustento que o chat, incluindo o conjunto de
elementos envolvidos em um tipo de sociabilidade virtual, serve para pensar a
socializao humana. Diante da tcnica informtica os homens esto tendo uma
nova relao com o mundo. As noes de tempo e espao so reorganizadas e
redimensionadas. Alm disso, as representaes sociais so reformuladas. Tudo
culmina no surgimento de uma "nova humanidade". Muito certamente seja uma nova
humanidade convivendo com antigas. No podemos esquecer que a gerao e a
apropriao de tcnicas varia de cultura para cultura. A informtica e a mdia
eletrnica, como partes de uma estratgia humana, atinge determinados cosmos
humanos. Nestes, elas comeam a fazer parte da apreenso do real. E a partir de
como so utilizadas podemos observar aspectos da experincia humana, tais como
identidade, comunicao e interao social.
Plos distintos
Pierre Lvy (2001) defende o surgimento de uma "nova inteligncia" no sculo
XXI frente informtica. Como resultado principal est a existncia de um
conhecimento por simulao. Ele decorrente do avano tecnolgico o qual a
humanidade atingiu. Nesse panorama o processo cognitivo humano - a apreenso
do real - se transforma. Para o autor a humanidade passa por um estgio onde a
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informtica o centro gravitacional. Entretanto, ainda esto presentes os gneros de
conhecimento fundados sobre a oralidade e a escrita. Segundo o autor esses so os
trs plos do esprito (plo da oralidade primria, da escrita e o informtico-
miditico). Em cada um deles a ecologia cognitiva era de um tipo.
Com relao comunicao interpessoal as diferenas so marcantes. No
plo da oralidade primria, emissor e receptor da mensagem esto inseridos nas
mesmas circunstncias e compartilham interesses prximos. Historicamente isso
ocorre em civilizaes sem escrita. No plo da escrita a distncia entre autor e leitor
pode ser grande. Isso resulta na necessidade de objetividade por parte do emissor,
assim como de interpretao do receptor. Em decorrncia disso temos uma fora no
sentido da universalidade. No caso do plo informtico-miditico existe a conexo a
uma rede, por exemplo a Internet. Conectados a uma rede, emissor e receptor
dividem a produo do hipertexto5. Entretanto, as mensagens so produzidas de
modo a durarem menos (Lvy, 2001: 127).
Sincronia e assincronia
O que est em jogo na sistematizao de Pierre Lvy, mas que ele no
explicita, a varivel "sincrnica". Na oralidade o grau de sincronia extremamente
elevado. Os indivduos compartilham tempo e espao. Nesse caso, por exemplo, a
memria est encarnada em indivduos e transmitida atravs dos ritos e mitos com
repetio atravs de geraes. O tempo toma a forma circular do eterno retorno e o
saber obtido pela narrativa. Na escrita pode haver a total anulao da sincronia (a
gerao de uma a-sincronia, ou assincronia). A informao codificada por um
emissor (autor) e poder ser decodificada por um receptor (leitor) em um tempo ou
espao muito diferentes dos de criao do texto. Nesse caso, a memria
objetivada no escrito e o saber transmitido na forma de teorias. Esto em jogo a
objetivao e a interpretao. No plo informtico-miditico o grau de sincronia
aumenta, quase como na oralidade e o armazenamento da informao objetivado,
assim como na escrita.
Utilizando a informtica, os indivduos tm a possibilidade de utilizar os
processos de sincronia e assincronia. As principais caractersticas da oralidade e da
5 Modo como apresentada a informao na Internet, quando a seqncia no previamente linear, dependendo da construo do internauta.
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...uma etnografia entre internautas. 24
escrita se fundem no "plo informtico". O resultado imediato para os indivduos
inseridos nesse plo est na rearticulao tempo-espacial. A comunicao se
processa em um ambiente onde pode no haver o mesmo tempo entre emissor e
receptor, nem o mesmo espao. Ou ento em mesmo tempo, mas em espaos
diferenciados. Denomino esse ambiente de ciberespao. Sua principal caracterstica
operar a partir do fenmeno de virtualidade, o qual rearticula as noes de tempo
e espao.
