Plano diretor/Artigo Correio 11/11/16

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Qual a diferença entre morar numa cidade e viver numa ci- dade? Pressionado por Movimen- tos Sociais que há meses argu- mentam sobre a necessidade de maior prazo para discutir com profundidade o Plano Di- retor, o prefeito Jonas Donizet- te finalmente cedeu e esten- deu o prazo para 2017. Embo- ra tenha sido dado um passo importante na direção de abrir espaço para a participação da sociedade, a simples prorroga- ção de nada valerá, se a meto- dologia de trabalho até aqui empregada não for profunda- mente revista. Preocupa-nos também, a afirmação do sr. Prefeito de que estaria “pronto para apresentar” um projeto de lei à Câmara Municipal. Não foi o que transpareceu nos eventos recentes nos quais foram apresentadas pro- postas ainda incipientes e con- teúdos obrigatórios para um Plano Diretor, incompletos. O processo de elaboração do Plano Diretor (PD), como vem sendo conduzido, sofre críticas desde 2014 quando constituiu-se o Fórum Cida- dão pelo Plano Diretor Partici- pativo, aberto à participação e que congrega cidadãos e mais de 20 entidades que vêm discu- tindo no meio social as deman- das da Cidade, o processo de elaboração, e o conteúdo do Plano Diretor que uma metró- pole do porte de Campinas merece. Há diversos exemplos bem- sucedidos de elaboração de planos diretores, a metodolo- gia que vislumbramos passa pelo estabelecimento de al- guns princípios básicos, a sa- ber: 1- Transparência no trato de informações e documentos que subsidiam as discussões a serem conduzidas. É funda- mental que sejam disponibili- zados na internet os textos, da- dos e mapas com os quais a PMC vem trabalhando interna- mente. Tratam-se de docu- mentos públicos aos quais to- dos têm direito ao livre acesso; 2- Adoção de meios para in- formar e sensibilizar o cidadão sobre a importância do seu en- volvimento. O secretário Fer- nando Pupo declarou que 80% da população não tomou co- nhecimento do processo até aqui. Trata-se de um número preocupante que por si só des- legitima todo o processo em- pregado; 3 – Adoção de processo de formação e capacitação da so- ciedade civil, de modo a forta- lecê-la para que a votação na Câmara incorpore e respeite o pactuado durante o processo participativo a ser efetivado; 4- Definição de uma agen- da clara e consistente que con- sidere prazos legais de convo- cação e dê à Sociedade tempo hábil para leitura, discussões prévias e questionamentos que levem à tomada de posi- ção com base nos fatos e da- dos disponibilizados; 5- Atendimento aos precei- tos federais que tratam do pro- cesso de elaboração, aprova- ção, conteúdo mínimo e poste- rior monitoramento do Plano Diretor, a saber: Estatuto da Ci- dade (10.257/01); Lei de Aces- so à Informação (12.527/11); Estatuto da Metrópole (13.089/15); Resolução nº 25/05 e Resolução Recomenda- da nº 34/05, do Conselho das Cidades. Além da própria Constituição Federal, em espe- cial quanto a seus artigos 5º e 37˚; 6- Desenvolvimento conco- mitante da nova legislação de Uso e Ocupação do Solo de for- ma que a autoaplicabilidade dos instrumentos do Estatuto da Cidade adotados no Plano Diretor seja de fato assegurada aos municípies, sem a necessi- dade de regulamentação poste- rior; 7- Que a elaboração se en- cerre em um processo claro de pactuação social conduzido conforme define o Art. 10º da Resolução nº 25/05: “A propos- ta do plano diretor a ser sub- metida à Câmara Municipal deve ser aprovada em uma conferência ou evento simi- lar”. Ademais, é importante cha- mar a atenção para a Lei Orgâ- nica de Campinas no que trata do Plano Diretor, em especial para os Art. 42, 174, 198 e 268. Transparência, acesso à in- formação e uma metodologia que: complemente o atual diagnóstico; envolva a popula- ção; defina tempo hábil para propor, contrapropor, discutir e pactuar, são preceitos para a participação da sociedade e é o que nós cidadãos de Campi- nas vemos como única forma de elaborarmos um Plano Dire- tor que reflita a complexidade socioeconômica da Metrópole e sirva aos seus cidadãos. Reconhecemos o empenho da equipe técnica da Seplan que está claramente subdi- mensionada para a tarefa de revisão do Plano Diretor e da LUOS. Nosso futuro depende de um planejamento feito com método, seriedade e