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POEMAProjeto de Orientao Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismo

POEMA de um sonho coletivo. Sonho por fim realizado. Envolveu pessoas Envolveu anseios Envolveu magia No fossem tantas mos, a lrica no seria a mesma. Com o testemunho do tempo Pde o trabalho de tantas e to bonitas geraes [de estudantes, de pessoas] Apreender os mais ricos estilos Ouvir os mais certeiros sonetos Transpirar como o mais simblico Eterno romance Eterno fazer Eterno POEMA

FeNEA FeNEA a entidade de representao estudantil que congrega todos os estudantes de Arquitetura e Urbanismo do pas, principalmente atravs dos Centros e Diretrios Acadmicos. Sua proposta de trabalho est fundamentada no desenvolvimento de diversos projetos, que visam melhorar a formao do profissional arquiteto e urbanista. Dessa forma, busca ampliar nossa participao enquanto estudantes universitrios e cidados na transformao da realidade e do espao em que vivemos, por meio de aes que venham a contribuir para a melhoria da situao social do nosso pas.

Os Escritrios Modelo na FeNEA No incio da dcada de 90, aps a reabertura poltica e o retorno das atividades nos Centros Acadmicos e na FeNEA, as discusses sobre as atividades e prticas acadmicas dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo durante a graduao foram retomadas, buscando no somente o complemento da educao universitria, mas tambm o compromisso com a realidade social brasileira. No seguimento das discusses, na busca de imerso na comunidade, na liberdade da idealizao, surgiu o Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo EMAU, um projeto de Extenso Universitria dentro da FeNEA.

POEMA e CARTA de PRINCPIOS dos EMAUs Orientao e caracterizao O Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismo POEMA tem como objetivo orientar e caracterizar os EMAUs, indicando rumos em sua formao, funcionamento e manuteno. O POEMA no tem a pretenso de ser uma receita de como implantar ou manter um EMAU. Ele apenas aponta os meios, com base na experincia dos prprios Escritrios Modelo em funcionamento. A primeira parte do POEMA apresenta as discusses dos estudantes sobre Extenso Universitria, qual sua necessidade e como seria caracterizada a Extenso que mais se encaixa nos princpios de um EMAU. Define ainda, sob linhas gerais, o que um EMAU e como se d sua relao com Comunidade e Sociedade. Aps esta parte conceitual inicial, est a Carta de Princpios dos Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismo. o documento elaborado pelos estudantes que rene todas as diretrizes e caractersticas de um EMAU. A Carta de Princpios uma sntese dos diversos pontos comentados aqui no POEMA. Ela funciona como um norte, e, assim como o POEMA, no tem a pretenso de ser uma receita de como implantar ou manter um EMAU. A Carta de Princpios seguida pelo E agora Jos?, parte do POEMA que apresenta, de maneira geral, as principais dificuldades e

solues encontradas pelos EMAUs nos momentos de sua implantao e manuteno. Seguindo o E agora Jos?, apresentado no POEMA alguns histricos de Escritrios Modelo que descrevem suas experincias: quais as caractersticas de seus trabalhos, como captaram projetos, como conseguiram apoio de professores, como o trabalho em grupo dentro de cada EMAU. Tambm apresentado um histrico dos EMAUs na FeNEA. Como esta idia cresceu atravs do movimento estudantil de arquitetura e se concretizou, principalmente atravs da realizao do SeNEMAU Seminrio Nacional de EMAUs, momento mximo de troca de experincias e capacitao de EMAUs. SeNEMAU Existem vrios momentos de apresentaes e discusses sobre esta forma de Extenso Universitria que so os EMAUs. Encontros Regionais e Nacionais de Estudantes de Arquitetura (ENEAs e EREAs), Seminrios Regionais de Ensino (SERES), Conselhos Regionais e Nacionais de Entidades Estudantis de Arquitetura e Urbanismo (COREAs e CONEAs), alm de eventos de outras entidades como a ABEA Associao Brasileira de Ensino de Arquitetura, e o IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil. Os SeNEMAUs so os momentos onde ocorrem a maior e mais intensa troca de experincias entre EMAUs (em funcionamento e em formao), tendo servido de arranque inicial para a maioria dos EMAUs existentes hoje. O SeNEMAU proporciona o encontro de pessoas com afinidades e aes em comum, transcendendo a mera formalidade de um seminrio. Como conseqncia dessa reunio que trata de educao, sociedade, pessoas, mudanas o SeNEMAU um momento nico, onde o encontro torna as trocas de experincias e os contatos com as comunidades episdios marcantes. Um aprender solidrio, libertrio, desmistificado num espao vivo de coletividade e fora de vontade. O histrico dos SeNEMAUs e maiores detalhes sobre este Seminrio so encontrados no Histrico dos EMAUs.

Sumrio

Pg. A EXTENSO UNIVERSITRIA EXTENSO COMO COMUNICAO EMAUs EMAUs E COMUNIDADE Carta de Princpios dos EMAUs Histrico dos EMAUs EMA IN LOCO AMA Estatuto do AMA Casas CLULA EMCASA EMAU PUC-Minas 9 SeNEMAU Histrico dos EMAUs na FeNEA 11 13 15 17 21 29 29 32 39 49 62 66 70 74 84 85

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A EXTENSO UNIVERSITRIA Compondo junto com o Ensino e a Pesquisa a trade bsica e necessria para uma educao de qualidade, a Extenso Universitria caracterizada pelo contato e pela troca de informaes e conhecimentos entre sociedade e Universidade. Entendese que a produo de conhecimento s se realiza plenamente se houver uma unidade entre os elementos dessa trade, que devem existir em constante comunicao. Entendendo a Universidade como produtora de conhecimento tcnico e cientfico, e como um importante agente de transformao da sociedade, ela apresentase como responsvel direta por fazer a comunicao necessria e a troca de saberes com a sociedade. Tendo a Universidade estas responsabilidades, tambm dever dos estudantes e professores trabalhar para que existam atividades qualificadas de Extenso. Vale lembrar que a Extenso atividade que por excelncia faz com que a sociedade tome conhecimento da importncia da Universidade. Entendese que o elo de ligao Universidade/Sociedade devese dar em funo do interesse didtico acadmico atravs da equalizao dos conhecimentos produzidos e acumulados dentro das universidades, tendo em vista o usufruto comum das cincias, artes e tecnologias. Tantas so as formas de como a Extenso pode acontecer, assim como tantas so as parcelas da sociedade que podem ter acesso a um trabalho acadmico. Cada Curso possui linhas caractersticas de ao extensionista: os Cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem e outros na rea da sade atuam em hospitais escola, ambulatrios; os Cursos de Direito atuam na prestao de servios e assistncia jurdica sociedade; e assim por diante. Na Universidade a extenso deve ser considerada, enquanto atividade didtico pedaggica e como elemento transformador na realidade social, objetivo de modo a propiciar a formao crtica, criativa, independente ao aluno e recolocar a Universidade como local privilegiado ao saber socialmente comprometido com o desenvolvimento social; E por natureza ser multidisciplinar e dever estar sempre ligada ao processo de ensino/aprendizagem retroalimentando os contedos dos cursos, atendendo as expectativas e necessidades de estgio dos alunos.(ABEA texto retirado dos relatos do I Frum Mundial da Educao Seminrio de Educao em Arquitetura e Urbanismo 26 de outubro de 2001 Porto Alegre RS)

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EXTENSO COMO COMUNICAOA grande generosidade est em lutar para que, cada vez mais, essas mos, seja de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de splica. Splica de humildes a poderosos. E vo fazendo, cada vez mais, mos humanas, que trabalhem e transformem o mundo Paulo Freire

A Extenso Universitria pode ser realizada de vrias maneiras: pode ser um rpido curso oferecido sociedade pela Universidade, um trabalho de ao contnua desenvolvido para uma determinada comunidade, a aplicao de questionrios para levantamento de dados, assim como muitas outras atividades. Algumas destas formas de Extenso so plenamente vinculadas ao mercado, disponibilizando infraestrutura, material humano, cientfico e tecnolgico das universidades empresas e outras organizaes que tm capacidade de financiar outros profissionais para desenvolver atividades realizadas pelo meio acadmico. Em contraponto, outras atividades de Extenso so direcionadas a trabalhos sociais em famlias ou comunidades excludas. Porm, muitas vezes estas atividades assumem carter assistencialista, ou seja, acabam por se caracterizar como ajuda ao prximo, oferecendo trabalhos gratuitos em que a comunidade recebe passivamente o conhecimento gerado na Universidade. Por serem realizados trabalhos de extenso com intenes e resultados to variados, o Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo busca sua forma de exercer esse dilogo com a sociedade. A prpria palavra extenso acaba por ser questionada, como to bem o faz Paulo Freire.A expresso extenso educativa' s tem sentido se se toma a educao como prtica da domesticao'. Educar e educarse, na prtica da liberdade, no estender algo desde a sede do saber', at a sede da ignorncia' para salvar, com este saber, os que habitam nesta Paulo Freire

Aqui se coloca a crtica a uma Extenso unilateral, onde h um13

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depositar de conhecimentos de um lado a outro, onde h educadores dispostos a educar uma determinada parcela da sociedade vazia de conhecimento. como dar o peixe e no ensinar a pescar, no h um processo educativo de dilogo, de troca, que faa com que a comunidade se aproprie do produto gerado, podendo se autosustentar sem a presena da universidade.Como posso dialogar, se alieno a ignorncia, isto , se a vejo sempre no outro, nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente, virtuoso por herana, diante dos outros, meros isto, em que no reconheo outros eu? Como posso dialogar, se me sinto participante de um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que esto fora so essa gente, ou so nativos inferiores? Como posso dialogar, se parto de que a pronncia do mundo tarefa de homens seletos e que a presena das massas na histria sinal de sua deteriorao que devo evitar? Como posso dialogar se temo a superao e se, s em pensar nela, sofro e definho? Paulo Freire

Os EMAUs buscam, a partir desse questionamento, uma atividade baseada na troca, no contnuo intercmbio de informaes com as comunidades que trabalham sem opresso ou qualquer tipo de imposio de qualquer uma das partes. Que haja sim, um trabalho com constante participao das comunidades, onde universidade e sociedade troquem conhecimentos de maneira horizontal, e no a simplista extenso hierarquizada de uma parte sobre a outra. Buscam uma Extenso como comunicao, onde ambas as partes estendem seus conhecimentos, e s atravs do exerccio desse dilogo constante se chegue a uma forma de educao libertria e condizente com nossa realidade social.Quem estende? Ns universitrios? Ou a extenso mtua: trocamos, mostrando e aprendendo? Ser assistencialista manter essa postura rgida, meio erudita, que no abre espao pra comunicao com a populao. E me parece que a gente que est tentando fazer extenso sria tem que questionar o fazer arquitetura, ainda na faculdade, propondo um exerccio de extenso que faa transparecer a necessidade e importncia atual do arquiteto na cidade Laila Loddi AMA - Ateli Modelo de Arquitetura UFSC