No plo informtico as noes de tempo e espao do lugar, respectivamente
s de sincronismo e interconexo. A comunicao entre indivduos pode operar com
uma "larga faixa de tempo", no sentido de um quase assincronismo. Por exemplo,
uma mensagem enviada eletronicamente pode ser recebida algum tempo depois.
Mesmo assim temos o fenmeno comunicacional, j que emissor e receptor
conseguem compartilhar a mesma mensagem. No temos, nesse caso, o
imediatismo da oralidade. No entanto, temos um dinamismo grandemente difundido
e utilizado atualmente pelos indivduos, o que o aproxima, at certo ponto, da
comunicao oral. No caso da comunicao imediata e feita via computador em rede
(chat de Internet, por exemplo) a faixa de tempo entre o envio e o recebimento da
mensagem bem reduzida. Estamos diante de uma sincronia prxima a da
oralidade. Entretanto, falta o contato "face a face" em um mesmo espao, prprio da
comunicao oral. Ao invs disso temos o contato sincrnico (ao mesmo tempo)
entre indivduos interconectados em rede.
Tecnicamente, no interessa se esto em cidades, estados ou pases
diferentes, mas sim que esto compartilhando do mesmo ciberespao, mediado pelo
computador e visualizado pelo seu monitor. Anula-se a varivel espao e temos a
varivel interconexo. Nesse caso, a comunicao sincrnica entre dois indivduos
se d pela mtua conexo, e no por estarem em um mesmo espao fsico. No o
mesmo resultado proporcionado pelo telefone. O contato oral via telefone tambm
sincrnico e depende de uma conexo. J a informtica abrange as caractersticas
da escrita. Elas esto colocadas principalmente pela possibilidade de existncia de
uma assincronia entre emissor e receptor, objetividade (universalizao) da
informao e interpretao da mensagem em um tempo e espao que podem ser
compartilhados ou no. No exemplo de um chat (sala de bate-papo), a escrita
utilizada na estrutura prpria de um contexto oral, com emissor e receptor em
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...uma etnografia entre internautas. 25
sincronia. Tambm fazem parte do processo, vivncia cotidiana, narrativas e
possibilidade ou no de registro do hipertexto criado com a comunicao.
Na sociabilidade feita via chat de Internet h a sincronia da oralidade e o texto
da escrita (assincronia). Ela no utiliza todos os elementos da oralidade, pois no
tem o encontro face a face e um meio de comunicao feito via escrita (registrada
com caracteres). Entretanto, tambm no utiliza todos os elementos da escrita, pois
sincrnico - emissor e receptor trabalham no texto simultaneamente - e no tem
tanta objetividade (universalismo). Alm disso, o sistema informtico possibilita a
construo de uma memria social de grupo, entre os usurios do sistema que
compartilham a vivncia cotidiana.
Sociabilidade virtual
Com os elementos trazidos aqui podemos esboar uma definio clara e
delimitada do fenmeno de sociabilidade virtual. Alguns pontos das teorias visitadas
parecem extremamente adequados para traduzirem o fenmeno. Outros carecem de
uma releitura tendo como parmetro a situao atual. A experincia trazida de
pesquisas j realizadas sobre o tema nos possibilita relacionar algumas dimenses
da vivncia on-line.
Em ambiente de chat visvel a relao simmeliana entre contedo e forma.
Os usurios de chat comeam a utilizar o sistema interessados em sanar o
sentimento de solido6 e buscar envolvimentos amorosos. Durante a comunicao
com outros usurios cria-se um conjunto de estratgias que articulam diversos
assuntos para sustentar a interao. Nesse momento percebe-se a reduo da
presena da varivel contedo e aumento da forma. No importa sobre o que se ir
bater-papo. O importante estar interconectado e trocando mensagens. Podemos
observar essa substituio de centro gravitacional quando verificamos que os
assuntos tratados no momento de interao via chat so efmeros e fortuitos.
O que permanece inalterado o desejo de trocar mensagens, de estar ligado
com algum outro usurio por um canal de comunicao. Isso ocorre tanto para
aquele freqentador eventual, quando para o regular, que est inserido em uma rede
de relaes mais duradoura. No caso do interesse de se envolver amorosamente,
esse acaba ficando em segundo plano em relao ao convvio com demais usurios.
