Planos de Manutrenção

download Planos de Manutrenção

of 169

Transcript of Planos de Manutrenção

UNIVERSIDADE DO PORTOFACULDADE DE ENGENHARIADepartamento de Engenharia Civil

Manuteno preventiva em instalaes de edifcios

Antnio Paulo de Oliveira Vasconcelos

Dissertao apresentada Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para obteno do grau de Mestre em Reabilitao do Patrimnio Edificado

PORTO 2005

ResumoTemos assistido nos ltimos anos a um crescente aumento do consumo e dos preos da energia. De acordo com anlises realizadas pela Unio Europeia, uma percentagem significativa deste aumento de consumo est relacionado com edifcios e habitaes. A manuteno preventiva de instalaes , entre outros aspectos, uma das ferramenta essenciais na reduo desta factura energtica, quer atravs de uma maior eficincia do seu funcionamento, em especial das mais dependentes de energia como as de condicionamento ambiental e iluminao, quer na reduo do dispndio de outro tipo de recursos, a que a falha das instalaes tratadas nesta dissertao obriga e que forosamente estar tambm relacionado com um maior gasto de energia nas suas vrias formas e com o desempenho global do edifcio como um recurso, conforto e segurana dos utentes. A questo que se coloca relaciona-se com a metodologia a aplicar para esse efeito. De que forma podem ou devem os planos de manuteno ser elaborados, qual a periodicidade de base a considerar? Poderemos efectuar uma transposio da metodologia utilizada na indstria para esse efeito? Com base na legislao comunitria e nacional existente e em vrios documentos emitidos por diversas organizaes, expressando nomeadamente toda esta preocupao relacionada com poupana de energia e proteco dos utentes e ambiental, foi neste trabalho realizada uma pequena resenha, introdutria, regulamentar e muitas vezes justificativa, das opes tomadas para a definio dos plano de manuteno de cada uma das instalaes nele consideradas. Pretendeu-se que as aces de manuteno neles includas fossem at ao nvel 4 da NF X 60010, ou seja englobando todos os trabalhos importantes de manuteno correctiva ou preventiva, com excepo de renovao e reconstruo, abrangendo tambm as regulaes dos aparelhos de medida utilizados para manuteno e eventualmente a verificao, em vrias fases do trabalho, realizada por organismos credenciados ou reconhecidos para o efeito. Os planos de manuteno apresentados no final do trabalho, pretendem servir de ponto de partida para a elaborao de planos de manuteno especficos, para cada uma das instalaes concretas existentes em determinado edifcio e estabelecimento de programas de manuteno preventiva para as mesmas. Este trabalho sugere que poder ser adoptada para a manuteno preventiva de instalaes de edifcios, uma metodologia similar adoptada na indstria com vantagens para a durabilidade e desempenho das mesmas. Palavras-chave: Planos de manuteno preventiva, instalaes.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

2

Summary We have been experiencing in the last decade, a constant increase in energy consumption and energy prices . According to the latest analysis performed by the European Union, a very large percentage of this increase in the consumption, is related to buildings and housing. Preventive maintenance of technical installations in buildings is, among other aspects, one of the main tools for the reduction of the energy bill, either by increasing the efficiency of those installations, specially those who are major spenders, such as heating and cooling systems and lighting or through the reduction of the use of other type of resources, that the failure of the installations presented in this work will led to, and obviously, also related to other types of energy in is various forms, to the failure of the building performance as an asset, comfort and safety of the users. The question that arises is related to the methodology to use for that purpose. In what form can or should be the preventive plans written? What should or can the frequencies be for starting the preventive maintenance plan? Can we use what is already in practice in other industries for that? Starting from the European union directives, Portuguese legal documents and documents issued by several organisations, expressing mainly worries about the energy consumption reduction and environment and users safeguarding, was made in this work a small resume, introductory to the theme, regulating and justifying some of the options taken for base frequency definition of the preventive maintenance plan actions. The author tried to limit those actions to NF X 60-010 level 4, including all the major preventive or corrective maintenance actions, the tuning of the measuring devices used in the maintenance actions and, eventually, the third party verification performed by government approved organisations, with the exception of rebuilding or revamping works. The preventive maintenance plans presented at the end of this work, should be seen as starting points for the preparation of specific maintenance plans for each of the installations presented in a building and for the establishment of a preventive maintenance plan for them. This work suggests that preventive maintenance methodology used in industry, can be applied with success to preventive maintenance of building technical installations. Keywords Preventive maintenance plans, technical installations

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

3

AgradecimentosO autor exprime os seus mais sinceros agradecimentos ao professor Doutor Rui Calejo pela sua importante orientao e incentivo na elaborao deste trabalho.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

4

Prefcio A percepo, por parte dos utentes e muitas vezes por parte dos responsveis pelos edifcios, da grande durabilidade da componente estrutural dos mesmos, leva incluso nesta ideia de todos os componentes e instalaes neles presentes. Na maior parte das vezes esta percepo de grande durabilidade trs consigo uma certa apatia relativamente s aces de manuteno preventiva das instalaes, que permitiriam: Manter o desempenho continuado das mesmas, de acordo com o projecto inicial (ou num valor mnimo aceitvel), no rigoroso cumprimento da legislao em vigor; Aos proprietrios dos edifcios ou tcnicos em quem eles delegaram essa responsabilidade coligir uma srie de dados de funcionamento e conservao, mantendo um histrico do desempenho das mesmas, para em qualquer ocasio, saber com o mximo de exactido as reais necessidades de manuteno ou substituio, com aproveitamento das melhores janelas de oportunidade temporal e com a correcta alocao de recursos.

Pelo facto de a manuteno das instalaes ter frequncias e metodologias prprias e distintas da componente estrutural pareceu, ao autor, ser possvel fazer uma aproximao da metodologia da manuteno de instalaes de edifcios metodologia da manuteno industrial, com claros benefcios em termos de desempenho das mesmas. Dado o aumento do nmero e complexidade das instalaes existentes nos edifcios mais recentes, o papel a desempenhar pelos utentes ou proprietrios na manuteno preventiva das instalaes e a necessidade de formao para a sua correcta utilizao, tambm abordado e considerado pelo autor como uma mais valia para o funcionamento das mesma quer do ponto de vista tcnico quer econmico.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

5

ndice resumido 1.Captulo 2.Captulo 3.Captulo 4.Captulo 5.Captulo 6.Captulo 7.Captulo Um Dois Trs Quatro Cinco Seis Sete Situao actual - Caracterizao das instalaes - Planos de manuteno - Aplicao prtica - Bibliografia - Concluses - Apreciao geral e trabalho futuro 11 28 108 165 167 169 169

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

6

ndice

Resumo................................................................................................................ 2 Agradecimentos..................................................................................................... 4 Prefcio ................................................................................................................ 5 1 - Introduo ..................................................................................................... 11 1.1 Situao actual na Unio Europeia .................................................................... 14 1.1.1 Directiva SAVE 93/76 EEC .......................................................................... 14 1.1.2 Proposta de directiva sobre o desempenho energtico de edifcios COM (2001) 226 final ................................................................................................................... 15 1.1.3 Directiva 2002/91/CE de 16 de Dezembro, certificao energtica e da qualidade do ar no interior dos edifcios ..................................................................................... 16 1.1.4 Plano de aco para aumento da eficincia energtica da unio europeia COM (200) 247 final............................................................................................................. 17 1.1.5 Directiva 92/42/CEE de 21 de Maio de 1992 - Exigncias de rendimentos para novas caldeiras de gua quente, alimentadas com combustveis lquidos ou gasosos. ............. 18 1.1.6 Directiva 78/170/CEE, de 13 de Fevereiro de 1978 ........................................... 18 1.1.7 Directiva 90/396/CEE Directiva dos equipamentos de gs ............................... 18 1.1.8 Regulamentao das substncias nocivas para a camada de ozono (2037/2000)... 19 1.1.9 Directiva 95/16/CE de 29 de Junho de 1995 sobre equipamentos de elevao ...... 19 1.2 Situao particular dos Estados Membros........................................................... 20 1.2.1 Distribuio de energia ................................................................................. 20 1.2.3 Condicionamento ambiental .......................................................................... 20 1.2.4 guas residuais ........................................................................................... 21 1.2.5 Elevao..................................................................................................... 21 1.3 Situao Nacional ........................................................................................... 22 1.3.1 Instalaes de abastecimento de gua potvel e guas residuais ........................ 22 1.3.2 Instalaes de distribuio de energia............................................................. 23 1.3.3 Instalaes de elevao ................................................................................ 25 1.3.4 Instalaes de telecomunicaes.................................................................... 26 1.3.5 Instalaes para condicionamento ambiental ................................................... 27 2.- Caracterizao das instalaes ......................................................................... 28 2.1 Conceitos relativos a bens durveis e manuteno .............................................. 29 2.1.1 Vocabulrio................................................................................................. 32 2.1.2 Definio de operaes de manuteno.......................................................... 34 2.1.3 Classificao por nveis de manuteno........................................................... 36 2.2 Caracterizao das instalaes - descrio ......................................................... 37 2.2.1 Instalaes consideradas .............................................................................. 37 2.2.2 Instalaes de gua potvel .......................................................................... 38 2.2.3 Instalaes de guas residuais ...................................................................... 45 2.2.3.1 guas negras e sabo................................................................................ 45 2.2.3.2 guas pluviais e freticas ........................................................................... 53 2.2.4 Instalaes de distribuio de energia............................................................. 57 2.2.6 Sistemas de condicionamento ambiental ......................................................... 71 2.2.7 Instalaes de elevao ................................................................................ 86 Sistemas de segurana ......................................................................................... 92 2.2.8 Instalaes de deteco e combate a incndio ................................................. 94 2.2.9 Equipamento dinmico .............................................................................. 103

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

7

3 Planos de manuteno preventiva...................................................................... 108 3.1 Descrio das fichas ..................................................................................... 108 3.1.1 Identificao das instalaes ....................................................................... 108 3.1.2 Plano de manuteno ................................................................................. 109 3.2 Classificao das indicaes ........................................................................... 111 3.3 Planos de manuteno preventiva ................................................................... 3.3.1 Instalao de gua potvel ......................................................................... 3.3.2 Instalao de guas residuais ..................................................................... 3.3.3 Plano de manuteno preventiva para instalaes de distribuio de energia .... 3.3.4 Plano de manuteno preventiva para fontes renovveis de energia................. 3.3.5 Instalaes de comunicaes .................................................................... 3.3.6 Instalaes de condicionamento ambiental ................................................. 3.3.7 Plano de manuteno preventiva para instalaes de elevao ......................... 3.3.8 Plano de manuteno preventiva para sistema de deteco/combate a incndios 3.3.9 Plano de manuteno preventiva para equipamento dinmico .......................... 112 112 116 121 131 139 140 151 154 159

