Poema de Fernando Pessoa

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‘’DEIXO AO CEGO E AO SURDO’’ Fernando Pessoa

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Analise de um Poema do ortónimo Fernando pessoa

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Page 1: Poema de Fernando Pessoa

‘’DEIXO AO CEGO E AO SURDO’’

Fernando Pessoa

Page 2: Poema de Fernando Pessoa

Deixo ao cego e ao surdo

A alma com fronteiras,

Que eu quero sentir tudo

De todas as maneiras.

Do alto de ter consciência

Contemplo a terra e o céu,

Olho-os com inocência :

Nada que vejo é meu.

Mas vejo tão atento

Tão neles me disperso

Que cada pensamento

Me torna já diverso.

E como são estilhaços Do ser, as coisas dispersas Quebro a alma em pedaços E em pessoas diversas. […]

Se as coisas são estilhaços Do saber do universo, Seja eu os meus pedaços, Impreciso e diverso.[…]

Fernando Pessoa

Page 3: Poema de Fernando Pessoa

Temáticas:

Pensar/sentir; Consciência/ inconsciência; Desconhecimento/fragmentação do

eu; Fingimento poético;

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Aspecto formal Poema ortónimo; Escrito usando quadras com esquema

rítmico acbd; Uso da repetição expressiva de

adjectivos ‘’disperso/dispersas’’ e ‘’diverso/diversas’’

Uso da rima em todas as quadras: ex ‘’ Mas vejo tão atento…/que cada pensamento’’

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Interpretação da primeira quadra:(dividido por versos)

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‘’Deixo ao cego e ao surdo/ A alma sem fronteiras..’’ (v. ½)

Nas duas primeiras estrofes, o sujeito poético afirma a sua necessidade de querer “sentir tudo” (v. 3) em plenitude, sem as limitações, sem as “fronteiras” (v. 2), sem as dificuldades daqueles que não possuem algum dos cinco sentidos, tal como acontece “ao cego e ao surdo” (v. 1). Isso quer dizer que a sua própria alma não se limita pelas sensações – esta é uma das características da poesia Ortónima, essencialmente racional. Ele não quer apenas ver ou ouvir. 

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‘’…Quero sentir tudo/De todas as maneiras’’ (v. ¾)

De facto esta estrofe está ligada a ter consciência. Ora, ter consciência é usar a razão para filtrar o mundo que advém dos sentidos. Não basta olhar ou ouvir, mas compreender, ser consciente. Esse “alto de ter consciência” é um estado que separa o sujeito poético de todos os outros que têm “fronteiras na alma”.

Essa possibilidade de poder “sentir tudo” permite-lhe apreender tudo o que o rodeia, não apenas pelos sentidos, mas também pela razão. Aliás, para ele, essa é a verdadeira e mais completa forma de compreender o mundo: através do pensar, do intelectualizar. O apenas sentir o mundo é, segundo ele, insuficiente. É preciso usar a razão, o pensamento para poder contemplar “a terra e o céu” (v. 6).

Ele quer estar consciente das sensações que provoca, e da intelectualização que produz. Ou seja, Pessoa deseja ter a percepção intelectual de tudo e também poder racionalizar e compreender tudo o que o rodeia.

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Interpretação das expressões ‘’ter consciência’’ e ‘’inocência’’ : O eu lirico afirma a superioridade do pensar e

sobrevaloriza a intelectualização como a melhor forma de percepcionar o mundo ’’do alto de ter consciência’’, utiliza o pensamento.

Só o pensamento lhe permite ‘’ Contemplar a terra e o céu’’, pois quando ‘’Os olha com inocência’’, utilizando neste caso um dos sentidos (a visão) sente que nada é seu ( pois racionaliza essa emoção).

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Figuras de Estilo: Rima: Utilizada em todas as quadras. Sinestesia: ‘’Nada que vejo é meu.../Mas

vejo tão atento…’’ Repetição dos adjectivos:

‘’Disperso/dispersas’’ e ‘’ diverso /diversas’’ (Esse recurso reforça a ideia de fragmentação do ‘’eu’’)

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Razões da fragmentação do sujeito poético: A partir da terceira estrofe, começa a notar-se uma

fragmentação do eu poético, que assume uma multiplicação do seu “eu” em “outros”. Esse desdobramento de si nessas várias personalidades é consequência do excesso de pensar, pois “cada pensamento/Me torna já diverso” (v. 11 e 12).

Essa fragmentação, presente neste poema, poderá ser vista como uma certa explicação para a criação dos seus heterónimos, quase como que cada um deles fosse os “estilhaços/ Do ser” (v. 13 e 14), a sua “alma em pedaços/E em pessoas diversas” (v. 15 e 16).

O sujeito poético revela que encarar-se como um ser único é um erro, pois até mesmo na natureza existe essa diversidade: “tanto como a terra/E o mar e o vasto céu” (v. 21 e 22).

A repetição expressiva de adjectivos ‘’disperso/dispersas’’ e ‘’diverso/diversas’’, reforça a ideia de fragmentação do eu poético.

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Expressões que evidenciam a fragmentação do sujeito poético ‘’Tão neles me disperso/Que cada

pensamento / Me torna já diverso; ‘’Quebro a alma em pedaços/ E em

pessoas diversas’’ ‘’Se as coisas são estilhaços’’ ‘’Seja eu e os meus pedaços/ Impreciso e

diverso’’

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Trabalho realizado por : Jéssica Vieira 12ºB

‘’A decadência é a perda total da inconsciência, porque a

inconsciência é fundamento da vida;O coração se pudesse pensar,

pararia.’’Fernando Pessoa