6 Uma reflexo sobre "solido" est em: Carvalho, 1995.
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Os indivduos acessam o chat e ficam ali, trocando mensagens, batendo papo. Tudo
parece, at certo ponto, despretensioso, mas est latente o desejo de "ficar" ou
"namorar"7. Entretanto, para no estar sozinho preciso que o freqentador entre no
jogo que existe na convivncia em ambiente de chat e apreenda suas regras e
estratgias.
Enquanto fazem isso os usurios do sistema percebem outros usurios e
compartilham um mesmo tempo transcorrido e um mesmo espao de convivncia.
Alfred Schutz trata da percepo do outro enquanto um corpo no ambiente. Em
ambiente de chat no esto presentes os corpos dos humanos. Alm disso, o
conceito de ambiente diferente daquele proposto por ele. A percepo do outro se
d pela percepo de um usurio utilizando um nick8 e trocando mensagens. O nick
atinge o status de signo e j comea a expor os "motivos afim de". Embora vrios
usurios acessem o chat ao mesmo tempo, a percepo do Ns ocorre quando h a
criao de um canal de comunicao entre emissor e receptor da mensagem.
O ambiente compartilhado passa a ser o da plataforma do chat, que se
materializa no layout9 que visualizado pelo monitor do computador. No h um
contato face a face. Ao invs disso temos uma relao "face a tela". No chat no h
o contato schutziano de troca de olhares, de sutileza e percepo do outro
freqentador. Ao invs disso h a criao de um espao com alto grau de
interpretao, j que esto anuladas as percepes sensoriais humanas. A
interpretao gera o descobrimento do Outro. Falta a viso do corpo do Outro, falta
ouvir o Outro, falta sentir o toque do Outro e falta cheirar o Outro. Todas essas faltas
criam a busca da descoberta do Outro. Se na sociabilidade de Alfred Schutz, do
contato face a face, essa "descoberta" est presente, ainda mais na sociabilidade
face a tela com falta de utilizao dos sentidos corporais. Essa descoberta se d
simultaneamente. Os freqentadores de chat compartilham de um mesmo tempo
transcorrido, o que aproxima a idia de existir um "presente vivido" e um "envelhecer
juntos".
7 Adiante ser apresentada uma reflexo terica sobre os dois conceitos. 8 Abreviatura de nickname, que significa apelido. O nick a denominao que os internautas fazem ao apelido que se utiliza na Internet. Adiante ser apresentada uma reflexo sobre o nick. Embora ser de origem inglesa, essa palavra j se incorporou como gria de internautas. A palavra no vir em itlico durante o texto. 9 Disposio das formas que compem a imagem, desde o texto at figuras, cores e disposio grfica.
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Esses dois pontos da teoria schutziana somente so possveis na
sociabilidade em ambiente de chat porque h, nessa convivncia, sincronia das
mensagens enviadas. No o caso da comunicao por correio eletrnico. A
comunicao feita pela troca de mensagens via e-mail no propicia o fenmeno de
sociabilidade virtual. Na comunicao por e-mail (e outros sistemas semelhantes)
no h a gerao de simultaneidade. Nesse caso h assincronia. Tambm no o
caso das "listas de discusso", que so intermediadas por e-mail, mas alguns
pesquisadores consideram que nelas se pratica sociabilidade. A sociabilidade virtual
ocorre quando se misturam as caractersticas da oralidade (sincronia) e da escrita
(mensagem registrada que pode ser decodificada em outro tempo e espao,
buscando a objetividade e com efeito assincrnico).
A tcnica que possibilita essa mistura a informtica. Nela pode-se equalizar
as variveis de sincronia e assincronia. Podemos ter um pouco mais de uma ou um
pouco mais de outra. Quando a relao de mais sincronia comea-se a ter um
ambiente propcio sociabilidade. Alm disso, esto presentes os elementos
caractersticos de um sistema miditico. O que parece mais marcante no momento
atual a presena da "tela". A mediao entre pessoas feita pela mquina e o
contato visual. Percebe-se um usurio atravs da viso de um nick e da viso de
uma mensagem. Por mais que se defenda que por detrs de um nick existe uma
pessoa, sua presena desaparece quando troca de nick, ou deixa de acessar o chat.
