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POEIRA do
TEMPO
Lili Machado
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Título original: Poeira do Tempo, 2013
© Copyright: Lilia Cristina Machado, 2013
ISBN livro impresso: 978-85-8196-292-4
ISBN e-book: 978-85-8196-291-7 Capa: Time Dust, Guilherme Sevens www.gsevens.net
Edição: Adriana Machado Leiroz Rosa
Versão para o Inglês: Lili Machado
Time Dust
© Copyright da tradução: Lilia Cristina Machado, 2014
Todos os direitos reservados
Direitos exclusivos de propriedade literária
Proibida reprodução total ou parcial, através de quaisquer meios,
sem a prévia autorização da autora
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Escrever é uma arte solitária...
Mas isso não é, totalmente, verdadeiro.
Escritores confiam em pessoas dispostas a
compartilhar seu tempo com eles.
Portanto, sinto enorme prazer em poder
agradecer a algumas dessas pessoas:
Aos meus Mestres da faculdade de História da
Universidade Veiga de Almeida, que me
proporcionaram a motivação de escrever este livro.
Em especial às Profas
. Vera Lúcia Moraes (História do
Brasil) e Claudia Dantas (História da Antiguidade), e
aos Profs. Ricardo Mendes (História das Américas) e
George Cardoso (Sociologia).
Sou profundamente grata por seus ensinamentos e
honrada por tê-los conhecido.
Mais uma vez, agradeço ao meu marido, André Luiz
Machado, fonte permanente de apoio, bom humor e
amor - nada teria se concretizado sem a sua
colaboração.
Finalmente, à minha filha Claudia Lúcia Sousa, com
seu olhar crítico, língua afiada e exigente – nunca me
deixando sair do prumo.
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Este livro é uma mistura de ficção com fatos históricos,
que podem ou não, estar, exatamente, na ordem
cronológica correta, em função de licença poética. Também, não há preocupação sobre a existência ou
não de Agharta, por existirem obras especializadas, de
autores respeitáveis, que debatem o assunto com
autoridade e proficiência.
Este livro também não possui caráter doutrinário de
nenhuma crença ou religião: aqueles que não julgarem
aceitáveis os fatos narrados devem levá-los para o
campo da imaginação.
E ainda temos uma outra estória!
Os nomes são reais, porém nada possuem de relação
com as características ou personalidades das
personagens a quem emprestam seus nomes.
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SUMÁRIO LIVRO 1 – Como tudo começou...
Como tudo começou 8
PENTAGNA – O Presépio da Montanha 11
O Esporte Clube 17
De médico e de louco... 20
Boas perspectivas 24
Os isolados 26
As criaturas do Esporte Clube 30
A revelação! 35
Cativa! 42
A polícia no Esporte Clube 46
Reflexões sobre o tempo 50
Mais algumas horas... 54
O santuário... Ooooops, o laboratório 61
ANGKOR / CÂNION CHACO – séc XII d.C. 65
LIVRO 2 – As Primeiras Grandes Civilizações CHAN CHAN / BOROBUDUR – séc VIII d.C. 77
LINDHOLM – séc VII d.C. 84
ILHA DE PÁSCOA / NAZCA – séc VI d.C. 87
TEOTIHUACAN / TENOCHTITLÁN – séc V d.C. 96
TIKAL – séc III d.C. 100
PAGAN / NINRUD – séc II d.C. 105
POMPÉIA – séc I d.C. 114
PETRA / PERSÉPOLIS – 500 a.C. 123
BABILÔNIA / MORRO DA SERPENTE – 600a.C. 128
O fantasma distraído 133
LIVRO 3 – As Origens do Mundo CRETA / MOHENJO DARO / HARAPPA – 2000 A.C. 144
STONEHENGE – 2700 a.C. 154
NEWGRANGE – 3200 a.C. 162
UR – 4500 a.C. 164
NINIVE / TARXIAN / LEPENSKI VIR / ÇATAL HÜYÜK
– 6000 a.C.
