PLANTADEIRAS II O que define um plantio de QUALIDADE? · tabela apenas como um guia inicial para...

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54 | AGOSTO 2013 PLANTADEIRAS II O que define um plantio de QUALIDADE? Apesar da evolução das plantadeiras, os problemas clássicos da semeadura são diretamente relacionados aos equipamentos e às condições do solo. A seguir, algumas oportunas dicas a serem observadas antes de levar a semente para a lavoura Adriano Anselmi, Mark Spekken e José Paulo Molin, da Esalq/USP, Piracicaba/SP R ealizar uma boa semeadura é cru- cial para que a cultura expresse o máximo do seu potencial pro- dutivo e possibilite um bom retorno eco- nômico ao produtor. Para uma boa se- meadura é preciso, basicamente, uma distribuição uniforme de plantas, um estande (plantas/hectare) recomenda- do e um bom rendimento operacional para realizar a operação na época óti- ma ao estabelecimento da cultura. Nes- te artigo abordamos problemas clássi- cos que ocorrem durante a semeadura e as consequências indesejáveis que esses problemas podem trazer para a formação da lavoura. Apontamos ações que devem ser tomadas para uma re- gulagem adequada da semeadora e si- nalizamos aquilo que o mercado de máquinas agrícolas oferece para auxi- Leandro Mariani Mittmann liar o produtor nessa importante etapa. Ao longo dos anos, os projetos das semeadoras sofreram ajustes para per- mitir maior eficiência no campo e aten- der demandas dos produtores. As se- meadoras estão maiores, mais fáceis de serem transportadas e podem ter enorme gama de tecnologias embarca- das. No entanto, os problemas que se veem no campo são os mesmos de

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54 | AGOSTO 2013

PLANTADEIRAS II

O que define um plantiode QUALIDADE?

Apesar da evolução das plantadeiras, os problemas clássicos dasemeadura são diretamente relacionados aos equipamentos e às

condições do solo. A seguir, algumas oportunas dicas a serem observadasantes de levar a semente para a lavoura

Adriano Anselmi, Mark Spekken e José Paulo Molin, da Esalq/USP, Piracicaba/SP

R ealizar uma boa semeadura é cru-cial para que a cultura expresseo máximo do seu potencial pro-

dutivo e possibilite um bom retorno eco-nômico ao produtor. Para uma boa se-meadura é preciso, basicamente, umadistribuição uniforme de plantas, umestande (plantas/hectare) recomenda-do e um bom rendimento operacionalpara realizar a operação na época óti-

ma ao estabelecimento da cultura. Nes-te artigo abordamos problemas clássi-cos que ocorrem durante a semeadurae as consequências indesejáveis queesses problemas podem trazer para aformação da lavoura. Apontamos açõesque devem ser tomadas para uma re-gulagem adequada da semeadora e si-nalizamos aquilo que o mercado demáquinas agrícolas oferece para auxi-

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liar o produtor nessa importante etapa.Ao longo dos anos, os projetos das

semeadoras sofreram ajustes para per-mitir maior eficiência no campo e aten-der demandas dos produtores. As se-meadoras estão maiores, mais fáceisde serem transportadas e podem terenorme gama de tecnologias embarca-das. No entanto, os problemas que seveem no campo são os mesmos de

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tempos atrás e independem das recen-tes melhorias incrementais. Os proble-mas clássicos da semeadura estão re-lacionados à máquina e à condição dosolo, embora na prática nem sempreseja possível separá-los.

Condição para a semeadura — Omanejo adequado do solo e da palha re-sidual é importante para o sucesso dasemeadura. A difusão dos cultivos sobsistema de plantio direto na palha, sempreparo do solo e com a presença deresíduos na superfície é, em alguns ca-sos, um fator que limita o desempenhoda operação. O uso de sulcadores, “bo-tinhas”, para deposição de adubo podegarantir um solo mais aerado, com umafastamento necessário entre o aduboe a semente, além garantir a profundi-dade de semeadura. Porém, isso ocor-re com maior consumo de potência epode afetar o rendimento.

