PLANO DE INTERVENÇÃO PARA PREVENIR DOENÇA RENAL … · Com base nestes conceitos, este trabalho...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMILIA DAVID PAZ LINO PLANO DE INTERVENÇÃO PARA PREVENIR DOENÇA RENAL CRÔNICA EM PACIENTES HIPERTENSOS DO CENTRO DE SAÚDE VILA CEMIG, EM BELO HORIZONTE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE MINAS GERAIS 2016

Transcript of PLANO DE INTERVENÇÃO PARA PREVENIR DOENÇA RENAL … · Com base nestes conceitos, este trabalho...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    CURSO DE ESPECIALIZAO ESTRATGIA SADE DA FAMILIA

    DAVID PAZ LINO

    PLANO DE INTERVENO PARA PREVENIR DOENA RENAL

    CRNICA EM PACIENTES HIPERTENSOS DO CENTRO DE SADE

    VILA CEMIG, EM BELO HORIZONTE MINAS GERAIS

    BELO HORIZONTE MINAS GERAIS

    2016

  • DAVID PAZ LINO

    PLANO DE INTERVENO PARA PREVENIR DOENA RENAL

    CRNICA EM PACIENTES HIPERTENSOS DO CENTRO DE SADE

    VILA CEMIG, EM BELO HORIZONTE MINAS GERAIS

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Especializao Estratgia Sade da Famlia, Universidade Federal de Minas Gerais, para obteno do Certificado de Especialista. Orientadora: Juliana Dias Pereira dos Santos

    BELO HORIZONTE MINAS GERAIS

    2016

  • DAVID PAZ LINO

    PLANO DE INTERVENO PARA PREVENIR DOENA RENAL

    CRNICA EM PACIENTES HIPERTENSOS DO CENTRO DE SADE

    VILA CEMIG, EM BELO HORIZONTE MINAS GERAIS

    .

    Banca examinadora

    Juliana Dias Pereira dos Santos- orientadora

    Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete UFMG

    Aprovada em Belo Horizonte, em 19/10/2016

  • Dedico este trabalho a Deus que em todo momento me

    d foras e sabedoria para continuar alcanando

    minhas metas propostas.

    Minha me que me deu exemplos de honestidade,

    trabalho e dedicao.

    Meu pai que sem sossego trabalhou humildemente a

    vida toda para alimentar minha famlia, me dar a

    vestimenta e educao.

    Da mesma forma a toda minha famlia irmos e irms

    que sempre foram meus exemplos de coragem e

    determinao.

  • AGRADECIMENTOS

    Expresso meu agradecimento: em primeiro lugar a Deus por estar sempre no meu

    lado me acompanhando e guiando dia e noite em cada passo e deciso tomada.

    A minha amada me Irene Lino Gutierrez que com seu exemplo de dedicao,

    trabalho e humildade adquiriram todos os valores ticos positivos que hoje esto me

    ajudando a conquistar meus objetivos.

    Meu pai Roger Paz Antelo que sem sossego trabalhou e se esforou a vida toda

    para manter a sua famlia e d-lhes as necessidades bsicas como exemplo de

    cabea da famlia.

    Da mesma forma agradeo aos meus professores, Arnaldo Velsquez Pena, Yadian

    Santiestevan e Gabriel Tamayo que com seus conhecimentos e experincia me

    formaram e me ensinaram rigorosamente fazendo que cada ano na carreira seja um

    desafio muito bem aproveitado e ao mesmo tempo me ensinado o valor da

    humanidade, desinteresse econmico e ajuda s pessoas que verdadeiramente

    precisam de ateno mdica.

  • RESUMO

    A hipertenso arterial sistmica uma das principais causas de consulta em servios de ateno primaria sade. A mudana no estilo de vida parte fundamental na preveno e no tratamento da hipertenso arterial sistmica. A avaliao do risco cardiovascular uma ferramenta importante na definio de metas e na instituio do tratamento. Pessoas com risco cardiovascular alto necessitam de intervenes mais agressivas e precoces. A doena renal crnica provoca grandes custos econmicos tanto para os servios de sade pblicos quanto para o paciente, diminuindo a qualidade de vida do mesmo e obrigando-o a utilizar os servios de hemodilise pelo resto da vida ou at conseguir uma doao renal. Com base nestes conceitos, este trabalho objetivou propor um plano de interveno com vistas reduo da incidncia de pacientes portadores de doena renal crnica intervindo nos fatores de risco, comorbidades e, principalmente, na doena arterial hipertensiva. Para fundamentar o plano foi realizada pesquisa por meio de busca digital nas bases de dados da SciELO com os descritores: Insuficincia Renal Crnica, Dilise Renal e Terapia de Substituio Renal e dados estatsticos dos pacientes cadastrados na Unidade Bsica de Sade . Pretende-se que esse estudo contribua para que os profissionais possam explicar de forma clara e detalhada sobre a hipertenso e seus riscos, enfatizar os objetivos do tratamento e a meta pressrica, esclarecer dvidas com o paciente, discutir as expectativas e construir junto ao indivduo, um plano teraputico factvel de forma a contribuir para o sucesso teraputico.

    Palavras-chave: Hipertenso. Insuficincia Renal Crnica. Dilise Renal. Terapia de

    Substituio Renal

  • ABSTRACT

    Hypertension is one of the biggest causes of consultation in primary care health services. The change in lifestyle is a fundamental part in the prevention and treatment of systemic artery hypertension. The assessment of cardiovascular risk is an important tool in setting goals and institution of treatment. People with high cardiovascular risk require more aggressive and early intervention. Chronic kidney disease causes large economic costs for both public health services and for the patient, reducing the quality of life of the same and forcing to use hemodialysis services for life or until a kidney donation. Based on these concepts, this work deals with hypertension in the Health Center Vila Cemig in view of the large number of patients without pressure control. The silent nature of the disease and the fact often be asymptomatic which suggests that the patient is not sick adopting harmful lifestyles that, over the years, leaving irreversible consequences. Similarly happens with the patient already diagnosed to know the severity of the disease and does not continue the treatment prescribed nor the guidelines and changes in lifestyle that the provider offers. This study was conducted obtaining scientific data through digital search in the databases SCIELO (Scientific Electronic Library), Up-to-date, health portal (saude.gov.br), statistical data of patients registered at Health Center. The main objective is the reduction of sequels that hypertensive disease causes, addressing chronic kidney disease as a major complication of hypertension. It is intended that this study will contribute to the professionals to explain clearly and in detail on hypertension and its risks, emphasize the goals of treatment and the BP goal, answer questions with the patient, discuss the expectations and build with the individual, a feasible treatment plan in order to contribute to the therapeutic success.

    Keywords: Hypertension. Chronic kidney disease. Renal dialysis. Renal

    replacement therapy.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLA

    APS Ateno Primria Sade

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    AVE Acidente Vascular Enceflico

    BVS/MS Biblioteca Virtual em Sade

    CCA Condies Clnicas Associadas

    CEMIG Companhia Energtica de Minas Gerais

    DCNT Doenas Crnicas no Transmissveis

    DCV Doenas Cardiovasculares

    DOQI Disease Outcome Quality Initiative

    DRC Doena Renal Crnica

    DRET Doena Renal Crnica em Estgio Terminal

    EAS Exame Sumrio de Urina

    ELAM Escola Latino Americana de Medicina

    ERAA Eixo Renina-Angiotensina-Aldosterona

    ESF Equipe de Sade da Famlia

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    IAM Infarto Agudo do Miocrdio

    IMC ndice de Massa Corporal

    LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe em Cincias da Sade

    LOA Leses de rgo-Alvo

    MEV Mudanas no Estilo de Vida

    MS Ministrio da Sade

    NESCON Ncleo de Educao em Sade Coletiva

    NHANES National Health and Nutrition Examination Survey

    NKF National Kidney Foundation

    RAC Relao Albuminria Creatininria

    SMSA/BH Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte

    SUS Sistema nico de Sade

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

    TFG Taxa de Filtrao Glomerular

    TGI Trato Gastrointestinal

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1 Classificao de Hipertenso Arterial Sistmica .................................... 19

    Quadro 2 Fatores de Risco para doenas cardiovasculares .................................. 20

    Figura 1 Medicamentos disponveis no Rename 2013 ........................................... 23

    Figura 2 Sistema renal ........................................................................................... 24

    Tabela 1 Prevalncia de excesso de peso na populao de estudo de 15 anos

    ou mais, por escolaridade .................................................................... 26

    Tabela 2 Estadiamento da doena renal crnica pelo KDOQI e atualizado pelo

    National Collaborating Centre for Chronic Condition ............................ 32

    Quadro 3 Leses de rgo-alvo e condies clnicas associadas ......................... 40

    Quadro 4 Estratificao de risco cardiovascular global.......................................41

    Grfico 2 Regies do Brasil com os maiores e menores consumo

    de tabaco

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 11

    2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 15

    3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 16

    1.2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 16

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ................................................................................. 16

    4 ABORDAGEM METODOLGICA ......................................................................... 17

    5 REVISO DA LITERATURA ................................................................................ 18

    5.1 CONCEITUANDO HIPERTENSO ARTERIAL SISTMICA (HAS) .................................. 18

    5.1.1 Hipertenso Arterial Sistmica (HAS) ........................................................ 18

    5.1.2 Classificao da Hipertenso Arterial Sistmica ........................................ 18

    5.1.3 Tratamento da Hipertenso Arterial Sistmica ......................................... 20

    5.1.3.1 Tratamentos no medicamentosos ......................................................... 20

    5.1.3.2 Tratamentos medicamentosos ................................................................ 22

    5.2. CONCEITUANDO DOENA RENAL CRNICA .......................................................... 24

    5.2.1 Sistema Renal ........................................................................................... 24

    5.2.3. Classificao e Estgios da Doena Renal Crnica ................................. 25

    5.2.4 Avaliao da Taxa de Filtrao Glomerular (TFG)..................................... 31

    5.2.6 Insuficincias Renais ................................................................................. 32

    5.2.6.1 Sintomas ................................................................................................. 33

    5.2.6.2 Tratamento conservador ......................................................................... 33

    5.2.6.3 Preveno ............................................................................................... 33

    5.2.7 Nefrologia .................................................................................................. 35

    5.2.8 Doenas Crnicas No Transmissveis (DCNT) e seus fatores de risco ... 35

    5.2.8.1 Excesso de peso..................................................................................... 36

    5.2.8.2. Consumo de tabaco ............................................................................... 38

    5. 2.8.3. Inatividade fsica ................................................................................... 39

    5.2.9 Risco Cardiovascular Global ...................................................................... 40

    6 PLANO DE INTERVENO...................................................................................44

    7 CONCLUSES FINAIS ......................................................................................... 48

    REFERNCIAS ........................................................................................................ 49

    ANEXO ...................... ............................................................................................... 53

  • 11

    1 INTRODUO

    Formado h dois anos na Escola Latino Americana de Medicina (ELAM) na

    cidade de Holgun-Cuba, natural de Santa Cruz de La Sierra Bolvia, trabalhei

    durante seis meses na ateno primria sade numa regio rural do interior da

    minha cidade.