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POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoEMAUsO Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo um grupo 'extensionista', de iniciativa e gesto estudantil que realiza estudos e projetos de arquitetura e urbanismo s comunidades excludas. Leonardo S. Rodrigues Ateli Modelo de Arquitetura AMA UFSC XII CONABEA Congresso Nacional da Associao Brasileira de Ensino de Arquitetura, Caxias do Sul RS

O EMAU, Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo uma entidade estudantil que realiza Extenso Universitria, entendida enquanto parte indissocivel da Pesquisa e do Ensino de graduao. Fruto de mais de uma dcada de discusses em Conselhos, Seminrios e Encontros da FeNEA, o EMAU definido em essncia pela sua Carta de Princpios, e, de forma mais completa, pelo POEMA. Uma importante particularidade da proposta do EMAU est em sua iniciativa e gesto estudantil. Estudantes que, enquanto sujeitos da ao, tm acesso aos porqus, de onde vieram, aonde querem chegar. Participam do processo, vivenciam. A reflexo surge de teoria e prtica colocadas lado a lado na construo do conhecimento. A relao entre estudantes e professoresorientadores deve ser horizontal, garantindo o aproveitamento didtico das atividades do EMAU.Sobretudo o Escritrio Modelo de Arquitetura seria um espao para o exerccio concreto da autonomia. Onde todos, 'ensinantes e aprendentes', teriam a possibilidade de extrair um recorte de contribuio ao mundo local e universal em que vivemos. Antenor Vieira Professor orientador do Escritrio Modelo de Arquitetura EMA UFPE

Dessa forma, a base de um EMAU o trabalho coletivo, tanto em sua gesto interna, como no exerccio multidisciplinar e na relao EMAU / Comunidade. O trabalho em grupo leva todos a entender melhor seu papel como cidados em uma sociedade de complexas relaes humanas. A troca de saberes entre diversos profissionais, e destes com a comunidade, uma tentativa de realizar um trabalho mais completo. A troca multidisciplinar complementa a formao acadmica alm de fazer com que o trabalho com comunidades organizadas atinja outros nveis de envolvimento, podendo assim o EMAU estimular a mobilizao da comunidade (com o auxlio de estudantes de Servio Social, por exemplo), auxiliar em questes de sade (estudantes de medicina, biologia...), em questes judicirias (estudantes de Direito e afins), etc...15

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A atividade do EMAU parte assim do entendimento da Arquitetura e Urbanismo enquanto rea comprometida com uma situao social contraditria. Buscando na prtica atual de arquitetura e urbanismo o comprometimento com as camadas excludas de nossa sociedade, o EMAU direciona sua atividade essa parcela da populao que nem sequer tem acesso ao trabalho de um arquiteto. Trabalhar com comunidades minimamente organizadas em associaes, conselhos ou comisses de moradores, evita que o EMAU concentre seus esforos na realizao de atividades que atinjam um pequeno nmero de pessoas. Ou pior, realizar atividades que possam se tornar assistencialistas, com carter de ajuda ao prximo ou de atividade voluntria.A questo do assistencialismo confunde muita gente. O que entendo como prtica de assistencialismo fazer, por exemplo, a casa da dona Maria, ou o banheiro do seu Jos, etc. O importante procurar trabalhos que beneficiem no s uma s pessoa, e sim uma comunidade ou um grupo delas. Leonardo Lopes ALMAS PUC Campinas

Uma outra atividade comum dentro das Universidades o Laboratrio de Extenso, que muitas vezes confundido com os EMAUs, mas possui uma estrutura bastante diferenciada. O Laboratrio de Extenso uma iniciativa da administrao dos Cursos e Faculdades de Arquitetura e Urbanismo e suas atividades so coordenadas por professores universitrios que selecionam os projetos. Nestes, os estudantes participam como estagirios. Como no existe nenhuma legislao que regulamente o trabalho de estudantes nos EMAUs e nos Laboratrios de Extenso, todos estes so considerados ilegais, pelo fato dos estudantes, aos olhos da lei como ela hoje, estarem desenvolvendo atribuies de profissionais arquitetos urbanistas. No entanto, os EMAUs no desenvolvem atividades profissionais, e sim atividades acadmicas com interesse didtico dentro das Universidades, constitucionalmente autnomas para desenvolver tais atividades. Alm do que, todos os trabalhos desenvolvidos dentro dos EMAUs so acompanhados e orientados por professores universitrios, que possuem responsabilidade tcnica e legal para os projetos. O Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo no interfere no mercado de trabalho dos profissionais da rea, pois trabalham com16

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismocomunidades sem acesso ao conhecimento do arquiteto e urbanista. Inclusive a atividade do EMAU vm disseminando a importncia deste conhecimento.EMAUIniciativa de Implantao Gesto/Administrao de Recursos Recursos Financeiros Infra-Estrutura Captao e Escolha de Projetos rea de Atuao Participao dos Estudantes nos Trabalhos LABORATRIO DE EXTENSO Professor Professor Universidade/Mercado Privado Universidade Professor Qualquer Projeto Escolhido pelo Prof. Coordenador Seleo de Estudantes feita por Professores ESCRITRIO MODELO (EMAU) Estudantes Estudantes Universidade Universidade Estudantes Comunidades Excludas e Organizadas Livre Participao dos Estudantes

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EMAUs E COMUNIDADE Educar e educarse, na prtica da liberdade, tarefa daqueles que sabem que pouco sabem, em dilogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais. Paulo Freire, em Extenso ou Comunicao? Historicamente, a atuao do arquiteto est voltada uma elite. Grande parte da populao no visualiza a abrangncia de ao dos arquitetos, assim como desconhece o prprio significado da profisso. Por essa falta de conhecimento, essa parcela da sociedade se encontra excluda da possibilidade de acesso ao trabalho de um arquiteto. A excluso desta populao, acima de financeira ou social, cultural. Segundo o gegrafo Milton Santos, No existem comunidades excludas, e sim comunidades perversamente includas. neste sentido que usamos a expresso comunidades excludas: comunidades includas sob um ponto de vista globalizado, porm, includas de uma maneira perversa. Essa parcela que compe a dita cidade informal construtora do espao urbano, agente transformador em potencial. Ainda assim, essa cidade autoorganizada (que constitui cerca de 80% da cidade) continua sendo denominada informal.O urbanismo brasileiro (entendido aqui como planejamento e regulao urbanstica) no tem comprometimento com a realidade concreta, mas com uma ordem que diz respeito a uma parte da cidade, apenas. Podemos dizer que se trata de idias fora do lugar porque, pretensiosamente a ordem se refere a todos os indivduos, de acordo com os princpios do modernismo ou com a realidade burguesa. Mas tambm podemos dizer que as idias esto no lugar por isso mesmo: porque elas se aplicam a uma parcela da sociedade reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilgios. Para a cidade ilegal no h planos, nem ordem. Alis ela no conhecida em suas dimenses e caractersticas. Tratase de um lugar fora das idias Ermnia Maricato A cidade do pensamento nico Desmanchando Consensos

A partir dessa forma de olhar a cidade e reconhecendo a necessidade de uma maior atuao do arquiteto e urbanista nesse lugar fora das idias, o EMAU procura envolverse com as dinmicas sociais responsveis pela construo do espao. Por isso, a proposta de18

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trabalho que o EMAU desenvolve tem como foco principal a comunidade, sendo nesse contexto de cidade informal aquela que produz o espao urbano que ocupa. As cidades hoje necessitam de arquitetos interlocutores, arquitetosurbanos, que faam pontes entre os agentes urbanos (comunidades e poder pblico). Arquitetos que saibam ler a cidade, entender suas nuances e trabalhar a partir delas. No se trata simplesmente de trocar um tipo de arquiteto (arquiteto urbanista) por outro (arquitetourbano), que continuaria mantendo o controle total sobre a construo da cidade, mas sim de mudar o modo de atuar na cidade, o prprio papel do arquiteto. (...) Esse outro tipo de arquiteto teria um outro papel, promoveria e possibilitaria a participao efetiva da populao.'' Paola Jacques Berenstein, em Esttica da Ginga A arquitetura das favelas atravs da obra de Hlio Oiticica

O processo projetual, baseado no dilogo entre as partes, objetiva produzir um bem coletivo, podendo resultar na apropriao e conseqente sustentabilidade da comunidade. Para que haja essa apropriao, alm do conhecimento tcnico que ns como estudantes de arquitetura e urbanismo trazemos, fundamental que a comunidade se sinta integrada ao processo de construo coletiva, contribuindo com seu conhecimento emprico. Dessa forma, a ao dos EMAUs nas comunidades no se prope realizao de propostas prontas e acabadas, trabalha com a possibilidade de uma ao compartilhada e flexvel, onde a arquitetura vivida enquanto processo. nesse processo envolvendo a comunidade que o EMAU no caracteriza o seu trabalho enquanto assistencialista.Dar comida a quem tem fome, tratar uma pessoa doente, construir casas ajuda a salvar vidas e dar dignidade a muita gente. Mas o trabalho que busca despertar a conscincia , mobilizar grupos sociais, influenciar polticas pblicas representa aes no campo da cidadania que fazem parte da transio da democracia representativa para a democracia participativa. Oded Grajew Diretorpresidente do instituto Ethos O assistencialismo no avalia o impacto da ao, enquanto a promoo humana busca resgatar as pessoas e coloclas em situao ou em condies mais humanas. O assistencialismo no muda o processo, atua apenas nos sintomas. Luis Norberto Pascoal Coordenador do Comit Nacional do Voluntariado

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Trabalhando sempre junto com a comunidade, compreendese seus anseios e necessidades, as relaes entre os membros que a compe e as relaes dela com outras comunidades, com entidades externas e com o poder pblico. Compreendendo melhor estas relaes, tanto comunitrias quanto acadmicas, o trabalho do EMAU procura se distanciar tambm de uma das principais conseqncias do assistencialismo: o clientelismo.Quem faz assistencialismo, cria o clientelismo, promove a dependncia e com isso, organiza a misria, atravs de aes relmpagos, criando uma espcie de manuteno da misria organizada. Com esta estratgia, os paraninfos realizam seus planos, difundem a idia, e em muitos casos, ganham at incentivos fiscais, o lucro fcil e a chegada ao poder. Paulo Lamego

O trabalho do EMAU, obviamente, no deve ter interesses polticos para com a comunidade. Esse clientelismo, aqui colocado como um jogo de interesses, reflete uma possvel relao de dependncia da comunidade para com o EMAU. Ele pode acontecer se o processo projetual com a comunidade no tiver como principal objetivo garantir a sustentabilidade da mesma. Ou seja, que a comunidade consiga caminhar com as prprias pernas quando a presena do EMAU no for mais possvel ou necessria.