Por sociabilidade virtual devemos entender a interao social realizada pela
comunicao sincrnica e com contato interpessoal mediado pela tela do
computador. Ela apresenta a mesma inverso entre forma e contedo apresentada
por Georg Simmel. O contedo de interesses que gera a aproximao com outras
pessoas d lugar ao prazer de se estar associado via imagem digital. No caso do
chat parece haver um processo de adequao da tcnica em favor da estratgia
humana de estar acompanhado (no estar s, interagir e socializar).
A sincronia a mesma da comunicao oral, com curto espao de tempo na
troca de mensagens. Enquanto o emissor envia a mensagem o receptor j est
decodificando, com uma diferena de segundos. Existe um presente compartilhado.
Em sincronia uma pessoa testemunha a presena da outra no seu mesmo tempo.
Existe um imediatismo temporal, da mesma forma que h um espacial. Entretanto,
nesse caso o espao que rodeia uma pessoa no o mesmo que rodeia a outra. O
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que h de igual a tela do computador. A interao social ocorre a partir da
virtualidade.
Para pensar as novas tecnologias, o virtual e o ciberespao
Para Pierre Lvy a humanidade surgiu a partir do processo de virtualizao
(Lvy, 1996). Ele considera que a espcie humana emergiu a partir de trs
processos de virtualizao: desenvolvimento das linguagens, multiplicao das
tcnicas e complexificao das instituies (Lvy, 1996: 71). A linguagem virtualiza
o tempo real. s ferramentas coube a virtualizao da ao (Lvy, 1996: 75), ou
seja, do corpo e do ambiente fsico. Com o crescimento das relaes sociais surge a
virtualizao da violncia (Lvy, 1996: 77), que trata de ordenar o conjunto de
foras e impulsos existentes na sociedade humana.
A essncia paradoxal da cibercultura a sua universalidade sem totalidade
(Lvy, 1999: 111). O ciberespao tende universalizao, como ocorreu, por
exemplo, com os automveis, aviao, eletricidade, etc. No entanto, a medida em
que o ciberespao se universaliza, mais tende a ficar sem contedo, com aparente
ausncia de regras. O que parece mais provvel um processo de reapropriao
que constantemente feita pelos indivduos. Existem caractersticas especficas do
ciberespao, mas os indivduos selecionam e utilizam algumas. O ato simblico
relacionado ao ciberespao depender de cultura para cultura. Tudo isso gera a
reconceituao do ciberespao.
As caractersticas tcnicas do ciberespao que esto mais presentes so: o
acesso a distncia aos recursos de um computador; a transferncia de dados
(upload); o correio eletrnico, vantagem de ter o texto digitalizado, sem passar pelo
papel, tendo a possibilidade de ser enviando a um nmero imenso de pessoas sem
a utilizao da fotocpia ou o telefonema para todos; a realizao de conferncias
eletrnicas (no chat so inventados novos estilos de interao e escrita), na Internet
so chamados de newsgroups, onde o ciberespao torna-se uma forma de contatar
pessoas no mais em funo de seu nome ou de sua posio geogrfica, mas a
partir de seus centros de interesse; groupware (Lvy, 1999: 100).
Luiz Antonio Carvalho da Rocha prope que no processo de comunicao via
informtica/Internet h a possibilidade do indivduo escolher seu papel (Rocha,
1996). Ele fica exposto, representado pelo seu imaginrio. Tambm temos uma
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potencializao do alcance do indivduo informaes e pessoas, ao que se refere
geografia e diversidade de ambos. O computador fica sendo uma prtese do
indivduo (Rocha, 1996:8). Um mecanismo que faz a ligao entre dois mundos: o
off-line (contato pessoal) e o on-line (mediado por computadores).