4 Aplicao prtica ............................................................................................. 163 5 Bibliografia..................................................................................................... 167 6 Concluses..................................................................................................... 169 7 Apreciao geral e trabalho futuro ..................................................................... 169 7.1 Apreciao geral........................................................................................... 169 7.2 Trabalho futuro ............................................................................................ 169

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

8

ndice de quadrosQuadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro Quadro 1 - Legislao relativa a instalaes de gua potvel e residual ...............................................22 2 - Legislao relativa a instalaes de distribuio energia elctrica.....................................23 3 - Legislao relativa a instalaes de gs natural e GLP ..........................................................24 4 - Legislao relativa a sistemas elevao .......................................................................................25 5 - Legislao relativa a instalaes de telecomunicaes...........................................................26 6 - Legislao relativa ao desempenho energtico .........................................................................27 7 - Materiais para instalaes de gua potvel ................................................................................43 8 - Tempo de vida expectvel / condies de servio ...................................................................43 9 - Periodicidade de inspeco (Dec. Lei 740/74) ...........................................................................57 10 - Descrio da simbologia para classificao do tipo de isolamento..................................58 11 - Disjuntores diferenciais - sensibilidade requerida..................................................................60 12 - Frequncia de inspeco ............................................................................. 86 13 - Instalaes de deteco e combate a incndio .......................................................................94 14 - Classificao dos locais - risco de incndio...............................................................................95 15 - Exemplo de classificao de equipamento dinmico...........................................................103 16 - Resumo da norma ISO 10816......................................................................................................104 17 - Equipamentos, classificao e critrios de preventiva .......................................................106

ndice de figurasfigura 1 - Sistema integrado de manuteno ................................................................... 30 figura 2 Ciclo da gua ................................................................................................ 44 figura 3 Ciclo da gua at consumidor ......................................................................... 44 figura 4 - Esquema dos sistemas de gua potvel e guas residuais ................................... 47 figura 5 esquema do sistema de drenagem da uma casa de banho................................... 47 figura 6- Fossa sptica e esquema de funcionamento figura 7 esquema de funcionamento 49 figura 8 Esquema de funcionamento de um sistema de guas residuais com fossa sptica... 49 figura 9 Esquema de instalao tpico de um tubo do sistema de drenagem ...................... 50 figura 10 - Esquema de funcionamento de uma grande instalao de tratamento de guas residuais .................................................................................................................... 51 figura 11 Decantador em funcionamento ...................................................................... 52 figura 12 - Efluente aps tratamento .............................................................................. 52 figura 13 Elementos constituintes guas pluviais ........................................................ 53 figura 14 Imagem termogrfica de um sobreaquecimento, por desaperto de um ligador...... 61 figura 15 - Esquema de um sistema fotovoltaico numa habitao ....................................... 65 figura 16 Aspecto de uma bateria que explodiu por deficiente manuteno e carga ............ 67 figura 17 - Unidade de janela 77 figura 18 - Unidade de janela - esquema de funcionamento 77 figura 19 - Unidade split 78 figura 20 - Unidade split - esquema funcionamento 78 figura 21 Torre de arrefecimento de sistema de condicionamento de ar centralizado ........ 80 figura 22 Constituio de ascensor hidrulico ................................................................ 91 figura 23 Constituio de ascensores mecnicos (com e sem reduo) ............................. 91 figura 24 Porta corta fogo impedida de fecho automtico................................................ 97 figura 25 - Extintores portteis e grupo de extino automtica a de CO2 ...........................100 figura 26 Base de dados Emonitor - Odyssey ...............................................................104 figura 27 Base de dados de equipamento dinmico, .......................................................105 figura 28 - Data colector utilizado para recolha de dados de funcionamento ........................105

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

9

Captulo Um Situao actual1 1.1 1.2 1.3 Introduo Situao actual na Unio Europeia Situao particular dos Estados Membros Situao Nacional

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

10

1 - IntroduoA manuteno preventiva das instalaes tcnicas dos edifcios de habitao ou comrcio, vem ao encontro das polticas da unio europeia para o sculo XXI, orientadas para um maior desafio do ponto de vista ambiental e proteco do consumidor. A Unio Europeia emitiu um documento da autoria do CEETB Comit Europen de Equipments Techniques du Btiment, com uma srie de ideias e referncias a iniciativas legislativas, frisando a importncia da inspeco e manuteno do equipamento tcnico de edifcios, na prossecuo do objectivo de desenvolvimento sustentado de unio europeia e no estabelecimento de uma rede abrangente de legislao que o suporte. Sendo um edifcio constitudo por elementos ou componentes, a colocados para dar resposta a uma determinada funo exigencial1, estando o comportamento do mesmo relacionado com o desempenho funcional dos seus elementos ou componentes2, a implementao e integrao de programas de manuteno preventiva de instalaes tcnicas em sistemas integrados de manuteno, permitir manter um nvel elevado de desempenho dessas instalaes e prolongamento da sua vida til, contribuindo decisivamente para atingir os objectivos europeus nas trs reas principais: Aumentar a eficincia energtica dos edifcios Reduo de emisses Garantia de uma elevada proteco do utilizador Com a implementao de prticas de inspeco e manuteno preventiva em instalaes de edifcios, a Unio Europeia estima, vir poupar s em termos energticos: Em sistemas de aquecimento, incluindo a progressiva substituio das caldeiras com idade superior a 20 anos e a correcta adequao dos sistemas de transferncia (circuito e radiadores) caldeira, cerca de 10 Mtep ou seja, cerca de 5% da energia actualmente gasta para aquecimento no sector residencial; Em sistemas de iluminao, que consomem actualmente cerca de 9 Mtep ou seja 4% do total energtico gasto no sector residencial e 18Mtoe no sector tercirio, uma poupana de 30 a 50% em relao situao actual, correspondendo entre 6 a 9 Mtep, com a correcta manuteno dos sistemas e substituio por componentes de maior durao e maior eficincia, conjuntamente com a integrao da luz natural e tecnologias relacionadas; Em sistemas de ventilao e ar condicionado, cujo crescimento tem vindo a ser constante quer no sector tercirio quer no sector residencial, representando um total de 3 Mtep, prevendo-se que duplique at 2020 se a tendncia actual se mantiver, estima-se existir um potencial de reduo de 25%, incluindo tambm exigncias de eficincia mnima para os novos aparelhos.

1 2

ISO 15686 Calejo, Rui Gesto de edifcios Modelo de simulao tcnico-econmica; FEUP, Porto 2001

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

11

Nesse sentido, a directiva 93/76/CE - SAVE limitao das emisses de dixido de carbono atravs do aumento da eficcia energtica, de 13 de Setembro de 1993, prev a elaborao e aplicao pelos estados membros de programas que incidam sobre: Certificao energtica dos edifcios de forma a permitir aos seus utilizadores o conhecimento das respectivas caractersticas energticas; A facturao das despesas de aquecimento, ar condicionado e gua quente sanitria, calculadas com base no consumo real, tendo em vista permitir aos utilizadores de um imvel uma melhor repartio dos custos referentes a esses servios; O financiamento dos investimentos por terceiros (incluindo os servios de auditoria, instalao, explorao e manuteno) por forma a melhorar a eficcia energtica no sector pblico; O isolamento trmico dos edifcios novos; A inspeco peridica das caldeiras que apresentam uma potncia nominal til superior a 15kW; As auditorias energticas nas empresas industriais com elevados consumos de energia,

tendo em ateno na elaborao desses programas os seguintes aspectos: Potencial de melhoria da eficcia energtica Relao custo / eficcia Viabilidade tcnica Impacto ambiental

Em Portugal a evoluo das tendncias tem acompanhado o que se vai passando na Unio Europeia, com a adopo das directivas e da legislao comunitria, mas, sem se terem destacado ao longo dos anos perodos que demonstrem uma preocupao especial com a manuteno preventiva, quer dos edifcios quer das suas instalaes. As primeiras preocupaes e organizao da manuteno de edifcios surgem com o Estado Novo, com o programa centenrio de construo de edifcios escolares, contendo referncias aos ritmos de inspeco e conservao, na mesma poca e em relao aos hospitais escolares de Lisboa e Porto so mesmo publicadas obras de M.Caetano A manuteno de edifcios hospitalares MOP Lisboa 1954. A promoo de habitao social d lugar a sistemas de gesto integrada de manuteno, pelo facto de serem as prprias entidades promotoras as responsveis pela conservao. Aparecem entretanto no mercado e nos ltimos anos, algumas empresas neste campo associadas gesto de condomnios, mas sempre ligadas manuteno correctiva3.

3

Calejo, Rui Gesto de edifcios Modelo de simulao tcnico-econmica; FEUP, Porto 2001

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

12

Actualmente, para alm da legislao emitida com base nas directivas europeias, existem diversas iniciativas com vista introduo de metodologias de manuteno correntes na indstria, aos edifcios. O desenvolvimento de sistemas integrados de manuteno, como exemplo o SIMEH Sistema Integrado Manuteno Edifcios e Habitaes, desenvolvido na FEUP faz prova da preocupao crescente em manter o desempenho dos edifcios e parques habitacionais, racionalizando custos e mo de obra envolvidos. O livro Guia prtico para a conservao de imveis 4 recentemente publicado, alerta para a necessidade de uma manuteno preventiva s instalaes dos edifcios, sendo a apresentado um interessante conjunto de informao para esse efeito. A certificao energtica dos edifcios, tornada obrigatria em Portugal a partir de 2006, com base na directiva 2002/91/CE - directiva europeia para a certificao energtica e da qualidade do ar interior nos edifcios, tem como objectivo assegurar que todos os edifcios novos, instalaes ligadas aos sistemas de condicionamento ambiental e aquecimento de guas, submetidos a licenciamento, cumprem as normas de eficincia energtica. Esta certificao dar tambm a conhecer aos utentes as respectivas caractersticas energticas do edifcio e a qualidade do ar no seu interior. Obviamente, o desempenho energtico do edifcio no poder ser mantido, em toda a vida til do edifcio e/ou suas instalaes, se no forem tomadas medidas desde a sua concepo e entrada em servio, para a sua manuteno preventiva. Ainda no campo da manuteno de edifcios, embora a um nvel mais alargado ou mais direccionado para a gesto integrada de todo o complexo, de destacar internacionalmente o trabalho desenvolvido por organizaes como: IFMA INTERNATIONAL FACILITY MANAGEMENT ASSOCIATION BIFM BRITISH INSTITUTE OF FACILITIES MANAGEMENT DBMC - DURABILITY OF BUILDINGS MATERIALS AND COMPONENTS

em cujos objectivos comuns podemos destacar o de atingir a excelncia operacional das instalaes, num sentido lato. As duas primeiras organizaes contam j com mais de 28000 membros a nvel mundial5 o que diz bem da importncia actual, com tendncia para crescimento da funo FM FACILITIES MANAGEMENT e do trabalho desenvolvido por estas organizaes. Tm trazido cada vez mais para a rea de construo e nomeadamente para a disciplina de gesto de activos imobilirios, um saber fazer que tem dado resposta ao movimento de gesto de activos imobilirios, iniciado na ltima dcada do sculo XX e incio do sculo XXI, em reaco mudana do ambiente de negcio das mais variadas organizaes que, concentrando-se no core business da sua actividade, passaram a subcontratar a gesto / manuteno dos seus activos6. De referir tambm a tese Modelo para plano de inspeco e manuteno em edifcios correntes7, que apresenta uma proposta de modelo de inspeco e manuteno para edifcios, em especial do seu envelope.