    Atravs da experincia mdica no Programa mais Mdicos do Brasil, na

    cidade de Belo Horizonte, tive a oportunidade de ingressar no Programa de

    Especializao em Sade da Famlia (CEESF) promovido pelo Ncleo de Educao

    em Sade Coletiva ( NESCON) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal

    de Minas Gerais (UFMG). Esse curso oferece aos profissionais formados em

    medicina a continuidade de conhecimentos se especializando, que uma forma

    didtica e prtica de conhecer e aprofundar-se em temas importantes para a

    Estratgia Sade da Famlia.

    Trabalhando cotidianamente h pouco mais de um ano na comunidade Vila

    Cemig e na unidade bsica, formei, em conjunto com meus colegas, uma equipe. No

    local, a partir do diagnstico situacional elaborado como atividade do Mdulo de

    Planejamento e avaliao de aes em sade (CAMPOS: FARIA: SANTOS, 2010)

    reparou-se que existe um nmero elevado de pacientes hipertensos e foi

    considerado prioritrio abordar o tema insuficincia renal crnica como principal

    complicao da doena hipertensiva. A equipe percebeu que existe uma

    desinformao e desinteresse por uma grande parte dos pacientes em controlar

    essa doena que ameaa lentamente a sade, provocando danos irreversveis nos

    diferentes sistemas e rgos.

    Assim, decidi fazer o Trabalho de Concluso de Curso (TCC) fazendo uma

    sntese de pesquisas relacionadas ao tema e uma reviso bibliogrfica, focalizando

    estudos com enfoque na complicao renal, fato que leva todos os anos a aumentar

    as taxas incidncia de pacientes em hemodilise diminuindo a qualidade de vida dos

    indivduos.

    A Estratgia Sade da Famlia tem como objetivo principal abordar a doena

    hipertensiva e mant-la controlada e compensada na ateno primria, fazendo

    acompanhamento e dando continuidade ao tratamento do indivduo , englobando

  • 12

    todas suas comorbidades, detectando fatores de risco e fazendo preveno de

    agravos, praticando os princpios de universalidade e integralidade em sade.

    A Hipertenso Arterial Sistmica (HAS) um problema que atinge um nmero

    elevado de pacientes diabticos, obesos, fumantes e sedentrios, sendo estes os

    principais fatores de risco da doena. Mudanas nos fatores de risco j

    mencionados so aspectos essenciais para manter controlada a doena e o

    seguimento rigoroso das orientaes especialmente enfocadas no aspecto diettico,

    atividade fsica regular, abandono/diminuio do tabagismo, abandono/diminuio

    do consumo de lcool e perda de peso so fatores fundamentais para manter os

    alvos pressricos desejveis evitando futuras complicaes. ( ITEMAR, 2011)

    O fato de a hiperteso arterial ser freqentemente assintomtica pode

    prejudicar a deteco da doena por parte da pessoa, ou seja, a pessoa geralmente

    no se sente doente. Isso pode dificultar a adoo de mudanas no estilo de vida e

    o uso regular das medicaes, uma vez que a pessoa pode encontrar dificuldades

    em modificar seus hbitos sem perceber um benefcio concreto como alivio de

    sintomas. Explicar de forma clara e detalhada, sobre a hipertenso e seus riscos,

    enfatizar os objetivos do tratamento e a meta pressrica, esclarecer dvidas e

    construir junto ao paciente um plano teraputico factvel so aes que podem

    contribuir para o sucesso teraputico.

    Pela natureza assintomtica desta doena, parte da populao hipertensa

    no diagnosticada at apresentar seu primeiro evento cardiovascular- geralmente

    um AVE isqumico. Isso nos mostra a natureza traioeira da doena que transforma

    a mesma em um grande problema de sade pblica. A HAS

    [...] um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenas cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo responsvel por pelo menos 40% das mortes por Acidente Vascular Cerebral, por 25% das mortes por doena arterial coronariana e, em combinao com o diabetes por 50% dos casos de insuficincia renal terminal ( BRASIL,2006, p.9).

    No Centro de Sade Vila Cemig, assume-se a responsabilidade de 299

    pacientes hipertensos que fazem tratamento e esto sob controle clinico e

    laboratorial por parte na equipe da qual fao parte. Muitos desses pacientes sofrem

    de outras doenas e comorbidades que, acrescentado a HAS, piora o prognstico e

    tratamento.

  • 13

    Percebe-se que alm dos pacientes j diagnosticados, outro nmero

    considervel est prestes a padecer dessas doenas, j que este grupo de pessoas

    at o momento saudveis, adquiriu ao longo do tempo fatores de risco, na maioria

    modificveis como a obesidade, sedentarismo, tabagismo, alto consumo de sdio e

    colesterol.

    Uma porcentagem menor de pacientes sofre de descompensaes agudas e

    transitrias da doena produto do mau controle medicamentoso e irregularidade do

    acompanhamento na ateno primria.

    O fato do desconhecimento por parte do paciente, o descontrole metablico,

    acompanhamento e seguimento irregulares das doenas e fatores de risco, motivou-

    se a intervir e atuar neste problema que afeta a comunidade.

    Adotar estilos de vida saudveis e dar continuidade ao acompanhamento das

    doenas e comorbidades fundamental para diminuir as crises de

    descompensaes agudas e evitar a evoluo at doena renal crnica e/ou

    insuficincia renal, alm de melhorar a qualidade de vida destas pessoas.

    Assim, por meio deste trabalho busca-se contribuir para o retardo da

    progresso at a doena renal crnica em estdios avanados em trs tipos

    especiais de populao alvo. Para isso, houve abordagem com suas respectivas

    aes especficas sob cada grupo populacional, tais como:: pacientes com fatores

    de risco para HAS (obesidade, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo) com aes

    puramente preventivas e orientadoras, pacientes portadores da doena arterial

    hipertensiva com aes de acompanhamento e seguimento dando continuidade

    doena e outras comorbidades que poderiam levar a doena renal crnica e, no

    ltimo caso, o paciente j portador de algum grau de nefropatia fazendo um

    acompanhamento especializado evitando a progresso at etapas mais avanadas

    da doena como o caso da insuficincia renal em estdio terminal e necessidade de

    terapia de substituio renal.

    A quantidade de pacientes com doena renal crnica pequena em

    comparao com outras doenas crnicas no transmissveis, porm a qualidade de

    vida do portador de tal doena se v afetada e diminuda de forma importante, uma

    vez que o paciente passa a depender de programas de dilise e hemodilise para o

    resto da vida.

  • 14

    A equipe concordou em fazer a abordagem do tema e chegamos concluso

    de que no uma tarefa fcil, pois se trata de uma populao carente de recursos

    econmicos, alguns deles so idosos e moram sozinhos ou com o parceiro. A

    maioria no faz o seguimento regular na unidade, o que dificulta fazer o controle e

    orientaes em relao ao tratamento e mudanas no estilo de vida, isso muito

    importante para manter compensada a doena e assim evitar danos sade do

    paciente.

  • 15

    2 JUSTIFICATIVA

    Durante a realizao de trabalho como mdico da Equipe de Sade da

    Famlia no Centro de Sade da Vila Cemig, localizada na regio do Barreiro,

    reparou-se uma grande quantidade de indivduos saudveis, porm, com muitos

    fatores de risco para adquirir a doena arterial hipertensiva, alm dos j

    diagnosticados no fazendo um controle e acompanhamento rotineiro da doena. A

    equipe preocupou-se com o prejuzo em longo prazo e a perda de qualidade de vida

    destas pessoas, provocando descompensaes e, no pior dos casos, sequelas

    duradouras e/ou irreversveis para as pessoas.

    Este estudo tem importncia no mbito da sade pblica, por se tratar de um

    problema presente em nossa populao, que so as doenas cardiovasculares,

    principalmente entre as pessoas com poder aquisitivo menor . Na atualidade o que

    se destaca a ateno bsica, seja ela como a primeira opo de atendimento ou,

    em outras palavras, a porta de entrada dos servios de sade, atuando na

    conduo, preveno, recuperao e reabilitao da sade.

    A prevalncia da hipertenso arterial como fator de risco para doena renal

    crnica tende a aumentar como decorrncia do envelhecimento da populao

    brasileira, tornando um problema de sade pblica a nvel nacional.

    Os profissionais que atuam na ateno primria do Centro de Sade Vila

    Cemig esto diretamente envolvidos com as aes que visam reduzir danos sade

    da populao local, atravs de registros, podemos afirmar se possvel ou no

    alcanar as metas preconizadas pelo programa de hipertenso arterial e doena

    renal crnica no setor pblico.