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POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoCarta de Princpios dos Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismo A Extenso, assim como o Ensino e a Pesquisa, fundamental para a formao acadmica. um instrumento de interao do meio acadmico com a sociedade, tendo como princpio contribuir para o desenvolvimento desta, atravs da troca de conhecimento e o compromisso da Universidade com o desenvolvimento do saber. O Escritrio Modelo de Arquitetura e Urbanismo EMAU um projeto sem fins lucrativos, conceituado e fomentado pela FeNEA Federao Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Visa a melhoria da Educao e da formao profissional, atravs da vivncia social e da experincia terica e prtica como um todo. A Carta de Princpios o Cdigo de tica da FeNEA para os Escritrios Modelo, sendo reconhecidos apenas aqueles que sigam os princpios inclusos nesta. O Escritrio Modelo segue, como eixo norteador tico, os quatro postulados da UNESCO e Unio Internacional de Arquitetos para a educao em Arquitetura e Urbanismo: Garantir qualidade de vida digna para todos os habitantes dos assentamentos humanos; Uso tecnolgico que respeite as necessidades sociais, culturais e estticas dos povos; Equilbrio ecolgico e desenvolvimento sustentvel do ambiente construdo; Arquitetura valorizada como patrimnio e responsabilidade de todos.

PRINCPIOS DO EMAU Ser um projeto de extenso universitria; Propiciar a melhoria da formao acadmica; Retornar comunidade acadmica o conhecimento adquirido em suas atividades; Difundir a atividade de arquitetura e urbanismo, complementando e no competindo com o mercado profissional; Atender a populaes sem possibilidades de ter acesso ao21

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trabalho do arquiteto e urbanista; Ser de livre participao a todos os estudantes de arquitetura e urbanismo e outros interessados, sendo um espao de debate e produo aberto a toda a sociedade; Proporcionar o trabalho coletivo, visando uma gesto democrtica e horizontal; Estabelecer um processo projetual participativo, promovendo a mobilizao social; Garantir o trabalho integrado a outras reas do conhecimento; Ser autnomo em relao a sua gesto e seleo de projetos e orientadores; Ser isento de remunerao pelos beneficirios; Garantir seu funcionamento e continuidade; A Responsabilidade Tcnica sobre os projetos elaborados pelos EMAUs segue legislao reguladora dos exerccios das profisses;

E AGORA JOS?Disse: tudo intil, se o ltimo porto s pode ser a cidade infernal, que est l no fundo e que nos suga num vrtice cada vez mais estreito. E Plo: O inferno dos vivos no algo que ser; se existe, aquele que j est aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de no sofrer. A primeira fcil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornarse parte saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, e preservlo, e abrir espao. talo Calvino

Quando se pensa em montar um Escritrio Modelo, as dvidas surgem naturalmente, das mais variadas formas. No entanto, os primeiros obstculos so geralmente muito parecidos nos diversos Cursos do Brasil. Como reunir pessoas interessadas, como encontrar um bom projeto, como conseguir apoio dos professores, da Universidade, espao fsico, bolsas de extenso, como conseguir? Antes de abordar estas questes, fundamental que cada grupo analise as peculiaridades de seu Curso.

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POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoAs pessoas...No basta ter belos sonhos para realizlos. Mas ningum realiza grandes obras se no for capaz de sonhar grande. Podemos mudar o nosso destino, se nos dedicarmos luta pela realizao de nossos ideais. preciso sonhar, mas com a condio de crer em nosso sonho; de examinar com ateno a vida real; de confrontar nossa observao com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossa fantasia. Sonhos, acredite neles. Lnin

O EMAU surge a partir do momento em que um grupo de estudantes se une com interesse e determinao em buscar uma educao libertria. A formao do grupo, a relao entre as pessoas, o desejo coletivo e o esprito de grupo so os primeiros e principais impulsos para a realizao dos trabalhos, e conseqente funcionamento do EMAU. Uma questo bastante polmica a de quando um EMAU pode ser considerado um EMAU. A resposta que se estabeleceu com a experincia de vrios Escritrios foi que, independente de oficializao, estatuto, opinio dos professores ou qualquer outro fator, quando existe um grupo de pessoas trabalhando segundo as diretrizes da Carta de Princpios existe EMAU. At mesmo alguns Escritrios Modelos que j funcionam a anos, no possuem espao fsico prprio, e alguns no so oficializados junto a Universidade como Escritrio Modelo. No entanto isso no significa que eles no existam. So EMAUs como qualquer outro que possua espao prprio, tenha estatuto registrado ou bolsas de estudo. Nem sempre as necessidades so supridas com grande facilidade. Porm quando os trabalhos comeam a se concretizar, e principalmente quando a arquitetura comea a aparecer, a credibilidade dos colegas, e at mesmo dos professores, ir se consolidando gradualmente, fazendo com que o grupo cresa e passe a somar cada vez mais participantes. Importante componente em qualquer trabalho de Extenso Universitria, os professores so o principal cordo umbilical do EMAU com a Universidade, sendo eles o caminho mais curto at as bolsas de extenso, ajudas de custo a materiais e diversas outras beneficiaes que tm direito os EMAUs enquanto grupo de extenso.23

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No entanto, os professores tm um papel muito mais importante do que o de facilitar a viabilidade fsica e financeira do EMAU. Ele quem orientarar e ser o responsvel tcnico legal dos projetos frente aos rgos reguladores da profisso de Arquitetura e Urbanismo. Por isso importante ressaltar que o professor orientador tem que estar legalmente apto a ser o responsvel tcnico pelo projeto em questo, assim como emitir anotaes de responsabilidade tcnica e outros documentos que se faam necessrios. Outra caracterstica importante do professor orientador de trabalhos do EMAU a experincia com comunidades excludas, assim como a organizao poltica destas. Logo, importante que na escolha do orientador haja a preocupao em notar suas caractersticas quanto a sensibilidade social e poltica, alm de sua didtica e conhecimento tcnico. Sob uma tica global dos trabalhos do EMAU onde tudo se soma e nada se subtrai vale lembrar que a necessidade de um professor orientador na elaborao dos projetos no implica que no possa haver outras pessoas, tcnicos, profissionais qualificados colaborando com o EMAU. Os colaboradores, ou coorientadores, podem ser qualquer pessoa que tenha conhecimento necessrios aos trabalhos desenvolvidos pelo EMAU. Somando todos estes personagens, o EMAU se caracteriza como um ambiente de trabalho compartilhado de maneira horizontal e plural, possibilitando a plena atuao dos estudantes, professores, colaboradores e comunidades. Os projetos...Por seres to inventivo e pareceres contnuo, tempo, tempo, tempo, tempo entro num acordo contigo (...) acredito ser possvel reunirmonos tempo, tempo, tempo, tempo num outro nvel de vnculo Caetano Veloso

Para que tenha um melhor aproveitamento acadmico, importante que os prprios estudantes vo a busca de um projeto que lhes proporcione acmulo de conhecimentos e experincias enquanto cidados e futuros profissionais.24

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoNormalmente, o tempo de estudos e projetos dentro do EMAU diferenciado de projetos acadmicos hipotticos, ou de projetos comerciais. O contato direto com a comunidade, o processo projetual participativo, o enriquecimento do projeto com consultas e apoio de outras reas do conhecimento, so fatores que qualificam muito os projetos dos EMAUs, mas tambm fazem aumentar seu tempo. Dessa caracterstica do tempo de projeto que se nota outra importncia da existncia do trabalho dos EMAUs. Em escritrios de arquitetura privados ou entidades com fins lucrativos seria invivel a captao de projetos com a demanda de tempo absorvida pelo EMAU no de uma maneira desgastante, mas de uma maneira didticopedaggica. Para encontrar um projeto com um perfil que contemple os princpios defendidos pelos EMAUs, pela FeNEA, podese procurar por associaes de bairro, associaes de moradores e demais entidades representativas de populaes excludas. Quando trabalhamos com comunidades organizadas temos uma participao, direta ou indireta, mais efetiva dos moradores locais e uma garantia maior da sustentabilidade de qualquer interveno, seja ela poltica, social, habitacional ou patrimonial. O Estatuto da Cidade, lei n 10.257/01, tem contribudo bastante na reunio de representantes das comunidades de diversos municpios. Um espao deste carter, onde problemas habitacionais e urbanos so expostos pelos cidados mais atingidos, um local propcio para adquirir informaes e contatos para descoberta de projetos interessantes. Um segundo espao de busca neste imenso leque o meio universitrio. Dentro da Universidade existem, em outros Cursos, diversos projetos de extenso que geralmente precisam de estudos e projetos arquitetnicos a serem executados paralelamente ou conjuntamente com a equipe inicial. Existem algumas vantagens quando se parte de um projeto j iniciado, como a existncia de um contato com a comunidade, e estudos iniciais desenvolvidos. Quando a opo for pela busca de um projeto partindo de um trabalho de extenso j existente, a procura em outros cursos fora da Arquitetura e Urbanismo pode apresentar mais uma vantagem, que o de j comear a trabalhar com um grupo multidisciplinar. Esses trabalhos podem ser adequados e complementar perfeitamente os trabalhos do EMAU.25

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Mais uma via importante a ser considerada para a obteno de projetos qualificados para os EMAUs so as ONGs (Organizaes No Governamentais) e outras Entidades e grupos autnomos que trabalham pela melhoria da qualidade de vida das populaes excludas, podendo contribuir muito na informao e na viabilizao de projetos. Podem tambm ser consideradas uma fonte de informao e captao de projetos reunies comunitrias, reunies de Associao de Moradores e fruns, como por exemplo o Frum Social Mundial, que rene centenas de entidades governamentais e no governamentais, com uma abordagem essencialmente relacionada qualificao da vida das populaes excludas. O incio e trmino de cada um dos trabalhos do EMAU com a comunidade uma questo muito relativa a cada projeto, a cada comunidade. Um dos parmetros indicadores do incio do trabalho o fato do EMAU estar funcionando com a participao da comunidade. Assim como um parmetro para se analisar o desfecho de um trabalho seria o despertar de multiplicadores dentro da comunidade, quando a comunidade se apropria plenamente dos produtos dos trabalhos do EMAU e pode ento caminhar com suas prprias pernas. Estatuto e Regimento Interno... O Estatuto, ou o regimento interno, so documentos que s podero ser desenvolvidos com segurana quando o EMAU j possuir experincia em seu funcionamento e tempo de vivncia de trabalho em grupo. Colocar o carro na frente dos bois, tentando elaborar um Estatuto ou Regimento Interno antes mesmo de dar incio elaborao dos projetos, pode levar o EMAU a enfrentar algumas dificuldades futuras. Escrevendo um Estatuto ou regimento que se baseie na forma com que o grupo tem trabalhado a maneira mais segura de fazer com que estes princpios iniciais sejam conservados, impedindo, por exemplo, que o EMAU seja transformado futuramente em um Laboratrio de Extenso por algum professor, ou ento em uma Empresa Jnior por algum grupo de alunos que tenha princpios de intervenes mercadolgicas. O Estatuto o documento que pode ser usado para estabelecer26