4

5

Silva, Vtor Cias editora Dom Quixote, ISBN:972-20-2184-2

www.ifma.org 6 Wood, Brian Building Care, ISBN : 0-632-06049-2 7 Falorca, Jorge, Coimbra 2004

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

13

1.1 Situao actual na Unio EuropeiaA introduo de programas de manuteno preventiva tem sido tentada atravs de diversas directivas, viradas para a conservao de energia e reduo de emisses, como as que a seguir se apresenta. 1.1.1 Directiva SAVE 93/76 EEC De 13 de setembro de 1993, cujo objectivo era a limitao das emisses de CO2 atravs da melhoria da eficincia energtica. Para o conseguir apresentava uma srie de medidas, principalmente pelo desenvolvimento e implantao de programas para: Certificao energtica dos edifcios A facturao dos custos de aquecimento, ar condicionado e gua quente, com base nos consumos reais Financiamento, por terceira parte, de investimentos para a melhoria da eficincia energtica no sector pblico Isolamento trmico dos novos edifcios Inspeco regular das caldeiras Auditorias energticas aos locais de grande consumo Em particular a inspeco regular das caldeiras, e de um modo geral de todos os sistemas de aquecimento com uma potncia superior a 15 kW, quer com o objectivo de reduo dos consumos energticos e emisses de CO2 quer com o objectivo de melhoria de fiabilidade das instalaes e manuteno dos nveis de conforto dos utentes. O efeito desta directiva foi bastante reduzido, em boa medida devido demasiada flexibilidade deixada na sua aplicao pelos estados membros, responsveis pelo desenvolvimento e implementao dos programas, pese ainda a obrigatoriedade de apresentao dos resultados das medidas adoptadas comisso europeia, cada 2 anos. Esta directiva entrou em vigor em 31 de Dezembro de 1994.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

14

1.1.2 Proposta de directiva sobre o desempenho energtico de edifcios COM (2001) 226 final A comisso europeia, no seu livro verde Em direco a uma estratgia europeia para a segurana das fontes de abastecimento energtico 8 destacou trs pontos principais: A Unio Europeia ficar cada vez mais dependente de fontes externas de energia e o alargamento ir acentuar esta tendncia (com base nas previses da poca, se no fossem tomadas medidas a dependncia da importao chegaria a 70% em 2030) comparada com os 50% de 2000; Presentemente as emisses de gases de estufa mostram uma tendncia crescente, tornando-se difcil cumprir os valores estabelecidos no protocolo de Quioto, que devem ser encarado apenas como um primeiro passo; A Unio Europeia tem uma capacidade de influncia muito reduzida nas condies de fornecimento de energia, sendo essencialmente do lado da procura que a sua capacidade de interveno maior, em especial pela promoo da poupana de energia em edifcios e transportes. H por isso fortes razes para economizar energia sempre que possvel. Os sectores residencial e tercirio9 mostraram ser os maiores consumidores finais, em especial para aquecimento, iluminao e accionamento de equipamentos diversos. Dado o baixo turn-over dos edifcios, associado sua elevada vida til de 50 a 100 anos, ou mais, tornou-se evidente que a curto prazo a poupana teria de ser feita melhorando os edifcios e habitaes existentes. A proposta abrangia quatro elementos principais: Estabelecimento de uma rede geral com uma metodologia para clculo da performance energtica integrada dos edifcios; Aplicao de especificaes mnimas de performance energtica para os novos edifcios ou para alguns existentes aquando da realizao de renovaes; Esquemas de certificao para os edifcios novos e existentes, com base nas especificaes acima enunciadas, a sua divulgao pblica e divulgao da temperatura interior recomendada ou outros factores climticos relevantes, em edifcios pblicos ou frequentados pelo pblico; Inspeco e avaliao especfica das caldeiras e sistemas de aquecimento e refrigerao. A comisso europeia publicou o draft desta directiva em 11 de Maio de 2001, enfrentando desde logo a oposio de alguns comissrios, devido ao carcter obrigatrio da inspeco regular das caldeiras, sistemas de aquecimento e ar condicionado, nascendo por isso ainda mais fraca do que o inicialmente planeado.

COM(2000)769 de 29 de Novembro de 2000 Tercirio inclui escritrios, lojas e armazns, hotis, restaurantes, escolas, hospitais, pavilhes desportivos, piscinas cobertas, etc, excluindo edifcios industriais.9

8

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

15

Estavam abrangidos por esta directiva caldeiras com mais de 10kW e instalaes centralizadas de ar condicionado com mais de 12kW, cujas aces de manuteno preventiva (mais viradas para a vertente do consumo energtico e limitao das emisses de dixido de carbono) seriam realizadas por pessoal tcnico qualificado. Para caldeiras com mais de 15 anos, toda a instalao seria alvo de uma inspeco, sendo no final apresentadas propostas aos utilizadores, com solues alternativas para reduo do consumo energtico dessa instalao. Um dos anexos desta directiva, o anexo B, acaba por limitar na prtica, a inspeco regular a caldeiras com uma potncia superior a 100kW, com uma frequncia bianual. Para os sistemas de ar condicionado no so estabelecidas frequncias de inspeco. Deu origem directiva 2002/91/CE de 16 de Dezembro, relativa ao rendimento energtico dos edifcios a seguir apresentada. 1.1.3 Directiva 2002/91/CE de 16 de Dezembro, certificao energtica e da qualidade do ar no interior dos edifcios Esta directiva estava inserida no mbito das iniciativas comunitrias em matria de alteraes climticas, decorrentes dos compromissos assumidos no protocolo de Quioto e de segurana do aprovisionamento energtico (Livro Verde), ou seja, na sequncia das medidas adoptadas pela directiva 92/42/CEE caldeiras, da directiva 89/106/CEE produtos de construo e disposies do programa SAVE relativas aos edifcios. Embora exista como j vimos, uma directiva relativa certificao energtica (directiva 93/76/CE), a adopo desta directiva, foi efectuada num contexto poltico diferente. Tendo sido adoptada antes da concluso do acordo de Quioto e das dvidas colocadas pelo relatrio sobre a segurana do aprovisionamento energtico da UE, no tinha os mesmos objectivos da 2002/91/CE. Abrange os elementos j referidos na proposta COM (2001)226 final, ou seja: Estabelecimento de uma rede geral com uma metodologia para clculo da performance energtica integrada dos edifcios; Aplicao de especificaes mnimas de performance energtica para os novos edifcios ou para alguns existentes aquando da realizao de renovaes; Esquemas de certificao para os edifcios novos e existentes, com base nas especificaes acima enunciadas e sua divulgao pblica e da temperatura interior recomendada ou outros factores climticos relevantes em edifcios pblicos ou frequentados pelo pblico; Inspeco e avaliao especfica das caldeiras e sistemas de aquecimento e refrigerao.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

16

1.1.4 Plano de aco para aumento da eficincia energtica da unio europeia COM (200) 247 final Face crescente necessidade de renovao do compromisso, quer ao nvel da comunidade e dos estados membros, para uma promoo activa da eficincia energtica, em especial quando visto luz do protocolo de Quioto para reduo das emisses de CO2, a eficincia energtica das instalaes, ter um papel fundamental no atingir dos objectivos a estabelecidos de uma forma econmica. Para alm de um significativo impacto positivo na qualidade do meio ambiente, a melhoria da eficincia energtica levar a polticas energticas mais sustentadas e aumento da segurana do fornecimento, bem como muitos outros benefcios. Existe um potencial econmico estimado de mais de 18% em relao ao consumo actual, para melhoria da eficincia energtica na comunidade europeia, como resultado da abolio das barreiras de mercado que bloqueiam a difuso satisfatria de tecnologias eficientes do ponto de vista energtico e seu eficiente uso. Para termos uma ideia deste potencial, ele equivalente a mais de 160Mtoe, ou 1900TWh, aproximadamente a energia consumida pelo conjunto ustria, Blgica, Dinamarca, Finlndia, Grcia e Holanda num ano. Este plano de aco esboa polticas e medidas para remoo dessas barreiras e realizao deste potencial. So apresentados trs grupos de mecanismos para melhoria da eficincia energtica: Medidas para aumentar a integrao da eficincia energtica em outros programas comunitrios, ainda que no relacionados com a poltica energtica e programas de rea, como polticas regionais e urbanas, polticas de tarifas e impostos, etc; Medidas para reforo e aumento do enfoque nas medidas comunitrias existentes e que tm tido xito na melhoria da eficincia energtica; Novas polticas e medidas comuns coordenadas;