Airton Jungblut traz a idia de uma certa fragmentao do Eu no mundo on-line
(que j era constatado contemporaneamente no mundo off-line) e uma
potencializao das aes individuais (Jungblut, 2000). A possibilidade que se tem
de ir e vir em segundos a distncias que antes eram quase intransponveis, buscar
informaes instantneas e viver vrias identidades faz com que o indivduo tenha
poderes de onipresena, onipotncia e oniscincia. Ainda h uma valorizao do
anonimato. ...o anonimato um dos princpios mais valorizados em sociabilidade
via Internet (Jungblut, 2000:137).
Algo que converge com a idia proposta por Dominique Wolton quando cita,
como caracterstica das novas tecnologias, a necessidade de atuar e a capacidade
de criao (Wolton, 2000). Com a Internet h um crescimento da idia do "do your
self" (faa voc mesmo). Percebemos isso quando pensamos o quanto a informtica
traz em seus softwares manuais de auxlio. Alm disso, de uns anos para c ficou
mais presente o fato de se construir, voc mesmo, uma homepage , ou um site10 de
Internet. Tudo isso envolto em uma nova forma de utilizar a mdia. quando
percebemos, por exemplo, o quanto a linguagem escrita estilizada e elaborada de
maneira a dar conta da falta do som nas salas de bate-papo virtual.
O ciberespao composto por certas caractersticas que o elevam de simples
meio de comunicao espao compartilhado. Nesse sentido, talvez a caracterstica
principal seja a de "deslocamento". O internauta percebe a Internet e seu conjunto
de stios (sites) como sendo um campo aberto ao trnsito. Ele pode estar em sua
residncia, na frente de seu computador, ao mesmo tempo que freqenta a
biblioteca da universidade, ou ento o grupo de amigos no chat que se encontra
regularmente em tal sala de bate-papo.
Quando trata da relao do indivduo com os "novos meios de comunicao"
(se referindo Internet), Dominique Wolton (2000) associa a facilidade em lidar com
o computador com a dificuldade de se relacionar face a face. Ele parte desse ponto,
10 A palavra de origem inglesa e j aparece em algumas verses recentes de dicionrios da lngua portuguesa. Geralmente ela traduzida como sendo "stio". Aqui ela vir em itlico, pois ainda interpretada como uma palavra estrangeira.
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de que os melhores "internautas" geralmente tm dificuldades de se comunicar
pessoalmente. Ele considera a utilizao da comunicao via computador como
sendo uma ferramenta para acrescentar uma melhoria na relao interpessoal do
indivduo. Para Dominique Wolton outra caracterstica da Internet o tempo. Nas
novas tecnologias o tempo homogneo, racional e liso. Por outro lado, o tempo
humano descontnuo e diferenciado, segundo os momentos e etapas da vida.
Virtual Real
No incio da dcada de noventa Philippe Quau (1993) defendia que haveria
um estreitamento entre o "real" e o "virtual". A imagem seria to significativa como
linguagem quanto a escrita. Para ele o virtual uma pseudo-realidade e existe
uma fronteira entre um suposto mundo real e outro virtual. Ele alertava do perigo
para o futuro da humanidade nessa relao. O perigo estaria concentrado
principalmente em um possvel domnio do virtual sobre o real.
Philippe Quau temia que um futuro repleto de uma massa desempregada
viesse a ser manipulada pela formao e domnio de um mundo fictcio, virtual. Mas
o perigo maior, segundo ele, seria "acabar considerando o real como uma extenso
dos mundos virtuais" (Quau, 1993: 97). Seu exemplo de quando a equipe de
radar do navio americano Vincennes confundiu o eco produzido por um Airbus com o
eco de um avio caa Mig. O resultado foi o lanamento de um mssil e a morte de
dezenas de pessoas.
Virtual Real
O "medo" do virtual menor para Jean-Louis Weissberg. Ele afirma que a
simulao gerada pela virtualizao um fenmeno humano antigo. Data ainda da
Grcia Antiga, quando as esculturas eram criadas para representar aes humanas.
Culmina, talvez, na fotografia, quando a imagem captada substitui o objeto. Para ele
mais importante pesquisar atualmente as posies ocupadas pelo real e o virtual.