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismoconvnios e/ou parcerias com a prefeitura da cidade, com outros rgos governamentais municipais, regionais e federais, alm de conseguir financiamentos em instituies, ONGs e outras entidades nacionais e internacionais. O Estatuto tambm fundamental para muitas outras conquistas do EMAU. Na maioria das Universidades, muito difcil conseguir um espao fsico sem um Estatuto. E como esta normalmente uma questo decidida por professores, a credibilidade que eles daro ao trabalho do EMAU enquanto grupo de estudantes ser muito maior com um Estatuto que regularize e oficialize os trabalhos deste grupo, sendo na maioria dos casos o Estatuto decisivo para a obteno do local de trabalho. Outras importantes conquistas, muitas vezes desencadeadas pelo Estatuto, so as aquisies de recursos materiais e financeiros das Universidades, bolsas de extenso, fundos de amparo extenso universitria, e outros benefcios que se tem direito enquanto grupo de extenso. O Regimento Interno do EMAU, como o prprio nome diz, um conjunto de diretrizes criadas pelos prprios estudantes, estabelecendo como funcionaro as aes do grupo. um documento que inicialmente pode ser rascunhado pelos estudantes, onde sejam expostas as caractersticas de seus trabalhos, como eles sero elaborados e principalmente como sero distribudos os esforos necessrios realizao destes trabalhos dentre as pessoas do grupo. O Regimento Interno facilitar bastante os trabalhos quando for desenvolvido o Estatuto. Podemos chamar o Regimento Interno de um embrio de Estatuto. Mais uma importante questo que pode estar presente no Regimento Interno, ou diretamente no Estatuto, como se dar a sustentabilidade poltica do EMAU. Ou seja, como ser a substituio das pessoas mais antigas, com mais experincia no EMAU, por pessoas mais novas. Esta questo extremamente peculiar a cada EMAU, no sendo portanto assunto possvel de ser generalizado por depender da forma com que cada EMAU ir desenvolver seus trabalhos. Alguns exemplos reais de Estatutos esto presentes logo a seguir, no Histrico dos EMAUs. Vale lembrar que importante uma assessoria jurdica para a elaborao do Estatuto, uma orientao que evitar perdas desnecessrias de tempo.27

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Histrico dos EMAUs EMAEscritrio Modelo de Arquitetura UFPE Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicaes Rua Acadmico Hlio Ramos, Cidade universitria Recife PE

Diante da movimentao poltica gerada na UFPE em prol de um Diretrio Acadmico (DEAU) que estava sem gesto a um ano, acrescentado por um quadro de abusos de autoridade por parte dos professores e desnimo dos alunos, criouse uma chapa para o DEAU, e vrios estudantes comearam a discutir sobre outros tipos de atuao no Curso que promovessem crticas e novas propostas. Criouse o N.A.D.A. (Ncleo de apoio ao D.A.) Pretendendo acrescentar idias, opinies, conselhos e ser um brao de extenso do Diretrio Acadmico junto aos alunos. Em agosto de 2002 o DEAU promove as primeiras assemblias onde cobra a gesto participativa dos alunos, nessas assemblias a Extenso Universitria indicada como assunto a ser melhor promovido pelo Curso. O DEAU realiza uma palestra de apresentao do que um Escritrio Modelo, onde o professor Antenor Vieira expe exerccios anteriores de criao e alguns projetos solicitados ao Departamento. elencado um grupo para coordenar a criao de um Escritrio Modelo na UFPE. Em 14 de Setembro de 2002 se realiza a primeira reunio do EMA Escritrio Modelo de Arquitetura UFPE, onde de cinco projetos o grupo escolheu atender a solicitao do Centro Religioso Santa Brbara / Nao Xamb, por ser endereado expressamente ao Escritrio Modelo de Arquitetura, apresentar a oportunidade de se trabalhar um tema no convencional a uma faculdade de arquitetura e pelo conhecimento de que comunidades negras so preconceitualizadas dentro da sociedade recifense. O trabalho solicitado pela Nao Xamb era o de ampliao do salo onde se realizam os cultos e tratamento do recolhimento de guas pluviais e afloramento de gua do solo. O EMA comeou o projeto por uma equalizao cultural, explicando aos membros da comunidade o trabalho do arquiteto, a faculdade de arquitetura e o que se pensava para um Escritrio Modelo de Arquitetura.29

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A comunidade foi aproximando os alunos da realidade de um terreiro de Candombl e das especificidades de seu espao. Foram feitos levantamentos de memria oral, fsicoarquitetnico e urbano, insero das pessoas que pertencem ao Xamb dentro da malha urbana. O convvio com a comunidade acrescentou as necessidades do trabalho no terreiro vrios itens, elencados pela comunidade e percebidos pelo EMA. Sentiuse a necessidade de incorporar ao trabalho estudantes de biologia e design, pedir assessoramento a engenheiros civis especializados em saneamento e estanqueamento do solo. Fezse um projeto onde foram incorporados todas solicitaes da comunidade e pontos levantados pelo EMA. Apresentouse a comunidade em forma de maquete, para a melhor compreenso e apreenso do projeto. Foram feitas crticas e modificaes que geraram um projeto final, que foi dividido em etapas de implantao para que se possa construir com as possibilidades de financiamento que dispe a comunidade. O projeto tem como princpio ecotcnicas que tentam minimizar o impacto do ambiente pela arquitetura. O EMA faz a ligao desses conceitos com os da religio (Candombl), que considera manifestaes de suas entidades, seus deuses, com elementos da natureza, como o rio, o fogo, o vento, e que no devem ser maculados. Com o VIII SeNEMAU em Recife, em fevereiro de 2004, o EMA d incio a produo de tijolos de solo cimento, com material de teste para a reforma do terreiro, banquinhos em ferrocimento e pintura com cal nas casas, nas cores dos orixs, recuperando antigas tradies da comunidade. O evento da FeNEA auxilia no rompimento do preconceito do bairro, do Recife e do Brasil em relao aos integrantes do Xamb. No SeNEMAU foi tambm iniciado um novo projeto no EMA, o do Maracatu Chuva de Prata, que pretende desenvolver um centro de ensino de cultura popular integrado a sede do Maracatu como forma de dar alternativas de ocupao a juventude do bairro de Rio Doce, em Olinda, em vias de marginalizao. Aps o SeNEMAU o EMA acolhe ainda o projeto Castainhos, comunidade remanescente de quilombo no interior do estado de Pernambuco. O projeto de uma biblioteca pretende ser modelo de tcnica e de gesto em sustentabilidade e autonomia de um povoamento que vive na inteno de afirmao de sua identidade, mesmo que em meio a um sistema que lhe coloca a margem de um municpio que no se30

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismointeressa por seus problemas. Aps dois anos de trabalho o EMA da UFPE consegue suas primeiras bolsas de extenso com o Projeto Castainhos e com o grupo de biologia do Nao Xamb, a universidade no demonstra maleabilidade suficiente para oficializar o EMA como grupo de extenso, sendo seus projetos oficializados separadamente como projetos de extenso de professores. O espao fsico do EMA restringese a um armrio entre os dos alunos de arquitetura, a necessidade de uma sala foi tornada fundamental desde a produo de trabalhos no recolhidos no local, foi intensificada no VIII SeNEMAU de Recife e se torna premente com a multiplicao de projetos.

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IN LOCOGrupo de Pesquisa e Extenso Comunitria Universidade Ritter dos Reis Rua Orfanotrfio, 555 Alto Terespolis Porto Alegre RS

Formao do Grupo: No primeiro semestre de 2001 alguns alunos do 5 semestre de Arquitetura do Uniritter comearam a se questionar sobre o ensino oferecido pela Faculdade, que no abordava a questo da realidade brasileira em habitao, em nenhum semestre ao longo do curso. Decidiram, ento, pesquisar por conta prpria arquitetura social, tcnicas alternativas de construo e movimentos sociais urbanos. Formouse o Grupo de Extenso Comunitria In Loco tendo apoio de professores que se mostravam ansiosos em ver a discusso sobre o papel do arquiteto neste contexto seguir adiante. Destacase a orientao, apoio e colaborao da Prof. Arq. Maria Isabel Milanez, ento Coordenadora de Extenso e hoje Coordenadora da FauUniritter. Durante o primeiro ano o grupo mantevese na parte de pesquisa, travando debates entre seus integrantes e com os mais diversos colaboradores, inclusive de outras reas do conhecimento tais como Histria, Direito e Psicologia. Neste perodo os alunos buscaram entender a funo social do arquiteto, procurando entender realidade das comunidades de baixa renda, onde o grupo pretendia atuar, tomando conscincia da responsabilidade que envolve este trabalho e a importncia que este faria na vida das pessoas que residem nestas reas e no prprio ensino da arquitetura. O contato com a FeNEA foi, tambm, uma importante fonte de discusso e informao sobre Escritrio Modelo e Extenso. A partir desses debates o grupo definiu seus princpios e objetivos e a maneira de se relacionar com a comunidade e com a faculdade. O In Loco defende a idia de que no basta detectar problemas e implantar solues, mas utilizar a arquitetura como articuladora de aes. Baseiase na relao com a comunidade, que participa de todo o processo, desde o levantamento e anlise dos dados at a execuo da proposta, contribuindo durante a elaborao do projeto. Para que isso seja possvel, esse trabalho deve ser no assistencialista e envolver forte mobilizao social coletiva para a melhoria das condies de vida dos prprios moradores, onde os estudantes levam conhecimento tcnico e32