    Ressalta-se que todo este contexto caracteriza-se um verdadeiro desafio para

    equipe de sade do Centro de Sade Vila Cemig, pois, so situaes que

    necessitam de intervenes imediatas e acompanhamento constante pela sua alta

    prevalncia e pelo grau de incapacidade que provocam. No cotidiano, o que se quer

    ateno especial e investimentos na rea da sade pblica, na preveno,

    diminuindo as taxas de internaes hospitalares e investimentos na rea curativa,

    pois precisamos, como profissionais de sade, nos envolver nesse desafio e ser

    agentes de transformaes na rea da sade.

  • 16

    3 OBJETIVOS

    3.1 Objetivo geral

    Propor um plano de interveno com vistas reduo da incidncia de

    pacientes portadores de doena renal crnica intervindo nos fatores de risco,

    comorbidades e, principalmente, na doena arterial hipertensiva.

    3.2 Objetivos Especficos

    Identificar os fatores determinantes para a evoluo at a doena renal

    crnica nos pacientes portadores de HAS na rea de abrangncia da Equipe de

    Sade da Famlia nmero trs (ESF3) do Centro de Sade Vila Cemig.

    Definir planos e estratgias nos indivduos com fatores de risco, indivduos

    portadores de HAS e indivduos com doena renal crnica para evitar a progresso

    at doena renal em estdio terminal.

    Aplicar medidas de controle e acompanhamento contnuo de todos os

    pacientes com fatores de risco e portadores de HAS.

  • 17

    4 ABORDAGEM METODOLGICA

    Para a realizao deste plano de interveno, foi feita uma pesquisa

    bibliogrfica selecionando artigos publicados em portugus e espanhol, disponveis

    na ntegra que retratassem a temtica referente doena renal hipertensiva,

    publicados nos ltimos dez anos. A base de dados utilizada foi a Scientific

    Electronic Library Online (SciELO) e dois livros: Tratado de Medicina de Famlia e

    Comunidade, de Gustavo Gusso e Jos Mauro Ceratti Lopes e.

    Os descritores utilizados na busca das publicaes foram: Hipertenso,

    Insuficincia Renal Crnica, Dilise Renal e Terapia de Substituio Renal.

    Aps a seleo das publicaes e bibliografias, realizou-se uma leitura

    criteriosa, analisando os contedos pertinentes que abordaram a doena renal

    crnica e sua relao com a doena arterial hipertensiva no Brasil sendo que tanto a

    anlise quanto a sntese dos dados extrados dos artigos foram realizadas de forma

    descritiva, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados com o

    intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na reviso.

    Tambm foi realizada uma anlise e levantamento de dados sobre as mencionadas

    O plano de interveno tambm se baseou em alguns passos do

    Planejamento Estratgico Situacional (PES) conforme Campos, Faria e Santos

    (2010) bem como em observaes de pacientes saudveis com fatores de risco,

    hipertensos e com doena renal crnica atendidos pela ESF trs da nossa rea de

    abrangncia.

    Foi realizada uma pesquisa ativa de pacientes nos bancos de dados da

    unidade bsica por meio de consultas individuais e pesquisa de cadastro nico dos

    pacientes. Os critrios de incluso foram: sujeitos de ambos os sexos, idade

    superior a 18 anos, em acompanhamento pela equipe e portadores das

    mencionadas doenas. Para mensurao dos fatores de risco, foram utilizadas as

    seguintes variveis: sexo, idade, alimentao, procedncia, estado civil,

    escolaridade, tabagismo, alcoolismo, atividade fsica, tratamento medicamentoso e

    histrico de doenas autoimunes.

  • 18

    5 REVISO DA LITERATURA

    5.1 Conceituando Hipertenso Arterial Sistmica (HAS)

    5.1.1 Hipertenso Arterial Sistmica (HAS)

    Hipertenso arterial sistmica (HAS) a mais freqente das doenas cardiovasculares. tambm o principal fator de risco para as complicaes como Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Infarto Agudo do Miocrdio (IAM), alm da Doena Renal Crnica (DRC) (BRASIL, 2006, p. 7).

    Os principais fatores que determinam um controle muito baixo da HAS so:

    curso assintomtico na maior parte dos casos, subdiagnstico e tratamentos

    inadequados, alm da baixa adeso por parte dos pacientes.

    5.1.2 Classificao da Hipertenso Arterial Sistmica

    A Classificao da HAS tem sido freqentemente revista e publicada em

    formatos diferentes nos ltimos consensos nacionais e/ou internacionais.

    A Hipertenso Arterial definida como presso arterial sistlica maior ou igual a 140 mmHg e uma presso arterial diastlica maior ou igual a 90 mmHg, em indivduos que no esto fazendo uso de medicao anti-hipertensiva. A partir de 2003, a literatura e a mdia comentaram muito sobre o indivduo pr-hipertenso. A SMSA-BH optou por no trabalhar com esse termo, por considerar que indivduos com PAS entre 120 e 139 e PAD entre 80 e 89 pertencem a um grupo grande e heterogneo, que pode demandar condutas individuais muito diferentes. Alm disso, o termo pr-hipertenso pode acarretar consultas mdicas e propeduticas excessivas em pacientes de baixo risco, alguns dos quais nunca se tornaro hipertensos (como idosos com PA 130/85 mmHg) (BELO HORIZONTE, 2011, p. 14).

    Quando se tem estabelecida a PA usual do indivduo, recomenda-se a

    classificao conforme se encontra apresentado no Quadro 1, para pessoas acima

    de 18 anos.

  • 19

    Quadro 1 Classificao de Hipertenso Arterial Sistmica

    Classificao PA SISTLICA (mmHg) PA DIASTLICA (mmHg)

    tima

  • 20

    estimativa possvel aperfeioar o uso de intervenes implementadas de acordo com o risco cardiovascular global de cada indivduo, uma vez que o grau de benefcio preventivo obtido depende da magnitude desse risco. (BELO HORIZONTE, 2011, p. 15).

    A literatura apresenta diversas propostas para a estimativa do risco

    cardiovascular global e expe as vantagens e os obstculos para cada uma delas.

    Destaca-se, porm, que todas elas foram baseadas em estudos que no

    contemplaram a populao brasileira.

    No protocolo estudado, a Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte

    (SMSA/BH) adaptou modelos existentes em V Diretrizes Brasileiras de Hipertenso

    Arterial e ESC1-ESH2 Guidelines, pela sua simplicidade e facilidade de adequao

    aos nossos recursos (BELO HORIZONTE, 2011, p. 15).

    Os dados do Quadro 2 mostram os fatores de risco a serem trabalhados

    possibilitando assim, planejar o acompanhamento de cada paciente

    Quadro 2- Fatores de risco para doenas cardiovasculares

    Fatores de Risco

    Tabagismo

    Dislipidemia

    Idade > 55anos para homens e >65anos para mulheres

    hipercolesterolemia familiar (HF) de doena cardiovascular precoce em parentes de 1 grau (homens

  • 21

    Os hbitos e estilos de vida deletrios continuam a crescer na sociedade,

    levando a um aumento contnuo da incidncia e prevalncia da HAS, alm de

    dificultar seu controle adequado (BELO HORIZONTE, 2011, p. 10).

    Esse tratamento envolve Mudanas no Estilo de Vida (MEV) que

    acompanham o tratamento do paciente por toda a sua vida. (BRASIL, 2013, p. 57).

    Entre as MEV est a reduo no uso de bebidas alcolicas. O lcool fator de risco reconhecido para hipertenso arterial e pode dificultar o controle da doena instalada. A reduo do consumo de lcool reduz discretamente a presso arterial, promovendo reduo de 3,3mmHg (IC95%1: 2,5 4,1mmHg) em presso sistlica e 2,0mmHg (IC95%: 1,5 2,6mmHg) em diastlica (BRASIL, 2013, p. 57).

    O tabagismo tambm aumenta o risco de complicaes cardiovasculares

    secundrias em hipertensos e aumenta a progresso da insuficincia renal. Alm

    disso, a cessao do tabagismo pode diminuir rapidamente o risco de doena

    coronariana entre 35% e 40% (KAPLAN, 2010 apud BRASIL, 2013, p. 57).

    Entre as MEV est a reduo no uso de bebidas alcolicas. O lcool fator de risco reconhecido para hipertenso arterial e pode dificultar o controle da doena instalada. A reduo do consumo de lcool reduz discretamente a presso arterial, promovendo reduo de 3,3mmHg (IC95%1: 2,5 4,1mmHg) em presso sistlica e 2,0mmHg (IC95%: 1,5 2,6mmHg) em diastlica. (NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CLINICAL ExCELLENCE, 2011; MOREIRA et al, 1999 apud BRASIL, 2013, p. 57).

    De acordo ainda com o Ministrio da Sade, deve-se atentar para pacientes

    que fazem uso de anticoncepcionais hormonais orais uma vez que sua substituio

    por outros mtodos contraceptivos reduz a presso arterial em pacientes

    hipertensas (LUBIANCA et al., 2005; ATTHOBARI et al., 2007 apud BRASIL, 2013).

    No se tem ainda comprovado que o fumo fator de risco para o

    desenvolvimento de DCV. Contudo, pesquisa feita na ndia mostrou uma relao

    significativa do tabaco com a prevalncia da HAS. Sabe-se que o cigarro aumenta

    a resistncia s drogas anti-hipertensivas, fazendo com que elas funcionem menos

    que o esperado (FERREIRA et al., 2009; CHOBANIAN et al., 2003 apud BRASIL,

    2013, p. 57).

  • 22

    2.1.3.2 Tratamentos medicamentosos

    Segundo o Ministrio da Sade, quando for iniciada uma medicao anti-

    hipertensiva deve ser considerada a avaliao da preferncia da pessoa, o seu grau

    de motivao para mudana de estilo de vida, os nveis pressricos e o risco

    cardiovascular. (BRASIL, 2013, p. 58).