pro- fundidade que contemple a di- versidade cultural e dos inte- resses que perfazem a socieda- de campineira, e isso exigirá mais cabeças para pensar, dia- logar e, finalmente, pactuar o texto jurídico do Projeto de Lei. É imprescindível que o Pla- no Diretor tenha o DNA do ci- dadão campineiro. Queremos uma Campinas onde possa- mos viver e criar nossos filhos com qualidade, não queremos apenas uma cidade para mo- rar. Donald J. Trump foi eleito o presidente dos Estados Uni- dos de forma inesperada pela grande maioria – talvez até por ele mesmo. Seus discursos alegando fraude nas eleições, desde antes da votação e du- rante o dia, prenunciam a sua expectativa de não vencer. Agora que ganhou, pode ser que tenha que lidar com a res- ponsabilidade por ter vencido. Principalmente nas elei- ções para o poder legislativo no Brasil, em especial para ve- reador, é recorrente a figura do candidato que não quer ga- nhar. Participa do pleito eleito- ral na esperança de se projetar politicamente a ponto de con- seguir algum cargo junto aos eleitos. Lógica semelhante pa- recia ser a seguida pelo então candidato republicano Donald Trump. Trump, se derrotado, sairia mais fortalecido. Além de po- der manter sua posição de in- justiçado, penalizado por “falar a verdade” (o que não é verda- de, pois estudos demonstra- ram que mentiu mais na cam- panha que a oponente demo- crata) em um mundo hipócri- ta, já teria renovado sua ima- gem comercial, que vinha em decadência. Originalmente em- presário do ramo da constru- ção, de uns tempos para cá tem mantido negócios no setor baseados no licenciamento de sua marca. Construções nem sempre bem-sucedidas levam o seu nome na esperança de atrair compradores. E quando fracassavam, o ônus era sem- pre dos empreendedores, nun- ca das Organizações Trump. Por outro lado, eleito presi- dente, Trump não poderá dele- gar o fracasso para os outros. Terá que assumir o encargo de suas contradições, de seu dis- curso isolacionista (“America First”) em um mundo globali- zado, de suas colocações pre- conceituosas em um mundo li- beral, de sua visão de mercado que oscila entre o liberalismo e o protecionismo. Um artigo do New York Ti- mes é preciso: Donald Trump é eleito presidente em incrível repúdio ao establishment. Pa- ra aqueles que suspeitavam de uma onda conservadora na América Latina, as eleições americanas são mais uma de- monstração inequívoca de que essa onda se alastra pelo mundo, na esteira da insatisfa- ção com a persistente crise econômica e os malefícios da globalização. O chamado “trumpismo” funcionou bem na oposição. Mas esse discurso de negação costuma ser antipropositivo. Como lidar com a necessidade de elaborar propostas? Agora é esperar se as bravatas de Trump levarão a medidas fir- mes no sentido de uma nova “Doutrina Bush”, capaz de de- sestabilizar o já não tão equili- brado sistema internacional, ou se Trump gerenciará seu go- verno como administra seus negócios: com muito marke- ting e, na verdade, delegação de poderes a pessoas mais ha- bilitadas. Trump estava preparado pa- ra perder. Como ganhador, te- rá que lidar com duas possibili- dades: a bolha ideológica ou o pragmatismo político. A bolha ideológica que o elegeu, não se sustentará contrariando os ditames de um mundo liberal e globalizado. Suas convicções são a desglobalização, a recu- sa ao multilateralismo e a reto- mada do isolacionismo ameri- cano. O mais provável é que Trump se paute mais, a partir de agora, pela realpolitik, pelo pragmatismo político, e mode- re, senão seus discursos, mas suas práticas. Se, no entanto, as intimidações do próximo presidente americano forem cumpridas, ele se aproximará mais do ônus da vitória, tendo que lidar, afinal, com a descon- fiança natural do seu povo e da população mundial. Opinião Escola sempre foi lugar de aprender. Espaço para a transmissão do conhecimen- to. Templo do saber, onde infância e juventude pas- sam os melhores anos da existência. Mas como o mundo é di- nâmico, as coisas mudam de forma drástica, os episó- dios de violência na escola tornaram-se comuns. Pode- se mencionar a incivilidade, sintoma de que as regras de civilidade — conviver em harmonia — foram quebra- das. Também o bullying, agressão entre colegas, ma- nifestação sob a forma de ameaças e humilhações constantes, sem