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AGHARTA – Um mundo interior 180
A era do fogo 185
Fotos antigas e atuais de PENTAGNA 193
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Prólogo
Ao mesmo tempo que os homens sentiram o desejo de se
estabelecer em comunidades fixas, eles se expressaram através da
construção de templos e cidades de pedra. Muitas, transformaram-se
em vestígios de extintos modos de vida.
Algumas culturas arcaicas sumiram quase sem deixar sinais.
Não registraram grandes obras de literatura, nem contribuições
significativas para a ciência. Em certos casos, até mesmo seus nomes
desapareceram no passado e seus legados reduziram-se às pedras
gastas pelo tempo que algum dia colocaram em determinado local.
Diversos santuários abandonados, preservam muito bem os seus
segredos e muitas dessas construções, propõem um enigmático
desafio.
No mundo Ocidental, a arqueologia é uma ciência nascida no
século XVIII, com as escavações de Pompéia. Até então, ninguém
estudara ou manifestara sequer interesse pelos vestígios históricos.
Quando os homens começaram a explorar o seu passado,
tiveram a revelação da riqueza das civilizações que os haviam
precedido. Foi assim que a realidade científica destronou os mitos,
revelando-se, tão extraordinária, tão enigmática, que ainda hoje novas
descobertas levantam mais questões do que fornecem respostas.
As técnicas atuais abrem fascinantes perspectivas à nossa
misteriosa história, revelando o alto grau de tecnologia atingido pelas
civilizações antigas. No entanto, muitos mistérios subsistem, e, apesar
das descobertas constantes, os últimos capítulos da História da
Humanidade ainda não podem ser escritos.
Paradoxalmente, à medida que a ciência acumula
conhecimentos, mais se torna necessária a imaginação humana, para
insuflar vida aos dados estatísticos.
Como disse Albert Einstein: “A experiência mais bela que
podemos viver é o mistério; ele é a fonte de toda a verdadeira arte e
de toda a verdadeira ciência. Quem não conhece esta emoção, quem
já não possui o dom de se maravilhar, mais valia que estivesse morto,
pois os seus olhos estão fechados.”
Lili Machado
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Como tudo começou...
Imagem da ampulheta com o primeiro objeto
Livro 1
Como tudo começou...
PENTAGNA – O Presépio da Montanha
O Esporte Clube
De médico e de louco...
Boas perspectivas
Os isolados
As criaturas do Esporte Clube
A revelação!
Cativa!
A polícia no Esporte Clube
Reflexões sobre o tempo
Mais algumas horas...
O santuário... Ooooops, o laboratório
ANGKOR / CÂNION CHACO – séc XII d.C.
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Como tudo começou...
Chamo-me Lili Machado, e os fatos que passo a narrar
são verdadeiros. Todas as personagens neles envolvidas ainda
estão vivas, incluindo eu, é claro.
Casada pela segunda vez, uma filha adulta do primeiro
casamento, vivo do meu trabalho como tradutora e professora de
História da Arte.
Confesso que às vezes me irrito um pouco; mas, na
maior parte do tempo, me considero uma pessoa de
temperamento moderado, apimentado por um desejo extremo de
independência. Sofro também daquela obstinação que faz a vida
viável para quem tem uma capacidade visceral de estudar. Pago
minhas contas mais ou menos em dia, cumpro a maioria das leis
e acho que todo mundo devia fazer a mesma coisa... no mínimo,
por boa educação.
Sou magra e sei parecer elegante quando quero, ou
quando tenho tempo. Prefiro usar jeans com t-shirts e
casaquinhos coloridos – tudo combinadinho. Uso saltos baixos
ou médios, para ter conforto sem perder o charme e sem me
estabacar na rua; e uma enorme bolsa preta cheia de apetrechos
úteis e inúteis, incluindo um ou dois livros, no mínimo. Meu
smartphone andróide é continuação de meu braço – forever and
ever conectada no bendito Facebook.