    Pessoas com alto risco cardiovascular ou nveis pressricos no estgio 2

    (PA 160/100mmHg) beneficiam-se de tratamento medicamentoso desde o

    diagnstico para atingir a meta pressrica, alm da mudana de estilo de vida

    (BRITISH HYPERTENSION SOCIETY, 2008 apud BRASIL, 2013, p. 58).

    Pessoas que no se enquadram nos critrios acima e que decidem, em conjunto com o mdico, no iniciar medicao neste momento, podem adotar hbitos saudveis para atingir a meta por um perodo de trs a seis meses. Durante esse intervalo de tempo devem ter a presso arterial avaliada pela equipe, pelo menos, mensalmente. Quando a pessoa no consegue atingir a meta pressrica pactuada ou no se mostra motivada no processo de mudana de hbitos, o uso de anti-hipertensivos deve ser oferecido, de acordo com o mtodo clnico centrado na pessoa. (BRASIL, 2013, p. 58).

    Em relao ao tratamento medicamentoso, este se utiliza de diversas classes de

    frmacos para atender a necessidade de cada pessoa, que se pauta em avaliaes

    clnicas e laboratoriais com levantamento de comorbidades, dentre outros

    fatores/sintomas. Pela caracterstica multifatorial da HAS, seu tratamento demanda

    agregao de dois ou mais anti-hipertensivos (BRASIL, 2010 apud 2013).

    A Figura 1 a seguir traz as medicaes anti-hipertensivas disponveis no Rename

    2013 dose mxima, dose mnima e quantidades de tomadas por dia.

  • 23

    Figura 1 Medicamentos disponveis no Rename 2013

    Fonte: (BRASIL, 2013, p. 59). * O termo Tomadas ao dia refere-se quantidade de vezes em que o paciente utilizar a

    medicao. Mais de um comprimido poder ser ingerido durante uma tomada, atentando-se para as doses mnimas e mximas da medicao.

    ** A dose inicial para idosos de 40 Mg.

    Segundo o Ministrio da Sade, qualquer medicamento dos grupos de anti-

    hipertensivos disponveis, desde que resguardadas as indicaes e contra-

    indicaes especficas, pode ser utilizado para o tratamento da hipertenso arterial.

    (BRASIL, 2013, p. 60).

  • 24

    5.2. Conceituando Doena Renal Crnica

    5.2.1 Sistema Renal

    Segundo o Ministrio da Sade, so funes dos rins: expelir as toxinas do

    metabolismo corporal, (uria, creatina, cido rico); controlar o equilbrio hdrico do

    organismo, eliminando o excesso de gua, sais e eletrlitos, evitando, assim, o

    aparecimento de edemas e aumento da presso arterial; atuar como rgos

    produtores de hormnios, (eritropoetina), que participa na formao de glbulos

    vermelhos e a vitamina D, que ajuda a absorver o clcio para fortalecer os ossos; e

    a renina, que intervm na regulao de presso arterial so funes dos dois rins,

    localizados nos lados da coluna vertebral que fica atrs das ultimas costelas e

    medem aproximadamente 12 centmetros e pesam cerca de 150 gramas cada

    (BRASIL, 2014)

    Figura 2 Sistema renal

    Fonte: Adaptado de Haddad Junior, Hamilton. Viso geral do sistema renal, (s.d.). Universidade de So Paulo.

    Existem diversas formas de aferir as funes renais, mas do ponto de vista clnico, a funo excretora aquela que tem maior correlao com os desfechos clnicos. Todas as funes renais costumam declinar de forma paralela com a sua funo excretora. Na prtica clnica, a funo excretora renal pode ser medida atravs da Taxa de Filtrao Glomerular (TFG). Para o diagnstico da DRC so utilizados os seguintes parmetros i. TFG alterada; ii. TFG normal ou prxima do normal, mas com evidncia de dano renal parenquimatoso ou alterao no exame de imagem. (BRASIL, 2014, p. 10).

    ../../Downloads/Hamilton.%20Viso%20geral%20do%20%20sistema%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20renal,%20(s.d.).%20%20%20%20Universidade%20de%20So%20Paulo.%20Disponvel%20em:%20http:/eaulas%20http:/eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=2454.%20Acesso%20em:%2031../../Downloads/Hamilton.%20Viso%20geral%20do%20%20sistema%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20renal,%20(s.d.).%20%20%20%20Universidade%20de%20So%20Paulo.%20Disponvel%20em:%20http:/eaulas%20http:/eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=2454.%20Acesso%20em:%2031../../Downloads/Hamilton.%20Viso%20geral%20do%20%20sistema%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20renal,%20(s.d.).%20%20%20%20Universidade%20de%20So%20Paulo.%20Disponvel%20em:%20http:/eaulas%20http:/eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=2454.%20Acesso%20em:%2031

  • 25

    5.2.2. Classificao e Estgios da Doena Renal Crnica

    Em 2002, a Kidney Disease Outcome Quality Initiative (KDOQI), patrocinada

    pela National Kidney Foundation, publicou uma diretriz sobre DRC que compreendia

    avaliao, classificao e estratificao de risco (K/DOQI, 2002).

    Nesse importante documento, uma nova estrutura conceitual para o diagnstico de DRC foi proposta e aceita mundialmente nos anos seguintes. (KDOQI, 2002 apud BASTOS; KIRSZTAJN, 2011). A definio baseada em trs componentes: um componente anatmico ou estrutural (marcadores de dano renal); (SAYDAH et al., 2007 apud BASTOS; KIRSZTAJN, 2011) um componente funcional (baseado na TFG) e um componente temporal. (SESSO et al., 2009 apud BASTOS; KIRSZTAJN, 2011). Com base nessa definio, seria portador de DRC qualquer indivduo que, independente da causa, apresentasse TFG < 60 mL/min/1,73m2 ou a TFG > 60 mL/min/1,73m2 associada a pelo menos um marcador de dano renal parenquimatoso (por exemplo, proteinria) presente h pelo menos 3 meses (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011, p.94).

    A KDOQ recomendou a classificao da DRC em estgios abalizados na

    Taxa de Filtrao Glomerular (TFG) de acordo com dados da Tabela 1. Assim, a

    Proteinria (ou albuminria) apresentada como marcador de dano renal tendo em

    vista ser a mais comumente utilizada para esse fim

    Tabela 1 Estadiamento da doena renal crnica pelo KDOQI e atualizado

    pelo National Collaborating Centre for Chronic Condition

    Estgio da DRC Taxa de filtrao glomerular(*)

    Proteinria

    1 2

    3A 3B 4 5

    90 60-89 45-59 30-44 15-29

  • 26

    Para melhor estruturao do tratamento dos pacientes com DRC, bem como

    para estimativa de prognstico, necessrio que, aps o diagnstico, todos os

    pacientes sejam classificados, de acordo com a tabela 1.

    Essa classificao tem estreita relao com prognstico, levando-se em considerao principalmente os principais desfechos da DRC: doena cardiovascular, evoluo para TRS e mortalidade. Por haver uma relao estreita entre o estgio da DRC com os desfechos, conforme mencionado acima, o cuidado clnico no controle dos fatores de progresso da DRC deve ser sempre intensificado, de acordo com a evoluo da DRC. Alm disso, a classificao deve ser aplicada para tomada de deciso no que diz respeito ao encaminhamento para os servios de referncias e para o especialista. Para fins de organizao do atendimento integral ao paciente com DRC, o tratamento deve ser classificado em conservador, quando nos estgios de 1 a 3, pr-dilise quando 4 e 5-ND (no dialtico) e TRS quando 5-D (dilitico). O tratamento conservador consiste em controlar os fatores de risco para a progresso da DRC, bem como para os eventos cardiovasculares e mortalidade, com o objetivo de conservar a TFG pelo maior tempo de evoluo possvel. A pr-dilise, para fins dessa diretriz, consiste na manuteno do tratamento conservador, bem como no preparo adequado para o incio da TRS em paciente com DRC em estgios mais avanados. (BRASIL, 2014, p. 14).

    As TRS, como definidas anteriormente, so uma das modalidades de

    substituio da funo renal: hemodilise, dilise peritoneal e transplante renal

    (BRASIL, 2014, p. 14).

    O diagnstico tardio da DRC resulta na perda de oportunidade para a

    implementao de medidas preventivas. Nos Estados Unidos atribuiu-se, em parte,

    o subdiagnstico e o subtratamento carncia de padronizao e protocolos para a

    definio e classificao da progresso da doena (K/DOQI, 2002 apud BASTOS et

    al. 2007, p. 3).

    Em 1995, a National Kidney Foundation (NKF), atravs do Disease Outcome Quality Initiative (DOQI), desenvolveu diretrizes para os cuidados oferecidos aos pacientes em dilise. No curso do desenvolvimento do DOQI tornou-se evidente que, para melhorar os resultados da dilise, seria necessrio melhorar as condies de sade dos indivduos que ingressam nas TRS, atravs do diagnstico precoce e adequado acompanhamento durante a progresso da doena. Estas foram as bases para a proposta de ampliao das diretrizes para todas as fases da doena renal, especialmente as mais precoces, quando as intervenes podem

  • 27

    prevenir a perda da funo renal, protelar sua progresso e amenizar as disfunes e comorbidades naqueles que progridem para falncia renal. Esta nova iniciativa foi denominada Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (K/DOQI, 2002). Contou com uma equipe multidisciplinar, composta por nefrologistas, pediatras, epidemiologistas, bioqumicos, nutricionistas, assistentes sociais, gerontologistas, mdicos de famlia, alm de uma equipe responsvel pela reunio de evidncias e reviso sistemtica da literatura. Os objetivos do K/DOQI, entre outros, foram o de apresentar uma nova definio de DRC e estagiamento da doena baseada na filtrao glomerular. Assim, em 2002, o K/DOQI props que a DRC seja definida atravs dos seguintes critrios: presena de FG< 60ml/min/m2 por um perodo igual ou superior a 3 meses ou FG>60ml/min/m2 associado presena de um marcador de leso da estrutura renal (albuminria, alterao da imagem ou histolgica) tambm por um perodo igual ou superior a 3 meses (K/DOQI, 2002 apud BASTOS et al. 2007, p. 3-4).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 1:

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA. Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 15).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 2:

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg; ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg; iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA.