que a víti- ma seja capaz de se defen- der. Nesse teatro macabro, há três personagens: o agres- sor, a vítima e o espectador. Por fim, os comportamen- tos antissociais. A delinquên- cia da depredação, do van- dalismo, do dano inclemen- te causado à coisa pública, aquela cujo dono é o povo. Cinco vertentes preten- dem explicar a origem da violência na escola. A primei- ra se funda na própria natu- reza humana. O ser humano é violento, porque aprendeu a ser assim na própria evolu- ção, para poder sobreviver. Exatamente porque o ho- mem é violento e agressivo, que a sociedade procura ca- nalizar esse instinto subme- tendo-o a controle pela edu- cação, pela moral e pela reli- gião. A segunda associa a violência a fatores de risco, assim como desestrutura- ção familiar, ausência do pai, relações familiares não afetuosas, violência intrafa- miliar. Tudo isso transmite modelos violentos como for- ma de resolver conflitos. Um terceiro eixo reside na percepção da sociedade e do sistema educativo so- bre o que significa violência. Violência é um conceito so- cial e admite níveis de tole- rância ou intolerância a cer- tos comportamentos. De- pende também do lugar on- de eles acontecem. Gritar, fa- lar alto, provocar balbúrdia, desafiar, lutar, são ações to- leráveis num ambiente, mas intoleráveis na escola. A quarta vertente explica a violência como diretamen- te relacionada ao clima e à organização da escola. Há menos violência quando as regras são claras e justas, a coesão da equipe é consis- tente, as expectativas de pro- fessores e alunos são mescla- das por um sentimento de pertencimento à comunida- de escolar. Aqui funciona a mediação de conflitos para modificar as lógicas de ação. Finalmente, a quinta ex- plicação diz com a universa- lização do ensino e a chega- da à escola de novo público, já consciente de que o diplo- ma não garantirá êxito pro- fissional nem estudar signifi- ca ascender socialmente. Certos jovens escolheriam ser maus alunos, reivindi- cando para si um estigma negativo, desencadeador de revolta sem objeto. Ninguém se ilude com a possibilidade de eliminação da violência na escola. Toda- via, é válida a tentativa de administrar agressividade e conflito pela palavra e não pela violência. Controla-se a agressividade mediante in- centivo a brincadeiras, a dra- matização, a jogos e outras táticas de integração. Simul- taneamente, deve-se identifi- car os fatores de risco e for- talecer os fatores de prote- ção, atuando junto à famí- lia. Nas escolas em que se re- conhece a pluralidade de sig- nificados do termo violên- cia, deve-se estimular a par- ticipação da comunidade. Por isso o sucesso do proje- to "Escola da Família", que completou 13 anos em 2016. A mudança do clima escolar vem mediante coo- peração mútua, o trabalho em comum, o compartilha- mento, o diálogo, a percep- ção de que há muitas for- mas de ver as coisas e que todos os pontos de vista de- vem ser acatados e discuti- dos. O respeito à diversida- de, o exercício do autocon- trole, a valorização da refle- xão, o pensamento crítico e o respeito às ideias. É urgen- te desenvolver a empatia, com a capacidade de se colo- car cognitiva e sentimental- mente no lugar do outro. Enfim, como a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, todos são chamados a coibir a violência na escola, mácu- la que pode contaminar a so- ciedade e torná-la mais agressiva do que já é. Aceito ideias e, principalmente, tra- balho da lucidez para o ade- quado trato desse fenôme- no preocupante. EUA Violência na escola Trump e o ônus da vitória Editor: Rui Motta [email protected] - Editora-assistente: Milene Moreto [email protected] - Correio do Leitor [email protected] renato nalini Planejando Campinas JOSÉ FURTADO [email protected] ■■ José Furtado é coordenador do Observatório Cidadão Campinas Que Queremos RICARDO LUIGI [email protected] charge ■■ José Renato Nalini é secretário de Educação do Estado de São Paulo PLANO DIRETOR ■■ Ricardo Luigi é professor universitário e diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais “Gostem ou não gostem, eu sou candidato em 2018” Deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pegando carona no estilo polêmico e fanfarrão de Donald Trump. [email protected] A2 CORREIO POPULAR A2 Campinas, sexta-feira, 11 de novembro de 2016