Meus cabelos são castanhos com luzes, escovados a
muito custo, na altura dos ombros, com uma franja lateral sobre
os olhos também castanhos. Sofria de miopia desde criança,
mas tive coragem de fazer a cirurgia a laser, para correção.
Apesar disso, não me livrei de vez dos óculos - preciso deles
para perto – até mesmo para comer – imaginem só!
Para começar, contarei como fui parar na vila Pentagna.
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Quando terminaram as aulas do 2º período da faculdade
de História onde eu lecionava, tive a impressão de que estava
irremediavelmente enferma.
Não exagero. De tanto estudar, pesquisar e ensinar,
fiquei com a cabeça dolorida e tonta, as idéias enevoadas, os
olhos turvos, as mãos trêmulas, as letras embaralhadas. Era
preciso ler três vezes uma linha para entender o que dizia o
texto.
Doíam-me as têmporas. O pescoço endurecia. A tontura
aumentava.
Perdi o apetite.
Perdi a paciência.
Perdi o bom humor.
Apesar de tudo, mal podia esperar a chegada do início do
terceiro período, daí há 3 meses. Meus alunos eram minha
alegria.
Bebi um copo d´água e tentei tornar a ler o livro que
estava a minha espera, sem conseguir.
A minha excitação cresceu.
Pensei nas dívidas ... Pensei no problema do esôfago ...
Pensei na cirurgia do ombro em breve ...
Mudei de assunto.
Pensei na próxima viagem de férias, com meu marido...
Pensei no casamento de minha filha...
Pensei no réveillon com os amigos de sempre...
Pensei em minha festa de aniversário, em fevereiro...
Pensei nas fantasias que vamos usar desfilando pela
Estácio de Sá, no carnaval...
E acabei com febre. Dizem que pensar muito acaba
queimando os neurônios.
Pensei... Pensei... Pensei...
Do que aconteceu depois, não me lembro com clareza.
Sei que quando recuperei os sentidos, achava-me deitada em
minha cama com o marido à cabeceira.
Pedi água.
Deram-me.
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Passaram-se horas.
Aos poucos recobrava as forças e a lucidez.
Num dado momento, tive ordem de me levantar e André
disse:
- Você abusou do estudo. Agora precisa descansar
um pouco. Faça uma viagem. Procure o ar da serra. Leve
aquelas suas alunas tão queridas.
- Para onde acha que devo ir?
- Já ouviu falar em Pentagna?
- Nunca.
- É um lugar muito agradável, aqui mesmo no
Estado do Rio, um distrito perto de Valença. 495 metros acima
do nível do mar, cercado de montanhas e muito verde. Pense
nisso...
Despediu-se sorrindo.
Depois que ele saiu, aquele nome ficou virando
cambalhotas na minha cabeça.
Pentagna... Pentagna... Pentagna...
Tinha qualquer coisa de fresco e agreste. Cheirava a
mato, a ar puro e a flores e eucaliptos. Tinha gosto de fruta.
Prometia tranquilidade e renovação de energias.
As meninas vão gostar e eu estou mesmo precisando
recarregar minhas baterias.
Nós tínhamos algumas economias. Resolvi gastá-las
naquela estação de repouso.
Depois... veremos.
Naquele mesmo dia tratei de saber onde ficava Pentagna
e como se ia até lá.
Entrei em contato com minhas alunas mais chegadas:
Rute, Sandra e Adriana. Todas toparam, animadas.
Dois dias depois eu fugia do barulho do Rio de Janeiro e
caminhava para a paz da serra, sem saber que lá me esperava a
mais singular e surpreendente das aventuras.
Para quem precisava se afastar um pouco dos estudos...
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PENTAGNA
O presépio da montanha
Pentagna foi fundada em 1854, com o nome de São
Sebastião do Rio Bonito.
