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HISTÓRIA da INDÚSTRIA na região de Leiria plástico Esta revista faz parte integrante da edição 1596 do Jornal de Leiria, de 12.02.2015 Jornal DE LEIRIA EDIÇÃO PATROCÍNIO

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PATROCÍNIO

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O projecto História da Indústria na Região de Leiria, que engloba sete fascículos,

não teria sido possível sem o APOIO

APOIO

Este fascículo dedicado ao sector da indústria do plástico, que integra o projecto História da Indústria na Região de Leiria, tem o

o PATROCÍNIO

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[ 4 ] [ P L Á S T I C O ]

ÍNDICE

Bancários de Leiria constituem primeira fábrica

de plástico do País . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6

Cópia de artigos em plástico atravessa décadas . . . . . .19

Salário mínimo abana estrutura de empresas . . . . . . . .28

Empresas pioneiras seguem percursos diferentes . . . .30

Indústrias partem à conquista do mundo . . . . . . . . . . .33

Sirplaste lidera reciclagem de plástico

contaminado na Europa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36

Empresas procuram mercados

para escoar sacos plásticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37

Falta de quadros intermédios prejudica empresas . . . .38

Crise na Europa atinge indústria de plástico . . . . . . . . .40

Procura de engenheiros de polímeros

é superior à oferta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42

Centros tecnológicos apoiam desenvolvimento

de produtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

Opinião: como vê o futuro da indústria do plástico? . . .46

RICARDO GRAÇA

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Numa sociedade essencialmente agríco-

la, em que a fome e a miséria faziam parte da

vida de muitas famílias, quebrar um ciclo que

se arrastava ao longo de gerações era um pa-

pel destinado aos mais audazes.

Àqueles que não se conformavam com a

vida que tinham e que almejavam ir mais além.

Na altura, a alternativa ao trabalho duro

dos campos limitava-se praticamente ao co-

mércio, actividade associada a um certo esta-

tuto social.

A indústria era uma coisa das Américas e

a abertura de fábricas, e consequentemente o

contacto com o progresso, era encarada com

desconfiança pelas autoridades.

Foi precisamente a miséria em que a

maior parte da população vivia, numa socie-

dade fechada ao mundo, que alavancou o nas-

cimento da primeira fábrica de alpercatas em

Leiria, quando dois funcionários bancários vi-

ram na proibição de andar descalço uma

oportunidade de negócio.

Atenta ao mercado, a Nobre & Silva ini-

ciaria, uma década mais tarde, o fabrico de pro-

dutos em baquelite, que trouxeram mais qua-

lidade de vida às pessoas.

A rádio era o principal veículo de contacto

com o exterior, de onde chegavam notícias das

descobertas de novos materiais e de novas

possibilidades.

E é numa dessas tertúlias na casa de um

alfaiate, que contrariou o destino ao procurar

o comércio como alternativa de vida, que nas-

ceu uma das fábricas mais emblemáticas da

região de Leiria: a Baquelite Liz.

Homem arrojado e com visão de negócio,

Francisco Clemente inaugura, assim, uma

nova era, ao contribuir de uma forma decisi-

va para que os produtos em plástico alegrem

a casa de muitas pessoas.

O sucesso desta e de outras indústrias de

plástico no País serve de estímulo para que

outros lhes sigam as passadas, em direcção ao

progresso.

Quase 70 anos passados desde que Fran-

cisco Clemente trocou a confecção de fatos

pelo fabrico de artigos em plástico, dois dos

seus netos mantêm o negócio vivo, igualmente

atentos ao que se passa à sua volta.

A abertura de Portugal ao mundo, que deu

um passo de gigante com a entrada do País na

CEE, em 1986, foi mais um passo marcante

nesta indústria, que está hoje repleta de

exemplos de sucesso, a nível mundial.

Homens que, tal como José Nobre Mar-

ques e José Lúcio da Silva (Nobre & Silva),

Francisco Clemente (Baquelite Liz), Filinto

Fernandes (Map), Vasco e Maria Augusta

Ritto (Plásticos Santo António) ou João Rua-

no (João Ruano), ousaram ir mais além e mos-

tar de que fibra são feitos os descendentes dos

navegadores que partiram à descoberta do

mundo séculos antes.

Alexandra Barata

[ 5 ][ P L Á S T I C O ]

AUDÁCIA DESBRAVACAMINHO RUMOAO PROGRESSO

FICHA TÉCNICA

Edição: Jorlis - Edições e Publicações, Lda. Director: João Nazário Coordenação: João Nazário Redacção: Alexandra Barata Serviços Comerciais: Sandra Nicolau Design Gráfico: 386designPaginação: Isilda Trindade, Rita Carlos Fotografia: Ricardo Graça e Arquivo

Foto capa: Baquelite LizImpressão: Ondagrafe, LdaTiragem: 16.000 N.º de Registo: 109980 Depósito Legal n.º: 5628/84 Distribuição: Jornal de Leiria, edição n.º 1596, de 12 de Fevereiro de 2015

A

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Nobre & Silva, Baquelite Liz, Map ePlásticos Santo António constituemo grupo de fábricas pioneiras nosector dos plásticos na região.Lideradas por homens sem qualquerligação anterior a esta indústria,foram acompanhando a evoluçãodos tempos e ainda hoje se mantêmno mercado, à excepção da Nobre & Silva

Bancários de Leiriaconstituem primeirafábrica de plásticodo País

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Um dos sócios da Baquelite Liz foi empregado da Nobre & Silva

[ 7 ][ P L Á S T I C O ]

BA

QU

EL

ITE

LIZ

Fundada em 1927, em Leiria, a Nobre &

Silva é a fábrica de matérias plásticas mais

antiga em Portugal, embora documentos da

época indiquem que só terá começado a sua

actividade neste sector em 1936. Localiza-

da na Rua Capitão Mouzinho de Albuquer-

que, no espaço ocupado até ao ano passa-

do pela Lubrigaz, a empresa foi fundada por

José Nobre Marques e José Lúcio da Silva,

dois funcionários do Banco Nacional Ul-

tramarino.

Autora do livro Os plásticos em Portugal

– A origem da indústria transformadora, pu-

blicado em 2000, Maria Elvira Callapez ex-

plica que os dois empregados bancários co-

meçaram por fazer alpercatas, nas horas li-

vres, com apenas uma máquina. “Na origem

da indústria transformadora de plásticos

em Portugal, para além da satisfação das ne-

cessidades da indústria eléctrica, esteve

também uma imposição legal que obrigava

a população a andar calçada.”

A investigadora cita os historiadores

José Hermano Saraiva e Jorge Barros, auto-

res de O tempo e a alma: itinerário português,

obra editada em 1986, onde referem que tudo

começou, nos anos 30, em Leiria, região litoral

«com grandes zonas arenosas e pinhais na

areia», onde a população «mantinha no

campo o habitat da praia, e não havia argu-

mentos que os convencessem a calçar-se».

“Não se trataria apenas de uma questão de

argumentos, mas sim de carências econó-

micas precárias e indisfarçáveis”, observa

Maria Elvira Callapez.

«(...) As populações rurais, pobres, sem

terra, sem dinheiro e fugindo da miséria dos

campos, dirigiam-se às Câmaras Municipais

para pedir trabalho e pão», revelam os his-

toriadores. É por esse motivo que surge a

proibição de entrar nas povoações descalço,>>>

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[ 8 ]

afixada em editais camarários. Em Janeiro de

1928, a Liga Portuguesa de Profilaxia Social

inicia, assim, uma «campanha contra o in-

decoroso, inestético e anti-higiénico hábito

do pé descalço», lê-se em O pé descalço –

Uma vergonha nacional que urge extinguir,

obra de 1956, editada pela Liga Portuguesa

da Profilaxia Social, citada pela autora da

tese de mestrado sobre os plásticos em

Portugal.

“Esta campanha de repressão da mendi-

cidade não era mais do que a ocultação de

uma realidade social, de pobreza e miséria em

que se encontram as populações dos campos,

e que a propaganda oficial do regime pre-

tendia encobrir”, acrescenta Maria Elvira

Callapez. A proibição de andar descalço é en-

carada, assim, como uma oportunidade de ne-

gócio por José Nobre Marques e José Lúcio da

Silva, que começaram por se dedicar ao fa-

brico de alpercatas de pano cinzento.

[ P L Á S T I C O ]

Em 1927, constituem a Nobre & Silva,

com o objectivo de fabricar e comercializar

alpercatas e pantufas, apesar de o objecto so-

cial prever a exploração de qualquer outro

ramo da indústria ou comércio. Segundo a in-

vestigadora, o Boletim da Direcção Geral da

Indústria, onde se publicava uma síntese dos

pedidos para instalação de unidades fabris,

dá a primeira notícia da Nobre & Silva em

1939. “Na rubrica sobre condicionamento das

indústrias, pedidos para instalações, é aí re-

ferido textualmente: «Nobre & Silva, para la-

borar com uma prensa hidráulica para fa-

brico de baquelite, sita na Rua Capitão Mou-

zinho de Albuquerque, Leiria»”.

Maria Elvira Callapez defende que um

indicador que poderá confirmar que a No-

bre & Silva começou a sua actividade no sec-

tor dos plásticos, em 1936, prende-se com o

início da fabricação de moldes para plásti-

cos em Portugal. “Historicamente, essa in-

ARQUIVO IMAGEM DO m|i|mo,CML.

Homenagem das freguesias a JoséLúcio da Silva (Nobre& Silva) por teroferecido o Teatro à cidade em 1966

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[ 9 ][ P L Á S T I C O ]

dústria nasceu em 1936 quando foi fabrica-

do, nessa data, um molde de tampas de ba-

quelite para frascos de perfume produzidos

pela Nobre & Silva.”

Esta campanha de repressão damendicidade não eramais do que a ocultaçãoda miséria das populaçõesdos campos, e que oregime pretendia encobrir

A autora de Os plásticos em Portugal – A

origem da indústria transformadora refere que

há outras fontes que atribuem o início da ac-

tividade no sector dos plásticos em Portugal à

Sociedade Industrial de Produtos Eléctricos

(SIPE). Fundada em 1935, no Dafundo, por João

Barbosa Corsino, a SIPE fabricava artigos

eléctricos em baquelite. “A Nobre & Silva terá

sido uma das primeiras empresas portuguesas

a fabricar artefactos de borracha e por conse-

guinte pioneira a trabalhar com polímeros na-

turais. (...) Ao converter a sua indústria de bor-

racha à dos plásticos, poderá ser enquadrada,

a par da SIPE, no grupo das primeiras firmas

a laborar em plásticos em Portugal.” >>>

A tese de dissertação de Maria Elvira

Callapez cita a edição de 1931 da revista In-

dústria Portuguesa, órgão da Associação In-

dustrial Portuguesa, que informa que um dos

maiores industriais de alpercatas em Por-

tugal [José Lúcio da Silva] declarou em pú-

blico: «Em 1925, tivemos conhecimento de

que existia em Espanha um novo processo

de fabrico de alpercatas com piso de borra-

cha e, assim, pensámos logo na introdução

desta indústria no nosso País.»

Em O tempo e a alma: itinerário português,

José Hermano Saraiva e Jorge Barros contam

que, mais tarde, um industrial de alpercatas

[José Lúcio da Silva], em visita a Lisboa, viu um

sistema novo de fechar as garrafas:a rolha de

baquelite preta. Foi a Barcelona, obteve o equi-

pamento e, quase como uma alternativa ao fa-

brico de alpercatas, surgiu a primeira «fabri-

queta» de plásticos em Leiria.

A Nobre & Silva, por volta de 1936, di-

versificava assim a sua gama de produtos e

iniciava a sua actividade na indústria de

plásticos, com a produção de rolhas, tampas

e cinzeiros. “Em meados dos anos 40, toda-

via, começa a observar-se uma resistência

à industrialização do país, protagonizada pe-

los seus governantes”, conta Maria Elvira

Callapez.

Quando a indústria de matérias plásticas

chega a Portugal, nos anos 30, o País ainda es-

tava a discutir os princípios da industriali-

zação, refere Maria Elvira Callapez em Os

plásticos em Portugal – A origem da indústria

transformadora. Sem tradição nesta área ou

na área científica, os industriais portugueses

limitavam-se a copiar o que se fazia nos paí-

ses mais desenvolvidos, como a Alemanha, In-

glaterra ou Estados Unidos, com um desfa-

samento temporal considerável. “Aos níveis in-

dustrial e tecnológico, os contributos nacionais

CONTRIBUTONACIONAL FOI NULO

foram praticamente nulos.” A investigadora

alerta ainda para a falta de rigor na adopção

da tecnologia. “Ao nível da transformação, não

se respeitavam os preceitos técnicos estabe-

lecidos para lidar com este tipo de materiais,

o que por vezes tinha consequências graves”,

garante. E dá como exemplo o fabrico de tu-

bos para a construção civil, em que se “mistu-

ravam desperdícios de plásticos incompatíveis,

diminuindo consideravelmente a qualidade”.

“Esta situação era uma consequência do ca-

rácter artesanal da indústria nacional”, justi-

fica Maria Elvira Callapez. “A indústria não

possuía nem um quadro de técnicos nem equi-

pamentos adequados que dessem apoio ao

aperfeiçoamento e desenvolvimento das téc-

nicas de fabrico.”

RICARDO GRAÇA

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[ 10 ] [ P L Á S T I C O ]

Resistência que, para a investigadora, es-

pelha a “mentalidade não industrial que ca-

racterizava já Portugal desde os anos 30, re-

duzindo-a à situação de país menor, pobre,

sem possibilidades de se afirmar na cena in-

ternacional”. Esta situação conduz à trans-

ferência da Nobre & Silva, com as suas sec-

ções de alparcatas, de matérias plásticas e

oficinas de moldagem e acabamentos, para

Venda Nova, na Amadora, em 1945.

Em meados dos anos 40,começa a observar-seuma resistência àindustrialização do país,protagonizada pelos seusgovernantes

A autora de Os plásticos em Portugal – A ori-

gem da indústria transformadora explica que esta

mudança foi originada por “desavenças com a

Câmara Municipal de Leiria”, com base na obra

de José Hermano Saraiva, onde se lê que a em-

presa «(...) pensava que, visto destinar-se à in-

dústria, lhe deviam vender o quilovátio de

energia por tarifa reduzida; na Câmara enten-

dia-se que quem quer luxos, paga-os, e ser in-

dustrial era (...) uma coisa das Américas.»

Já José Dias Coelho, autor de Génese e ex-

pansão da indústria de plásticos no concelho de

Leiria, obra editada pela Câmara Municipal de

Leiria, em 2001, em homenagem aos industriais

dos plásticos, avança com outra explicação. A No-

bre & Silva, “durante o ano de 1944, transferiu-

se parcialmente para a Venda Nova, no conce-

lho da Amadora, dizem que por as entidades ofi-

Colaboradores e sócios daBaquelite Liz. Jaime Clemente,filho do líder da empresa, está dolado direito, de fato. Início dosanos 50

BAQUELITE LIZ

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>>>

[ 11 ][ P L Á S T I C O ]

ciais em Leiria não lhe terem dado facilidades

no que respeita à expansão”.