Botinhas sulcadoras consomem de7 a 12cv de potência por haste a dezcentímetros de profundidade (69% amais do que discos duplos), e estu-dos indicam que a demanda de po-tência pode dobrar com aumentos develocidade de 4,5 a 7,7 quilômetros/hora. Portanto, dependendo da capa-cidade de tração, o uso de botinhaspode reduzir consideravelmente avelocidade da máquina e o rendimen-to da operação. O uso de rodas limi-tadoras de profundidade no sulcadorpode ser uma alternativa para mini-mizar o consumo de potência e ga-rantir a profundidade de sulcação ede deposição do adubo.

A dificuldade do sistema de prepa-ro de solo (disco de corte e sulcador)em cortar a palha, aliada às linhas desemeaduras cada vez mais próximas,invariavelmente, propicia o acúmulo depalha na estrutura da máquina, causan-do o “embuchamento” (figura 1). Pro-blemas de embuchamento da semea-dora podem ser minimizados com re-gulagens da altura do cabeçalho da se-meadora em relação ao seu acoplamen-to no trator. Isso influencia no ângulodo chassis da semeadora com o terre-no e atua no trabalho dos discos decorte, assim como o peso distribuídosobre estes. Discos de corte desgasta-dos, com tamanho reduzido, podem tero ângulo de corte com o solo afetado,impedindo um corte correto da palha eo possível acúmulo desta em frente ao

disco.Distribuição de sementes — A

uniformidade de distribuição das se-mentes está entre os fatores de maiorimportância para a definição da produ-tividade das culturas. Algumas culturas,como é o caso do milho, são mais pre-judicadas por uma distribuição desuni-forme de sementes devido às plantasvizinhas não conseguirem compensar aprodução de grãos para os espaços semplantas. Problemas na distribuição es-tão frequentemente relacionados à ve-locidade de rotação dos discos, discosde sementes inadequados e/ou mal ajus-tados e ricocheteamento das sementesno tudo condutor. Fatores não relacio-nados à máquina, como uniformidadeno formato das sementes e condiçõesde solo, precisam ser considerados. Apresença de torrões, por exemplo, podedificultar a deposição da semente naposição ideal e prejudicar a emergênciadas plântulas (figura 2).

Quanto maior a velocidade de ro-tação dos discos, maior a chance defuros não serem ocupados por semen-tes e levar a falhas. Portanto, a velo-cidade de deslocamento da semeado-ra (que determina a velocidade de ro-tação do disco) deve limitar-se a 5,5km/h para soja e 4,5 km/h para milhoespaçado a 90 centímetros (pode-sechegar à velocidade de 5,5 km/h paramilho espaçado a 45 centímetros de-vido à menor rotação dos discos). Ade-mais, a velocidade de semeadura tam-

bém influencia na estabilidade do car-rinho em manter a profundidade dasemeadura.

Os dosadores a vácuo permitemmaior velocidade na semeadura, até 8km/h. A sucção, quando alta, pode le-var à ocorrência de sementes duplas(principalmente no caso da cultura domilho) e, quando baixa, pode levar afalhas. Para facilitar a regulagem e re-duzir as chances de falhas e duplas,mecanismos “singuladores” podem seracoplados aos discos dosadores per-mitindo operar com alta sucção en-quanto os singuladores eliminam asegunda semente de um furo. O usode grafite também auxilia no desliza-mento das sementes no sistema de dis-tribuição e nos discos dosadores, tam-bém prevenindo falhas (principalmentepara o milho). Na seleção de discosdeve-se buscar uma pequena folgaentre o furo do disco e a semente, lem-brando que, após o tratamento dassementes, estas incham e podem de-mandar um furo maior.

Regulagem da distribuição de se-mente e adubo — Definida a furaçãodos discos, passa-se à regulagem daquantidade de sementes por área. Paraisso, toma-se como base o estande fi-nal de plantas desejado e adiciona-seum fator de correção para compensaralgum déficit de germinação e mortali-dade de plantas. O número de semen-tes/hectare é calculado conforme aequação 1.