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismonum dilogo franco encontramse solues para o bem comum. Depois de um ano pesquisando, o In Loco decidiu atuar na Vila Nossa Senhora do Brasil, j que alguns integrantes comearam a conviver com parte desta comunidade, levados pela colega Iazana Guizzo, que fazia trabalho voluntrio no Centro Esprita Fraternidade. Esta comunidade faz parte da Grande Cruzeiro (maior complexo de favelas da cidade de Porto Alegre), localizase prxima faculdade, no morro Santa Teresa. formada por aproximadamente quatro mil moradores, os mais antigos esto l h mais de quarenta anos. A Vila conta com abastecimento de gua encanada e luz eltrica. Apresenta algumas moradias precrias, mas na sua maioria j foram substitudas por casas de alvenaria; , portanto uma comunidade consolidada. Atravs do contato com Seu Castilhos diretor do Centro Esprita Fraternidade, o In Loco comeou a se relacionar com a direo da Escola Estadual Afonso Guerreiro Lima, vendo que esta poderia ser um meio para atingir toda a comunidade divulgando o trabalho do grupo. Sabese que para realizar um bom trabalho de arquitetura, que seja realmente apropriado e valorizado pela comunidade, devese conhecer profundamente a realidade sobre qual se atua, mais ainda, quando se pretende que a comunidade seja atuante nesse processo. Assim, para entender as relaes existentes na vila, como os moradores se relacionam entre si, com o espao em que vivem e com o restante da cidade, e mesmo como meio de aproximao entre os estudantes do In Loco e as pessoas da comunidade, o grupo passou a utilizar a arte como uma ferramenta de aproximao. Realizamos eventos como o Circo da Arte, com oficinas de desenho, percusso, fotografia, etc. dadas por artistas convidados, e apresentaes de bandas e grupos de dana e de capoeira da prpria comunidade. Em janeiro de 2002, durante o 6 SeNEMAU, evento promovido pela33

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FeNEA, que teve sede em Porto Alegre, o grupo foi convidado a organizar um ateli. O trabalho consistiu em oficinas de desenho, maquete, etc. Essas oficinas foram feitas com crianas e serviram para apreender a percepo que elas tm da vila, fazendo maquetes e desenhando o caminho que fazem para ir de casa at a escola e associao de moradores. Os dados obtidos a partir da serviriam de embasamento para a formulao de projetos para o ptio da escola. O grupo entendia que este espao devia ser aberto e servir a toda a comunidade, mas a direo da escola no concordava com esta posio, o que impossibilitou que esse trabalho seguisse adiante. Outras parcerias: Essas atividades com as crianas permitiram ao grupo se integrar comunidade, e a partir do segundo ano, passamos a discutir com os moradores e lideranas sobre uma nova alternativa de ao. Firmou ento uma parceria com a Associao de Moradores da Vila Nossa Senhora do Brasil e com o grupo de hiphop da comunidade DNA mc's. Desta parceria resultaram diversos eventos e atividades sociais como festas juninas, dia das crianas, Festa Pela Causa e festa de Natal, que ao mesmo tempo em que beneficiavam a comunidade ajudavam o grupo a se aproximar dos moradores. Paralelamente a estas atividades, no que diz respeito arquitetura, o grupo optou por trabalhar na qualificao dos espaos pblicos, acreditando que a melhoria dos espaos de uso comum estimula os moradores a providenciarem melhorias para suas prprias casas. Na medida em que vem qualificados os espaos da vila podem valorizar o local onde moram e desenvolver um sentimento ligado ao lugar, podem se sentir orgulhosos de viver nesta vila e, com isso, desejosos de vla cada vez mais qualificada e de trabalhar para este fim. Projetos: O grupo, com o auxlio dos integrantes do DNA mc's, fez um levantamento do espao da vila, verificando uso e tipologia das34

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edificaes, caractersticas das vias de circulao interna e como estas se relacionam com a cidade. Este levantamento permitiu mapear vazios no tecido urbano e pontos que poderiam ser estratgicos para uma interveno que beneficiasse a vila como um todo. De posse dessas informaes, em reunies na associao de moradores o grupo mais a comunidade decidiram que ideal seria tratar primeiramente de pontos chaves localizados na Rua Nossa Senhora do Brasil. Foram definidos quatro pontos de interveno que formariam o Corredor Cultural da Brasil. Decidiuse por tratar no princpio de dois desses locais, escolhidos por sugesto dos moradores. O primeiro, um vazio numa das extremidades da Rua. N. S. do Brasil, um ponto de ligao com a cidade dita formal. O segundo ponto a meio caminho entre as duas extremidades da via, na entrada de um dos seus diversos becos. Feira da Brasil:

No primeiro local, por ser um ponto de contato com o restante da cidade, imaginouse que seria um bom lugar para a implantao de uma feira que serviria para divulgar o trabalho de artesanato, culinrio e servios feitos pelos moradores. Seria uma alternativa que alm de resgatar a identidade e autoestima dessa populao, ainda poderia gerar renda. Para este espao tambm se pensou em atividades culturais, assim a feira seria projetada de tal forma que o espao pudesse assumir diferentes configuraes para shows e apresentaes de teatro, por exemplo. Naturalmente para que pudessem ser implementadas essas atividades seria necessrio profissionalizao dos artesos e o desenvolvimento de todo um programa cultural, que comeou a ser feito atravs de oficinas ministradas por profissionais de diferentes reas. Algumas dessas oficinas comearam a ser realizada como a de desenho, teatro e audiovisual. Entretanto, o trabalho esbarrou na falta de motivao da populao, no tendo o xito de envolver totalmente a35

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comunidade. Beco 21: J no segundo espao, denominado Beco 21, foi feito, em conjunto com os moradores, levantamento fsico, social e ambiental do local. Considerandose crtica a falta de pavimentao e de drenagem da gua das chuvas, a presena de instalaes eltricas precrias, a falta de um lugar adequado para as crianas brincarem e a falta de segurana. Os moradores, num total de 22 famlias, julgavam necessrio resolver em primeiro lugar a questo da pavimentao e do escoamento da gua.

A isso o grupo In LoCo conseguiu agregar um projeto de qualificao da paisagem e instalao de mobilirio urbano, propondo para a entrada do beco um local de convvio com bancos que servem tambm de conteno para a terra do declive, onde seriam plantadas rvores frutferas. E para a parte de baixo do beco, uma rampa que permitiria acessibilidade a todos os moradores, inclusive os portadores de necessidades especiais. Foram elaborados os desenhos do projeto que j foram alterados e que ainda esto sendo discutidos com os moradores. Um grupo de moradores iniciou por conta prpria a pavimentar com concreto parte do beco em frente s suas casas, e moradores de outra parte do beco j procuram a assessoria tcnica do In Loco. Atualmente, no que diz respeito ao36

POEMA- Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoBeco 21, os moradores junto com o grupo In Loco esto buscando meios para concluir a obra. O grupo hoje: O In Loco sempre entendeu que qualquer trabalho dependeria da mobilizao dos moradores e imaginava que estes estariam motivados a trabalhar cooperativamente para um bem que coletivo. Porm a iniciativa de trabalhar com um grupo de famlias tem esbarrado na falta de unio do grupo de moradores, que esto preocupados apenas com seus problemas especficos, no tendo interesse de se ajudarem mutuamente. Talvez por no considerarem que haja uma grande necessidade de mobilizao coletiva, afinal, a vila no corre o risco de ser removida e as condies de vida no so to precrias, na realidade no existe a cultura de movimento social na comunidade. Talvez ajudar a desenvolver essa cultura seja o desafio do In Loco. Ao mesmo tempo, na Faculdade, o Grupo que comeou como uma iniciativa independente, conquistou o apoio de professores e, mostrando o trabalho feito de forma coerente, argumentando sobre o retorno que esta iniciativa poderia ter, o In Loco foi aceito pela instituio, ligado ao ncleo de extenso e conta com toda a infraestrutura necessria. Apesar de todas essas conquistas, o maior desafio para o grupo tem sido assegurar sua continuidade, motivar os alunos da faculdade tem sido preocupao constante, mas praticamente sem resultado. Por isso o grupo tem procurado retornar comunidade acadmica o resultado desse trabalho com palestras e exposies, como a de Junho de 2004, realizada na Faculdade e depois levada para a Associao de Moradores da Brasil. O In Loco hoje um espao (conquistado), de discusso, pesquisa e vivncia para todos os alunos, uma alternativa na qualificao do ensino na Ritter dos Reis, um espao que precisa ser apropriado pelos estudantes.IN LOCO... POR QUE?... PARA QUEM?... IN LOCO nasceu da VONTADE Da vontade de preencher o vazio e transformlo em LUGAR Da vontade SOLIDRIA, da aproximao. Da necessidade existencial de um GRUPO INQUIETO com a excluso. Com a EXCLUSO SOCIAL, com a EXCLUSO ESPACIAL. Nasceu da CAPACIDADE DO APRENDIZ DE SONHAR com uma vida mais justa e humana, Com a UTOPIA que alavanca os grandes ACONTECIMENTOS.

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O IN LOCO j no mais UM GRUPO, sim uma forma de ver e agir. CONVICO que reverbera e propaga uma ARQUITETURA NECESSRIA. Necessria por indispensvel, por URGENTE. ARQUITETURA POR INTEIRO, pois seus efeitos agem na ESSNCIA DO SR atingido. Uma ARQUITETURA SOLIDRIA que busca nas relaes interpessoais a melhor forma de INCLUSO. Construindo no s o habitat, o teto, mas os direitos bsicos da CIDADANIA. Se na origem foram alguns o futuro lhe reserva muitos.E o DESEJO que o FUTURO seja o HOJE PARA QUE MUITOS POSSAM SER O TODO. Por tudo isto, registro minha emoo e orgulho, pois sintome cmplice deste grupo de alunos excepcionais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do UniRitter, futuros arquitetos brasileiros mergulhados neste to doloroso e to real problema nacional a favela e sua gente. Maria Isabel Marocco Milanez CONTATOS FONE (51) 3230.3333 ramal 3258 [email protected]

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POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoAMAAteli Modelo de Arquitetura UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Rua Antonio Edu Vieira, Cidade Universitria da Trindade Departamento de Arquitetura e Urbanismo Centro Tecnolgico Florianpolis SC

Para um arquiteto o mais importante no construir bem, mas saber como vive a maioria do povo. Lina Bo Bardi

O AMA surge a partir de uma inquietao. Surge a partir da vontade de refletir e experimentar um novo tipo de atuao do estudante de arquitetura, e do futuro arquiteto, comprometida socialmente. A partir de um questionamento sobre um ensino alienado s questes de nossa cidade, dentro de uma escola burguesa voltada s elites. A extenso universitria que vamos na escola estava longe de ser um espao de reflexo e atuao pedaggica. A maioria dos trabalhos dos laboratrios era voltado a pesquisas, dentro de um esquema acadmico de reproduo de saberes. A possibilidade de formarmos um Escritrio Modelo nos pareceu fantstica; uma possibilidade de realizar nossos sonhos. Soubemos que j haviam tentado montar um EMAU em nosso curso duas vezes, sem sucesso. Os arquivos das tentativas passadas nos mostraram muita burocracia e pouca interao com a comunidade. Isso nos estimulou a tentar fazer diferente... Em 2000 tivemos oportunidade de sediar um CONEA na UFSC, onde nos informamos sobre os EMAUs. Em 2001 participamos do V Seminrio Nacional sobre Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismo, SeNEMAU, em Campo Grande. Na vivncia em um acampamento semterra, discordamos das atividades propostas pela Comisso Organizadora, que no tinha programado um trabalho onde pudssemos interagir com a populao local efetivamente, mas apenas um trabalho braal, sem troca de experincias com a comunidade. Animados com as oficinas de coberturas alternativas feitas na segunda Semana da Arquitetura da UFSC, resolvemos realizar algumas pequenas coberturas de caixas de leite reaproveitadas e de grama com estrutura de bambu, tudo feito com os materiais disponveis no local e com a participao dos barraqueiros do local, os responsveis pelas39