  • 28

    Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 16).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 3A:

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo; 4. Correo da dose de medicaes como antibiticos e antivirais de acordo com a TFG. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg; ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg; iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA. Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 17).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 3B:

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo; 4. Correo da dose de medicaes como antibiticos e antivirais de acordo com a TFG. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg; ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg; iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA. Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 18).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 4:

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo;

  • 29

    4. Correo da dose de medicaes como antibiticos e antivirais de acordo com a TFG; 5. Reduo da ingesto de protenas para 0,8 g/Kg/dia em adultos, acompanhado de adequada orientao nutricional, devendo-se evitar ingesto maior do que 1,3g/kg/dia nos pacientes que necessitarem, por outra indicao, ingesta acima de 0,8 g/kg/dia; 6. Reposio de bicarbonato via oral para pacientes com acidose metablica, definida por nvel srico de bicarbonato abaixo de 22 mEq/L na gasometria venosa. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg; ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg; iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA. Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 19).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 5-ND (No Dialtico):

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado; 2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo; 4. Correo da dose de medicaes como antibiticos e antivirais de acordo com a TFG; 5. Reduo da ingesto de protenas para 0,8 g/Kg/dia em adultos, acompanhado de adequada orientao nutricional, devendo-se evitar ingesto maior do que 1,3g/kg/dia nos pacientes que necessitarem, por outra indicao, ingesta acima de 0,8 g/kg/dia; 6. Reposio de bicarbonato via oral para pacientes com acidose metablica, definida por nvel srico de bicarbonato abaixo de 22 mEq/L na gasometria venosa. Para o controle da hipertenso os alvos devem ser os seguintes: i. No diabticos e com RAC < 30: PA < 140/90 mmHg; ii. Diabticos e com RAC > 30: PA 130/80 mmHg; iii. Todos os pacientes diabticos e/ou com RAC 30 devem utilizar IECA ou BRA. Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 20-21).

    Est recomendado para todos os pacientes no estgio 5-D (em Dilise):

    1. Diminuir a ingesto de sdio (menor que 2 g/dia) correspondente a 5 g de cloreto de sdio, em adultos, a no ser se contra indicado;

  • 30

    2. Atividade fsica compatvel com a sade cardiovascular e tolerncia: caminhada de 30 minutos 5x por semana para manter IMC < 25; 3. Abandono do tabagismo; 4. Correo da dose de medicaes como antibiticos e antivirais de acordo com a modalidade de dilise; 5. Adequao da ingesto de protenas de acordo com o estado nutricional, avaliao da hiperfosfatemia e da adequao da dilise. Para o controle da hipertenso o alvo deve ser PA < 140/90 mmHg Para pacientes diabticos, deve-se manter a hemoglobina glicada em torno de 7%. (BRASIL, 2014, p. 21).

    Estgio 5-D em Hemodilise - os exames mnimos realizados para pacientes

    em hemodilise devem seguir a seguinte programao:

    a) Mensalmente: hematcrito, hemoglobina, ureia pr e ps a sesso de hemodilise, sdio, potssio, clcio, fsforo, transaminase glutmica pirvica (TGP), glicemia para pacientes diabticos e creatinina durante o primeiro ano. i. Quando houver elevao de TGP deve-se solicitar: AntiHBc IgM, HbsAg e AntiHCV. ii. A complementao diagnstica e teraputica nos casos de diagnstico de hepatite viral deve ser assegurada aos pacientes e realizada nos servios especializados. b) Trimestralmente: hemograma completo, ndice de saturao de transferrina, dosagem de ferritina, fosfatase alcalina, PTH, Protenas totais e fraes e hemoglobina glicosilada para diabticos. c) Semestralmente: Vitamina D e AntiHBs. Para pacientes susceptveis, definidos como AntiHBC total ou IgG, AgHBs ou AntiHCV inicialmente negativos, fazer AgHbs e AntiHCV. d) Anualmente: Colesterol total e fraes, triglicrides, alumnio srico, glicemia, TSH, T4, dosagem de anticorpos para HIV, Rx de trax em PA e perfil, ultrassonografia renal e de vias urinrias, eletrocardiograma. e) Exames eventuais: hemocultura na suspeita de infeco da corrente sangunea e teste do desferal na suspeita de intoxicao pelo alumnio. (BRASIL, 2014, p. 22).

    Estgio 5-D em Dilise Peritoneal - os exames mnimos realizados para

    pacientes em dilise peritoneal devem seguir a seguinte programao:

    a) Mensalmente: hematcrito, hemoglobina, sdio, potssio, clcio, fsforo, creatinina e glicemia para pacientes diabticos. b) Trimestralmente: hemograma completo, ndice de saturao de transferrina, dosagem de ferritina, fosfatase alcalina, PTH, glicemia, Protenas totais e fraes e hemoglobina glicosilada para diabticos. c) Semestralmente: Vitamina D, Colesterol total e fraes, triglicrides. Realizar o KT/V semanal de uria, atravs da dosagem da uria srica e no lquido de dilise peritoneal. Para pacientes que

  • 31

    apresentam funo renal residual, realizar depurao de creatinina, atravs da coleta de urina de 24 horas e depurao de uria, atravs de coleta de urina de 24 horas. d) Anualmente: alumnio srico, TSH, T4, Rx de trax em PA e perfil, ultrassonografia renal e de vias urinrias, eletrocardiograma. e) Exames eventuais: teste do desferal na suspeita de intoxicao pelo alumnio; na suspeita de peritonite, anlise do lquido peritoneal com contagem total e diferencial de leuccitos, bacterioscopia por gram e cultura; teste de equilbrio peritoneal, no incio do tratamento e repetir nos casos de reduo de ultrafiltrao e/ou inadequao de dilise. Para o teste de equilbrio peritoneal necessrio realizar uma dosagem srica de creatinina e duas dosagens de creatinina no lquido peritoneal, em tempos diferentes, e trs dosagens de glicose no lquido peritoneal, em tempos diferentes. (BRASIL, 2014, p. 23-24).

    As unidades de ateno especializada em DRC devem assegurar aos

    pacientes os antimicrobianos para o tratamento de peritonite e infeces

    relacionadas ao uso de cateteres (BRASIL, 2014, p. 24).

    5.2.3 Avaliao da Taxa de Filtrao Glomerular (TFG)

    Os recursos diagnsticos utilizados para identificar o paciente com DRC so a

    TFG, o exame sumrio de urina (EAS) e um exame de imagem, preferencialmente a

    ultrassonografia dos rins e vias urinrias.

    Para a avaliao da TFG, deve-se evitar o uso da depurao de creatinina medida atravs da coleta de urina de 24 horas, pelo potencial de erro de coleta, alm dos inconvenientes da coleta temporal. Deve-se, portanto, utilizar frmulas baseadas na creatinina srica, para estimar a TFG. A frmula de Cockcroft-Gault3, que foi a mais utilizada no passado para estimar a depurao de creatinina, no recomendada, porque necessita da correo para a superfcie corprea, alm de apresentar vieses na correlao com a TFG. O clculo da TFG recomendado para todos os pacientes sob o risco de desenvolver DRC. Todos os pacientes que se encontram no grupo de risco para a DRC devem dosar a creatinina srica e ter a sua TFG estimada. As alteraes parenquimatosas devem ser pesquisadas atravs do exame sumrio de urina (EAS) ou da pesquisa de albuminria, que a presena de

    3 A frmula de Cockcroft-Gault (CG) foi desenvolvida no ano de 1976 para calcular a liberao de creatinina e no a TFG. Uma vez que utiliza a creatinina srica, sabido que esta depende de fatores como idade, peso e sexo e por isso esses fatores esto expressos na equao. A proporo de massa muscular no peso corporal relativamente menor em mulheres que em homens: Homem: liberao de Creatinina = [((140-Idade) x Peso(kg)) / (Creatinina Srica x 72)]; Mulher: liberao de Creatinina = [((140-Idade) x Peso(kg)) / (Creatinina Srica x 72)] x 0,85. Tem sido considerada como referncia normal para homens valores entre 55 e 146mL/min/1,73m e, para mulheres, valores entre 52 e 134mL/min/1,73m (25).

  • 32

    albumina na urina. O EAS deve ser feito para todos os pacientes sob o risco de DRC. Nos pacientes diabticos e hipertensos com EAS mostrando ausncia de proteinria, est indicada a pesquisa de albuminria em amostra isolada de urina corrigida pela creatininria, a Relao Albuminria Creatininria (RAC). Os valores de referncia, bem como a classificao da RAC esto apresentados na tabela 1. Em relao hematria, deve-se considerar a hematria de origem glomerular, definida pela presena de cilindros hemticos ou dimorfismo eritrocitrio, identificados no EAS. Anlise atravs de bipsia renal (histologia) ou alteraes eletrolticas caractersticas de leses tubulares renais sero feitas pelo especialista ( BRASIL, 2014, p.12)

    Na tabela 2 encontram-se apresentadas a classificao e categoria da RAC

    Tabela 2. Classificao e Categoria RAC

    Categoria RAC (mg/g)

    Normal 300

    (BRASIL, 2014, p. 12-13).

    Avaliao de imagem: deve ser feita para indivduos com histria de DRC

    familiar, infeco urinria de repetio e doenas urolgicas. O exame de imagem

    preferido a ultrassonografia dos rins e vias urinrias ( BRASIL, 2014).