Mestre em História Económica e Social

Contemporânea, Dias Coelho refere, em

nota de rodapé, um anúncio da Nobre & Sil-

va no Mensageiro a comunicar a transfe-

rência da sede e instalações industriais

para a Amadora no “intuito de modernizar

e aperfeiçoar os seus processos de fabrico e

de bem servir”. Ali produzia artigos de mé-

nage e brinquedos e, mais tarde, artigos in-

dustriais, sobretudo embalagens.

A propósito da importância da Nobre &

Silva, Maria Elvira Callapez assegura que an-

tes do termo da Segunda Guerra Mundial,

além das oficinas de moldagem e acaba-

mentos de matérias plásticas, a empresa pos-

suía também uma secção de moldes para

consumo próprio. “A esta unidade fabril se

ficou a dever a primeira licença para insta-

lar, em Portugal, uma das principais técni-

cas da indústria de transformação de maté-

rias plásticas, a extrusão”, afirma. “Também

é possível que pela mão da Nobre & Silva ti-

vesse sido introduzida a moldagem por in-

jecção, em 1946.”

A Nobre & Silva pensavaque lhe «deviam vendero quilovátio de energiapor tarifa reduzida; na Câmara entendia-seque quem quer luxos,paga-os, e ser industrialera (...) uma coisa das Américas»

Na década de 40 surgiram novas fábri-

cas de plásticos. “O desenvolvimento da in-

dústria de transformação de matérias plás-

ticas está intimamente ligada à cidade de

Leiria”, afirma Maria Elvira Callapez. Para

tal, contribuiu a criação da indústria de

moldes na Marinha Grande, inicialmente

para peças de vidro, com Aires Roque, e, a

partir de 1936, para plásticos, com o seu ir-

mão Aníbal H. Abrantes, “motivado pelo êxi-

to desta indústria e pelo aparecimento do ba-

quelite em Portugal”.

Em plena Segunda Guerra Mundial, a

casa de Francisco Clemente, um alfaiate

“muito conceituado” de Leiria, era um pon-

to de encontro de diversas personalidades,

de Leiria e da Marinha Grande, como o prior

e o boticário. “As pessoas juntavam-se na casa

do meu avô, porque trabalhava à noite. Fa-

ziam autênticas tertúlias com o rádio ligado”,

conta Jaime Rezola Clemente, 49 anos, ad-

ministrador e director técnico da Baquelite

Liz, empresa fundada pelo seu avô em 1946.

“A alfaiataria era um local de encontro,

porque, nessa época, não havia cafés nem te-

levisão”, justifica Adelino Carvalho, 76 anos,

fundador da Carvalho & Catarro, empresa

fornecedora de equipamentos para a in-

dústria plástica. João Rezola Clemente, 42

anos, administrador e director comercial e fi-

nanceiro da Baquelite Liz, acrescenta que “foi

numa dessas visitas nocturnas que surgiu a

conversa do plástico”.

Pouco tempo depois, nascia a Baquelite

Liz, na Gândara dos Olivais, onde ainda hoje

se mantém em actividade, depois de suces-

sivas ampliações. Adelino Carvalho explica

Álvaro Pires, Filinto Fernandese Francisco Clemente (Da direita para a esquerda) LEIRIENSE PLÁSTICOS

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[ 12 ] [ P L Á S T I C O ]

RICARDO GRAÇA

que, apesar de a empresa ser constituída por

três sócios, “o sr. Francisco Clemente era in-

discutivelmente o líder”. ”Tinha a maioria da

sociedade e como sócios o sr. Luís Gonçal-

ves, que foi empregado da Nobre & Silva, e

o sr. Joaquim Abraúl, que negociava em

madeiras”, recorda Álvaro Pires, 83 anos, fun-

dador da Leiriense Plásticos.

“O desenvolvimento da indústria detransformação dematérias plásticas está intimamente ligada à cidade de Leiria”

“O sr. Clemente é que desenvolveu aqui-

lo. Viajava pelas feiras a vender plásticos”,afirma Álvaro Pires. “Nessa altura, já tinha

um carrito para se poder deslocar, mas lem-

bro-me que, quando era alfaiate, ia vender

fatos à Marinha Grande de bicicleta.”

Adelino Carvalho destaca o fundador da

Baquelite Liz como uma das personalidades

mais relevantes na indústria dos plásticos.

“Teve um engenheiro a fazer cálculos du-

rante anos para definir o diâmetro dos tubos

que fabricava para a agricultura e para a in-

dústria”, sustenta. “E tinha um consultor que

fazia cálculos de resistência.”

“O sr. Francisco Clemente disse-me que

teve um concorrente nos tubos de Lisboa, li-

gado à família Champalimaud, que andou

três ou quatro anos a bater o mercado, a ten-

tar convencer as pessoas que os tubos em

plástico eram bons”, conta Adelino Carvalho.

«Quando conseguiu, apareci em força», con-

tou-lhe o fundador da Baquelite Liz. “Por isso

é que costumava dizer que o bom não era ser

o primeiro, mas o segundo. E tinha razão.”

Embora algumas pessoas digam que o

avô começou por fabricar botões, por ser al-

faiate, Jaime Rezola Clemente assegura que

o molde marcado como nº 1 é de um copo,

que foi feito por Aníbal H. Abrantes, amigo

João e Jaime Rezola Clemente,constituem a terceira geração da Baquelite Liz

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[ 13 ][ P L Á S T I C O ]

>>>

de Francisco Clemente. Nos anos 50, pro-

duziam tampas com rosca para frascos

em vidro, e outros artigos domésticos. “A

empresa teve um grande crescimento nos

primeiros cinco anos.”

O fundador da Carvalho & Catarro

confirma que a indústria de plásticos,

sendo nova, tinha margens de crescimen-

to grandes. “O sr. Francisco Clemente con-

tou-me que, com 40 contos de matéria-

prima, tinha facturado 400 contos de rolhas

para a indústria de vidros.” Os vendedores,

como trabalhavam em regime livre, eram

determinantes para o sucesso dos negó-

cios. “Eles próprios procuravam o que se

estava a vender bem e diziam aos indus-

triais.”

A Baquelite Liz teve um engenheiro a fazercálculos durante anospara definir o diâmetrodos tubos que fabricava e tinha um consultor que fazia cálculos de resistência

Jaime Rezola Clamente garante que a

Baquelite Liz foi pioneira na introdução de

novos produtos em Portugal, ao importar as

modas que eram lançadas nas feiras inter-

nacionais, a partir do final dos anos 50. “Du-

rante muito tempo, fabricávamos todo o tipo

de produtos e fizemos sempre questão de es-

tar na linha da frente em termos tecnológi-

cos: injecção, compressão, extrusão, sopro,

extrusão de filme (sacos de plástico), ca-

landragem (tela e linóleo) e calçado.”

O administrador da Baquelite Liz

adianta que, com o aumento da concor-

rência, nos anos 60, começaram a fazer

uma gama de produtos de maior dimensão.

Nessa fase, o pai, Jaime Clemente, já tra-

balhava na empresa. Licenciado em En-

genharia Química, tinha uma especializa-

ção na área dos plásticos em Inglaterra. No

final dos anos 60, início dos anos 70, co-

meçaram a especializar-se em plásticos

para a indústria (caixas) e construção ci-

vil e regas (tubos de água).

O meu pai foi o primeiro industrialdo País a fabricar preservativosem latex. Quando Salazar soube,mandou selar as máquinas. Mas omeu pai ainda conseguiucomercializar alguns. Na altura,não havia laboratórios para testes.Eu era um garoto. Luís Ruano, 67 anos, filho do fundador da João Ruano

“Dos primeiros moldes que fizpara plásticos na EdilásioCarreira da Silva foi para a Bic.Isto aconteceu há mais de 60 anos.O sr. Bic e o sr. Laforest eramcompanheiros na Segunda GuerraMundial. O sr. Laforest propôs aosr. Bic, que era rico, investir naesferográfica para substituir ascanetas de tinteiro. O sr. Bicaceitou desde que a esferográficase passasse a chamar Bic. E assimfoi. As pessoas diziam: «traga-meaí uma Bic””. Joaquim Matos, 82 anos, fundador da Plimat

Um dia, fui visitar um clienteespanhol com o meu agente, emMadrid. Levava luzes deemergência para vender. Quandoo cliente perguntou onde é que oproduto tinha sido feito, o meuagente respondeu na Alemanha.“Vê-se logo pelo peso”, respondeuo cliente. Quando soube que,afinal, tinha sido fabricado emPortugal, já não quis comprar. Armando Lopes, 78 anos, fundador

da AL - Fábrica de Material Eléctrico

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[ 14 ] [ P L Á S T I C O ]

De regresso a 1946, surge no mercado a

Matérias Plásticas (Map), fundada por Filinto

Fernandes e por João Ruano. “O meu pai tinha

experiência comercial. Era dono de uma loja de

fazendas. Na altura, o comércio era muito im-

portante”, assegura Rui Filinto, 66 anos, já que

a indústria despontou sobretudo após a Se-

gunda Guerra Mundial [1939-1945]. Luís

Ruano, 67 anos, filho do outro sócio fundador

da Map, explica que o pai foi convidado a en-

trar na sociedade devido aos seus conheci-

mentos técnicos. Filinto Fernandes era o só-

cio capitalista.

Rui Filinto considera que Aníbal H. Abran-

tes foi determinante para o desenvolvimento da

indústria de plásticos em Portugal. “Viajava mui-

to pela Europa e trazia artigos em plástico que

ia oferecer aos industriais em função do seu per-

fil”, afirma. “Aníbal H. Abrantes teve um papel

muito importante, ao despertar o interesse pe-

los produtos em plástico.” Aliás, considera que

a indústria de moldes foi crucial para a indús-

tria de plásticos, porque sem bons moldes não

havia bons plásticos. “Eram pessoas determi-

nadas e obsessivas em fazer bem.”

“Além do mercado ser potencialmente

enorme, no pós-guerra havia mais poder eco-

nómico. Deu-se um autêntico boom”, explica o

filho do fundador da Map. Os “frascos e fras-

quinhos”, mais finos e mais baratos, substituí-

ram o vidro. E havia os pentes e os produtos uti-

litários domésticos, como regadores e bacias, que

“custavam meia dúzia de tostões” e caíam ao chão

e não se partiam. “Até à primeira crise do pe-

tróleo, em 1973, a indústria cresceu exponen-

cialmente. Ganhou-se muito dinheiro.”

A autora do livro Os plásticos em Portu-

gal – A origem da indústria transformadora diz

que, na década de 50, quando surgiram as ti-

gelas, baldes e bacias de polietileno, as do-

nas de casa passaram a exibir nas suas co-

zinhas as tigelas de plástico coloridas, ao in-

Rui Filinto sucedeu ao pai,Filinto Fernandes, à frente da Map

ARQUIVO/JL

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vés das velhas canecas de zinco cinzentas.

“Dos quintais desapareceram progressiva-

mente as selhas das lavadeiras, tendo sido

substituídas pelas bacias de plástico leves e de

aparência agradável”, afirma a investigadora. “A

partir daqui, os objectos de plástico foram mar-

cando a sua posição na vida quotidiana dos

portugueses.” De entre esses artigos desta-

cam-se louças, talheres; pentes e travessas

para o cabelo; objectos para toilette; botões;

caixas e recipientes.

“Os vendedores, comotrabalhavam em regimelivre, procuravam o que seestava a vender bem ediziam aos industriais”

A Map começou por fabricar pratos, copos

e cinzeiros em melanina. “O plástico copiava

tudo: o vidro e a cerâmica”, explica Rui Filinto.

Só a partir de 1974, com a sua entrada na em-

presa é que se especializarem em artigos de

casa-de-banho. ”Deu-se uma explosão tecno-

lógica e a proliferação de materiais. As empre-

sas ou se especializavam ou diversificavam.”

“Entrámos nos artigos de casa-de-banho.

Este era um assunto quase tabu. Vivíamos

numa economia fechada”, justifica Rui Filinto.

“Não se falava em beleza nem em decoração. Era

um conceito novo, associado à imagem de hi-

giene e modernidade. Liderámos o mercado.”

A estratégia da Map passou, assim, por tra-

var o investimento nos sectores em que havia

muita concorrência para investir num sector pio-

neiro em Portugal. “Desinvestir era como per-

der a honra, não era um acto de gestão”, recor-

da. Mais tarde, com a entrada na Comunidade

Económica Europeia (CEE) e a abertura dos

mercados, como passou a ser possível a impor-

tação de plástico e outros materiais, criou outra

área de negócio: os produtos técnicos. A entra-

da no grupo Key Plastics e a construção de uma

fábrica nova, na Barosa, já faz parte da história

recente.

Maria Elvira Callapez refere que, no final da

década de 60, um estudo do Centro Nacional do

Comércio Externo de França sobre a indústria

de plásticos portuguesa incluía a Nobre & Sil-

va, a Baquelite Liz, a Map e ainda a Plásticos de

Santo António, no “grupo das grandes”, pela di-

versidade de produtos fabricados, bom equi-

pamento e dinamismo. Nesta lista constavam

ainda as Fábricas Hércules e Luso Celuloide de

Henriques & Irmão, localizadas em Espinho.

António Ritto, 79 anos, revela que os pais,

Vasco e Maria Augusta Ritto, iniciaram o pro-

cesso de constituição da Plásticos Santo Antó-

nio em 1943, mas só começaram a laborar 12

anos depois, em 1955. Sócio-fundador da Lu-

brigaz, Vasco Ritto era um técnico com apetência

pelas áreas da mecânica e eléctrica. “Costuma-

vam contactá-lo quando havia avarias nos pro-

jectores do cinema.”

Quando Vasco Ritto se apercebeu que os

plásticos eram um ramo que devia ter futuro co-

meçou a fazer um curso por correspondência

sobre a parte técnica da indústria, com uma em-

presa americana. “Correspondia-se também

com a ICI – Imperial Chemical Industries, em

Inglaterra, através da troca de cartas. O meu pai

colocava questões e eles respondiam”, explica

António Ritto.

Para adquirir as três máquinas com que ini-

ciou a actividade, contou com o contributo da fa-

mília e recorreu ao BNU. Os moldes dos pri-

meiros produtos foram feitos na Marinha

Grande por uma uma firma que trabalhava para

a indústria de vidros, com a qual o pai tinha bom

relacionamento: a Edilásio Carreira da Silva.

Mais tarde, Vasco e Maria Augusta Ritto che-

garam mesmo a acompanhar o empresário de

moldes a feiras e em visitas a clientes, para lhe

dar apoio na língua e tecnicamente.