Há uma praça principal,
rodeada de cerca de 30 casas –
quase todas simples e antigas,
com mulheres janeleiras; uma
Colônia de Férias dos
funcionários do Estado do Rio de
Janeiro, bem arrumadinha; um
posto de saúde; o Esporte Clube
com campo de futebol e um salão
de festas; um museu do
vilarejo jogado às traças e
uma quitanda de secos e
molhados (mais molhados do
que secos) do “Cutuquinha”
(o comerciante Walter
Alencar Esteves), que vende
de tudo um pouco e tem
mesas de sinuca, onde se joga
dinheiro e conversa fora.
- Eu até tirei uma foto
lá na esquina da pracinha,
viram?
Uma subida um pouco
íngreme leva ao morro da
pequena e bela Igreja de São
Sebastião do Rio Bonito,
onde, nas festas juninas, são
armadas barraquinhas e
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organizados leilões.
Reza a lenda que nos idos dos anos 70 do século
passado, um grupo de amigos sem ter o que fazer de sério,
resolveu escrever uma espécie de testamento para o futuro.
Escreveram como gostariam de estar vivendo dentro de 10 anos.
Enterraram o testamento do grupo, debaixo de uma pedra do
altar da Igreja.
E lá ficou o papel...
O tempo passou e nenhum deles se lembrou de, passados
10 anos, recolher o tal testamento e verificar que tinha ou não
acontecido com cada um deles.
Quando deram por si, a Igreja tinha sido reformada, as
pedras do altar trocadas – e que fim levou o papel?
Ninguém sabe...
Mas, vamos em frente...
Perto da praça principal,
tem uma fonte de água mineral
natural ferruginosa e diurética;
que, dizem, faz as pessoas se
encantarem com o lugar e sempre
lá voltarem.
Subindo por uma picada
ladeada de enormes, grandes e
pequenas pedras de quartzo branco
e de lascas de mica, podemos
chegar à fazenda do “Tio Lelé”,
famoso criador de gado e
garimpeiro de pedras preciosas em
toda a região. Na sala da casa dele
há um quadro da antiga fazenda Pentagna, que me fascinou - eu
ficava imaginando estórias românticas e aventuras. Todas as
vezes que via o quadro, uma imagem de uma bela jovem a
cavalo, toda paramentada para festa, me vinha à cabeça.
Também, saindo da praça, vemos duas ruas um pouco
mais largas: uma que vai dar numa linda cachoeira que embala
os amores e os verões da cidade, através da Ponte Luizinho
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Machado e, mais adiante, na
antiga estação de trem, Maria
Fumaça, atualmente em
ruínas.
A outra vai dar numa
estrada que levava à Valença,
antes da abertura da estrada
nova. Soube que esta vivia
enlameada e que os carros
precisavam ser puxados por correntes amarradas em tratores.
No morro do “Tio Lelé”
também há uma escolinha
graciosa daquelas que os alunos
levam uma maçã para a
professora, sabem como é?
É naquela primeira rua,
depois da cachoeira, que fica o
Sítio das Águas Claras, cujos
donos, a D. Helena e o “Seu”
Herculano, além de pintarem pequenos quadros, compuseram o
hino da vila:
- “(...) Bendito seja, Deus e a Natureza, que criaram o
presépio da montanha. Tudo é sonho, somente beleza, no
cantinho do mundo, que é Pentagna”.
E é nesse sítio que eu estou, agora, ouvindo o barulho
das águas rolantes (chuá, chuá... e as águas ... chuê, chuê...) e o
cantar dos pássaros, vivendo os momentos mais tranquilos e
agradáveis de toda a minha vida.
Ledo engano...
Trouxe muitos livros em papel e no meu inseparável
Kindle.
Levantava-me muito cedo e ia até a janela respirar o
cheiro acre e bom dos eucaliptos. Depois me dirigia para a
cozinha, onde uma jovem trigueira me oferecia o desjejum, com
manteiga e queijo feitos lá mesmo no sítio.