    2.2.6 Insuficincias Renais

    A Insuficincia renal Aguda (IRA), quando ocorre sbita e rpida perda da

    funo renal, ou crnica (IRC), quando esta perda lenta, progressiva e irreversvel.

    (BRASIL, 2011).

    A insuficincia renal crnica (IRC) doena de elevada morbidade e mortalidade. A incidncia e a prevalncia da IRC em estgio terminal (IRCT) tem aumentado progressivamente, a cada ano, em propores epidmicas, no Brasil e em todo o mundo. O custo elevado para manter pacientes em tratamento renal substitutivo (TRS) tem sido motivo de grande preocupao por parte de rgos governamentais, que em nosso meio subsidiam 95% desse tratamento. Em 2002 estimava-se terem sido gastos R$ 1,4 bilhes no tratamento de pacientes em dilise crnica e com transplante renal. A despeito de inmeros esforos para se coletar dados a respeito de pacientes com IRCT no Brasil, ainda no temos um sistema nacional de registro que fornea anualmente dados

  • 33

    confiveis do ponto de vista epidemiolgico. Alm disso o nosso conhecimento de dados a respeito de pacientes com IRC em estdio no terminal, ainda muito mais precrio (SESSO, s.d., p. 1).

    5.2.6.1 Sintomas

    A maioria das pessoas no apresenta sintomas graves at que a insuficincia

    renal esteja avanada. Porm, o paciente pode observar que:

    - sente-se mais cansado e com menos energia;

    - tem dificuldades para se concentrar;

    - est com o apetite reduzido;

    - sente dificuldade para dormir;

    - sente cibras noite;

    - est com os ps e tornozelos inchados;

    - apresenta inchao ao redor dos olhos, especialmente pela manh;

    - est com a pele seca e irritada;

    - urina com mais freqncia, especialmente noite (BRASIL, 2011).

    2.2.6.2 Tratamento conservador

    o tratamento realizado por meio de orientaes importantes, medicamentos e dieta, visando conservar a funo dos rins que j tm perda crnica e irreversvel, tentando evitar, o mximo possvel, o incio da dilise - tratamento realizado para substituir algumas das funes dos rins, ou seja, retirar as toxinas e o excesso de gua e

    sais minerais do organismo (BRASIL, 2011, s/p).

    2.2.6.3 Preveno

    Conforme o Ministrio da Sade, a preveno para a DRC no paciente sob o

    risco de desenvolver a doena est nas seguintes estratgias:

    Tratar e controlar os fatores de risco modificveis: diabetes, hipertenso, dislipidemia, obesidade, doena cardiovascular e tabagismo, cujo controle e tratamento devem estar de acordo com as normatizaes e orientaes do Ministrio da Sade. Em relao ao uso de medicamentos, deve-se orientar que o uso crnico de qualquer tipo de medicao deve ser realizado apenas com

  • 34

    orientao mdica e deve-se ter cuidado especfico com agentes com efeito reconhecidamente nefrotxico (BRASIL, 2014, p. 11).

    Os principais medicamentos, com efeito, nefrotxico esto listados no Anexo

    A do presente trabalho.

    A progresso da DRC entendida como a perda progressiva da funo renal, avaliada por meio da TFG. A linha de cuidado para a DRC visa manuteno da funo renal, e quando a progresso inexorvel, a lentificao na velocidade de perda da funo renal. A reduo progressiva da TFG, como referido acima, est associada ao declnio paralelo das demais funes renais, portanto com a progresso da DRC esperado o desenvolvimento de anemia, acidose metablica e alteraes do metabolismo mineral e sseo. Alm disso, h uma relao inversamente proporcional entre a TFG e o risco de morbidade cardiovascular, mortalidade por todas as causas e, especialmente, mortalidade cardiovascular. Por fim, outro desfecho que pode ocorrer em pacientes com DRC a DRCT, quando h necessidade de uma das TRS. (KDIGO, 2013, p. 5-14 apud BRASIL, 2014, p. 11-12). Pacientes com TFG entre 30 e 45 ml/min, quando comparados com aqueles com TFG acima de 60 ml/min, tem aumento no risco de mortalidade de 90% maior e de mortalidade cardiovascular de 110% maior. Quando o desfecho para essa comparao a DRCT, h um risco 56 vezes maior entre os pacientes com pior TFG (LEVEY et al., 2005, p. 20892100 apud BRASIL, 2014, p. 11-12).

    Os desfechos clnicos mais temidos da DRC so a doena cardiovascular, a

    necessidade de TRS e a mortalidade por todas as causas, especialmente a

    mortalidade cardiovascular (BRASIL, 2014, p. 12).

    Prevenir a progresso da DRC, utilizando todos os esforos clnicos para a

    conservao da TFG, tem impacto positivo.

    Outros procedimentos preventivos so:

    - realizar periodicamente exames com acompanhamento mdico;

    - seguir o tratamento prescrito para diabetes e/ou presso alta.

    - perder excesso de peso seguindo uma dieta saudvel e um programa de

    exerccios peridicos;

    - no fumar;

    - evitar o uso de grandes quantidades de analgsicos vendidos sem receita;

    - fazer mudanas na dieta, como reduzir o sal e a protena;

    - limitar a ingesto de bebidas alcolicas (BRASIL, 2014).

  • 35

    2.2.7 Nefrologia

    A nefrologia tem passado por mudanas desde a dcada de sessenta,

    quando emergiu como especialidade mdica.

    Inicialmente, o foco da nefrologia foi a terapia renal substitutiva (TRS) - dilise e transplante renal - como forma estabelecida de tratamento para os pacientes que evoluam para doena renal crnica em estgio terminal (DRET). Foi quando proliferaram os vrios programas de TRS, tanto na rede de sade pblica como na rede privada. A Nefrologia brasileira rapidamente alcanou os nveis de excelncia internacionais. Contudo, nesse perodo, muito pouca ateno foi dada s medidas preventivas de perda da taxa de filtrao glomerular (TFG). (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011, p.94).

    De acordo com Bastos e Kirsztajn (2011), a partir da dcada passada,

    comprovou-se a progresso da Doena Renal Crnica (DRC) em pacientes com

    diversas doenas renais poderia ser adiada ou at cessada com medidas que

    obtivessem controle rigoroso da presso arterial e uso de teraputica bloqueadora

    do Eixo Renina-Angiotensina-Aldosterona (ERAA), dentre outras.

    5.2.8 Doenas Crnicas No Transmissveis (DCNT) e seus fatores de risco

    O Ministrio da Sade esclarece que os principais monitoramentos da

    prevalncia dos fatores de risco para Doenas Crnicas No Transmissveis

    (DCNT), so:

    Os de natureza comportamental, dieta, sedentarismo, dependncia qumica (de tabaco, lcool e outras drogas), cujas evidncias cientficas de associao com doenas crnicas estejam comprovadas uma das aes mais importantes da vigilncia; sobre essas evidncias observadas, podem-se implementar aes preventivas de maior poder custo-efetivo. No ano 2000, o Centro Nacional de Epidemiologia da Fundao Nacional de Sade (Cenepi/Funasa), sucedido pela atual Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade (SVS/MS), iniciou, em parceria com o Inca/MS, o planejamento do primeiro inqurito nacional para fatores de risco de DCNT. Concludo em 2004, esse inqurito teve seus resultados publicados e, como conseqncia, o estabelecimento de uma linha de base para monitoramento dos fatores de risco em nvel nacional. A necessidade de adequao oramentria limitou a abrangncia do inqurito a 16 das 27 capitais de Estados, escolhidas em todas as macrorregies do Pas: Regio Norte Manaus e Belm; Regio Nordeste Fortaleza, Natal, Joo Pessoa, Recife e Aracaju; Regio Sudeste Vitria, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e So Paulo; Regio Sul Curitiba, Florianpolis e Porto Alegre; e Regio Centro-

  • 36

    Oeste Campo Grande e Braslia. Foram entrevistadas 23.457 pessoas de

    15 e mais anos de idade (MALTA et al. , 2006, p.53)

    O processo de mobilizao e participao em sua execuo motivou equipes a se

    engajarem na estruturao da vigilncia das doenas e agravos no transmissveis

    em seus Estados.

    5.2.8.1 Excesso de peso

    Na pesquisa feita pelo Ministrio da Sade, a prevalncia de excesso de peso

    (ndice de massa corporal (IMC >25kg/m2), a partir das medidas de peso e altura

    relatadas pelos entrevistados.

    Nas capitais das Regies Sudeste (Belo Horizonte, Vitria, Rio de Janeiro e So Paulo), Sul (Curitiba, Florianpolis e Porto Alegre), Centro-Oeste (Campo Grande e Distrito Federal), Nordeste (Recife e Aracaju) e Norte (Manaus), observaram-se maior prevalncia no grupo de menor escolaridade. Em Belm (Norte), Natal e Joo Pessoa (Nordeste), contrariamente, a maior prevalncia de excesso de peso foi encontrada na populao de maior escolaridade. Apenas em Fortaleza, Regio Nordeste, as prevalncias foram iguais entre os dois grupos (MALTA et al. , 2006, p.53)

    A Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte sobre o excesso de peso diz

    que:

    importante que a circunferncia abdominal no seja superior a 102 cm para os homens e 88 cm para as mulheres. Quando houver sobrepeso ou obesidade, a perda de 5% a 10% do peso inicial j traz benefcios. A preveno e reduo da obesidade podem ser alcanadas com o aumento do consumo de fibras, reduo de alimentos com alta densidade calrica, reduo de bebidas aucaradas, restrio de alimentos com alto ndice glicmico e preferncia por alguns alimentos de origem vegetal (BELO HORIZONTE, 2011, p. 51).

    Conforme a SMSA/BH, a manuteno do ndice de massa corporal entre 18,5 e 24,9

    kg/m2 o ideal.