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

17

Com uma reduo de 1% por ano, em relao tendncia actual de businessas-usual, 2/3 dos estimados 18% de potencial de poupana, sero atingidos no ano 2010. Isto representaria uma diminuio no consumo de 100 Mtep e o lanamento para a atmosfera de menos 200Mt/ano de CO2, equivalente a 40% do compromisso assumido em Quioto (450 Mt/ano). Se adicionarmos a esta aco a proposta da comunidade europeia de aumentar o uso da cogerao na produo de energia elctrica, at 18% do total em 2010, mais 65Mtoe/ano de CO2 deixaro de ser emitidas. Para o caso dos edifcios, que so responsveis por 40% do consumo total de energia na CE, isto devia ser atingido pelo up-grade da directiva SAVE (93/76/EEC), pela directiva de caldeiras (92/42/EEC) e pela directiva dos produtos da construo (89/106/EEC). 1.1.5 Directiva 92/42/CEE de 21 de Maio de 1992 - Exigncias de rendimentos para novas caldeiras de gua quente, alimentadas com combustveis lquidos ou gasosos. Esta directiva constitui uma aco no mbito do programa SAVE e determina as exigncias de rendimento aplicveis s novas caldeiras de gua quente, de potncia nominal igual ou superior a 4kW e igual ou inferior a 400kW (alimentadas com combustveis lquidos ou gasosos), do tipo: Caldeiras standard Caldeiras de baixa temperatura Caldeiras de condensao de gases

Foi rectificada pela directiva 93/68/EEC de 22 Julho de 1993. 1.1.6 Directiva 78/170/CEE, de 13 de Fevereiro de 1978 Relativa ao rendimento dos geradores de calor utilizados para aquecimento de locais e produo de gua quente nos edifcios no industriais novos ou existentes. 1.1.7 Directiva 90/396/CEE Directiva dos equipamentos de gs Adoptada em 1990, contm os requisitos essenciais que devem ser cumpridos pelos aparelhos a gs para colocao no mercado europeu. A directiva no indica de que forma os mesmos devem ser atingidos, deixando total flexibilidade aos fabricantes quanto s solues tcnicas a adoptar. Por aparelhos a gs, entende-se qualquer dispositivo que utilize chama a gs para: Cozinhar Aquecimento Produo de gua quente Refrigerao Iluminao Lavagem (com temperatura de gua inferior a 105C) Queimadores de ar ou extraco forada ou equipamentos com eles equipados Foi tambm rectificada pela directiva 93/68/EEC de 02 de Agosto de 1993.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

18

1.1.8 Regulamentao das substncias nocivas para a camada de ozono (2037/2000) Na sequncia dos nveis extremamente baixos de ozono, verificados no hemisfrio Sul e na regio rtica em 1998 e o aumento associado de radiao UV-B, conjuntamente com a ameaa que ela representa para a sade e ambiente, a comisso europeia achou necessrio tomar medidas urgentes e eficazes, para o combate destruio da camada de ozono pelo envio para a atmosfera de gases provenientes de emisses fugitivas de produtos contendo CFCs clorofluorcarbonos. A CE tornou-se tambm membro integrante da Conveno de Viena para a proteco da camada de ozono, e do protocolo de Montreal, para as substncias destruidoras da camada de ozono. Este regulamento 2037/2000, com aplicao a partir de 1 de Outubro de 2000, tem como objectivo a reduo das emisses de substncias nocivas para a camada de ozono, quer a partir de produtos quer de equipamentos contendo essas substncias, incluindo os sistemas de refrigerao e ar condicionado, actuando na produo, importao, exportao, colocao no mercado, uso, recuperao, recolha e destruio de clorofluorcarbonos, halogenados, tetracloreto de carbono, 1,1,1-tricloroetano, brometo de metileno, hidrobromofluorcarbonos, hidrofluorcarbonos e equipamentos que os contenham. Algumas das substncias indicadas neste regulamento, para alm das utilizadas como fluidos em circuitos de refrigerao, eram tambm utilizadas como solventes correntes, com grande utilizao em manuteno e instalaes de desengorduramento. Esta regulamentao estipula, por exemplo, que equipamentos fixos de refrigerao contendo fluidos base de CFCs, devam ser progressivamente intervencionados, com substituio dos CFCs, que devero ser recolhidos para destruio e que instalaes fixas, com mais de 3 Kg de fluido refrigerador, devam ser inspeccionadas com uma frequncia anual, para verificao da no existncia de fugas. Cabe aos estados membros indicar os requisitos de qualificao mnimos, para o pessoal envolvido nestas inspeces. 1.1.9 Directiva 95/16/CE de 29 de Junho de 1995 sobre equipamentos de elevao Emitida com o objectivo de assegurar a livre circulao deste tipo de equipamentos no mercado europeu, atravs da harmonizao dos requisitos essenciais de sade e segurana, que eles e os seus componentes de segurana devem cumprir. aplicvel a elevadores permanentes servindo edifcios e construes e aos equipamentos de segurana neles utilizados. Obriga a que antes da colocao no mercado, os elevadores e seus equipamentos de segurana sejam portadores da marcao CE que: Atesta a sua conformidade com esta directiva Consiste num smbolo grfico uniformizado, a marcao CE afixado pelos fabricantes, ou seus representantes autorizados, estabelecidos na comunidade europeia.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

19

1.2 Situao particular dos Estados Membros 1.2.1 Distribuio de energiaInstalaes elctricas Num inqurito realizado9 antes do alargamento europeu, dos 16 estados membros que responderam ao inqurito, 10 possuam legislao com os requisitos de inspeco para instalaes elctricas novas e trs tinham desenvolvido legislao para as instalaes elctricas existentes. Em relao s instalaes existentes a situao mais diferenciada de pas para pas. Os requisitos so por vezes estabelecidos pelo governo, mas tambm e frequentemente, pelas companhias que operam no mercado do fornecimento e distribuio de energia elctrica. A frequncia de inspeco para as instalaes existentes varia de 10 a 25 anos, de acordo com a natureza do edifcio e / ou evento que levou aco de inspeco.

1.2.3 Condicionamento ambientalInstalaes de aquecimento A anlise da situao europeia mostrou que a maioria dos estados membros possuam requisitos legais para a inspeco inicial das caldeiras e sistemas de aquecimento. Dez dos estados membros tinham na sua legislao a obrigatoriedade de realizar inspeces peridicas, anuais ou bianuais, sem no entanto terem em conta a directiva SAVE e a potncia a indicada de 15kW. Alguns deles estabeleceram limites de 130 e 400kW. Alguns estados membros incorporaram na sua legislao a obrigatoriedade de manuteno dos sistemas de aquecimento, com frequncias anuais ou bianuais, tendo ainda alguns dos estados para alm dos requisitos legais, especificaes para essa manuteno, ainda que sem carcter legal e sem verificao da sua aplicabilidade na prtica10. Na Alemanha e ustria, os prprios limpa-chamins fazem o controlo de emisses gasosas, enquanto que empreiteiros, especialistas e fornecedores de sistemas de aquecimento, realizam inspeces e a manuteno do restante equipamento. Instalaes de ventilao e ar condicionado As regras existentes so similares para estas duas reas. Apenas um pequeno nmero de pases possui legislao para um ou mais deste tipo de instalaes (Alemanha, Holanda, Sucia e Reino Unido). Requisitos para uma manuteno regular destas instalaes aparecem apenas em zonas limitadas da Holanda, Sucia e Reino Unido.

10

Regular inspection and maintenance of technical building equipments-CEETB

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

20

1.2.4 guas residuaisInstalaes sanitrias Regras para inspeco e manuteno das instalaes sanitrias, apenas existiam na Holanda, incluindo medidas para preveno do aparecimento de Legionella. Em Frana e na Finlndia, as inspeces so efectuadas por agncias governamentais, havendo tambm estados membros com companhias privadas que as realizam.

1.2.5 ElevaoAscensores No domnio da segurana, a Unio Europeia adoptou a j referida directiva n95/16/CE, de 29 de Junho, relativa aproximao da legislao dos seus estados membros, com vista garantia da segurana na utilizao dos ascensores e seus equipamentos. Esta directiva estabelece um conjunto de disposies aplicveis queles bens, cobrindo a sua concepo, fabrico, instalao, ensaios e controlo final, conferindo uma importncia crucial em todo o processo, ao papel desempenhado pelos organismos notificados, marcao CE e normas harmonizadas. Em relao aos monta cargas, escadas mecnicas e tapetes rolantes, a unio europeia emitiu a directiva n98/37/CE, de 22 de Junho. A maioria dos estados membros possui legislao prpria que regula a instalao e manuteno destes sistemas e certificao atravs de organismos reconhecidos.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

21

1.3 Situao NacionalOs regulamentos e legislao existentes (salvo raras excepes) referem-se, na maior parte do seu contedo, ao projecto e aprovao de instalaes novas sendo em alguns casos feita meno, de forma bastante vaga, sua manuteno. Optou-se por apresentar neste trabalho a legislao vigente, relativa s instalaes tratadas, sob a forma tabular, para tornar menos extenso o texto e permitir uma rpida visualizao do conjunto da mesma.

1.3.1 Instalaes de abastecimento de gua potvel e guas residuaisQuadro 1 - Legislao relativa a instalaes de gua potvel e residual

DOCUMENTO

ASSUNTO

OBSEstabeleceu como obrigatria a instalao de sistemas de abastecimento e drenagem de guas residuais, em todos os edifcios e habitaes, a construir, remodelar ou ampliar, ainda que esses mesmos edifcios ou habitaes existissem antes da instalao dos sistemas pblicos de distribuio e recolha de guas residuais. Estabeleceu as regras a que devem obedecer, os sistemas de distribuio pblica e predial de gua e drenagem pblica e predial de guas residuais, para que seja assegurado o seu bom funcionamento, preservando-se a segurana, sade pblica e conforto dos utentes.

Decreto lei 207/94 de 8 de Junho

Sistemas de distribuio pblica e predial de gua e de drenagem pblica e predial de guas residuais

Decreto reg.23/95 de 23 de Agosto

Princpios gerais para construo e explorao

concepo,

Decreto lei 650/75 de 18 de Novembro Portaria 92/78 de 16 de Fevereiro

Nova redaco a diversos artigos do RGEU Aprovao de disposies relativas a instalaes de gua Aprovou o plano geral das caractersticas tcnicas para a habitao social, para as instalaes de distribuio de gua, de evacuao de lixos e esgotos.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

22

1.3.2 Instalaes de distribuio de energia 1.3.2.1 ElctricaPara as instalaes de distribuio de energia elctrica, foram considerados os seguintes documentos:Quadro 2 - Legislao relativa a instalaes de distribuio energia elctrica

DOCUMENTO

ASSUNTO

OBSAprova os regulamentos de segurana de instalaes de utilizao de energia elctrica e de instalaes colectivas de edifcios e entradas, estabelecendo as condies de instalao, licenciamento e explorao (e manuteno) das redes elctricas no interior dos edifcios e habitaes.