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- Ah! Não posso me esquecer da broa de milho da Dalva
e da paçoca de amendoim que seu marido Duca, sempre fazia
para me agradar, com bastante sucesso.
- ... e bota braço no pilão!
Era lindo o luar entre os eucaliptos.
O vento tinha um perfume de sauna.
As estrelas palpitavam.
A lua enorme, redonda, era cor de melão.
Levei comigo, três alunas, futuras historiadoras como eu,
somente meio que desanimadas em se tornarem professoras.
Rute, 36 anos.
A criatura de aspecto mais tranquilo que já vi, em toda a
minha vida. É esotérica e católica fervorosa. Zen. Entende de
tudo das coisas místicas, e das religiosas, também. Passa horas
meditando. Seu rosto oval e de feições belas, faz pensar. Um
par de olhos impressionantes por trás de óculos redondos de aro
de osso e lentes azuis. A íris, de periferia escurecida, tem um
tom amarelo-esverdeado cujo centro brilha. Os cabelos, de uma
cor pouco comum, entre o avermelhado e o dourado, espessos e
ondulados, penteados para trás e sempre presos com uma
bandana florida. A boca pequena e firme, e o queixo, não fazem
justiça à sua idade aparente. Costuma usar blusas de algodão,
curtas, de mangas compridas do tipo sino, decotes amplos nos
ombros e fechadas, na frente, através de fios de seda
entrecruzados, à moda cigana. Usa jeans desbotado de cintura
baixa, deixando entrever o umbigo perfeito, enfeitado com um
delicado piercing de ouro em formato de borboleta. Se usa
cinto, este tem, sempre, uma fivela dourada antiga. Sandálias de
solado alto, do tipo plataforma e bolsa traspassada, de jeans
escuro, tudo reminiscência da década de 70. Cheia de pulseiras,
brincos de argola e anéis dourados, seu corpo bem feito ajuda na
moldagem da personagem hippie de boutique.
Sandra, 21 anos.
É o tipo de mulher pela qual os homens perdem a cabeça,
ou o pescoço, literalmente. Com seu corpo escultural, explorado
por vestidos colantes e curtíssimos, não apropriados para
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temporadas no campo, exibe um belo par de seios naturalmente
fartos. Sua cabeleira loura é ondulada e lhe chega até a cintura,
terminando em cachos que parecem pedir para serem tocados.
Seus olhos cor de mel irradiam uma energia meio estranha,
apesar da aparente exuberância. Usa grandes argolas douradas
nas orelhas e largas pulseiras douradas nos pulsos. Muitos
anéis, uma profusão deles, nos dedos das mãos e até no dedão
do pé direito. Traz, sempre junto a si, enorme sacola vermelha
que tento adivinhar seu conteúdo.
Adriana, 22 anos.
Tem o rosto comprido, alongado, que parece menor sob
os enormes óculos escuros de lentes espelhadas, que ostenta
com orgulho, mesmo nos ambientes internos. A pele alva e a
boca rosada sugerem olhos claros, talvez azuis. O cabelo liso e
escorrido à custa de muita escova progressiva, é tingido de preto
e desce até os ombros. Sua roupa tampouco condiz com o
ambiente rural. Usa corpetes estampados de flores que
terminam logo abaixo do busto visivelmente siliconado e curtas
saias de couro, combinando com botas de cano e saltos altos.
- Quero vê-la andar, assim, nos caminhos cheios de
pedregulhos.
Como últimos toques de excentricidade em termos de
vestuário, está sempre com uma pequena bolsa de mão de
veludo. Parece um manequim ambulante vindo, diretamente, de
um brechó. É alta e esguia.
Desnecessário dizer que era difícil acordar as meninas na
mesma hora que eu.
Mas, depois que nos reuníamos, saíamos a caminhar pela
estrada, cumprimentando os
poucos homens e mulheres que
passavam, montados em
burricos carregados de legumes,
verduras e frutas.
Marcava ponto todos os
dias, na porta da D. Zica, doceira
famosa na região e que fazia