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Qual a diferença entre morarnuma cidade e viver numa ci-dade?

Pressionado por Movimen-tos Sociais que há meses argu-mentam sobre a necessidadede maior prazo para discutircom profundidade o Plano Di-retor, o prefeito Jonas Donizet-te finalmente cedeu e esten-deu o prazo para 2017. Embo-ra tenha sido dado um passoimportante na direção de abrirespaço para a participação dasociedade, a simples prorroga-ção de nada valerá, se a meto-dologia de trabalho até aquiempregada não for profunda-mente revista. Preocupa-nostambém, a afirmação do sr.Prefeito de que estaria “prontopara apresentar” um projetode lei à Câmara Municipal.Não foi o que transpareceunos eventos recentes nosquais foram apresentadas pro-postas ainda incipientes e con-teúdos obrigatórios para umPlano Diretor, incompletos.

O processo de elaboraçãodo Plano Diretor (PD), comovem sendo conduzido, sofrecríticas desde 2014 quandoconstituiu-se o Fórum Cida-dão pelo Plano Diretor Partici-pativo, aberto à participação eque congrega cidadãos e maisde 20 entidades que vêm discu-tindo no meio social as deman-das da Cidade, o processo deelaboração, e o conteúdo doPlano Diretor que uma metró-pole do porte de Campinasmerece.

Há diversos exemplos bem-sucedidos de elaboração deplanos diretores, a metodolo-gia que vislumbramos passa

pelo estabelecimento de al-guns princípios básicos, a sa-ber:

1- Transparência no tratode informações e documentosque subsidiam as discussões aserem conduzidas. É funda-mental que sejam disponibili-zados na internet os textos, da-dos e mapas com os quais aPMC vem trabalhando interna-mente. Tratam-se de docu-mentos públicos aos quais to-dos têm direito ao livre acesso;

2- Adoção de meios para in-formar e sensibilizar o cidadãosobre a importância do seu en-volvimento. O secretário Fer-nando Pupo declarou que 80%da população não tomou co-nhecimento do processo atéaqui. Trata-se de um númeropreocupante que por si só des-legitima todo o processo em-pregado;

3 – Adoção de processo deformação e capacitação da so-ciedade civil, de modo a forta-lecê-la para que a votação naCâmara incorpore e respeite opactuado durante o processoparticipativo a ser efetivado;

4- Definição de uma agen-da clara e consistente que con-sidere prazos legais de convo-

cação e dê à Sociedade tempohábil para leitura, discussõesprévias e questionamentosque levem à tomada de posi-ção com base nos fatos e da-dos disponibilizados;

5- Atendimento aos precei-tos federais que tratam do pro-cesso de elaboração, aprova-ção, conteúdo mínimo e poste-rior monitoramento do PlanoDiretor, a saber: Estatuto da Ci-dade (10.257/01); Lei de Aces-so à Informação (12.527/11);Estatuto da Metrópole(13.089/15); Resolução nº25/05 e Resolução Recomenda-da nº 34/05, do Conselho dasCidades. Além da própriaConstituição Federal, em espe-cial quanto a seus artigos 5º e37˚;

6- Desenvolvimento conco-mitante da nova legislação deUso e Ocupação do Solo de for-ma que a autoaplicabilidadedos instrumentos do Estatutoda Cidade adotados no PlanoDiretor seja de fato asseguradaaos municípies, sem a necessi-dade de regulamentação poste-rior;

7- Que a elaboração se en-cerre em um processo claro depactuação social conduzido

conforme define o Art. 10º daResolução nº 25/05: “A propos-ta do plano diretor a ser sub-metida à Câmara Municipaldeve ser aprovada em umaconferência ou evento simi-lar”.

Ademais, é importante cha-mar a atenção para a Lei Orgâ-nica de Campinas no que tratado Plano Diretor, em especialpara os Art. 42, 174, 198 e 268.

Transparência, acesso à in-formação e uma metodologiaque: complemente o atualdiagnóstico; envolva a popula-ção; defina tempo hábil parapropor, contrapropor, discutire pactuar, são preceitos para aparticipação da sociedade e éo que nós cidadãos de Campi-nas vemos como única formade elaborarmos um Plano Dire-tor que reflita a complexidadesocioeconômica da Metrópolee sirva aos seus cidadãos.