“Entrámos nos artigos de casa de banho. Este era um assunto quasetabu. Vivíamos numaeconomia fechada”

“O meu pai ia todos os anos a feiras téc-

nicas e de equipamentos para plásticos em

Paris (França), Birmingham (Inglaterra), Mi-

lão (Itália) e Dusserdorf (Alemanha)”, asse-

gura António Ritto. “Aproveitava para visitar

lojas para trazer ideias para produtos”, como

brinquedos. “Antes faziam-se baldes e bar-

quinhos em chapa metálica. Chegavam à água

e afundavam-se logo. O mercado tinha ne->>>

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Miguel e António Ritto,da Plásticos Santo António,empresa que se especializou no fabrico de embalagens

RICARDO GRAÇA

[ 16 ] [ P L Á S T I C O ]

cessidade desse tipo de artigos em plástico.”

António Ritto recorda que aos sábados e do-

mingos iam para a empresa fazer algumas pe-

ças. “As pessoas com dificuldades do Bairro das

Almoínhas juntavam-se à porta a pedir

trabalho”, conta. “O encarregado seleccio-

nava as que tinham mais jeito para pintar e

colar e depois pagava-lhes.”

O fabrico de brinquedos foi abando-

nado no início dos anos 70. Miguel Ritto, 53

anos, filho de António Ritto, explica que em

Portugal fabricavam-se brinquedos básicos,

mas no Japão, na China (Hong Kong) e na

Alemanha começaram a surgir brinquedos

com pilhas e motores, que faziam ruído. “O

investimento que representava em moldes

e em tecnologia não se justificava porque

praticamente não exportávamos”, justifica.

“Além disso, os brinquedos também envol-

viam muita mão-de-obra a montar e a

pintar.”A Plásticos Santo António manteve, con-

tudo, o fabrico de utilidades domésticas, cabi-

des e embalagens. Atenta ao mercado, a fábri-

ca de Leiria procurou acompanhar o desen-

volvimento da indústria de confecção em Por-

tugal, através da produção de mais de 35 mo-

delos de cabides, que eram vendidos no País

todo.

Tal como o fundador da Carvalho & Ca-

tarro, António Ritto diz que eram os próprios

vendedores a recomendar aos industriais os

artigos a fabricar, porque se vendiam mui-

to, o que acabava por constituir um incen-

tivo à cópia. ”Nos anos 60, devia haver na

zona algumas 50 ou 60 fábricas de plástico.

Uns iam-se copiando aos outros.”

“Houve uma receptividade muito gran-

de dos consumidores para as utilidades do-

mésticas”, recorda António Ritto. “Em qual-

quer casa havia alguidares de lata ou em bar-

ro. Quando apareceu o plástico, leve, fácil de

lavar e com outras cores, foi um sucesso.”

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PLÁSTICOS SANTO ANTÓNIO

Maria Augusta e Vasco Ritto (àesquerda) com Edilásio Carreira da Silva e a mulher durante uma visita à ICI, em Inglaterra (1955)

“Antes faziam-se baldes e barquinhos em chapametálica. Chegavam à água e afundavam-selogo. O mercado tinhanecessidade desse tipo de artigos em plástico”

Face a este entusiasmo, a ideia de ter um ne-

gócio rentável levou muitas pessoas a montar fá-

bricas de plásticos. “Em resposta ao sucesso al-

cançado e generalização do consumo, houve um

aumento significativo do número de estabeleci-

mentos industriais, passando de dois em 1937,

para 34 em 1947, atingindo-se 45 em 1956”, con-

firma Maria Elvira Callapez. Contudo, nem todos

conseguiam sobreviver. Miguel Ritto diz que como

o mercado era muito pequeno e era difícil

amortizar o investimento no molde, houve mui-

tas empresas que abriram e, passados uns anos,

fecharam.

Na tentativa de se diferenciar, em 1971, a

Plásticos Santo António comprou uma máquina

de 900 toneladas de força, para fabricar peças de

grandes dimensões, como embalagens. “Era a

maior que havia em Portugal. Tanto que nos pe-

diam para vir ensaiar moldes para mandarem

para o estrangeiro”, conta António Ritto. “Assim

era mais difícil copiar, porque eram poucos os que

podiam investir em máquinas e moldes dessa di-

mensão.”

Dois anos depois, dá-se o choque petrolífe-

ro, que originou um período de recessão econó-

mica mundial. “O impacte imediato traduziu-se

na subida elevada dos preços das matérias-pri-

mas e produtos finais. Esta alteração, aliada a pro-

blemas de sobrecapacidade e mercados satura-

dos, originou quebras de produção e lucros e uma

maior lentidão nos avanços tecnológicos”, expli-

ca Maria Elvira Callapez.

Esta situação obrigou os industriais a adap-

tar rapidamente os preços, sob pena de serem ar-

rastados para o fundo do poço. António Ritto re-

corda-se bem deste período. “Lembro-me da mi-

nha mãe ligar a um sábado aos agentes para não

venderem nem mais uma peça até receberem a

nova tabela de preços. Se não fosse assim, não

chegava para pagar a matéria- prima.” Adelino

Carvalho acrescenta que, a partir de então, “a in-

dústria passou a ter de olhar mais para a gestão”.

[ 17 ][ P L Á S T I C O ]

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As empresas quesurgiram nas décadasseguintes tambémdeixaram as suas marcasna história pelo arrojo edeterminação, numa faseainda experimentalista,em que a cópia de artigosem plástico fazia partedo dia-a-dia. Algumasconsolidaram a suaposição ao longo dos anose estão hoje entre asmelhores do mundo.

RICARDO GRAÇA

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[ 19 ][ P L Á S T I C O ]

CÓPIA DE ARTIGOSEM PLÁSTICOATRAVESSADÉCADAS

Apesar de só ter constituído a João Rua-

no, em Leiria, em 1954, a ligação deste em-

presário espanhol à indústria dos plásticos

remonta aos anos 40. Luís Ruano, 67 anos,

conta que o pai veio para Portugal para fu-

gir da Guerra Civil [1936-1939], por suges-

tão do cunhado, Luís Grandela, proprietário

dos antigos armazéns Grandela, no Chiado,

em Lisboa. “Disse-lhe para virem todos para

Portugal e assim foi. O meu pai veio com uma

mão à frente e outra atrás.”

Para evitar ser repatriado por ter fugido

à guerra, João Ruano casa-se com Beatriz e

estabelece-se em Lisboa, onde cria, nos

anos 40, a fábrica de borracha Rubia (Ru de

Ruano e bia de Beatriz) com o cunhado, em-

presa que mais tarde transfere para Leiria

para se aproximar da indústria de moldes.

Em Génese e expansão da indústria de plás-

ticos no concelho de Leiria, o autor refere que

Luís Grandela era o sócio capitalista e João

Ruano o técnico e que produziriam bonecas

em pasta de papel e manequins.

Uma das inovações queJoão Ruano introduziuno mercado portuguêsfoi uma galinha quepunha ovos de plástico.“Ganhou rios de dinheiro.Chamavam-lhe a galinhados ovos de ouro”

Luís Ruano diz que além de ter “uma ha-

bilidade de mãos extraordinária”, o pai tinha

tirado um curso de transformação de plás-

ticos por correspondência nos Estados Uni-

dos. “O meu pai foi o primeiro a transformar

plásticos no País.” Em 1946, aceita o convite

de Filinto Fernandes para constituir a Ma-

térias Plásticas (Map), onde João Ruano as-

segurava a parte técnica.

”O meu pai tinha ideias e gostava de fa-

zer outras coisas e conseguiu que, em 1954,

os sócios [Filinto Fernandes tinha dado par-

te da quota à irmã] o autorizassem a abrir

uma fábrica nova, a João Ruano, que era do

mesmo sector mas não era concorrente”, con-

ta. “Fazia brinquedos e ainda brindes para a

Farinha Amparo.”

“O carro chegava aviajar inclinado com opeso dos moldes. Toda agente via. O que valia éque o meu pai tinhaamigos despachantes em Vilar Formoso”

Luís Ruano garante que o pai chegou a

projectar uma máquina de injecção e sopro,

só que, como não tinha dinheiro, não foi para

a frente. “Era um técnico que gostava de su-

jar as mãos.” Uma das inovações que João

Ruano introduziu no mercado português

foi uma galinha que punha ovos de plástico.

“Ganhou rios de dinheiro. Chamavam-lhe a

galinha dos ovos de ouro”, conta. “A João Rua-

no está para os plásticos como a Aníbal H.

Abrantes está para os moldes.”

Com a crise nos plásticos, provocada pelo

choque petrolífero de 1973, João Ruano co-

meçou a fazer concorrência à Map, empre-

sa de onde acabou por sair. Abriu, então, em

Madrid a Plásticos Ruano, fábrica de artigos

sanitários. Os moldes da João Ruano iam a

Espanha, faziam uma produção, e volta-

vam. “Aos 17 anos, fiz 52 viagens a Madrid>>>

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sem ter carta de condução, mas apenas li-

cença de aprendizagem”, recorda Luís Rua-

no. “Ia a conduzir para poupar o meu pai.” Ao

fim de dez anos, a empresa era líder no mer-

cado espanhol de artigos sanitários.

“O carro chegava a viajar inclinado com

o peso dos moldes. Toda a gente via. O que

valia é que o meu pai tinha amigos despa-

chantes em Vilar Formoso [fronteira]”, con-

ta Luís Ruano. “Os guardas iam lá comer à

mão”, revela.

Além disso, João Ruano ia duas vezes por

ano a outras países da Europa de carro, para

ver o que se estava a fazer na área dos plás-

ticos e trazer artigos que não existiam em

Portugal. “Se lançássemos um produto e ti-

vesse sucesso, três meses depois já nos es-

tavam a copiar. A seguir iam apresentar aos

nossos clientes a um preço mais baixo.” Luís

Ruano assegura que, nos anos 60, também

era prática comum roubar os técnicos uns

aos outros. “Foi quando se deu o boom nos

plásticos. Fazia--se muito dinheiro.”

Localizada nas antigas instalações do

Bingo, na Rua Capitão Mouzinho de Albu-

querque, a João Ruano já não tinha espaço

para crescer e os moradores queixavam-

-se do barulho das máquinas. Mudou-se para

a Barosa em 1980, onde iniciou o fabrico de

embalagem plásticas para o acondiciona-

mento de tintas, que passou a ser o seu ne-

gócio principal. “Abandonámos o tubo para

a construção civil e os sacos e filmes para a

agricultura, mas mantivémos os brinquedos.”

“Se lançássemos umproduto e tivessesucesso, três mesesdepois já nos estavam a copiar. A seguir iamapresentar aos nossosclientes a um preço mais baixo”

Após muita insistência de um agente an-

golano, Luís Ruano abriu uma fábrica de

plásticos em Angola, que esteve a funcionar

entre 1971 e 1975. “Foi um sucesso porque

não havia lá a tecnologia que levei. Nunca

ganhei tanto na minha vida”, recorda. Para

tal, contribuiu uma encomenda do Jumbo de

milhares de bolas, que foram oferecidas aos

clientes do supermercado durante a cam-

panha de lançamento, e que foram “pagas a

peso de ouro”. “Mais tarde, o governo de An-

gola chamou-nos para lá irmos pôr aquilo a

funcionar outra vez, mas não garantiam

condições de segurança.”

O desmoronamento das fábricas de João

Ruano dá-se pouco depois. A unidade de Ma-

drid é vendida na sequência da morte do fi-

lho Artur. O outro filho, João, que dirigia a em-

presa, volta para Portugal. Entretanto, a

João Ruano é ultrapassada por uma firma

concorrente, a VDS, nas tintas, apesar de

manter a liderança nas embalagens para pro-

dutos alimentares. “Tentámos arranjar um só-

cio capitalista para adquirir equipamentos.

Quando demos por isso, não tínhamos fá-

Luís Ruano afirma que “a JoãoRuano está para os plásticoscomo a Aníbal H. Abrantes está para os moldes”

>>>

RIC

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DO

GR

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Luís Ruano não esquece o período em que

foi presidente da Associação Portuguesa da In-

dústria de Plásticos (APIP) na zona centro.

“Quando havia reuniões para acordar preços

para comercializar os produtos, pegavam-se to-

dos”, recorda. “Estávamos horas a serrar pre-

sunto até atingir consenso.” O fillho do funda-

dor da João Ruano conta que, um dia, tinham

acabado de chegas a acordo para preços da ta-

bela de filmes, quando um dos industriais dis-

se que não abdicava de alguns clientes por pre-

ço nenhum. “Demiti-me no dia seguinte. Só se

reuniam para acordar tabelas de mercado e os

contratos colectivos de trabalho, mas não cum-

priam nada.”

Armando Lopes, fundador da AL - Fábri-

ca de Material Eléctrico, confirma que os in-

dustriais se encontravam para acordar preços

e que, numa dessas reuniões, se combinou ven-

der a matéria-prima a 7,5 escudos por kg.

“Cheguei a uma empresa e o senhor disse-

-me que arranjava mais barato. Estranhei e ele

foi buscar uma factura. Em cada 100 kgs ofe-

reciam 10 kgs! Indirectamente, estavam a fazer-

-lhe 10% de desconto.”

Além de acordarem preços, Álvaro Pires re-

fere que incentivava a ocorrência de reuniões

de fabricantes de filme, a nível nacional, para se

conhecerem uns aos outros. “Como andava sem-

pre na estrada dava jeito ter alguém a quem re-

REUNIÕESATRIBULADAS

correr se tivesse um acidente”, justifica.

Quanto aos acordos relativos a preços por

kg ou quantidade, o fundador da Leiriense

Plásticos diz que era frequente serem desres-

peitados. “Quando os clientes sabiam que não

havia entendimento entre concorrentes jogavam

com isso. Diziam a um que o outro fazia mais ba-

rato para conseguirem preços mais baixos. Tí-

nhamos de evitar que isso acontecesse.”

De qualquer forma, volta e meia, lá havia in-

cidentes. Álvaro Pires conta que a Lever queria

comprar um determinado cesto. “Dei a volta à

Europa à procura de um cesto e levei-o lá para

eles verem.” Aprovado o modelo, o industrial pe-

diu a Emídio Maria da Silva para lhe fazer o mol-

de. Contudo, face a uma atitude suspeita, disse-

-lhe que tinha mudado de ideias e que, afinal, já

não ia fazer.

“Fui ao Ruivo e pedi-lhe para me fazer o

molde rapidamente, independentemente do

preço. Trabalharam noite e dia”, afirma. “Assim

que tinha um bocadinho de injecção do cesto, ar-

rancava para Lisboa para o ir mostrar. Depois,

mostrava um bocadinho maior. Até ter o cesto fei-

to. Cheguei a ir três vezes a Lisboa num dia”, as-

segura.