Decreto lei 740/74 de 26 de Dezembro

Regulamento de segurana R.S.I.U.E.E (Regulamento de segurana de instalaes de utilizao de energia elctrica)

Decreto lei 303/76 de 26 de Abril Decreto lei 77/90 de 12 de Maro Decreto 31/83 de 1804-1983 Decreto lei272/92 de 3 de Dezembro Portaria 37/70 de 17 de Janeiro

Alteraes ao R.S.I.C.E.E.

Decreto

lei

740/74

Alteraes ao Decreto lei 740/74 Aprova o estatuto de tcnico responsvel por instalaes elctricas de servio particular. Associaes inspectoras de instalaes elctricas. Tratamentos de primeiros socorros a vtimas de choques elctricos.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

23

1.3.2.2 Instalaes de gs natural e GPL (gs de petrleo liquefeito)Para as instalaes de distribuio e montagem de dispositivos de gs, existe no nosso pas legislao variada e bastante especfica nesta rea, da qual destacamos os documentos a seguir indicados, por parecerem ao autor mais apropriados ao tema da dissertao.Quadro 3 Legislao relativa a instalaes de gs natural e GLP

DOCUMENTOPortaria 361/98 de 26 de Junho

ASSUNTORegulamento tcnico relativo ao projecto, construo, explorao e manuteno das instalaes de gs combustvel canalizado em edifcios. Regulamento tcnico relativo ao projecto, construo, explorao e manuteno de redes de distribuio de gases combustveis. Procedimentos relativos s inspeces e manuteno das redes e ramais de distribuio e instalaes de gs. Redes e ramais de distribuio e instalaes de gases combustveis de 3 famlia (GPL). Estabelece as normas relativas ao projecto, execuo, abastecimento e manuteno das instalaes de gs em imveis. Aprova o regulamento de segurana das instalaes de armazenagem de GPL com capacidade at 200m3 por recipiente. Segundo a qual devem ser fabricados os tubos flexveis no metlicos.

OBSRevisto pela portaria 690/2001 de 10 de Julho Revisto pela portaria 690/2001 de 10 de Julho Revisto pela portaria 690/2001 de 10 de Julho

Portaria 386/94 de 16 de Junho Portaria 362/2000 de 20 de Junho Decreto lei 125/97 de 20 de Maio Decreto lei 521/99 de 10 de Dezembro Portaria 460/2001 de 8 de Maio

NP 4436

Limita a sua validade a 4 anos aps o fabrico. Inclui disposies regulamentares e normativas, aplicveis a edifcios de habitao e pblicos.

NP1037- PARTES 1,2 E 3 IPQ ET:107 NP EN 677

Ventilao e evacuao dos produtos de combusto dos locais com aparelhos a gs.

Caldeiras de aquecimento combustveis gasosos.

central

que

utilizam

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

24

1.3.3 Instalaes de elevaoExistem a nvel nacional uma srie de decretos lei e portarias aplicveis a estes sistemas, alguns resultando da transposio para o direito nacional de directivas comunitrias. Destes destacamos:Quadro 4 - Legislao relativa a sistemas elevao

DOCUMENTO

ASSUNTO

OBSCom base na directiva n95/16/CE de 29 de Junho. Este decreto lei estabelece tambm a obrigatoriedade de existncia de um manual de instrues, com desenhos e esquemas necessrios sua correcta inspeco e manuteno.

Decreto lei n295/98 de 22 de Setembro

Estabelece os princpios gerais de segurana a que devem obedecer, os ascensores e os respectivos componentes de segurana, definindo os requisitos necessrios sua colocao no mercado, bem como a avaliao da conformidade e marcao CE de conformidade.

Dec. Lei 404/86 de 3 de Dezembro Dec. Lei 97/87 de 7 de Abril

Regulando a actividade das entidades conservadoras de elevadores (ECE), os requisitos de reconhecimento, de inscrio e certificao destas entidades, bem como as penalidades por inobservncia destas regras. Define as habilitaes requeridas para os tcnicos responsveis pelas ECE. Estabelece o regime jurdico do enquadramento das obras de conservao e de beneficiao dos elevadores antigos, definindo o que se deve entender por obras de conservao e de beneficiao.

Portaria 269/89 de 17 de Abril

Sobre obras de beneficiao e conservao

Despacho 1/89 do MIE de 17 de Maio Portaria 376/91 de 2 de Maio Portaria 964/91 de 20 de Setembro Dec. Lei 320/2002 de 28 de Dezembro

Calendarizao das inspeces peridicas Regulamento de ascensores hidrulicos NP 3163/1 (EN 81-1). Regulamento de ascensores hidrulicos NP EN 81-2 Estabelece o regime de manuteno e inspeco de ascensores, monta-cargas, escadas mecnicas e tapetes rolantes, aps a sua entrada em servio, bem como as condies de acesso s actividades de manuteno e de inspeco.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

25

1.3.4 Instalaes de telecomunicaesO dec. Lei 59/2000, uniformiza o regime jurdico aplicvel instalao de infra estruturas de telecomunicaes em edifcios (sejam de servios de telecomunicaes endereadas telefone sejam de difuso rdio e televiso, por via hertziana ou satlite), bem como o regime das respectivas ligaes s redes pblicas de telecomunicaes e o regime da actividade de certificao das instalaes e avaliao da conformidade dos equipamentos, materiais e infraestruturas. Este decreto lei veio revogar os anteriormente existentes, conforme se pode ver no quadro 5.Quadro 5 legislao relativa a instalaes de telecomunicaes

DOCUMENTODecreto lei 59/2000 Decreto lei 146/87 Decreto regulamentar 25/87 Despacho SEH 42/90

ASSUNTOInstalaes de infra-estruturas de telecomunicaes em edifcios. Instalaes de infra-estruturas telefnicas Regulamento de instalaes telefnicas de assinante (RITA). Regulamento de aprovao de materiais, regulamento de inscrio de tcnicos responsveis.

OBSApresenta as regras bsicas para a dotao dos edifcios com infra-estruturas telefnicas. Revogado pelo 59/2000 Revogado pelo 59/2000 Revogado pelo 59/2000

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

26

1.3.5 Instalaes para condicionamento ambientalO regulamento das caractersticas de comportamento trmico dos edifcios (RCCTE), veio preencher uma lacuna na necessidade sentida de uma melhoria das condies de salubridade, higiene e conforto nos edifcios e habitaes e racionalizao no consumo energtico associado manuteno dessas condies (basicamente atravs da qualidade trmica da envolvente). A sua aprovao e entrada em vigor foi feita atravs do decreto lei 40/90, de 6 de Fevereiro. A lacuna existente a nvel nacional de regulamentos que definissem as dimenses e a forma como se devia processar a instalao e a utilizao de equipamentos e sistemas, nos edifcios com instalaes de aquecimento ou arrefecimento (com ou sem deshumidificao) para assegurar a qualidade das suas prestaes com uma utilizao racional de energia, ambiente e segurana das mesmas, foi colmatada com a publicao e aprovao do regulamento da qualidade dos sistemas energticos de climatizao em edifcios atravs do decreto lei 156/92, de 29 de Julho. Este decreto sofreu em 1998 uma reviso, tendo em conta o direito comunitrio, sendo aprovada pelo decreto lei 118/98, de 7 de Maio. Foram tambm realizadas diversas aces na AR Assembleia da Repblica, com a apresentao de propostas de projecto lei sobre Controlo da qualidade do ar climatizado no interior dos edifcios que apontavam para a existncia obrigatria de um plano de manuteno e manual de procedimentos para a manuteno da QAI- qualidade do ar interior, de que resultou a aprovao do decreto lei tornando obrigatria a certificao energtica dos edifcios a partir de 2006. A recente aprovao da obrigatoriedade da certificao energtica dos edifcios vir, sem dvida, a aumentar cada vez o desempenho energtico destes e suas instalaes, bem como o conforto dos utentes.Quadro 6 -Legislao relativa ao desempenho energtico

DOCUMENTO RCCTE Dec lei 156/92 Dec lei 118/98

ASSUNTO Regulamento das caractersticas e comportamento trmico dos edifcios Aprova o regulamento da qualidade dos sistemas energticos de climatizao em edifcios Regulamenta os sistemas energticos de climatizao em edifcios

OBS

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

27

Captulo dois Caracterizao das instalaes2.1 Conceitos relativos a bens durveis e manuteno 2.1.1 Vocabulrio 2.1.2 Definio de operaes de manuteno 2.1.3 Classificao por nveis de manuteno 2.2 Caracterizao das instalaes de edifcios 2.2.1 Instalaes consideradas 2.2.2 Instalaes de gua potvel 2.2.3 Instalaes de guas residuais 2.2.4 Instalaes de distribuio de energia 2.2.5 Instalaes de comunicaes 2.2.6 Instalaes de condicionamento ambiental 2.2.7 Instalaes de elevao 2.2.8 Instalaes de deteco e combate a incndio 2.2.9 Equipamento dinmico

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

28

2.1 Conceitos relativos a bens durveis e manutenoPara alm dos claros benefcios, para os proprietrios e utentes, decorrentes do possvel aumento da vida til das instalaes e dos prprios edifcios e da manuteno do desempenho das mesmas em nveis desejveis, associados a todos os benefcios ambientais j referidos, h um claro campo emergente de negcio que s no Reino Unido representa 50% do negcio da construo 11 e que no nosso pas tem sido profundamente negligenciado em detrimento das novas construes, do impacto meditico a elas associado e da especulao imobiliria. Pretende-se com este trabalho apresentar a manuteno das instalaes de edifcios, no como uma actividade menos nobre da actividade construo, mas como actividade essencial para o nosso dia dia, baseada em teorias e prticas bem sedimentadas em outros ramos da actividade humana que ter de ser pensada logo no projecto inicial dos edifcios e suas instalaes, atravs da concepo a pensar na manutibilidade e na durabilidade de cada um dos componentes, que estar intimamente associada de uma forma mais ou menos explcita, a toda a sua vida til, a ser realizada por tcnicos e operrios competentes, munidos das ferramentas adequadas. Tal como na indstria, pretende-se a optimizao da disponibilidade das instalaes dos edifcios e as filosofias iro progredir, a exemplo do a aconteceu, da simples manuteno reactiva, filosofia correntemente aplicada maioria das instalaes e edifcios existentes, para uma manuteno condicionada. Estes 3 primeiros conceitos de manuteno, fazem parte da chamada manuteno planeada, podendo ser definidos do seguinte modo: Preventiva Manuteno efectuada segundo critrios pr-determinados com a inteno de reduzir a probabilidade de falha de um bem (ou sistema) ou a degradao de um servio devido. o Sistemtica (manuteno preventiva) efectuada segundo um plano estabelecido de acordo com o tempo ou nmero de unidades de uso. o Condicionada (manuteno preventiva) subordinada a um tipo de acontecimento pr-determinado (auto-diagnstico, informao de um transmissor, medida de desgaste),em suma, sinal de pr-patologia revelador do estado de degradao do bem ou servio. Tendo como exemplo de manuteno no planeada, a correctiva; Correctiva ou reactiva tipo de manuteno realizada aps a falha. Estas quatro filosofias ou formas de manuteno (mais ou menos combinadas) tm dado origem a conceitos bastante difundidos na indstria, como: RCM manuteno centrada na fiabilidade TPM manuteno produtiva total JIT manuteno Just-in-time