Reconhecemos o empenhoda equipe técnica da Seplanque está claramente subdi-mensionada para a tarefa derevisão do Plano Diretor e daLUOS. Nosso futuro dependede um planejamento feitocom método, seriedade e pro-fundidade que contemple a di-versidade cultural e dos inte-resses que perfazem a socieda-de campineira, e isso exigirámais cabeças para pensar, dia-logar e, finalmente, pactuar otexto jurídico do Projeto deLei.

É imprescindível que o Pla-no Diretor tenha o DNA do ci-dadão campineiro. Queremosuma Campinas onde possa-mos viver e criar nossos filhoscom qualidade, não queremosapenas uma cidade para mo-rar.

Donald J. Trump foi eleito opresidente dos Estados Uni-dos de forma inesperada pelagrande maioria – talvez atépor ele mesmo. Seus discursosalegando fraude nas eleições,desde antes da votação e du-rante o dia, prenunciam a suaexpectativa de não vencer.Agora que ganhou, pode serque tenha que lidar com a res-ponsabilidade por ter vencido.

Principalmente nas elei-

ções para o poder legislativono Brasil, em especial para ve-reador, é recorrente a figurado candidato que não quer ga-nhar. Participa do pleito eleito-ral na esperança de se projetarpoliticamente a ponto de con-seguir algum cargo junto aoseleitos. Lógica semelhante pa-recia ser a seguida pelo entãocandidato republicano DonaldTrump.

Trump, se derrotado, sairiamais fortalecido. Além de po-der manter sua posição de in-justiçado, penalizado por “falara verdade” (o que não é verda-de, pois estudos demonstra-ram que mentiu mais na cam-

panha que a oponente demo-crata) em um mundo hipócri-ta, já teria renovado sua ima-gem comercial, que vinha emdecadência. Originalmente em-presário do ramo da constru-ção, de uns tempos para cátem mantido negócios no setorbaseados no licenciamento desua marca. Construções nemsempre bem-sucedidas levamo seu nome na esperança deatrair compradores. E quandofracassavam, o ônus era sem-pre dos empreendedores, nun-ca das Organizações Trump.

Por outro lado, eleito presi-dente, Trump não poderá dele-gar o fracasso para os outros.

Terá que assumir o encargo desuas contradições, de seu dis-curso isolacionista (“AmericaFirst”) em um mundo globali-zado, de suas colocações pre-conceituosas em um mundo li-beral, de sua visão de mercadoque oscila entre o liberalismoe o protecionismo.

Um artigo do New York Ti-mes é preciso: Donald Trumpé eleito presidente em incrívelrepúdio ao establishment. Pa-ra aqueles que suspeitavam deuma onda conservadora naAmérica Latina, as eleiçõesamericanas são mais uma de-monstração inequívoca deque essa onda se alastra pelo

mundo, na esteira da insatisfa-ção com a persistente criseeconômica e os malefícios daglobalização.

O chamado “trumpismo”funcionou bem na oposição.Mas esse discurso de negaçãocostuma ser antipropositivo.Como lidar com a necessidadede elaborar propostas? Agora éesperar se as bravatas deTrump levarão a medidas fir-mes no sentido de uma nova“Doutrina Bush”, capaz de de-sestabilizar o já não tão equili-brado sistema internacional,ou se Trump gerenciará seu go-verno como administra seusnegócios: com muito marke-ting e, na verdade, delegaçãode poderes a pessoas mais ha-bilitadas.

Trump estava preparado pa-ra perder. Como ganhador, te-rá que lidar com duas possibili-dades: a bolha ideológica ou o

pragmatismo político. A bolhaideológica que o elegeu, nãose sustentará contrariando osditames de um mundo liberale globalizado. Suas convicçõessão a desglobalização, a recu-sa ao multilateralismo e a reto-mada do isolacionismo ameri-cano.

O mais provável é queTrump se paute mais, a partirde agora, pela realpolitik, pelopragmatismo político, e mode-re, senão seus discursos, massuas práticas. Se, no entanto,as intimidações do próximopresidente americano foremcumpridas, ele se aproximarámais do ônus da vitória, tendoque lidar, afinal, com a descon-fiança natural do seu povo eda população mundial.

Opinião

Escola sempre foi lugar deaprender. Espaço para atransmissão do conhecimen-to. Templo do saber, ondeinfância e juventude pas-sam os melhores anos daexistência.