As suspeitas confirmaram-se. “O Emídio fi-

cou zangadíssimo comigo, porque o que ele que-

ria era fazer os dois moldes: para mim e para a

Baquelite Liz, mas o nosso molde é que acabou

por ser aprovado. A primeira encomenda foi de

100 mil cestos.” De qualquer forma, como pre-

tendia garantir regularidade no fornecimento, a

Lever tinha posto como condição que quem ga-

nhasse a encomenda autorizava o concorrente

a copiar o molde. E assim foi.RICARDO GRAÇA

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brica, não tínhamos dinheiro, não tínhamos

nada”, lamenta Luís Ruano. “Esse sócio levou

à falência a João Ruano e uma série de ou-

tras empresas. Comprava sempre 51% do ca-

pital e dizia que injectava capital, mas nun-

ca o fazia.”

Tentámos arranjar umsócio capitalista paraadquirir equipamentos.Quando demos por isso,não tínhamos fábrica, nãotínhamos dinheiro, nãotínhamos nada

Álvaro Pires, 83 anos, não sabe precisar

com exactidão se teria 24 ou 25 anos quan-

do criou a Leiriense Plásticos. Mas recorda-

-se bem da conversa que teve com Aníbal H.

Abrantes, com quem se foi aconselhar antes

de dar esse passo. “Disse-me que era um ne-

gócio interessante e que ia ganhar muito di-

nheiro, mas que os primeiros dois anos, até

ter clientes, iam ser difíceis, porque os mol-

des eram caros. Confirmou-se.”

“Lembro-me de ir ao banco e de me di-

zerem que mil contos mal dava para a cova

de um dente. A primeira máquina com que

comecei a trabalhar era usada e custou-me

14 contos. Foi sempre a investir”, assegura Ál-

varo Pires. “Os ordenados aumentavam e eu

comprava mais uma máquina para produzir

mais e cobrir os aumentos. Nunca punha di-

Álvaro Pires aconselhou-se com Aníbal H. Abrantes antes de abrir a Leiriense Plásticos

RICARDO GRAÇA

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nheiro de lado”, afirma. “Qualquer indus-

trial se não estiver constantemente a in-

vestir, acaba por morrer.”

“Na altura, não se podiaimportar nada, mascomo eu tinha umamigo na Alfândega, mandava-lhe umtelegrama a dizer a quehoras chegava aoaeroporto, e não melevantavam problemas”

Enquanto outros fabricantes de plás-

ticos sabiam das novidades do que se fa-

zia lá fora através de Aníbal H. Abrantes,

Álvaro Pires preferia ser ele a viajar.

Portador do Passaporte nº 34, apanhava o

avião ao domingo à noite, para rentabili-

zar o tempo, e aproveitava o dia para fa-

zer visitas. “Numa semana, dava a volta à

Europa. Trazia muitos produtos para fa-

zer cópias cá. Raramente inventava al-

guma coisa.”

“Era conhecido pelo dragão da vio-

lência, porque ia sempre à procura de coi-

sas novas e estava sempre a apresentar

novidades”, revela o fundador da Lei-

riense Plásticos.“Na altura, não se podia

importar nada, mas como eu tinha um

amigo na Alfândega, mandava-lhe um

telegrama a dizer a que horas chegava ao

aeroporto, e não me levantavam proble-

mas.” O mais curioso é que não sabia uma

única palavra de Inglês e francês mal fa-

lava. “Com a ajuda de gestos, lá me de-

senrascava.”

Aníbal H. Abrantes foi o primeiro for-

necedor de moldes de Álvaro Pires, porque

se estava sempre a modernizar e tinha bons

equipamentos. Mas como “demorava mui-

to a fazer as entregas”, encomendava tam-

bém a outras empresas, como a Emídio Ma-

ria da Silva, que “demorava menos, mas

também falhava muito”, e ao Ruivo, que ti-

nha uma oficina.

A Leiriense Plásticos fazia utilidades

e brinquedos, mas também fabricava sa-

cos e mangas para a agricultura, para se

tentar diferenciar dos outros. “Comecei do

zero, ultrapassei todas as empresas e che-

guei a ser o número um. Mas também cor-

ria o País todo”, assegura. “O pai do Presi-

dente da República Prof. Cavaco Silva foi

o meu primeiro cliente de sacos para ra-

ções. Arranjei uma lista de empresas de ra-

ções e escrevi a todas. Ele foi um dos que

me respondeu”, recorda. “Fui ao Algarve

expressamente por causa disso. Vendi-

-lhe cinco mil sacos. Era uma encomenda

pequena, mas como estava a começar não

podia recusar negócios.”

Com a “saída amigável” do sócio com o

qual fundou a empresa, “os comentaristas

de café, que não sabiam fazer nada, diziam

que eu não me aguentava, pois o pai dele é

que tinha fortuna”, conta Álvaro Pires.

“Cheguei a ter a fama do homem mais rico

de Leiria como a do homem mais pobre ou

falido. Por isso, disse ao sr. Rebelo, do BNU,

para não acreditar nem no que lhe dizia

nem no que os outros lhe diziam, mas no

que via.”

“O pai do Presidente daRepública Prof. CavacoSilva foi o meu primeirocliente de sacos pararações. Arranjei umalista de empresas eescrevi a todas. Ele foi umdos que me respondeu”

Como o fundador da Leiriense Plásti-

cos era conhecedor do mercado e dos clien-

tes de Norte a Sul do País, nunca teve difi-

culdades. O tempo veio dar-lhe razão e pro-

var que o gerente bancário podia confiar

nele. “Procurava sempre qualidade.”

Álvaro Pires acabaria por vender a

empresa há cerca de 20 anos a empresários

do Norte. Nessa altura, fazia mangas para

a agricultura, sacos para adubos, rações e

supermercados, e filme técnico.

Aos 82 anos, Joaquim Matos, fundador

da Plimat, faz questão de passar todos os

dias nas quatro empresas do grupo Matos.

Com uma vasta experiência profissional, o

empresário da Marinha Grande tem no seu>>>

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[ 24 ] [ P L Á S T I C O ]

currículo a produção do primeiro molde da

Aníbal H. Abrantes: uma boneca que foi ex-

portada para Inglaterra. “Demorou nove

meses a fazer. Fiz a cabeça, os braços e as

pernas e o José Feliciano, da Somema, fez o

corpo.” Empenhado em que o molde ficas-

se o mais parecido possível com uma crian-

ça, Joaquim Matos diz que estudava anato-

mia e recebia lições de um amigo que andava

a estudar pintura em Lisboa

A sua passagem por diversas empresas

de vidros e de moldes, primeiro como ope-

rário e, mais tarde, como industrial, deram-

-lhe um profundo conhecimento do merca-

do, que o levou a acreditar que “o futuro dos

plásticos era mais promissor do que o futu-

ro dos moldes”. Em 1978, constituiu, assim,

a Plimat, com o irmão Arnaldo Matos. “Como

tínhamos a fábrica de moldes [Molde Matos],

verificámos que enquanto o prazo do mol-

de acabava ali, o artigo produzido pelo mol-

de durava muitos anos, tal como o lucro.”

Joaquim Matos dá como exemplo o pri-

meiro molde que Edilásio Carreira da Silva

fez para a Plásticos Santo António: uma jar-

ra de flores, que custou três ou quatro con-

tos. “Com a venda do produto, a Plásticos

Santo António ganhou dezenas de milhares,

ao ponto de lhe dar para pagar a fábrica”, re-

vela. “O meu tio Edilásio vendia-lhes moldes

por dez contos e eles faziam 100 mil contos

com a venda dos produtos.”

Joaquim Matos fez o primeiromolde para plásticos do País

RICARDO GRAÇA

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[ 25 ][ P L Á S T I C O ]

>>>

“Como tínhamos a fábrica de moldes[Molde Matos],verificámos que enquanto o prazo do molde acabava ali, o artigo produzido pelomolde durava muitosanos, tal como o lucro”

Apesar disso, os primeiros tempos da

empresa de acessórios de canalização não

foram fáceis. “Arrancámos com um mode-

lo. Corri o País todo e ninguém o comprou”,

conta. Rapidamente percebeu que o pro-

blema era ter apenas uma medida, quan-

do para fazer uma canalização eram ne-

cessários quatro ou cinco. “Não consegui

vender porque não tinha uma gama com-

pleta. Começámos então a fazer mais pe-

ças e mais variedade.”

Entrar num nicho de mercado onde ti-

nha pouco know how obrigava a um con-

tacto próximo com os especialistas no sec-

tor: os canalizadores. Além de os ter de con-

vencer da vantagem de utilizar os seus pro-

dutos, Joaquim Matos procurava saber do

que necessitavam e quais os problemas que

tinham, para lhes poder apresentar solu-

ções.

Outra tarefa habitual para os indus-

triais de plástico passava por se desloca-

rem aos países mais evoluídos e trazerem

produtos que pudessem ser fabricados em

Portugal. Sob o pretexto de que estava a

tentar vender moldes, Joaquim Matos

conta que visitou diversas fábricas ingle-

sas de acessórios para tentar perceber

como faziam uma peça para canalização,

durante uma missão de 'espionagem in-

dustrial'. “Não consegui vender nenhum

molde, mas consegui ver como faziam.”

Encontrar matéria-prima de quali-

dade foi outra dificuldade que a Plimat

sentiu numa fase inicial. “Quando come-

cei a vender em força, a matéria-prima não

era de qualidade e as peças partiam-se. Foi

um autêntico desastre”, lembra Joaquim

Matos. “Devolveram-nos cinco toneladas

de material estragado. Já não tínhamos

muitos clientes e ainda ficámos com me-

nos. Mas, com o passar do tempo, lá fomos

recuperando.” Mesmo assim, ainda de-

moraram alguns anos a substituir as pe-

ças todas. “Havia qualquer problema e éra-

mos chamados. Íamos logo lá. Fizemos de-

zenas de viagens.”

Hoje, a realidade é completamente di-

ferente. “Se um produto não é certificado não

pode entrar numa obra pública. No estran-

geiro é assim há mais anos”, assegura o fun-

dador da Plimat. Refere, contudo, que há paí-

ses que não reconhecem a homologação do

Laboratório Nacional de Engenharia Civil

(LNEC). “Temos certificação de laboratórios

de outros países e de clientes que vêm cá to-

dos os anos fazer auditorias. É uma garan-

tia da qualidade dos nossos produtos.”

Além do investimento permanente

em tecnologia, não só para estar na van-

guarda do conhecimento como para redu-

zir o consumo de energia, estar na linha da

Joaquim Matos começou por constituir uma empresa de moldes, a Molde Matos, em 1968

PLIMAT

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[ 26 ] [ P L Á S T I C O ]

frente neste sector implica ainda fabricar pro-

duto com um prazo de duração de 50 anos

(60 anos, no caso da Alemanha). “Fazemos a

simulação em fornos de envelhecimento e

testamos os produtos em tanques de reben-

tamento, onde são submetidos a diferenças

de temperatura”, revela. Além disso, de duas

em duas horas as peças são retiradas da má-

quina para serem submetidas ao controle de

qualidade, para que a empresa possa cum-

prir as normas de segurança.

“Sou o melhor de Portugal e um dos me-

lhores da Europa em qualidade”, garante o

fundador da Plimat. “Basta dizer que temos

clientes alemães, belgas, franceses e ingle-

ses”, justifica. “Só não trabalhamos com a

América porque as regras são diferentes,

mas um dia vou para lá. Gosto muito da

América.”

A reacção da filha, então com 5 anos,

quando regressou um dia mais cedo da Ma-

rinha Mercante, foi determinante para Ar-

mando Lopes, 78 anos, fundador da AL – Fá-

brica de Material Eléctrico, na Marinha

Grande, decidir mudar de vida. “Um dia che-

go a casa, à Nazaré, e a minha filha veio

abrir-me a porta e não me conheceu.” «Tu

não és o meu pai. O meu pai anda o barco»,

respondeu-lhe com desconfiança.

“Um dia chego a casa e a minha filha veioabrir-me a porta e nãome conheceu.” «Tu não éso meu pai. O meu pai andao barco», respondeu-lhecom desconfiança.

Armando Lopes diz que asprimeiros artigos em plásticoque se viam em feiras eram copos

RICARDO GRAÇA

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[ 27 ][ P L Á S T I C O ]

Responsável pela parte eléctrica das

máquinas, Armando Lopes deixou a Mari-

nha Mercante para trás e decidiu procurar

emprego mais próximo de casa. Após ter

trabalhado em diversas empresas, onde

aprofundou os seus conhecimentos técni-

cos, questionou-se: “Ando a montar fábricas

para os outros, por que não monto uma para

mim?” Tinha então 38 anos.

“Toda a gente copiou omeu primeiro molde. Até uma das maioresempresas do mundo, masessa não me preocupava,porque vendia por preçossuperiores aos meus”

A sua formação permitiu-lhe entrar

com facilidade no mercado. Mas quis dife-

renciar-se dos outros. “Como baldes e al-

guidares qualquer um fazia, comecei a fa-

zer caixas para material eléctrico”, explica.

Mandava fazer o molde e depois injectava

numa fábrica de plásticos da Estação. As cai-

xas eram montadas na garagem de sua casa.

Mais tarde, Armando Lopes comprou a

primeira máquina de injecção e desempre-

gou-se da Jerónimo Martins, onde era o res-

ponsável técnico pelo departamento indus-

trial. “Dava-me muito bem com o Alexandre

Soares dos Santos [hoje, presidente do Con-

selho de Administração]. Quando tinha ava-

rias na piscina era a mim que me chamava.”

À medida que o negócio ia crescendo, ia

comprando mais máquinas e mais moldes

e mudando para melhores instalações. Hoje,

a empresa está localizada na zona industrial

e é gerida pelo seu filho, Augusto Lopes.

Armando Lopes recorda a reacção das

pessoas quando começaram a surgir artigos

em plástico no mercado. “A primeira coisa

que apareceu em plástico foi copos, nas fei-

ras. Foi uma revolução. Naquela altura,

qualquer pecinha de plástico causava ad-

miração”, recorda. “Uma vez trouxe um

saleiro e um pimenteiro e uma rolha de

plástico para fechar as garrafas. Eram coi-

sas inovadoras, que não havia cá.”

E tal como os portugueses copiavam os

artigos fabricados noutros países, quando

chegavam a Portugal o processo de cópia

repetia-se, só que desta vez da parte dos

concorrentes. “O meu primeiro molde foi

uma caixa de aparelhagem (onde fica o in-

terruptor e a tomada). Era um molde sim-

ples, porque ficava mais barato. Toda a gen-

te o copiou”, recorda. “Até uma das maiores

empresas do mundo, mas essa não me

preocupava, porque vendia por preços su-

periores aos meus.”