11

Building Care Brian Wood

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

29

Relativamente s operaes de manuteno preventiva, apresentamos em seguida uma srie de termos, representativos das operaes necessrias para a gesto da evoluo do estado real do bem, efectuadas de maneira contnua ou em intervalos (pr-determinados ou no), calculados com base no tempo ou em nmero de unidades de uso. Inspeco actividade de vigilncia, exercida no quadro de uma misso definida, no sendo ou estando de forma obrigatria limitada comparao com os dados prestabelecidos. Controlo verificao da conformidade com dados previamente estabelecidos, seguido de uma deciso (ou julgamento). Este controlo pode: o Comportar uma actividade de informao o Incluir uma deciso, de aceitao, rejeio ou adiamento o Desencadear em actividades de manuteno e aces correctivas Visita exame detalhado e pr-determinado do todo ou de parte (visita geral ou limitada) dos diferentes elementos do bem, podendo implicar operaes de manuteno de 1 nvel. Ensaios operao que permite comparar a resposta de um sistema a uma solicitao apropriada e definida, em relao resposta de um sistema de referncia. Se considerarmos um sistema integrado de manuteno aplicado aos edifcios, estruturado de acordo com a figura 112, podemos ver o enquadramento no qual se pretende seja introduzido o trabalho resultante desta dissertao.

figura 1 - Sistema integrado de manuteno

12

Gesto de edifcios Rui Calejo FEUP 2003/2004

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

30

Do ponto de vista da manuteno preventiva das instalaes em edifcios, a responsabilidade no deve ser, na opinio do autor, exclusiva dos tcnicos envolvidos nessa tarefa, cabendo aos proprietrios ou utentes, um papel determinante em algumas das actividades nela envolvidas. Para o efeito e apesar da obrigatoriedade da ficha tcnica da habitao, a existncia de um Manual de Conservao e Reparao ou Manual do Utilizador ou Manual de Instrues (do imvel e do fogo) que descreva de uma forma sucinta as instalaes e equipamentos existentes, como operar (por exemplo com as instalaes de condicionamento ambiental), como accionar os disjuntores em caso de disparo e os cuidados a ter antes de efectuar essa operao, onde se encontram os principais dispositivos de segurana, como vlvulas de segurana, cortes gerais e parciais das instalaes de gs, de gua, etc, com instrues bsicas para aces de inspeco e manuteno simples, como: limpeza pavimentos ou revestimentos limpeza das louas da casa de banho limpeza de torneiras verificao da no existncia de fugas escoamento atravs dos sifes lubrificao de dobradias ou outros pequenos elementos de sistemas podendo ser efectuadas por esses mesmos utentes (operaes de manuteno que poderemos definir de 1 escalo) fariam muitas vezes toda a diferena na durabilidade das instalaes. Aliada ao manual, a formao bsica dos utentes e a demonstrao prtica dessa aprendizagem, poderia evitar muitos dos erros de utilizao e destruio de equipamentos e instalaes, com a deteco precoce de muitas patologias que, a desenvolverem-se sem deteco, levam por vezes a uma rpida degradao dos prprios edifcios e a colocao em risco dos utentes.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

31

2.1.1 VocabulrioSer til apresentar neste momento, alguns conceitos e efectuar a clarificao de algum vocabulrio correntemente utilizado na manuteno industrial e que poder, no futuro, ser utilizado para a definio clara do mbito de contratos de manuteno dos edifcios e suas instalaes. Recorrendo NF X 60-010 Vocabulrio de manuteno e gesto de bens durveis, passaremos a definir como: Durabilidade definio de acordo com a NF X 50-500 Fiabilidade - definio de acordo com a X 50-500 Manutibilidade Nas condies de utilizao para as quais foi concebido, diz-se da aptido de um bem a ser mantido e restabelecido num estado tal que possa cumprir a funo que lhe exigida, quando a manuteno realizada em condies estabelecidas, com os meios e de acordo com os procedimentos prescritos.Estes meios englobam noes diversas como meios em termos de meios humanos, materiais, etc.

Disponibilidade Aptido de um bem, nos aspectos combinados da sua fiabilidade, manutabilidade e organizao da manuteno, em estar capaz de desempenhar uma funo que lhe exigida em determinado perodo de tempo.Este perodo de tempo referido em relao a um dado instante ou intervalo de tempo.

Elementos constituintes definio de acordo com a NF X 60-012 Custo global de referncia total das despesas previsveis a comprometer pelo utilizador para aquisio de um bem correspondente a um uso de referncia e durabilidade estabelecida. Custo mdio por unidade de uso relao entre o custo global de referncia e a durabilidade estimada em nmero de unidades de uso. Instalao Colocao do bem no seu local de funcionamento e se necessrio, ligao das diversas entradas e sadas do equipamento. Afinao Conjunto dos ensaios, regulaes e modificaes necessrias obteno de um estado especificado. Colocao em servio Conjunto das operaes necessrias, aps a instalao do bem, sua recepo e verificao da sua conformidade ao desempenho contratualmente estabelecido. Triagem - Operao destinada a eliminar ou a detectar componentes no satisfatrio ou susceptveis de apresentarem falhas precoces.Esta operao efectuada em fim de ciclo de fabrico do bem ou em perodo de afinao, ou ainda, no incio da colocao em servio.

Conservao (ou colocao em conservao) Conjunto das operaes que devem ser efectuadas para assegurar a integridade do bem durante os perodos de no utilizao. Observao (ou colocao em observao) conjunto das operaes que devem ser efectuadas para assegurar a integridade do bem durante os perodos de manifestao de fenmenos de agressividade do ambiente em nveis superiores aos definidos pelo uso de referncia.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

32

Ensaio Conjunto das operaes a submeter o bem, a fim de assegurar que ele capaz de desempenhar uma funo requerida. Falha Alterao ou cessao da aptido do bem em desempenhar a funo requerida.As falhas podem ser qualificadas e classificadas de diferentes modos, em funo da rapidez da sua manifestao, do grau de importncia, das causas, das consequncias, etc. Pode ser obtida mais informao sobre este assunto na norma X 06501 Estatstica e qualidade introduo fiabilidade.

Falha parcial Falha que leva alterao da aptido de um bem em desempenhar a funo que lhe requerida. Falha completa ou total - Falha que leva cessao da aptido de um bem em desempenhar a funo que lhe requerida. Causas de falha Circunstncias ligadas concepo, ao fabrico ou utilizao e que desencadearam a falha do bem. Modo de falha Efeito pelo qual uma falha observada. Garantia legal O vendedor profissional tem de garantir o comprador contra as consequncias dos defeitos ou vcios encobertos na coisa vendida ou no servio prestado. Garantia contratual Garantia consentida pelo vendedor ou prestador do servio, e que objecto do contrato.A garantia contratual deve ser utilizada exclusivamente para as prestaes oferecidas sem acrscimo do preo. Ao contrrio da garantia contratual, a garantia legal de aplicao implcita e sistemtica. A garantia contratual vem sempre em complemento da garantia legal, sem nunca a substituir.

Servio ps venda Conjunto das prestaes propostas pelo vendedor aps a concluso do contrato de venda. Termos e definies relativos manuteno Manuteno Conjunto das operaes que permitindo a manuteno ou restabelecimento de um bem num estado especificado ou em condies de assegurar um servio determinado. Ou de acordo, com a definio dada pela BS 8210 para edifcios, como: os trabalhos, para alm dos dirios e limpezas de rotina, necessrios para manter a performance da envolvente do edifcio e seus servios. Manuteno preventiva Manuteno efectuada segundo critrios prdeterminados, com a inteno de reduzir a probabilidade de falha de um bem ou degradao do servio prestado. Manuteno sistemtica Manuteno preventiva efectuada de acordo com uma periodicidade estabelecida com base no tempo ou nmero de unidades de uso. Manuteno condicionada Manuteno preventiva subordinada a um tipo de acontecimento pr determinado (auto diagnstico, informao de um sensor, medida de um desgaste e outros sinais de pr patologias) revelador de um estado de degradao do bem. Manuteno correctiva manuteno efectuada aps a falha do bem ou cessao da prestao do servio.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

33

2.1.2 Definio de operaes de manuteno 2.1.2.1 Operaes de manuteno preventivaOs trs primeiros termos a seguir definidos, so representativos das operaes necessrias para controlar o estado real do bem, efectuadas de um modo contnuo ou a intervalos pr-determinados ou no, calculados com base no tempo ou unidades de uso.

Inspeco Actividade de vigilncia exercida no quadro de uma misso definida. No fica obrigatoriamente restringida comparao com dados previamente estabelecidos.No seio da manuteno, esta actividade pode ser realizada, por exemplo, atravs do recurso a rondas.

Controlo Verificao da conformidade com dados pr-estabelecidos, seguido de um julgamento ou tomada de deciso.O controlo pode incluir: Uma actividade de informao Uma deciso, aceitao, rejeio, adiamento Despoletar aces correctivas

Visita (de manuteno) Operao de manuteno preventiva consistindo num exame detalhado e pr determinado do todo (visita geral) ou de parte (visita limitada) dos diferentes elementos do bem, podendo implicar operaes de manuteno do 1 nvel.Algumas destas operaes de manuteno correctiva podem ser realizadas na sequncia da constatao de anomalias durante a visita.

Teste Operao que permite comparar a resposta do sistema a uma solicitao apropriada e definida, com a de um sistema de referncia ou com um fenmeno fsico indicador de um funcionamento correcto.No deve este termo ou aco ser confundido com o ensaio, previamente definido.