Mas como o mundo é di-nâmico, as coisas mudamde forma drástica, os episó-dios de violência na escolatornaram-se comuns. Pode-se mencionar a incivilidade,sintoma de que as regras decivilidade — conviver emharmonia — foram quebra-das. Também o bullying,agressão entre colegas, ma-nifestação sob a forma deameaças e humilhaçõesconstantes, sem que a víti-ma seja capaz de se defen-der. Nesse teatro macabro,há três personagens: o agres-sor, a vítima e o espectador.Por fim, os comportamen-tos antissociais. A delinquên-cia da depredação, do van-dalismo, do dano inclemen-te causado à coisa pública,aquela cujo dono é o povo.

Cinco vertentes preten-dem explicar a origem daviolência na escola. A primei-ra se funda na própria natu-reza humana. O ser humanoé violento, porque aprendeua ser assim na própria evolu-ção, para poder sobreviver.Exatamente porque o ho-mem é violento e agressivo,que a sociedade procura ca-nalizar esse instinto subme-tendo-o a controle pela edu-cação, pela moral e pela reli-gião. A segunda associa aviolência a fatores de risco,assim como desestrutura-ção familiar, ausência dopai, relações familiares nãoafetuosas, violência intrafa-miliar. Tudo isso transmitemodelos violentos como for-ma de resolver conflitos.

Um terceiro eixo residena percepção da sociedadee do sistema educativo so-bre o que significa violência.Violência é um conceito so-cial e admite níveis de tole-rância ou intolerância a cer-tos comportamentos. De-pende também do lugar on-de eles acontecem. Gritar, fa-lar alto, provocar balbúrdia,desafiar, lutar, são ações to-leráveis num ambiente, masintoleráveis na escola.

A quarta vertente explicaa violência como diretamen-te relacionada ao clima e àorganização da escola. Hámenos violência quando asregras são claras e justas, acoesão da equipe é consis-tente, as expectativas de pro-fessores e alunos são mescla-

das por um sentimento depertencimento à comunida-de escolar. Aqui funciona amediação de conflitos paramodificar as lógicas deação.

Finalmente, a quinta ex-plicação diz com a universa-lização do ensino e a chega-da à escola de novo público,já consciente de que o diplo-ma não garantirá êxito pro-fissional nem estudar signifi-ca ascender socialmente.Certos jovens escolheriamser maus alunos, reivindi-cando para si um estigmanegativo, desencadeador derevolta sem objeto.

Ninguém se ilude com apossibilidade de eliminaçãoda violência na escola. Toda-via, é válida a tentativa deadministrar agressividade econflito pela palavra e nãopela violência. Controla-se aagressividade mediante in-centivo a brincadeiras, a dra-matização, a jogos e outrastáticas de integração. Simul-taneamente, deve-se identifi-car os fatores de risco e for-talecer os fatores de prote-ção, atuando junto à famí-lia.

Nas escolas em que se re-conhece a pluralidade de sig-nificados do termo violên-cia, deve-se estimular a par-ticipação da comunidade.Por isso o sucesso do proje-to "Escola da Família", quecompletou 13 anos em2016. A mudança do climaescolar vem mediante coo-peração mútua, o trabalhoem comum, o compartilha-mento, o diálogo, a percep-ção de que há muitas for-mas de ver as coisas e quetodos os pontos de vista de-vem ser acatados e discuti-dos. O respeito à diversida-de, o exercício do autocon-trole, a valorização da refle-xão, o pensamento crítico eo respeito às ideias. É urgen-te desenvolver a empatia,com a capacidade de se colo-car cognitiva e sentimental-mente no lugar do outro.

Enfim, como a educaçãoé direito de todos e dever doEstado e da família, com acolaboração da sociedade,todos são chamados a coibira violência na escola, mácu-la que pode contaminar a so-ciedade e torná-la maisagressiva do que já é. Aceitoideias e, principalmente, tra-balho da lucidez para o ade-quado trato desse fenôme-no preocupante.

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Violência naescola

Trump e o ônus da vitória

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“Gostem ou não gostem, eu sou candidato em2018”Deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pegando carona no estilo polêmico e fanfarrão de Donald [email protected]

A2 CORREIO POPULARA2Campinas, sexta-feira, 11 de novembro de 2016