  • 37

    Tabela 3 Prevalncia de excesso de peso na populao de estudo de 15 anos ou

    mais, por escolaridade

    Cidades Ensino Fundamental

    Incompleto Completo e mais

    Manaus 41 38

    Belm 31 37

    Fortaleza 39 39

    Natal 32 35

    Joo Pessoa 33 39

    Recife 41 40

    Aracaju 35 31

    Campo Grande 41 34

    Distrito Federal 37 33

    Belo Horizonte 40 35

    Vitria 44 35

    Rio de Janeiro 53 44

    So Paulo 49 33

    Curitiba 45 37

    Florianpolis 48 34

    Porto Alegre 49 41

    Fonte: (BRASIL,. 2006)

    Segundo o Ministrio da Sade, os resultados disponveis por cidade, esto

    divididos em duas categorias: ensino fundamental (at oito anos de estudo)

    incompleto e ensino fundamental completo ou mais anos de escolaridade (vide

    Tabela e Grficos supracitados). Optou-se pela varivel escolaridade porque, alm

    de espelhar o nvel educacional, associa-se renda, de forma indireta; trata-se,

    portanto, de uma medida indireta da prevalncia de DCNT nos estratos sociais de

    menor renda (BRASIL, 2006).

    Conforme o Ministrio da Sade, as condies clnicas para excesso de peso com

    necessidade de encaminhamento:

    pacientes com suspeita de obesidade secundria (provocada por problema endocrinolgico). Condio clnica que indica a necessidade de encaminhamento para cirurgia baritrica: pacientes com indicao clnica (IMC acima de 35 com alguma comorbidade , ou acima de 40 sem a presena de comorbidades) ( BRASIL, 2015, p.13)

  • 38

    Contedo descritivo mnimo que o encaminhamento deve ter:

    1. Sinais e sintomas; 2. IMC; 3. Peso do paciente em quilogramas (kg); 4. Estatura, em metros; 5. Breve descrio do tratamento clnico longitudinal (realizado por, no mnimo, dois anos); 6. Risco cardiovascular (em %), ou doena cardiovascular (sim/no). Se sim, informar qual doena cardiovascular; 7. Diabetes mellitus de difcil controle (sim/no). Se sim, informar medicaes em uso, com dose; 8. Hipertenso arterial de difcil controle (sim/no). Se sim, informar medicaes em uso, com dose; 9. Apneia do sono (sim/no). Se sim, informar como foi o diagnstico; 10. Doenas articulares degenerativas (sim/no). Se sim, informar qual; 11. Nmero da tele consultoria, se caso discutido com Telessade. (BRASIL, 2015, p. 13).

    5.2.8.2. Consumo de tabaco

    O tabagismo mais frequente entre homens de todas as capitais.

    A menor proporo desse consumo por homens foi encontrada em Aracaju (16,9%), Regio Nordeste; e a maior, em Porto Alegre (28,1%), Regio Sul. Para as mulheres, a menor e a maior prevalncia de fumantes foram identificadas, tambm, nessas mesmas capitais: Aracaju (10,0%) e Porto Alegre (22,9%) (dados no apresentados ( MALTA et al. , 2006, p.54).

    Grfico 1 Regies do Brasil com os maiores e menores consumo de tabaco

    Fonte: Brasil ( 2006)

    Segundo a SMSA/BH, o tabagismo uma dependncia qumica, cujas

    conseqncias so doenas que acometem praticamente todos os sistemas

  • 39

    orgnicos e levam cerca da metade dos fumantes a procurar um profissional de

    sade por ano.

    Portanto, o tabagismo deve ser sempre abordado por todos os profissionais de sade, por ocasio do contato com os pacientes, sendo item imprescindvel em qualquer anamnese. De modo geral, quando conseguem parar definitivamente de fumar, as pessoas j fizeram 3 a 5 tentativas, sem xito. Cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar, mas somente 3% conseguem a cada ano, sem ajuda profissional (CINCIPRINI, 1997 apud BELO HORIZONTE, 2011, p. 62). Inmeros estudos demonstram que os fumantes esperam orientaes dos profissionais de sade para parar de fumar. Entre aqueles que no conseguem parar sem ajuda profissional (77% do total), 40 a 50% apresentam graus leves de dependncia nicotina, conseguindo abandonar o tabagismo atravs de abordagens breves, que podem ser realizadas por qualquer profissional de sade, em qualquer local (unidades bsicas de sade, unidades de referncia secundria, servios de urgncia, hospitais, consultrios). So intervenes de 3 a 5 minutos de durao, que demandam uma capacitao mnima dos profissionais, tm baixo custo e so muito abrangentes. Em comparao ausncia de aconselhamento por profissionais de sade, uma nica abordagem de at 3 minutos aumenta em 30% a chance de cessao do tabagismo. Uma abordagem entre 3 e 10 minutos aumenta essa chance em 60% e, acima de 10 minutos, em mais de 100%. (BELO HORIZONTE, 2011, p. 62-63).

    Para a Abordagem Breve necessrio, em primeiro lugar, conhecer-se o estgio de

    motivao em que o fumante se encontra com relao ao desejo de parar de fumar.

    (BELO HORIZONTE, 2011, p. 63).

    5.2.8.3. Inatividade fsica

    De acordo com Malta et al. ( 2006) , o instrumento utilizado para determinar a

    prevalncia de inatividade fsica leva em considerao as atividades fsicas

    realizadas no momento de lazer, na ocupao, no meio de locomoo e no trabalho

    domstico.

    No caso de pacientes hipertensos, a recomendao da SMSA/BH para atividade

    fsica deve ser orientada com bastante cuidado aos maiores de 50 anos,

    principalmente aqueles com sintomas que sugiram manifestao de doena

    aterosclertica (especialmente dor torcica), assim como os portadores de doena

  • 40

    cardiovascular estabelecida, quando muitas vezes se faz necessria interconsulta

    com clnico de apoio ou cardiologista.

    A literatura no traz evidncias de qualidade que indiquem a necessidade de teste de esforo para hipertensos assintomticos em programa de atividade fsica, sendo o mesmo recomendado quando h dor torcica e/ou doena cardiovascular manifesta (mesmo que extra-cardaca). Antes que o hipertenso inicie suas atividades fsicas, no necessrio que a PA alvo seja atingida, recomendando-se, porm, que os hipertensos em estgio 2 ou 3 j estejam em uso de medicamentos e que os exerccios no supervisionados sejam protelados para aqueles que apresentem cifras superiores a 180 X 100 mmHg (BELO HORIZONTE, 2011, p. 56).

    5.2.9 Risco Cardiovascular Global

    Segundo a Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte (SMSA/BH), na

    literatura mdica so encontradas muitas propostas estimadas de risco

    cardiovascular global, havendo vantagens e limitaes para cada uma delas e

    cabendo salientar que nenhuma foi construda tendo como base a populao do

    Brasil. Os quadros 2, 3 e 4 contm informaes da estimativa da SMSA/BH do risco

    de eventos cardiovasculares para os prximos 10 anos (risco baixo: < 10%; risco

    moderado: 10 a 20%; risco alto: > 20%). A SMSA/BH adaptou modelos existentes

    em V Diretrizes Brasileira de Hipertenso Arterial e ESC-ESH Guidelines no

    Protocolo de sade de Belo Horizonte de hipertenso arterial e risco cardiovascular:

    Pela sua simplicidade e facilidade de adequao aos nossos recursos. Sugere-se que atravs da investigao de fatores de risco, leses em rgos-alvo e condies clnicas associadas seja estimado o risco cardiovascular global, possibilitando assim, planejar acompanhamento e alvos teraputicos com melhor custo-efetividade (BELO HORIZONTE, 2011, p. 15).

    Quadro 3 Leses de rgo-alvo e condies clnicas associadas

    Leses de rgo-Alvo (LOA)/Condies Clnicas Associadas (CCA)

    Hipertrofia ventricular esquerda

    Microalbuminrica

    Acidente vascular cerebral

    Ataque isqumico transitrio

    Angina

    Infarto agudo do miocrdio

    Revascularizao miocrdica (cirrgica ou angioplastia)

    Insuficincia cardaca

  • 41

    Doena arterial perifrica

    Retinopatia

    Nefropatia

    Fonte: (Adaptado de ESH/ESC Guidelines, 2007 apud BELO HORIZONTE, 2013, p. 15).

    Quadro 4 Estratificao de risco cardiovascular global

    NORMAL LIMTROFE

    HIPERTENSO

    ESTGIO 1

    HIPERTENSO

    ESTGIO 2

    HIPERTENSO

    ESTGIO 3

    Sem fatores de risco adicionais

    Sem risco adicional

    Sem risco adicional

    Risco Baixo Risco

    Moderado Risco Alto

    1 a 2 fatores de risco adicionais

    Risco Baixo

    Risco Moderado

    Risco Moderado

    Risco Moderado

    Risco Alto

    3 ou mais fatores de risco adicionais, LOA, CCA ou Diabetes

    Risco Alto Risco Alto Risco Alto Risco Alto Risco Alto

    Fonte: (Adaptado de ESH/ESC Guidelines, 2007 apud BELO HORIZONTE, 2013, p. 15).

  • 42

    6 PLANO DE INTERVENO

    Os cuidados com os fatores de risco e com as pessoas que j tem o diagnstico de

    hipertenso arterial tm como objetivo melhorar a qualidade de vida, retardar ou

    evitar complicaes associadas tais como a insuficincia renal crnica. A

    qualificao clnica contnua e ao compartilhada entre as equipes de sade da

    famlia, profissionais do ncleo de apoio sade da famlia e demais nveis de

    assistncia importante para atingir esse objetivo.

    Para contribuir para o melhor cuidado na comunidade em que atuo, foram realizados

    alguns passos do PES para a construo do Projeto de Interveno que segue.

    Primeiro Passo

    Para iniciar este trabalho parte-se do conhecimento do conceito de problema. Um

    problema uma determinada situao ou assunto que requer uma soluo.

    Problema a situao que constitui o ponto de partida de qualquer indagao.