O fundador da AL diz que actualmen-

te esta prática se mantém. “Ainda hoje, só

se podem apresentar os produtos depois de

se ter uma grande produção feita para pôr

no mercado”, sustenta. Fundada em 1984,

a AL é hoje a maior fábrica de material eléc-

trico da Península Ibérica.

Armando Lopes era técnico de máquinas ARMANDO LOPES

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[ 28 ] [ P L Á S T I C O ]

RICARDO GRAÇA

Adelino Carvalho diz que, após o 25 de Abril de 1974, deixou de haver a cunha do Bispoou do presidente da Junta paraadmitir mais funcionários

Após a revolução do 25 de Abril de 1974,

foi estabelecido o primeiro salário mínimo

nacional, no valor de 3300 escudos. Apesar

de se ter “falado com as empresas que ha-

via”, Adelino Carvalho, então sócio-geren-

te da Carvalho & Catarro e hoje presiden-

te do Conselho de Administração da Eure-

kaPlast, garante que “as indústrias foram as

que mais sofreram” com esta medida, pois

tinham muitos funcionários. “Havia a cul-

tura de contratar toda a gente: os primos, os

amigos, os vizinhos”, justifica.

Autor do livro Génese e expansão da in-

SALÁRIO MÍNIMOABANA ESTRUTURADE EMPRESAS

dústria de plásticos no concelho de Leiria, José

Dias Coelho explica que, anteriomente, exis-

tia uma relação paternalista entre os in-

dustriais e os colaboradores. “Nos primeiros

tempos, a situação de pobreza da classe ope-

rária influía no quantitativo de empregados.

Para os familiares dos que já trabalhavam,

havia sempre mais um ou dois empregos.”

Se por um lado a situação económica de

cada agregado melhorava, Dias Coelho aler-

ta que “este procedimento também foi cau-

sador de excesso de operários, o que com-

plicou a vida das empresas quando estas se

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[ 29 ][ P L Á S T I C O ]

O 25 de Abril veio revolucionar também a vida das empresas

viram na necessidade de introduzir nova tec-

nologia” ou de aumentar os ordenados por

imposição legal.

“Havia a cultura decontratar toda a gente: os primos, os amigos, os vizinhos”

Além disso, o mestre em História Eco-

nómica e Social Contemporânea acrescen-

ta que os proprietários das fábricas “eram

frequentemente convidados para padri-

nhos de casamento dos empregados e bap-

tismo dos seus filhos, o que originava uma

relação de amizade que ultrapassava em

muito a de patrão-empregado”.

Esta mentalidade mudou, contudo, com

o nascimento das grandes empresas, porque

foram constituídas numa realidade com-

pletamente diferente. “Já não havia a cunha

do Bispo ou do presidente da Junta. Só con-

tavam com aqueles de que precisavam”, as-

segura Adelino Carvalho.

Estas indústrias tornaram-se mais ren-

táveis do que as anteriores, algumas das

quais nunca mais recuperaram a partir da

criação do ordenado mínimo. “Foi um cho-

que para muitas indústrias. Algumas che-

garam a ter 300 pessoas, porque o custo com

salários não era grande. Muitas acabaram

por fechar”, acrescenta.

Durante o regime anterior existiam

outros condicionalismos à actividade das

empresas. Adelino Carvalho explica que,

nos anos 60, fez um pedido de importação

de vedante (borracha), através do Boletim

de Registo de Importação, porque queria

comprar uma medida específica. ”Como os

tipos da borracha tinham um lobby pode-

roso, mandaram-nos consultar a indústria

nacional. Esteve a máquina parada três ou

quatro semanas à espera de vedante.”

”Como os tipos daborracha tinham umlobby poderoso,mandaram-nosconsultar a indústrianacional. Esteve amáquina parada três ouquatro semanas à esperade vedante”

Este procedimento durou até à entrada

de Portugal na Comunidade Económica

Europeia (CEE), em 1986, porque houve

uma imposição nesse sentido, garante o fun-

dador da Carvalho & Catarro. “Isso condi-

cionava de uma maneira brutal os indus-

triais”, que acabavam por perder negócios.

Em alternativa, recorriam à corrupção para

desbloquear este tipo de situações.

“A partir de 1975-1978, o Ministério

das Finanças não deixava ninguém sair de

Portugal com mais de sete contos e tínhamos

de escrever ao Banco de Portugal a explicar

por que é que precisavamos do dinheiro”,

conta. “Tínhamos de dizer que íamos visitar

um cliente, um fornecedor ou feiras e que

precisávamos de levar divisas e o Banco de

Portugal autorizava a vender francos fran-

ceses, por exemplo.” Como sete contos era

um valor insuficiente. Adelino Carvalho diz

que as pessoas contornavam o sistema,

comprando moeda estrangeira, como pese-

tas, por exemplo, num café de Leiria.

ARQUIVO/JL

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[ 30 ] [ P L Á S T I C O ]

Nuno Romero diz que 100% da produção da Key PlasticsPortugal é para a indústriaautomóvel

Entre as primeiras empresas que surgiram

na área do plástico na região de Leiria, a Ma-

térias Plásticas (Map) distingue-se por ter tido

um percurso diferente das restantes, consti-

tuídas nos anos 40 e 50 do século XX, que ain-

da hoje estão em actividade. A produção de aces-

sórios de casa-de-banho foi abandonada e a em-

presa especializou-se na produção de frontais

de auto-rádio e de controles de automatização

para a indústria automóvel.

Director-geral da Key Plastics Portugal,

Nuno Romero, 64 anos, explica que, a partir de

1985, a Map deixou de se dedicar apenas aos fa-

brico de acessórios de casa-de-banho e passou

a fabricar também produtos técnicos, tirando, as-

sim, partido dos conhecimentos que adquiriu

ao longo de décadas nas áreas da injecção de

plásticos e da pintura. Começou, então, a fabricar

também para o Ikea e peças técnicas para a Por-

tugal Telecom ou a IBM.

“Procurámos oportunidades de negócio,

num mercado cada vez mais exigente, para con-

duzir a empresa noutro sentido”, afirma Nuno

Romero. “Evoluímos para produtos mais com-

plexos, para nos podermos posicionar num ni-

cho de mercado.” A entrada da Ford Automo-

tive Components no mercado português, mais

concretamente em Palmela, em 1991, viria a

constituir mais um marco importante na história

da Map.

“O nosso mercado são os 14 milhões de carrosfabricados na Europa”

“Já tínhamos pensado em produzir frontais

de auto-rádios e o nosso objectivo concretizou-

-se, ao termos sido escolhidos como parceiros

para fabricar esses produtos”, revela o director-

-geral da Key Plastics. “Como não tínhamos

EMPRESASPIONEIRASSEGUEM PERCURSOSDIFERENTES

know how nessa área, estabelecemos um acor-

do de colaboração técnica com a Key Plastics, nos

EUA, que permitiu à Ford Automotive Compo-

nents nomear-nos como fornecedores.”

Em 1993, a Map constrói novas instalações

na Barosa e, três anos depois, parte do seu ca-

pital é adquirido pela Key Plastics. Passa, então,

a designar-se Map Key. Em 1998, o grupo nor-

te-americano adquire a totalidade do capital so-

cial e as duas áreas de negócio separam-se. A

produção de acessórios de casa-de-banho tor-

na-se independente, nas instalações da Gândara

RICARDO GRAÇA

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[ 31 ][ P L Á S T I C O ]

dos Olivais e no centro da cidade, e vai dimi-

nuindo de importância até cessar em 2008. Cin-

co anos antes, a empresa muda de nome para

Key Plastics Portugal.

Nuno Romero esclarece que o grupo nor-

te-americano, que tinha apenas sete anos de

existência quando entrou no capital da empre-

sa de Leiria, não interferiu na escolha dos pro-

cessos nem dos equipamentos. “Passámos de

dois processos produtivos (injecção e pintura)

para seis processos produtivos de grande com-

plexidade para podermos fazer frontais de

auto-rádios”, explica. “Foi um momento mar-

cante na empresa. A Key Plastics Portugal é hoje

um dos principais fornecedores a nível mundial.”

“Depois de entrarmos nos mercados mais difíceis, o trabalho ficou feito”

Ford, Bentley, Audi, Volskwagen, BMW,

Volvo, Fiat, Opel e Toyota são as marcas de au-

tomóveis para as quais a empresa de Leiria

produz frontais de auto-rádios, climatização

e sistemas de navegação. “100% da nossa pro-

dução é para a indústria automóvel. O nosso

mercado são os 14 milhões de carros fabri-

cados na Europa.”

Consciente de que a dependência deste sec-

tor constitui um risco, Nuno Romero sublinha

que a vida da indústria automóvel está intima-

mente ligada aos ciclos da economia global, ra-

zão pela qual entre 2008 e 2011 chegaram a ter

quebras de produção de 30 a 40%. “Mas para ter-

mos uma posição forte no mercado temos de es-

tar completamente focados nesta indústria.”

Além de frontais de auto-rádios, climatiza-

ção e sistemas de navegação, a Key Plastics Por-

tugal fabrica grelhas de entrada de ar e frisos de-

corativos para portas e tabliers. Dá ainda apoio

aos clientes no desenho dos seus produtos. “Po-

demos ainda produzir outras peças que exigem

os processos produtivos que nós dominamos”,

acrescenta Nuno Romero.

Se compararmos os primeiros anos de ac-

tividade da Plásticos Santo António, em 1955,

com a actualidade, as diferenças também são

substanciais. Sobretudo a partir do momento em

que Miguel Ritto, 53 anos, gerente, entrou na em-

presa, em 1997. “Até então exportávamos 3%

para Inglaterra. Hoje, exportamos 65% para toda

a Europa e pontualmente para Angola”, reve-

la. “Fomo-nos especializando no fabrico de em-

balagens para logística, transporte e armaze-

nagem.”

“Em Portugal não havia mercado sufi-

ciente para amortizar os moldes”, justifica Mi-

guel Ritto. A opção passou por crescer na Eu-

ropa porque a empresa queria exportar para

países mais exigentes ao nível da qualidade. “De-

pois de entrarmos nos mercados mais difíceis,

o trabalho ficou feito. Ficámos com referências

que nos permitem que nos venham procurar.”

Os principais clientes da Plásticos Santo

António são a indústria alimentar (panificação,

pastelaria, queijos, viticultores, pesca) e logís-

tica (transporte de peças da indústria automó-

vel). “Temos sempre procurado diversificar os

nossos clientes e alargar mercados a outros paí-

ses”, afirma o gerente da empresa. “Se algum en-

trar em recessão, há outros que compensam.”

“Temos de estar semprede olhos abertos e ver o queestá a acontecer”

Nos próximos três anos, a Plásticos Santo

António tem mais um grande projecto para con-

cretizar: mudar a fábrica para Monte Redondo,

onde adquiriram um terreno. Miguel Ritto diz

que a unidade onde desenvolvem a actividade

há 60 anos é constituída por pequenos pavilhões

e o layout não é o desejável. Com a construção

das novas instalações, pretende ter ainda ganhos

de produtividade.

Atenta às movimentações do mercado, a

Baquelite Liz continua a fabricar diferentes ar-

tigos. “Somos uma fábrica de plástico. É isso que

nos vai aguentando. Quando um produto co-

meça a passar, outro começa a mexer”, afirma

João Rezola Clemente, 42 anos, administrador.

“Vamo-nos reinventando”, acrescenta o irmão

Jaime, 49 anos, administrador. O mercado interno

sempre foi a prioridade.

“O mercado nacional representa 90% e

a restante produção é exportada indirecta-

mente, através dos clientes”, explica Jaime

Rezola Clemente. “São produtos muito vo-

lumosos [caixas de transporte e tubos para>>>

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[ 32 ] [ P L Á S T I C O ]

a indústria], o que dificulta a exportação”,

justifica.

Embora os produtos para o lar tenham dei-

xado de ter expressão, a Baquelite Liz fabrica

desde ponteiros de tacos de snooker até caixas

para máquinas de tabaco. “Procuramos que o

cliente nos contacte sempre que tem uma ne-

cessidade. Conversamos ainda com fabrican-

tes de máquinas e fornecedores de matérias-

primas para recolher informação e encontrar

soluções”, refere João Rezola Clemente.

“Estamos em todo o lado. Desde a peque-

na loja até à grande empresa”, assegura. Entre

os seus clientes encontram-se empresas como

a Portugal Telecom, os CTT ou a Cimenteira de

Pataias. “Temos de estar sempre de olhos aber-

tos e ver o que está a acontecer”, acrescenta Jai-

me Rezola Clemente. “Embora tenhamos clien-

tes muito variados e e em grande número, con-

tinuamos à procura de novos.”

LEIRIA PODERÁVIR A TERMUSEU DOS PLÁSTICOS

Maria Elvira Callapez, 56 anos, investigadora

e autora do livro Os plásticos em Portugal – A ori-

gem da indústria transformadora, apresentou em

Janeiro uma candidatura à Fundação para a

Ciência e a Tecnologia (FCT) para obter fundos

para criar um museu dos plásticos em Portugal.

Leiria é a cidade que mais lhe agrada, por es-

tar ligada às origens desta indústria.

“Queremos fazer a história total dos plás-

ticos em Portugal. A investigação vai articular

uma grande quantidade de matérias e envolver

especialistas na história dos plásticos”, revela

Maria Elvira Callapez. “Desde a história social,

às tecnologias, sustentabilidade e impacto no

ambiente.”

O projecto que a investigadora apresentou

à FCT prevê ainda a comparação entre o plás-

tico e outros materiais tradicionais, como a cor-

tiça, por exemplo, para perceber se o plástico

trouxe vantagens. A associação dos plásticos com

o design e a inovação que daí resultou também

será alvo de estudo, tal como a relação entre a

indústria do plástico com a indústria eléctrica.

PLÁSTICOS SANTO ANTÓNIO

Para conseguir reunir a informação que pre-

tende, Maria Elvira Callapez quer envolver

neste processo também empresários, trabalha-

dores e outras pessoas ligadas ao sector. “ Atra-

vés das memórias, quero tentar perceber o im-

pacto que esta indústria teve, os processos de fa-

brico que foram utilizados, conhecer a menta-

lidade dos industriais e caracterizar as elites.”

A criação do museu pressupõe ainda a pre-

servação de artigos em plástico, pelo seu carác-

ter de inovação e pela vertente ligada à arte.

“Queremos ter equipamentos, memórias, foto-

grafias, brinquedos”, exemplifica, mas também

“fazer coisas novas”. Para tal, o projecto prevê a

criação de um espaço para a organização de con-

ferências e de um espaço de investigação na área

dos plásticos e de outros materiais, com a cola-

boração da Universidade do Minho e de outras

instituições.