Saber que o virtual existe uma coisa dada. "Muitas experincias, pesquisas,
aplicaes tendem a constituir uma outra cenografia em que os atores (real/virtual,
objeto/imagem, conhecimento humano/ programa "inteligente") ocupam posies
inditas." (Weissberg, 1993: 119)
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Para esse pesquisador o virtual no substitui o real. O virtual antes uma
extenso do real. Ele cita o exemplo de uma maquete que simula um projeto. Ela
no existe para substituir o projeto, mas sim um projeto em potencial. um vir a
ser em objeto. Por exemplo, o sistema que integra um avio caa. Ele formado por
uma tela que reproduz o terreno sobrevoado. Porm, tambm composto por
mecanismos reais que carrega: msseis, trajetria, misso, etc. O conjunto todo
esse composto real-virtual o qual Jean-Louis Weissberg se refere. Real e virtual
andam juntos nesse caso e servem para pensarmos outras situaes semelhantes.
Virtual Real
Para Dominique Wolton, "virtual" e "real" pouco se misturam. Para ele a
comunicao se d atravs de trs pontos: tecnolgico, cultural e social (Wolton,
2000). Na maioria das vezes se prope que a tecnologia ir resolver os problemas
culturais e sociais, o que ele contra. Segundo esse pesquisador,
contemporaneamente cultiva-se a idia de que a tecnologia, a Internet, resolva o
problema de participao e de democracia, e ainda, que tambm resolva o problema
de comunicao e de mercado. So propostas que sugerem que o virtual possa
abarcar o real e "ajud-lo".
Dominique Wolton lembra que o virtual, assim como a comunicao, no tem
vida prpria e depende em muito da cultura envolvida. Ele contra a racionalizao
radical dos novos meios de comunicao. especialmente contra a idia de que a
comunicao via novos meios de comunicao ir substituir a comunicao direta
entre seres humanos. Ele tambm critica a idia de "comunidade mundial" derivada
dos novos meios de comunicao. Para ele a tecnologia apropriada de forma
diferentemente em cada canto do mundo. Uma vez que, assim como para Jean-
Louis Weissberg, fica muito clara a ausncia de fronteiras entre on e off-line. Porm,
a influncia do "real" (off-line) sobre o "virtual" (on-line) e no vice-versa.
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A importncia da tela do monitor
"As imagens de sntese formam uma nova escrita que modificar profundamente
nossos mtodos de representao, nossos hbitos visuais, nossos modos de trabalhar e de
criar. No se trata de mais um gadget, nem de uma moda passageira, e sim de uma revoluo
escrita profunda. Com elas surge uma nova relao entre imagem e linguagem. Agora o legvel
pode engendrar o visvel." (Quau, 1993: 91)
Com essa afirmao Philippe Quau defende que atualmente existe a
proliferao de "imagens de sntese". O nicho onde elas ocorrem o mundo virtual,
especialmente o informtico. Esse tipo de imagem diferente do at ento
produzido pelo registro da luz feito pela fotografia. A imagem a que ele se refere a
binria, de computador. Essa imagem no do mesmo tipo que a obtida pela
fotografia. A "imagem de sntese" a que ele se refere , antes de tudo, linguagem.
Ele est se referindo a uma "imerso na imagem". Ela semelhante a que
ocorre nos simuladores de vo, por exemplo. Com isso essa imagem adquire o
status de lugar. Esse lugar entendido como espao. Entretanto, esse espao s
existe na integrao com a imagem. A prpria imerso na imagem que forma esse
espao. Ele no existe a priori. Dessa forma Philippe Quau (1993) lana as bases
da noo de ciberespao.
A Internet um meio de comunicao que privilegia o layout e a relao
visual com o internauta. A formao de um espao se d na imerso nas imagens
que se sucedem na tela do computador. a que o meio de comunicao atinge o
status de lugar, de ciberespao. H a possibilidade de "mergulho" nessas imagens
disponibilizadas virtualmente.