2.2.2.2 Operaes de manuteno correctiva Deteco Aco de descobrir por meio de uma vigilncia acrescida, contnua ou no, a apario de uma falha ou existncia de um elemento defeituoso. Localizao Aco que conduz a descobrir com exactido o elemento ou elementos defeituosos ou nos quais se manifeste a falha. Diagnstico Identificao da causa provvel da falha ou falhas, atravs de um raciocnio lgico, baseado num conjunto de informaes, provenientes de uma inspeco, de um controlo ou de um teste.O diagnstico permite confirmar, de completar ou modificar as hipteses avanadas sobre a origem e a causa das falhas e de definir as aces de manuteno correctiva necessrias.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

34

Desempanagem Aco sobre um bem em falha com a finalidade de o colocar em condies de funcionamento, pelo menos de uma forma provisria.Tendo em ateno o objectivo, uma aco de desempanagem pode acomodar-se a resultados provisrios e condies de realizao fora dos procedimentos, de custos e qualidade, pelo que dever ser seguida de uma reparao (definitiva).

Reparao Interveno definitiva e limitada de manuteno correctiva aps a falha. Outras operaes Reviso Conjunto de operaes, de exames, de controlos e intervenes efectuadas com a finalidade de assegurar o bem contra todas as falhas maiores ou crticas, durante um tempo ou para um determinado nmero de unidades de uso.H o costume de distinguir, de acordo com a abrangncia desta operao, as revises parciais das revises gerais. Nos dois casos, esta operao implica a desmontagem de vrios sub conjuntos. Por este motivo o termo reviso no deve ser confundido com os termos visita, controlo, inspeco, etc. Uma reviso uma operao de manuteno preventiva ou correctiva segundo seja despoletada por um calendrio, pelo atingir de determinado nmero de unidades de uso ou sintomas de pr patologia, ou por uma falha.

Renovao definio de acordo com a NF X 50-501 Reconstruo definio de acordo com a NF X 50-501 Modificao Operao de carcter definitivo efectuada sobre um bem, com a finalidade de melhorar o seu funcionamento ou caractersticas de uso. Troca standard Retoma de um elemento, conjunto ou sub conjunto usado e venda, ao mesmo cliente, de um elemento, de um conjunto ou sub conjunto idntico, novo ou refeito de acordo com as especificaes do construtor, contra soma em dinheiro cujo montante determinado aps o custo da operao de reparao.Este custo pode ser estabelecido sob formato de um forfait.

Inventrio inicial Recenseamento por parte do utilizador, das condies de utilizao at data do inventrio e dos parmetros tcnicos e econmicos relativos aos bens durveis, com a finalidade de elaborar, com preciso, a definio de uma prestao de manuteno ou a determinao de um estado em funo da durabilidade residual.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

35

2.1.3 Classificao por nveis de manutenoA norma NFX 60-010 considera 5 nveis possveis para as intervenes de manuteno: 1 nvel afinaes simples, previstas pelos construtores / projectistas, atravs de elementos acessveis sem desmontagem ou abertura do equipamento, troca de elementos consumveis, acessveis com toda a segurana, tais como visores, fusveis, etc.Este tipo de intervenes podem ser realizadas por quem explora ou utiliza o equipamento, no local de instalao, sem ferramentas e com recurso s instrues de utilizao. O stock de peas de reserva reduzido.

2 nvel Desempanagens, por troca standard de elementos previstos para esse efeito e operaes menores de manuteno preventiva, tais como lubrificaes ou controlo do bom funcionamento.Este tipo de intervenes podem ser efectuadas por um tcnico habilitado (considera-se habilitado logo que tenha recebido formao que lhe permita trabalhar em segurana no equipamento que apresenta alguns riscos potenciais e foi designado para a realizao dos trabalhos, tendo em conta os seus conhecimentos e aptides), de qualificao mdia, no local da instalao e com ferramentas portteis definidas nas instrues de manuteno e com base nessas mesmas instrues. Pode dar origem ao recurso de peas de substituio transportveis necessrias, sem demora e na proximidade imediata do local de explorao.

3 nvel Identificao e diagnstico de avarias, reparaes por substituio de elementos ou componentes funcionais, reparaes mecnicas menores e todas as operaes correntes de manuteno preventiva tais como regulaes gerais ou realinhamento de aparelhos de medio.Este tipo intervenes pode ser realizado por um tcnico especializado, no local da instalao ou no local de manuteno, com recurso a ferramentas previstas nas instrues de manuteno bem como aparelhos de medio e regulao e eventualmente bancos de ensaio e controlo dos equipamentos, utilizando um conjunto de documentao necessria manuteno do bem e as peas previamente aprovisionadas no armazm.

4 nvel Todos os trabalhos importantes de manuteno correctiva ou preventiva, com excepo de renovao e reconstruo. Este nvel abrange tambm as regulaes dos aparelhos de medida utilizados para manuteno e eventualmente a verificao, em vrias fases do trabalho, por organismos especializados.Este tipo de interveno pode ser efectuado por uma equipa composta por um enquadramento tcnico muito especializado, em instalaes especiais dotadas de ferramentas gerais (meios mecnicos, de cablagem, de limpeza, etc) e eventualmente bancos de ensaios, executando um trabalho faseado, com recurso de toda a documentao geral ou particular sob o bem.

5 nvel Renovao, reconstruo ou execuo de reparaes importantes, confiadas a uma empresa me ou unidade exterior.Por definio este tipo de trabalhos efectuado pelo construtor, ou pelo reparador, com meios definidos pelo construtor e por isso, prximos da fabricao.

Tambm para clarificao de termos e como guia para a gesto da manuteno de edifcios, o autor gostaria de referir a existncia de normalizao especfica, como a BS 8210 Building maintenance mangement, que na sua seco V faz uma abordagem muito interessante s instalaes, introduzindo conceitos importantes para a manuteno preventiva e nomeadamente para a frequncia das aces a desenvolver, que so a degradao associada s condies ambientais (externas e internas) e intensidade de uso.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

36

2.2 Caracterizao das instalaes - descrioDefiniu-se, no mbito deste trabalho, instalao como um sistema que permite a prestao de um determinado servio ou obteno de um produto nesse edifcio, de que so exemplo as instalaes consideradas neste estudo a seguir indicadas.

2.2.1 Instalaes consideradasForam consideradas para efeito desta dissertao as seguintes instalaes: Instalaes de gua potvel, quente e fria Instalaes de guas residuais guas negras e sabo pluviais e freticas Instalaes de distribuio de energia Elctrica Gs Combustveis lquidos Fontes renovveis de energia Painis solares (fotovoltaicos) Painis solares aquecimento de gua Recuperadores de calor Instalaes de comunicaes Imagem Som Dados Instalaes de condicionamento ambiental o Aquecimento Elctrico Gs Combustveis lquidos (fuel leo e gasleo) Fontes renovveis de energia recuperadores, dispositivos solares o Ar condicionado Unidades autnomas compactas, de parede, janela ou split Unidades centralizadas Compresso de gs gua refrigerada Absoro gasosa Evaporativas Elctricas o Ventilao Natural Forada Instalaes de elevao Elevadores Monta-cargas Instalaes de deteco e combate a incndio Alarmes e alertas Porta corta fogo Instalao de combate a incndio Equipamento dinmico

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

37

2.2.2 Instalaes de gua potvelO acesso das populaes gua potvel tem sido um ponto crucial na vida do homem e ser sem dvida, uma das principais preocupaes da nossa sociedade nos prximos sculos. Tal como foi j referido, existe em Portugal uma srie de legislao (decretos lei n207/94, decreto regulamentar n23/95 e a portaria n92/78) que visam tornar obrigatria a existncia dessas instalaes e a definio das regras a que a sua concepo e instalao devem obedecer. As instalaes de abastecimento de gua potvel devem permitir o fluxo fcil desde a origem do abastecimento do prdio / habitao aos dispositivos de utilizao, sem reteno prolongada em reservatrios intermdios. Estes, quando existentes, devem ser munidos de dispositivos que permitam o seu esvaziamento total para limpeza frequente, que dever ser pelo menos anual, estarem instalados em locais salubres e arejados, longe das embocaduras dos tubos de ventilao dos esgotos e protegidos contra o calor, mosquitos, poeiras e ingresso de outras matrias estranhas. Tambm os poos e cisternas devem estar afastados de possveis fontes de contaminao da gua, devendo ser tomadas precaues necessrias para impedir a infiltrao de guas superficiais e sua contaminao com microorganismos, como por exemplo os da famlia dos clostrdeos. A extraco da gua deve ser feita com sistemas que no possam ocasionar a sua inquinao. Sempre que a presso da rede de distribuio apresente variaes significativas, dever ser instalado um redutor de presso ou utilizar uma bomba, com reservatrio, para estabilizao da presso da rede interna do edifcio/habitao. Os principais problemas destas instalaes nas habitaes e edifcios esto geralmente associados a fenmenos de: Corroso Entupimentos / diminuio seco til Fugas Contaminao Mau funcionamento dos equipamentos Estes pontos j referidos e outros que sero tratados na descrio desta instalao de gua potvel, devem ser considerados na preparao dos planos de manuteno preventiva.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

38

Deve ser prestada especial ateno instalao de abastecimento de gua quente, devido maior probabilidade de desenvolvimento da bactria Legionella. Os chuveiros e torneiras com extremidades para darem origem a sprays, em especial se: contiverem materiais que forneam nutrientes que potenciem o crescimento da bactria forem de pouca utilizao (e consequentemente com grandes perodos de inactividade)

esto normalmente implicados na disseminao da bactria, transportada atravs das gotculas iniciais formadas e que podem ser aspiradas pelo utilizador com srias consequncias para a sade (uma vez que a entrada pela via respiratria a que causa problemas graves de sade) . Outros locais potenciais para desenvolvimento da Legionella so os sistemas de aspersores das redes de incndio e jacuzzis. Os primeiros pela condio de estagnao, associada ao seu longo traado, tipo de funcionamento e manuteno de temperaturas crticas, e os ltimos devido aos perodos inactividade, recirculao de gua morna, recurso a jactos de alta presso com injeco de ar com a possibilidade de formao de aerossis, potencialmente perigosos se contaminados com a bactria. As principais medidas para evitar o aparecimento e desenvolvimento da bactria Legionella em sistemas de distribuio de gua potvel, passam por: Limpeza Manuteno de baixas temperaturas para a gua fria e temperaturas elevadas para a gua quente Uso regular do sistema, para evitar condies de estagnao As redes principais de abastecimento pblico esto normalmente livres de contaminao devido temperatura, constante renovao e pelo facto de as guas serem desinfectadas na origem com cloro. A Legionella pode colonizar ainda reservatrios de gua, termoacumuladores, tubagem, filtros e outros dispositivos e materiais includos no circuito.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