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Nuno Fróis junto à nova linhade produção de bag in box

[ 33 ][ P L Á S T I C O ]

Quando Carlos Figueiredo, hoje com 67

anos, recebeu um boneco em plástico com bom-

bons, oferecido por familiares do Canadá, por

certo estaria longe de imaginar que a sua vida

iria mudar para sempre. Olhou para a embala-

gem e pensou em fazer uma idêntica para ven-

der no mercado português. Contactou a fábri-

ca de chocolates Regina e fechou negócio.

“Hoje, temos de bater a muitas portas para

conseguirmos um 'sim'. Na altura, havia mais

possibilidades de qualquer produto ser consi-

derado para consumo”, afirma Guida Figueiredo,

39 anos, filha e administradora do Grupo Car-

fi, com sede na Marinha Grande.

Desde esse dia até hoje, o pai, Carlos Fi-

gueiredo constituiu um grupo de quatro em-

presas, que desenvolvem actividades comple-

mentares. Seis anos depois da constituição da

empresa, deu-se a entrada de Portugal na Co-

munidade Económica Europeia (CEE) e as por-

tas para o mercado externo abriram-se. A Ale-

INDÚSTRIAS PARTEMÀ CONQUISTADO MUNDO

manha e a França foram os destinos escolhidos,

por serem mercados exigentes. “Entrámos

noutra cadeia de valor: zero erros, zero atrasos.”

“Hoje, quem não tenha um pé entre a compra e avenda (comprar maisbarato e vender mais caro)vai ser ultrapassado pelaconcorrência”

Com a globalização do mercado, deixou de

suficiente ter qualidade, preços competitivos e

cumprir prazos. No final dos anos 90, a Carfi

opta, assim, por oferecer produtos chave na mão,

ao assegurar também a produção dos moldes.

Entrou no mercado escandinavo e, após a

construção da actuais instalações, expandiu o

negócio para a indústria médica.

Em 2000, entra na área da puericultura e in->>>

RICARDO GRAÇA

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[ 34 ] [ P L Á S T I C O ]

troduz a componente da electromecânica no

processo de fabrico. “Termos multinacionais

como clientes, permite-nos exportar para o mun-

do inteiro, pautando-nos pelo nível máximo de

exigência, porque não sabemos onde é que os

nossos produtos vão parar”, observa.

Em 2003, abriram uma unidade da Polónia,

para estarem mais próximo dos clientes do Nor-

te da Europa e poderem reduzir custos logísti-

cos. Guida Figueiredo revela que a intenção foi

ainda evitar que os clientes daquela zona en-

contrassem fornecedores mais próximos, assim

como entrar em novos mercados.

Quanto à China, prefere encará-la como

uma aliada no fornecimento de componentes,

e não como uma concorrente. “Quem não tenha

um pé entre a compra e a venda (comprar mais

barato e vender mais caro) vai ser ultrapassa-

do pela concorrência”, assegura Guida Figuei-

redo. “É a Rota das Índias dos dias de hoje.”

De qualquer forma, acredita que o facto de

as empresas que optaram por aquele mercado

terem sido obrigadas a fazer um grande esfor-

ço financeiro, devido à imposição do pagamen-

to antecipado e à compra em grandes quanti-

dades, e a terem ficado com a mercadoria reti-

da em portos, contribuiu para a retoma.

José Monteiro, 57 anos, sócio-gerente da

Simplastic, na Batalha, chegou a fabricar mol-

des na China para diminuir os custos, mas não

ficou agradado nem com a qualidade nem com

a assistência. “Mas o que está a influenciar a per-

da de mercado na China é a diferença cambial,

o transporte e o desalfandegamento.”

“Procuramos fazerprodutos com mais valoracrescentado e inovação.Combater pelo preço estáfora de questão”

Constituída em 1977, a Simplastic foi ad-

quirida por José Monteiro e por Arsénio Silva há

25 anos. Ligado anteriormente ao sector da me-

talomecânica, José Monteiro estabeleceu como

princípios a seguir exportar e inovar. Nesse sen-

tido, hoje o mercado nacional é residual.

A participação em feiras internacionais

foi determinante. Em consequência disso, o des-

tino das poucas exportações passou de Israel

para a Europa. “Só produzimos marcas concei-

tuadas de electrodomésticos e fornecemos o pro-

duto acabado.” Para tal, subcontratam a produ-

ção dos moldes. “Procuramos fazer produtos com

mais valor acrescentado e inovação. Combater

pelo preço está fora de questão.”

“Deixámos de pensarcomo uma indústriae passámos a pensar como empresa de serviços”

Jorge Santos, 53 anos, director-geral da Vi-

pex, na Marinha Grande, defende que fazer com

qualidade não significa fazer mais caro, mas sim

com menos recursos. Com a entrada da China

no mercado, a empresa redifiniu o seu posicio-

namento e deixou de se concentrar na produ-

ção e passou a focar-se na concepção e enge-

nharia.

“Deixámos de pensar como uma indústria

e passámos a pensar como empresa de servi-

ços, que fornece produtos e bens”, esclarece Jor-

ge Santos. “O cliente tem a ideia e nós desen-

volvemo-la.” Fabricante de produtos para con-

sumo – mesa, desporto, electrodomésticos – a Vi-

pex está à procura de empresas que actuem no

mercado global e necessitem de parceiros que

lhes possam proporcionar serviços completos.

“Utilizamos as práticas exigidas pelos clien-

tes da indústria automóvel (apesar de não tra-

balharmos com este sector), o que consideramos

uma boa referência”, afirma. Actualmente, mais

de 90% dos seus clientes são multinacionais.

Já a Iber-Oleff foi constituída, em 1993, pre-

cisamente para aproveitar uma oportunidade de

negócio, decorrente da abertura da Autoeuro-

pa, em Palmela. Especialista em design, enge-

nharia e produção de componentes para as in-

dústrias automóvel e electrónica, a empresa de

Pombal veio, assim, possibilitar ao Grupo Ibe-

romoldes ter uma oferta integrada de serviços.

Noventa e cinco por cento dos produtos que a

Iber-Oleff produz são exportados.

“O mercado automóvel foi sempre alta-

mente competitivo, desafiadoramente compe-

titivo, pela inovação, pelas tecnologias e pro-

cessos, pelos custos e preços”, afirma Joaquim

Menezes, presidente do Conselho de Adminis-

tração do Grupo Iberomoldes. “É um mercado

História da Indústria_plasticos_18_48_alexandra:Layout 1 09-02-2015 13:38 Página 34

Page 35: Plano Capa final 1:Apresentação 1 - Moulds and Plastics...brico de alpercatas, surgiu a primeira «fabri-queta» de plásticos em Leiria. A Nobre & Silva, por volta de 1936, di-versificava

[ 35 ][ P L Á S T I C O ]

muito exigente e 'difícil', que impulsiona as em-

presas e seus quadros a uma permanente ati-

tude de questionamento, mudança e aprendi-

zagem.”

“A monitorização e investimento em tecno-

logia, que mantenha ou aumente a competiti-

vidade e a diferenciação, são uma preocupação

permanente”, garante Joaquim Menezes. Os

investimentos na Divisão de Componentes

Plástico para o Automóvel, nos últimos cinco

anos, rondam, em média, três milhões de euros

anuais.

“O mercado automóvel émuito exigente e 'difícil'.Impulsiona as empresas a uma permanente atitude de questionamento”

Especialista no fabrico de embalagens, a SIE

não sente necessidade de fazer investimentos

permanentes em tecnologia, apesar do parque

de máquinas não ser recente. Como tal, vão in-

troduzindo actualizações, explica Nuno Fróis, 33

anos, neto do fundador , Emídio Fróis. A preo-

cupação da empresa de Leiria passa sim pela op-

timização dos produtos, através da redução do

peso, para se tornarem mais baratos, mas com

a mesma resistência. “O que os clientes valori-

zam é o preço.”

Nuno Fróis esclarece que, tendo em conta

que não há muita capacidade de diferenciação,

a SIE concentra-se em garantir que as embala-

gens são estanques e suportam as cargas. Ex-

portar está fora de causa, porque as embalagens

ocupam muito volume, o que representaria um

custo de transporte muito elevado.

A SIE foi constituída em 1963, em Lisboa,

por quatro sócios, um dos quais Emídio Fróis.

Quando mudou para Leiria, ficou a funcionar

nas antigas instalações do Roldão & Pires. José

Fróis, 60 anos, filho do fundador, explica que face

ao prejuízo que a empresa dava, devido à fal-

ta de controlo dos sócios, em 1980, pressiona-

ram um deles, Joaquim André Jr, madeireiro, a

assumir a liderança.

A SIE começou a recuperar e a desenvol-

ver o mercado e, após a entrada de José Fróis,

muda de instalações para a Urbanização de

Santa Clara. Com a morte de Emídio Fróis, em

1985, o filho José compra a quota de um outro

sócio, tal como Joaquim André Jr, e ficam am-

bos com 50% do capital. Joaquim André Jr tam-

bém acabaria por falecer, pelo que o filho ficou

com sua quota. Em Outubro de 2014, José Fróis

adquiriu a totalidade da empresa, onde traba-

lha o seu filho Nuno.

Actualmente, a SIE dedica-se ao fabrico de

embalagens, de sinalização para estradas e vai

arrancar com a produção de bag in box para vi-

nho, sumos e azeite. “Vai ser o futuro da em-

balagem, porque não ocupa volume. Daqui a

cinco ou seis anos irá substituir as embalagens

tradicionais.”

Jorge Santos e Guida Figueiredo

RICARDO GRAÇA/ARQUIVO ARQUIVO JL

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[ 36 ] [ P L Á S T I C O ]

A Sirplaste – Sociedade Industrial de Re-

cuperados Plásticos, em Porto de Mós, é pio-

neira, a nível mundial, na reciclagem de resí-

duos provenientes de compostagem e é a

maior empresa a nível europeu a fazer reci-

clagem de plásticos contaminados, assegura Ri-

cardo Pereira, 40 anos, director-executivo.

“Ainda me lembro de ser pequeno e de ir

com o meu pai visitar os clientes. Era quase um

negócio de contrabando”, recorda Ricardo Pe-

reira. “Pediam-nos para descarregar os camiões

à noite, porque o plástico recliclado era visto

como um produto de má qualidade.” Aliás, al-

guns clientes chegaram a acusar-se uns aos ou-

tros de utilizarem matéria-prima reciclada,

quando a vendíamos aos dois.

“Há seis anos, se medissessem que ia reciclarplásticos do lixo, dizia queisso era uma miragem”

Constituída em 1974, a Sirplaste surgiu para

dar resposta a uma necessidade do mercado,

pois as empresas não sabiam o que fazer aos

desperdícios. Estavam a dar-se os primeiros pas-

sos na reciclagem a nível europeu, pelo que ain-

da não havia equipamentos para tratar os re-

síduos. “Adaptavam-se máquinas agrícolas e

funcionava por tentativa/erro.”

Hoje, é especialista na área da desconta-

minação de resíduos de plástico, provenientes

da compostagem. “Os plásticos que são depo-

sitados no contentor de lixo são separados e en-

viados para nós para os reciclarmos”, explica,

o que representa um ganho ambiental.

Apesar da desconfiança em relação à uti-

lização de plástico reciclado ter diminuído, Ri-

cardo Pereira diz que não faz sentido continuar

SIRPLASTE LIDERARECICLAGEMDE PLÁSTICOCONTAMINADONA EUROPA

a produzir tubos de rega ou sacos do lixo com

matéria-prima virgem. Carlos Bento, sócio-ge-

rente da Micronipol – Reciclagem de Plásticos,

em Ourém, manifesta outra preocupação.

“Andamos a pressionar para que os cader-

nos de encargos das obras públicas alterem as

especificações dos produtos para abrirem o le-

que à utilização de produtos reciclados”, revela,

tendo em conta que “os produtos evoluíram em

termos de qualidade”.

Para tal, contribuiu também o avanço tec-

nológico. Carlos Bento adquire equipamentos, no

máximo, de quatro em quatro anos e vai intro-

duzindo adaptações noutros, investimentos que

ascendem a milhões de euros. “Estes equipa-

mentos têm um ciclo de vida muito curto, por-

que sofrem um grande desgaste”, justifica.

Em 2000, ano em que iniciou actvidade, a Mi-

cronipol começou por transformar materiais lim-

pos, resultantes de desperdícios de fábricas e em-

balagens industriais. Em 2014, passou a con-

centrar-se na transformação de materiais con-

taminados. “Há seis anos, se me dissessem que

ia reciclar plásticos do lixo, dizia que isso era uma

miragem”,observa Carlos Bento. “O próprio

mercado exigiu que nascessem empresas que so-

lucionassem este problema”, uma vez que sur-

giram ecopontos e as próprias empresas pas-

saram a aproveitar os seus desperdícios.

Ricardo Pereira refere que areciclagem chegou a sercomparada a um negócio decontrabando RICARDO GRAÇA

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[ 37 ][ P L Á S T I C O ]

EMPRESASPROCURAMMERCADOSPARA ESCOAR SACOSPLÁSTICOS

O receio de que a aplicação de uma taxa so-

bre a venda de sacos plásticos mais finos, que

entra em vigor dia 15, venha diminuir drasti-

camente o seu consumo, levou a Plasgal – Pro-

dução de Embalagens, em Leiria, a tomar a de-

cisão de entrar nos mercados espanhol e an-

golano. A Sacos 88 - Sociedade de Plásticos, em

Leiria, também vai procurar novos mercados

para escoar estes produtos.

Paulo Almeida, 43 anos, director-geral da

Plasgal, explica que esta alteração legislativa

trouxe novos desafios à empresa, cuja produ-

ção de sacos plásticos, manga plástica e filmes

flexíveis tem sido absorvida em 95% pelo mer-

cado interno. O imperativo de escoar a matéria-

-prima que vai deixar de ser utilizada em Por-

tugal vai obrigar a empresa a exportar. A in-

tenção é que, até ao final do ano, Espanha e An-

gola absorvam 25% da produção.

“O mercado nacional sempre foi um mer-

cado em crescendo, o que nos deixava com pou-

ca capacidade disponível para a exportação”, jus-

tifica Paulo Almeida. Não esconde, no entanto,

que os riscos e encargos com as operações lo-

gísticas e os combustíveis também contribuíram

para que não tenham dado esse passo antes.

“Devíamos penalizar a atitude das pessoas e não os sacos”

Com a aplicação da taxa sobre a venda de

sacos plásticos, o Governo pretende diminuir

estes resíduos no meio ambiente. Contudo, Pau-

lo Almeida contesta a rapidez com que este pro-

cesso foi tratado, que dificultou a adaptação das

empresas de produção de sacos. A Plasgal pre-

vê investir cerca de 500 mil de euros na aqui-

sição de equipamentos e readaptação dos

processos de fabrico a sacos reutilizáveis.

“Não sei qual vai ser o impacto da taxa no

meu negócio, se vou ter de diminuir a produ-

ção ou mandar pessoas embora”, afirma

Amaro Reis, director-geral da Sacos 88, que se

encontra na mesma situação. “Pedimos um pe-

ríodo de carência de seis meses e deram-nos

um mês. Devia ter sido dado tempo às indús-

trias para se reinventarem.”