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construes. O resultado desta atividade a alegria da comunidade por poder minimizar todo aquele sol de Campo Grande com to pouco custo nos emocionou e nos estimulou a voltar pra Floripa e comear a trabalhar. Durante mais de um ano passamos por um processo lento e gratificante, aonde vimos nosso grupo comear a surgir. Foram horas de discusses e a luta era para que o trabalho fosse feito de maneira coletiva. Porm, foi somente com o primeiro projeto que conseguimos avanar nas discusses e aprender com a vivncia prtica. Antes de elaborarmos estatuto ou regimento interno, fomos experimentar o contato e a aprendizagem direta, o que nos ajudou muito a, depois, saber quais as melhores formas de nos organizar internamente e assim redigir nosso estatuto. A vivncia foi fundamental neste processo.Porque toda crtica que no se desdobra em prtica transformadora, apenas academicismo, no sentido de distanciamento da realidade, ou erudio, no sentido de elitizao de um conhecimento. (Canteiro Livre Experimental e Comunitrio num acampamento do MST. Unesp Bauru 2002)

O primeiro projeto surgiu de um contato com estudantes e professora do Servio Social, na comunidade Santa Terezinha II, no complexo Monte Cristo, periferia continental da capital. No interesse em construir uma cooperativa de doces e salgados, para atender mulheres desempregadas da comunidade, firmouse uma parceria entre nosso grupo e estudantes e profissionais de outras reas de conhecimento; o incio de um projeto multidisciplinar. Fizemos um projeto arquitetnico tecnicamente simples, devido urgncia com que seria enviado a uma instituio alem de assistncia a obras sociais na Amrica Latina, que financiaria o projeto da cooperativa. J no ano de 2002, com a participao no VI SeNEMAU Porto Alegre e tambm no II Frum Social Mundial, conseguimos visualizar a amplitude de projetos que podem ser elaborados pelos EMAUs, levando em considerao a insero do grupo junto a comunidade. Pudemos perceber o reconhecimento da comunidade pela nossa futura profisso e como um trabalho social como esse amplia o entendimento e os significados da palavra 'arquitetura' pelas comunidades. A troca de conhecimentos, atravs da arte e do contato, meio de exerccio da prtica libertria; da extenso mtua. Percebemos como podemos aprender com essas populaes, com o saber popular. E levar nossas40

POEMA- Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismoexperincias, num processo constante de troca. Nos organizamos dentro do grupo, reformulando a estrutura interna do AMA, que passou a ser formado por Comisses de Projeto. Nesta poca, em maro de 2002, surgiram trs projetos, o que nos fez optar por essa organizao em comisses. Nosso orientador era () o professor Lino Peres, figura importante na vida o AMA, desde o incio. Grande estimulador e parceiro. Entretanto, como uma das poucas pessoas dentro do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC envolvidas com causas sociais, nosso orientador sempre esteve (est) imerso em vrias atividades, fato esse que sempre nos deu liberdade para gerir o AMA, mas um tanto de desamparo tambm, devido a ausncias. Refletindo hoje sobre essa questo, sentimos que essa 'ausncia' foi importante para nossa autonomia. Por outro lado, nos trouxe (traz) problemas, tanto na orientao dos projetos, como na captao de recursos. Hoje estamos nos aproximando de outros professores, buscando trazer mais e diferentes profissionais para dentro do AMA. E a captao de recursos veio atravs de um projeto de extenso, que durante todo ano 2002 nos forneceu trs bolsas de extenso, uma para cada Comisso. Foi com essas bolsas que dividamos dentro das Comisses entre 3 ou 4 pessoas que pudemos viabilizar deslocamentos at as comunidades, material de reprografia, revelao de fotos e todo suporte para a realizao dos trabalhos nas trs comunidades. Alm do recurso que conseguimos junto ao projeto ProExtenso: um computador e um acervo bibliogrfico. No conseguimos renovar estas bolsas e at hoje trabalhamos sem qualquer recurso. O trabalho fica assim prejudicado, com menos idas s comunidades, por exemplo. Comisso Chico Mendes Chico Mendes, mais do que uma favela do continente uma comunidade com nome de guerreiro, com nome de lder da floresta amaznica, sinnimo de resistncia e luta. 'Luta' talvez seja a palavra que melhor defina a vida dos moradores da Chico Mendes. Luta diria contra a pobreza, a insalubridade, a excluso social, a violncia crescente. Luta por direito voz, cidadania, a um espao na cidade e foi pra apoiar essa luta que o AMA envolveuse com essa comunidade, desde maro de 2002. O assentamento foi formado no comeo dos anos 90, na beira da via expressa. As famlias vieram, na grande maioria, do oeste de Santa Catarina, no conhecido processo de xodo rural. Saram do campo, onde41

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as condies de vida so ruins (fruto da mecanizao da produo agrcola, alm de outros fatores) e migraram para a cidade. Mas na periferia da capital encontram o desemprego e a misria. Talvez por ser o mais visvel dos assentamentos do continente de Florianpolis, pra quem chega na cidade pela BR 101, a Chico Mendes (alm das outras comunidades que compem o bairro Monte Cristo) foi beneficiada pelo programa federal de reurbanizao Habitar Brasil, posteriormente financiado pelo BID programa esse realizado em diversas capitais do pas. Para conseguir o financiamento, a fundo perdido, a prefeitura municipal teve que afirmar a sustentabilidade da implantao do projeto na localidade. Na prtica essa sustentabilidade no se efetivou, como apontaram diversos estudos feitos na rea. O que se percebe uma imposio autoritria de um modelo urbanosocial. As casascarimbo, de tamanho muito pequeno independente se a famlia tem 4 ou 10 membros desconsideram qualquer questo de identidade da populao. imposta uma maneira de morar, uma maneira de viver e por estas casas as famlias assumem financiamentos por at 25 anos. No feito nenhum trabalho scioeconmico eficaz junto populao, perpetuando a ao pblica de descaso com a totalidade dos problemas sociais. A mera proviso de habitao no tem resolvido as questes da comunidade, pelo contrrio, a violncia se agrava a cada dia. reas de lazer, reas culturais e de profissionalizao inexistem no projeto, assim como inexiste uma poltica de integrao legal, social e urbana destas comunidades cidade e seus servios. A imposio autoritria do projeto tem desarticulado o movimento social e tem feito muitas famlias abandonarem o local, j que no conseguem pagar pelas casas, voltando para o campo, ou, principalmente, formando novos assentamentos em reas mais distantes da cidade. O processo de segregao aumenta, tanto com a abertura de largas avenidas que fragmentam as comunidades, quanto com a excluso que se mantm. O trabalho do AMA ao longo desse tempo visou a proposio de alternativas aos pontos do projeto. Estivemos junto aos representantes populares desenhando propostas mais condizentes com os desejos da populao e tentamos negociar e firmar parcerias com a prefeitura. Entretanto, autoritarismo e incompetncia por parte dos tcnicos impossibilitaram maiores trocas e assim o projeto, feito em gabinetes, foi42

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismoimplantado. Hoje existe a perspectiva de um grande parque urbano num terreno nas proximidades da comunidade, que iria atender todo o continente, que carece muito de reas verdes de lazer. Esperase que tal necessidade seja considerada pelo poder pblico este que historicamente vem agindo em benefcio das classes dominantes. E as classes dominadas permanecem sendo escondidas atrs de fachadas na via expressa. Ou nos morros e guetos da cidade... Comisso Panaia A comunidade da Panaia, localizada no bairro Carianos, ao sul da ilha, pode ser classificada como uma pequena favela. Mas com caractersticas bem especficas. Ela est restrita a uma rea no interior de um quarteiro, em malha urbana j conformada, com um pequeno acesso que lhe d forte caracterstica de gueto. formada por duas famlias e seus descendente, que atualmente somam 40 famlias e 164 pessoas. So em sua grande maioria negros e ocupam a rea a longos 40 anos de excluso, preconceito e submisso. Depois de um difcil processo para reverter uma ordem de despejo, fomos chamados para desenvolver, em conjunto com a populao, o projeto urbanstico, paisagstico e habitacional para a rea em questo. Durante sua elaborao, estivemos em contato com a realidade social e com a conformao espacial j consolidada, isso foi decisivo para chegarmos a um projeto coerente, que contempla o planejamento arquitetnico e os anseios da populao. Apesar disto, ele precisou sofrer modificaes e adaptaes devido a extensas e controversas negociaes com a Secretaria de Habitao do municpio de Florianpolis, alm do IPUF, Promotoria Pblica, etc. Essa experincia nos fez vivenciar a realidade da poltica pblica, e romper barreiras e preconceitos quanto ao dilogo e trabalho em parceria com as comunidades envolvidas. Hoje podemos comemorar. Devido luta e persistncia da comunidade, junto ao nosso esforo diante do processo, conseguiremos, em um futuro muito prximo, executar o projeto em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianpolis. O trabalho que desenvolvemos com esta comunidade, ao longo de dois anos, compreende muito mais do que simples extenso universitria. Conhecer e vivenciar as dificuldades pela qual passam os indivduos destitudos de cidadania e autoestima nos remete a nossa prpria vida e43