    Para determinar o problema a ser priorizado, o mtodo da Estimativa Rpida pode

    ser considerado o primeiro passo .Trata-se de um modo de obter informaes sobre

    um conjunto de problemas e dos recursos necessrios para o seu enfrentamento,

    num curto perodo de tempo e sem altos gastos. Seu objetivo envolver a

    populao na identificao das suas necessidades e problemas e tambm os atores

    sociais que controlam recursos para o enfrentamento dos problemas (

    CAMPOS;FARIA;SANTOS, 2010).

    A Equipe de Sade da Famlia 3, do Centro de Sade Vila Cemig, atende esta

    populao atravs de visitas domiciliares, consultas mdicas, consultas de

    enfermagem, consultas odontolgicas, demanda espontnea, procedimentos e

    assistncia de enfermagem, grupos educativos, entres outros. Atravs desses

    contatos, foram observadas diferentes necessidades ou problemas dessa

    comunidade.

  • 43

    Segundo Passo

    A partir da identificao dos principais problemas de sade da comunidade da rea

    de abrangncia da equipe, detectou-se uma alta prevalncia de Hipertenso Arterial

    (HAS), sendo essa a doena crnica mais prevalente nesta comunidade. Assim,

    este problema foi escolhido para a realizao do plano de ao.

    O desenho das operaes foi realizado atravs do conjunto de aes propostas para

    enfrentar e impactar os Ns crticos considerados no cuidado aos fatores de risco e

    ao acompanhamento dessa doena crnica com o objetivo de minimizar a

    prevalncia de doena renal crnica na populao.

    Abaixo, so descritas as operaes planejadas relacionadas ao problema de

    aumento na incidncia de doena renal crnica na populao do centro de sade

    Vila Cemig sob-responsabilidade da Equipe de Sade da Famlia 03 Em Belo

    Horizonte - MG.

    I. N crtico. Hbitos e estilos de vida inadequados.

    Operao/ projeto. Viver com sade.

    Resultados esperados. Diminuir a prevalncia de pacientes

    com sobrepeso/obesidade, tabagistas, usurios de lcool-droga

    e sedentrios em pelo menos 5 % no prazo de 12 meses.

    Produtos esperados. Programa de caminhada coletiva e

    academia da cidade ligada ao acompanhamento com

    nutricionista, grupo de tabagismo duas vezes ao ano e

    aconselhamento integral nas consultas de acompanhamento

    clnico.

    Recursos necessrios.

    Estrutural. Organizar a freqUncia e lugar das

    caminhadas escolher o responsvel pelo grupo de

    tabagismo e rotina de consulta-retorno com o

    nutricionista.

    Financeiro. Aquisio de recursos materiais como drogas

    para parar de fumar e panfletos educativos.

    Cognitivo. Conscientizao da populao sobre o tema e

    os objetivos propostos.

  • 44

    Poltico. Procurar o espao ou local para articular as

    aes propostas.

    II. N crtico. Desconhecimento das comorbidades.

    Operao / projeto. Conhecendo o nosso mal

    Resultados esperados. Populao mais informada e ciente dos

    riscos e conseqncias de adotar estilos de vida inadequados e

    importncia de manter controladas as principais comorbidades.

    Produtos esperados. Pacientes com comorbidades melhor

    controlados e acompanhados e diminuio da incidncia de

    novos casos com fatores de risco.

    Recursos necessrios.

    Estrutural. Organizar a agenda e freqncia das

    consultas de acompanhamento.

    Cognitivo. Melhor Conhecimento das conseqncias

    diretas sobre o organismo e rgos alvo das

    comorbidades, conhecimento sobre palestra e

    comunicao em pblico.

    Poltico. Mobilizao social.

    III. N crtico. M qualidade dos servios de sade.

    Operao/ projeto. Qualidade integral

    Resultados esperados. Equipe mais organizada, melhora da

    oferta dos medicamentos anti-hipertensivos, hipoglicemiantes e

    exames necessrios para estes pacientes.

    Produtos esperados. Abastecimento freqente dos

    medicamentos na farmcia e equipe orientada a oferecer

    melhores servios de sade.

    Recursos necessrios.

    Estrutural. Equipe decidida a aperfeioar os cuidados e

    adotar protocolos especficos.

    Financeiro. Aumento na oferta de medicamentos,

    exames, consultas especializadas e atendimento na

    ateno secundrio-terciria.

  • 45

    Poltico. Deciso de aumentar todos os recursos para

    aperfeioar estes servios.

    IV. N crtico. Rastreamento insuficiente de pacientes com DRC e

    comorbidades.

    Operao/ projeto. A raiz do problema.

    Resultados esperados. Trabalho restrito e especifico neste

    grupo de pacientes e populao alvo.

    Produtos esperados. Deteco e diagnstico precoce da

    doena e abordagem preventiva evitando a evoluo para

    formas inevitavelmente irreversveis da doena renal crnica.

    Recursos necessrios.

    Estrutural. Busca ativa das ACS e reunies de equipe,

    Cognitivo. Conhecimento dos fluxos e protocolos,

    quando encaminhar ao especialista e freqncia das

    consultas e retornos para acompanhamento.

    Poltico. Deciso de melhorar a oferta das consultas

    especializadas evitando longas filas, fluxo e contra-fluxo

    na APS.

    O plano operativo e seus respectivos resultados/produtos e responsveis

    encontram-se no Quadro 5

  • 46

    Quadro 5 Plano operativo sob os ns crticos.

    Projeto Resultado esperado

    Produto esperado

    Aes

    Estratgicas

    Responsveis Prazo

    Viver com

    sade

    Diminuio a

    prevalncia de

    pacientes com

    sobrepeso/obe

    sidade,

    tabagistas,

    usurios de

    lcool-droga e

    sedentrios

    em pelo

    menos 5 % no

    prazo de 12

    meses.

    Programa de

    caminhada

    coletiva e

    academia da

    cidade ligada

    ao

    acompanham

    ento com

    nutricionista,

    grupo de

    tabagismo

    duas vezes

    ao ano e

    aconselhame

    nto integral

    nas

    consultas de

    acompanham

    ento clnico.

    Pesquisa

    ativa,

    aconselha-

    mento

    preventivo.

    Equipe

    integral.

    120 dias

    para

    inicio

    das

    aes

    previs

    tas.

    Conhecendo

    o nosso mal.

    Populao

    mais

    informada e

    ciente dos

    riscos e

    conseqncias

    de adotar

    estilos de vida

    inadequados e

    importncia de

    manter

    controladas as

    principais

    comorbidades.

    Pacientes

    com

    comorbidade

    s melhor

    controladas e

    acompanha-

    dos e

    diminuio

    da incidncia

    de casos

    novos com

    fatores de

    risco.

    Palestras

    dirigidas a

    todo publico

    alvo.

    Mdico e

    enfermeira

    120 dias

  • 47

    Qualidade

    integral.

    Equipe mais

    organizada,

    melhora da

    oferta dos

    medicamentos

    anti-

    hipertensivos,

    hipoglicemiant

    es e exames

    necessrios

    para estes

    pacientes.

    Abasteciment

    o freqente

    dos

    medicamento

    s na farmcia

    e equipe

    orientada a

    oferecer

    melhores

    servios de

    sade.

    Organizao

    da agenda

    da equipe,

    adoo de

    qualidade

    integral

    rotineira.

    Equipe na sua

    integra.

    120 dias

    para

    inicio

    das

    atividad

    es

    prevista

    s.

    A raiz do

    problema

    Trabalho

    restrito e

    especifico com

    grupo de

    pacientes e

    populao

    alvo.

    Deteco

    precoce da

    doena e

    abordagem

    preventiva

    evitando a

    evoluo

    para formas

    inevitavelme

    nte

    irreversveis

    da doena

    renal crnica.

    Palestras

    educativas

    dirigidas

    populao

    alvo,

    aconselhame

    nto nas

    consultas,

    panfletagem.

    Equipe na sua

    integra.

    120 dias

    para

    inicio

    das

    atividad

    es

    prevista

    s.

  • 48

    7 CONCLUSES FINAIS

    Atualmente, existem muitas pessoas suscetveis em adquirir a doena renal

    crnica e sobre estas pessoas que a ateno bsica precisa focar seus cuidados e

    diminuir as comorbidades presentes.

    O trabalho multiprofissional focado nas pessoas portadoras de algum fator de

    risco para DRC o objetivo da ateno primria a sade, que trabalha na

    preveno, tratamento e reabilitao das pessoas acometidas.

    Com este estudo observa-se que esta doena potencialmente previsvel,

    caso receba adequado e rotineiro acompanhamento clinico - laboratorial e um

    diagnstico precoce das comorbidades, realizando mudanas nos estilos de vida,

    adotando uma dieta saudvel, promoo da atividade fsica e evitando o uso de

    substncias txicas para o organismo.

    A abordagem da pessoa com doena arterial hipertensiva um dos pilares

    principais na preveno da doena renal crnica na ateno primria, pois esta

    uma doena oligossintomtica e com muitas outras conseqncias sobre o

    organismo, o que aumenta ainda mais o risco de sofrer leso renal e sabendo que o

    rim um dos reguladores dos nveis de presso arterial no organismo.

    Com este estudo, observa-se que a assistncia ao paciente portador de

    doena renal crnica deve ser precedida de uma responsabilizao social e tica por

    parte de uma equipe multiprofissional. A ateno primaria sade tem como

    objetivo a manuteno da taxa de filtrao glomerular e evitar sua diminuio e

    evoluo para nveis potencialmente dialisveis provocando mudanas negativas na

    qualidade de vida das pessoas.

    Diante do exposto, conclui-se que a doena renal crnica multifatorial,

    porm, no Brasil a doena que leva o maior nmero de pacientes a desenvolver a

    doena, a hipertenso arterial primaria.

  • 49

    REFERNCIAS

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