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Estabelecida a quantidade de semen-tes por área, calcula-se a metragem desulco por área (equação 2). Por fim, cal-cula-se a quantidade de sementes pormetro de sulco (equação 3). O ajuste dadose de sementes e também de adubo éfeito na caixa de rodas dentadas da seme-adora. Em geral, há tabelas que guiam asregulagens. Para as sementes, as regula-gens sugeridas nas tabelas geralmente sãopróximas às quantidades desejadas; já parao adubo, as tabelas não são muito preci-sas devido a heterogeneidade das matéri-as-primas, tamanho dos granulados (grâ-nulo de potássio difere do grânulo de fós-foro), peso, absorção de umidade ou es-farelamento. Portanto, sugere-se usar atabela apenas como um guia inicial paradepois efetuar ajustes finos recombinan-do as rodas dentadas. Além disso, é bomfazer verificações periódicas da distribui-ção e da profundidade de deposição dassementes durante a operação.

A regulagem é feita movimentandoa semeadora por uma distância conhe-cida e dividindo as sementes que caí-ram pela distância percorrida. É neces-

sário percorrer alguns metros antes decomeçar a contar as sementes para ga-rantir que os discos dosadores estejamcompletamente cheios de sementes. Parao adubo, recomenda-se percorrer 200metros e calcular a dose coforme aequação 4. É importante conferir a dosedepois que a rosca sem fim adquirir umacrosta de adubo, o que pode passar ainterferir na dose.

Agricultura de precisão — A ado-ção de piloto automático na semeaduratem resultado em ganho de rendimentooperacional e na qualidade da operação.Destaca-se que esse sistema de autodi-recionamento requer sinal de posicio-namento bastante acurado, visto que adistância entre linhas é pequena (45 cen-tímetros). Dentre as vantagens do pilo-to automático podem ser citadas:

● maior controle de paralelismo en-tre máquinas no mesmo talhão, evitan-do arremates entre elas;

● permite que o operador preste

atenção na semeadora;● permite que a máquina trabalhe por

mais tempo (à noite/madrugada), pois ooperador não precisa mais enxergar re-ferências para efetuar as passadas.

Os monitores de sementes e senso-res instalados nos tubos condutores desementes informam no computador debordo da cabine a quantidade de semen-tes em tempo real depositada em cadalinha. Esse recurso permite um diagnós-tico rápido da ocorrência de problemasna distribuição de sementes, como en-tupimento do tubo condutor, problemascom o vácuo ou, então, a falta de se-mentes no reservatório.

Outro avanço na semeadura com APé a alteração no mecanismo acionadordos discos dosadores. A roda de terra ésubstituída por um motor hidráulico. Essesistema possibilita fazer a semeadura tan-to em taxa fixa quanto em taxa variávelguiada por mapas. Após a primeira cali-bração do sistema distribuidor, o opera-dor pode informar a quantidade de se-mentes no computador de bordo na ca-bine do trator fazendo com que o motorgire mais rápido ou mais lento para aten-der o estande desejado. Esse sistema decontrole permite mudar a quantidade desementes em tempo real e também faci-lita fazer regulagens específicas para cadatipo de semente. Apesar dos benefíciosadquiridos com os recursos da AP, é im-prescindível fazer uma boa regulagem,atentando para os problemas clássicosabordados anteriormente.

Figura 1 Figura 2

Equações:

À esquerda, a dificuldade de ajuste damáquina pode gerar os

embuchamentos; à direita, aocorrência de falhas e de plantasduplas cresce com o aumento da

velocidade da operação

(4) Dose kg

= Quantidade coletada (g) X 5

hectare Espaçamento entrelinhas (cm)

(2) metros de sulco/ha = 10.000 m2/ha

espaçamento entre fileiras (m)

(3) sementes/m = sem/ha

metros de sulco/ha

(1) sementes/ha = estande final de plantas/ha

poder germinativo x sobrevivência

70.000 =

75.187 sem/ha

0,98 x 0,95

10.000 m2/ha

= 20.000 m/ha

0,5 m

75.187 sem/ha

= 3,75 sem/ha

20.000 m/ha

Exemplo:cálculo para um estande final de70.000 plantas de milho por ha