39

A inspeco e manuteno preventiva dos sistemas de abastecimento de gua potvel devem, por isso, ter em conta os seguintes pontos: Reservatrios de gua fria (cisternas) devem conter apenas a quantidade suficiente para 1 dia de consumo e estarem situados em espaos bem ventilados, fora da incidncia da luz solar. Devem ser providos de tampas estanques e isolamento trmico para manuteno de baixas temperaturas. O dreno de fundo deve estar colocado no nvel mais baixo do reservatrio. Deve ser efectuada uma limpeza anual acompanhada de inspeco visual. Lamas, detritos e xidos devem ser removidos, zonas com picadas de corroso devem ser limpas (com jacto de gua de muito alta presso) e o revestimento interno (se existente e aprovado para uso em reservatrios de gua potvel) reparado. Todos os orifcios de ventilao e trop plein devem ser providos de uma rede de mesh fino para evitar a entrada de insectos e partculas. Quando dois ou mais reservatrios so utilizados para servir o mesmo sistema, devem ser instalados em srie, de modo a que a gua circule atravs do dois e no seja retirada apenas de um. A tubagem de gua fria no deve passar por zonas quentes, devendo ser isolada para evitar que a temperatura da gua no seu interior exceda os 20C. Quando houver necessidade de misturar gua quente com a fria, isto deve ser efectuado o mais prximo possvel do ponto de consumo. A gua quente deve ser armazenada a uma temperatura mnima de 60C e a temperatura, nos pontos de consumo, deve ser no mnimo 46C. As redes de abastecimento de gua devem ser o mais simples possvel, sem zonas de estagnao de gua (dead legs) onde a sujidade, lamas, xidos e outros detritos se possam acumular. Os pontos de maior consumo e utilizao mais frequente devem estar localizados no extremo do ramal para garantir um caudal adequado atravs de todo o sistema. Os chuveiros devem ser providos de dispositivos auto drenantes, para evitar a acumulao de gua nas mangueiras flexveis / ou tubagem vertical. Todos os chuveiros devem ser usados semanalmente pelo menos durante 5 minutos, passando gua bastante quente nos 2 primeiros minutos. Materiais no metlicos, como selantes, anilhas e juntas devem ter propriedades bactericidas e serem aprovados para utilizao em gua potvel. Os termoacumuladores devem ser providos de bomba de recirculao, para evitar a formao de estratos de temperatura diferente, em especial de gua tpida na extremidade inferior do reservatrio abaixo dos elementos aquecedores. Devem tambm ser instalados de modo a permitir a sua fcil drenagem e desmontagem para limpeza, que deve ter tambm uma frequncia anual. Mangueiras flexveis utilizadas no exterior, em especial para lavagem de veculos e rega, devem estar providas de dispositivos para quebra de vcuo, evitando que em caso de falha de alimentao e criao de vcuo, possam ser aspirados para o interior do sistema produtos potencialmente perigosos para o homem.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

40

Em relao bactria Legionella, para alm dos cuidados j referidos, devem ser feitos exames laboratoriais peridicos gua, atravs de recolha de amostras nos locais significativos j indicados. Deve tambm existir um plano de contingncia, preparado para caso de surto ou deteco de elevados nveis de bactrias no circuito. Este plano pode ser baseado na seguinte listagem de aces: 1. Informar imediatamente as autoridades de sade 2. Selar as zonas e edifcios contaminados 3. Fechar todos os sistemas de distribuio potencialmente contaminados, at se descobrir a fonte da contaminao 4. Informar os utilizadores / moradores da presena da bactria 5. Efectuar testes mdicos a todos aqueles que possam ter estado expostos a aerossis de gua contaminada As redes de fornecimento de gua potvel podero ser sujeitas aos seguintes ensaios durante as visitas ou sempre que hajam dvidas acerca da sua integridade: Ensaio hidrulico, realizado a uma presso 1,5 vezes superior presso de funcionamento, com um mnimo de 9 bar, mantidos durante um perodo mnimo de 15 minutos 13. Ensaio de caudal, nos vrios pontos de consumo, para verificao da sua capacidade de escoamento (reduo da seco) Determinao da dureza da gua. A instalao de dispositivos para reduo da dureza da gua leva a um aumento da vida til do sistema. A gua diz-se dura quando o teor de magnsio e clcio dissolvido elevado. Estes elementos dissolvidos vo sendo depositados, reduzindo a seco das condutas e recobrindo, por exemplo os elementos aquecedores, levando a uma diminuio da performance dos equipamentos. Em Portugal a dureza da gua varia bastante, sendo dura no Centro e muito dura no Algarve. Verificao da presso, nos vrios pontos de utilizao, que se deve situar entre os 4 a 5 bar Os termoacumuladores, pertencentes ou no a caldeiras, devem estar providos de pelo menos uma vlvula de segurana, calibrada para a presso mxima admissvel do reservatrio ou, caso esta no seja conhecida, para 110% da presso de funcionamento da rede ou seja aproximadamente 6,6 bar. A descarga desta vlvula de segurana deve ser feita para a rede de guas servidas. As vlvulas de segurana devem ser ensaiadas de trs em trs meses, provocando manualmente o seu disparo, desmontadas, verificadas e calibradas quinquenalmente, aproveitando uma operao de limpeza do termoacumulador.

13

decreto lei n23/95 de 23 de Agosto

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

41

Os termoacumuladores de alta presso, devem tambm ser sujeitos a ensaios peridicos de presso, com frequncia quinquenal e cuja presso de ensaio ser de 1,25 x a presso mxima admissvel de funcionamento do acumulador (ou de projecto) ou caso esta no seja conhecida ou no seja possvel calcular pelo frmula a seguir apresentada, poder ser igual a 1,5 x a presso da rede, com valores de ensaio entre os 6,7 a 7,5 bar. Clculo da presso mxima admissvel de funcionamento para corpos cilndricos: P= 2SEt/D Em que: P a presso mxima admissvel (Kg/cm2) T espessura da parede (cm) S a tenso admissvel do material constituinte do reservatrio (Kg/cm2) E coeficiente de junta (0,85 se no for radiografado e 1 se for radiografado a 100%) D dimetro exterior do acumulador (cm)

O papel dos utentes na manuteno preventiva destas instalaes, verificando por exemplo, que: a gua quente se encontra temperatura mnima requerida, que os dispositivos so utilizados regularmente (por exemplo os chuveiros), que as vlvulas de segurana so disparadas, manualmente, de 3 em 3 meses, que no h fugas no sistema, atravs de uma inspeco visual das ligaes roscadas e unies flexveis efectuando o controlo mensal do consumo, cujas alteraes drsticas podero significar fugas no detectadas

fundamental, reforando o autor, uma vez mais a vantagem que a existncia de um pequeno manual, sobre a constituio e utilizao da instalao, associado a formao, forosamente simples e de carcter muito prtico, do utilizador poder trazer. Materiais Os materiais utilizados nos sistemas de abastecimento de gua potvel tm variado ao longo dos tempos, sendo bastante comum encontrar ainda tubagem, por exemplo em chumbo, em edifcios antigos e cuja substituio deve ser efectuada o mais rapidamente possvel, uma vez que de acordo com a directiva 98/83CE, o teor mximo de chumbo na gua de 25 microgramas / litro a partir de 2003 e de 10 microgramas / litro a partir de 2013. Apesar da utilizao de tubagem em chumbo ter cessado em Portugal por volta dos anos 80, estima-se que no nosso pas (e tambm nas principais cidades europeias) cerca de 50% das habitaes estejam ainda ligadas rede por tubagem deste material. O ataque qumico do chumbo e o consequente aumento da sua concentrao na gua, est relacionado com o pH da gua veiculada e com as condies de estagnao no circuito14. Actualmente comum realizar as canalizaes em ao inoxidvel, ferro, cobre e material termoplstico como os indicados no quadro 7:

14

Revista Tecnologia da gua, Maio de 2003

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

42

Quadro 7 Materiais para instalaes de gua potvel Material Coeficiente dilatao (m/mK) PEAD Polietileno de alta densidade 0,00020

de linear

Utilizao

PER/PEX

Polietileno reticulado

0,00014

PVC

Policloreto de vinilo

0,00008

PP

Polipropileno

0,00015

Rede de distribuio de gua fria; temp mxima de utilizao 20C Redes de distribuio de gua fria e quente; temp mxima de utilizao 95C Rede de distribuio de gua fria; temp mxima de utilizao 20C Redes de distribuio de gua fria e quente; temp mxima de utilizao 100C

Estes materiais apresentam uma vida til (funo da temperatura e da presso) estimada, de acordo com o quadro 8.Quadro 8 Tempo de vida expectvel / condies de servio Presso mxima de servio (MPa) Temperatura Tempo de servio Classe de presso (MPa) (C) (anos) 1,25 2,0 10 1,07 1,69 40 25 1,05 1,67 30 1,04 1,65 10 0,83 1,31 60 25 0,81 1,29 30 0,81 1,28 10 0,63 1,00 80 25 0,63 0,99 10 0,55 0,88 95 15 0,54 0,86 PER / PEX Temperatura (C) 60 80 90 100 Tempo de servio (anos) 10 5 10 5 10 5 Presso mxima de servio (MPa) 1,60 1,00 1,00 0,50 0,45 0,27

PP A listagem dos materiais aqui apresentada no pretende ser exaustiva, podendo serem encontradas instalaes com outros materiais.

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

43

Para uma melhor compreenso da complexidade envolvida no sistema de abastecimento de gua, podemos ver na figura 2 o ciclo completo da gua na natureza e na figura 3 o ciclo da gua desde a sua captao, nesta caso num rio ou represa, at sua distribuio pelos consumidores.

figura 2 Ciclo da gua15

figura 3 Ciclo da gua at consumidor

15

www.geocities.com/Athens/Forum/5265/Ciclo.htm

MANUTENO PREVENTIVA EM INSTALAES DE EDIFCIOS

44

2.2.3 Instalaes de guas residuaisA necessidade de manuteno preventiva desta instalao no pode ser subestimada. A contaminao de solos, lenis freticos e outros problemas associados ao seu deficiente funcionamento, dentro e fora dos edifcios e sua relao, quer com o conforto e segurana