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formao, e nos leva a analisar a realidade de forma mpar, nunca proporcionada pela academia. Projetar lugares ideais, em situaes ideais, est longe de ser aquilo que necessitamos como arquitetos e urbanistas para exercer nosso papel to essencial e subestimado nas cidades em que vivemos. Certamente, acompanhar as conquistas e modificaes que se do na maneira de encarar o espao que habitamos, a relao entre o todo e as partes, sua influncia direta no modo de vida, so sinceramente essenciais para a formao do verdadeiro cidado. Comisso Angra dos Reis Angra dos Reis o nome escolhido para uma comunidade ao norte da ilha de Florianpolis, que luta contra a excluso social. Para muitos, uma favela, um gueto em meio ao imenso mar de dunas. Dunas prximas orla da praia dos Ingleses, dunas que avanam, mas que so impedidas de seguir seu fluxo natural por causa da urbanizao. o homem em confronto direto e dirio com as foras da natureza. Porm nem sempre foi assim. Uma grande rea que inclua parte das dunas, onde hoje a comunidade, at a praia foi vendida por um nativo e loteada h cerca de 30 anos. Nessa poca, muitos moradores conseguiram licena para a retirada de areia de seu lote, que era fixa com vegetao de restinga. O problema que alm de retirada em excesso, a areia comeou a ser comercializada, pois no havia fiscalizao pelos rgos competentes. O resultado foi um grande impacto ambiental na rea, e a areia sem vegetao comeou a avanar no loteamento. Nessa poca, o governador Andrino resolveu embargar o loteamento e fazer um novo limite de construo na rea, pois essa vinha crescendo desordenadamente devido retirada ilegal de areia. a que inicia a luta de muitos moradores em conter o avano das dunas em suas casas, com o plantio de mudas nativas. Qualidade de vida um sonho para muitos que l residem. gua, luz? Isso parece ser um direito comum de todos cidados, porm no assim em Angra dos Reis. Mas por que algumas pessoas so restritas a esses servios bsicos, se as mesmas pagam impostos e tm um endereo fixo, alm de morar em uma rua cadastrada e reconhecida pela prefeitura da cidade? Prxima a uma rea turstica, a orla de Ingleses, a comunidade deparase diariamente com a falta de coerncia dos rgos pblicos, que44

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismoalegam a poluio do lenol fretico pela comunidade, por estar em rea de preservao permanente (APP), sendo que a poucos metros dali encontramos esgotos a cu aberto desembocando diretamente no mar. Esgotos de quem? De hotis de luxo, restaurantes caros, lojas de grife, at de manses beira mar. evidente que para a cidade, preciso esconder certos tipos de populao noapropriadas a certos espaos urbanos. Esse descaso com a luta dos moradores evidente na proposta do novo plano diretor, hoje em trmite na Cmara de Vereadores, proposto pelo IPUF, onde a regio de Angra vista em parte como rea Turstica Residencial (ATR), cortada por uma grande via, e desconsiderada no fim da rua, como se ela no existisse. A Associao de Moradores ACARI vem lutando pela legalidade da rea, para que no sejam despejados. O pedido est parado no Patrimnio da Unio desde 2002, e enquanto esperam, os moradores atuam na rea, em parceria com o AMA, atravs de trabalhos constantes. Muros de arrimo com garrafas pet, mutires de plantio de mais de 2000 mudas de plantas nativas, coleta de mais de 2 toneladas de lixo das dunas, participaes em reunies com o Conselho Comunitrio dos Ingleses, com vereadores, entrevistas com a mdia, vem fortalecendo cada vez mais o movimento de resistncia desta comunidade. O objetivo do trabalho a criao de um parque na rea estabilizada com vegetao nativa, onde os prprios moradores da comunidade podero mostrar aos outros moradores da Ilha e aos turistas um pouco sobre o que viver em harmonia com a natureza; as caractersticas ambientais e a histria de uma rea to bela e conflituosa; alm da criao de um espao gerador de renda para a populao. Comisso Serrinha O projeto na comunidade da Serrinha nasceu da unio de algumas aes j consolidadas e novos projetos que surgiram aps a disponibilidade de um terreno da Universidade localizado na comunidade. Diversas reas esto envolvidas: Sade (atravs do H.U.), Engenharia Sanitria e Ambiental, Biologia e Desportos. Para a continuidade desses projetos sentiuse a necessidade de um local apropriado, cujo projeto est sendo desenvolvido pelo AMA. Seguindo o princpio de aproximao Universidade Comunidade, o prdio disponibilizar de salas, biblioteca, laboratrio da Botnica (cujo objeto de estudo ser a Mata Atlntica existente no terreno) e uma sala45

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para administrao da AMOS (Associao de Moradores da Serrinha). A AMOS tem sido grande colaboradora do projeto desempenhando com sucesso seu papel de ligao entre Comunidade e Universidade. Os recursos para a construo esto sendo buscados junto iniciativa privada e a prpria comunidade, uma vez que a modeobra j existe no local e pode ser ampliada promovendose a qualificao de novos profissionais. O grupo hoje... Com a projeo dos trabalhos do AMA, e atravs de constantes divulgaes dentro do curso (como coquetis, exposio de fotos, apresentao de vdeos e momentos de debate) conseguimos um espao no prdio, uma sala que servia de depsito. Ter nossa sala mudou nossa relao com o curso; transformouse numa referncia fsica, um local onde podamos ser achadas, onde aconteciam as reunies semanais, enfim, nossa casa. As reunies semanais so momentos do grupo todo, momentos coletivos, onde cada comisso expe a situao atual dos projetos, onde trocamos informaes, e passamos um tempo juntos. Sempre houve a vontade de estabelecer nesse horrio seminrios, para leitura de textos e amadurecimento de idias, chamando professores e estudantes para encontros informais, debates que possam embasar nossa atuao. Porm ainda no conseguimos consolidar essa prtica. No ENEA Curitiba 2002, Floripa foi escolhida para ser sede do VII SeNEMAU. A partir da formamos a Comisso Organizadora do SeNEMAU Floripa, que aconteceu em fevereiro de 2003. Preparamos Atelis na trs comunidades em que estvamos envolvidas e propusemos dinmicas que integrassem os participantes, numa construo/gesto coletiva do seminrio. Os debates foram em torno do tema "extenso como comunicao", e foi a partir da que comeamos e estudar mais as teorias pedaggicas de Paulo Freire, e refletir a atuao da extenso universitria dentro de uma prtica de educao libertria. Esta reflexo permeia nosso trabalho sempre. O SeNEMAU em Floripa mexeu com o grupo, aumentou nossos vnculos, exps nossas deficincias. Aproximounos de ns mesmos e das comunidades. O debate sobre "extenso como comunicao" levamos tambm para o ENEA Ouro Preto, numa oficina que realizamos durante o encontro. A inteno era estimular nos participantes a percepo de formas de46

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismolinguagem em comunidades excludas. Entender a arquitetura e o urbanismo destas comunidades como expresso cultural, assim como a msica (samba) e os movimentos de resistncia (hip hop). Entender a arquitetura e a configurao espacial nestas comunidades como expresses de identidade prpria essencial para atuaes junto esta populao. Mesmo com a experincia crescendo (e os resultados dos projetos tendo grande repercusso, inclusive dentro da Prefeitura Municipal) ainda no ramos oficializados dentro do Departamento. No ramos reconhecidos, embora j tivssemos um estatuto pronto, e uma atuao cada vez mais consolidada. Tentamos levar a discusso entre os professores, e regulamentar nosso estatuto nas reunies de Colegiado. Foram meses de tentativas frustradas, e vrias questes levantadas pelo corpo discente do curso a grande maioria fruto do medo pela regulamentao de um grupo de autonomia estudantil. Conseguimos o 'reconhecimento' em novembro de 2003, com a oficializao do Estatuto do AMA. A renovao no grupo sempre foi uma preocupao nossa; motivo pelo qual fizemos divulgaes do AMA dentro do curso, e produzimos jornais e informativos. A continuao dos trabalhos, e principalmente da essncia do tipo de extenso que defendemos, a razo de tentarmos estimular a entrada de novos integrantes no AMA. O que tem sido difcil, porque apesar do interesse em participar dos projetos, os novos integrantes, na maioria, ainda enfrentam dificuldades no engajamento nas comisses. Tem sido um desafio estimular uma postura mais ativa por parte dos novos integrantes, para que eles faam parte do processo contnuo de construo do AMA. Desafio esse que percebemos em outros EMAUs com a mesma 'idade' que o AMA: as pessoas vo se formando, vo saindo do grupo, e a dificuldade que o grupo que permanece d continuidade aos trabalhos, e se transforme cotidianamente, dando sua cara ao EMAU. Pudemos perceber essa questo em conversas e apresentaes dos EMAUs no VIII SeNEMAU 2004, em Pernambuco. Os EMAUs tem uma vida em constante modificao, e necessrio que os grupos estejam preparados para isso, para as renovaes. Conclumos nesta ocasio que uma maneira de fazer isso estar sempre conversando; estimulando um pensamento crtico, a respeito no s da arquitetura, como do ensino, das ideologias urbanas, da sociedade. Estimulando o potencial de transformao dos estudantes e futuros profissionais, das47

comunidades e dos movimentos populares. Alimentando sempre os sonhos.(...) uma atuao prtica que busque e aponte novos modos de produo arquitetural, ao mesmo tempo que aprofunde a crtica ao atual modo de produo, mas isso, via uma prtica acadmica que atrele a universidade pblica s camadas populares, na problemtica espacial dessas camadas e nas questes sociais envolvidas na produo do espao. Obviamente com o objetivo de emancipao das camadas populares e concomitante superao das contradies estruturais da sociedade. (Canteiro Livre Experimental e Comunitrio num acampamento do MST. Unesp Bauru 2002)

CONTATOS [email protected] (48) 3319393 / 3319550 (DAU UFSC)

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POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e UrbanismoEstatuto do AMA Ateli Modelo de Arquitetura UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Rua Antonio Edu Vieira, Cidade Universitria da Trindade Departamento de Arquitetura e Urbanismo Centro Tecnolgico Florianpolis SC Carta de princpios do AMA 1 O Ateli Modelo de Arquitetura um grupo de extenso universitria, de iniciativa e gesto estudantil, com o objetivo maior de complementar a formao de Arquitetos e Urbanistas atravs do exerccio de aes prticas junto a comunidades, oferecendo s parcelas mais carentes da sociedade, o conhecimento e a tecnologia gerados e acumulados na Universidade, independente de fins assistencialistas, polticopartidrios ou religiosos; 2 O Ateli Modelo de Arquitetura atender somente s comunidades de baixa renda e populaes sem possibilidades scioeconmicas de acesso aos trabalhos desenvolvidos por profissionais da rea da Arquitetura e do Urbanismo, distribuindo eticamente a produo universitria e ampliando o campo de trabalho de profissionais em exerccio regular da profisso, atravs da conscientizao e do reconhecimento do Arquiteto Urbanista por parte destas populaes, que vivem margem cultural da sociedade; 3 Os estudantes do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC so livres para se organizarem em Comisses de Projeto, a fim de realizarem os trabalhos de extenso, sendo garantida a integrao vertical entre os alunos de diferentes turmas, incentivando que estas Comisses se organizem da forma que seja mais conveniente para a realizao de seus trabalhos, sendo autnomas em relao seleo de projetos e de orientadores, e no sendo remuneradas pelos beneficirios pela execuo de seus trabalhos; 4 O Ateli Modelo de Arquitetura aberto colaborao e ao assessoramento de grupos de pesquisas, laboratrios universitrios, profissionais, docentes e estudantes de diferentes reas do conhecimento, conforme for a necessidade do projeto a se desenvolver,49

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visando sempre a integrao disciplinar e no restringindo a pesquisa das informaes necessrias para o projeto no campo da Arquitetura e do Urbanismo. Destacamos a parceria que deve ser estimulada entre o AMA e os Laboratrios do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. 5 O Ateli Modelo de Arquitetura divulgar, atravs de suas Comisses de Projeto, todo o conhecimento obtido atravs das atividades de extenso realizadas, comunidade acadmica da UFSC e aos demais estudantes de Arquitetura principalmente atravs da Federao Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil FeNEA, a fim de promover a socializao do saber e intercmbio entre os estudantes e demais interessados.