Philippe Quau est explicitamente se referindo s comunidades virtuais
quando fala da possibilidade de mergulho na imagem e gerao de espao (Quau,
1993: 95). Ele cita que as comunidades virtuais do final da dcada de oitenta eram
organizadas a partir de redes interativas e compartilhavam de imagens virtuais
acessadas via computadores pessoais. Sobre isso ele se refere da seguinte forma:
"Este futuro Minitel virtual oferecer redes de mensagens grficas interativas e
tridimensionais, redes de encontros virtuais, onde adotaremos virtualmente a personalidade e
a aparncia da nossa escolha, e onde poderemos passear em redes, como outrora
passevamos em Veneza, agora com a nossa mscara grfica." (Quau, 1993: 95)
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Para Derrick de Kerckhove a imerso na tela se d de uma forma semelhante.
A televiso, por exemplo, uma tela saturada de informaes sensoriais. Entretanto,
como ele afirma, ela um meio de comunicao de apenas um sentido. Ela no tem
o retorno do espectador, que apenas tem em mos um controle remoto como
mecanismo de integrao e resposta imediata. Por outro lado, "...as mquinas de
realidade virtual ampliam e estimulam nossos inputs sensoriais (tato, viso e
audio) para reconstituir uma conscincia artificial que verdadeiramente exterior a
nosso prprio esprito, exterior a nosso prprio corpo" (Kerckhove, 1993: 60).
A imerso na imagem toma conta do mundo contemporneo. Luiz Antonio
Carvalho da Rocha argumenta que no campo das artes plsticas esse processo se
d pelo despertar dos sentidos do espectador. As instalaes artsticas
contemporneas levam a esse envolvimento. Ele mostra que desde os anos
sessenta as artes plsticas buscavam propiciar experincias sensoriais. J
atualmente, no formato digital, a obra de arte passa por um processo de
desmaterializao. A imerso se d agora pela participao de um "espectador-
fruidor", quando a autoria da obra passa pelas mos de seu usurio (Rocha, 2000:
54-55).
Embora situados em campos diferentes, esses pesquisadores compartilham
da opinio de que no mundo contemporneo se "mergulha" em imagens. A imerso
parece estar mais disponvel quanto maior a possibilidade de "interagir". Dessa
maneira, a imagem torna-se poderosa e capaz de absorver o seu espectador para
dentro de seu "espao", que aqui est sendo considerado como o ciberespao.
O poder da imagem
Derrick de Kerckhove (1993) afirma que atualmente a sociedade vem cada
vez mais se tornando surda. A surdez vem em decorrncia da supremacia da viso.
A viso o sentido preferido pela cultura ocidental contempornea porque mais
completa e necessita de mais energia para operar. O prprio Derrick de Kerckhove
aconselha a fazer o exerccio de fechar os olhos e tentar perceber o ambiente. A
audio, por ser seletiva, "ligada" no momento em que a viso desligada. A partir
de ento comea a operar e perceber situaes que a viso no dava conta antes.
Ao abrir os olhos a audio "desligada". O organismo comea a dar ateno
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viso. por causa disso que, segundo esse pesquisador, tornamo-nos cegos para
tudo alm das aparncias. A tnica da sociedade ocidental dada sobre a viso, a
imagem, a aparncia.
esta a resposta ao questionamento de Dominique Wolton (2000). Esse
pesquisador questiona em ser a Internet um meio de comunicao hierarquicamente
superior ao rdio e televiso, por exemplo. O seu questionamento se d pelo fato
de ser dado "menos importncia" ao som na Internet. Desde ento o som era uma
qualidade constantemente acrescida aos meios de comunicao. Dominique Wolton
nos lembra da relao entre televiso, rdio e Internet. Primeiro veio o rdio, depois
a televiso e em seguida a Internet. Caso houvesse uma relao de hierarquia, a
ltima seria a mais "evoluda". Ele lembra que no sculo passado a "evoluo" dos
meios de comunicao sempre esteve atrelada entrada e maneira diferente de
tratar o som. Do telgrafo ao telefone veio a voz. No cinema veio o som e a
possibilidade da massa escut-lo. Paradoxalmente com a Internet no h som. O
mximo que h o som dos dedos tocando o teclado. Como ento pensar a Internet
como sendo um avano tecnolgico da humanidade?
Se Derrick de Kerckhove est correto, o fato da Internet "ter pouco som" em
decorrncia de um processo pelo qual passa a sociedade ocidental contempornea,
a qual est