No caso da Plásticos 88, Amaro Reis re-

vela que vão diversificar a área das embala-

gens para produtos alimentares, para a in-

dústria e exportar os sacos finos para outros

países, onde não exista esta lei. “Depois, o mi-

nistro do Ambiente ainda vai dizer que esta

medida contribuiu para as empresas expor-

tarem mais”, ironiza.

Amaro Reis defende que os sacos mais fi-

nos não têm o impacto negativo no ambien-

te que lhes está a ser atribuído pois são, ha-

bitualmente, reutilizados para depositar lixo

doméstico. Quanto aos sacos que são aban-

donados em feiras e mercados, a solução apon-

tada é simples: colocar no local contentores

para que possam ser reciclados. “Devíamos pe-

nalizar a atitude das pessoas e não os sacos.”

A Plasgal quer exportar 25% da produção para Espanha e Angola RICARDO GRAÇA

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[ 38 ] [ P L Á S T I C O ]

RICARDO GRAÇA A falta de técnicos qualificadosé uma das principais dificuldadesapontadas pelos industriais de plástico

A indústria de plásticos está a sentir difi-

culdades em encontrar técnicos qualificados para

exercer funções intermédias nas empresas,

problema que está a afectar o seu desenvolvi-

mento. Esta lacuna é apontada por diversos em-

presários que pedem uma maior aproximação

entre a indústria e as instituições de ensino.

“O sistema de ensino não está a produzir

pessoas especializadas. Não há formação su-

perior nem técnica adequadas”, afirma Jorge

Santos, 53 anos, director-geral da Vipex, na Ma-

rinha Grande. Para impedir que esta situação

continue a condicionar o desenvolvimento da in-

dústria, defende um “ajustamento dos progra-

mas dos cursos às necessidades das empresas”,

no qual todos devem ter uma participação ac-

tiva. “Há um grande avanço a fazer para pro-

mover a ligação entre as empresas e as escolas.”

Guida Figueiredo, 39 anos, administradora

do Grupo Carfi, com sede na Marinha Grande,

também considera que há um desajuste entre

aquilo que a indústria necessita e o que a esco-

la tem para oferecer, a nível técnico-profissio-

FALTA DE QUADROSINTERMÉDIOSPREJUDICA EMPRESAS

nal. Para ultrapassar este obstáculo, a empre-

sa tem recorrido à formação interna. “O co-

nhecimento tem de ser passado de geração em

geração, dos mais velhos para os mais novos.”

“A maior parte dosengenheiros quer umgabinete e umcomputador, enquanto naAlemanha um engenheiropensa primeiro em sujar as mãos e, só depois, no computador”

A empresária lamenta, por outro lado, que

exista falta de vontade de trabalhar, já que os

quadros intermédios se recusam a fazer turnos.

Este problema também é sentido por José

Monteiro, 57 anos, sócio-gerente da Simplastic,

na Batalha. “A maior parte dos engenheiros quer

um gabinete e um computador”, assegura.

“Enquanto na Alemanha, um engenheiro pen-

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[ 39 ][ P L Á S T I C O ]

sa primeiro em sujar as mãos e, só depois, no

computador.”

José Monteiro lamenta que tenham deixa-

do de existir cursos industriais, que podiam for-

mar recursos humanos qualificados para dar

resposta às necessidades das empresas. Apesar

de reconhecer a importância do Instituto Poli-

técnico de Leiria pela criação de cursos de en-

genharia, defende que faz falta formação in-

termédia. “Estão a encaminhar as pessoas todas

para as universidades, onde muitos cursos não

têm qualidade.”

A factura de electricidade também está a es-

trangular a actividade dos industriais de plás-

ticos. Os reflexos nos custo de produção são sig-

nificativos, o que retira vantagens competitivas

às fábricas que estão presentes nos mercados in-

ternacionais.

“Fabricamos energia noPaís e estamos a compraraos espanhóis 10 a 11% mais barata”

O sócio-gerente da Simplastic contesta,

sobretudo, a falta de qualidade do abastecimento

eléctrico, devido aos inúmeros cortes ao longo

do ano, que se traduzem em “custos brutais” para

as empresas. “A EDP não investe nesta região.

A liberalização do mercado é ironia e jogo po-

lítico”, denuncia. “Os empresários deviam pro-

cessar judicialmente a EDP pelos prejuízos que

lhes causam.”

Já Joaquim Matos, 82 anos, administrador da

Plimat, na Marinha Grande, lamenta ter de pa-

gar a energia mais cara do que os concorrentes

espanhóis ou franceses, e não poder fazer re-

flectir esse valor no produto final, já que, se as-

sim fosse, perderia os clientes.

Como o empresário é obrigado a vender os

produtos ao mesmo preço dos concorrentes, aca-

ba por ter de cortar na sua margem de lucro. Por

mês, a Plimat paga 38 mil euros, porque optou

por comprar a energia em Espanha. “Fabrica-

mos energia no País e estamos a comprar aos es-

panhóis 10 a 11% mais barata”, denuncia.

José Fróis, 60 anos, administrador da SIE –

Sociedade Internacional de Embalagens, em Lei-

ria, também mudou de fornecedor, para a Iber-

drola, para conseguir preços mais baixos e dei-

xar de ter tantos aumentos. O negócio foi, con-

tudo, mais além, já que também vende energia

à companhia espanhola.

“No ano passado, cobrimos o telhado do ar-

mazém com painéis fotovoltaicos para produ-

zirmos energia solar”, revela. Tendo em conta

que vende, em média, nove mil euros por mês,

prevê pagar o investimento em seis anos. “A par-

tir daí é lucro.” A factura da energia represen-

ta 10 a 15% do custo de produção da embalagem,

ou seja, 20 mil euros por mês.

Além destes entraves, Paulo Almeida, 43

anos, director-geral da Plasgal, em Leiria, refe-

re o incumprimento dos prazos de pagamento

do Estado (hospitais) e das autarquias. A pro-

pósito do Estado, Guida Figueiredo contesta o

valor da taxa de IRC. Como a Carfi também tem

uma fábrica na Polónia, onde esta taxa é mais

reduzida, incentiva os clientes a comprar lá, mas

nem sempre é bem sucedida. “Temos clientes na

Finlândia que querem ser fornecidos pela Car-

fi Portugal”, exemplifica, apesar de a unidade fa-

bril do leste da Europa estar mais próxima.

A administradora do Grupo Carfi lamenta,

por outro lado, a má imagem que os produtos

made in Portugal têm nos mercados externos. “Os

políticos e outras entidades não ajudam nada”,

lamenta. “Devíamos valorizar-nos mais. Quan-

do nos sentamos à mesa das reuniões, partimos

logo em desvantagem”, afirma.

“Devíamos valorizar-nosmais. Quando nossentamos à mesa dasreuniões, partimos logo em desvantagem por sermosportugueses”

José Monteiro defende ainda que era im-

portante Portugal ter uma boa ferrovia para o

transporte de mercadorias, investimento que te-

ria repercussões positivas ainda ao nível da si-

nistralidade. Ao nível dos transportes, João Re-

zola Clemente, administrador da Baquelite Liz,

acrescenta que o transporte por barco, os atra-

sos e as greves dos estivadores também causam

estrangulamentos às empresas. “Estamos a

equacionar deixar de exportar para a Tunísia de-

vido aos custos e ao tempo que demora o

transporte”, refere.

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[ 40 ] [ P L Á S T I C O ]

A indústria de Plásticos portuguesa não

escapou à crise económica europeia, que se

fez sentir, sobretudo, em 2012. Os indicadores

económicos dão sinais de recuperação em

2013, mas o embate sofrido no ano anterior

gerou um arrefecimento das trocas comerciais.

Se observarmos as exportações, dentro e

fora da União Europeia, de produtos em

plástico fabricados em Portugal, constatamos

que caíram em 2012, especialmente no que diz

respeito ao fabrico de componentes e aces-

sórios para veículos automóveis. Em 2013, os

resultados melhoraram, mas, neste subsector,

ainda estão longe dos obtidos em 2011.

A crise reflectiu-se ainda na diminuição

do número de empresas do sector, que pas-

sou de 1.097 para 1.055 de 2011 para 2012, e,

naturalmente, no número de trabalhadores.

Em 2011 havia 33.819 pessoas a trabalhar em

fábricas de Plástico e, no ano seguinte, 33.455.

Ou seja, o encerramento das 42 empresas ar-

rastou 364 pessoas para o desemprego.

Face a esta situação de crise na zona euro,

o volume de negócios da generalidade das

empresas que se manteve em actividade

também diminuiu, de 6.404 milhões em 2011

para 5.717 milhões de euros em 2012. Feitas

as contas, a facturação das 1.055 empresas

portuguesas desceu 11 por cento (687 milhões

de euros).

As 272 fábricas de componentes e aces-

sórios para a indústria automóvel foram as

que se ressentiram mais, já que se verificou

uma quebra do volume de negócios de 18 por

cento (383 milhões de euros) de um ano para

o outro. Apesar de só ter encerrado uma fá-

brica de matérias plásticas sob formas pri-

márias, as 64 que se mantiveram em activi-

dade em 2012 também reduziram drastica-

mente a sua facturação em 275 milhões de

euros. O impacto neste indicador económi-

co foi menos notório nos subsectores de fa-

brico de embalagens (menos 17 milhões de

euros) e de outros artigos de plástico (menos

11 milhões de euros).

CRISE NA EUROPAATINGE INDÚSTRIADE PLÁSTICOS

Quanto aos resultados líquidos, que

dão uma noção mais real da saúde finan-

ceira das empresas, verifica-se que a si-

tuação mais grave, vivida neste período, diz

respeito às fábricas de matérias plásticas

sob formas primárias, que já apresentavam

uma situação complicada em 2011 (-34 mi-

lhões de euros), que se agravou em 2012 (-

142 milhões de euros).

Os fabricantes de componentes e aces-

sórios para a indústria automóvel também se

ressentiram, ao passarem de resultados lí-

quidos de 69 milhões de euros em 2011 para

47 milhões de euros em 2012. Em contrapar-

tida, as empresas portuguesas dedicadas ao

fabrico de outros artigos de plástico e de em-

balagens de plástico melhoraram os seus re-

sultados, ao passarem de 23 para 24 milhões

de euros no primeiro caso e de sete para dez

milhões de euros no segundo.

RICARDO GRAÇA

História da Indústria_plasticos_18_48:Layout 1 09-02-2015 13:44 Página 40

Page 41: Plano Capa final 1:Apresentação 1 - Moulds and Plastics...brico de alpercatas, surgiu a primeira «fabri-queta» de plásticos em Leiria. A Nobre & Silva, por volta de 1936, di-versificava

[ 41 ][ P L Á S T I C O ]

Exportações (Intra + Extra UE)

Fabricação de outros componentes e acessórios para veículos automóveisFabricação de outros artigos de plástico, n.e.

Fabricação de embalagens de plásticoFabricação de matérias plásticas sob formas primárias

2012

2011 570

549

281 1.097

1.055

65 181

17064272

Fonte: GEE, com base nos dados das estatísticas do Comércio Internacional do INE (últimas versões disponíveis à data da publicação para o período considerado). Os dados do comércio intraco-munitário incluem estimativas para as não respostas assim como para as empresas que se encontram abaixo dos limiares de assimilação.

N.º de empresas

Volume de negócios (Milhões de euros)

Corresponde a 2.000 trabalhadores

2011

2012

33.819

33.455

N.º de trabalhadores

2011 2012 2013 Jan/Out Jan/Out2013 2014

Fabricação de outros artigos de plástico, n.e. 177 182 198 164 184Fabricação de outros componentes e acessórios 1.999 1.755 1.817 1.542 1.680para veículos automóveisFabricação de matérias plásticas sob formas primárias 690 739 794 667 729

Fabricação de embalagens de plástico 156 155 173 142 158

Fonte: Cálculos GEE, a partir de dados do Sistema de Contas Integradas, INE. Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia. Dados cedidos por Pólo de Competitividade e TecnologiaEngineering & Tooling

Importações (Intra + Extra UE)

Fonte: Fonte: GEE, com base nos dados das estatísticas do Comércio Internacional do INE (últimas versões disponíveis à data da publicação para o período considerado). Os dados do comércio in-tracomunitário incluem estimativas para as não respostas assim como para as empresas que se encontram abaixo dos limiares de assimilação.Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia. Dados cedidos por Pólo de Competitividade e Tecnologia Engineering & Tooling

2011 2012 2013 Jan/Out Jan/Out2013 2014

Fabricação de outros artigos de plástico, n.e. 118 117 132 111 128Fabricação de outros componentes e acessórios 2.341 2.069 2.027 1.694 1.788para veículos automóveisFabricação de matérias plásticas sob formas primárias 1.356 1.300 1.423 1.186 1.272

Fabricação de embalagens de plástico 186 168 177 147 161

Fabricação de outros componentes e acessórios para veículos automóvFabricação de outros artigos de plástico, n.e.

Fabricação de embalagens de plásticoFabricação de matérias plásticas sob formas primárias

20122011

885

3.406

1.520

5926.404

5.717

874

3.023

1.245

575

Resultado líquido (Milhões de euros)

Fabricação de outros componentes e acessórios para veículos automóveis

Fabricação de outros artigos de plástico, n.e.

Fabricação de embalagens de plásticoFabricação de matérias plásticas sob formas primárias

-150

-120

-90

-60

-30

030

60

90

20122011

69

237

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[ 42 ] [ P L Á S T I C O ]

Todos os alunos diplomados em Engenha-

ria de Polímeros têm emprego assegurado no fi-

nal do curso. A garantia é dada por Olga Sousa

Carneiro, directora do Departamento de Enge-

nharia de Polímeros (DEP) da Universidade do

Minho, que lamenta o aparente desinteresse pelo

curso, apesar da intensificação da divulgação.

“Invariavelmente, o número de ofertas de

emprego excede o número de recém-forma-

dos do Mestrado Integrado em Engenharia de

Polímeros (MIEPol)”, assegura Olga Carnei-

ro. Uma situação que se deve ao facto de ha-

ver poucos candidatos a optar por este curso

na primeira opção.

A directora do DEP explica que, hoje, a Uni-

versidade do Minho forma essencialmente

mestres em Engenharia de Polímeros, a uma taxa

média de 25 por ano. Desde 1977, o Departa-

mento de Engenharia de Polímeros já diplomou

mais de 600 estudantes na área de Ciência e En-

genharia de Polímeros, nos diferentes graus de

ensino.