CAPTULO I DENOMINAO, SEDE E DURAO Artigo 1 O Ateli Modelo de Arquitetura, doravante denominado AMA, fundado em data da fundao, uma associao civil, de personalidade jurdica de direito pblico, sem fins lucrativos e com prazo de durao indeterminado, com sede e foro em Florianpolis, Santa Catarina, com endereo no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnolgico, no Campus Universitrio da Trindade, que se reger pelo presente estatuto e pelas disposies legais aplicveis.

CAPTULO II FINALIDADES Artigo 2 O Ateli Modelo de Arquitetura tem como finalidades: a) Proporcionar aos seus membros Efetivos e Associados as condies necessrias aplicao prtica de conhecimentos tcnicos relativos rea de formao profissional; b) Desenvolver atividades de assessoria tcnica s comunidades50

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismoorganizadas em projetos nas reas da arquitetura e urbanismo, como habitao, paisagismo e outras, potencializando a atuao profissional nas parcelas da sociedade impedidas de adquirir esses servios; c) Tornar disponveis s comunidades carentes que no tm acesso aos profissionais da rea da Arquitetura, recursos humanos, tcnicos e cientficos da Universidade, capazes de contribuir para a melhoria da qualidade de vida e do ambiente construdo; d) Realizar os trabalhos de extenso para o coletivo, atingindo o maior nmero de beneficirios possvel, atravs de Associaes de Moradores, entidades e Conselhos de bairro e demais organizaes comunitrias, nunca realizando trabalhos assistencialistas, ou de interesse pessoal; e) Realizar estudos e elaborar diagnsticos, bem como assessorar a implantao de solues indicadas para os problemas diagnosticados em todo o processo do projeto arquitetnico, dos estudos preliminares ao uso e funcionamento; f) Desenvolver projetos com participao dos beneficirios em todas as etapas do projeto em questo, de modo a garantir a mobilizao social e a composio de propostas e intervenes arquitetnicas e urbansticas que respondam democraticamente s necessidades e anseios das populaes beneficiadas pelos trabalhos de extenso; g) Valorizar os estudantes e professores da Universidade Federal de Santa Catarina e a referida instituio junto ao meio acadmico, ao meio profissional e junto sociedade, bem como promover o reconhecimento da Arquitetura e do Urbanismo e a necessidade da atuao do profissional arquiteto urbanista pela comunidade; h) Desenvolver atividades permanentes de pesquisa em habitao popular, sustentabilidade scioeconmica, alm de estudos urbanos, paisagsticos e de impacto ambiental; i) Estabelecer convnios com instituies nacionais e internacionais, tanto na rea de cooperao e intercmbio tcnico e cientfico, quanto na rea de pesquisa, bem como na obteno de recursos para a viabilizao dos princpios interdisciplinares acima propostos; j) No remunerao dos servios prestados pelo AMA por parte dos beneficirios, sendo sua sustentabilidade financeira e a de seus participantes entendida como compromisso da UFSC com a produo de conhecimento e tecnologia, e da extenso destes sociedade. (Ver artigo 29)51

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CAPTULO III QUADRO SOCIAL, DIREITOS E DEVERES Artigo 3 Os membros e orientadores do AMA podero ser de 4 (quatro) categorias: a) Membro Efetivo: todo estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina que, interessado nos trabalhos de extenso desenvolvidos pelo Ateli Modelo de Arquitetura, e integrado a alguma Comisso de Projeto em exerccio, contribua atravs de prestao de servios para a conduo de suas atividades e consecuo de suas finalidades, durante um perodo prestabelecido. Tal membro ter direito voz e voto em todas as instncias deliberativas do AMA, inclusive no Conselho do AMA caso esteja representando sua Comisso de Projeto; b) Membro Associado: todo estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina que ter direito a voto somente nas Assemblias do AMA, porm tendo livre direito voz na Reunio das Comisses de Projeto, assim como no Conselho do AMA. c) Orientador: todo professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina que contribua na difuso dos servios prestados pelo Ateli Modelo de Arquitetura, atravs de atuao como especialista na orientao das atividades desenvolvidas, na medida que haja solicitao para sua rea de atuao, e na responsabilidade tcnica junto ao CREA/SC pelos projetos executados. d) Coorientador: todo Arquiteto e Urbanista, Engenheiro, docente em outras reas do conhecimento, e demais profissionais que contribuam no desenvolvimento de trabalhos de extenso multidisciplinares, conforme a carncia de cada projeto. Artigo 4 Arquitetura: So direitos dos membros do Ateli Modelo de

a) Comparecer e votar nas Assemblias Gerais; b) Solicitar a qualquer tempo, oralmente ou por escrito, informaes relativas s atividades do Ateli Modelo de Arquitetura; c) Utilizar todos os servios colocados sua disposio pelo Ateli Modelo de Arquitetura;52

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismod) Requerer a convocao da Assemblia Geral e do Conselho do AMA, na forma prevista neste estatuto. Artigo 5 So deveres de todos os membros do Ateli Modelo de Arquitetura: a) Respeitar o estatuto bem como as deliberaes da Assemblia Geral, do Conselho do AMA e da Reunio das Comisses de Projeto; b) Exercer diligentemente os cargos para os quais tenham sido eleitos; Artigo 6 Perdese a condio de membro do Ateli Modelo de Arquitetura: a) Pela renncia; b) Pela concluso, abandono, cancelamento de matrcula ou jubilamento do curso na UFSC no caso de membros Efetivos; c) Pela morte; d) Por deciso de 2/3 (dois teros) dos membros da Assemblia Geral fundamentada na violao de quaisquer das disposies do presente estatuto; e) Pelo esgotamento do tempo mximo de permanncia de (3) trs anos, salvo os casos onde o Conselho do AMA decidir pela continuidade da execuo das atividades de Membro Efetivo. CAPTULO IV INSTNCIAS DELIBERATIVAS DO AMA TTULO I ASSEMBLIA GERAL Artigo 7 A Assemblia Geral o rgo de deliberao soberano do Ateli Modelo de Arquitetura e poder ser de carter ordinrio ou extraordinrio. PARGRAFO NICO No caso de escolha de projetos, ficar submetido apreciao e aprovao pelo Colegiado do Departamento de53

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Arquitetura e Urbanismo. Artigo 8 Todos os membros tero direito voz e voto nas Assemblias Gerais, correspondendo 1 (hum) voto a cada membro, sendo possvel a representao por procurao, assim como o pedido de identificao de estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC feito pelo condutor da Assemblia em exerccio. Artigo 9 As Assemblias Gerais podero ser convocadas atravs de edital afixado em mural do Curso de Arquitetura da UFSC, pela maioria simples do Conselho do AMA, ou de 1/3 (um tero) do total dos membros, com no mnimo 5 (cinco) dias teis de antecedncia. PARGRAFO NICO As Assemblias Gerais podero ser, ainda, convocadas pelo requerimento de 1/3 (um tero) dos membros Efetivos do Ateli Modelo de Arquitetura. Artigo 10 A Assemblia Geral Ordinria reunirse uma vez por ano, dentro dos 5 (cinco) meses subseqentes ao trmino do ano civil. Artigo 11 A Assemblia Geral Ordinria destinase a: a) Estabelecer as diretrizes fundamentais do AMA, com base em seus princpios e finalidades; b) Discutir os relatrios de atividades elaborados pelas Comisses de Projeto; c) Apreciar a prestao de contas do Conselho do AMA e deliberar sobre questes financeiras relevantes, quando reivindicadas por alguma Comisso de Projeto; d) Eleger o representante discente e o representante dos orientadores do AMA para comporem, juntamente com os representantes das Comisses de Projeto, o Conselho do AMA; e) Aprovar e emendar regimentos a serem encaminhados pelo Conselho do AMA; f) Aprovar a perda da condio de membro Efetivo do AMA, conforme este estatuto, seus princpios e finalidades; Artigo 12 A Assemblia Geral Extraordinria reunirse a qualquer tempo, por convocao do Conselho do AMA ou de 1/3 (um tero) do54

POEMA - Projeto de Orientao a Escritrios Modelo de Arquitetura e Urbanismototal dos membros, no havendo oposio maior que 2/3 (dois teros) dos membros. Artigo 13 Sero nulas as decises da Assemblia Geral sobre assuntos no includos em sua pauta, a no ser que na Assemblia Geral se encontrem presentes todos os membros Efetivos e no haja oposio de qualquer um deles. Artigo 14 A instalao da Assemblia Geral requer a presena da maioria simples dos membros, e suas decises sero sempre tomadas por maioria simples de votos dos membros presentes. PARGRAFO 1 Se na hora marcada para a Assemblia Geral no houver quorum para a sua instalao, a Assemblia ser dada como adiada para data conveniente, a ser designada pela maioria simples das Comisses de Projeto, atravs de seus representantes no Conselho do AMA. PARGRAFO 2 Caso a hiptese do pargrafo acima venha a se concretizar, fica estabelecido que a exigncia do nmero de presentes passa a ser desnecessria, ficando todavia respeitado o prazo mnimo de 5 (cinco) dias teis para a sua realizao, sendo convocada na forma estipulada no artigo 9, acatandose como vlidas as decises que por ela se venha tomar. Artigo 15 A Assemblia Geral ser inicialmente conduzida por um Conselheiro do AMA, ou pelo representante dos membros que reivindicaram tal Assemblia, e as funes de secretrio da Assemblia Geral sero desempenhadas por qualquer dos membros Efetivos ou Associados, escolhidos pela Assemblia Geral. PARGRAFO NICO Aps iniciada, a Assemblia Geral ser conduzida pelo membro escolhido entre e os membros Efetivos e Associados presentes. TTULO II CONSELHO DO AMA Artigo 16 O Conselho do AMA o rgo de deliberao de55

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encaminhamentos e funes administrativas do Ateli Modelo de Arquitetura, e compete ao Conselho do AMA: a) Regulamentar as deliberaes da Assemblia Geral; b) Examinar e emitir pareceres sobre as demonstraes financeiras, relatrios de atividades e oramentos do exerccio apresentados pelas Comisses de Projeto; c) Propor Assemblia Geral as diretrizes fundamentais do Ateli Modelo de Arquitetura; d) Mani