O Departamento deEngenharia de Polímerossuporta o Instituto dePolímeros e Compósitos, quena última avaliação da FCTteve a classificação deExcepcional

Os Cursos de Formação Especializada (CFE)

fazem parte da oferta formativa desde 2007, a par

do mestrado em Propriedades e Tecnologia de

Polímeros. Destinados a candidatos que não têm

formação de base em Engenharia de Polímeros,

funcionam como a parte escolar de referido mes-

trado, em regime de b-learning.

PROCURADE ENGENHEIROSDE POLÍMEROSÉ SUPERIORÀ OFERTA

O DEP teve a sua origem na licenciatura em

Engenharia de Produção – ramo de Transfor-

mação de Matérias Plásticas, em 1977, em re-

sultado do desafio lançado à Universidade do

Minho, quase dois anos antes, pela então Se-

cretária de Estado da Indústria Pesada. A in-

tenção da governante era criar um curso capaz

de formar técnicos de nível universitário aptos

a responder às necessidades do sector.

Em resultado de um amplo debate entre in-

dustriais do sector dos plásticos e dos moldes,

foi reconhecido o papel essencial da inovação

e do desenvolvimento tecnológico para o futu-

ro do sector, pelo que, em 2001, foi criado o Pólo

de Inovação em Engenharia de Polímeros

(PIEP), na Universidade do Minho, que cons-

titui o principal veículo de interacção do DEP

com a indústria.

“Ainda nesta área de I&DT+i, o Departa-

mento de Engenharia de Polímeros suporta o

Instituto de Polímeros e Compósitos, o qual in-

tegra o I3N, Laboratório Associado da Funda-

ção para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que na

última avaliação realizada pela FCT, em De-

zembro de 2014, teve a classificação de Excep-

cional”, revela.

Estas duas instituições, juntamente com o

PIEP, desenvolveram projetos de I&DT+I, em

2014, com um valor global superior a 15 milhões

A Universidade do Minho é aúnica instituição do ensinosuperior a ministrar formaçãoespecífica na área da Engenhariade Polímeros. DR

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[ 43 ][ P L Á S T I C O ]

de euros, na área da Ciência e Engenharia de Po-

límeros.

A Universidade do Minho integra ou cola-

bora ainda com várias entidades e associações

empresariais, sobretudo da Marinha Grande,

como a Pool-net, a Open, o Centimfe e a Cefa-

mol, bem como a Associação Portuguesa da In-

dústria de Plásticos (APIP).

O distrito de Leiriacontinua a ser o baricentronacional da indústria dos plásticos e moldes

Olga Carneiro revela que os projetos de

I&DT+i desenvolvidos em colaboração com

empresas da região de Leiria constituem uma

parcela relevante. Entre eles, destaca o Prémio

Iberomoldes, atribuído ao melhor aluno de

Engenharia de Polímeros em disciplinas de Pro-

jeto de Peças e Moldes, que constitui o mais an-

tigo prémio da Universidade do Minho.

“A origem e a história desta indústria con-

vergem para o distrito de Leiria, e em particular

para a Marinha Grande, que continua a ser o ba-

ricentro nacional da indústria dos plásticos e mol-

des”, refere a directora do DEP. “Não é por aca-

so que os industriais deste sector investem con-

tinuamente em novas tecnologias e na formação

dos recursos humanos, conseguindo assim criar

uma indústria que, do ponto de vista tecnológi-

co, é uma das mais avançadas do País.”

Para Olga Carneiro, as universidades por-

tuguesas terão também um papel importante no

futuro deste sector industrial ao formarem pro-

fissionais e ao deterem conhecimento especia-

lizado nestes materiais, nos processos de fabri-

co a eles associados e no design de produtos.

“Por esta razão, a Universidade do Minho

oferece ainda dois projetos de ensino voca-

cionados para o desenvolvimento de produtos

com forte incorporação de materiais plásticos,

nomeadamente o Mestrado em Engenharia do

Produto e a Licenciatura em Design do Pro-

duto”, justifica. Isto além de Mestrados Inte-

grados em Engenharia de Materiais e em En-

genharia Biomédica.

O primeiro mestrado em Engenharia de Po-

límeros foi criado, em 1997, pelo Departamento

de Engenharia de Polímeros da Universidade do

Minho na Marinha Grande, em articulação com

o Centimfe, revela Olga Carneiro. Com um ca-

rácter inovador, funcionava em regime intensivo

aos fins-de-semana.

Dois anos mais tarde, entrou em funciona-

mento na delegação de Oliveira de Azeméis do

Centimfe o mestrado em Projecto e Fabrico de

Moldes, que também decorria aos fins-de-

-semana. “Estes projetos de ensino tiveram o apoio

do Ministério da Ciência e Tecnologia, através da

Agência de Inovação, e foram considerados

como paradigmas de promoção de competências

da engenharia nacional em sectores estratégicos”,

assegura.

Rui Tocha, director-geral do Centimfe,

acrescenta que o mestrado em Engenharia de Po-

PRIMEIROMESTRADO NASCEUNA MARINHA GRANDE

límeros resultou do primeiro encontro entre as in-

dústrias de plásticos e moldes, no final dos anos

90, no Luso. “Foi o primeiro mestrado europeu fora

da universidade para técnicos da indústria e tinha

como objectivo a realização de teses que traba-

lhassem desafios da indústria a nível nacional.”

O director-geral do Centimfe garante que este

mestrado alavancou vários projectos de investi-

gação e, mais tarde, doutoramentos e permitiu um

upgradede conhecimentos técnicos da indústria de

todo o País. “aulas eram abertas à comunidade in-

dustrial, permitindo a discussão alargada de te-

mas de interesse da Indústria.”

As seis edições envolveram 79 estudantes e 64

teses sobre a indústria e mais de 21 publicações,

que permitiram consolidar o modelo e criar o novo

mestrado, com o mesmo modelo em Projeto e Fa-

brico de Moldes. “O Centimfe reforçou, assim, as

acções de formação com a indústria de plásticos,

sobre injecção de plásticos, cujos conteúdos foram

sendo desenhados com os empresários e eram le-

cionados, muitas vezes em articulação com técnicos

da própria indústria”, revela. Estas acções de for-

mação ainda hoje são das mais procuradas.

RICARDO GRAÇA

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[ 44 ] [ P L Á S T I C O ]

RICARDO GRAÇA O Centimfe e o PIEP são doiscentros de investigaçãotecnológica criados para darrespostas às necessidades da indústria dos plásticos

Um vestido tecnológico para a estilista Fá-

tima Lopes, um copo de vinho do Porto com a as-

sinatura de Álvaro Siza Vieira, um carrinho para

crianças com paralisias motoras graves e o pro-

totipo de carro de supermercado para pessoas

com mobilidade reduzida que segue a cadeira de

rodas. Estes são apenas quatro exemplos de pro-

dutos desenvolvidos por empresas com o apoio

do Centimfe – Centro Tecnológico da Indústria

de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos,

constituído em 1991 na Marinha Grande.

“Temos tido vários projectos nacionais e in-

ternacionais em parceria com empresas, centros

de investigação e universidades que procuram

responder a desafios tecnológicos das empresas”,

afirma Rui Tocha, 47 anos, director-geral. Pro-

jectos nos domínios das pequenas séries, moni-

torização de processo de injecção, micro-inje-

ção/micro-fabricação e injeção bi-material.

CENTROSTECNOLÓGICOSAPOIAMDESENVOLVIMENTODE PRODUTOS

Rui Tocha esclarece que estas parcerias “en-

volvem desafios actuais e futuros da indústria,

como o ecodesign, a utilização de in-mould-

-technologies, a qualidade e manipulação de su-

perfícies, o alto-brilho, a manipulação e vali-

dação dos processos de injecção, bem como in-

jecção de produtos, formação técnica e apoio aos

sistemas de gestão”.

O director-geral do Centimfe acrescenta que

o centro tecnológico tem ainda competências de

suporte às empresas nos domínios da auto-

mação e desenvolvimento de equipamentos de

suporte à produção, sobretudo nos domínios da

injecção.

A nível europeu, o Centimfe trabalha com

a Comissão Europeia na coordenação da Eu-

ropean Tooling Platform, na dinamização de pro-

gramas de I&D+i (Investigação, Desenvolvi-

mento e inovação), tendo por base as necessi-

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[ 45 ][ P L Á S T I C O ]

CENTIMFE

dades das indústrias de tooling e plásticos.

Nesse sentido, participa na defesa das áreas de

investigação e de inovação de interesse para as

indústrias de plásticos e de moldes e procura que

os programas europeus reflictam temas de in-

teresse destas indústrias.

O Centimfe trabalha com a Comissão Europeia na coordenação daEuropean Tooling Platform,na dinamização deprogramas de I&D+i

A cooperação entre o Centimfe e as em-

presas de plásticos passa ainda pela disponibi-

lização de laboratórios que prestam serviços de

calibração dos equipamentos de medida e de ba-

lanças. Rui Tocha acrescenta ainda a preocu-

pação em combater a falta de quadros e de téc-

nicos para a indústria, através do programa Pen-

se indústria, que procura motivar os jovens para

as profissões da indústria.

“O Centimfe oferece um conjunto de ser-

viços diferenciados e capacidade para desen-

volver projectos de investigação e inovação com

as empresas, contribuindo para resolução de

problemas, e para o incremento de conheci-

mento”, garante o director-geral.

Constituído cerca de dez anos depois do

Centimfe, o Pólo de Inovação em Engenharia de

Polímeros (PIEP) localiza-se na Universidade do

Minho, em Guimarães. Vocacionado para 'Con-

verter ideias em produtos', o PIEP desenvolve

a sua actividade em sectores de aplicação da en-

genharia de polímeros, como aeronáutica e de-

fesa, ambiente e energia, automóvel, construção

civil, embalagem, equipamentos eléctricos e

electrónicos e saúde/dispositivos médicos.

O PIEP presta ainda serviços de ensaios de

controlo de qualidade e diagnóstico de falhas, es-

tudos tecnológicos, consultoria e formação de re-

cursos humanos. Está ainda envolvido no de-

senvolvimento de projectos com empresas de vá-

rios países europeus, Brasil, Canadá e EUA. Ac-

tualmente, os investigadores do PIEP, juntamente

com a Universidade do Minho e outros parcei-

ros, são responsáveis por 25 projectos de I&DT

[Investigação e Desenvolvimento Tecnológico],

no valor de cerca de 4.5 milhões de euros.

Rui Magalhães, 42 anos, director-geral do

PIEP, acrescenta que, na vertente da composi-

ção de novos materiais, foram contratualizados

projectos de desenvolvimento com multinacio-

nais como Arkema, Borealis, Repsol e Shell. “O

PIEP tem sido responsável pelo desenvolvimento

de materiais ecológicos/verdes e pela sua vali-

dação para sectores tão exigentes como a in-

dústria automóvel.” Os investigadores do PIEP

estão envolvidos em 25 projectos de I&DT, no va-

lor de cerca de 4.5 milhões de euros

“No domínio da engenharia de produto, além

de uma significativa participação no conhecido

caso de sucesso da garrafa “Pluma”, destacam-

-se projectos de desenvolvimento de compo-

nentes híbridos metal-plástico para o sector au-

tomóvel”, afirma Rui Magalhães. Está ainda en-

volvido no desenvolvimento de componentes es-

truturais para ferrovia de alta velocidade e

construção de estruturas compósitas para o pri-

meiro veículo aéreo não tripulado português.

Quanto ao futuro, Rui Magalhães conside-

ra que para as empresas serem competitivas têm

de continuar a investir em tecnologia, inovar e

gerar produtos ou serviços de valor acrescenta-

do que lhes permitam ter um posicionamento de

destaque na cadeia de valor. “A tudo isto, deve ser

igualmente considerado como factor de aposta,

o investimento na formação especializada de re-

cursos humanos.”

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[ 46 ] [ P L Á S T I C O ]

A economia do plás-

tico e o plástico vão conti-

nuar a ter grande impac-

to e presença na vida de

cada um de nós. Enquan-

to existir humanidade irá

existir plástico. Para po-

dermos afirmar isto, temos de ter duas reflexões

em mente: 1) os plásticos de hoje não vão ser os

plásticos do amanhã 2) quais são os fatores crí-

ticos de sucesso e, por consequência, da longevi-

dade dos plásticos? O primeiro grande desafio é

cortar o cordão umbilical com o ouro negro, com

a reinvenção dos plásticos e novos métodos de sin-

tetização. É um processo que já começou com os

materiais biodegradáveis. Os plásticos no futuro

irão derivar para dois grandes grupos: os de ex-

celente relação propriedades/custo e os de ex-

celentes propriedades para utilizações mais no-

bres, como a biotecnologia. É importante que os

plásticos intensifiquem a relação com outros ma-

teriais, como o metal, madeira e cortiça, e com as

universidades. Só assim é possível saber para onde

direccionar os investimentos, como valorizar os

recursos humanos.

Paulo Valinha, Tecfil, Marinha Grande

A indústria dos plásticos

depende de dois factores

externos, que nenhuma

empresa consegue con-

trolar: O preço do petróleo

e os custos energéticos.

Considerando a instabili-

dade que se vive em zonas do globo onde esta ma-

téria-prima é abundante, torna-se difícil garan-

tir a estabilidade de preços por um longo perío-

do de tempo. Por outro lado, os empresários por-

tugueses pagam a energia e os combustíveis en-

tre os mais caros da Europa, o que nada contri-

bui para a competitividade do produto final. O fu-

turo do sector fica, assim, entregue à capacidade

de inovação das empresas, de estarem tecnolo-

gicamente actualizadas e à “coragem” de ser

empresário num país como Portugal.

Edgar Wilson, Promoplas, Marinha Grande

Vejo com alguma apreen-

são, como a generalidade

dos outros sectores. Con-

tudo, não deixo de estar

optimista quanto ao futu-

ro da embalagem plástica,

uma vez que continua a

assistir-se à transferência de embalagens de ou-

tros materiais para o plástico. A exportação é cada

vez mais um dos vectores de grande desenvolvi-

mento deste sector, sobretudo para as embalagens

de menor dimensão.

Carlos Silva, Espaçoplás, Marinha Grande

Os polímeros são mate-

riais de grande versatili-

dade e facilidade de pro-

cessamento. Não há ne-

nhuma alternativa sem

grandes custos energéti-

cos e, consequentemen-

te, ambientais. É o paradoxo dos plásticos. Por

tudo isto, e quer se goste ou não, os plásticos

vieram para ficar e a sua indústria também.

Existirão novos enquadramentos normativos

para a sua utilização no futuro que vão obri-

gar a indústria a adaptações. No entanto,

caso não existam alterações súbitas na geo-

política e na macroeconomia mundial e com

a recente adoção de uma política europeia

mais favorável ao consumo e a cotação das ma-

térias primas em baixa, o futuro parece pro-

missor.

Pedro Colaço, KLC, Marinha Grande

OPINIÃO

COMO VÊ O FUTURO DA

INDÚSTRIA DO PLÁSTICO?

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